terça-feira, junho 06, 2006

Correio Brasiliense acusa Feijó e Eber Silva no esquema dos sanguessugas

Veja a matéria dos jornalistas Gustavo Krieger, Lúcio Vaz e Marcelo Rocha:
"Às vésperas das eleições de 2002, a máfia dos sanguessugas irrigou o Congresso com dinheiro proveniente das fraudes na compra de ambulâncias a partir de emendas ao Orçamento da União. O livro-caixa da Planam, a empresa da família Trevisan-Vedoin e maior beneficiária do esquema, revela uma série de transferências para parlamentares. Uma amostra dessa contabilidade, referente a agosto daquele ano e com periodicidade quase que diária, aponta 10 atuais e ex-congressistas. O Correio Braziliense teve acesso aos dados, que estão em poder das presidências da Câmara e do Senado, da Procuradoria Geral da República e da Polícia Federal. Entre os dias 1º e 27 daquele mês, o livro-caixa da Planam registrou R$ 189.045,80 em depósitos para deputados e ex-deputados. Os pagamentos feitos pela empresa obedeceram mais ou menos um padrão. Das 13 transferências, seis foram de exatos R$ 10 mil, mas há casos de depósitos de R$ 1,5 mil e um de até R$ 50 mil. O ex-deputado Bispo Rodrigues (sem partido-RJ) apareceu como o maior beneficiário do dinheiro da empresa. Foram R$ 50 mil, transferidos a ele, segundo o livro-caixa, no dia 13. Reeleito, Bispo Rodrigues renunciou ao mandato no ano passado, depois que teve o nome envolvido no escândalo do mensalão. Ele foi preso no início do mês passado pela PF durante a Operação Sanguessuga e levado para Cuiabá, onde permanecem detidas 38 pessoas acusadas de participar do esquema de corrupção. Outros reeleitos constam nas planilhas da Planam. Acusado também de ser mensaleiro e absolvido da cassação, o mato-grossense Pedro Henry (PP) é registrado como o beneficiário de 10 depósitos, no valor de R$ 3.584,58 cada. Paulo Feijó (PSDB-RJ) teria recebido R$ 20 mil, supostamente transferidos a ele no dia 13. A Nilton Capixaba (PTB-RO) e Eduardo Seabra (PTB-AP) teriam sido repassados R$ 10 mil, cada, respectivamente nos dias 1º e 27. Os nomes dos quatro deputados foram anotados em listas por suposta participação nas fraudes atribuídas à máfia dos sanguessugas. Entre os que aparecem no livro-caixa da Planam e que retornaram à Casa para a legislatura iniciada em 2003, e que se encerra em dezembro próximo, está o ex-deputado José Carlos Fonseca (ES), então do PFL e supostamente beneficiado com R$ 20 mil. Fonseca é diplomata e ocupou a Secretaria de Fazenda do governador José Inácio (PSDB). Também estão no livro Éber Silva (RJ), então do PST, e o suplente na Câmara Aldir Cabral (PFL-RJ). Eles aparecem como beneficiários de R$ 10 mil, cada. Há ainda um depósito, também de R$ 10 mil, em nome da WAS Editora. WAS vem de Wagner Salustiano, que em 2002 exercia o mandato de deputado federal e hoje ocupa cadeira na Assembléia Legislativa de São Paulo pelo PSDB. Emendas A reportagem fez um levantamento sobre autores de projetos que financiaram a compra de ambulâncias com emendas individuais ao Orçamento da União com os nomes que aparecem no livro-caixa da Planam (veja ilustração).Os 10 deputados ou ex-deputados liberaram um total de R$ 5,9 milhões. O campeão do grupo foi Paulo Feijó, com R$ 1,27 milhão. No Rio, algumas cidades receberam recursos de Feijó e de Éber Silva (PST). No Rio Grande do Norte, Laíre Rosado (PMDB-RN) destinou R$ 384 mil para a Fundação Vingt Rosado, do município de Mossoró. Na semana passada, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar 15 parlamentares - por causa da prerrogativa de foro privilegiado, deputados e senadores somente podem ser investigados com autorização do STF. Ao anunciar sua decisão, o chefe do Ministério Público Federal fez mistério sobre os nomes, mas sinalizou que a relação de suspeitos pode aumentar nos próximos dias à medida que o material apreendido pela PF no início do mês seja analisado, além de escutas telefônicas realizadas pela polícia. Os procuradores da República no Mato Grosso que, na quinta-feira passada, denunciaram à Justiça Federal naquele estado 10 ex-parlamentares por participação do esquema também não descartam aumentar a lista de acusados, o que dependerá das perícias de documentos que estão sendo processadas. Uma das dificuldades dos investigadores é o fato de que, nas contas da Planam, aparecem muitos nomes de assessores parlamentares, e é preciso confirmar se há, de fato, o envolvimento de seus patrões. As investigações da Polícia Federal revelaram que os assessores eram usados para receber propina. Muitos emprestaram suas contas bancárias para essa finalidade. Procurados pelo Correio na última quinta-feira à tarde, os deputados Nilton Capixaba, Pedro Henry, Eduardo Seabra e Paulo Feijó não foram encontrados no Congresso. A reportagem esteve no gabinete de cada um e seus assessores informaram que os parlamentares já haviam retornado para seus estados. Foram deixados telefones de contatos, mas nenhum deles retornou. O suplente da Câmara Aldir Cabral e os ex-deputados José Carlos Fonseca e Éber Silva não foram localizados pela reportagem".

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