domingo, maio 31, 2015

"O caos ideológico"

O blog já comentou aqui que o professor José Luiz Fiori, junto do também professor Luiz Gonzaga Belluzzo, são hoje excelentes pensadores, não apenas do macroeconomia, mas também da política no cenário conturbado contemporâneo.

Neste artigo publicado na sexta-feira (29-05-2015) no Valor (P.A13) que o blog posta abaixo do Fiori mostra evidências daquilo que tenho chamado da disputa pelo poder entre uma visão "neodependente liberal de mercado" x "social-nacional-desenvolvimentismo".

Enquanto a primeira parece límpida e segunda vencedora da quarta eleição presidencial seguida, desde 2002, parece confusa em meio às misturas de crenças dos gestores escolhidos por Dilma-2. O caso da fala do Mangabeira Unger, eu não conhecia e nem tomei conhecimento e é inapropriada, por uma série de motivos. Porém, o fechamento do texto  do Fiori sobre a inexistência de utopia de longo prazo é que parece mais necessária ao debate. Confiram:


"O caos ideológico"
Alberto Goldman (vice­presidente nacional do PSDB): "O PSDB não tem um projeto de país". FSP, 27/5/2015 Paulo Paim (senador pelo RS, do PT), "O governo está sem rumo e está levando o PT junto", www.Brasil247.com, 27/5/2015 

"Em meio à crise política e à retração econômica brasileira, o jantar do dia 12 de maio da Câmara de Comércio Brasil­-Estados Unidos no Waldorf Astoria de Nova York, reunindo banqueiros, empresários e a políticos da alta cúpula do PSDB, em torno dos ex­-presidentes Bill Clinton e Fernando H. Cardoso foi um clarão no meio da confusão ideológica dominante. Em termos estritamente antropológicos, representou uma espécie de pajelança tribal de reafirmação de velhas convicções e alianças que estiveram na origem do próprio partido socialdemocrata brasileiro. Mas do ponto de vista mais amplo, pode se tornar uma baliza de referência para a clarificação e remontagem do mapa político brasileiro.

Afinal, este grupo liderado pelo ex-presidente FHC foi o único que esteve presente e ocupou um lugar de destaque nas reuniões formais e informais que cercaram a posse de Bill Clinton, em 1993, em Washington. Naquele momento foi sacramentada a aliança do PSDB com a facção democrata e o governo liderado pela família Clinton. Uma aliança que se manteve durante os dois mandatos de Clinton e FHC, assegurando o apoio do Brasil à criação da Alca e garantindo a ajuda financeira americana que salvou o governo FHC da falência.

Estes dois grupos estiveram juntos na formulação e sustentação das reformas e políticas do Consenso de Washington e voltaram a estar juntos nas reuniões da "Terceira Via", criada por Tony Blair e Bill Clinton, em 2008, reencontrando-­se agora de novo, na véspera da candidatura presidencial de Hillary Clinton.

Durante todo este tempo os social­-democratas brasileiros mantiveram sua defesa incondicional do alinhamento estratégico do Brasil, ao lado dos EUA, dentro e fora da América Latina; sua opção irrestrita pelo livre comércio e pela abertura dos mercados locais; pela redução do papel do Estado na economia; pela defesa da centralidade do capital privado no comando do desenvolvimento brasileiro; e pela aplicação irrestrita das políticas econômicas ortodoxas.

Estas posições orientaram a política interna e a estratégia internacional dos dois governos do PSDB, na década de 90, e seguem orientando a posição atual do PSDB, favorável à reabertura de negociações para criação da Alca; à mudança do regime de exploração do "pré-­sal"; ao fim da exigência de conteúdo nacional nos mercados de serviços e insumos básicos da Petrobras e das grandes construtoras brasileiras. Isto pode não ser "um projeto de país", mas com certeza é um programa de governo rigorosamente liberal, que só coincide de forma circunstancial e oportunista com as teses neoconservadoras defendidas hoje por movimentos religiosos de forte conteúdo fundamentalista.

A novidade destes movimentos no cenário político brasileiro atual surpreende o observador, mas suas teses sobre família, sexo, religião etc não são originais e sua liderança carece da capacidade de formular e propor um projeto hegemônico para a sociedade brasileira. O mesmo pode ser dito com relação ao poder real das recentes mobilizações de rua e de redes sociais, que fazem muito barulho, mas também não conseguem dar uma formulação intelectual e ideológica consistente às suas próprias iras e reivindicações.

Deste ponto de vista, parece necessário reconhecer que a origem da grande confusão ideológica do país, neste momento, são as próprias forças progressistas e o governo que acabou de ser eleito por uma coalizão de centro-­esquerda. Não é fácil identificar o denominador comum que une todas estas forças, mas não há dúvida que seu projeto econômico aponta muito mais para o ideal de um "capitalismo organizado" sob liderança estatal, do que para o modelo anglo­-saxônico do "capitalismo desregulado"; para uma política agressiva de redistribuição de renda e prestação gratuita de serviços universais, do que para uma política social de tipo seletiva e assistencialista; e finalmente, para uma estratégia internacional de liderança ativa dentro de América Latina, e de uma aliança multipolar com as potências emergentes sem descartar as velhas potências do sistema, muito mais do que para um alinhamento focado em algum país ou bloco ideológico de países.

Se assim é, como explicar à opinião pública mais ou menos ilustrada que um governo progressista deste tipo coloque no comando de sua política econômica um tecnocrata que não tem apenas convicções e competências ortodoxas, mas que seja também um ideólogo neoliberal que defende abertamente em todos os foros uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo para o país absolutamente idêntica a que é defendida pelo grupo que participou do jantar no Waldorf Astoria, no dia 12 de maio.

E como entender um ministro de Energia que defende em reuniões internacionais o fim da política de "conteúdo local" e do "regime de partilha" do pré-­sal, duas políticas que são uma marca dos últimos 13 anos de governo e uma diferença fundamental com a posição defendida pelos mesmos comensais de Nova York.

Por fim, para levar a confusão ao limite do caos, como explicar que o ministro de Assuntos Estratégicos desse mesmo governo proponha abertamente, pela imprensa, como se fosse um acadêmico de férias, que se faça uma revisão completa da política externa brasileira da última década, com a suspensão do Mercosul, que foi criado e é liderado pelo Brasil, e com a mudança do foco e das prioridades estratégicas do país, que deveria agora alinhar-­se com os EUA para enfrentar a ameaça da "ascensão econômica e militar chinesa".

Tudo isto dito de forma tranquila, exatamente uma semana antes da visita oficial do primeiro­-ministro chinês ao Brasil, que já havia sido anunciada junto com um pacote de projetos e de recursos para levar a frente uma estratégia de longo prazo que passa ­ entre outras coisas ­ pela construção de uma ferrovia transoceânica capaz de dar ao Brasil, finalmente, um acesso direto ao Pacífico, com repercussões óbvias no campo da geopolítica e geoeconomia continental. Além disto, este "grande estratego" do governo fez sua proposta um mês antes da reunião do Brics, na Rússia, em que será criado o banco de investimento conjunto do grupo, sob a óbvia liderança econômica da China. Uma trapalhada pior do que esta, só se fosse proposta também a internacionalização da Amazônia.

Talvez por isto tantos humanistas sonhem hoje com o aparecimento de uma nova utopia de longo prazo, como as que moveram os revolucionários e os grandes reformadores dos séculos XIX e XX. Mas o mais provável é que estas utopias não voltem mais e que o futuro tenha que ser construído a partir do que está aí, a partir da sociedade e das ideias que existem, com imaginação, criatividade e uma imensa paixão pelo futuro do país.

José Luís Fiori, professor titular de economia política internacional da UFRJ, é autor do livro "História, estratégia e desenvolvimento" (2014) da Editora Boitempo, e coordenador do grupo de pesquisa do CNPQ/UFRJ.
www.poderglobal.net."

sexta-feira, maio 29, 2015

Internet: preço e velocidade da conexão no Brasil e sua relação com o mundo

Em matéria do Valor (27-905) se pode ver no infográfico (P. B6) que o preço no Brasil, embora seja ainda alto, é menor que a média do mundo, menor que a média dos países em desenvolvimento e mais cara apenas, e contraditoriamente, que a média dos países ricos.

A situação pior é na qualidade da transmissão em 1 Megabit por segundo, onde a situação do Brasil é muito ruim comparada à média do mundo e dos países em desenvolvimento e não apenas das nações ricas. Veja o infográfico abaixo:


quinta-feira, maio 28, 2015

Tumulto na entrada da Uerj

Uma manifestação contra a tentativa de remoção na favela Metrô Mangueira, que envolveu estudantes da UERJ e moradores da comunidade acabou no prédio da UERJ no Maracanã.

Durante a manifestação na avenida radial e no entrono da UERJ houve violência por parte da polícia e do Batalhão de Choque. Os estudantes voltaram, correram ou foram "empurrados" pela polícia para dentro da UERJ. Segundo relatos, neste instante o conflito passou a ser com a segurança interna da universidade que usou jatos d'água', para impedir o acesso dos estudantes. 

Um vídeo no Youtube feito por estudantes mostra os jatos d'água e também bombas arremessadas contra os manifestantes. Outros estudantes e professores que estavam universidade durante um bom tempo ficaram impedidos de deixar o campus por conta destes problemas em uma das entradas da UERJ. A saída estação do Metrô também foi fechada durante o tumulto. Abaixo veja o vídeo dos tumultos:

Parklet é uma proposta de intervenção urbana para estimular o convívio social

O Parklet é uma proposta para chamar a atenção dos cidadãos para a necessidade de uma intervenção urbana que estimule o convívio social e as novas sociabilidades, segundo uma de suas idealizadoras, Larissa Neto Ribeiro.

O projeto é de um grupo de alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo do IFF, em Campos e está montado no espaço que seria de uma vaga de estacionamento para automóvel, em frente ao IFF, na rua Dr. Siqueira, próximo à esquina da rua Barão da Lagoa Dourada.



Diz Larissa: "criamos um espaço de convívio para as pessoas como forma de intensificar a relação da população com o espaço público. A construção do Parklet foi realizada durante dois dias dessa semana e o resultado foi bastante positivo, com total aceitação dos alunos, professores e até mesmo de moradores da região.

Tudo isso nos incentivou a fazer um evento de inauguração oficial do espaço que já está amplamente divulgado nas redes sociais e ocorrerá amanhã (29/05, sexta-feira) às 23h, após o Festival Cultural de encerramento da II Semana de Arquitetura e Urbanismo do IFF. A intenção é que você possa comparecer a fim de cobrir esse evento, complementando com informações sobre o que ocorreu durante o evento como um todo
."

O projeto está também fazendo enorme sucesso nas redes sociais. O grupo de estudantes está valorizando uma área importante para a vida nas cidades que é a do conceito sobre Urbanismo. Assim, o grupo também montou um perfil no Facebook (veja aqui) com inúmeras fotos e comentários ampliando o diálogo com aqueles que vivem na urbe.

O blog que recebeu o contato do grupo encaminhou umas perguntas com uma entrevista (ping-pong) para saber quem são todos os componentes do grupo e suas opiniões sobre outras questões relacionadas às urbanidades e às sociabilidade que defendem a partir dos seus estudos.

























PS.: Atualizado às 21:00:
Conversando por email a Larissa explica:
A construção do Parklet fez parte de uma oficina que aconteceu durante os dias 25/05 e 26/05, parte do evento da III Semana de Arquitetura e Urbanismo do IFF que está acontecendo. A iniciativa desse projeto partiu do Escritório Coletivo de Arquitetura e Urbanismo Social (ECAUS- IFF) que é composto por estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo do IFF, portanto não teve um professor orientador, tudo isso foi realizado pelos próprios alunos, porém com total aprovação e apoio dos professores. A oficina foi ministrada por mim e pelo colega Gustavo Viana, mas a construção do Parklet foi coletiva, realizada por muitos estudantes de Arquitetura do IFF, eu e o Gustavo apenas orientamos e esclarecemos o que estaríamos fazendo e explicamos todo o conceito do projeto."

Larissa encaminhou a arte do banner explicando o projeto e pediu para lembrar sobre o evento de inauguração oficial do espaço que ocorrerá amanhã (29/05, sexta-feira) às 23h, após o Festival Cultural de encerramento da II Semana de Arquitetura e Urbanismo do IFF.


Presidente da Anglo diz que exportação de minério pelo Açu está dando prejuízo

A informação repete o que comentamos aqui e aqui, em notas, nos dia 12 de maio e agora é confirmado por Paulo Castellari, presidente da Anglo American, proprietária do Sistema Minas-Rio.

A Anglo American administra a mina de extração de minério de ferro, no município de Conceição do Mato Dentro, MG, mineroduto de 525 até o Porto do Açu, onde desidrata a pasta, filtra e extrai o minério para ser exportado.
Embarque de minério da Anglo (FerroPort) no Açu

Agora o presidente da Anglo confirma que o empreendimento está trabalhando no fio da navalha, próximo ao ponto de equilíbrio, mas, com prejuízo, em função do preço do minério de ferro no mercado mundial.

Interessante observar que em passado recente o mesmo Castellari chegou a dizer que o custo de extração do minério pelo Sistema Minas-Rio seria em torno de US$ 40 a tonelada.

Na reportagem Castellari não cita os problemas que estão se sucedendo no processo de transporte pelo mineroduto que está reduzindo a quantidade de minério que chega ao Açu, deixando por várias vezes, navios esperando para atracar e também levando mas tempo para embarque o esperado, junto ao Porto do Açu.

Estes fatos devem estar relacionados aos motivos para o aumento do custo do minério para a Anglo. Também não foi ainda comentado, mas terá que ser em breve, por conta das averiguações das autoridades ambientais, sobre a quantidade de "pó" de minério de ferro que cai no momento de embarque no Porto do Açu, por decorrência de processos de engenharia, mal projetados e operados. Confira abaixo

"Anglo poderá fazer nova baixa do Minas-Rio"

"A Anglo American pode fazer nova redução ao valor recuperável do projeto Minas-Rio, no Brasil, por conta da desvalorização do minério de ferro. Paulo Castellari, presidente dessa divisão da companhia no país, disse ontem a jornalistas que a partir de agora as potenciais reduções de valor se darão por conta da cotação da commodity.

No passado, encarando atrasos e problemas para o início da operação do empreendimento, o grupo já teve de realizar essa baixa no balanço consolidado global. O último deles, de US$ 3,5 bilhões, foi feito no resultado de 2014 e também já incluía as projeções de queda no preço da commodity.

Atualmente, o projeto é deficitário ou se encontra no ponto de equilíbrio - ou seja, não dá lucro, nem prejuízo. Isso porque, lembra o executivo, o custo do Minas-Rio, da extração ao embarque do produto, situa-se próximo a US$ 60 por tonelada, sendo que o preço está ao redor da referência do mercado à vista.

Hoje, o minério com teor de 62% de ferro é negociado abaixo de US$ 60 nos portos chineses. O produto da Anglo American, contudo, varia entre 67% e 68% de teor, o que confere um prêmio à venda. Mesmo assim, a expectativa é que a geração de caixa se fortaleça só a partir do ano que vem, com a expansão já programada reduzindo o custo de caixa para níveis entre US$ 33 e US$ 35 a tonelada.

A expectativa é que o projeto produza de 11 milhões a 14 milhões de toneladas de minério de ferro neste ano. No primeiro trimestre, o volume foi de 1,2 milhão de toneladas. Para 2016, espera-se patamar de 24 milhões a 26 milhões de toneladas. A companhia espera que a capacidade inicial prevista, de 26,5 milhões de toneladas, seja atingida em 2017. Até 2020, Castellari diz acreditar que o Minas-Rio possa produzir 29 milhões de toneladas.

No balanço do meio de ano, o grupo de mineração deve dar estimativas atualizadas de como o custo pode se comportar daqui para frente no Minas-Rio. A desvalorização do real ante o dólar provavelmente vai reduzir esse patamar atual de US$ 60, afirmou Castellari, mas é necessário analisar o quanto a inflação pode ofuscar esse ganho.

Por meio de estudos e do comportamento observado no início de operação do projeto, a Anglo American decidiu atualizar o total de reservas minerais recuperáveis, do 1,45 bilhão de toneladas calculado anteriormente para 2,8 bilhões. A mudança nas previsões foi divulgada durante a entrevista coletiva realizada na cidade de Lagoa Santa, situada a cerca de 35 quilômetros de Belo Horizonte."

quarta-feira, maio 27, 2015

A ginástica que deverá ser a edição do JN desta noite

A edição desta noite do JN deve estar sendo uma ginástica dos diabos. Imagine mostrar-esconder-mostrar-esconder-mostrar-esconder as relações da CBF-Traffic-Globo.

Engraçado que nesta trinca "CBF-Traffic-Globo", não por acaso a Traffic fez o "tráfico" não apenas para a circulação do esquema de patrocínio, mas, do "esquema da contratação do direito de transmissão das Copas do Mundo". Neste bolo, como esconder a empresa offshore criando em paraíso fiscal, que sonegou imposto, lavou dinheiro, comprou dirigentes do futebol, etc.

A redação deve estar em polvorosa. Quem vai fechar a edição hoje vai ser um bicho do mar, assim, digamos que um marinho.

IBP x Shell

Voltando às observações ligada à Economia do Petróleo e sua relação com a política parece ser interessante observar que na segunda-feira e ontem, tivéssemos visto duas posições antagônicas sobre uso e direitos das nações em gerirem e regularem suas reservas petrolíferas, encandeando-as com um projeto de industrialização.

Enquanto, o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) defendia mudanças e redução nas exigências da ANP para que as petrolíferas usem 60% de conteúdo nacional nos equipamentos, peças e serviços usados na exploração de petróleo no país, também na 2ª feira, a petrolífera anglo-holandesa Shell, através do seu presidente, disse exatamente o contrário que se deve defender o comprometimento com o conteúdo local e a busca de novos fornecedores no Brasil.

Interessante observar os propósitos de um e outro em suas retóricas. O IBP cada vez mais defendendo a dependência do Brasil à cadeia de serviços  e indústria petrolífera de fora do país, especialmente, as americanas.

E a Shell, mesmo que defendendo isto, especialmente, a compra do grupo britânico BP, e assim assumindo a segunda posição em produção de petróleo e gás no país, com meta de produzir 550 mil barris por dia em 2020, decidiu seguir e se aliar à Petrobras e ao Brasil para que seus objetivos possam ser alcançados.

Observando o geral, se percebe no interior deste processo disputas comerciais e capitalistas e interesses e articulações com o Poder. Tudo como parte da geopolítica da energia, do qual o Brasil é cada vez mais peça importante do tabuleiro mundial.

No meio deste processo está o Estado do Rio de Janeiro, base territorial mais significativa e sede de todas as quase petrolíferas instaladas no no Brasil. Seguimos conferindo!

Os novos movimentos da política possuem significados e símbolos!

Vale registro a questão de gênero, mas há mais observações sobre a movimentação no(s) poder(es) a nível mundial.

As prováveis novas prefeitas de Barcelona e Madri (provável, porque no sistema política de lá, o(a)s deputado(a)s eleitos para o parlamento é que escolhem o prefeito (alcaide ou alcadesa) são mulheres. Elas são em número cada vez maior nos postos de mando político, como Dilma, Merkel, Bachelet, Cristina Kirchner, etc.

Porém, a mudança das origens também parecem significativas: em Barcelona, uma das maiores metrópoles do mundo, Ada Colau chegou ao cargo pelo seu trabalho de liderança na campanha para impedir que os bancos continuassem a despejar famílias que não conseguiam pagar seus financiamentos imobiliários, depois da crise das hipotecas em 2008/2009. Cerca de 350 mil famílias foram despejadas e sua luta impediu que muitas saíssem e ainda, deu apoio para que algumas das milhares de habitações vazias fossem ocupadas por aqueles "sem teto" em sem emprego e renda.

Em Madri, a provável prefeita (alcadesa) Manuela Carmena, de 71 aos, é uma ex-juíza e ativista pelos direitos humanos e foi desta forma que acabou liderando uma aliança de esquerda na eleição, sem antes ter participado diretamente da política.

Outros ativistas em cidades menores tiveram destaques.

As mobilizações no interior das nações representam processos históricos particulares, mas parecem também guardar algumas similaridades. Outro país da periferia da Europa, a Grécia vive situação parecida.

Uma primeira leitura parece mostrar um esgotamento e o cansaço com as opções mais próximas ao centro, no caso espanhol, acentro-direita, atualmente no poder com o PP, ou centro-esquerda, o PSOE.

Esta interpretação segue na linha que os gestores tem acabado se transformando quase que exclusivamente em "gerentes" do poder econômico, junto ao poder e à política, sem a qual seus interesses não se completam, mesmo em estados ditos como mínimos.

Além disso, essa cumplicidade acabou ampliando enormemente os casos de corrupção, ligadas ao financiamento eleitoral. Não é difícil entender toda esta trama.

Quando o "gerente" escolhido não cumpre o esquema combinado com o poder econômico, este procura sua eterna aliada e dependente, a mídia comercial e, assim, trata de desferir todos os golpes entregando os esquemas, através das "fontes", denúncias anônimas, delações premiadas, etc. 

Desta forma, entregue e sem força diante do poder econômico e dos eleitores que os escolheram como representantes políticos, o poder econômico se rearticula com novas lideranças, seguindo o script de que se vive numa democracia, só que pressionada e falsa, pelos pressupostos do controle quase absoluto do poder econômico. O que se configuraria numa plutocracia.

Estas reações iniciais podem significar (ou não) a percepção desta realidade. A conformação desta hipótese se daria pelo fato de que até as conhecidas pressões contra os extremismos e para a busca de um certo equilíbrio e cuidado, sempre defendidos pelas posições políticas mais próximas ao centro, parecem estarem sendo descartadas, com algumas populações, passando a optar por alternativas, mais "de fora" (out sider) do script partidário e político até então.

Esta leitura do fenômeno é ainda embrionária e sujeita a longos debates, participações e avaliações.

Repito, são realidades distintas, entre e intra nações.

Porém, ao observar também o quadro nacional, o surgimento de resistências ao centro e polarizações à esquerda e esquerda, mais a formação de novas "frentes", etc. parece que novos arranjos estariam sendo buscados.

Modelos antigos ainda preponderam e mandam, mas é claro que um novo quadro parece estar se desenhando como paradigma. As forças políticas, econômicas e sociais, contra e pró a manutenção do status-quo, não devem apenas assistir esse processo.

Usualmente, as força econômicas e parte das forças políticas lançam mão das forças policiais e militares para controlar este processo.

De outro lado, as forças sociais e a outra parte da força política buscam apoios e lutam para manter o ímpeto das transformações.

O fenômeno parece em curso e o jogo segue sendo disputado.

terça-feira, maio 26, 2015

Canal da Nicarágua é parte do gigantismo naval e portuário e interfere no sistema portuário e no desenvolvimento brasileiro

Escrevi aqui três artigos (links abaixo) sobre o gigantismo naval, portuário e seus diversos significados na Economia Global e na Geopolítica Mundial.

A intensificação das relações comerciais ente nações e continentes passaram a impor também um gigantismo em infraestrutura como de novos e maiores canais de navegação, assim como outros modais de transporte, como o projeto da ferrovia transoceânica, ora em discussão. (Veja aqui e aqui)

Nessa linha se tem a já citada ampliação do Canal do Panamá que faz atualmente a ligação transoceânica entre os oceanos Atlântico e Pacífico, que é controlado pelos EUA e pela OTAN.

Uma alternativa, desta ligação, além da ferrovia bi-oceânica Brasil-Peru, é a do projeto do Canal da Nicarágua, elaborado por um grupo privado chinês. O projeto com um custo estimado em US$ 40 bilhões seria bancado pela China, em troca de garantias e usos pode determinado período.

Após o início dos estudos de viabilidade, mais recentemente, a Rússia se dispôs a ser parceira da empreitada, ampliando a aliança entre duas das quatro nações dos Brics, reforçando e ampliando a hipótese de novos alinhamentos na políticos-econômicos.

A questão para a China e Rússia no projeto da Nicarágua se coloca para além da questão comercial, assim como se dá com os EUA e seu apoio ao Canal do Panamá.

Essa também é a interpretação da China e Rússia ao desembolsarem quantia tão significativa, segundo o secretário-geral do Centro de Pesquisa da Organização para Cooperação de Xangai, Chen Jurong, na matéria da Gazeta Russa sobre o projeto: "Do ponto de vista geopolítico, o aumento da presença militar dos EUA junto às fronteiras da Rússia obriga o país a reforçar sua influência na América Latina”, diz o ".

Sob o ponto de vista comercial, essa nova ligação somada à primeira e à provável redução das tarifas hoje cobradas pelo Panamá tenderão a influenciar o sistema portuário brasileiro, reforçando a tendência de que um ou dois portos brasileiros, se firmem como portos de distribuição (hub-ports).

Muitos portos brasileiros disputam e lutam por essa possibilidade, hoje, esbarrada, especialmente, pela limitação da profundidade dos seus canais de atracação e da extensão de seus terminais.

A fixação de apenas um único "hub" nas ligações intercontinentais favorece à formação de oligopólio e à concentração de negócios, relegando aos demais a função de transbordo e movimentação de cabotagem.

Numa concepção de desenvolvimento econômico-social nacional menos concentrado e mais distribuído e centralizado, a opção pela não fixação de apenas um ou dois hubs, parece ser melhor alternativa.

As forças econômicas que controlam esse processo, como os armadores que estabelecem as rotas e os movimentadores de cargas que decidem sobre esses fluxos, estão atuando fortemente nas negociações entre corporações e poderes políticos buscando vantagens e hegemonias.

Visando ampliar o conhecimento desse processo econômico, abaixo o blog posta um infográfico gerado pela Gazeta Russa na internet que sintetiza as principais informações sobre a empreitada com previsão de ser concluída até o final desta segunda década do século XXI.

Confiram e cliquem sobre a imagem para ver em tamanho maior:


































Referências dos primeiros três artigos sobre o tema:
1. "Portos demandam regulação". Publicado em 1 de fevereiro de 2015.
Acesso: http://www.geocritiq.com/2015/02/portos-demandam-regulacao/;

2. "Gigantismo portuário, naval, concentração, oligopólio, etc. O que isto significa? Quais as consequências para o Brasil? Portos demandam regulação - II". Publicado em 17 de abril de 2015. Acesso em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/04/gigantismo-portuario-naval-concentracao.html

3.  "O gigantismo naval encontra limites nos portos". Publicado em 30 de abri de 2014. Acesso em:
http://www.robertomoraes.com.br/2015/04/o-gigantismo-naval-encontra-limites-nos.html.

Conteúdo local... faça o que eu digo e não o que pratico!

Com frequência se ouve reclamações dos mesmos de sempre contra a política de conteúdo local da ANP (Agência Nacional do Petróleo) para as empresas que pretendem participar de projetos de exploração de petróleo no Brasil.

O discurso vem sempre acompanhado de comentários sobre falta de modernidade e de referências às algumas economias centrais citadas para alguns como modelo.

Pois bem, acompanhando isso de perto, li hoje, uma matéria do jornalista Assis Moreira, correspondente do Valor, em Genebra que cita um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O estudo indica que os EUA está frente do Brasil como 23 medidas de proteção, contra 17 do Brasil, de exigências de conteúdo local, na compra de produtos e serviços produzidos no país, em detrimento de importações.

Interessante observar que o próprio EUA é o país que mais reclama do Brasil, especialmente no setor de petróleo, por conta de suas diversas e fortes empresas especializadas para fornecimento de equipamentos e serviços.

Pois veja, os EUA é um país com economia forte e ainda assim se protegendo. Assim, quer o faça o que falo e não o que pratica em seu país. Veja abaixo gráfico que acompanhou a publicação:




segunda-feira, maio 25, 2015

Museu Online SFI - vale conferir!

Hoje o Uelligton de São Francisco do Itabapoana pelo Facebook passou o link (veja aqui) sobre a iniciativa do "Museu Online de São Francisco do Itabapoana". Mais uma iniciativa interessante que articula informações e pessoas ligadas às artes e à cultura pela via digital, em nossa região.

Dei uma olhada rápida em meio à correria e vi bastante conteúdo interessante, entre fotos históricas e contemporâneas, documentários, mapas, histórias, textos, etc.

Pelo que li o espaço digital pretende ser construído coletivamente com contribuições, o que é ainda mais interessante. Este blog vibra sempre que vê iniciativa com esta que ajuda a interligar e conectar, pela via informacional, pessoas e interesses, especialmente, neste campo cultural.

A região não deve e não pode mais continuar a ser vista como uma junção fragmentada de pequenos territórios. Não conheço seu(s) aos idealizador(es), mas, parabenizo. Vale conferir!


Equipamento da espanhola FCC conclui trabalho no Porto do Açu

Quase um ano e meio depois que os dois diques flutuantes "Mar del Enol" e "Mar del Aneto" da FCC, chegaram ao Porto do Açu para a construção de caixões que servem de píeres para o terminal 1 do Porto do Açu, eles partem para outro trabalho, apos concluir suas atividades.
Neste sábado, os diques flutuantes foram colocados na embarcação conforme imagem ao lado. Os trabalhos de embarque foram concluídos neste domingo. A instalação do último caixão feitos por estes diques aconteceu no início deste mês de maio.

A empresa espanhola FCC já havia inciado o desligamento do pessoal que trabalhava operando e em apoio a estes diques. Segundo informações obtidas pelo blog, a FCC ultimamente tinha cerca de 60 funcionários.

Segundo a mesma fonte, a empresa ainda constrói no Porto do Açu, um muro em área do Terminal 1 e lajes na extensão do píer do mesmo terminal. A previsão é que estes trabalhos sejam encerrados em até três meses.

Em dezembro do ano passado um destes dois diques flutuantes da FCC adernou em situação perigosa junto ao terminal. O blog informou à época (aqui) a ocorrência.

Em janeiro deste ano passado o dique flutuante Kugira, da outra empresa espanhola, que atuava na construção do quebra-mar do terminal 2, Acciona, após conclusão do seu trabalho de produção de caixões também foi despachado do Açu (Veja nota aqui do blog).

Assim, é possível identificar que a primeira parte da construção da infraestrutura (ponte, píeres e quebra-mar) dos dois terminais do Porto do Açu vão sendo concluídos. Muitas obras de adaptação ainda serão necessárias, conforme o uso que se dê aos terminais.

No terminal 1 há hoje, a previsão de uso do mesmo para transbordo de óleo de navios menores, para maiores petroleiros (operação ship-to-ship ou navio para navio). Este serviço tem estimativa de retornar à Prumo, controladora do Porto do Açu, em pagamento de até US$ 7 por barril transbordado, reduzindo assim, os custos de fretes, que hoje são feitos para a exportação de petróleo extraído na Bacia de Campos e Santos. Hoje, o terminal é usado basicamente para operação de embarque e exportação de minério de ferro.

Ainda no terminal 1 está em processo de negociação a instalação de bases para recebimento de gás visando a instalação de um hub (distribuição) e ainda para servir de combustível para uma termelétrica, em parceria com o grupo gaúcho Bolognesi.

Além disso, pode haver acordo para esta mesma base receber gás natural por um gasoduto deste o campo de Pão de Açúcar, onde o consórcio entre as petrolíferas chinesa Sinopec e a espanhola, Repsol, exploraram e descobriram uma reserva de gás com grande capacidade de produção. A chegada deste gás ao Açu, demandaria a instalação de um gasoduto de cerca de 200 quilômetros.

Enquanto isso, o terminal 2 está voltado para apoio ao fornecimento de materiais e serviços de movimentação de cargas das empresas que atendem às diversas petroleiras (Petrobras, Shell e outras) que atuam na exploração de petróleo offshore, especialmente na Bacia de Campos, mas também nas bacias do Espírito Santo ao norte e Santos, ao sul. Junto ao terminal 2 se tem hoje instaladas e em implantação as empresas Technip, Nov, Intermoor, Wartsila e Edson Chouest.

No terminal 2 há ainda a base do consórcio de construção e montagem naval Integra, formado pelas empresas OSX e Mendes Junior que montaram módulos de plataformas, mas, tiveram seus contratos renegociados com o estaleiro China Offshore Oil Engineering Corporation (COOEC). Também no T2 estão as inatalações não concluídas do estaleiro (UCN) da OSX e também o píer em construção para a movimentação de cargas MultT.

domingo, maio 24, 2015

Perda de receita com os royalties em 2015: menor nos municípios e maior no estado que a previsão inicial

O blog solicitou ao superintendente de Petróleo, Gás e Tecnologia da Prefeitura de São João da Barra, Wellington Abreu que levantasse para o blog, os valores totais recebidos pelos municípios petrorrentistas pelos seus direitos com as Participações Governamentais.

Assim, os dados nos forma enviados. Na tabela abaixo estão incluídas e somadas, as parcelas mensais dos royalties e as Participações Especiais (PE) trimestrais recebidas entre janeiro e maio deste ano (2015) e do ano passado (2014), assim como a diferença entre os valores.

Também solicitamos os valores recebidos pelo governo estadual também somados as quotas mensais dos royalties e Participação Especial (PE). Abaixo alguns breves comentários:

































Pelos números acima podemos identificar que a maior perda em valores absolutos foi a do município de Campos dos Goytacazes com os valores recebidos nestes primeiros meses de 2015, sendo R$ 286,8 milhões a menos do que no ano de 2014. Em termos relativos ela equivale a 46,5% até o mês de maio.

No semestre a perda estimada de receita para o município de Campos dos Goytacazes deverá ser de aproximadamente R$ 300 milhões. No ano ela deverá ficar em torno de R$ 600 milhões, bem menos do que o valor estimando pela PMCG entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão.

Nos último mês o valor recebido aumentou em função do aumento do preço do barril de petróleo que em janeiro chegou a US$ 45 e agora tem oscilado em torno de US$ 65.

O município que tem a segunda maior perda em valores absolutos e Rio das Ostras que viu sua receita de royalties reduzida este ano até maio em R$ 82,5 milhões. Em termos relativos sua perda foi maior que a de Campos com 53,5%. Em seguida vem Macaé com perda absoluta de R$ 67,2 milhões e em seguida SJB com menos R$ 36,4 milhões.

Abaixo a tabela da perda de receita do governo do estado do Rio de Janeiro, também somadas as quotas mensais e Participação Especial (PE) em 2014 e 2015, entre janeiro e maio:


































Como se vê a perda de receita do governo estadual é ate´aqui de R$ 1,77 bilhão e deverá se aproximar de R$ 2 bilhões, no semestre e R$ 4 bilhões em todo o ano de 2015. A previsão do estado era que esta perda ficassem em torno dos R$ 3 bilhões, assim, mesmo com uma ligeira recuperação do preço do barril e do aumento de produção de óleo e gás nas reservas do Pré-sal, ela deverá se situar mais próximo dos R$ 4 bilhões. O fato amplia as preocupações do governo estadual já que seu déficit total de receita supera a casa dos R$ 13 bilhões.

Está previsto para esta próxima semana, uma ampliação das pressões para que o STF julgue a liminar que impede que os novos critério de rateio dos royalties para todos os municípios brasileiros aconteça.

A pressão é por conta da marcha anual que é feita quando do encontro dos prefeitos que acontecerá entre os dias 25 e 28, em Brasília. A derrubada da limiar implica em perda de receita tanto dos municípios quanto dos estados chamados de produtores. 

Segurança e sensação de segurança

Segurança e sensação de segurança são coisas diferentes. Aliás, há quem veja a percepção como a própria realidade, e não o fenômeno que se tenta interpretar do real e de sua materialidade.

Nesta linha, o caso da segurança pública parece ser um campo paradigmático para observação desse fenômeno.

Sem querer analisar propriamente o lamentável caso da morte do médico na Lagoa, no Rio de Janeiro, mas também sem deixar de considerá-lo nesta simples observação, não há como não interpretar que a sensação de segurança parece ser, e cada vez mais, uma questão de classe social.

O que quero dizer é que diariamente dezenas de casos similares acontecem e deixaram de ser até razões de matérias jornalísticas. Estes "outros casos" parecem não mais fazer parte do cotidiano de jornalistas e de seus leitores de classe.

Assim, parece que mesmo nos colocando como humanistas, preocupados com as vítimas, algumas parecem ser mais importantes que outras. Isto não se dá nem pela proximidade ou parentesco apenas. Tendemos a perceber apenas a situação com nossos iguais, em classe.

Repito, antes das reclamações, que é lamentável e merece apoio as manifestações contra a violência e a favor de um ambiente urbano, em nossas cidades, de mais Paz e solidariedade.

A reflexão tenta ir pouco além de casos pontuais, pensando na vida que vivemos no cotidiano, reclamando da conjuntura, mantendo as estruturas.

Interessante observar como neste processo, entre realidade e percepção, pretendendo Justiça somos injustos e acabamos reforçando mitos e reivindicando tratamento diferenciado, portanto antidemocrático e nada "republicano".

O debate quase sempre descamba para a tentativa de enxergar o problema pelo lado do indivíduo, sem o seu contexto, sem a análise mais ampla da sociedade.

Observando assim, deste outro ângulo, é possível entender que os casos não são pontuais. Eles se sucedem em meios aos interesses. Mitos são reforçados e políticas são desenvolvidas a partir desta sensação.

Desta forma um Estado Penal é implantado como pretensão de solução, sem que se consiga ver transformações, na essência daquilo que se almeja, em favor de um Estado de Segurança e Paz para todos.

"As masmorras da liberdade"

O texto abaixo é do Luiz Gonzaga Belluzzo. Foi publicado no dia 05/05/2015, no Valor (P.A13). Ele traduz em síntese, e com muito melhor propriedade, o que este blog vem sempre insistindo em defender, diante da realidade contemporânea.

O sistema Econômico Global busca a cada dia mais produtividade independente das pessoas. Há que se manter a luta, porque não é aceitável nestes "tempos de globalização, a incômoda pergunta não quer calar: em que momento homens e mulheres ­ sob o manto da liberdade e de igualdade ­ vão desfrutar da abundância e dos confortos que o capitalismo oferece em seu desatinado desenvolvimento?" como encerrou indagando Belluzzo o seu providencial texto. Confiram.

As masmorras da liberdade
As perspectivas que se desenhavam nos albores da economia industrial moderna despertaram nos pensadores utópicos do século XIX e XX a esperança do aumento do tempo livre desfrutado de forma enriquecedora por indivíduos autônomos. No artigo de 1930, "As Possibilidades Econômicas dos Nossos Netos", Keynes sonhou um admirável mundo novo. Para Maynard, a rápida acumulação produtiva ancorada no progresso tecnológico justificaria as esperanças da vitória sobre a escassez e da realização da utopia de fruição da "vida boa", concebida como a convivência culturalmente enriquecedora entre os humanos.

O capitalismo, entre crises e recuperações, exercitou os poderes de transformar e dominar a natureza­ -até mesmo de reinventá­-la -­ suscitando desejos, ambições e esperanças. A formidável inclinação para revolucionar as forças produtivas haveria de aproximar homens e mulheres do momento em que as penas do trabalho subjugado pelo mando de outrem seriam substituídas pelas liberdades do ócio com dignidade.

Essa utopia foi desmentida pela evolução real das sociedades industriais. No imediato pós­guerra, entre as décadas dos 40 e dos 70 do século passado, sob o império das tecnologias do "fordismo", as formas de controle estavam ancoradas no padrão de concorrência empresarial fundado na estabilidade das estruturas de mercado oligopolizadas, com fortes barreiras à entrada.

A esse modelo de concorrência correspondia uma organização empresarial burocrática, rigidamente hierárquica, fruto da separação entre propriedade e controle, fenômeno deflagrado nas três últimas décadas do século XIX. O administrador profissional era o principal protagonista do processo de gestão ancorado na burocracia. Nas camadas inferiores da pirâmide burocrática, a definição da carreira ­ incluída a escala salarial ­ era guiada por critérios meritocráticos. A ascensão aos cargos superiores desempenhava papel de mecanismo de controle, disciplina e, ao mesmo tempo, de incentivo aos funcionários dos escritórios e aos trabalhadores do chão de fábrica. A disciplina nos escritórios e nas fábricas respeitava, no entanto, as negociações entre patrões e empregados a respeito das condições de trabalho, o que incluía as demandas de redução da jornada e ampliação do tempo livre.

Nos últimos 40 anos, as práticas financeiras e inovações tecnológicas que sustentam a competitividade da grande empresa globalizada detonaram um terremoto nos mercados de trabalho. A migração das empresas para as regiões onde prevalece uma relação mais favorável entre produtividade e salários abriu caminho para a diminuição do poder dos sindicatos e a redução no número de sindicalizados.

Associado à robótica, à nanotecnologia e às tecnologias de informação, o império do "valor do acionista" desatou surtos intensos de reengenharia administrativa, estimulando a flexibilização das relações de trabalho. O desempenho empresarial tornou­-se refém do "curto­-prazismo" dos mercados financeiros e da redução de custos.

O crescimento dos trabalhadores em tempo parcial e a título precário, sobretudo nos serviços foi escoltado pela destruição dos postos de trabalho mais qualificados na indústria de transformação. O inchaço do subemprego e da precarização promoveu o endurecimento das condições de vida do
trabalhador. A evolução do regime do "precariato", constituiu relações de subordinação dos trabalhadores dos serviços ­ independentemente da qualificação ­ que se desenvolvem sob a práticas da flexibilidade do horário, temperadas com as delícias do trabalho "em casa". Essa "flexibilidade" torna o trabalhador permanentemente disponível para responder às exigências do empregador ou contratante.

Assim, o admirável mundo da concorrência global e das tecnologias da informação lançou os dependentes nas masmorras da liberdade. Celebrados como a Ágora contemporânea e como instrumentos da redução do tempo de trabalho socialmente necessário, as TI servem para agrilhoar as vítimas da economia contemporânea e mantê-­las sob a vigilância permanente da empresa ou dos contratantes, prolongando a jornada de trabalho muito além do que seria admissível para um fanático manchesteriano do século XIX. Na edição de 3 de janeiro de 2015, a revista "The Economist" publicou uma matéria especial sobre as novas relações de trabalho. Apontou como uma de suas virtudes a "ocupação da capacidade (de trabalho) subutilizada".

"Os direitos sociais e econômicos estão prestes a sofrer as dores 
dos projetos de competitividade"

As práticas da "competitividade global" estão na raiz do desempenho sofrível dos rendimentos dos assalariados e da maioria dos que trabalham por conta própria. Isso se combinou com a aceleração do crescimento dos rendimentos do capital para produzir um inevitável aumento nos índices de desigualdade na distribuição funcional da renda.

A flexibilização das relações trabalhistas subordinou o crescimento da renda das famílias ao aumento das horas trabalhadas, sobretudo por conta da maior participação das mulheres, das casadas em particular, no mercado de trabalho. Nos Estados Unidos, as mães de família com filhos acrescentaram, entre 1979 e 2000, 500 horas de trabalho ao total despendido pelo casal.

Conquistados a duras penas, na Europa e nos Estados Unidos pelas classes subalternas, depois de duas Guerras Mundiais e da Grande Depressão dos anos 30, os direitos sociais e econômicos estão prestes a sofrer as dores dos projetos de "competitividade".

A mesma "Economist", na edição de 4 de outubro de 2014, reconheceu a iminência da marginalização de mais de 50% da força de trabalho global. Nas considerações finais da matéria "The State of the World", a revista advogou a interferência dos governos nas regras de distribuição do tempo entre "tempo de trabalho" e "tempo livre" e defendeu a destinação dos recursos fiscais para financiar políticas de renda mínima para os cidadãos ameaçados pelo abandono social e pela regressão civilizatória.

Nos tempos da globalização, a incômoda pergunta não quer calar: em que momento homens e mulheres ­ sob o manto da liberdade e de igualdade ­ vão desfrutar da abundância e dos confortos que o capitalismo oferece em seu desatinado desenvolvimento?

Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-­secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e escreve mensalmente às terças-­feiras. Em 2001, foi incluído entre os 100 maiores economistas heterodoxos do século XX no Biographical Dictionary of Dissenting Economists."

Blefe ou realidade?

A Arábia Saudita é atualmente a maior produtora mundial de petróleo. Tem a segunda maior reserva do mundo e no ano passado foi responsável por mais de 10% do petróleo consumido no mundo.

A Arábia Saudita é a principal responsável pela liberação da produção como estratégia da Opep em defender sua fatia no mercado, que acabou por reduzir o preço do barril de petróleo no mundo. Assim, o preço saiu de US$ 115 por baril, em junho do ano passado, para US$ 45, em janeiro deste ano, estando agora por volta dos US$ 65.

Pois bem, segundo a Bloomberg, o ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali Al-Naimi previu, na última quinta-feira, num conferência climática em Paris que "um dia o seu país vai parar de exportar combustíveis fósseis e passará a vender energia solar".

Naimi disse mais: "na Arábia Saudita, nós reconhecemos que em algum momento, um desses dias, não precisaremos mais de combustíveis fósseis. Não sei quando, 2040, 2050 ou mais tarde. Então, adotamos um programa para desenvolver energia solar"

Difícil imaginar que numa conferência climática ele fosse falar algo diferente para mostrar sua preocupação com os estragos causados pela ampliação da energia oriunda dos combustíveis fósseis.

De outro lado, o aumento da produção saudita e o uso mais amplo de suas reservas, estimadas em 265 bilhões de barris, pode também ser um indicativo de que acreditam que em 30 anos, o uso de outras fontes possam deixar de ser alternativas, para se tornarem majoritárias. A conferir!

sábado, maio 23, 2015

Mar do Açu está sendo atingindo quando se faz carregamento de minério de ferro nos navios

O blog recebeu já faz mais de uma semana informações sobre o pó de minério de ferro que cai no mar, quando ocorre o carregamento dos navios graneleiros, atracados no terminal 1 do Porto do Açu.


Desde então o blog procurou apurar sobre o processo de carregamento feito em esteiras rolantes, desde o pátio, após a filtragem da pasta que chega do mineroduto, da separação da água e do minério, até a grua que joga o minério nas bocas do convés dos navios graneleiros.

Pelo que se vê o problema vem ocorrendo desde o primeiro carregamento no Porto do Açu, em novembro do ano passado. O fato pode ser observado em detalhes, dando "zoom" (clique nas imagens) nas várias fotos que a própria Prumo disponibiliza na internet e no Facebook.

Observe que a granulometria do minério é variável
Observando a foto da empresa com uma funcionária da empresa segurando com as mãos o minério no pátio de secagem que sua granulometria não é uniforme. (Foto ao lado) Então há pedaços maiores e grãos menores, praticamente, pó, esta é parte vulnerável quando do carregamento.

Como a boca das esteiras no guindaste fica no alto e o vento do Açu é relativamente forte, a quantidade de pó que cai é grande. (Foto acima) Assim, ele atinge os trabalhadores e cai no mar, especialmente, entre o navio e o píer do terminal.


A foto do perfil "Radar OZK" no Facebook (ao lado) mostra que mesmo com o pó de baixa granulometria ele é perceptível na água do mar. Veja também a coloração da água ao lado do primeiro navio carregado no Porto do Açu Key Light (foto abaixo).
Foto do Radar OZK em 20-05-2015 no FB

É possível ver em outras fotos que nas tampas destas bocas do convés e ao seu lado está já cheio de minério de ferro, muito pó. O blog marcou em círculos vermelhos para melhor visualização. Há ainda fotos de navios saindo do porto mostrando que esse pó do minério sequer é varrido para dentro das bocas antes dos mesmos zarparem em direção à Ásia.

Como se vê pode ver, o blog procurou obter informações de diversas fontes para identificar e confirmar o problema, antes da postagem deste conteúdo que analisa não apenas o efeito do pó de minério já dentro do mar, mas, todo o processo.

1º embarque - Navio Key Light - Observe a água do mar
quando o navio zarpava do Açu, em novembro de 2014





















É de se lamentar tamanho desleixo num empreendimento que tenta vender a ideia de modernidade e grandiosidade. A continuar o problema, que pelo visto é pouco significativo para o empreendimento que fatura pelo minério que é pesado em milhares de toneladas, em breve as praias  serão atingidas, assim como toda a fauna marinha da região. Pelo que se vê, também os trabalhadores estão sendo atingidos, pela dispersão do pó na área de embarque.

Clique sobre a imagem, faça zoom e observe nos círculos em vermelho o pó de minério caído ao lado das seis bocas do convés do navio, onde o minério de ferro é depositado, para ser transportado do Açu à Ásia


Não é preciso ser engenheiro para identificar que simples mudanças nos equipamentos e processos, como instalação de lonas, ou, aproximação do bico das esteiras que chega até a boca do convés navio, entre outras medidas, poderá eliminar o problema.

O pouco caso indigna até quem depende deste trabalho. A região acredita no desenvolvimento, quer crescimento econômico e emprego, mas rejeita tamanho descaso. Eles parecem crescentes e cada vez mais visíveis.

Como sempre faz o blog disponibiliza espaço para que a Prumo Logística Global S.A., assim, como a empresa Ferroport (joint-venture) entre a Prumo e Anglo American, possam se manifestar e explicar o que farão para resolver o problema.

As autoridades, ligadas à questão ambiental que têm papel não apenas no licenciamento, mas, na fiscalização da operação e de suas consequências para o meio ambiente e para sociedade, devem também agir e poderiam também se manifestar.

O blog abre espaço para que se informe sobre os procedimentos. A conferir!

sexta-feira, maio 22, 2015

Memorando de entendimento Brasil-China assinado para ferrovia não prevê estudo até Porto do Açu

Apesar de toda a insistência do governo federal os chineses não quiseram incluir a ligação o Porto no Açu na ferrovia que sairá no litoral do Pacífico, no Peru.

A informação consta de uma nota da própria Associação de Transporte Públicos (ANTP), também repercutida pela Associação Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF), cujo título é "China financiará versão reduzida de ferrovia até o Oceano Pacífico".

O traçado original da Transoceânica previa ligação com Porto do Açu, porém, o memorando assinado esta semana, não constou no escopo dos estudos financiados pelos chineses, porém, a ligação até o Rio, como consta no traçado previsto na lei 11.772/2008 para a Ferrovia, conforme mapa ao lado.

Segundo fontes do governo, o Brasil tentou incluir no acordo o estudo de toda a extensão de 4,4 mil quilômetros da Transoceânica (também chamada de Bioceânica ou Transcontinental), com o trecho entre Goiás e o Porto do Açu, no Rio, passando por parte pouco explorada do quadrilátero ferrífero da Região Sudeste. A ideia era criar infraestrutura com apoio dos chineses, o que não foi aceito.

Assim, a saída pelo Oceano Pacífico será a partir de Campinorte (Goiás), onde também haverá a interligação com a Ferrovia Norte Sul. Assim, além da soja do Centro-Oeste sair para a oeste para o Pacífico, o minério de Carajás, poderá futuramente até descer pelo trecho da Ferrovia Norte-Sul já construída desde o Pará.

Para os chineses a saída do minério de ferro pelo Peru seria mais vantajosa porque eliminaria a necessidade de passar pelo Canal do Panamá que ocorre com a saída pelo Porto de Barcarena no Pará, ou pelo Porto de Itaqui, no Maranhão. Assim, os chineses se fixaram no que este blog intitulou em comparação à antiga Rota da Seda, na ligação Ásia-Europa, como a nova Rota da Soja, que poderá ser em parte usada no futuro também para parte do minério, do Pará e de Minas Gerais.

Os chineses evidentemente, como dissemos nas postagens anteriores, estão dispostos a financiar, mas, olham o que mais lhes interessam. Assim, o governo brasileiro poderá bancar o trecho leste-Oeste restante entre Campinorte, GO, passando por Minas Gerais até o Açu, RJ. 

Apesar dos encaminhamentos das negociações com os chineses, indagado sobre a ligação da Transoceânica com o Atlântico, o Palácio do Planalto não se manifestou. A Empresa de Planejamento e Logística informou que a ligação entre Atlântico e Pacífico se dará por meio da Transoceânica e do trecho no território peruano. A EPL disse que "em relação ao trecho compreendido entre Campinorte e o Estado do Rio, os estudos estão sob responsabilidade do governo brasileiro".

Porém, como também afirmamos antes, com o movimento todo voltado para a saída pelo Pacífico, o movimento de saída pelo Açu fica reduzido e a construção deste trecho da ferrovia fica comprometido, porque é um investimento pesado e que não terá toda a movimentação necessária para amortecer tamanho investimento. 

Neste sentido, a ferrovia deixa de ser um ferrovia transoceânica, ou bi-oceânica, até decisão sobre saída no Açu, ou na hipótese que ainda se fala, no projeto do Porto Sul, em Ilhéus, BA. Seria a alternativa da ligação entre Barreiras (BA) e Porto Nacional (TO) que está nos planos para ser concedida e poderia reforçar a viabilidade econômica da Fiol e do Porto de Ilhéus.

De certa forma, esta decisão pode diminuir a potencialidade do Porto do Açu para escoamento de minério, já que a tendência, se esta ferrovia com saída para o Pacífico se consolidar, poderá arrastar parte do minério de MG. Isto porém é questionado por consultores por conta dos problemas ambientais e de engenharia para atravessar a Amazônia e o Andes.

Assim, na prática, caso esta ligação se viabilize o minério terá outra saída que não pelo Espírito Santo e/ou pelo litoral fluminense. Isto não retira os projetos já construídos, mas, impede a ampliação e alternativa de logística para outros.

Para o Porto do Açu, as notícias não são todas ruins, sob o aspecto econômico, porque os chineses têm interesse no trecho da ferrovia EF-118.

Esse trecho de ferrovia Vitória-Rio e interligaria por modal ferroviário os portos de Vitória, o projeto do Porto Central em Presidente Kennedy, o Açu, em São João da Barra, Comperj e o Porto de Itaguaí, que já é interligado por linhas férreas em uso, com Minas Gerais e o Porto de Santos, em São Paulo. Mapa ao lado.

As negociações sobre a participação chinesa para viabilizar sua participação em concessão e possivelmente na operação estão em curso e poderá acontecer, quando do leilão de concessão a ser feito pelo governo federal.

PS.: Atualizado às 22:54 para breves correções e acréscimos.

Montadora JAC no Açu: a "guerra de lugares"

No dia 12 de setembro o blog comentou em nota aqui, sobre os chineses as negociações que estavam em curso sobre a possibilidade da vinda da montadora chinesa JAC para ser implantada no Açu.

Na ocasião, o blog comentou sobre a “guerra de lugares” e a disputa que estas corporações costumam empreender visando obter vantagens dos governos jogando uns contra os outros e obtendo vantagens como redução de impostos, cessão de área e até investimentos a fundo perdido, ou participação acionária.

O blog também comentou que o projeto da JAC com área e terraplanagem já feita aguardava liberação de recursos do governo da Bahia para se instalar no polo industrial do município de Camaçari.
Projeto da JAC no município de Camaçari, BA.

Pois bem, ontem, o jornal Valor confirmou as negociações dos empresários chineses da JAC com o governo fluminense, informou que entrou na disputa o município fluminense de Seropédica que fica nas imediações do Porto de Itaguaí, na região metropolitana do Rio de Janeiro e que o governo do estado estaria defendendo a vinda do empreendimento para o Porto do Açu, através de cessão de área do Distrito Industrial, junto ao Porto do Açu, hoje controlado pela Prumo Logística Global S.A.

O Valor trouxe em matéria de três jornalistas que “a JAC Motors, poderá mudar de endereço. Hoje, o prefeito do município fluminense de Seropédica, Alcir Fernando Martirizzo, se reúne em um hotel da zona sul do Rio de Janeiro com representantes da empresa para tratar da instalação da fábrica da montadora no Estado. Segundo ele, o município da região metropolitana do Rio disputa com São João da Barra, no Norte Fluminense, o projeto, cujo plano original previa investimentos de R$ 1 bilhão na produção de carros e utilitários de carga leve em Camaçari, na Bahia.

"Nenhum outro município do país reúne as condições de Seropédica, que já atraiu mais de 20 indústrias, e tem uma localização estratégica, ao lado do porto, com acesso às principais rodovias", disse o prefeito. Para ele, a indefinição de onde será a planta é fomentada pelos investidores, para conseguir mais promessas de benefícios dos Estados.

Desde o ano passado, circulam boatos de que a unidade, que já havia sido negociada com o governo da Bahia, seria transferida para o Rio. A informação foi negada durante a campanha eleitoral, no ano passado, mas voltou a circular no início deste ano. Fontes ouvidas pelo Valor relatam que o governo do Rio de Janeiro trabalha para atrair os chineses para São João da Barra.

A China, o Açu e seus significados dentro do acordo bilateral

Além da ferrovia transoceânica entre os Portos do Açu, no Rio de Janeiro e Matarani, no litoral do Pacífico, no Peru, há outras negociações que envolvem uma das pontas deste acordo Brasil-China.

Pelo acordo assinado na terça-feira, a China se comprometeu a realizar em um ano (ate maio de 2016), os estudos complementares sobre a viabilidade técnica, econômica e ambiental do projeto da ferrovia com extensão de 4,7 mil km, sendo 4,4 mil km, em território brasileiro.


A ponta do Pacífico na ferrovia deve sair primeiro
Como o blog já comentou aqui e aqui, consideramos que se tudo caminhar como partes desejam, eu acredito que a saída pelo lado do Pacífico sairá bem primeiro que a ligação com o Porto do Açu.

O raciocínio para essa conclusão é simples. Poderíamos, de forma similar ao caso da ligação da China com a Europa, em que dá denominação histórica da Rota da Seda, passarmos a chamar esta como sendo a Rota da Soja.
Infográfico da FSP em 13-05-15

A Rota da Soja irá se estabelecer com a ferrovia transoceânica, em primeiro etapa, porque a ligação da área de produção do agronegócio fica mais próxima (cerca de dois mil km - caso da distância Cuiabá até Porto de Matarani) litoral do Peru, do que do Porto do Açu.

Embora, no caso da soja de Tocantins e Goiás, as distâncias entre o litoral do Atlântico e Pacífico sejam quase iguais, mas, aí também a vantagem da saída pelo Pacífico seja maior, porque grande parte da exportação seja para a China e Ásia, portanto com rota bem menos desde o porto do Peru, do que com pelo Pacífico, no Açu.

O caso do transporte do minério, este que sai do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais fica mais próximo do Porto do Açu, muito embora, a distância depois a ser percorrida de navio até a Ásia seja maior pelo Açu, do que pelo Peru, no Pacífico.

Porém, com o minério de ferro cotado abaixo dos US$ 60, tanto um lado quanto outro, ampliam a pressão sobre o peso da logística de transporte desde o ponto de sua extração ao local de seu beneficiamento. Assim, não é simples, concorrer com a mineradoras australianas, e desta forma, só um bom estudo de viabilidade econômica para mostrar as oportunidades e os gargalos.

Outros negócios do Porto Açu com os chineses
Há que se observar que nos negócios Brasil-China, além do modal ferroviário, a Prumo Logística Global S.A. que controla do Porto do Açu participou ativamente da reunião acontecida no início da semana no Palácio Itamaraty, em Brasília, do encontro do Conselho Empresarial Brasil-China, entre empresários chineses e brasileiros.

Na ocasião, segundo matéria do Valor Online, o presidente (CEO) da Prumo, Eduardo Parente, entregou cerca de 80 folders com informações sobre o Porto do Açu, visando captar projetos para a área que a empresa possui junto aos seus dois terminais. Na ocasião também foi dito que "mais de uma dúzia de companhias chinesas esteve visitando o Açu: se tudo for concretizado a brincadeira começa na casa de centena de milhões".

Foi também informado que os chineses se mostraram interessados em outros tipos de acordos que passam por assumir fornecimento e montagens de estruturas para o porto, em troca de participações acionárias nos negócios.

T Mult junto do Terminal 2 do Porto do Açu
Fonte: imagem aérea da empresa em maio de 2015.
Entre os casos foram citados ainda parcerias discutidas para trocar serviços de dragagens do terminal de petróleo e minério de ferro (T1) para aumentar a profundidade de 19 para 24 metros e assim poder receber maiores embarcações. A dragagem dos canais de atracação é um tipo de atividade que exigirá um esforço quase permanente no Porto do Açu. Outras parceria foram conversadas para o fornecimento e montagem de estruturas do terminal de contêineres": no T-Mult, junto do Terminal 2.

Em outra direção, do Brasil (Açu) para a China, se decidiu a saída da montagem de um projeto naval. Trata-se da integração dos módulos dos FPSOs P-67 e P-70, saíram do Consórcio (joint-venture) Integra, formado pela OSX e pela Mendes Jr. que tem uma base de montagem junto ao terminal 2 do Porto do Açu e que agora vai ser feito pela Chinese Offshore Oil Engineering. O contrato inicial, avaliado em US$ 1,8 bilhão. As embarcações, unidades replicantes que serão instaladas nas áreas de Lula Norte e Iara Horst, no pré-sal da Bacia de Santos. (Fonte: PetroNotícias - 22/05/2015)

Os interesses e as parcerias chinesas pelo mundo: da produção ao consumo
O blogueiro identificou em sua pesquisa em portos da Europa, Espanha, Holanda e Bélgica que os chineses operam por concessão muitos terminais de portos importantes como Roterdã, Barcelona, Antuérpia entre outros.

O objetivo é simples: facilitar a movimentação de mercadorias que interessa ao mercado chinês tanto para as suas exportações, quanto para importações. Assim, a China que já possui grandes navios para as trocas comerciais, operam toda a logística de cargas, desembaraço aduaneiro, o recebimento, estocagem e distribuição em ZAL (Zona de Atividades Logística).

As ZALs junto aos portos, possuem diversos grandes galpões que, no caso espanhol, também estão articulados à ligação com o consumo com redes de lojas em diversos e bem localizados quarteirões. As lojas são montadas em estruturas similares e administradas por casais também de jovens chineses.

É possível que o desenho que esteja sendo pensado para o Açu possa ser semelhante. Os chineses legalizam seus negócios e assim, fazem incrivelmente, um processo em que operam as três etapas do circuito: produção-circulação-consumo, também chamada da tríade marxiana que analisa e interpreta a formação do valor no modo de produção do sistema capitalista em que vivemos.

Assim, os chineses trabalham com uma lógica em que a etapa da circulação das mercadorias tendem quase à zero aproximando de forma quase inimaginável há alguns anos, a etapa da produção e do consumo.

Desta forma, os chineses operam uma cadeia de valor que os permitem garantir e controlar os mercados na ponta do consumo e não apenas produzir com altíssima produtividade na China.

Com a atuação chinesa cada vez mais forte também na logística de transportes, onde constroem grandes navios conteineros a custos baixos em seus estaleiros, e agora, também participando da infraestrutura e da operação portuária em portos importantes no mundo, a China amplia imensamente a sua presença e as suas vantagens competitivas mundo afora.

Assim, também, simultaneamente, consegue manejar áreas estratégicas do comércio mundial entre as nações e ainda, se necessitar para enfrentar concorrência em cada uma das três etapas, pode transferir ganhos ou tarifas entre as três partes do circuito.

Capitalismo de Estado e seus enlaces
Observar a relação destes fenômenos da Economia Global e como ela já interfere na economia regional é hoje um dos desafios de nosso país e estado. Ao ler com mais atenção a lista dos 35 acordos firmados na relação bi-lateral China, se observa perfeitamente qual a linha adotada pelo capitalismo de estado chinês que organiza e hierarquiza as suas linhas de atuação.

A China assim avançou de seus interesse básico anterior por recursos minerais, energia e alimentos para outras áreas de infraestrutura que são as bases das cadeias de valor que poderão à frente ser expandidos com mais facilidade.

Desta forma a China, também cria possibilidades de atender os interesses do Brasil em seu esforço de inserção global e de entradas nestas cadeias de valor. Porém, sendo uma economia menos centralizada que a chinesa e lidando com tantos interesses, é difícil imaginar até onde a visão estratégica não pode ser comprometida com a captura de nossos excedentes ao se abrir para estas parcerias, mesmo que inicialmente seja exclusivo de dinheiro de fora investido aqui.

De outro lado com uma elite econômica nacional pouco vocacionada a ousar, fazer e empreender o novo, o caso da articulação Brasil-China, parece encaixar com uma luva, na hipótese em que as relações governo-governo e setor produtivo (com seus similares em ambas as nações), parecem ampliar a base capitalismo de estado (nas duas pontas) com seus enlaces (capitalismo de laços, Lazzarini, Sérgio, 2010) nos negócios que estão se mostrando nos acordos firmados.

É necessário continuar a ampliar a investigação sobre este fenômeno para sair do debate superficial seja no campo da política, da economia e mesmo da planejamento e do desenvolvimento regional. Este caso reforça a posição de que é cada vez mais difícil analisar a conjuntura sem uma observação global, considerando estas etapas como as bases mais contemporâneas da reestruturação produtiva mundial e da expansão do modo de produção capitalista.

O blog e o blogueiro aguardam críticas, comentários que ajudem ao aprofundamento das análises sobre o assunto. A conferir!

PS.: Atualizado às 14:04: Para pequeno acréscimo.

Royalties pra trás

Há uma ação judicial que envolve, o governo do estado, a ANP e a Petrobras que discute uma multa de R$ 570 milhões correspondente ao não pagamento completo de participações governamentais em dez áreas da bacia de Campos, como Roncador e Marlim.

O estado acompanha isto de perto, assim como os municípios, nesta época em que os repasses reduziram em função do preço internacional do barril do petróleo.

Força aos profissionais da Educação em Campos e bom senso aos gestores!

Merecem registro a força e a organização da luta dos profissionais da Educação no município de Campos.

Estive fora da cidade por três dias, retornando só ontem à noite. Aliás, nos últimos trinta dias, é a segunda passagem por eventos acadêmicos em Minas Gerais.

No final de abril estive em Juiz de Fora, no Seminário Internacional de Direitos Humanos e Empresas, em interessantíssimo evento e ótimos debates. Agora, nesta semana, fui a Belo Horizonte, no Encontro Nacional da Anpur 2015 (Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisas em Planejamento Urbano e Regional) também com muito bons trabalhos e reflexões. Minas é cada vez mais um centro importante do pensamento científico brasileiro.

Apenas citei a participação dos eventos para justificar estar um pouco distante, embora relativamente ligado pelas ferramentas informacionais da rede, à realidade do município e da região.

Neste caso, o destaque que quero dar é à mobilização puxada pelos professores municipais que lutam por remuneração justa,  e por condições de trabalho adequadas para a realização de uma educação de qualidade, nesta cidade bilionária.

O movimento do professores é corajoso pela atitude de perseguição dos gestores que deveriam estar buscando o diálogo e alternativas. A liderança forte do movimento deveria estar sendo valorizada para a busca de soluções, que mesmo distante do ideal, pudesse apontar para perspectivas, num prazo mais longo de ajustar toda a área. É mais fácil dialogar com lideranças fortes e autênticas.

A Educação é nosso maior desafio em Campos. Ao mesmo tempo o maior calo das administrações que vem se sucedendo no poder neste último quarto de século no município.

Em termos de tempo, este quarto de século, seria mais do que suficiente (praticamente maior que uma geração) para que pudéssemos com todo o dinheiro, deste orçamento bilionário, fazer não apenas mudanças, mas produzir uma revolução para o povo desta nossa Planície.

A Educação Básica, fundamental e médio é o nosso gargalo. Os índices do Ideb são apenas a ponta de um novelo que merece um novo tratamento, e sem o professor tudo isso, será impossível.

No ensino técnico e superior (mesmo com mitos problemas) o município, já atingiu, um outro patamar. A oferta pública de vagas no Ensino Superior avançou, mesmo que a oferta privada ainda seja maior. Na última década estabilizamos o número de matrículas, em cerca de 25 mil, mais, outras 5 mil em pós-graduação.

A manutenção deste número de matrículas, mostra que aquela interpretação de que a oferta represada no passado pela ausência de alguns cursos, depois de atendida, foi substituída por um fluxo normal de quem vem do ensino médio e assim, mantendo o estoque de matrículas. A demanda das cidades vizinhas que na década de 90 vinha mais de Macaé e Cabo Frio, hoje se alarga para os outros municípios do Norte, Noroeste Fluminense e Sul Capixaba.

Enfim, diante desta realidade, o nosso calcanhar é o ensino fundamental e médio públicos. O percentual de alunos de classe média na escola pública é hoje, muito inferior até aos municípios da capital e região metropolitana, onde o ensino privado se expande mais.

Assim, parece que relegada às camadas populares, menor importância, os gestores passaram a dar ao ensino fundamental. Há necessidade de aperfeiçoar a rede e dotá-la de bons e estimulados docentes com salários adequados não apenas à subsistência, mas, para a obtenção de recursos culturais para o melhor desenvolvimento de sua atividade letiva.

Esta atividade letiva está cada vez mais complexa diante deste mundo pós-moderno e fragmentado em que coisas, fatos e circunstâncias são misturados, sem uma articulação que possa ajudar nossos alunos a pensarem, a articular informações soltas, que são acessíveis em cada vez maior proporção, mas, sem vínculos.

Assim, desejo que os professores reforcem as suas forças na luta obstinada em fazer compreender aos que estão no poder, que a sua luta é a de todos nós: é a de um povo, neste tempo civilizatório.

Ameaças e uso de força na Educação, mais do que em qualquer outro campo, são lições do que não deve ser feito e do que pode ser apresentado sobre como enfrentar na vida real, o poder e como tais, etapas de uma boa cartilha de Educação cidadã.

Desarmar os espíritos, sem precisar que as partes, docentes e gestores apresentem suas justificativas, deve ser parte do interesse em buscar soluções no curto e médio prazo. A Educação interessa a todos nós, e os representantes eleitos pelo povo têm que se recordar disso.

Força aos profissionais da Educação em Campos e bom senso aos gestores!

PS.: Atualizado às 12:16: Para correções no texto.

quinta-feira, maio 21, 2015

"O planejamento no século XXI"

A discussão sobre a necessidade de planeamento público e ordenamento territorial é frequente entre pesquisadores, gestores e empreendedores.

Em momentos de crise há espaços maiores para diálogo sobre o tema entre estes três setores. Desta forma, é oportuno pensar sobre as formas de planejamento que o ambiente contemporâneo nos remete, especialmente, se recordarmos o nosso Celso Furtado. Assim, vale conhecer o artigo do economista e professor da UFRJ, Davi Kupfer, publicado no dia 9-11 de maio de 2015, p. A15 do Valor:

"O planejamento no século XXI "
"A luta contra o subdesenvolvimento é um processo de construção de estruturas. Implica, portanto, a existência de uma vontade política orientada por um projeto." Celso Furtado em "O longo amanhecer: reflexões sobre a formação do Brasil". Editora Paz e Terra, 1999.

A crescente ênfase com que temas ditos "heterodoxos", como planejamento e investimento, vem sendo tratados no debate econômico internacional merece registro. Em um artigo denominado "Uma ciência ainda mais lúgubre", publicado na página de opinião do Valor de 8 de maio último, J. Bradford DeLong sumariza o debate sobre a capacidade de a política macroeconômica proporcionar uma cura eficiente para os males do baixo crescimento: "os governos precisam assumir maior responsabilidade na assunção de riscos, no planejamento de longo prazo e nos investimentos". Um dos economistas citados no artigo, Larry Summers, em entrevista publicada pelo jornal nesse mesmo dia, discorrendo sobre o problema da estagnação secular e os meios para evitá­-la, indica que "...A prioridade tem que ser o estímulo ao investimento. Há um papel para políticas estruturais que incentivem o investimento privado e há outro para políticas fiscais expansionistas, especialmente aquelas orientadas para o investimento público".

Mas o que é o planejamento de longo prazo? Extraída do pensamento furtadiano, a epígrafe dessa coluna explicita três idéias-­força atemporais relacionadas a esse tema: construção de estruturas, projeto, vontade política. Vale a pena, portanto, discutir como essas ideias-­força podem ou devem se sequenciar em experiências concretas de planejamento do desenvolvimento. Adiante são abordadas três possibilidades:

Primeira sequência: é um projeto que explicita as estruturas a serem construídas, para cuja consecução a vontade política é mobilizada. Se assim for, essa é uma visão racionalista, emanada de uma burocracia superdotada, que tudo sabe e tudo vê. É a visão de um mundo movido pela tecnocracia. O desafio aqui é evitar que o conhecimento técnico aprofundado, tão necessário para definir diagnósticos e proposições, não se traduza em simplificações da dimensão políticoinstitucional dos processos sociais.

Segunda sequência: é uma vontade política de construir certas estruturas para o que se formulam projetos. Se assim for, essa é uma visão de um governo ativo, que pactua com a sua base de sustentação as necessárias intervenções no processo econômico. É a visão de um mundo movido pela política. A problemática aqui está em não permitir que a ideologia, tão essencial para que se consiga construir modelos de interpretação da realidade, não sirva como engessamento das visões de futuro.

Terceira sequência: é um conjunto de estruturas a serem construídas que levam à formulação de projetos que comandam a vontade política. Se assim for, essa é a visão do planejador, voltado para a construção do futuro, não como algo que se prevê nem tampouco algo que se deseja e sim como algo que se define como possível. É a visão de um mundo movido por seus determinantes estruturais. É a visão furtadiana por excelência, consistente com a sua atuação como um dos principais defensores do papel crucial do planejamento na promoção do desenvolvimento econômico

Porém, no século XXI, há transformações de grande impacto que modificam radicalmente a arquitetura analítica da reflexão sobre o planejamento. Primeiro, as interações entre agentes, grupos, instituições se dão na atualidade em um ambiente de complexidade que exige muito esforço e competência para ser compreendido e mais ainda para ser regulado. Segundo, por paradoxal que pareça, o aumento do conhecimento trazido pela vigência da sociedade da informação, porque alarga o conjunto de possibilidades, tende a provocar mais desconhecimento, aumentando, e não reduzindo, as incertezas sobre o futuro. Por isso, torna­-se necessário apostar em múltiplas soluções. Terceiro, vive-­se hoje em um mundo de preços flexíveis devido à desregulamentação financeira, à globalização do sistema de empresas líderes e à quebra da coordenação oligopolista, antes assentada na existência de barreiras estáticas à entrada, substituída pela concorrência baseada em inovação (destruição criadora schumpeteriana).

Dentre outras consequências, o planejamento de quantidades, típico do século XX, vê-­se seriamente dificultado. No século XXI, a planificação, que é tão somente a elaboração de projetos estáticos, está sendo substituída pela estratégia, o que significa um processo permanente de revisão e ajustamento das metas e instrumentos de construção do futuro. Implica, portanto, a necessidade de uma institucionalidade completamente nova, pouco ou nada semelhante à que existiu no passado. Diante de realidades muito dinâmicas, planos rígidos, que se cristalizam, podem até mesmo constituir mais fonte de problemas do que de soluções.

Para o Brasil, é grande o desafio. É claro que avançar no planejamento do século XXI requer capacidade macroeconômica de financiamento na contramão do ciclo de negócios. Mas depende também de outros elementos que se situam muito além do que é o núcleo duro da política econômica: coordenação, monitoramento e avaliação. Dentre as instituições brasileiras, especialmente dentre o aparato extra-­estatal, predominam os objetivos de defesa da renda. Instituições pró-­planejamento, voltadas para a redução de incertezas, coordenação ou acumulação de conhecimento e aprendizado são poucas e menos proeminentes. É necessário mudar esse perfil.

David Kupfer é professor licenciado e membro do Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da UFRJ (GIC­IE/UFRJ). Escreve mensalmente às segundas-­feiras. E­mail: gic@ie.ufrj.br) www.ie.ufrj.br/gic."