segunda-feira, fevereiro 29, 2016

Fundo EIG Partners, controlador da Prumo e Porto do Açu, entra com ação nos EUA contra a Petrobras

O fundo financeiro americano EIG Partners que controla a Prumo Logística Global e o Porto do Açu decidiu registrar, na semana passada, em Washington, ação contra a Petrobras no valor de US$ 221 milhões (R$ 879 milhões), alegando prejuízos por conta de sua participação acionária na empresa Sete Brasil, que reunia contratos para a construção de 28 sondas para a estatal.

Além do fundo EIG Partners, a companhia Sete Brasil conta com diversos outros sócios, como os bancos Bradesco e Santander, BTG Pactual, outro fundo financeiro, o Luce Venture Lakeshore, além dos fundos previdenciários Petrus, Valia, Previ e Funcef que juntos investiram um total R$ 8,4 bilhões no empreendimento.

Os destinos da Sete Brasil estão sendo avaliados pelos sócios e pela Petrobras, por conta da redução das demandas por serviços de exploração de petróleo, em função dos baixos preços do barril e por conta das apurações da Operação Lava Jato.

Embora se tratem de empreendimentos diferentes, resta saber a repercussão desta decisão sobre os contratos que envolvem o Porto do Açu, onde a Petrobras usará a base portuária que a também americana Edison Chouest está construindo no terminal 2, além de outras parcerias relativas ao setor de óleo e gás no ERJ.

domingo, fevereiro 28, 2016

Porto do Açu espicha o "Circuito Espacial do Petróleo" no litoral do ERJ e mira o próximo "ciclo petro-econômico"

Há quem queira entender que a realidade da atual  fase de baixa (que prefiro chamar de colapso) do ciclo do petróleo permanecerá para sempre. Quem age assim coloca interesses acima da compreensão do fenômeno. Insisto que vivemos um "ciclo petro-econômico" que produz mudanças em diferentes dimensões e escalas nas diversas nações e corporações.

Concluí nesta semana um texto sobre o tema explicitando as características das duas fases deste "ciclo petro-econômico" que caminha para se encerrar, abrindo espaço adiante, para o início de um novo ciclo.

Compreender a condição cíclica deste fenômeno, como parte dos ciclos mais gerais da economia é indispensável para identificar e analisar as consequências para as nações e para as regiões que possuem bases operacionais, daquilo que chamo de Economia do Petróleo, que é diversa da Economia dos Royalties que se vive nos municípios petrorrentistas.

Algumas regiões no Brasil, sairão bem diferente desta fase de colapso do ciclo petro-ecômico. Esta fase de colapso dos preços do barril de petróleo produz mudanças em diversas dimensões, uma delas é a movimentação espacial desta cadeia produtiva no Brasil.

A intensificação da pesquisa empírica e o debate sobre esta dinâmica tem sido tema de discussões, mesa redonda e diálogo junto aos colegas da academia e alguns gestores públicos. Na medida do possível, eu venho compartilhando com os amigos que frequentam o blog, a evolução destas percepções, dados e indicadores, assim como algumas análises deste processo.

A análise parte da materialidade real do que vem acontecendo a nível da economia global, nacional e regional. A Economia do Petróleo se alinha com o movimento da economia global, por se tratar do produto (commodity) mais comercializado no mundo.

Os interesses que circundam esta economia e produzem inversão das fases do ciclo não são apenas de caráter econômico e com participação das corporações globais (estatais ou privadas), mas também geopolíticos, guiados por interesses e decisões de caráter político que definem a forma de sua atuação sobre os territórios.

Assim, é possível identificar que novas dinâmicas econômico-espaciais estão ocorrendo no litoral do ERJ constituindo o que passei a chamar de "Circuito Espacial do Petróleo e dos Royalties".

Insere-se neste campo de observação, de forma especial a entrada do Porto do Açu, como base de apoio à exploração de petróleo offshore e também a movimentação de petróleo e gás prestes a ser implantado.

É possível observar que mesmo antes da entrada em funcionamento da base portuária da BrasilPort, do grupo americano Edison Chouest no Açu, já se tem movimentações de embarcações nos terminais T2 e TMult, referentes à ancoragem de embarcações para serviços de manutenção e outros.

Este foi o caso da plataforma, tipo flotel da GranEnergia que permaneceu no Porto do Açu por cerca de dez dias e tinha previsão de zarpar ontem. Este flotel (foto abaixo) "Olympia - Cidade de Araruama" presta serviços para a Petrobras.

O flotel tem a função de ser base para acomodação de equipes de manutenção, em atividades desenvolvidas no ambiente offshre das plataformas de produção. É uma plataforma semissubmerssível que foi construída na China e possui 84,2 metros de comprimento e tem capacidade para hospedar 500 pessoas.

Este é apenas um exemplo do processo que está em curso e que já promove alterações na dinâmica econômico-espacial da região. Não foi por outro motivo que a Prefeitura de Macaé lutou tanto contra a licitação da base de apoio para exploração offshore feita pela Petrobras que acabou sendo vencida pela Edison Chouest para ser instalada em área junto ao Terminal 2 do Porto do Açu.

Atividades deste tipo já geram receitas de ISS (Imposto sobre Serviços) para o município de São João da Barra, que precisa adequar seu corpo técnico e de fiscais, para acompanhar e realizar as cobranças devidas e não ficar apenas aguardando as declarações da empresa sobre seus faturamentos. Cabe à PMSJB o recebimento das alíquotas de 2,5% sobre a fatura do serviço. Segundo revisão da lei municipal feita ainda antes do início da construção do porto, a alíquota de 5% foi rebaixada para 2,5% para serviços portuários.

Hoje, o município de Macaé tem uma receita anual de cerca de R$ 700 milhões de ISS sendo a principal arrecadação do município. Maior até do que as parcelas dos royalties e participações especiais, como comentei em nota aqui no blog no dia 18 de fevereiro, sob o título "Macaé passa Campos em orçamento total: o que isto significa?".

Pensar políticas públicas para evitar a "macaenização" é urgente para que os ônus para toda a sociedade sejam menores que os bônus econômicos. Melhor seria interpretar esta realidade de maneira regional que é como ele se comporta e não isoladamente, por município e por setor.

Enfim, seguimos acompanhando este movimento que faz parte das investigações para a elaboração das pesquisas da tese de doutorado no PPFH-UERJ que pretendo concluir até o final deste ano. Por conta dos afazeres desta pesquisa, o blog deverá ter nos próximos meses a sua atualização bem reduzida, em relação ao que hoje compartilho aqui com leitores e colaboradores. Espero a compreensão de todos, enquanto seguimos em frente.

quinta-feira, fevereiro 25, 2016

Fechamento de capital da Prumo tem conflitos e interesses

Os acionistas minoritários possuem 25% das ações e são liderados pelo Banco Itaú e pelo fundo de Abu Dhabi, Mubadala. Cada um possui hoje 6,5% obtido em negociação das dívidas feitas na época que a empresa era  LLX, do Eike Batista. Os demias 12% estão divididos por pequenos acionistas.

Todos  questionam os valores de ação feito por um laudo elaborado por um banco contratado e que indicou o valor de R$ 1,15 ou R$ 11,50 se for considerado o valor da ação já agrupada em dez.

O fundo americano de investimentos EIG que herdou o controle da LLX, transformada em Prumo, foi aos poucos transformando a empresa numa holding (grupo) que hoje controla diversas outras empresas em parcerias com outras empresas.

É quase impossível não relacionar o interesse dos americanos em fechar o capital da Prumo, com as votações no Congresso Nacional que estão pressionando para alterar as leis do marco regulatório do petróleo no Brasil. Eles sabem que o setor vive ciclos. Há quem não queira entender isto.

Nesta investigação há que se considerar a ampliação da relação do empreendimento do Porto do Açu com a cadeia produtiva do petróleo que no país demanda grande base de apoio logístico portuário. Continuamos acompanhando.

quarta-feira, fevereiro 24, 2016

Por que retirar da Petrobras a condição de operadora única do Pré-sal é ruim para o Brasil?

Como ando tratando do assunto com bastante assiduidade no blog, eu pensei em escrever um texto sobre o tema que é objeto agora de decisão no Senado Federal.

Porém, eu recebi este texto do sociólogo Marcelo Zero, publicado originalmente no site "Diálogo Petroleiro" e replicado em diversos outras páginas nas redes sociais, apresenta de forma clara, didática e bem completa os argumentos sobre o assunto.

É importante conhecer mais profundamente a questão, para além daquilo que tem tentado explicar os colunistas econômicos, por razões já conhecidas. Vale conferir!

Por que retirar da Petrobras a condição de operadora única do pré-sal é ruim para o Brasil?
Marcelo Zero*

I- Porque ter a Petrobras como operadora única garante ao País o controle estratégico das reservas e da produção do óleo. Sem a Petrobras, perdemos essa garantia.

A experiência internacional demonstra que os países que são grandes exportadores de petróleo têm, em sua grande maioria, robustas operadoras nacionais de suas jazidas.

Hoje, cerca de 75% das reservas internacionais provadas de petróleo estão nas mãos de operadoras nacionais. Conforme previsão da Agência Internacional de Energia, a tendência é a de que essas operadoras nacionais sejam responsáveis por 80% da produção adicional de petróleo e gás até 2030.

Isso não é casual. Para dominar o mercado, os países produtores precisam dominar as reservas e controlar o ritmo e os custos de produção. O primeiro fator é assegurado pelo regime de partilha e o segundo fator é assegurado pela operadora nacional. A OPEP seria inviável sem o regime de partilha e sem grandes operadoras nacionais.

A operadora nacional é o complemento necessário ao regime de partilha. De nada adianta o país ter o domínio das reservas se a produção é ditada pelos interesses imediatistas de grandes operadoras multinacionais. Sem uma grande operadora, o país não tem controle efetivo sobre o ritmo da produção, sobre os seus custos reais e, consequentemente, sobre a remuneração efetivamente devida ao Estado.

Foi essa realidade que levou os grandes países produtores, nos anos sessenta e setenta, a nacionalizarem as jazidas e, ao mesmo tempo, constituírem robustas operadoras nacionais. Com isso, eles multiplicaram seus rendimentos, passaram a deter as informações estratégicas sobre as jazidas e os custos de exploração e dominaram o mercado mundial do petróleo.

Retirar da Petrobras a condição de operadora do pré-sal significa retroceder à lógica predatória e imediatista da época na qual o mercado era dominado por sete grandes companhias internacionais de petróleo. Uma época em que os países produtores sequer conseguiam saber os custos de produção de suas próprias jazidas. Significa, em última instância, renunciar à gestão estratégica de um recurso finito e não renovável.

Sem essa gestão estratégica, o Brasil poderá se converter em mero exportador açodado de petróleo cru, ao sabor dos interesses particulares e imediatistas de empresas estrangeiras, contribuindo para deprimir preços internacionais e deixando de investir em seu próprio desenvolvimento.


II- Porque o petróleo ainda será um recurso energético fundamental ao longo deste século.

Um dos principais argumentos que motivam os que querem enfraquecer a Petrobras tange ao suposto fato de que o petróleo deixou de ser um recurso estratégico, pois deverá ser substituído rapidamente por outras fontes de energia, particularmente as limpas e renováveis.

Segundo eles, a grande baixa atual do preço do óleo já reflete essa tendência e deverá ser permanente. Assim, teríamos de explorar o pré-sal de modo célere, com o auxílio de multinacionais, antes que se torne um ativo sem valor.

Ora, tal previsão não tem nenhum fundamento científico. A grande baixa dos preços do petróleo está obviamente relacionada à crise mundial, que contraiu conjunturalmente a demanda, bem como às disputas geopolíticas e geoeconômicas sobre o controle do mercado mundial, particularmente no que tange à viabilidade econômica do óleo de xisto. Há um claro processo de dumping em andamento, que contraiu artificialmente o preço do petróleo.

Esse dumping já começou a ser revertido, como mostra o recente acordo feito entre Arábia Saudita, Rússia e outros países, e a crise mundial não durará para sempre.

A maior parte dos analistas prevê que a demanda mundial por óleo subirá de 91 milhões de barris/dia, em 2014, para 111 milhões de barris dia até 2040. Tal demanda será puxada pelo crescimento dos países emergentes, em especial na Ásia, e pelas necessidades dos sistemas de transporte e do setor petroquímico. Observe-se que o petróleo não serve apenas para produzir gasolina e diesel. Ele é insumo para mais de três mil outros produtos.

Com isso, o preço do petróleo voltará a subir. O suprimento de energias renováveis crescerá, mas a transição para uma matriz energética inteiramente limpa será, sem dúvida, gradual.

Na realidade, o que os analistas afirmam é que as necessidades ambientais e climáticas impactarão mais o carvão, responsável por dois terços do estoque de carbono das jazidas minerais, que o petróleo e o gás, fontes mais limpas que esse mineral.

Obviamente, o atual ambiente de dumping produz grande pressão para que o Brasil venda rapidamente o pré-sal. Seria erro trágico. A venda nessas condições de preços artificialmente baixos renderia pouco no presente e comprometeria muito nosso futuro.

Devemos ter em mente o que aconteceu com a Vale. Na época de sua venda, com os preços do minério bastante baixos, diziam que o ferro já não tinha valor estratégico algum e que o futuro pertencia aos novos materiais sintéticos. Pouco tempo depois, os preços do minério dispararam e a Vale privatizada passou a faturar mais por ano que o preço aviltado de sua venda.


III- Porque a Petrobras tem totais condições de explorar o pré-sal.

Outro argumento muito usado nesse debate é o de que a Petrobras, fragilizada financeiramente, não teria condições de explorar o pré-sal.

Não é verdade.

Todas as grandes companhias de petróleo passam, em maior ou menor grau, por dificuldades econômicas ocasionadas pela conjuntura negativa do mercado. No caso da Petrobras, seu endividamento se deve também à necessidade de realizar os grandes investimentos imprescindíveis à exploração do pré-sal.

Contudo, a Petrobras, além de operar com lucro substancial, tem solidez financeira, pois está lastreada num fantástico ativo patrimonial: o pré-sal. Segundo pesquisa do Instituto Nacional de Óleo e Gás da UERJ, divulgada em 2015, o pré-sal contém 176 bilhões de barris, óleo suficiente para cobrir, sozinho, cinco anos de consumo mundial de hidrocarbonetos. Perto dessa riqueza extraordinária, a dívida atual da empresa é troco miúdo.

Não faltarão recursos para que a Petrobras continue a investir no pré-sal. O mercado financeiro nacional e internacional sabe muito bem que a Petrobras tem expertise, tecnologia e patrimônio para superar suas atuais dificuldades.

Sabe muito bem que, independentemente de seus detratores internos, a empresa tem tudo para gerar lucros e dividendos muito maiores que seus passivos. Ademais, o mundo dispõe hoje de fontes alternativas de financiamento, como a do Banco do BRICS, por exemplo, que podem ser acionadas de forma complementar.

A dívida da empresa poderia se tornar um grande problema, porém, na situação em que a Petrobras perca o acesso às jazidas, como querem os propugnadores do projeto que retira dela a condição de operadora única. Nesse caso, a empresa perderia seu lastro patrimonial e, aí sim, poderia se fragilizar ao ponto de não conseguir mais operar.

Em vez de simplesmente reduzir seus investimentos, como faz agora para se adaptar à nova realidade do mercado, a Petrobras poderia não ter mais como investir um centavo.

Na realidade, ao se retirar da Petrobras a condição de operadora única do pré-sal poderia se conduzir a empresa à falência ou a uma inevitável privatização. Talvez seja esse um dos objetivos implícitos do projeto.


IV- Porque o País perderia todo o investimento feito pela Petrobras e a alta tecnologia por ela desenvolvida

Ao contrário de outras operadoras nacionais, que apenas se apropriaram de jazidas já provadas, a Petrobras, desde o início, teve de investir maciçamente, ao longo de décadas, em prospecção e desenvolvimento de tecnologia.

Com isso, ela se tornou uma das operadoras mais eficientes e lucrativas do mundo e conseguiu, a muito custo, produzir tecnologia de ponta na exploração em águas profundas e ultraprofundas.

A Petrobras é a empresa brasileira que mais gera patentes e ganhou, por três vezes, o OTC Distinguished Achievement Award, maior prêmio internacional concedido às empresas de petróleo que se distinguem em desenvolvimento tecnológico. Tal esforço inovador se espraia por áreas diversas, como Petroquímica, Engenharia Mecânica, Engenharia de Segurança do Trabalho, Medicina e Física, e repercute positivamente numa vasta cadeia produtiva.

Ora, todo esse esforço histórico, iniciado a partir da década de 1950 (quando se dizia que o Brasil não tinha petróleo), se perderia, caso a Petrobras perca, agora, a condição de operadora única do pré-sal. A inevitável e profunda fragilização da empresa que seria derivada dessa trágica decisão jogaria fora todo o investimento realizado em décadas de trabalho duro e o país perderia uma grande fonte de desenvolvimento tecnológico.

Não nos parece racional e justo que, após todo esse esforço, se dê de bandeja, sem nenhum risco e por um preço aviltado, os recursos do pré-sal a empresas que nunca fizeram investimentos de prospecção no Brasil e que não desenvolvem tecnologia no país.


V- Porque o Brasil perderia os instrumentos para conduzir a política de conteúdo nacional, consolidar a cadeia produtiva do petróleo e alavancar seu desenvolvimento.

A cadeia de petróleo e gás, comandada pela Petrobras, é a maior cadeia produtiva do país, responsável por cerca de 20% do PIB brasileiro e 15% dos empregos gerados.

Tal cadeia é sustentada por uma política de conteúdo nacional, que gera demanda robusta em setores-chave como o da construção civil pesada e a indústria naval, só para citar alguns poucos.

Ora, retirar da Petrobras a condição de operadora única do pré-sal poderia implodir toda essa política e desarticular essa estratégica cadeia produtiva.

As empresas estrangeiras de petróleo normalmente contratam serviços no mercado internacional e importam insumos e bens em seus países de origem. Ao contrário da Petrobras, não têm compromisso algum com o desenvolvimento da indústria nacional brasileira.

Já a Petrobras, em seu Plano de Negócios e Gestão, previu investimentos de US$ 130,3 bilhões para o período de 2015 a 2019. Trata-se de mais de R$ 400 bilhões que serão investidos quase que totalmente no Brasil. Não podemos comprometer esses e outros investimentos, seguramente mais volumosos, que virão mais tarde, graças à exploração do pré-sal pela Petrobras.

Os recursos que a Petrobras investe e investirá para explorar o pré-sal são e serão fundamentais para alavancar o desenvolvimento do Brasil. Assim, retirar da Petrobras a condição de operadora do pré-sal significaria, em última instância, a destruição dessa alavanca única e o consequente comprometimento do nosso desenvolvimento.


VI- Porque o Brasil perderia futuro.

Por ser recurso finito e não renovável, o petróleo tem de ser gerido com perspectiva de longo prazo e com base na solidariedade intergeracional.

Foi essa visão que fez o Congresso Nacional aprovar a destinação dos royalties e participações especiais do petróleo para a Educação (75%) e Saúde (25%). Decidimos trocar recursos do presente para investir nas futuras gerações.

Temos de analisar a questão da Petrobras como operadora do pré-sal dentro dessa mesma visão estratégica.

A retirada da Petrobras como operadora única obedece a uma lógica de curto prazo: estamos numa crise e precisamos de dinheiro rápido para nos dar alívio financeiro. Se vendermos o pré-sal às multinacionais do setor, poderemos gerar uma receita que nos ajude a pagar juros da dívida, a fazer superávits primários e a equacionar desequilíbrios fiscais.

Já manutenção da Petrobras como operadora do pré-sal, com tudo o que isso implica, obedece a uma lógica de longo prazo: estamos em crise e, se alavancarmos nosso desenvolvimento com os recursos do pré-sal, não só contribuiremos para a sua superação, como criaremos as condições para o Brasil inicie um novo ciclo de crescimento mais sólido e duradouro.

Neste segundo caso, trata-se de cambiar a miragem liberalizante de curto prazo pela visão estratégica que assegurará futuro para as novas gerações de brasileiros.

No primeiro e trágico caso, trata-se de trocar o futuro pelo presente.

Retirar a Petrobras dos campos do pré-sal significa simplesmente vendê-los. E vender o pré-sal é vender futuro. E quem vende futuro já se perdeu no presente.

* – É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e membro do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI)

terça-feira, fevereiro 23, 2016

"O mundo assistiu a "regulamentação" do Estado pelos mercados, concebida nas salas adornadas com a rica tapeçaria de WallStrret" por Belluzzo

Outro bom artigo do professor Luiz Gonzaga Belluzzo da Unicamp, junto com Gabriel Galípolo da PUC/SP que foi publicado hoje no Valor, P. A11.

O texto é cirúrgico na análise da sociedade contemporânea desigual controlada pelos mercados. Mais que opinião, ele se utiliza de alguns importantes indicadores que reforçam os argumentos dos caminhos seguidos pela liberalização total e completa, não apenas do mercado, mas da vida das pessoas. Vale conferir!

"A queda do meio"

"Estudos recentes delatam, sem premiação, o corolário da reestruturação conservadora operada na economia mundial nos últimos 40 anos. Em outubro de 2015 o Credit Suisse publicou o Global Wealth Databook. O estudo revela que a riqueza acumulada pelo 1% mais abastado da população mundial agora equivale, pela primeira vez, à riqueza dos 99% restantes. A Oxfam afirma que em 2015, apenas 62 indivíduos detinham a mesma riqueza que 3,6 bilhões de pessoas - a metade mais afetada pela pobreza da humanidade. Estudo recente da OCDE sobre desigualdade ("Inequality -The Gap between Rich and Poor") afirma que entre 1975 e 2012, cerca de 47% do crescimento total da renda antes de impostos [nos EUA] foi para o 1% no topo.

Nesse cenário, acirrou-se o conflito distributivo com repercussões no debate democrático. Na Europa, crescem os partidos de extrema-direita. A eleição americana demonstra as dificuldades das posições políticas de centro diante da "radicalização" à direita e à esquerda. Ainda que o socialdemocrata Bernie Sanders não consiga vencer as primárias, seu discurso empurrou Hillary para posições mais próximas da esquerda liberal americana. Já na turma republicana fica difícil definir quem está mais à direita.

Como assinalou o lúcido conservador Martin Wolf em artigo publicado no Valor em 3/2, "Políticos bem sucedidos compreendem que as pessoas precisam sentir que suas preocupações têm de ser levadas em consideração, de que eles e seus filhos desfrutem a perspectiva de uma vida melhor e de que vão continuar a ter uma dimensão adequada de segurança econômica" O declínio do centro exprime de forma dramática a ruptura das relações mais "equilibradas" entre os poderes do "livre mercado" e o resguardo dos direitos econômicos e sociais dos cidadãos desfavorecidos.

Nos estertores dos anos 1970, a estagflação desarranjou o acordo social e econômico concertado no pós-guerra. Mais na Europa, mas também nos Estado Unidos, esse acordo ensejou durante 30 anos uma virtuosa combinação entre crescimento econômico, baixa inflação, ganhos reais nos salários médios, ampliação do emprego e da massa salarial com redução das desigualdades.

No início dos 80, Ronald Reagan e Margareth Thatcher proclamavam que "o Estado era o problema e não a solução. Eles preconizavam a redução de impostos para os ricos "poupadores". Acusavam os sistemas de tributação progressiva de desestimular a poupança e debilitar o impulso privado ao investimento. Os sindicatos "prejudicavam" a economia e os trabalhadores ao pretender fixar a taxa de salário fora do "preço de equilíbrio". Era preciso "acabar com tudo aquilo".

Liberada, a velha toupeira do capitalismo cavou fundo e redefiniu em poucos anos a distribuição espacial da produção, do comércio, dos fluxos de capitais. Em sua fúria criadora e destrutiva, entregou os mercados financeiros às suas insanidades, o que impulsionou a formação de oligopólios globais, centralizando o controle da produção em poucas empresas e promovendo a precarização em massa do emprego.

A crise financeira esgueirou-se silenciosa nos subterrâneos da economia globalizada, enquanto seus acólitos midiáticos e acadêmicos evangelizavam o público com as crendices sobre os mercados eficientes e "competitivos" povoados por agentes racionais e otimizadores.

Observada em suas conexões globais, a crise acusa o desafino da orquestra formada pela China-Europa (Alemanha?) e Estados Unidos, os exportadores de commodities como coadjuvantes. Desafinou: em 2015 o PIB mundial a preços correntes apresenta valor inferior ao de 2012, o índice de preços das commodities não combustíveis apresenta valores inferiores ao de 2006 e o preço do barril do petróleo é o menor desde 2005. Para completar o quadro, só faltavam os solavancos bancários dos primeiros meses de 2016.

Quando irrompeu das profundezas, o terremoto financeiro de 2008 exigiu socorro às instituições financeiras globalizadas. Incapazes de revigorar as economias, as políticas monetárias e fiscais socializaram prejuízos, engordaram a riqueza rentista-parasitária por meio do endividamento dos Estados. De quebra, acentuaram a concentração de renda e reabilitaram dos baixios do fracasso a sub-teologia dos mercados eficientes e competitivos.

O relatório anual do Bank of International Settlements- 2014/2015 (BIS), constata que antes e depois da crise financeira "a expansão do crédito em vez de financiar a aquisição de bens e serviços, o que eleva os gastos e o produto,... está simplesmente financiando a aquisição de ativos já existentes, sejam eles 'reais' (imóveis ou empresas) ou financeiros".

Entre os "ativos já existentes" sobressaem as dívidas soberanas. O observatório da OCDE revela: a dívida pública em percentual do PIB nos países da Organização apresentava uma média de pouco mais de 40% em 1970. Ela se eleva para quase 100% em 2011, assoberbada pelas operações de "quantitative easing", leia-se, a troca do lixo tóxico gerado na farra financeira por títulos dos governos com remunerações reais (yields) negativas.

A nova etapa do capitalismo não realizou a propalada redução do Estado. Há quem se perca nas palavras e imagine observar as consequências da "desregulamentação". Nada disso, denuncia o ex-economista-chefe do FMI, Simon Johnson: o mundo assistiu à "regulamentação" do Estado pelos mercados, concebida nas salas adornadas com a rica tapeçaria de Wall Street. O rádio, televisão e jornais empenham-se em convencer os cidadãos da necessidade de se sacrificar, aceitar cortes nos gastos sociais, abdicar dos direitos ou encarar a destruição da economia. Morra nos hospitais sem médicos nem remédios. Em nome da ciência econômica, do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amem.

Na terra de Santa Cruz, a pertinente e necessária demanda por equilíbrio entre receitas e despesas públicas é utilizada para condenar o Estado Social. Não obstante a economia brasileira ter apresentado superávits primários em todos os anos entre 1997 e 2013, tentam jogar o paquiderme na sala para debaixo do tapete - dos R$ 613 bilhões de déficit nominal, o elefante dos juros pesa R$ 501 bilhões."

Luiz Gonzaga Belluzzo é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e escreve mensalmente às terças-feiras. Gabriel Galípolo, professor do depto. de economia da PUC/SP

AIE prevê produção de mais 836 mil barris diários de petróleo pelo Brasil até 2021, 2º maior crescimento de fora da Opep

Ao contrário de muitos pessimistas, a Agência Internacional de Energia (AIE) em relatório divulgado ontem em Davos, na Suíça durante o evento conferência IHS Energy CERAWeek, prevê avanço da produção de petróleo no Brasil de 836 mil barris diários nos próximos cinco anos.

Neste volume, o Brasil terá o segundo maior crescimento de produção de petróleo do mundo nos próximos cinco, só atrás dos EUA, dentre os países que não são da Opep. Outros dados do relatório comentamos em nota abaixo (ver aqui).

O destaque do relatório da AIE para o Brasil é o pré-sal, como não poderia deixar de ser, em especial o campo de Libra. Vale conferir aqui a nota do blog sobre o início da operação do FPSO Cidade de Maricá e do gasoduto submarino Rota 2, o de maior extensão no Brasil.

O relatório da AIE fala ainda sobre a estimativa de aumento de demanda de petróleo no Brasil, diante do cenário atual de freagem das atividades econômicas. Assim, a AIE prevê um aumento de consumo de gasolina equivalente, de 1,0 milhão de barris para 1,1 milhão de milhão de barris por dia e um crescimento do uso do etanol, por conta da mistura com o diesel que passará de 7% para 10%.

Pelo Plano de Negócios e Gestão da Petrobras (PNG 2015-2019) se tem um previsão de uma produção em 2020 de 2,7 milhões de barris por dia. Considerando que a estimativa da AIE leva em conta a produção não apenas da estatal, mas também de outras petroleiras no país, a estimativa total de 3,36 milhões de barris por dia, parece estar dentro do cenário, tendo em vista a atual fase de baixa do ciclo do petróleo.

Vale ainda recordar a postagem que fala de todo o relatório da AIE (aqui) fez previsão de apenas 4,1 milhões de barris por dia (mb /d) sendo adicionados a oferta global de petróleo entre 2015 e 2021, bem abaixo do crescimento total de 11 mb/d do período 2009-2015.

Considerando todo os produtores, o destaque é do Irã, que depois da suspensão das sanções deverá liderar os de produção de petróleo em 2,9 milhões de barris por dia, subindo de 1 mb/d para 3,9 mb/d em 2021.

O outro destaque seria os EUA que pela AIE deverá atingir a liderança mundial de produção em 2021 com cerca de 14,2 milhões de barris por dia. Em 2015, a produção de petróleo nos EUA foi de 9,7 milhões de barris por dia. A conferir!

PS.:Atualizado às 22:55: Para inserir a informação de que a produção a mais de 836 mil barris de petróleo até o ano 2021 é diário.

AIE prevê uma demanda global de petróleo de 100 milhões de barris por dia para o final da década e reequilíbrio do mercado entre 2017-2021

A Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou nesta segunda-feira um relatório com estimativas de médio prazo para o setor de petróleo (Medium-Term Oil Market Report - MTOMR), prevendo reequilíbrio do mercado iniciando em 2017 indo até 2021, mas já levantando riscos de abastecimento pela frente pela ausência de investimentos no presente.

O relatório observa ainda que os preços do petróleo devem começar a subir gradualmente uma vez que o mercado tende a se reequilibrar após grande disponibilidade de petróleo. No entanto, o relatório aponta para o risco de um aumento do preço na parte final do período próximo a 2021.

Durante o lançamento do relatório dentro da IHS CERAWeek em Davos, Suíça, o diretor executivo da AIE, Fatih Birol, disse que os atuais cortes históricos de investimento no setor aumentaram as "chances de surpresas desagradáveis com a segurança de petróleo num futuro não muito distante".

O relatório prevê 4,1 milhões de barris por dia (mb /d) sendo adicionados a oferta global de petróleo entre 2015 e 2021, bem abaixo do crescimento total de 11 mb/d do período 2009-2015.

A queda no crescimento da oferta vem resposta ao excesso de petróleo no mercado que está pressionando os preços para baixo. A exploração de petróleo global e as despesas de capital de produção (capex) devem cair 17% em 2016, na sequência de um corte de 24% em 2015. Seria a primeira vez, desde 1986, que o investimentos na indústria do petróleo caiu por dois anos consecutivos.

Se prevê ainda que a produção dos EUA possa atingir seu ponto mais elevado em 14,2 mb/d até o final do período de previsão, mas apenas depois de cair no curto prazo, com queda da produção em 0,6 mb/d (ou 600 mil b/d), este ano, e por mais um 0,2 mb/d (ou 200 mil b/d) em 2017 antes de uma recuperação gradual dos preços do petróleo, combinada com outras melhorias na eficiência operacional e de redução de custos, permite a retomada da produção em escalada ascendente.

Pela previsão da AIE, os EUA continuam sendo o maior contribuinte para abastecer o crescimento durante o período de previsão, representando mais de dois terços do aumento líquido não-OPEP. Libertado das sanções, o Irã liderará ganhos da OPEP: produção de petróleo iraniano subirá de 1 mb/d para 3,9 mb/d em 2021.

O relatório vê a demanda global de petróleo crescendo a uma taxa média de 1,2 mb/d até 2021, cruzando o simbólico 100 mb/d marca no final da década, antes de chegar a 101,6 mb / d em 2021.

A AIE prevê um crescimento de consumo indiano, enquanto o crescimento da demanda chinesa esfriaria, em conjunto com a economia. Assim, o comércio global de petróleo continuaria tendo seu pivô na Ásia.

A leitura de cenário da AIE reforça o que venho insistindo sobre a proximidade de um ciclo para o início de um outro.

Além disso, a AIE prevê a continuação de um protagonismo dos EUA na produção e comércio global de petróleo. O que não é nenhuma surpresa. Além disso, a AIE prevê par ao final da década que a demanda global supere a marca histórica dos 100 milhões de barris por dia, conforme tabela abaixo.


segunda-feira, fevereiro 22, 2016

Mais um semana de debates sobre o ciclo do petróleo em Davos: quem controla a baixa?

Quem iniciou as baixas, como e por quê fez o que fez a gente já conhece. Mas porque ainda há quem permaneça interessado no quadro de colapso de preços ainda não está muito claro.

Talvez, seja a primeira vez que preços baixos de petróleo jogam o mercado bolsista para baixo, simultaneamente, à condição de uma economia real já reprimida e ainda influenciada pela crise de 2008/2009.

É neste cenário que esta semana acontecerá a conferência IHS Energy CERAWeek, com o tema "Transição Energética: Estratégias para um Mundo Novo", que é apontada por alguns, como a Davos do setor de energia.

Nos debates, já se fala no “novo normal” de petróleo barato. Para alguns, ele poderia ter um período mais longo de duração, com baixa no ciclo petróleo com a commodity em abundância, e relativamente barato, talvez, com duração mais dilatada até o final da década.

Uma pausa para explicar que "novo normal" é uma expressão que passou a ser usada por alguns analistas para tentar exprimir uma nova realidade da economia chinesa com percentual de crescimento menor do que a que viveu por mais de uma década.

Outros apostam numa fase de baixa mais curta até o ano que vem. Este assunto deve dominar as discussões em Davos, Suíça, nesta semana.

Seria real a interpretação de que mesmo que os quatro grandes bancos americanos que controlam as mesas de operações das commodities, as grandes tradings que comercializam petróleo, mais as gigantes petroleiras, junto com os interesses geopolíticos das nações produtoras, não conseguem mais, como no passado, controlar todas as variáveis que direcionariam o mercado. Há quem acredite nesta hipótese. Outros não.

Este ano é ano de eleições nos EUA. Isto pode ser apenas coincidência. Ou não. Pode ser outra coincidência, ou não, o fato de que foi neste último mandato presidencial, que os EUA chegou ao topo de maior produtor mundial de petróleo, tendo alcançado o ponto de prescindir do óleo externo e até começar a exportar, o que antes era impedido por lei.

Historicamente, os republicanos sempre foram ligados ao setor. Apenas para lembrar.

Os bancos emprestaram muito dinheiro para os produtores de xisto e se apavoram com o presente. Por lá, os “produtores independentes” de xisto chegaram a gastar US$ 32 bilhões a mais do que ganharam no primeiro semestre de 2015, no esforço para ampliar a produção, quando o colapso de preços se manteve para além do período de tempo esperado.

No meio desta confusão, o acordo da Arábia Saudita com a Rússia feito na semana passada, com apoio da Venezuela, Catar e outros produtores menores, não produziu os resultados que o “mercado” chegou a imaginar. Eles não controlariam mais todo o processo. Assim, repito que há quem acredite nisto. Ou não.

Assim, as pressões sobre as petroleiras, as nações, as tradings e os bancos crescem. A mídia comercial vende versões a quem, mesmo com dinheiro mais curto, olha o horizonte de um novo ciclo, enquanto outros pensam que seria mesmo realidade este “novo normal” do petróleo com preços baixos por ainda mais tempo. 

De outro lado, há quem avalie que os cortes de investimentos históricos que estão sendo feitos no setor de petróleo podem trazer surpresas sobre segurança energética gerando anormalidades em novo ciclo.

Como no jogo de pôquer é sempre perto do momento do blefe que saem as maiores apostas. As manipulações e especulações no mercado seguem atropelando incautos, sejam executivos, investidores ou nações. A conferir!

domingo, fevereiro 21, 2016

E a caravana passa: Petrobras coloca em operação + um FPSO e seu maior gasoduto submarino - Rota 2

Enquanto os problemas são enfrentados, a caravana segue seu curso. Entre todas as grandes petroleiras do mundo, a Petrobras, certamente é que enfrenta, na conjuntura atual, os maiores desafios que juntou a fase de colapso de preços no ciclo do petróleo e, ao mesmo tempo, as sérias consequências de gestão da Operação Lava Jato.

Os problemas são gigantescos. Troca de diretoria e de todo o Conselho de Administração. Investigação e punição de seus maiores fornecedores de equipamentos, obras e serviços. Suspensão e redução de contratos para dar conta do cenário e ainda a administração de uma grande dívida, contraída para um ousado projeto de investimentos, planejado na fase de boom, do ciclo da commodity petróleo.

Pois bem, em meio a tudo isto e às reformulações de projetos de todas as grandes petroleiras do mundo, a Petrobras vai seguindo seu curso na condição de uma corporação global, mesmo diante das pressões de todas as pressões do “mercado” reverberada e com forte apoio a mídia comercial, e em parte do judiciário.

Mesmo assim, nos últimos dias, dois grandes projetos estão entrando em operação, com notícias discretas na mídia comercial, mais interessada em bombardear e fragilizar a empresa, e assim facilitar seus "apoiadores" na luta para obter e adquirir os ativos da estatal, assim como mexer na condição da Petrobras, de operadora única das reservas da camada do pré-sal.

Como venho estudando o assunto como alguma profundidade resolvi trazer aos leitores e colaboradores mais detalhes sobre estes dois projetos que estão entrando em operação no meio deste tufão de pressões:

FPSO Cidade de Maricá
O FPSO Cidade de Maricá já foi alocado na área de Lula Alto, no campo de Lula, foi interligado aos poços e deverá estar em produção nestes dias. Ele é sétimo grande sistema definitivo de produção do pré-sal da Bacia de Santos. A capacidade de produção diária do navio-plataforma (FPSO) Cidade de Maricá é de até 150 mil barris de petróleo e 6 milhões de metros cúbicos de gás.

A unidade vai produzir, armazenar e transferir petróleo ancorada a uma profundidade de 2.120 metros e a cerca de 270 quilômetros da costa. Com mais este sistema de produção, a camada pré-sal contida nas Bacias de Santos e de Campos já responde por 35% da produção brasileira de petróleo.

Segundo a Petrobras, a consolidação da Bacia de Santos, que responde por 70% da produção da camada pré-sal, vem se dando há pouco mais de cinco anos, com uma média de lançamento de uma grande plataforma a cada nove meses.

A performance da produção tem se mostrado dentre as melhores em termos mundiais, sendo que os quatro primeiros sistemas de produção, instalados entre 2010 e 2014, permanecem produzindo praticamente a plena capacidade (475 mil barris diários de petróleo, com apenas 19 poços produtores) e os três mais recentes, que estão em fase de crescimento da produção, também apresentam o mesmo alto desempenho com relação aos poços já em operação (205 mil barris diários de petróleo com apenas sete poços produtores).

A Petrobras informa que o primeiro desses grandes sistemas a entrar em produção foi o Piloto de Lula, em outubro de 2010 (FPSO Cidade de Angra dos Reis). Na sequência foram implantados o Piloto de Sapinhoá em janeiro de 2013 (FPSO Cidade de São Paulo), o Piloto de Lula Nordeste em junho de 2013 (FPSO Cidade de Paraty), Lula/Iracema Sul em outubro de 2014 (FPSO Cidade de Mangaratiba), Sapinhoá Norte em novembro de 2014 (FPSO Cidade de Ilhabela), Lula/Iracema Norte em julho de 2015 (FPSO Cidade de Itaguaí) e Lula Alto em fevereiro de 2016 (FPSO Cidade de Maricá).

Ainda em 2016, entrarão em operação mais dois grandes sistemas definitivos de produção, o projeto Lula Central (FPSO Cidade de Saquarema) e o projeto Lapa (FPSO Cidade de Caraguatatuba).

Rota 2 pode levar à redução de importação de gás pelo Brasil
A segunda importante instalação que entrou em funcionamento no dia 12 de fevereiro é o maior gasoduto submarino (401 km) já construído no Brasil, o Rota 2 que interliga a Bacia de Santos, no campo de Iracema Sul, onde está o FPSO Cidade de Mangaratiba, ao Parque (terminal) de gás de Cabiúnas (TECAB), em Macaé, Bacia de Campos.

O gasoduto Rota 2 interliga instalações das duas maiores bacias petrolíferas do Brasil e tem capacidade para escoar 13 milhões de m³/dia. Para isso o TEcab teve a sua capacidade de processamento ampliada para 28,4 milhões de metros cúbicos por dia, de forma a receber o gás proveniente do pré-sal da Bacia de Santos e, também, da Bacia de Campos.

Mapa dos gasodutos Rota 1,2 e 3 da Petrobras interligando as plataformas a terminais em terra



























O Rota 2 está também conectado ao FPSO Cidade de Paraty, no campo de Lula Nordeste) e adiante será ligado ao FPSO Cidade de Itaguaí, instalado no campo de Iracema Norte. Estas três plataformas produziram juntas, em dezembro passado, um total de 16 milhões de m³/dia. O resultado disto é mais produção e assim, o Brasil poderá reduzir importação de gás da Bolívia e, mais adiante, também o gás natural liquefeito (GNL), hoje importado para ser regaseificado em terminais no Ceará e no Rio de Janeiro.

O que isto significa?
Este dois fatos poderiam ser considerados um processo natural do planejamento anterior. Mas, como já foi comentado, diante da conjuntura atual, eles não podem ser considerados como fatos corriqueiros ou naturais. Não, não é pouca coisa diante também, da redução dos ritmos das obras e instalações que a conjuntura obrigou. Observar com mais acuidade estas informações e ligá-las a outros fatos, observando a importância em organizar a empresa para um novo ciclo, tem importância econômica e geopolítica para o Brasil. 

A nível interno é interessante observar que mesmo que a produção do pré-sal que tem 35% de toda a produção de óleo e gás do país, 70% dela está instalada na Bacia de Santos. Sendo assim, começa-se a ter agora, um movimento em que a produção no litoral paulista cresce para ser enviado ao ERJ, num movimento inverso ao que se teve há cerca de quinze anos, quando existiam reclamações do óleo sair do RJ para ser processado em refinarias paulistas. 

É certo que o debate tributário, em meio às discussões dos royalties e participações especiais (PE), arrecadação de ISS e ICMS se tornarão mais frequentes. O avanço da conclusão do Comperj em Itaboraí para processar o óleo também se intensificará.

Além disso, observemos que que o gás da Bacia de Santos já está sendo encaminhado para o Terminal de Cabiúnas em Macaé, RJ.

Assim, eu sigo comprovando como se está construindo um "Circuito Espacial de Produção do Petróleo" no litoral fluminense, vinculado ao paulista, para além do Norte Fluminense, um dos subtemas de minha pesquisa.

Este espaço que envolve boa parte do litoral Sudeste está sendo cada vez mais interligado, não apenas pelos modais de transportes mais conhecidos (rodoviário e ferroviário), mas também pela via marítima e pelas dutovias, por malhas de oleodutos e gasodutos. Continuamos acompanhando e conferindo!  

sábado, fevereiro 20, 2016

Entrevista sobre os significados do Porto do Açu para a comunidade de São João da Barra

Aí está uma entrevista que dei ao site SJBOnline.

Apreciei a forma como fui abordado para a entrevista. Me disseram que gostariam de uma entrevista que ajudasse a comunidade de São João da Barra a compreender melhor as vantagens e desvantagens da instalação do Porto do Açu. Estavam dispostos a publicar na íntegra a opinião que vem sendo construída há cerca de uma década de estudos e pesquisas.

Assim, eu tinha pela frente um desafio de buscar sair da superficialidade dos comentários soltos, para uma análise mais abrangente e ao mesmo tempo compreensível para a maioria das pessoas. E que pudesse explicar desde a origem, o processo de instalação, mais os seus significados para a população local e regional.

Entendo que esta é uma obrigação pública de todo pesquisador/professor diante da população. Não sei se o esforço e a tentativa de desocultar algumas questões ao público em geral foi bem sucedida. Fui extenso demais nas respostas, mesmo com a preocupação em ser conciso e sintético.

Enfim, aí está o seu conteúdo. Ela expressa opinião e uma interpretação da realidade que vem sendo pesquisada, mas não é isenta de críticas.

Ao inverso, eu penso que é do debate que podemos avançar tanto na compreensão da realidade, quanto no desenvolvimento de ações e projetos que possam tornar o empreendimento particular, como algo importante também para a comunidade.

Link: http://www.sjbonline.com.br/noticias/porto-do-acu-discurso-de-sustentabilidade-e-hipocrisia



Jornal online de São João da Barra
SJBONLINE.COM.BR

PS.: Atualizado às 14:30: Para trazer para este espaço um início de diálogo que aprofunda alguns pontos citados na entrevista. Primeiro o comentário de Douglas da Mata que é seguido de minha observação sobre a questão levantada levando a discussão para uma visão ampliada sobre a questão portuária no ERJ:

"douglas da mata disse...
Sem retoques.

A desnecessidade de estocagem com a fluidez permanente e o enfraquecimento dos "laços comunitários" dos portos em relação aos territórios ocupados é a essência da busca do Capital pelo máximo de transformação acumulatória alienando os contingentes humanos.

Se antes havia uma noção "nacional" e estratégico dos portos em relação as demandas públicas, o que para o bem e para o mal deformava e mudava a cidade, que também reagia e mudava os seus portos, hoje a relação é unilateral, muito mais autoritária, chegando ao absurdo da entrega de enormes faixas de território a empresas privadas com suas regras que atacam o interesse público e a soberania nacional.

Como exemplo irônico e trágico desse processo é a "revitalização portuária no centro do Rio". Uma artificialidade tocada a bilhões de reais para encobrir a acumulação imobiliária quando a atividade portuária, per si, definha, haja vista a natureza "antiga" daquele ramal urbano de carga.
12:19 PM
Roberto Moraes disse...
Sim Douglas. Essa fluidez resultante de um processo onde a etapa de circulação (que as corporações chamam de logística) seguem num movimento que tente a zero (não apenas pela velocidade, mas pelos custos reduzidos de fretes) ajuda explicar esta distância e os "enclaves" que são as corporações que rejeitam se misturar com as pessoas e com o território. Este debate avança com os estudos e investigações sobre o tema "porto-cidade".

Este movimento ocorre no mundo inteiro. Assim, as áreas de armazenagem foram (ou estão sendo ainda) muito reduzidas e ocupadas pelo capital imobiliário que se vale dos investimentos públicos que valorizam a terra já adquirida por eles nestes locais, que agora passam a ser reutilizados.

Vale observar que assim se tem portos antigos que geraram a criação de cidades ao seu redor que têm a área do seu entorno "revitalizada" e especialmente "revalorizada" (formação de valor), com outros portos em áreas, relativamente virgens de baixo custo que vão servir aos complexos logísticos industriais. Ou os MIDAs (Maritime Industrial Development Areas), no caso do Brasil chamada da 5ª geração de portos. Na Europa esta concepção nasce na década de 80, há quase três décadas e possuem como referências o MIDAs do porto de Roterdã na Holnada, Havre na França e depois Antuérpia, na Bélgica e Hamburgo na Alemanha. Assim, os portos-indústrias oferecem a ideia da economia na ligação entre fornecedores e produtores e o porto para iniciar o movimento de transporte da produção até o consumidor final.

O caso do Porto do Rio, se insere no primeiro caso. Além disso, apesar de ser um porto público (organizado) ele possui diversos terminais concedidos a grupos ligados à logística. Eles ganharam prorrogação da concessão para ampliar os pieres e para modernizar a movimentação de cargas com novos e gigantes guindastes (gruas) automatizados, assim como os portêineres, enquanto o setor público se encarregou de fazer para eles a dragagem para aprofundamento dos canais de atracação para receber navios maiores, dentro do movimento de gigantismo naval que puxa o gigantismo portuário.

Desta forma, o porto do Rio se moderniza. Avançam os píeres para dentro da Baía de Guanabara, enquanto, as áreas antigas dos armazéns são cedidos para o projeto imobiliário que justifica o "Porto Maravilha". Ampliam-se o esquema de porto seco, onde o alfandegamento é feito junto à produção e seguem por corredores de rodovia ou ferrovia até o porto onde chega e é embarcado com alta fluidez. Além disso, no caso do Porto do Rio e junto ao porto de Niterói foram montados bases de apoio à movimentação de cargas para atender a exploração offshore de petróleo. Hoje estas bases já movimentam mais cargas que o TUP de Imbetiba em Macaé para apoio offshore, por conta do atendimento duplo da Bacia de Santos e a parte sul da Bacia de Campos.

Atendendo às pressões destas concessionárias de terminais na Baía da Guanabara (portos Rio e Niterói) novas alças de ligações modais (rodoviária e ferroviária) foram e continuam sendo construídas para dar fluidez a uma base portuária no centro de uma metrópole. Parte que não é atendida ali vai para Itaguaí e uma outra parte tenderá se dirigir para o norte no Porto do Açu.

Assim cresceu a arrecadação da prefeitura com ISS e do estado com ICMS, apesar de diversas isenções ou reduções de alíquotas.

Douglas, a sua observação me permitiu aprofundar um pouco mais a questão a partir da questão que levantou sobre a fluidez que tem a ver com tempo, dinheiro e também com o espaço no sistema em que vivemos.
2:08 PM."

PS.: Atualizado às 22:08: Ainda sobre o tema do uso do solo, da relação entre a cidade e o porto, mais a reforma urbana é interessante ler aqui a entrevista da professora Ermínia Maricato, na revista online "Região e redes",  cujo título é: "As cidades, o mosquito e as reformas" que pode ser lida íntegra aqui. Abaixo separei um trecho de sua penúltima resposta. O grifo é nosso:

"Para a reforma urbana precisamos também combater o analfabetismo urbanístico ou geográfico, que atinge também muitos economistas, advogados etc. A terra é um componente que se renovou na globalização financeirizada. Cada pedaço de cidade é único. A aplicação da função social da cidade, da função social da propriedade e do IPTU progressivo são fundamentais. A especulação imobiliária empobrece as cidades. Mas, muitos a veem como progresso e desenvolvimento. A universidade teria uma tarefa importante aí".

quinta-feira, fevereiro 18, 2016

Macaé passa Campos em orçamento total em 2015: o que isto significa?

Em 2015, pela primeira vez, o município de Macaé ultrapassou o de Campos dos Goytacazes em receitas dentro do orçamento anual. Utilizando dados da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) até outubro de 2015, o percentual a mais, a partir do último relatório de execução orçamentária divulgado é de cerca de 17%: R$ 1,756 bilhão em Macaé x R$ 1,502 bilhão em Campos.

Campos. Fonte: PMCG
Os números oficiais dos dois últimos meses do ano ainda não foram informados à Secretaria do Tesouro Nacional e ao Tribunal de Contas do RJ. Porém, se, por estimativa se usar e repetir a receita do bimestre anterior, os orçamentos executados dos dois municípios devem ter se aproximado para: Macaé com R$ 2,086 bilhões x Campos com R$ 1,750 bilhão, uma diferença de 19,2% nos orçamentos.

Campos tem uma receita de royalties e participações especiais (PE) maior que Macaé desde 1998/1999. Em 2015, Campos ficou com um receita total de royalties + PE de R$ 618,4 milhões, enquanto Macaé ficou com R$ 343,4 milhões. Assim Campos teve receita cerca de 80% maior que Macaé. Em 2014, estes valores foram de R$ 1,208 bilhão para Campos e R$ 542 milhões para Macaé.


População e orçamento per capita e sua relação com as transferências

Além disso, Campos dos Goytacazes possui maior população com 483.970 habitantes em 2015, segundo projeções do IBGE. Já Macaé tinha, no ano passado uma população de 234.628 habitantes, portanto, um pouco menos que a metade de Campos. Assim, o orçamento per capita de Macaé passou para R$ 8.890, enquanto em Campos é de R$ 3.615, ou seja, menos da metade.

Uma maior população significa o recebimento de uma transferência maior de recursos, no setor da educação (FNDE e Fundeb) e saúde (SUS).


O peso da receita de ISS e do repasse do ICMS
Porém, a grande diferença na economia dos municípios é a receita de ISS (Imposto sobre serviços) e o repasse de ICMS. No Imposto sobre serviços (ISS) Macaé chega ter uma receita seis vezes maior que Campos.

Em 2014, Macaé arrecadou com ISS a quantia de R$ 611 milhões, enquanto Campos recebeu R$ 105,8 milhões. Em 2015, até outubro (último relatório) Macaé tinha arrecadado R$ 593,4 milhões contra R$ 73,9 milhões.

Outra importante receita em que Macaé ultra ultrapassa Campos e assim, supera a diferença a menor com os royalties + PE é com o repasse do ICMS que de forma indireta significa a presença de empresas no município e das informações anuais via Declan ao governo estadual. Em 2014, Macaé recebeu de repasse da quota de ICMS a quantia de R$ 517,8 milhões, Enquanto campos dos Goytacazes ficou com R$ 365 milhões, uma diferença de R$ 152 milhões.


É preciso compreender a diferença entre Economia do Petróleo e Economia dos Royalties e o seu rebatimento espacial
Como se vê, a grande diferença se atribui ao conceito que passei a usar, não apenas em notas no blog, mas em artigos científicos que é a diferença entre o que passei a chamar Economia do Petróleo & Economia dos Royalties.

Neste quesito, Macaé vive das duas economias, mas a sua vida econômica depende mais da cadeia do petróleo e das empresas, com os tributos que geram, do que com as receitas dos royalties, como os municípios dependentes, a que se passou a chamar de petrorrentista. A Economia do Petróleo tem imensa capacidade de arrasto sobre outras atividades, enquanto a Economia dos Royalties é rentista.

Terminal de Imbetiba Petrobras. Fonte: Blog Roberto Moraes
Interessante observar que mesmo com a redução das atividades econômica em Macaé em 2015, por conta da crise do preço do barril de petróleo - e mesmo com os desdobramentos da operação Lava Jato na Petrobras e as consequências para toda a cadeia do petróleo - a receita com ISS de Macaé, em 2015, foi maior que a de 2014. Enquanto isso, a redução dos royalties atingiu igualmente os dois municípios e fortemente Campos dos Goytacazes.

Observando o movimento espacial deste processo é possível prognosticar que adiante, o município de São João da Barra, com o Porto do Açu, tenderá a absorver parte destas empresa ligadas à cadeia de petróleo offshore.

Desta forma, SJB ampliará paulatinamente a sua receita, tanto de ISS, quanto de transferência de ICMS, pela presença destas empresas do segmento de petróleo em seu território. Como a maior parte delas é de serviços, elas geram um imposto municipal. Como o valor deste serviços geralmente é alto, os impostos tendem a crescer na mesma proporção. 

Esta é a mudança espacial que chamei no artigo que publiquei na revista “Espaço e Economia” como o movimento do "Circuito Espacial do Petróleo e dos Royalties". (Se desejar leia aqui)


O estudo comparativo serve apenas como referência, porque todo município precisa se planejar para enfrentar as dificuldades e ser melhor no futuro que o presente e o passado
A comparação entre os municípios serve apenas como referência para melhor se compreender a dinâmica econômica, produtiva e social, mas não se deve ir além disso. 

A melhor comparação a ser feita, em termos de análises de políticas públicas é de um município com ele mesmo, ao longo do tempo e de uma série histórica. Ainda assim, há muito mais a ser observado e estudado.

É importante ressaltar que este fato se deu no ano de 2015 e, certamente, se repetirá em 2016. Em 2014, Campos teve o último orçamento maior que Macaé com receita de R$ 2,723 bilhões contra R$ 2,211 bilhões de Macaé.

Como se pode identificar, desta forma, a queda da receita total de Campos foi bem maior do que a de Macaé (Campos perdeu cerca de R$ 950 milhões – sendo R$ 590 a menos de royalties + PE - e Macaé perdeu R$ 125 milhões – sendo R$ 200 milhões a menos de royalties + PE, tendo assim, R$ 75 milhões compensado em outras receitas). Isto se explica pela maior dependência que o orçamento de Campos tem dos royalties do petróleo.

Interessante ainda observar que mesmo Campos tendo bem menos domicílios que Macaé, a receita de IPTU desta última foi maior do que a de Campos.


A mudança de paradigma e as conclusões para pensar o futuro
Essa mudança de paradigma, com Macaé passando a Campos no orçamento total em 2015, de certa forma, repete o que em 2000/2001 pelo NEED/IFF (Núcleo de Estudos em Estratégia e Desenvolvimento) identificamos, quando Macaé também ultrapassou Campos, no número absoluto de empregos, decorrente da ampliação da base operacional da cadeia produtiva do petróleo e do gás.  

Desta forma, agora, no ERJ, depois da capital o maior orçamento é o de Duque de Caxias, que em 2015 alcançou R$ 2,439 bilhões. A seguir vem Macaé que teve orçamento projetado em 2015, de R$ 2,228 bilhões e pela projeção deve ter arrecadado R$ 2,086 bilhões. Campos, agora passa a ficar na quinta posição. Pela ordem: Rio, Duque de Caxias, Niterói, Macaé e Campos dos Goytacazes.

Assim, o debate mais importante continua sendo sobre a qualidade do uso dos recursos públicos, assim como, a necessidade de uma política regional que possa planejar políticas colaborativas entre os municípios, assim como ampliar o debate para a participação da população na escolha desta prioridades. 

O desejo de diversificação da economia já é hoje, um consenso, porém da intenção à prática e à realidade há um caminho complexo e difícil que é além de necessário, urgente. A postagem como as demais tem o intuito de contribuir com a qualificação do debate sobre as políticas públicas nos municípios da região. 

Adiante pretendemos ampliar a análise para outros municípios da região, a exemplo do que fizemos em 2004, quando foi editado o livro Economia e Desenvolvimento no Norte Fluminense: da cana de açúcar aos royalties do petróleo, que possui um capítulo sobre a radiografia do orçamento do Norte Fluminense.

Suítes hoteleiras em Campos

Segundo informação de uma fonte do setor imobiliário de Campos, nos últimos anos foram lançados no município projetos para cerca de 2.000 suítes hoteleiras.

Uma parte delas foi entregue. Outras estão em construção. Segundo a mesma fonte, projetos lançados e não iniciados, possuem grande chances de não serem concretizados.

Este processo de construção de prédios com suítes hoteleiras ocorreu no país inteiro, em cidades de médio porte, acompanhando um movimento que já existia nas capitais.

Todos os projetos tinham como intenção a captura de recursos que circulavam, ou estavam parados em poupança nestas cidades. Algumas com potencial turístico, outras nem tanto.

Um dos prédios com suíte hoteleira em Campos
Assim, bandeiras conhecidas ofereciam seu nomes e suas marcas para este processo de atração, em troca de rendimentos no aluguel e hospedagem nas referidas suítes.

O boom da economia facilitou este processo, assim como um primeiro projeto concluído que chegaram, no momento de boom da economia, a oferecer boa rentabilidades aos investidores.

Não é preciso ser especialista para perceber que a ampliação da oferta das suítes trariam problemas. Assim, hoje há questionamentos judiciais entre as partes e uma rentibilidade baixíssima em relação ao que foi investido.

Mesmo nas cidades turísticas com potencial enorme de hospedagem, os investidores começaram a perceber que outros investimentos, mesmo imobiliários, seriam mais interessantes, porque ficariam menos sujeito às variações destas hospedagens temporárias que caem fortemente, com a retração da economia, em relação a apartamentos e escritórios. Neste campo, também parece ter havido um excesso de oferta na cidade, mas deixaremos para comentar em outra nota adiante.

quarta-feira, fevereiro 17, 2016

Destino da Anglo American no Açu

A Anglo American que ontem anunciou prejuízo de US$ 5,6 bilhões em 2015, informou que pretende reduzir de 45 para 16 o número de operações em minas, mas não confirmou e nem descartou a venda do Sistema Minas-Rio no Brasil que exporta minério de ferro pelo Porto do Açu.

Unidade de filtragem, secagem da FerroPort (Anglo American + Prumo) no Porto do Açu

"A confiança no mercado financeiro volta com o crescimento e não com a austeridade".

A frase não foi por militante progressista e sim pelo chefe de Macroeconomia e Políticas de Desenvolvimento da Agência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), vinculada à ONU, Alfredo Calcagno, na Suíca.

Calcagno disse ainda que a economia mundial está passando pela terceira etapa da grande crise financeira inciada em 2008. Para ele, "na primeira etapa todo mundo foi golpeado simultaneamente pelo choque financeiro, com súbita interrupção do crédito bancário e colapso do comércio. Aí todo mundo fez política expansionista com bons resultados. A partir daí vários governos, principalmente na Europa, combinaram política fiscal restritiva com política monetária expansionista levando à segunda etapa da crise".

Calcagno discorda desta receita porque ela teria dado grande liquidez, mas não gerou demandas. Por isto diz que o capital rumou para investimentos em países emergentes, ou de novo, para o setor imobiliário. Assim, julga que agora os emergentes estão sendo golpeados com a desaceleração econômica e a "degringolada" dos preços das matérias-primas (commodities).

Para a Unctad, os problemas de fundo da crise de 2008 não foram atacados, como a concentração de renda que cresce desde os anos 80, uso inadequado de políticas macroeconômicas e uma regulação financeira ainda muito deficiente. Tudo isto debilitou o crescimento da demanda e fragilizou as economias. Para Calcagno o investimento público é o que precisa ser feito mais rapidamente, para impulsionar o investimento privado.

A situação das economias nacionais variam, mas é exatamente este o debate que se está travando no Brasil. Ampliar a inclusão social é solução e não problema, como tentam insistir alguns. Aliás, o Calcagno fala dos investimentos públicos em infraestrutura como estratégicos, porque eles aumentam a arrecadação de impostos, reduzindo déficit e criando novas áreas para ampliação das atividades econômicas. Este é o caso do Brasil com o PIL (Plano de Investimento em Logística), que mesmo com muitos problemas, tende a render adiante. Aliás, parte disto, já está acontecendo.

Esta abordagem que consta de uma matéria do Assis Moreira de Genebra, Suíça, para o Valor, confirma que a saída da crise financeira focada exclusivamente na questão fiscal é um equívoco. Lembro que a abordagem e análise feitas para a economia global servem para compreender a forma com que o Brasil está nela incluída e de onde se pode observar as saídas. Algumas já implantadas, outras em curso e mais sendo necessária. A saída pela recessão é uma aberração!

terça-feira, fevereiro 16, 2016

Os significados da fala do presidente mundial da Shell sobre o potencial de petróleo no Brasil

Foi ontem muito reverberada a fala do CEO global da Shell, Van Beurden, sobre seus interesses no pré-sal e que mesmo aliada à Petrobras - defendendo seu peixe - ele justifica que ela pode (ou deve) deixar de ser operadora única, fazendo coro com o pessoal do mercado interessado em abocanhar os ativos de petróleo no Brasil, neste momento de desvalorização cambial, aliada aos preços baixos do barril.

Porém, mais significativa é outra parte de sua fala que reafirma o que temos seguidamente afirmado aqui:

"O Brasil será um país-chave na nossa estratégia", afirmou. "Está seguramente no top 3 de nosso portfólio e, se considerarmos apenas a produção em águas profundas, é o maior."

Van Beurden disse acreditar na competitividade do pré-sal, mesmo em um cenário de petróleo barato. "O break even (preço de equilíbrio dos projetos) é muito favorável, mesmo nessa faixa de preços. E, se os preços caem, os custos também caem".

O presidente (CEO) global da Shell está no Brasil desde ontem para dirigir a fusão completa da Shell com a BG. É simbólico que ele tenha vindo ao Brasil fazer isto, depois de investir US$ 70 bi e a reafirmar outra fala dele, no ano passado, ao garantir que a compra da petroleira britânica BG, tinha como principal justificativa, os ativos desta no Brasil.

A BG tem a maior expertise mundial em GNL que agora passa para a Shell. A BG, agora Shell tem contrato com a Prumo no Porto do Açu.

No meio deste cenário há quem continue querendo entregar nossas reservas, depois de termos amargado o período mais difícil, deixando os louros de um novo ciclo para outros, os mais espertos. Estes que hoje bem remuneram a mídia comercial como parte de suas estratégias de negócio.

Quem se ajustar, trabalhar e esperar o novo ciclo - sabendo que ele vai ser conflituoso e cheio de flutuações - ganhará mais.

Os negociantes podem esperar outros negócios, mas a nação ainda necessita deste eixo de crescimento econômico, que pode e deve ser, sob as diversas dimensões - especialmente a ambiental - bem cuidada, assim como os frutos do fundo soberano para a inclusão social.

Fora daí será apenas mais ouro negro para os de sempre.

segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Seguem as flutuações no preço do barril de petróleo que chegou a US$ 34,39

As flutuações de preço do barril de petróleo seguem sugerindo manipulações sobre o mercado, aparentemente, mais que notícias e fatos.

Na última sexta-feira o valor subiu o percentual de 12%, um dos maiores, para um único dia. Os argumentos eram o de sempre: redução de estoques e um possível acordo entre a Opep e a Rússia para conter a produção e assim, reduzir ou zerar, o excesso diário de produção que hoje atinge a cerca de 1,75 milhões de barris por dia.

Por trás disso estão as tradings e os bancos que controlam o comércio do petróleo, que até aqui, vinha sendo feito feito exclusivamente em dólar e agora Rússia e China estão mudando esta realidade.


Neste campo é difícil separar o que é fato do que é notícia "plantada". As notícias veiculadas geram lucros e por isto sua divulgação é sempre muito bem remunerada.

Como há quem ganhe, há também os que perdem. Invariavelmente, grandes corporações, oligopólios e bancos de um lado e pequenos, médios investidores e menores petroleiras de outro.

É neste cenário que hoje, até aqui, o barril de petróleo brent, abriu valendo US$ 32,81 e chegou a US$ 34,39.

Para quem não conhece o assunto em detalhes, saiba que a maior trading do setor de petróleo, negocia diariamente, a bagatela de mais de 5 milhões de barris de petróleo por dia, quase o dobro de toda a produção brasileira de petróleo.

Com este volume é possível entender como se pode interferir nos preços e fluxo da commodity petróleo. Continuamos acompanhando o ciclo.

Três sobre o Porto do Açu

Para iniciar a semana, o blog resume três informações sobre o Porto do Açu que divulgadas em diferentes fontes e formas, levam a compreensões equivocadas. A maioria das informações sobre o empreendimento saem quase sob a forma de propaganda (release), sem interligação das relações entre os fatos e muito menos sob análises e interpretações sobre os seus significados econômicos e impactos sobre a região:

1) Desde o final da semana passada se faz uma grande divulgação sobre a autorização da Secretaria Especial dos Portos (SEP) - que tem status de ministério - para a operação do terminal ou base de operações portuárias para apoio às explorações offshore a partir do Terminal 2 do Porto do Açu. Nada mais se trata do que a base do grupo americano Edison Chouest, através de uma de suas empresas, a Brasil Port, montada para atender contrato com a Petrobras, obtido a partir de licitação ocorrida em 2014 e finalizada ano passado. O terminal tem cerca de 1 km de cais e prevê a construção de outros berços além daqueles contratados pela Petrobras para movimentação de cargas para atendimento às explorações de petróleo offshore.

Terminal 2 do Porto do Açu, onde se localiza base da Brasil Port e área OSX
2) A holding Prumo Logística Global S.A., controlada pelo fundo financeiro americano EIG, continua caminhando no seu esforço de definir o preço das ações, para pagar os acionistas minoritários, detentores de puco mais de 25% das ações, para concretizar o fechamento da empresa. Seguindo o script três laudos de bancos sobre o valor real das ações foram apresentados. Eles são muito discrepantes e também distante do valor atual das ações na Ibovespa.

A intenção de fechar o controle da empresa, eximindo de prestar informações e ter mais liberdade de agir tem significados que estão sendo interpretados de diversos modos. Não é por acaso a aproximação de negócios com empresas americanas, não apenas a Edison Chouest, mas há conversas adiantadas com outras empresas americanas do setor petróleo, como a FMC Technologies que atua com equipamentos submarinos (subsea) e que possui uma importante base operacional em Macaé. Mais adiante avançaremos neste assunto.

3) A OSX que antes da crise das empresas do grupo EBX entrarem em crise projetou um estaleiro, a Unidade de Construção Naval (UCN) no Açu continua em recuperação judicial. Na semana passada comentamos aqui (10/02) sobre a assunção de parte de suas ações pelo fundo árabe de Abu Dhabi, Mubadala, através de sua empresa 9 West que ficou com 29% de suas ações. Os investidores minoritários possuem 34% e Eike Batista ainda 37%, embora não tenha mais o controle da empresa.

No final de janeiro passado, a Prumo, Santander e Votorantim (dois últimos bancos com ações obtidas a partir de troca por conta de empréstimos não bancados pela OSX) colocaram novos R$ 30,89 milhões na empresa, na expectativa de mantê-la, enquanto não se consegue outras receitas. Bom registrar que a OSX na verdade é mais que uma empresa, porque também se transformou numa holding que controla outras empresas como a OSX 1, OSX 3, OSX 3 que são empresas próprias, na verdade plataformas de petróleo, embora antes controlada pela OSX Leasing Group B.V na Holanda.

A OSX 1 funcionou e abandonou recentemente o campo de Tubarão Azul na Bacia de Campos pela OGPar (ex-OGX). Esta plataforma hoje está na Noruega para ser vendida em partes. A OSX 3 está ainda operando no campo de Tubarão Martelo, também da OGPar, mas já pediu à ANP para interromper a produção. Ela deverá ser entregue a credores, por pagamento de parte das dívidas. A OSX 2 foi construída na Ásia e nunca entrou em operação e está sob o controle do banco ING que é líder entre os credores.

Hoje, o maior interesse da OSX é ter receita alugando área junto ao Porto do Açu e do Distrito Industrial de São João da Barra (DISJB). Ou seja, de todo o projeto da empresa OSX que chegou a ser uma holding, hoje, ela espera se transformar numa espécie de imobiliária para viver da renda do aluguel das terras (3,2 milhões de m²) que por sua vez obteve de aluguel da Prumo (ex-LLX) que por seu lado conseguiu a maioria das terras, pela desapropriação que o governo estadual, através da Condin, obteve dos pequenos produtores do antigo 5º Distrito de São João da Barra. Num vai-e-vem difícil de ser compreendido pela maioria das pessoas, mesmo as informadas, esta área alugada pela OSX, é hoje gerida pela Prumo, a partir de nomeação obtida pelos credores, por dentro do processo de recuperação judicial da OSX.

A OSX também é sócia da Mendes Junior no Consórcio Integra que monta módulos e de plataformas em base no Açu e outros estaleiros no Brasil. O projeto também previa integração destes módulos em FPSO no Açu, mas a crise com as empreiteiras que atendem à Petrobras alterou este projeto, embora ainda esteja acontecendo, mais lentamente, a montagem de módulos no Açu. (Parte das informações sobre a OSX foram obtidas em matéria do jornalista Francisco Goés, do Valor).

PS.: Atualizado às 13:13: para completar a terceira informação sobre o Porto do Açu.

domingo, fevereiro 14, 2016

A vida na urbe adensada: o caso da Pelinca em Campos é pequeno diante do descaso nos demais bairros e ditritos

Mais dois endereços, no caso, uma residência, já em início de demolição, na Rua Manoel Teodoro, na Pelinca, em Campos.

Em apenas um pequeno quarteirão, a rua, que possui as maiores calçadas na área urbana, dos dois lados, tem entre terrenos vazios e casas vazias sendo comercializadas, um total de quatorze.

Era um processo previsível. Levantei em 2001 a questão da verticalização e do adensamento da Pelinca em pesquisa e artigos. Era previsível o processo que não cessa nem com a redução das atividades econômicas da região, neste período de royalties escassos.

Os problemas de administração da urbe vai certamente muito para além da Pelinca e de sua verticalização. Os problemas de saneamento, urbanização e mobilidade nos demais bairros são cada vez mais intensos.

A gestão urbana agora com muito menos recursos será um desafio que precisará ser enfrentado com coragem e determinação.

Para isso é necessário entender os problemas e os interesses em jogo e saber para quem, prioritariamente, se governa.

Infelizmente, outras exigências que estavam nas propostas originais do Plano Diretor foram suprimidas no legislativo, em favor de menos obrigações, que deveriam constar para novas edificações em local já adensado. O mesmo ocorre, em bem maior garu, com relação a exigências e contrapartidas dos incorporadores em outros bairros mais distantes do centro.

Há que se lamentar a tendência geral da sociedade em compreender apenas o interesse do proprietário ou construtor, deixando de lado a preocupação com os impactos de vizinhança e a vida em comunidade. 

Insisto, novamente, no "bem viver" na pólis. A cidade é o local do encontro, da vida, do compartilhamento que deve estar acima dos outros interesses, como os puramente econômicos e direitos de propriedade. Isto não é exigir demais. É direito.

PS.: Sobre o caso da rua Manoel Teodoro, pelo menos agora, os vizinhos poderão se ver livres da água da piscina (veja foto) que há meses o colocam em risco. Como na vida não há bônus sem ônus, esperem as obras do novo prédio.

sexta-feira, fevereiro 12, 2016

China concedeu empréstimos de US$ 10,7 bilhões a empresas brasileiras em 2015. US$ 8,2 bi só à Petrobras

Os empréstimos foram via dois bancos chineses: Eximbank e Banco de Desenvolvimento. O valor de US$ 10,7 bi é o maior da América Latina e equivalente a um terço do total emprestado a empresas e governos do continente.

O valor do empréstimo é maior do que os empréstimos concedidos ao Brasil pelo Banco Mundial e BID somados. O fato mostra a mudança já em curso, nas relações desenvolvidas pelo Brasil com o exterior, não apenas no destino das exportações, mas no financiamento concedido a empresas brasileiras.

Esta realidade é ainda mais simbólica se for observado as tratativas em curso, para investimentos em diversos projetos de infraestrutura, especialmente ferrovias e também portos. O fato pode também ajudar a explicar pressões em curso, de diversas naturezas.

O empréstimo concedido à Petrobras de US$ 8,2 bilhões teria como acordo o pagamento em barris de petróleo. Não há informações se acordo de empréstimo teria como referência um valor do barril de petróleo, ou apenas o produto.

Diante da hipótese de não ter referência no valor do barril, o acordo seria bastante interessante para a Petrobras, considerando a redução do valor do barril e o peso do endividamento da empresa.

Fonte da informação que gerou os comentários do blog: estudos divulgados em Washington e publicados em matéria do Valor Online aqui.

PS.: Atualizado às 01:42: Diante deste quadro de empréstimo de US$ 8,2 bilhões à Petrobras, caberia perguntar para aqueles que diariamente fazem pouco caso da estatal: será que os chineses seriam bobos?

Considerando que o presidente (CEO) mundial da Shell afirmou taxativamente que um dos principais motivos da compra por US$ 70 bilhões da petroleira britânica oficializada no final do ano, seriam os ativos que esta possui no Brasil, poderíamos voltar a perguntar: seria a Shell ignorante em termos de investimentos na área de petróleo?

Ou a China e a Shell estariam erradas e os colunistas econômicos da mídia comercial brasileira corretos em suas "isentas" análises? O blog deixa a resposta para o leitor/colaborador do blog.

Irã manifesta ao governo brasileiro interesse em construir as duas refinarias de petróleo no Nordeste (CE e MA)

Segundo notícia da agência Reuters, o governo iraniano teria interesse na construção das refinarias Premium I, no Maranhão, e Premium II, no Ceará.

O projeto destas duas refinarias no Nordeste foram suspensos em 2015, em função dos custos, necessidade de investimentos, endividamento da empresa, além dos baixos preços e rentabilidade da empresa.

Ontem, o ministro de Minas e Energia do Brasil, Eduardo Braga, afirmou a jornalistas, segundo a Reuters que ao longo dos últimos meses o governo "está tratando com iranianos a questão de refinarias no Brasil". Mas ele não deu mais detalhes. Braga esteve reunido nesta quinta com a presidente Dilma Rousseff e um grupo de ministros, incluindo o da Fazenda, Nelson Barbosa, para discutir sobre possíveis parcerias comerciais com o Irã. "A fonte no governo salientou, no entanto, que as discussões sobre parcerias na área de refino estão numa fase muito inicial."

A matéria da Reuters diz outros pontos. O blog destaca a parte em negrito:

"Para esse assunto ser tratado como embrionário, ainda tem de evoluir muito", disse a fonte, na condição de anonimato.

A ideia dos iranianos seria trazer o óleo até o Brasil, refiná-lo no Nordeste e vender os derivados no mercado brasileiro, segundo a fonte, que não detalhou se os atuais preços controlados dos combustíveis poderiam ser um problema.

Não havia clareza imediatamente se o investimento poderia envolver a Petrobras, que retirou os projetos das duas refinarias premium de seu plano de negócios, em meio a dificuldades financeiras e a um escândalo bilionários de corrupção que afetou a empresa.

A Petrobras não comentou imediatamente a informação".