segunda-feira, novembro 30, 2015

Gás natural para refrigeração é inovação tecnológica já em uso e referência para aplicações mais nobres

O uso do gás natural (GN) para refrigeração é uma importante inovação que tornam as aplicações do mesmo bem mais qualificadas do que aquela para aquecer água e fogão nas residências, gerar energia elétrica e alimentar processos industriais.

A climatização de ambientes e sistemas de lavagem de tubulações já começam a ser utilizados com grande vantagens em relação aos sistemas elétricos. Na refrigeração a gás natural a redução do consumo de energia elétrica fica acima de 90%.

O sistema já batizado como VRF (Variable Refrigerant Flow) a gás natural (GN) apresenta melhor custo operacional e menores alíquotas de impostos pelo uso de fonte menos poluidora.

Os equipamentos utilizados podem ser divididos em Resfriadores de Líquido por Absorção (Chillers) e Bombas de calor do tipo GHP (Gas Heat Pump). O primeiro funciona por expansão indireta, ou seja, o refrigerante resfria um meio intermediário (ex: água) que, por sua vez, circula em uma serpentina que irá resfriar o ar a ser insuflado no ambiente. Já o segundo funciona tanto por expansão direta quanto indireta. Na expansão direta o refrigerante absorve o calor diretamente do ar do ambiente a ser condicionado.
Ilustração da Comgás

Os sistemas usam o chamado de multi-split, em que uma unidade externa é ligada a várias unidades internas que operam individualmente por ambiente. A parte externa pode ser provida de torre de resfriamento. Em São Paulo, a distribuidora Comgás já está utilizando a tecnologia para a climatização para edifícios comerciais. Mais detalhes sobre este uso da Comgás clique aqui.

Outra utilizações mais nobres do gás natural (GN) fazem partes de pesquisas no setor de petróleo e gás. Este é um das linhas de pesquisa do Centro de Pesquisa para a Inovação em Gás Natural (CPIG). que começou a funcionar em agosto último na USP, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da perolífera inglesa BG Brasil.

O Centro CPIG tem nos cinco primeiros anos recursos que totalizam aproximadamente R$ 112 milhões, sendo R$ 28 milhões da Fapesp, R$ 28 milhões da BG e R$ 56 milhões, indiretos, da USP. A equipe será formada por 174 pesquisadores, sendo 42 professores e 132 pós-graduandos e pós-doutorandos.

Além da Poli, participam do Centro pesquisadores de pós-graduação do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), autarquia estadual associada à USP, e das unidades da USP: Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEE), Instituto de Química São Carlos (IQSC) e Faculdade de Direito (FD). Mais detalhes sobre o CPIG na USP clique aqui.

domingo, novembro 29, 2015

4 municípios fluminenses, mesmo com a crise do baixo preço do petróleo, recebem mais royalties em 2015 que 2014

Ao contrário da quebra violenta de receita dos royalties do petróleo para o estado e para os municípios fluminenses petrorrentistas, quatro deles, ampliaram as receitas, em novembro deste ano, comparado aos valores recebidos em 2014:
O fato é muito significativo porque no início de novembro do ano passado, o preço do barril do petróleo ainda estava em US$ 70, enquanto, agora em novembro de 2015, ele se encontra na faixa de US$ 45.

Estes municípios recebem royalties por conta da produção nos campos da Bacia de Santos e do Pré-sal e/ou, também por possuir bases de movimentação nas instalações petrolíferas, como terminais aquaviários, construção naval e rede de dutos.

Maricá recebeu mais R$ 40 milhões em 2015
O município que mais cresceu arrecadação mensal foi Maricá com mais R$ 1,8 milhão. As quotas mensais acumuladas (janeiro a novembro) recebidas agora em 2015 chegam a R$ 129,6 milhões.

O valor das quotas acumuladas entre janeiro e novembro de 2014 pelo município de Maricá foi de R$ 126 milhões, ou seja, agora em 2015, houve um crescimento de R$ 3,6 milhões, equivalentes a 16%.












Se acrescentarmos os valores recebidos a título de Participação Especial (PE), o município de Maricá recebeu em 2015, um valor de R$ 131,1 milhões, enquanto em 2014 esta receita foi de R$ 94,5 milhões. Isto dá uma diferença a mais de receita em 2015 de R$ 36,5 milhões.

Somados aos R$ 3,6 milhões a mais das quotas mensais de royalties faz com que a receita a maior total com as participações governamentais dos royalties em 2015 de 40,1 milhões a mais do que os valores recebidos no ano passado.

Países com maiores áreas florestais do mundo

























As imagens do mapa e do infográfico com dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) mais do que mostrar áreas preservadas e verdes, buscam chamar a atenção para o potencial de uso da terra para a produção florestal.

O objetivo é a silvicultura é um dos temas do debate hoje na CoP-21, em Paris. Na discussão sobre clima as áreas verdes são desejadas, mas ela também já foram em boa parte aprisionadas em negócios.

Nela se inclui o cultura de eucaliptos e outros, em programas chamado de desenvolvimento da silvicultura e de florestas que segundo seus idealizadores atenderia às questões do clima e também ao fornecimento de alimentação, madeira, biomassa, energia, etc..

O gráfico mostra o Brasil com 493 mil hectares de reservas verdes só menor do que a da Rússia que chega a 814 mil hectares. Países com imensas áreas têm mais potencial, mas correm também o risco de se transformarem em reservas mundiais de oxigênio, a um custo para que outras nações se enriqueçam nunca quiseram pagar para usufruir.

sábado, novembro 28, 2015

Movimentos no xadrez da geopolítica da energia

Há que se registrar importantes movimentos no tabuleiro da geopolítica mundial para além dos interesses na área energética.

Na quinta-feira a Arábia Saudida forte aliada dos EUA, formalizou com a Rússia um importante acordo de cooperação no setor de petróleo e gás. Bom saber que se tratam dos dois maiores produtores mundiais de petróleo e gás do mundo.

Ambos os países seguem ampliando suas produções a despeito da queda acentuada do preço do barril.

A Arábia é líder da Opep e as interpretações para que a organização liberasse a produção que resultou na queda dos preços do barril, teria sido fruto de um acordo com os EUA, para enfraquecer a Rússia e outros produtores de petróleo mundo afora.

Tal hipótese, decorrido um tempo e produzido alguns efeitos, inclusive no Brasil, podem agora sofrer alterações.

Nos EUA a ampliação da produção de petróleo com as reservas de xisto estão tendo problemas com a permanência do preço abaixo do patamar de US$ 50, o barril.

Resta saber o que a divulgação do grupo de trabalho conjunto entre a Arábia Saudita e a Rússia poderá suscitar neste xadrez de interesses.

Aneel informa recebimento de pedido de outorga para 2 Termelétricas (UTE) para o Açu

A Superintendência de Concessões e Autorizações de Geração da ANEEL (Agência Reguladora de Energia Elétrica) informou no Diário Oficial da União (DOU) de ontem, o recebimento do pedido de outorga para duas Usinas Termelétricas (UTEs) à Gás Natural (GN) para geração de energia elétrica, com instalação junto ao Porto do Açu, em nome da  empresa Gás Natural Açu Ltda.:

1) UTE Novo Tempo GNA I (Cajueiros) com potência de 1.522 Mwatts localizada nas coordenadas coordenadas 21º 50’ 35,06” S e 41º 0’ 47,58” O;

2) UTE Novo Tempo GNA II (Grussaí) com potência de 1.014 MWatts localizada na coordenada coordenadas 21º 50’ 41,76” S e 41º 1’ 0,77”O.

Os projetos totalizam a geração de 2.536 MW. Eles já foram anunciados em abril passado (veja nota aqui no blog), só que na ocasião em parceria com o grupo gaúcho Bolognesi Energia S.A. que havia reservado uma área para aluguel de até 400.000 m2 no Porto do Açu por 25 anos.

Adiante a Bolognesi desistiu de sua participação. Agora o projeto foi apresentado para outorga junto à Aneel apenas em nome de uma das empresas da holding Prumo Logística S.A., substituta da LLX que era do empresário Eike Batista.

Consta que a Prumo continua buscando parceiros para o projeto que exige grande investimentos, estimados em torno de R$ 4 bilhões cada UTE para terminais de GNL ou regaseificação, gasodutos, geração e subestação entre outras partes. A conferir!

sexta-feira, novembro 27, 2015

As perdas com royalties de Campos em 2015 serão de R$ 600 milhões

Até novembro, as diferenças entre valores depositadas em 2015 e aquelas pagas em 2014, elas totalizam a quantia de R$ 581,7 milhões.

Nesta conta estão consideradas as 11 quotas mensais até pagas até novembro (17/11/2015) e as quatro parcelas trimestrais das Participações Especiais (PE) depositadas este ano.

A próxima prevista referente ao 4º Trimestre de 2015, só deverá ser paga em fevereiro de 2016. Na conta de tabulou a quota de PE do 4º Trimestre de 2014 paga e 09/02/2015. Parcela suplementar só num caso eventual e raro de alguma suplementação e ajuste de conta.

Assim, no caso das quotas mensais resta apenas a dezembro. Em novembro de 2015, a diferença em relação à novembro de 2014 foi de 19,2 milhões. Assim, se em dezembro ela se mantiver o município de Campos dos Goytacazes fechará o ano com os valores de royalties em 2015, de cerca de R$ 600 milhões.

O blog daqui voltará mais tarde ao assunto com mais comentários.

PS.: Atualizado às 19:18:
No ano passado a arrecadação do município de Campos dos Goytacazes com as receitas das quotas mensais dos royalties e das trimestrais da Participações Especiais (PE) chegaram em números redondos a R$ 1,28 bilhão. Este ano a projeção é que este total seja em torno de R$ 680 milhões, sendo R$ 400 milhões das quotas mensais e 280 milhões de PE.

quinta-feira, novembro 26, 2015

Mudanças demográficas

Uma interessante matéria do Wall Street Journal (WSJ) sobre demografia, aponta que a redução da população no mundo seria uma nova ameaça à economia mundial. (Acesse aqui)

A reportagem é bastante interessante e diz entre outras coisas que "no próximo ano, as economias mais avançadas vão atingir uma marca crítica. Pela primeira vez desde 1950, o total de sua população em idade de trabalhar vai diminuir, segundo projeções da OCDE. Até 2050, essa população vai encolher 5%".

O jornalista Greg IP relata que essa mudança reflete duas tendências há muito estabelecidas: o aumento da expectativa de vida e a queda da fertilidade, ou fecundidade. Ele também diz que a maioria dos países com alta fertilidade está na Ásia e na África.

Isto também pode ajudar você a entender a geopolítica mundial para além da disputa energética e de recursos minerais que atualmente vivemos. Além disso, oferece pistas para entender a posição das nações centrais sobre imigração, apesar dos discursos humanitários.

Vale ainda ler como algumas nações estão já se organizando para este aumento da idade me´dia da população e da classe trabalhadora. Também como as empresas pensam na produção e nos serviços para atender população com mais idade e diferentes consumos.

Ou seja, uma matéria muito interessante para pensar além do quadrado e das disputas locais de poder. Penso que o acesso a matéria na íntegra que consome uma página inteira do impresso esteja acessível a todos e por isso sugiro e reparto a leitura e interpretação com os leitores do blog. (Acesso aqui)

Antes porém, para os que não terão tempo para ler a íntegra da reportagem, eu postarei abaixo três infográficos (desta e outra matéria do WSJ) com dados que mesmo para quem acompanha um pouco mais a discussão mundial, sempre traz dúvidas e é interessante que se conheça:

1 - A relação dos 10 países mais populosos do mundo hoje e sua previsão em 2050. Tenho certeza que você se surpreenderá com alguns números que têm como fonte o documento da ONU "Perspectivas da População Mundial - Revisão 2015";

2 - Três gráficos sobre: expectativa de vida (projeções) no mundo e para populações de alta, média e baixa renda; Fertilidade também para para populações de alta, média e baixa renda; variação da população mundial (em bilhões de pessoas) por três faixas de idade - de 0-14 anos; de 15-64 anos (idade ativa) e + de 65 anos;

3 - Um terceiro gráfico oriunda de outra matéria do WSJ que mostra que também na China, a população em idade para trabalhar também já começou a cair. Em 2050, a população ativa terá declinado em 212 milhões de pessoas, estima a Organização das Nações Unidas. Isto é o contrário daquilo que você sempre ouve falar sobre a China, incluindo a informação de que em 2050, a população da Índia já terá ultrapassado a da China.No mês passado, a China aboliu sua política do filho único.

De outro lado num mundo onde a produção e o consumo sem fim não fosse a razão de ser, menos gente, poderia significar repartir mais e melhor os recursos ainda disponíveis. Mas a lógica do sistema não é esta.



































Novas fronteiras de expansão empresarial no Brasil

O Valor trouxe ontem (25/11), P.D3, uma matéria sobre novas opções de localização operacional para empresas fora do eixo Rio-SP. O estudo foi realizado pela consultoria internacional Towers Watson, que analisou 26 capitais e do Distrito Federal e disse que a intenção seria de orientar clientes interessados em iniciar ou ampliar operação no Brasil.

Estudos similares usam quase sempre os mesmos indicadores: disponibilidade de trabalhadores qualificados, custo de vida, despesas e custos operacionais com imóveis e remuneração dos trabalhadores. Além destes também outros relativos à infraestrutura e sociais: acessibilidade, condição das estradas, quantidade de voos disponíveis, ambiente macroeconômico, qualidade de vida e segurança e saúde da população.

Interessante observar que a consultoria identificou que as capitais da região Nordeste são bem mais atrativas especialmente por custo de vida, imobiliário e de mão de obra que outras regiões. Oito das dez capitais mais bem colocadas são do Nordeste. Baseado nestes indicadores foi elaborado um infográfico de doze capitais. A primeira colocação ficou com Fortaleza.



A consultoria ao invés do ranking sugere que as empresas analisem o perfil do empreendimento para identificar as vantagens que cada cidade oferece às empresas.

Além dos dados e comentário que a matéria trouxe, eu não posso deixar de comentar outras questões que vão para além dos indicadores citados como vantagens pela consultoria.

Primeiro deve ser observado que o estudo se refere mais às bases operacionais do que sede e matriz das empresas, quase sempre fincada verticalmente nas capitais, onde concentra o poder econômico e político. A própria consultoria e o título da matéria diz sobre "instalar operação fora do Rio e SP ajuda a reduzir custos".

Outra observação é sobre a relação dos empreendedores com o poder político local, quando normalmente são apresentadas várias opções e a partir daí se incia uma espécie de leilão para ver quais governadores e prefeitos oferecem mais vantagens para receber os investimentos.

O geógrafo Milton Santos conceituou este processo como "gerra de lugares". O resultado deste jogo, muitas vezes abandona critérios e a rigidez técnica, na busca por alternativas que já estariam tomadas sem a necessidade deste jogo, que muitas vezes subtrai do município e estado rendas tributárias, pro generosas isenções, para entregar ao empresário que assim amplia o seu lucro.

Bom recordar que a análise feita para as capitais podem (e já foram alguma vezes feitas) para municípios do interior, onde os indicadores a serem observados são quase que os mesmos. O mesmo vale para os acordos entre os poderes econômicos e políticos para as autorizações e licenciamentos.

Por último, é interessante observar duas , para quem enxerga apenas o Brasil do Sudeste e do Sul e considera suas demais regiões como apêndices, como a dinâmica econômico-espacial foi se modificando no país na última década.

A partir da inclusão social, da ampliação de equipamentos públicos de educação, saúde e infraestrutura e logística, mesmo que em meio a demandas maiores, permitiu o país avançar em mudanças insuficientes, mas numa direção correta para reduzir antigas desigualdades sociais.

quarta-feira, novembro 25, 2015

Efeito do declínio da produção da Bacia de Campos nas parcelas dos royalties

Nas quotas mensais dos royalties do petróleo pagas neste mês de novembro (18/11) é possível ampliar a percepção sobre os impactos da redução da produção de petróleo na Bacia de Campos.

Mesmo com o preço do barril do petróleo mais baixo, o município de Niterói recebeu R$ 1,6 milhão a mais, do que no ano passado. Para lembrar, em novembro do ano passado o barril estava a US$ 57, enquanto hoje, ele está cotado a US$ 45, ou seja, cerca de 20% menor.


Em novembro do ano passado a quota mensal de royalties de Niterói foi de R$ 10,1 milhões e neste ano de R$ 11,7 milhões. Enquanto isto, Campos recebeu em novembro de 2015, comparado a novembro de 2014, menos R$ 19,2 milhões e Macaé menos R$ 12,7 milhões.


A manutenção do baixo preço do barril por mais tempo tende a reduzir ainda mais o potencial da Bacia de Campos que já ultrapassou 80% da produção nacional. Em setembro passado, este percentual já tinha caído para 64%, com tendência de declínio.

Os campos de Roncador, Albacora e Marlim (veja mapa acima) é que ainda sustentam este percentual, mas os custos de produção, comparados aos excelentes resultados de produtividade dos poços do pré-sal, tornam os investimentos no pós-sal, da Bacia de Campos, não competitivos.

PS.: Atualizado às 15:34: para ajustes e correções no texto.

terça-feira, novembro 24, 2015

Obsolescência mal programada & capitalismo selvagem diante do enxugamento de gelo

Todo mundo já percebeu que o sistema criou um processo contínuo onde os produtos possuem um ciclo de vida cada vez menor.

A ideia desenvolvida com o encurtamento do ciclo de vida do produto era que após um período de uso, não muito maior que a garantia, o chamado usuário já necessitasse substituir o produto de forma a gerar demandas permanentes e ciclos repetitivos.

Assim, impulsionadas pela publicidade, os produtores de mercadorias geram novas necessidades e alimentam uma demanda contínua.

Do conceito de ciclo de vida encurtado do produto, o sistema avançou para outro de obsolescência programada. Nesta condição o produto deixaria de ser útil, mesmo estando em perfeito estado de funcionamento, devido ao surgimento de um produto que seria tecnologicamente mais avançado.

O avanço e a inovação presente nos modelos posteriores, na maioria das vezes é apenas um papel de violento marketing e "embelezamento" do "novo" produto que consome valores cada vez mail alto de publicidade e pouco de inovação técnica. Assim, os custos de marketing se aproximam dos custos de produção e tornam os equipamentos mais frágeis, reduzindo ainda mais seu ciclo de vida.

É nesta toada que o cidadão, se transforma em consumidor e o sistema virtuoso para os produtores. Alegam que tudo isto justificaria a produção em massa de produtos, com preços mais em conta, num sistema em que o consumo e a lógica consumista se torna a regra.

O que não seria imaginável é que chegaríamos a um ponto onde a obsolescência acabou se tornando tão mal programada que o produto dá defeito antes até do fim da garantia.

Refiro-me a uma questão geral ligado à reestruturação produtiva e à indústria de massa, mas me calço também num caso específico, em que este blogueiro é vítima. Há dez meses adquiri um notebook da marca Asus. Depois de um bom funcionamento, umas teclas pararam de funcionar.

Fiz contato com o suporte que informou que a empresa já não trabalha com assistência técnica descentralizada e que eu teria que embalar e colocar nos Correios, a partir de um código enviado pela empresa para um endereço central de atendimento e assistência técnica.

Depois de cerca de três semanas, a empresa informa por email que o equipamento não tem conserto por falta de peças e que ela se dispunha a devolver a quantia paga pelo equipamento.

Reclamei sobre o absurdo da situação e pela forma da empresa Asus rechaçar a hipótese - única aceitável - de entregar um outro novo equipamento igual ou similar, em desempenho. Aleguei que seria a única forma de ainda manter algum respeito pela marca, já mal vista.

Além disso, eu reclamei que neste período os equipamentos similares aumentaram de preço por conta da variação do dólar e como consumidor eu não deveria ter que arcar por um acréscimo de cerca de 25% na aquisição de um produto similar.

 A Asus em nova resposta informou que tentou a alternativa, mas que não existia estoque disponível e que assim faria o depósito do valor pago pela mercadoria.

Independente do desfecho que o caso terá, que não vem ao caso, eu resolvi trazer a exposição para que possam refletir e entender  até onde chegamos com este modelo que produz lixo em tempos mal calculados, pelos fabricantes.

Imagine a fábrica dizer que um equipamento feito por ela e adquirido por você, por um defeito simples, se tornou inutilizado se transformando em lixo, por falta de peças, antes mesmo da garantia ser terminada.

Antes que atribuam problema a uma marca, eu tenho que dizer e há exemplos inúmeros em diversos fóruns pela internet, que a situação e caos semelhantes estão longe da exceção.

Obsolescência neste caso se torna mesmo um pleonasmo porque o que se tem mesmo é lixo e corrupção entre as partes do sistema.

Há quem acredite nos mecanismos, que estes mesmos que criaram este sistema, incentivaram e que é conhecido como sendo de "defesa do consumidor", em meio a emaranhados de filas e reclamações que atendem pontualmente alguns casos, diante de um oceano de problemas que são sistêmicos.

O Estado tem sido impotente diante desta realidade, onde proteção e o apoio a quem quer produzir e gerar emprego, é sempre muito maior do que qualquer tênue preocupação em regular, controlar e fiscalizar este sistema.

Diante das evidências enxugar gelo é parte do processo.

PS.: Atualizado às 22:37 de 30/11/15 para corrigir a grafia da palavra conserto.

Diferentes apostas no setor de petróleo em meio à crise dos baixos preços

Enquanto as empresas de petróleo cortam 250 mil vagas espalhadas pelo mundo, segundo a Bloomberg, agência de notícias do setor de negócios globais, a petrolífera italiana ENI informou que pretende inciar ainda este ano as atividades de exploração offshore de petróleo, na plataforma Goliat, no Mar Ártico.

O projeto é orçado em US$ 6 bilhões de dólares e estima produção de 100 mil barris/dia. Em direção contrária,a Shell, Esso e BP desistiram recentemente de seus projetos no Ártico, diante da crise do setor com os baixos preços do barril de petróleo no mercado mundial.

Como se pode ver há no setor corporativo de petróleo no mundo, apostas diferentes, em relação às expectativas de rendimento com as explorações e produção. 

O caso chama a atenção porque as reservas do Mar Ártico já consumiram muito dinheiro das petroleiras e ainda são uma incógnita, diante, por exemplo da realidade com a produção (e a produtividades) nos campos da área do pré-sal, no litoral brasileiro.

segunda-feira, novembro 23, 2015

Samarco busca mineradoras para manter seu mercado de pelotas de minério

Ainda em meio aos destroços de Mariana e a agonia do Rio Doce, a mineradora Samarco já pensa no plano para restabelecer a empresa, antes de saber se terá de volta licença para operar a unidade de Germano em Mariana.

Pensando em termos de mercado, a Samarco pretende manter o nicho importante de mercado que possui em pelotas de minério de ferro que tem mais valor que o produto sob a forma de "grãos".

A empresa possui 4 unidade de pelotização, na localidade de Ubu, município de Anchieta, em espaço contíguo, onde se situa, o porto, por onde fazia as exportações, até o trágico rompimento da barragem de rejeitos, no último dia 5 de novembro.

Informalmente técnicos da empresa já falam em plano que estão sendo detalhados e envolvem a aquisição de minério de terceiros para alimentar as atividades no Espírito Santo e assim garantir parte que seja de sua pauta de exportações.

Ainda não se fala em quais mineradoras, mas é quase certo que uma delas seria a própria Vale, outra ainda não foi comentada. Neste caso, o principal empecilho é a logística para levar o minério até o município de Anchieta, já que antes ele era transportado da mina até o porto através de 3 minerodutos. Até o Porto de Tubarão, em Vitória, a Vale usa a ferrovia. Porém, é difícil imaginar transporte de grande quantidade de minério por caminhões.

Sem trocadilho, Vale observar como as ações relativas ao capital agem em velocidades bem superiores às capacidades de investigação sobre o dano e sobre e reparos pelos estragos feitos ao ambiente e ás pessoas que ali viviam.

sexta-feira, novembro 20, 2015

Discutindo origens, impactos e saídas para a crise em Macaé: município necessita enfrentar a situação olhando para além do setor de óleo

Através dos perfis no Facebook eu fiz, ontem e hoje, duas interlocuções para dialogar sobre a crise na economia de Macaé, pensando sobre causas, consequências e ações necessárias.

O primeiro diálogo foi com o vereador macaense, Marcel Silvano, que tem demonstrado preocupações e apontado a necessidade de um aprofundamento do debate, sobre a questão do desenvolvimento. Assim, ele postou no seu perfil no FB e no Youtube falas sobre o assunto:

"[DESENVOLVIMENTO] Para superar o desenvolvimento em carne viva! Ontem, quando debatemos a redução de impostos para a indústria do petróleo eu propus um outro modelo de desenvolvimento que não deixe o município à beira do abismo a cada crise". "Em votação de lei tributária, que beneficia empresas do setor de petróleo e gás por meio de redução de tributos municipais, o vereador Marcel ressaltou que é preciso repactuar os valores de desenvolvimento de cidade".



Sobre as falas do vereador Marcel Silvano, expostas no vídeo, eu comentei ontem em seu perfil:

"Vereador Marcel Silvano excelentes colocações sobre a necessidade das nossa região discutir que cidade e região se deseja. A questão conjuntural não será resolvida com mais do mesmo. Além dos municípios discutirem cidade para quem, há que se avançar na discussão da integração supramunicipal, na visão e ações colaborativas e não concorrenciais. 

As reduções tributárias apostam na guerra fiscal entre os entes federados e dificultam a integração. A questão das opções locacionais das empresas da cadeia do petróleo e do gás, não serão definidas por reduções de alíquotas e sim por outros fatores macroeconômicos mais importantes, especialmente, neste momento de crise de baixo preço do barril. 

É preciso compreender que nestes períodos de oscilação do mercado, a capacidade de arrasto da economia do petróleo tende a ser limitada. Outros fatores para além do preço tendem a pressionar Macaé como base deste setor e vão bem para além da questão portuária. A alta produtividade do pré-sal, o período mais longo de baixo preço do barril e especialmente, a mudança da base de Macaé, como espaço de gerenciamento, planejamento e decisão na exploração offshore vem sendo transferida de Macaé desde 2001, quando da criação das Unidades de Negócio. 

Agora a expansão para exploração/produção ao sul e de base de apoio portuário ao norte do estado está referendando o processo em curso que torna a ação local como, basicamente, operacional, só que agora também multiponto. 

Diante destas novas dinâmicas econômico-espaciais a reformulação sobre o quê fazer, como, onde, quando e com quem fazer é essencial para pensar projeto de cidade para as suas populações. 

Ninguém tem bola de cristal para soluções milagrosas. É preciso humildade e interesse no diálogo, entre os agentes que atuam na cidade e a enxergam para além da expropriação predatória conjuntural. 

Defender que o Legislativo avance neste debate, sem bloquear ações que mesmo insuficientes estejam em direção equivocada, mostra maturidade e boa vontade para que o diálogo possa ser travado. O que também não pode significar apenas intenções, que no campo das ações apontem para permanência no mesmo lugar, porque o tempo não para e a comunidade não pode esperar".

Outro diálogo
Hoje, eu li no perfil do professor Mauro Osório da UFRJ, um comentário sobre Macaé postando um link sobre a posição da Prefeitura em defesa do projeto do porto TerPor no município que pode ser lida neste link aqui:

"Pelas informações que possuo um dos fatores que tem gerado desemprego em Macaé é a transferência de atividades da Petrobras no município para o Espírito Santo, onde a Petrobras possui uma sede própria."

Pois então sobre a questão, eu postei no perfil do professor Mauro Osório o comentário abaixo, que de certa forma repete algumas questões que eu já havia comentado ontem, a partir da posição do vereador Marcel Silvano. O objetivo de replicar estas postagens aqui no blog é o de ampliar o debate que considero salutar e importante. Assim, eu repito o que já comentei na interlocução com o Marcel Silvano. Ninguém tem bola de cristal para soluções milagrosas. É preciso humildade e interesse no diálogo, entre os agentes que atuam na cidade e a enxergam para além da expropriação predatória conjuntural.

"A questão é mais ampla. A base da Bacia de Campos foi montada em Macaé, a partir da segunda metade da década de 70. Se ampliou junto com o aumento da exploração. A base começou com estrutura de projetos, gestão, engenharia e operação. 

Assim, seguiu avançando por 25 anos. Em 2000, objetivando reduzir a importância e o peso da gestão na Bacia de Campos, em Macaé, foram criadas as Unidades de Negócio em outros pontos, mas visando administrar os campos de exploração de forma regional. Assim, além da UN-BC em Macaé, surgiram no governo FHC, as UN-ES e a UN-Rio. 

Para fora, o discurso eram a descobertas nas bacias do ES e de Santos que eram fatos, porém, junto da decisão, se aproveitou para fatiar a UN-BC, já que alguns campos desta bacia passaram a ser gerenciados do Rio, na sede da estatal e nos inúmeros prédios corporativos que passaram a ser usados pela empresa. A partir daí, Macaé foi cada vez mais passando a ser apenas base operacional. O processo não foi sentido localmente, porque a ampliação da exploração cuja base de apoio principal era o Terminal Portuário de Imbetiba - inclusive o que deu apoio à descoberta do pré-sal. 

Pois bem, a partir daí, as bases de apoio portuário foram se ampliando e dividindo ó que antes era feito a partir de Macaé. Na Baía de Guanabara, há hoje no Rio e Niterói, mais de uma dezena de bases de apoio portuário para exploração de petróleo, mesmo que três sejam as maiores. Houve uma hierarquuização deste processo, onde a gestão da UN-BC se tornou cada vez mais operacional e agora já começando a ser repartida com SJB e o Porto do Açu. 

Este processo segue em curso e uma espécie de "guerra dos portos", não parece ter condições de deter, diante da crise dos baixos preços do barril, a redução conjuntural dos investimentos no setor. Difícil acreditar que investidores queiram inciar um projeto diante dos problemas atuais e da posição atual dos competidores já em processo de implantação mais avançados. 

O caso do projeto do Terpor é ainda mais complexo, porque sua instalação em área já adensada e espremida entre uma rodovia estadual e uma grande unidade de conservação (UC federal do Parque de Jurubatiba) é indevida, sobre vários pontos de vista. 

Continuar observando a e defendendo ações pontuais municipais é um contrassenso diante da necessidade de um planejamento regional ou supramunicipal. Além disso, não está correto analisar a questão com fatos do presente, apenas, sem observar o processo histórico que nos trouxe até aqui.

PS.1: Ainda sobre a informação sobre a transformação da base da Petrobras em Macaé, é importante lembrar que ao se referir à base operacional, significa dizer que atividades de planejamento, projeto, compras, finanças e outras relativas à gestão se transferiram espacialmente e voltaram a ser concentrados no Rio-capital, que além de tudo fica mais equidistante de campos petrolíferos também das reservas do pré-sal na Bacia de Santos".

PS.2: Oportuno ainda recordar que uma nova base portuária, tende apenas a evitar que se perca a localização de algumas bases operacionais de outras empresas ali, instaladas. No atacado é difícil acreditar que diante dos fenômenos econômico-espaciais que estamos vendo que a capacidade de arrasto que a Petrobras ainda possui em sua "base operacional" de Macaé, seja a mesma da que possuía antes. Esta leitura permite uma melhor interpretação daquilo que estamos sustentando.

Petroleiros do Norte Fluminense suspendem greve

Em assembleias realizadas hoje, no Sindicato dos Bancários em Campos e na sede do Sindipetro-NF, em Macaé os petroleiros decidiram pela suspensão da greve, iniciada no dia 1 de novembro. A votação da decisão foi por 556 votos a favor do encerramento do movimento, 255 votos contra e 16 abstenções. A suspensão da Greve, também reforçu a discussão da Pauta pelo Brasil com a Petrobrás e da aceitação da proposta do Acordo Coletivo de Trabalho.

O Sindipetro-NF ficou de informar à Petrobras que a greve foi suspensa e os trabalhadores que estão em seu período de trabalho encontram-se à disposição da empresa. O sindicato informa ainda que "cada trabalhador, adicionalmente, pode entrar em contato com seu superior imediato, para orientações para reembarque. Os trabalhadores do Terminal de Cabiúnas, que entram no turno das 23h, devem assumir seus postos. As escalas devem ser seguidas normalmente. Já o grupo da Sala de Controle Remoto em Imbetiba pode assumir o turno a partir das 19 horas".

quinta-feira, novembro 19, 2015

Royalties, Síria e o cotidiano da região petrodependente

Apesar dos conflitos na Síria e das intervenções da França e Rússia naquela região que envolve o Iraque, os preços do barril do petróleo continuam baixos e inalterados. Agora mesmo o valor do brent está em US$ 44,20.

Desta forma, os desesperados com as baixas receitas dos royalties não conseguem enxergar luz no fim do túnel.

Agora, só torcendo para que os problemas do Oriente Médio se agudizem.

Os EUA depois de ter ajudado a criar muitos "malucos" naquela região, agora, mesmo temendo as maluquices, parecem optar e torcer por um certo equilíbrio na região, de olho em outra região que parece lhe dever maiores preocupações: a Ásia.

Já na região, com o valor do dólar caindo, já que esteve próximo dos R$ 4 e agora já caiu quase 10%, estando hoje em R$ 3,72 haverá uma redução ainda maior nas parcelas de royalties a serem recebidas em reais pela União, estados e municípios petrorrentistas. 

Somando a isto a greve dos petroleiros, a próxima quota mensal deverá ser a mais baixa dos últimos meses. Não é difícil intuir que ela já irá comer parte dos empréstimos que os prefeitos lutam para obter junto aos bancos.

Aumento do ICMS no ERJ é uma das hipóteses para reduzir déficit estadual

Diante da crise de receita e do déficit orçamentário do governo estadual que vai muito para além da perda de receita dos royalties e de outros impostos, o governo do ERJ, depois de atrasar pagamento de servidores e fornecedores, já avalia autorizar pedido do secretário estadual de Fazenda, para dar apoio ao projeto de lei aumentando o ICMS, o imposto responsável pela maior receita dos estados.

O aumento das alíquotas do ICMS é faca de dois gumes, diante das ofertas que adiante vão fazer outros estados em condições financeiras menos apertadas.

Resta ainda saber a quantas andam as muitas vantagens oferecidas a alguns setores nos momentos das "vacas gordas" e muitas tetas do estado.

Operação de carregamento e descarregamento de contêineres no Porto de Roterdã

A empresa APM, que opera terminais portuários e pertence ao grupo Maersk vem aperfeiçoando o seus sistema de movimentação de cargas conteineirizadas nos portos, visando ainda mais produtividade e redução de custos, na etapa de circulação das mercadorias entre a produção e o consumo.

Em do seus terminais, o Maasvlakte 2, no Porto de Roterdã, a APMT demonstra neste vídeo, divulgado há poucos dias, como o processo de automação dos guindastes, já permite hoje a operação em salas centrais de controle fora das cabines dos guindastes.

Das salas de controle, em joysticks, os operadores se utilizam de diferentes guindastes, operados remotamente, com uso de câmaras e sensores, para fazer a movimentação de cargas que chegam aos portos, através dos navios, ou que chegam nas modais ferroviárias ou rodoviárias para serem embarcadas nos mesmos.

O processo de automação nos portos é crescente e vai atingindo níveis antes não imaginados. Desta forma, as movimentações de cargas cada vez prescindem menos de operadores e ampliam a sua fluidez o que reduz enormemente a relação com as cidades/regiões onde os sistemas portuários estão instalados.

O contrário só se dá nas mais recente geração de portos-indústria (MIDAs), quando a produção é estruturada junto aos portos, o que exige distância das áreas urbanas das cidades e grande disponibilidade de retroáreas.

Apesar dos grandes avanços técnicos com automação da movimentação das cargas, há que se registrar a ocorrência de acidentes, mesmo para este tipo de movimentação de cargas, embora os operadores portuários aleguem ser em menos quantidade do que a existente anteriormente.

Também vale registrar que a regulação e os controles alfandegários destas movimentações parecem ser menores do que deveriam ser, diante do potencial de problemas que estas bases portuárias podem trazer para as regiões e nações. Confiram o vídeo do Porto de Roterdã.

terça-feira, novembro 17, 2015

O pragmatismo da Samarco parece realçar o crime que segue impune

Ainda enquanto lamentamos o desastre produzido pela Samarco, sobre a cidade de Mariana e sobre os municípios banhados pelo sofrido Rio Doce, leio na edição desta terça-feira, no Valor, que a Samarco já estuda alternativa para voltar a operar a mina e retomar a produção, agora sem a barragem de rejeitos (mesmo tendo ainda outras duas ameaçadas), através da possibilidade de usar a "cava de Germano (mina exaurida) da companhia.

Difícil acreditar se eu mesmo não tivesse lido a reportagem na P. B3.

Evidente que na matéria a empresa diz que "o obstáculo para voltar a operar é mais a discussão com a sociedade do que relacionada a meios técnicos.

Diante desta realidade e das intenções explícitas, não há como não pensar sobre outras hipóteses. Todas repugnantes.

Utilizando e formulando as hipóteses absurdas, mas do tamanho do que assistimos, não há como não lembrar do Schumpeter e seu conceito que lembra a guerra, mas não apenas as armas de fogo, sobre a "destruição criativa" ou "destruição criadora", como base do sistema capitalista e do uso da inovação.

De toda a sorte não fui eu que inventei a noção de pragmatismo, como a que citei aqui há poucos dias sobre a "precificação" do prejuízo da tragédia gerada pela Samarco (de US$ 2 bilhões - R$ 7,5 bilhões), que acabou saindo barato quando o MPE fez um acordo por sete vezes menos - apenas R$ 1 bilhão.

De 2009 até 2014, a Samarco acumulou lucros de R$ 14, 6 bilhões, resultado que foi 90% distribuído aos dois acionistas (BHP Billiton e Vale) que agora tentam se livrar do problema, reforçando a tese de que o lucro é privado e o prejuízo público.

Diante de tudo isto, não é difícil crer na disposição de voltar a produzir jogando os rejeitos num novo e improvisado depósito. Na verdade a intenção revelada pelo jornalista Francisco Góes do Valor deve ser visto como uma afronta que nos faz questionar sobre a urgência dos procedimentos referentes aos crimes ambientais. Não se deve confundir a diferença entre responsabilidade civil e responsabilidade criminal diante de tamanha afronta.

O livro "Os homens de ferro" e a relação do blogueiro com a rede formada a partir do blog

Nos últimos meses eu passei a ser muito abordado, a partir do blog, por pesquisadores e estudiosos de diversas origens e experiências que encontram nas postagens, informações e análises feitas ao longo do tempo. Eles afirmam obter nos textos, material e inspiração para aprofundar os seus trabalhos.

Esta, talvez seja uma das boas e raras motivações para manter este espaço ainda atualizado. No contato com pessoas, que na maioria das vezes sequer conheço, ou tenho referências pessoais, este blogueiro também se inspira, e numa dupla direção, também se motiva e inspira, a seguir em frente.

Evidentemente, como se trata de um blog pessoal, é natural que os assuntos mais abordados sejam aqueles que o blogueiro mais tem dedicado o seu tempo, mesmo que, eventualmente, também trate com comentários, das questões e fatos do dia a dia, nas diferentes escalas, desde a local à global.

Nesta linha, não é novidade para muitos que tenho investido tempo e estudo para entender como a economia política no plano global tem interferido de forma sistemática e crescente, na vida e na forma como a política interfere em nossas regiões. De forma especial, fui ampliando o leque de observação do Norte Fluminense para o plano estadual e nacional.

Vez ou outra recebo nos comentários, ou por email, questionamentos sobre a menor abordagem dos casos referentes à política e a economia local. Compreendo os questionamentos, mas tenho insistido na necessidade de se ampliar a interpretação mais totalizante, visando uma intervenção local, porque o concreto e o real são sempre locais. Mais adiante falarei um pouco mais sobre esta questão.

Os assuntos mais abordados ultimamente voltam-se para a economia global, a importância dos sistemas portuários neste processo, e no caso brasileiro, em especial, da relação destes temas com a economia do petróleo, considerando-a atualmente, como uma das quatro fronteiras de expansão da economia brasileira.

Exatamente nestes campos, diversos graduandos e pós-graduandos, professores, trabalhadores, analistas econômicos e jornalistas (cada vez mais de fora da região) têm trocado experiências e contatos com o blog, ajudando na interpretação da realidade que se tenta interpretar como fenômeno.

Interessante observar como esta network (rede) ajuda a trazer mais informações _ num processo interativo e colaborativo - e também a construir leituras que se esforçam por juntar pontas, diante deste mundo, hoje, tão fragmentado de informações soltas e, proporcionalmente, de tão poucas interpretações sobre os fenômenos contemporâneos.

Desta forma, os dados e o acompanhamento sobre a mineração mais de perto, surgiu desde que passei a estudar a profusão de projetos portuários no ERJ e ES.

Adiante convidado pelas comunidades atingidas e por outros pesquisadores que estudavam e se organizam em resistência contra os impactos sobre as comunidades locais, produzidas pelos projetos dos setores de mineração e portuário.

Assim, eu acabei avançando um pouco mais na compreensão desta atividade, que faz parte de outra importante fronteira de expansão econômica brasileira que se soma à do petróleo, já comentada, mas que possui em comum com esta, o fato de ser também mineral e obtida de forma extrativa.

Diante disto (desculpem o longo preâmbulo) é claro que o catástrofe produzida pela empresa Samarco, a partir do município de Mariana, trouxe novas atenções para se compreender as atividades extrativas, seu processo de produção, sua relação com o poder econômico e político nas diversas escalas.

É a partir deste referencial que tenho tentado contribuir com algumas informações e linhas de análise, para além das diversas que estão sendo veiculadas, em todos os meios, em especial na chamada redes alternativas de comunicação, que buscam sair do sendo comum, produzida pela maioria das matérias da mídia comercial, com exceção para algumas, paradoxalmente, publicadas pela mídia internacional.

Enfim, escrevi tudo isto (peço desculpas novamente, mas é porque entendo que devo dialogar com os que acessam o blog, para que estes conheçam as referências, de onde falo e comento e também para se compreender sobre os assuntos escolhidos para as notas) para sugerir uma leitura bastante sugestiva ao tema da mineração e do trabalho neste setor da atividade humana, sobre a natureza.

Refiro-me ao livro "Os homens de ferro - Estudo sobre os trabalhadores da Vale do Rio Doce em Itabira" da professora é antropóloga Maria Cecília Minayo que foi professora da Fiocruz, no Rio de Janeiro.

O livro foi editado em 1986 e o tema tem origem em sua dissertação de mestrado. É uma publicação especial no campo das Ciências Sociais. Trata-se de uma pesquisa etnográfica de fôlego na região mineira de Itabira. Eu usei esta publicação de forma intensa entre 1992 e 1994, quando elaborei minha dissertação de mestrado na Coppe/UFRJ, sobre o que hoje chamaria como os "Heróis do petróleo - estudo sobre o trabalho offshore na Bacia de Campos".

O livro da Minayo aborda desde a geografia da mineração, quanto dos processos e relações de trabalho entre empresa, sociedade e trabalhadores, quando a mesma ainda era do "Rio Doce" e não apenas "Vale" e seu capital exclusivamente do Estado. Nele estão descritos as relações de produção que, mesmo em empresas estatais (como exemplo na Petrobras) obedecem às lógicas do sistema e atuam sobre o território (espaço) e sobre a sociedade de forma nem sempre percebida, diante do discurso majoritário da ideia do "progresso".

Reler esta publicação distante no tempo em trinta anos, numa nova conjuntura de Estado e da corporação e também do peso que a mineração ganhou na economia global e na geografia das corporações no Brasil, embute um enorme aprendizado que me esforço por repartir com os interessados.

A sociedade contemporânea e a capacidade que as rede técnicas de telecomunicações nos oferecem na atualidade, nos fazem tentar interpretar cada fato novo que surge como, um fato estanque, sem processo histórico, assim solto no tempo e no espaço, até que seja substituído por novo fato, que mais uma vez atrairá nossa atenção. Neste processo, na maioria das vezes se deixa lado a necessidade de tentar entender e fazer a ligação entre os mesmos, no tempo e no espaço.

Desta forma, se tem perdido a noção da totalidade, com interpretações equivocadas, bem ao gosto de quem pretender manipular - com construções mentais sem bases e conteúdos - abandonando interpretações e análises mais aprofundadas e críticas.

Não me refiro às "bestas" preocupações com o que chamo repetidas vezes aqui de "falsas neutralidades". Só as argui quem pretende quem pretende a manipulação, porque a construção do conhecimento exige aprofundamento e críticas, porque é a partir delas que se pode avançar para novos conhecimentos científicos, que após sintetizados, serão adiante questionados e reformulados.

Enfim, fica a dica e a sugestão da leitura.

Anatel disponibiliza ferramenta para identificar qualidade da telefonia móvel por município

A Anatel divulgou site (aqui) com ferramenta para o cidadão poder identificar a avaliação sobre a qualidade dos serviços das operadoras de telefonia móvel.

Através do site você tem diversas opções de pesquisa. Entre estas você pode acessar um mapa com a localização das torres das operadoras, com o tipo de tecnologia (2G, 3G ou 4G) e dados estatísticos sobre interrupção de conexão em voz e dados por operadora.

Abaixo o mapa do município de Campos com a distribuição das torres e centrais das operadoras. Logo a seguir um gráfico que mostra o acesso à rede de voz por operadora:























Reduz-se a crença no sistema capitalista

Não. A fala não tem origem na Rússia, China ou em algum professor comunista. Ela é a conclusão de uma pesquisa de mercado da YouGov, feita no início de setembro par ao instituto londrino Legatum e divulgado por Tim Montgomerie, em matéria de página inteira, no americano The Wall Street Journal, replicada pelo Valor, 16/11/15, P.B11,

Interessante ainda que os mais otimistas com o sistema capitalista sejam na sequência indianos, tailandeses e indonésios, enquanto os mais pessimistas sejam os americanos, onde apenas 14% dos pesquisados, acham que a vida será melhor para seus filhos, enquanto 52% discordam.

É muito significativo o percentual indicado pela pesquisa de que "55% acreditam que os ricos ficaram mais ricos e os pobres, mais pobres". Mais, que "65% acham que a maioria das empresas sonega impostos, compra favores de políticos ou causa danos ambientais".

Não seria de se estranhar que a despeito de toda a propaganda do sistema feita pela mídia comercial brasileira que demoniza apenas a política, por aqui estes percentuais sejam os mesmos, ou ainda de maior descrédito do sistema.

O estudo sugere ainda que para restaurar a fé na livre iniciativa, é preciso aplicar as mesmas regras a todos. Veja abaixo o infográfico publicado junto da reportagem com alguns outros dados extraídos da pesquisa:


segunda-feira, novembro 16, 2015

Brasil está entre os 5 destinos potencialmente mais atrativos para investimentos estrangeiros diretos no período 2015-2017

A informação faz parte de pesquisa realizada pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio Desenvolvimento) junto com a consultoria americana McKinsey. O estudo foi realizado junto a mais de mil multinacionais em 89 países e mostram segundo eles, que os executivos continuam a apostar no Brasil.

A despeito da crise interna a da estagnação econômica mundial, esta posição no período 2015-2017, mostra uma melhor situação em relação a 2014, quando o Brasil estava na sexta posição no ranking dos destinos potenciais para Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), com US$ 62 bilhões.

Nesta lista de 2014, a liderança era da China com US$ 129 bilhões, depois Hong Kong, com US$ 103 bilhões, EUA com US$ 92 bilhões, Reino Unido com US$ 72 bilhões e Singapura com US$ 68 bilhões.

Há quem enxergue vantagens e oportunidades nesta inserção global, que parece ainda subordinada e dependente, especialmente, neste momento de grande desvalorização cambial. Há outros que compreendem que não há saída fora deste processo que se relaciona às cadeias globais de valor.

Outros enxergam riscos crescentes com a maior transnacionalização de nossa economia. Este é um debate contemporâneo, complexo, mas necessário. Porém, o que não parece real é o discurso de que o país está quebrado e nenhum investimento por aqui interessa.

Os dados de uma entidade da ONU e envolvendo a conhecida McKinsey, sempre ligada ao capital financeiro e às grandes corporações globais, não deveria deixar dúvidas quanto ao que está em jogo.

Governo estadual oferece novo programa de isenção de multas e parcelamento fiscal

Em nove mesas de gestão, o governo do Estado do Rio de Janeiro já aprovou 11 projetos na Alerj com isenções e parcelamentos de dívidas dos tributos, para elevar a arrecadação e tentar diminuir o déficit do caixa do tesouro.

É tanto projeto que mais uma vez se percebe que é mais vantagem as empresas não pagarem os impostos e aguardarem as isenções e parcelamentos do governo estadual.

Desta vez, a Alerj aprovou na quinta-feira, o projeto de Lei Nº 1033, que trata de um programa que oferece isenção de juros e multas para pagamentos à vista de dívidas até R$ 10 milhões.

Para parcelamentos em até 60 meses, o desconto é de 80%. Os débitos acima de R$ 10 milhões, também poderão ser parcelados, mas não terão direito à redução das multas. O prazo para adesão será até o dia 18 de dezembro.

O governo estadual estima arrecadar R$ 720 milhões, que segundo a Secretaria Estadual de Fazenda equivale a 6% do total de créditos tributários devido ao estado que somariam R$ 12 bilhões.

Anglo American anuncia demissão do seu presidente no Brasil

No meio da maior crise da mineração no Brasil, o presidente da Anglo American do Brasil, Paulo Castellari foi efetivado e confirmado pela direção mundial da mineradora britânica, dona do Sistema Minas-Rio que extrai minério de ferro, no município de Conceição de Mato Dentro, MG, transporta por mineroduto por mais de 500 km e exporta pelo Porto do Açu.

A saída oficial se dará no final do ano, segundo a corporação que é segunda mais internacionalizada do mundo, com 95,9% de seus bens, vendas e empregos com origem fora de sua sede. As reclamações das comunidades do entorno da mina de extração em Conceição do Mato Dentro possuem grandes reclamações contra a forma como o grupo instalou o empreendimento na região.


domingo, novembro 15, 2015

Banco alemão precificou prejuízo com acidente da Samarco: US$ 2 bilhões – US$ 1 bi para cada um dos sócios

Segundo matéria do jornal inglês Times, analistas do banco alemão, Deutsche Bank, já precificou o prejuízo para as duas empresas (a australiana BHP Billiton e a Vale) controladoras da Samarco: US$ 1 bilhão para cada uma delas. Este seria o custo estimado com a crise decorrente da tragédia produzida pela Samarco na cidade mineira de Mariana.

Esse valor para a BHP seria a conta dos passivos de limpeza do meio ambiente, indenizações a parentes dos mortos e às pessoas atingidas pelo rompimento. Além de todo o prejuízo causado às cidades por onde os resíduos irão chegar.


O Deutsche Bank também avaliou que a mineradora Samarco só terá condições de operar em 2019, segundo o analista de investimentos do Deutsche Bank, Paul Young, à Bloomberg. Ele afirmou ainda que: "se eles fossem reiniciar, eles teriam que reconstruir uma barragem de rejeitos e eu acho que para fazer isso o licenciamento levaria mais de um ano. O prédio também levaria mais de um ano."

Impactos e destruição de vidas e ambientes são apenas valor e dinheiro estimados pelos fundos e bancos de investimentos que operam e controlam as corporações globais, em diferentes (e indiferentes) territórios pelo mundo. Nada de novo no front!

PS.: Um outro detalhe sobre a repercussão da tragédia que se relaciona com a disputa da opinião da população. Se você for ao Google e digitar "tragédia de Mariana" vai verificar que aparece um dobro de resultados, do que se você digitar "tragédia da Samarco". Isto não se dá por acaso, assim como a ocorrência do desmanche das gigantes barragens de rejeitos, também não tem nada de natural. Ambas as situações foram produzidas e causadas.

PS.: Atualizado às 21:42: Em outra avaliação do banco Credit Suisse sobre de um eventual fechamento da Samarco custaria US$ 3 bilhões, ou 1,5 bilhão para cada uma das sócias da empresa, a brasileira Vale e a australiana BHP Billiton. O analista de mineração do banco na Austrália, Paul McTaggart, teria chegado a este valor ao verificar que a dívida liquida da empresa está em US$ 2,93 bilhões.

Sobre a origem da Samarco
A origem enquanto empresa se dá em 1971 através da empresa Samitri da Belgo Mineira, conhecida mineradora no estado de Minas Gerais.

Em 1977 é que se dá a fusão com o grupo americano Marcona Corporation. Da junção das iniciais (Samitri e Marcona) se cria a denominação Samarco.

Exatamente em 1977 a Samarco ela entra em operação com exportação do minério mais fino (pellet feed) com movimentação de 5 milhões de toneladas anuais, embora o sistema tivesse capacidade para transportar 12 milhões de toneladas.

A inauguração teve a presença do presidente Geisel que considerou um avanço o beneficiamento para a forma de pellet, em relação ao itabirito (minério) bruto. A entrada da Vale e da australiana BHP Billiton se deu no ano de 1984 através de uma sociedade (joint-venture). Em 1996, FHC isentou de ICMS as exportações de minério.

sexta-feira, novembro 13, 2015

A análise dos discursos das corporações e a relação com o poder, no caso do acidente da Samarco, em Mariana, MG

Há muitas questões a serem debatidas após a exposição que o setor de mineração está tendo, diante das conseqüências do gravíssimo acidente da Samarco, na cidade de Mariana, MG.

O discurso do desenvolvimento e de se “aturar os estragos” feitos pelos empreendimentos de mineração, neste momento começam a ser mais amplamente questionados, ao contrário do que se via até aqui.

É evidente que o tempo poderá aplacar a repulsa da população àquilo que se considera o pouco caso das mineradoras, para com as comunidades e habitantes das regiões, onde elas se localizam. Há em todas elas, conflitos sócio-territoriais tensos e antigos.

Via de regra, o poder político, em suas diferentes escalas e setores, como agentes reguladores, raramente atuavam devidamente como árbitros dos interesses contraditórios.

O caso deste mais grave acidente da Samarco, assim como a ocorrência seguida, e em tempos relativamente próximos de outros, evidenciam que os licenciamentos e a fiscalização, foram relativamente “fluidos”, para ser brando, no diagnóstico de tudo que já foi exposto pelo caso até aqui, entre eles o de que a empresa atuava, já há dois anos, com as licenças de operação vencidas.

Porém, no meio de todo este imbróglio, muita coisa vem sendo levantada, mostrando a teia de relações, entre as questões locais e globais e ainda, entre os poderes das corporações e suas relações com o poder, a política e os governos.

Consequências para as demais corporações globais do setor
Uma questão que já inquieta as mineradoras de todo o mundo é que a “tragédia encarecerá os projetos no Brasil” e que a redução da produção da Samarco, contabilizada em 30 milhões de toneladas, afetará o “mercado transoceânico” do minério de ferro. O fato é verdadeiro, mas dentro de limites.

A estimativa é dos bancos e das tradings que atuam no setor. Eles estimam que existe atualmente um excesso de produção no mercado mundial, da ordem de 84 milhões de toneladas, que poderá chegar a 94 milhões de toneladas, no ano que vem.

Assim, mesmo que a redução da Samarco seja ampliada em 12 milhões de toneladas, em função de impactos que a unidade da Samarco promove em outras unidades da Vale com a qual trabalhava consorciada (Fábrica Nova e Timpobeba, ambas em Mariana), ainda assim, ficaria muito abaixo do excessos do mercado mundial.

Desta forma, ao contrário, a tragédia produzida pela Samarco impacta menos o mercado do que se imaginou no primeiro momento. Isto, talvez explique as primeiras reações da Vale e BHP Billiton, as duas acionistas e controladoras da mineradora responsável pelo desastre em Mariana, a Samarco.

A mineração como geradora dos materiais do nosso cotidiano
As imagens dos estragos ainda correm o mundo. A rejeição à mineração, atividade antiga da humanidade, ficará sim, mais na berlinda do que antes depois deste episódio.

Embora, os donos da mineração já digam (talvez garantam) que nada irá modificar tão profundamente, considerando que a nossa civilização não estaria disposta a abrir mão dos produtos oriundos da atividade, como o aço, cimento, ouro, cobre, alumínio e outros minerais, presentes em nosso dia a dia, mesmo que a tragédia e o pouco caso cada vez mais evidente com o ambiente e as pessoas tenham ficado expostos, a partir agora de Mariana.

Analisando os discursos
Porém, é interessante registrar e tentar entender a forma como as corporações Vale e BHP Billiton, voltaram atrás e através dos seus presidentes (CEOs) se manifestaram na quarta-feira, em Mariana, MG, junto do presidente da Samarco.

Vale conferir o que disseram para depois comentarmos:
Murilo Ferreira, presidente da Vale: “Agora a decisão de retomar ou não as operações não será uma decisão a meu ver da Vale e da BHP somente. Agrega-se a ISS todos esses importantes stakeholders”. (Disse ao se referir a órgãos ambientais, integrantes do Legislativo e do Judiciário).

André Machenzie, presidente da BHP falou em compromisso de longo prazo: “a retomada do empreendimento dependerá da disposição das autoridades em conceder novas permissões”.

Parece claro que há nas falas, de forma nem tão embutida, mas relativamente evidente, que os dois foram articulados (em mídia training), para parecerem humildes, e especialmente, deixar passar a ideia de que a responsabilidade maior é do Estado que os deixou fazer o que fizeram e que por isso podem ser (ou não) generosos para emitir novas permissões. É verdade que há erros do Estado, mas neste caso há maiores erros das corporações.

(Mídia training: preparação e treinamento feito por jornalistas da assessoria de imprensa das empresas, para autoridades e gestores de grandes negócios, quando serão submetidos a reuniões públicas, sobre temas embaraçosos e entrevistas coletivas).

Ninguém vai crer que a humildade seja sincera e nem que a não concessão de novas licenças não serão buscadas a ferro e fogo, como sempre foram, para que as empresas atuem e acumulem os seus lucros.

É ainda interessante observar a fala do presidente da Samarco, Ricardo Vescovi: “Se a sociedade nos quiser de volta e houver meios seguros, a empresa pode voltar a operar. Se a sociedade quiser, os meios poderão existir”.

Assim, ele repete o chavão fechado na articulação da “mídia training” e também empurrou o problema para a sociedade, colocando sobre a mesa, de forma menos dissimulada, não a responsabilidade das autoridades como fizeram os CEOs da Vale e BHP, mas a questão dos empregos para os trabalhadores.

Ou seja, a sociedade que é vítima, pode ainda ser algoz, pelo fechamento da empresa, como se a responsabilidade (ou irresponsabilidade) e incompetência técnica da empresa, em prevenir o acidente e a tragédia, pudessem ser mais ampliada para atingir ainda mais os seus próprios membros.

Assim, nesta singela análise dos discursos, se percebe que ao invés de humildade, na prática, se tem novas e autoritárias posições das corporações.

Suspender ou não definitivamente a operação – queira ou não: uma decisão contábil!
Outras falas nas entrevistas também realçaram que o fechamento da empresa e das atividades da Samarco deveria ser evitado, porque a empresa moveria a economia da cidade da região que depende da mineração, inclusive lembrando que mais do que o volume de minério, a Samarco é um player chave do mercado mundial de pelotas.

É evidente que nestas falas se embute a questão indireta de que se as multas e as indenizações forem muito grandes, elas poderão sufocar a empresa e definir seu destino.

Assim, o que se tem é o início da negociação do dinheiro e da contabilidade do que se vai pagar e do que se vai voltar a faturar. É isto e não as autoridades com as licenças e nem a comunidade em querer seus empregos é vão definir se a empresa volta a operar ou vai embora.

Interessante observar que nisto, que pode ser entendido como um dilema, há outra questão que será marcante. Se a Samarco voltar a operar, se dirá que nada mudou e que o poder econômico falou mais alto e mais, que para a empresa, mesmo com todo desgaste, ela acabou se livrando, mesmo que macabramente dos rejeitos que já não queria mais gastar para guardar.

Se, ao inverso, depois de feitas as contas e a contabilidade de perdas e ganhos futuros resolver abandonar as instalações, será dito que a Samarco extraiu o que tinha e deixou um rastro de destruição para trás.

Desta forma, qualquer que seja a opção, não seria difícil compreender que a opção por uma ou outra crítica será unicamente econômica.

Para finalizar, no texto que se iniciou para ser um breve comentário, eu trago outra fala do presidente da Vale para mostrar como agem os grupos (holdings) e oligopólios agem na relação entre empresas controladas e independentes.

Murilo Ferreira depois de afirmar que a Vale forneceu pessoal, equipamentos e helicópteros para ajudar nos trabalhos de resgate, ele reforçou: “A Samarco não é a responsável e mesmo sendo a Vale uma das donas, ela não deveria ser vista como corresponsável. A Samarco não é uma parte da Vale. A Samarco é uma empresa independente que tem governança própria e todas as suas determinações são dadas pelo conselho de administração”.

Novamente, o dinheiro e a contabilidade, só que agora, agregados às artimanhas das brechas da lei entre acionistas e controladores. Quando interessa como controlador e acionista, certamente a Vale e a BHP Billiton conduzem as decisões, produção, preço e concorrência da sua controlada, a Samarco. Ninguém vai acreditar que isto não seja assim, num oligopólio.

Já, quando se está diante de um caso que exigirá vultosas indenizações, perdas, etc., a ocasião, mesmo em meio ao discurso que tentava passar humildade e senso humanístico, as corporações aproveitaram para encaixar as filigranas jurídicas. Com elas se busca isentar a Vale e a BHP Billiton que são apenas, as duas maiores mineradoras do mundo.

Enfim, ler nas entrelinhas e analisar os discursos nos ajuda a entender a relação entre as corporações globais, a sociedade e o poder. 

quinta-feira, novembro 12, 2015

US$ 1,5 trilhão a menos na indústria mundial do petróleo nos próximos dois anos

Durante a realização da Feira Anual da Indústria de Petróleo de Abu Dhabi que passou a ser considerada a maior do mundo, na frente da que é realizada em Houston, no Texas, o professor Daniel Yergin, autor do livro "Petróleo - Uma história mundial de conquistas, poder e dinheiro", um reconhecido especialista na área, disse que "a indústria mundial de petróleo vive uma enorme encolha nos próximos anos".

"As companhias vão gastar US$ 1,5 trilhão a menos em dois anos, com mais da metade vindo de um declínio de custos para itens como aluguel de equipamentos e gastos de engenharia, e o resto com menos investimentos em bens de capital. Mas 60% dessa queda ocorrerá na América do Norte".

No encontro de Abu Dhabi o pessimismo entre as petroleiras é o assunto que domina entre os participantes. Eles dizem que o problema não é o "shale óleo ou shale gas" dos EUA que só representa 5% do total da produção mundial.

A questão é a volatilidade do mercado e a relação entre excesso de produção e demanda. Neste aspecto, em meio aos debates e posição da Opep se faz uma projeção de que o preço do barril oscile em torno dos US$ 60, nos próximos 3 anos. Como se vê mais uma vez, os dados e opiniões mostram que a conjuntura não é apenas nacional.

As informações acima são do correspondente do Valor, em Abu Dhabi, jornalista Assis Moreira. Moreira também registrou as boas expectativas que as petrolíferas estrangeiras possuem em relação ao Brasil, a despeito dos problemas. Um deles, o vice-presidente da petrolífera norueguesa Statoil Lars Bacher disse: "o Brasil tem ativos muito bons".

Em meio à realidade do setor comentada com frequência há quem queira ver os problemas sobre outra ótica. Preferem fechar os olhos sobre o que guarda em si a geopolítica da energia. Ela passa por cima da maioria do estados-nacionais e permitindo que as corporações globais (diferente do conceito de multinacionais) do setor, atuar de forma espacial e econômica, como se o mundo fosse único, sem divisões e em movimentos que ignoram os interesses nacionais.

Estamos no meio deste imbróglio. Queiramos ou não.

Reconhecer este processo seria um dos importantes passos para se traçar estratégias mais realistas e de maior capacidade de interferir em nossos destinos, com um projeto nacional.

Alguns resultados do 3º Trimestre 2015 apresentados pela Prumo

A Prumo Logística Global S.A, controladora do Porto do Açu, divulgou ontem o resultado do 3º Trimestre de 2015. O blog destacou abaixo alguns pontos:

1) No terceiro trimestre de 2015, a receita líquida consolidada foi de R$102,7 milhões. O prejuízo líquido no 3T15 foi de R$ 36,7 milhõesDívida de R$ 3,3 bilhões.

2) Um EBITDA de R$ 55,2 milhões (acumulado de R$ 135,9), principalmente devido ao aumento da receita com o início do contrato de take-or-pay com a Anglo e novos contratos de aluguel de área e movimentação de cargas no Porto do Açu.

3) Na construção do canal do T2, foram desembolsados cerca de R$58,1 milhões no 3T15:
• R$ 25,1 milhões no quebra-mar
• R$ 20,9 milhões no T-MULT
• R$ 17,1 milhões na BP Prumo e Outros
• R$ 5 milhões referentes à baixa do ativo imobilizado em contrapartida ao aumento da conta de créditos a receber, relacionados a parte da OSX no Capex da Infraestrutura comum do Terminal 2.

4) Na construção do Terminal de Petróleo foram investidos R$ 126,7 milhões sendo: • Nas obras de construção do T-Oil, foram investidos pela Açu Petróleo R$ 100,2 milhões no 3T15.
• Na construção do quebra-mar foram investidos R$ 26,5 milhões;

5) No desenvolvimento e construção de outras obras de infraestrutura foram investidos R$ 64,0 milhões sendo:
• R$25,5 milhões com gastos no controle operacional
• R$11,1 milhões na implantação da Linha de Transmissão de 345 kV, que conectará o Porto ao Sistema Interligado Nacional
• R$8,4 milhões com despesas administrativas capitalizadas incluindo pessoal e segurança patrimonial
• R$6,5 milhões em sustentabilidade e licenciamentos
• R$5,0 milhões em projetos de engenharia e gerenciamento de obras
• R$2,7 milhões em pavimentação e manutenção de vias
R$2,1 milhões em gestão fundiária 
• R$2,7 em outros gastos

6) No terceiro trimestre de 2015, as ações da Prumo tiveram um volume médio diário de R$2,78 milhões e 1.440 negócios por dia. Em 30 de setembro de 2015, a Prumo possuía 2.777.474.711 ações.

7) No período de janeiro a setembro de 2015, foram atracados aproximadamente 100 navios no T2. Os 42 caixões da estrutura do quebra-mar do T2 já foram alocados, a previsão para conclusão das obras de finalização dos caixões é de dezembro de 2015.

8) No dia 26 de agosto, o Navio Kelly Ann Candies, americano, atracou no cais da InterMoor para realização de trabalhos e interações submarinas com a Petrobras nos poços de petróleo da Bacia de Campos. O Supply Vessel embarcou com suprimentos como água, alimentos, gás hélio e oxigênio para o sistema de mergulho. Também retirou resíduos e realizou a troca de tripulação. A operação durou cerca de 3 horas e foi coordenada pela equipe de operações logísticas da InterMoor.

9) O T-MULT já está operacional, a conclusão do primeiro carregamento de bauxita no Porto do Açu, aconteceu em 22 de setembro de 2015, com o embarque de 33.000 toneladas de bauxita. O segundo embarque foi realizado pelo navio Olympic Peace, das ilhas Marshall, que atracou no T-MULT no dia 24 de outubro, e embarcou 42.000 toneladas de bauxita. A operação foi concluída em 29 de outubro de 2015.

10) Empresas controladas direta e indiretamente pela Prumo Logística Global S.A.:
Controladas diretas
Ferroport Logística Comercial Exportadora S.A. (*) - 50,00%
Porto do Açu Operações S.A. (“Porto do Açu”) -100,00%
LLX Brasil Operações Portuárias S.A. (“LLX Brasil”) - 100,00%
NFX Combustíveis Marítimos Ltda. (“NFX”) (**) - 50,00%
Açu Petróleo S.A. (“Açu Petróleo”) - 99,90% -
Gás Natural Açu Ltda. (“Gás Natural”) - 77,89%
Prumo Participações e Investimentos S.A. (“Prumo Participações”) - 100,00%;
Heliporto do Açu S.A. (“Heliporto”) Brasil 100,00%
Açu Petróleo Investimentos S.A. (“Açu Investimentos”) Brasil 99,00%;

Controladas indiretas
Ferroport Logística Comercial Exportadora S.A. (***) - 50,00%
GSA - Grussaí Siderúrgica do Açu Ltda. (“GSA”) - 100,00%
Gás Natural Açu Ltda. (“Gás Natural”) (****) - 100,00%
Reserva Ambiental Fazenda Caruara S.A. (“Reserva Ambiental Caruara”) - 100,00%
G3X Engenharia S.A. (“G3X”) Brasil 100,00%
Pedreira Sapucaia Ind. e Comércio Ltda. (“Pedreira Sapucaia”) 100,00%
LLX Empresa Brasileira de Navegação Ltda. (“EBN”) 100,00%
SNF - Siderúrgica do Norte Fluminense S.A. Brasil 100,00%
Fundo de Investimentos em Cotas de Fundos de Investimento Multimercado Crédito Privado LLX 63 Brasil 99,99%.

11) Participações acionárias (societárias) da holding Prumo, em 30-09-2015:























12) Sobre o patrimônio em áreas: (observar que não estão incluídas as áreas sobre controle da Prumo no Distrito Industrial de São João da Barra (DISJB):




















13) Obras em andamento:
No Porto do Açu:
 (i) quebra-mar T1 no valor de R$369.074;
(ii) dragagem de aprofundamento do canal T2 no valor de R$186.324
(iii) píer terminal de petróleo no T1 no valor aproximado de R$92.381
(iv) aterro hidráulico e outros custos indiretos relacionados a unidade de tratamento de petróleo e também a outras áreas do distrito industrial no valor aproximado de R$146.000;
(v) estoque de estacas pranchas para a obra no valor de R$54.444;
(vi) estradas e infraestrutura nestas vias de acesso no valor de R$49.471;
(vii) outras obras no píer offshore incluindo proteção catódica no valor de R$19.324; e
(viii) demais gastos com obras de preparação da estrutura portuária do terminal T2 no valor de R$35.889.

Na Ferroport o saldo de obras em andamento em 30 de setembro de 2015 totaliza R$227.558 (50% de R$455.115), composto principalmente por benfeitorias no cais e dragagem do canal relacionadas ao projeto do terminal T1.

14) Empréstimos - Dívida: (R$ 3,3 bilhões)



15) Composição Acionária:


Acionistas com mais de 5% de Ações de cada espécie e classe:



quarta-feira, novembro 11, 2015

O acidente da Samarco, exige reflexão sobre a falácia da superioridade do discurso da técnica

A geografia das corporações transformou montanhas e vales em barragens de rejeitos, sem querer ver os riscos de ver os rios caudalosos se transformarem em lama, que estão virando chão de terra batida sobre o que encontrou pelos caminhos, em direção ao mar.

Diante da prepotência dos discursos corporativos e técnicos que vociferavam a eficiência privada e as técnicas perfeitas, indiscutíveis e inquestionáveis, se construiu a imagem da destruição das instalações, casas, vidas e sonhos das pessoas invisíveis.

As falas das pessoas da comunidade do entorno do empreendimento da Samarco (Vale e BHP Billiton) reclamando dos riscos e dos impactos socioambientais que foram - e ainda são - quase que sistematicamente caladas, em nome do "progresso", ganham, em meios aos escombros do que sobrou de suas comunidades, a razão de quem preferiria continuar a não ter razão, sobre a desconfianças sobre aquilo que era tão "sólido e se desmanchou no ar".

Não se trata de uma empresa qualquer. Seus dois sócios em proporções iguais, são apenas, as duas maiores mineradoras do mundo.

É compreensível o desejo de gerar valor pela extração das riquezas da terra - renda da terra oriunda da indústria extrativa. Ela é histórica. Bom que pudessem ser melhor repartidas, em meio à exploração como as "veias abertas da América Latina" já comentada por Galeano.

Porém, vale registrar que é inaceitável, o pouco caso, diante de tanta tecnologia, diante de tanta prepotência sobre a superioridade da técnica - como temos na contemporaneidade - e dos "discursos engenherais" (sobre sustentabilidade, qualidade, isos, etc.), se permitir que gente e ambientes indefesos sofram sozinhas todas as consequências que estamos assistindo.

Como engenheiro de profissão - e professor - penso que, entre outras reflexões necessárias neste momento, um deles é o de fazer cair a prepotência do discurso técnico como infalíveis e indiscutíveis.

terça-feira, novembro 10, 2015

Petrobras demanda menos bases de apoio portuário

A Petrobras, como consequência direta da redução da contratação do número de sondas de perfuração e embarcações de apoio às explorações offshore de petróleo, assim como faz outras petrolíferas mundo afora, cancelou a contratação de novos berços de atracação em terminais portuários na região Sudeste.

Segundo o site Portos & Navios, a decisão deve adiar projetos de construção de novas bases de apoio offshore. Assim, a Petrobras cancelou a contratação de sete berços na região Sudeste que estavam nos planos da estatal.

Desta forma, foi suspensa uma licitação para a contratação de três berços de atracação para atendimento à demanda logística da companhia na Bacia de Campos (RJ) e na Bacia do Espírito Santo. Outra licitação suspensa foi para contratação de dois berços em terminais portuários na Baía de Guanabara e outros dois berços na região de Santos (SP).

Até aqui, a contratação que a Petrobras fez dos berços da base de apoio portuário que a empresa americana Edison Chouest está construindo, junto ao terminal 2, do Porto do Açu, estaria mantida, mesmo com as atuais mudanças de plano da empresa.

É importante lembrar que o estado do Espírito Santo exerceu grande pressão política junto à Petrobras, para que a licitação que redundou na contratação do projeto de base portuária da Edison Chouest no Porto do Açu, fosse reduzida em número de berços, visando propiciar uma outra licitação em que os terminais portuários capixabas pudessem vir a atender as demandas de movimentação de cargas para a exploração offshore, no litoral daquele estado. Com a nova decisão da estatal a expectativa ficam desfeitas. 

A se confirmar a contratação, o Porto do Açu continuaria se aproveitando da vantagem de já estar com seu projeto de instalação bastante adiantado, a despeito de problemas de diversas ordem, diante deste momento de retração do setor de óleo e gás, por conta da crise do baixo preço do barril, das consequências da Operação Lava Jato e ainda da retração econômica mundial.

Mais uma vez, o "time" do empreendimento, mesmo com os diversos e seguidos atrasos na implantação, aparentemente, continuam conspirando a favor do mesmo.

Veja abaixo as obras de instalação da base de apoio portuário da Edison Chouest no Porto do Açu que consta do relatório do relatório de Apresentação Corporativa da Prumo, em outubro de 2015, slide nº 24:



















PS.: Atualizado às 16:14 e 16:27: para complementação do texto da nota.

Os bastidores do acidente causado pela Samarco em Minas, por Azenha

A matéria do jornalista Luiz Carlos Azenha no seu blog "Viomundo" sobre o acidente da Samarco (Vale e BHP e não de Mariana como a empresa preferiu nomear a ocorrência) mais do que fazer relatos, começa a analisar a teia de relações entre poder econômico e político, nas diversas escalas (global, nacional, regional e local) que permite compreender a ambiência que leva a situações como a desta tragédia que necessita ter suas causas explicadas.

Vale conferir. (por favor sem duplo sentido). Ela não poupa quem não merece ser poupado. O caso não é singular e sim parte do que tenho costumado chamar da Geografia das Corporações. 

A pesquisa das causas é indispensável para prevenir acidentes deste tipo que estão se se repetindo. O Norte Fluminense bem distante da região mineira lembra de ocorrência similar na empresa Paraibuna Metais, na década de 80 (depois repetida no início dos anos 2000) que interrompeu a captação de água em diversas cidades abastecidas pelo rio Paraibuna, afluente do Paraíba do Sul. 

O mesmo voltou a ocorrer com o rompimento da barragem da Cataguases em 2006. Ou seja, as seguidas ocorrências levam à interpretação de que há um descaso com a estrutura destas barragens que a engenharia das mineradoras tem feito questão de interpretar como exigências descabidas das comunidades e de técnicos dos órgãos ambientais e Ministério Público, quando dos processos de licenciamento.

Para concluir é importante relembrar que a empresa Samarco é hoje controlada (meio a meio - 50%-50%) pelos grupos Vale e australiana BHP Billiton, simplesmente, as duas maiores mineradoras do mundo.

Confiram a excelente matéria do Azenha:

"Bastidores de uma tragédia: Os relações públicas da Samarco dão uma surra no Estado brasileiro, que sucumbe ao poder econômico"

por Luiz Carlos Azenha

A mineradora Samarco, joint venture da Vale com a australiana BHP Billiton, teve um lucro líquido de R$ 2,8 bilhões em 2014. Ou seja, limpinhos!

Como se sabe, o Brasil é uma “mãe” para as mineradoras. A Agência Pública fez uma reportagem interessante a respeito, quando Marina Amaral perguntou: Quem lucra com a Vale?

O “pai” das mineradoras é Fernando Henrique Cardoso. Em 1996, com a Lei Kandir, isentou de ICMS as exportações de minérios!

O que aconteceu com a Vale, privatizada a preço de banana, é o mesmo que se pretende fazer com a Petrobras: colocar a empresa completamente a serviço dos acionistas, não do Brasil.

O que isso significa?

Auferir lucros a curto prazo, custe o que custar.

A questão-chave está no ritmo da exploração das reservas minerais.

Num país soberano, o ritmo é ditado pelo interesse público. É de interesse da população brasileira, por exemplo, inundar o mercado com o petróleo do pré-sal, derrubando os preços? Claro que não.

Quem lucra, neste caso, são os países consumidores. Os Estados Unidos, por exemplo. Portanto, quando FHC privatizou parcialmente a Petrobras, vendendo ações na bolsa de Nova York, ele transferiu parte da soberania brasileira para investidores estrangeiros. Eles, sim, querem retorno rápido. Querem cavar o oceano às pressas, até esgotar o pré-sal. É a dinâmica do capitalismo!

O Brasil é um país sem memória. Não se lembra, por exemplo, do que aconteceu na serra do Navio, no Amapá. Uma das maiores reservas de manganês do mundo foi esgotada porque interessava aos esforços dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Ficamos com o buraco e a destruição ambiental…

Obviamente, não é um problema brasileiro. Fui pessoalmente às famosas minas de diamante de Serra Leoa, na África, que mereceram uma visita da rainha Elizabeth. Investiguei o entorno. O local de onde sairam bilhões de dólares em diamantes não tinha rede de esgoto, nem de distribuição de água.

O mesmo está acontecendo neste exato momento com o coltan, do Congo, um mineral utilizado pela indústria eletroeletrônica. A exploração do coltan financia uma guerra interminável de milicias, que exportam o mineral para a Bélgica praticamente de graça!

Serra Leoa, Congo, Brasil…

Infelizmente, estamos no mesmo nível.

Como denuncia seguidamente o Lúcio Flávio Pinto, o ritmo da exploração do minério de ferro de Carajás é um crime de lesa-Pátria.

Por que haveria de ser diferente nas reservas de Minas Gerais?

A economia do estado, tanto quanto a brasileira, ainda é extremamente dependente da exportação de commodities. À Vale interessa produzir rápido, derrubar o preço a qualquer custo para apresentar lucro no balanço.

Infelizmente, a elite brasileira até hoje se mostrou incapaz de formular um projeto soberano de país. Isso vale para PSDB, PT e todos os outros, como ficou evidente na tragédia de Mariana.

Não podemos culpar a mineradora Samarco pela tragédia antes de uma investigação independente e rigorosa. Mas, será que ela vai acontecer?

Do prefeito de Mariana ao senador tucano Aécio Neves, passando pelo governador petista Fernando Pimentel, todos deram piruetas para salvaguardar a Samarco. Pimentel deu uma entrevista coletiva na sede da mineradora!

Enquanto isso, milhões de metros cúbicos de lama desceram o rio do Carmo e chegaram ao rio Doce.

A Samarco diz que a lama é inerte, ou seja, não oferece risco à saúde.

Numa situação ideal, não caberia à Samarco dizer isso — com reprodução martelada em todos os telejornais da Globo.

O familiar de um desaparecido comentou comigo que, na Globo, as vítimas da tragédia não tinham rosto…

A Vale, afinal, é grande patrocinadora.

Espanta é que os governos federal, estadual e municipal, que em tese deveriam atuar de forma independente — em nome do interesse público — não o façam.

A primeira providência em um país civilizado seria uma análise de emergência na lama, para determinar se ela oferece algum risco à saúde.

Afinal, milhões de brasileiros podem entrar em contato com os rejeitos, seja nas margens dos rios, seja através da água consumida.

Além disso, o tsunami de lama carregou corpos humanos e de animais por uma longa extensão, de centenas de quilômetros.

No entanto, a não ser pelo esforço de relações públicas da Samarco, as pessoas afetadas, como testemunhei pessoalmente, estão totalmente no escuro.

Mais adiante, outras questões importantes vão surgir.

O rio do Carmo foi completamente destruído, de ponta a ponta. Quem vai pagar a conta? O Estado brasileiro ou a Samarco?

A Samarco fez o que se espera de uma empresa privada, que pretende minimizar os impactos sobre si do desastre ambiental que produziu.

De forma competente, acionou seu esquema de relações públicas para deixar no ar a ideia de que o rompimento de duas barragens foi consequência de um terremoto.

Transferiu os desabrigados para hoteis, evitando a ebulição de centenas de pessoas que, conjuntamente, poderiam conjurar contra uma empresa da qual sempre desconfiaram.

Conversei com os sobreviventes de Bento Rodrigues: todos sempre acharam um exagero o crescimento vertical, contínuo, da barragem, para guardar mais e mais lama.

Segundo eles, a Samarco começou a comprar novas áreas de terra porque pretendia construir uma outra barragem, mais próxima do povoado, para dar conta do armazenamento dos rejeitos.

Que a Samarco cuide de seus interesses é parte do jogo.

O espantoso é ver a captura do Estado brasileiro, em todas as esferas, pelo interesse privado.

Basta uma consulta às pessoas comuns, que vivem sob as barragens de rejeitos — que se contam às centenas em Minas — para que elas denunciem: as empresas aumentam indefinidamente as cotas, sem transparência, sem qualquer consulta pública, sem planos de resgate de emergência, sem um básico sinal sonoro para dar o alerta em caso de acidente.

É bem mais barato que construir uma nova barragem, certo? Lembrem-se: estas empresas estão a serviço do lucro de seus acionistas e a maioria deles não mora em Mariana, provavelmente nem mora no Brasil.

Minas Gerais, acossada pela crise econômica, sucumbe à lógica das mineradoras: como denunciou o leitor Reginaldo Proque, está tramitando na Assembleia Legislativa um projeto para simplificar o licenciamento ambiental, de autoria do governo Pimentel.

Em resumo, os desabrigados das margens do rio do Carmo fazem o papel, em carne e osso, da crise de representação da política brasileira.

Ninguém os ouve, nem consulta.

Quando muito, são sobrevoados por helicópteros que “representam” um Estado servil ao poder econômico.