quinta-feira, março 31, 2016

Previsão de preço do petróleo até 2017

Uma matéria do Valor Online, do jornalista Renato Rostás trouxe uma nova avaliação do mercado do setor de petróleo e elencou estimativas de preços até 2017, feita especialmente por bancos (Goldman Sachs, Credite Suisse) e por agência de avaliação econômica e consultorias.

Para este ano as estimativas de preço para o barril de petróleo brent variam entre US$ 33 e US$ 45. Para o ano que vem (2017), a variação é entre US$ 37 e US$ 60.

Estas avaliações consideram a reunião prevista para o dia 17 de abril entre a Opep e a Rússia que juntas equivalem a mais da metade do petróleo produzido atualmente no mundo.

O Irã mesmo sendo membro da Opep, já declarou que não vai participar do acordo, já que está retornando com força ao mercado, após a suspensão das sanções impostas ao país, por conta dos questionamentos do Ocidente, sobre o uso de energia nuclear.

Há entre os que acompanham o mercado, uma expectativa que a reunião dos países produtores caso não cheguem a um acordo, possam rebaixar os preços que nos últimos dias se estabilizou em torno dos US$ 40, o barril.

Os excessos de produção tem se oscilado em torno de 1,5 milhão de barris por dia. A previsão é que o aumento "natural" da demanda este ano seja maios ou menos equivalente a este volume de produção que hoje está excedendo à demanda.

Ainda assim, se avalia que um equilíbrio entre demanda e oferta possa vir apenas em 2017 e assim os preços estariam mais equilibrados, com o início de um novo ciclo de preços mais altos, a partir de 2018. Confiram abaixo as estimativas no infográfico publicado no Valor. Os grifos são do blog:




 

#NãoVaiTerGolpe não para de crescer!

Exageraram na dose. Juntaram a elite a favor do golpe. O golpe ficou cada vez mais com cara de golpistas.

Com auxílio da mídia internacional mais independente, a narrativa que ratificava o procedimento como golpe, por não se tratar de fato jurídico que possa ser assim tipificado (como gostam os juristas) como crime de responsabilidade, a tese golpista foi se consolidando.

A mídia comercial partidarizada brasileira ainda tenta convencer os que agora querem saber de que se trata, mas não consegue. Quanto mais repete que não é golpe, mais se solidifica a imagem golpista. Freud também explica o fenômeno.

Com isso, depois da terça-feira em que o juiz Moro tentava pedir desculpas, hoje, os procuradores que dirigem a Operação Lava Jato tiveram que confessar que nunca, de nenhuma forma, a Presidência da República criou nenhum obstáculo às investigações. Ao contrário do temor que eles têm da turma do PMDB que quer dar o golpe para se livrar do flagrante.

O ministro Marco Aurélio Mello foi enfático. Como disse Nassif, ele Marco Aurélio, não falou genericamente sobre a existência da figura do impeachment na CF, como expressa sobre as condições para Intervenção Militar, ou para Estado de Sítio, dependendo sempre da existência das condições necessárias para atos extremos e de exceção. Melo falou exatamente sobre o caso em questão, contra as "pedaladas", dizendo que: não existindo fato jurídico, trata-se sim de golpe.

Assim a Globo foi perdendo a narrativa golpista que tentava negar. A confusão interna no PMDB cresceu e também no PSDB.

As redes sociais bombam pela defesa do Estado Democrático de Direito, diante das repetidas ações fascistas contra uma criança que teve o atendimento negado por uma pediatra, do caso do musical com as canções de Chico em BH, contra Juca Kfouri, etc.

Assim, reuniões e debates acontecem em todos os espaços e fazem lembrar o movimento das diretas. De outro lado, as oposições estão cada vez mais caladas.

Não é fácil defender golpe na rua. E mais difícil ainda está sendo defender que o caso contra Dilma não é de golpe.

A palavra não sai das conversas nas ruas, empresas, universidades, restaurantes, praças, ou seja da grande maioria das conversas. E em política se aprende um coisa cedo. Quando se explica é porque está perdendo espaço e voltando atrás.

As manifestações previstas para esta quinta ganharam assim, um ar que não existia antes. Há um sentimento do David que enfrenta o Golias.

As pressões sobre o STF começam a perder força por conta da fragilidade do discurso da mídia-partido. Repetir o erro de 64 ninguém quer.

O setor produtivo está indeciso. Não se sentem representados pela Fiesp, com o seu presidente que usa a instituição para tentar ganhar alguma eleição. Dá também a ideia de que o movimento é mais paulista. Assim, muitos empresários começam a achar que o caminho é outro. Um país governado por Temer e refém de Cunha não traz nenhuma estabilidade. Ao inverso.

Enfim, eu tenho dito que os movimentos da política parecem um bumerangue. Muita força contra o adversário volta-se contra si.

A população que ainda não se manifestou, tende, hoje, majoritariamente, a julgar que uma injustiça contra alguém que não tem culpa é um erro sem volta e não pretende ser parte deste processo.

Além disso, já há sim um temor que um presidente sem voto, não tem compromisso com ninguém, muito menos com os pequenos, os que mais precisam dos governos. As informações sobre a "Ponte para o Futuro" do PMDB de Temer, já chamado de "Ponte para o Inferno" pelos movimentos sociais e apavora a todos.

Enfim, vamos aos atos desta quinta (31/03) para sentir o que teremos adiante. Interessante observar que o protagonismo do jogo, parece ter sido retomado em boa parte pela população.

#NãoVaiTerGolpe!
‪#‎VemPraDemocracia‬

Em Campos dos Goytacazes, concentração às 17 horas, na Praça São Salvador.





quarta-feira, março 30, 2016

III RioBlogProg | Encontro Estadual de Blogueiros e Ativistas Digitais Progressistas do Rio de Janeiro

O blog atendendo solicitação publica abaixo a programação para o III Encontro de Blogueiros, RioBlogProg. A mídia alternativa, os blogs e os espaços progressistas nas redes sociais fazem o enfrentamento que é necessário contra a mídia comercial no Brasil, que tenta empastelar seu discurso único e golpista.

O evento cujos detalhes podem ser vistos aqui é organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Abaixo a programação principal:

III RioBlogProg | 
Encontro Estadual de Blogueiros e Ativistas Digitais Progressistas do Rio de Janeiro

Exatamente 52 anos depois do golpe de Estado que fez o Brasil passar por duas décadas de assumida censura institucionalizada, este ano nosso Encontro vai representar um marco ainda mais significativo ao se somar aos atos que se multiplicam pelo País em defesa da democracia e da liberdade de expressão em meio a uma familiar atmosfera golpista fabricada pela velha mídia.



PROGRAMAÇÃO

III RioBlogProg – Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas e Ativistas Digitais do Rio de Janeiro - Local: Rua do Russel, 76 - Glória.

Sexta-feira (01/04)
18:00 – Exibição do filme “O Mercado de Notícias”, de Jorge Furtado

20:00 – Mesa de abertura “O monopólio da mídia contra a democracia” +
Ato “Golpe Nunca Mais”

• Mediação: Theófilo Rodrigues
• Altamiro Borges
• Bemvindo Sequeira
• Hildegard Angel
• Jandira Feghali
• Wadih Damous
• Miguel do Rosário

22:00 – Festa dos Blogs Sujos

Sábado (02/04)
09:30 – Rodas de conversa e experiências alternativas ao monopólio

Roda de conversa 1
•Mediação: Larissa Ormay (Barão de Itararé)
•Provocador: Gilberto de Souza (Correio do Brasil)
•Provocador: Alexandre Teixeira (MegaCidadania)
•Provocador: Filipe Peçanha (Mídia Ninja/Fora do Eixo)
•Provocadora: Maria Eduarda Quiroga (CUT)
•Provocador: Rogério Dultra (Direito UFF)

Roda de conversa 2
•Mediação: Luana Bonone (Barão de Itararé)
•Provocador: Angelo Ignacio (ARCO RJ)
•Provocador: Tadeu Porto (Sindpetro Norte Fluminense)
•Provocador: Gisele Cittadino (Direito PUC-Rio)
•Provocador: Marcos Pereira (TV Comunitária)
•Provocador: Sergio Bertoni (Blogoosfero)
•Provocadora: Penélope Toledo (Coletivo Futebol e Mídia)

13:00 – Churrasco de encerramento

Realização: Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé (Núcleo RJ) e Laboratório de Democratização da Comunicação - Laborcom (Unirio).

E o que o petróleo tem a ver com isto?

Eu tenho insistido que os interesses sobre as reservas do petróleo no Brasil tem um peso importante nos imbróglios políticos da atual conjuntura.

É verdade que os preços melhoraram, mas estacionaram na faixa dos US$ 40, o barril. Porém, tenho dito que estamos em fase de trocas de ciclos, sem que se possa querer entender que os preços possam num intervalo até 2020, voltar ao patamar de entre 2010 e 2014, único na história, em que oscilou sempre acima de US$ 100, o barril.

Só um grave conflito regional poderia devolver, em curto espaço de tempo, o patamar de preço anterior, através da interrupção da produção, numa ou mais nações com grandes reservas. Assim, se pode dizer que o limiar no novo ciclo do petróleo (em 2018) deverá trazer apenas, um certo equilíbrio.

Porém, enquanto isto, mesmo com significativas reduções nas atividades exploratórias, como em todo o mundo, as petrolíferas que aqui atuam seguem se movimentando, ao contrário do que se fala, quase diariamente, na mídia comercial.

Um exemplo desta movimentação é da petroleira estatal, norueguesa, Statoil. Ela informou que vai começar nos próximos meses, as aquisições de bens e serviços, para a segunda fase de produção do campo de Peregrino, que tem início previsto para 2020, localizado na Bacia de Campos.

Revisões dos custos do projeto teriam gerado uma redução de 35% para a fase II do projeto de Peregrino, onde está prevista uma terceira plataforma. A estimativa é a de agregar mais 250 milhões de barris em reservas recuperáveis, no campo que opera (com 60%) em consórcio com a petroleira chinesa Sinochem (com 40%).

A Statoil prevê que com esta redução de custos o preço de equilíbrio (break even) do projeto caia de US$ 70, o barril, para menos de US$ 45 por barril. Como se vê, a fase de baixa do preço do barril de petróleo gera aumento de produtividade, pela redução de custos e contratos impostas pela petroleiras contratantes.

Um outro exemplo de investimentos e de preparação de petroleiras no Brasil, para além do que faz a Shell, após comprar a britânica BG, é o caso da empresa Eneva (ex-MPX do Eike Batista) do setor de geração de energia elétrica.

Com o baque das empresas X, a MPX foi adquirida, mudou de nome para Eneva e passou a ser controlada por fundos de investimentos em consórcio que envolve a alemã E.ON.

Pois bem, nesta segunda-feira, a Eneva comunicou ao mercado, o fechamento de um acordo amplo que envolve sócios da Paranaíba Gás Natural (PGN), a OGX (atual OGPar, petroleira do Eike) e o fundo de investimentos  Cambuhy, que tem entre seus sócios a família Moreira Sales. Com o acordo a Eneva amplia sua leque de atuação, exclusivo de energia elétrica, para se transformar também, numa empresa de exploração de petróleo e gás, que teria ainda, um aumento de capital de R$ 1,15 bilhão.

Em pleno período de violento debate político e disputa pelo poder no país, além da fase de crise com os baixos preços do barril de petróleo em todo o mundo, acordos bilionários e decisões relativas à exploração e produção no setor seguem sendo realizados. Isto quer dizer algo.

Assim também deve ser observado como a crise política abre espeço, por exemplo para o interesse do "impoluto" deputado Eduardo Cunha, ainda presidente da Câmara Federal, em acelerar a tramitação do projeto que pretende acabar com o regime de partilha na exploração de petróleo no país, retornando ao regime de concessão, inadequado para as nações que possuem áreas e campos com altíssimo potencial de reservas de petróleo, como é o caso do nosso pré-sal.

Há diversos outros exemplos sobre esta movimentação que podem nos fazer compreender que há algo no ar (ou no mar), além dos aviões de carreira (ou dos navios militares).

terça-feira, março 29, 2016

Mais um pouco sobre a dimensão geopolítica do golpe que se tenta no Brasil

O artigo do jornalista independente Pepe Escobar, publicado na edição em português do Pravda, traz mais elementos para o entendimento da dimensão geopolítica do golpe que se tenta no momento, no Brasil.

Escobar levanta a questão dos Brics, a situação simiar da Rússia e o esforço para contra as forças políticas que trabalham contra a hegemonia norte-americana e em defesa de uma multipolaridade.

Pepe chama de "Guerra híbrida" este esta pressão sem as forças militares e os canhões. Para isso ele analisa o manual das Forças Especiais que incorporam o conceito de Guerra não Convencional (GNC) dos EUA (2010).

Análise similar faz o geógrafo americano David Harvey, sobre o uso da trama midiático-jurídica para colocar em prática o controle dos estados nacionais que de alguma forma possam caminhar numa linha que não contribua para a manutenção da hegemonia e unipolaridade dos EUA.

Aqui a dimensão geopolítica evidencia uma parte que fica subliminar nos debates mais rasos a luta política pelo poder que usa o moralismo (mesmo que falso) como isca para manipular forças sociais.

Ampliar o conhecimento sobre esta dimensão é indispensável para se definir estratégias de resistência. Assim, eu sugiro a leitura do texto do Pepe Escobar. Sabendo disso, não se pode falar de inocentes úteis e pueris golpistas diante daquilo a que estamos sendo submetidos. Sigamos em frente!

Aqui o link do texto que segue republicado abaixo. Os grufos são do blog:
http://port.pravda.ru/russa/29-03-2016/40680-brasil_russia-0/#sthash.XKiDVLFd.dpuf

"Brasil e Rússia sob ataque de "Guerra Híbrida"
28/3/2016, Pepe Escobar,

"Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada."


As flores do mal [1857], Charles Baudelaire, sem indicação do tradutor*

"Revoluções Coloridas nunca bastariam. O Excepcionalistão vive à procura de grandes atualizações de estratégia capazes de garantir a hegemonia perpétua do Império do Caos.

A matriz ideológica e o modus operandi das revoluções coloridas já são, hoje, assunto de domínio público. Mas não, ainda, o conceito de Guerra Não Convencional (GNC) [orig. Unconventional War (UW).

Essa guerra não convencional apareceu explicada no manual das Forças Especiais para Guerra Não Convencional dos EUA, em 2010. O parágrafo chave é:

"1-1. A intenção dos esforços de GNC dos EUA é explorar vulnerabilidades políticas, militares, econômicos e psicológicos de um poder hostil, mediante o desenvolvimento e sustentação de forças de resistência, para alcançar os objetivos estratégicos dos EUA. (...) Para o futuro previsível, as forças dos EUA se engajarão predominantemente em operações de guerra irregular"

"Hostil" não se aplica apenas a potências militares; qualquer estado que se atreva a desafiar alguma trampa importante para a "ordem" mundial Washington-cêntrica - do Sudão à Argentina -, pode ser declarado "hostil".

Hoje, as ligações perigosas entre Revoluções Coloridas e Guerra Não Convencional já desabrocharam, como Guerra Híbrida: caso pervertido de Flores do Mal. Uma 'revolução colorida' é apenas o primeiro estágio do que, adiante, será convertido em Guerra Híbrida. E Guerra Híbrida pode ser interpretada, na essência, como a teoria-do-caos armada - paixão conceitual dos militares dos EUA ("política é a continuação da guerra por meios linguísticos"). No fundo, meu livro de 2014, Empire of Chaos rastreia as miríades de manifestações desse conceito.

Os detalhados e bem construídos argumentos [de Andrew Koribko, um dos capítulos já traduzidos, e outros em tradução (NTs)] dessa tese em três partes esclarece perfeitamente o objetivo central por trás de uma grande Guerra Híbrida:

"O grande objetivo por trás de toda e qualquer Guerra Híbrida é esfacelar projetos multipolares transnacionais conectivos, mediante conflitos de identidade provocados de fora para dentro (étnicos, religiosos, regionais, políticos, etc.), dentro de um estado de trânsito tomado como alvo."

Os BRICS - palavra/conceito de péssima reputação em Washington e no Eixo de Wall Street - teriam de ser os alvos preferenciais de Guerra Híbrida. Por incontáveis razões, dentre as quais: o movimento na direção de comerciar e negociar em suas próprias respectivas moedas, deixando de lado o dólar norte-americano; a criação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS; o confessado interesse na direção da integração da Eurásia, simbolizada pelos projetos: Novas Rotas da Seda - ou, na terminologia oficial, Um Cinturão, uma Estrada [ing. One Belt, One Road (OBOR)] liderados pela China; e União Econômica Eurasiana (UEE) liderada pela Rússia.

Implica que a Guerra Híbrida mais cedo ou mais tarde atingirá a Ásia Central: o Quirguistão é candidato ideal a laboratório primário para experimentos tipo revolução colorida, do Excepcionalistão.

No estado em que estamos hoje, a Guerra Híbrida está muito ativa nas fronteiras ocidentais da Rússia (Ucrânia) mas ainda é embrionária em Xinjiang, no extremo oeste da China, que Pequim microadministra como falcão. A Guerra Híbrida também já está sendo aplicada para impedir um gambito crucial do Oleogasodutostão: a construção do Ramo Turco. E também será acionada de pleno para interromper a Rota da Seda dos Bálcãs - essencial para os negócios/comércio da China com a Europa Ocidental.

Dado que os BRICS são o único real contrapoder ante o Excepcionalistão, foi preciso desenvolver uma estratégia para cada um dos principais atores. Jogaram tudo contra a Rússia - de sanções à mais total demonização; de ataque contra a moeda russa até uma guerra dos preços do petróleo, que incluiu até algumas (patéticas) tentativas de iniciar uma revolução colorida nas ruas de Moscou.

Para nodo mais fraco no grupo BRICS, teria de ser desenvolvida estratégia mais sutil. O que afinal nos leva até a complexíssima Guerra Híbrida que se vê hoje lançada com o objetivo de conseguir a mais massiva e real desestabilização política/econômica do Brasil.

No Manual dos EUA para Guerra Não Convencional lê-se que fazer balançar as percepções de uma vasta "população média não engajada" é essencial na rota do sucesso, até que esses "não engajados" acabem por voltar-se contra os líderes políticos.

O processo inclui de tudo, de "apoiar grupos insurgentes" (como foi feito na Síria) até implantar "o mais amplo descontentamento, mediante propaganda e esforços políticos e psicológicos para desacreditar o governo" (como no Brasil). E, à medida que uma insurreição vá crescendo, deve-se "intensificar a propaganda e a preparação psicológica da população para a rebelião". Assim, num parágrafo, está pintado o caso do Brasil.

Precisamos de um Saddam para chamar de nosso

O principal objetivo do Excepcionalistão é quase sempre conseguir um mix de revolução colorida e guerra não convencional. Mas a sociedade brasileira e sua vibrante democracia sempre seriam sofisticadas demais para uma abordagem de Guerra Não Convencional hardcore, como sanções ou o conto da "Responsabilidade de Proteger" (R2P).

Não surpreende que São Paulo tenha sido convertido em epicentro da Guerra Híbrida contra o Brasil. São Paulo, o estado mais rico do Brasil, onde está também a capital econômica e financeira da América Latina, é o nodo chave numa estrutura de poder interconectada nacional/internacional.

O sistema da finança global centrado em Wall Street - e que governa virtualmente todo o Ocidente - simplesmente não poderia de modo algum permitir qualquer ação de plena soberania nacional, num ator regional com a importância do Brasil.

A 'Primavera Brasileira", de início, foi virtualmente invisível, fenômeno exclusivamente das mídias sociais - como na Síria, no início de 2011.

Então, em junho de 2013, Edward Snowden vazou aquelas sempre as mesmas práticas de espionagem da Agência de Segurança Nacional dos EUA. No Brasil, a ASN-EUA espionava a Petrobrás por todos os lados. E então, de repente, sem mais nem menos, um juiz regional, Sergio Moro, baseado numa única fonte - depoimento de um corretor clandestino de câmbio no mercado negro ("doleiro") - teve acesso a uma grande lixeira de documentos da Petrobrás. Até agora, a investigação de corrupção que já dura dois anos, "Operação Car Wash", ainda não revelou como conseguiram saber tanto sobre o que os próprios investigadores chamam de "célula criminosa" que agiria dentro da Petrobrás.

O que realmente interessa é que o modus operandi da revolução colorida - a "luta contra a corrupção" e "em defesa da democracia" - já estava posta em andamento. Foi o primeiro passo da Guerra Híbrida.

Assim como o Excepcionalistão inventou terroristas "bons" e terroristas "maus" cujos confrontos criaram a mais terrível confusão e agitações por todo o "Siriaque", no Brasil surgiu a figura do corrupto "bom" e do corrupto "mau".

Wikileaks também revelou como o Excepcionalistão classificava o Brasil como "ameaça à segurança nacional dos EUA", porque poderia projetar um submarino nuclear [esse Wicki-telegrama é de 2009, o mesmo ano do 'curso' que o juiz Moro fez no Rio de Janeiro. Só pode ter sido por acaso (NTs)]; como a empresa construtora Odebrecht estava-se tornando global; como a Petrobrás desenvolvera, a própria empresa, a tecnologia para explorar os depósitos de petróleo do pré-sal (a maior descoberta de petróleo confirmada desse início do século 21, da qual o Big Oil foi excluído por, ninguém mais, ninguém menos, que o presidente Lula.[2]

Adiante, por efeito das revelações de Snowden, o governo Rousseff passou a exigir que todas as agências governamentais usassem empresas de tecnologia estatais, para atender todas as necessidades do governo. Significaria que as empresas norte-americanas do setor perderiam, em dois anos, ganhos já previstos de $35 bilhões, se fossem alijadas dos negócios de tecnologia da 7ª maior economia do mundo - como o grupo Information Technology & Innovation Foundation rapidamente descobriu.

O futuro acontece agora

A marcha na direção de Guerra Híbrida no Brasil pouco tem a ver com direita ou esquerda política. Consiste, basicamente, de mobilizar algumas famílias ricas que realmente governam o país; subornar fatias imensas do Congresso; pôr sob estrito controle as principais empresas de mídia; pôr-se a agir como senhores de engenho de escravos do século 19 (as relações sociais da escravidão ainda permeiam todas as relações na sociedade brasileira); e legitimar a coisa toda com discursos de uma tradição intelectual robusta, mas oca.

Todos esses dariam o sinal para mobilizar as classes médias altas.

O sociólogo Jesse de Souza identificou um fenômeno freudiano de "gratificação de substituição", pelo qual as classes médias altas brasileiras - que, em grandes números vivem agora a exigir mudança de regime - imitam os poucos muito ricos, ao mesmo tempo em que são cruelmente exploradas por eles, mediante montanhas de impostos e taxas de juros estratosféricas.

Os 0,0001% mais ricos e as classes médias altas precisavam de um Outro para demonizar - à moda do Excepcionalistão. E ninguém seria mais perfeito para o complexo judicial-policial-midiático-velhas-elites-comprador, que a figura que tratariam de converter num Saddam Hussein tropical: o ex-presidente Lula.

"Movimentos" de ultradireita financiados pelos nefandos Koch Brothers repentinamente começaram a surgir nas redes sociais e em movimentos de rua. O advogado-geral do Brasil visitou o Império do Caos chefiando uma equipe da "Operação Car Wash para entregar informações da Petrobrás que talvez levassem a uma acusação formal pelo Departamento de Estado.

A "Operação Car Wash" e o - imensamente corrupto - Congresso brasileiro, o mesmo que, agora, vai decidir sobre um possível impeachment da presidenta Rousseff, já se mostram absolutamente indistinguíveis, uma e outro.

Àquela altura, os autores do roteiro estavam certos de que já havia uma infraestrutura implantada para mudança de regime no Brasil na numa massa-crítica antigoverno, o que pode levar ao pleno desabrochar da revolução colorida. E assim se pavimentou a trilha para um golpe soft no Brasil - sem nem ser preciso recorrer ao letal terrorismo urbano (como na Ucrânia).

Problema hoje é que, se o tal golpe soft falhar - como agora já parece pelo menos possível que falhe -, será muito difícil desencadear golpe hard, de estilo Pinochet, com recursos de Guerra Não Convencional, contra o governo sitiado de Rousseff; vale dizer, completar o ciclo de uma Guerra Híbrida Total.

Num plano socioeconômico, a "Operação Car Wash" só seria plenamente "bem-sucedida" se levasse a um afrouxamento das leis brasileiras sobre exploração de petróleo, abertura do país ao Big Oil dos EUA. Paralelamente, todos os gastos em programas sociais teriam de ser esmagados.

Mas, diferente disso, o que se vê agora é a mobilização progressiva da sociedade civil no Brasil contra esse cenário de golpe branco/soft em cenário de golpe/mudança de regime.

Atores crucialmente importantes na sociedade brasileira estão agora firmemente posicionados contra o impeachment da presidenta Rousseff, da Igreja Católica a grandes igrejas evangélicas; professores universitários respeitados; pelo menos 15 governadores de estados; artistas, massas de trabalhadores da 'economia informal', sindicalistas; intelectuais públicos; a grande maioria dos principais advogados do país; e afinal, mas não menos importante, o "Brasil profundo" que votou e elegeu Rousseff legalmente, com 54,5 milhões de votos.

Ainda não acabou e só acabará quando algum homem gordo na Suprema Corte do Brasil cantar. O que é certo é que já há pensadores brasileiros independentes que começam a construir as bases teóricas para estudar a "Operação Car Wash" não como mera 'investigação' ou 'movimento' massivo "contra a corrupção"; mas, isso sim, como legítimo caso exemplar, a ser estudado, de estratégia geopolítica do Excepcionalistão aplicada a ambiente globalizado sofisticado, com ativas redes sociais e dominado pelas TIs.

Todo o mundo em desenvolvimento muito tem a ganhar, se se mantiver com os olhos bem abertos - e aprender as lições que dali brotem, porque é bem possível que o Brasil venha a entrar para a história como caso exemplar de Guerra Híbrida (só) Soft".

segunda-feira, março 28, 2016

Matéria do correspondente do The Guardian no Brasil esclarece a conjuntura de golpe!

Esta matéria entre diversas outras da mídia internacional bypassou o monopólio da Globo e o golpismo da mídia comercial no Brasil. Não se trata de visão colonizada e nem eurocentrada.

A explicação do Glenn Greenwald, correspondente no Brasil do jornal inglês The Guardian e responsável por aquelas matérias sobre do Edward Snowden a respeito da espionagem da Cia e dos EUA ao Brasil, agora expõe com uma clareza e um síntese que pode se considerar perfeita, sobre a atual situação política do Brasil.

A matéria trabalha trabalha as diversas dimensões da conjuntura e dos interesses envolvidos em todo o problema dos desvios e, especialmente, das relações entre o poder econômico e político no Brasil que redundam na trama golpista que envolve o parlamento, a mídia comercial e parte da Justiça.

Esse tipo de matéria vem ajudando a reorientar a luta de resistência a favor do Estado Democrático de Direito no Brasil. Na semana passada Dilma deu longa entrevista aos correspondentes estrangeiros no Brasil. Hoje, foi a vez do Lula fazer o mesmo. A situação dos golpistas fica cada vez mais ridícula e a resistência cresce de uma forma muito inexpressiva e não esperada pelos golpistas. 

Vale tirar um tempo (18 min) e assistir a matéria que está no YouTube. Assim, a hastag vai crescendo e ampliando a sua penetração: ‪#‎NãoVaiTerGolpe‬.

Novas listas da Odebrecht comprovam que esquemas vinham desde 1988

Será que ainda pode haver alguém que acredite que toda a corrupção na Petrobras e nas empreiteiras começou apenas nos governos do PT?

O listão da Odebrecht divulgado na semana passada era apenas uma ponta recente de dinheiro entregue e contabilizado (e usado ou não) nas campanhas eleitorais.

Neste domingo, a TV Globo entrevistou uma funcionária antiga da Odebrecht que voltou a falar de outras listas. As listas estavam amareladas. Tinham datas até de 1988 e mais de 500 diferentes recebedores de dinheiro da empreiteira.

A entrevistada disse que em outubro do ano passado entregou a um deputado do PT e ao Ministério da Justiça que encaminharam à CPI da Petrobras e à Polícia Federal.

Lembram que havia quem dissesse que só agora a Petrobras era sangrada por corruptos, mesmo que diretores de gestões antigas, como Paulo Roberto Costa, indicado por Dorneles do PP, já informasse que o esquema era antigo?

Interessante que mesmo em meio à disputa de posições, estas listas citadas pela entrevista não tenham sido "vazadas" e que até aqui quase um semestre depois estivessem "esquecidas" pelo juiz Moro e por toda a grande equipe da Lava Jato.

Talvez não seja difícil intuir porque a Globo decidiu colocar a entrevista no ar, em uma matéria do Fantástico.

A emissora voltou a omitir todos os nomes citados, apenas dizendo se tratar de ex-ministros, ex-governadores, ex-prefeitos, ex-senadores e ex-deputados. Sendo que todos já estão livres de qualquer arguição ou investigação por prescrição dos prazos.

É bom lembrar que na época não havia autorização (a não ser que esteja enganado) para financiamento empresarial de campanhas eleitorais. Que me recorde, nem controle por parte da Justiça Eleitoral havia, muito menos prestação de contas de campanha. Ainda assim, os nomes foram todos omitidos.

Abaixo a matéria sobre o assunto que o Valor Online acaba de disponibilizar em seu site.

Repetirei aqui o que tenho dito. É preciso melhorar a política. Não está ficando pedra sob pedra.

E diante de todas estas constatações, não há porque engendrar um golpe para trocar o poder de mãos, tirando a detentora de um mandato, conferido pelo votos obtidos nas urnas - e que propiciou em seu governo as condições para que tudo isso pudesse ser investigado e apurado, e sem nada ter contra si - por outros, envolvidos nos esquemas que se apresentam como falsos moralistas. Pior num processo de impedimento sem base legal, presidido por um comprovado achacador como o deputado Eduardo Cunha.

A população mesmo que atordoada com as baterias movidas pela trama parlamentar-midiático-jurídica contra um único grupo (partido) político já tem bases para compreender mais amplamente tudo o que se passou.

Mais que nunca, eu não creio (já não acreditava antes) que se quisessem que este quadro fosse descortinado. Querem apenas o poder político para em suas várias dimensões favorecer os poucos de sempre, tanto no plano interno, quanto externo pelos interesses geopolíticos de nação líder regional, articuladora dos Brics e com as imensas reservas do pré-sal.

O Estado Democrático de Direito tem que ser preservado.‪#‎NãoVaiTerGolpe‬!

Enfim, confiram a matéria do Valor Online:

Pagar propina era prática antiga na Odebrecht, diz ex-funcionária

Ex-funcionária do departamento financeiro da Odebrecht, Conceição Andrade afirmou em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo, que o pagamento de propinas era uma prática antiga na empreiteira. Conceição, que trabalhou por 11 anos na empresa, disse ter uma lista, referente ao ano de 1988, com mais de 500 nomes, entre eles os de ex-ministros, ex-governadores, ex-prefeitos, senadores e deputados, relacionados a obras em que supostamente houve pagamento de propina.

Não há comprovação de que se trata de propina e de que os políticos listados, cujos nomes não foram divulgados, cometeram ilegalidade. À TV Globo, a PF afirmou que, se for comprovada sua autenticidade, os documentos serão incorporados ao banco de dados da Operação Lava-Jato, que apura um esquema de corrupção bilionário na Petrobras, mas que provavelmente ninguém poderá ser processado, porque esses crimes, que teriam ocorrido na década de 1980, já estariam prescritos.

Segundo o “Fantástico”, em setembro de 2015, Conceição entregou o documento ao deputado federal Jorge Solla (PT-BA), que a repassou à CPI da Petrobras. O parlamentar entregou os papéis ao Ministério da Justiça, que posteriormente os encaminhou à Polícia Federal. Por fim, a PF enviou as supostas provas de propina à Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, no Paraná, porque seriam de interesse da Lava-Jato.

Nesta semana, a força-tarefa da Lava-Jato apreendeu outras listas de doações feitas pelo Grupo Odebrecht com pelo menos 284 políticos. As planilhas com supostos repasses estavam com Benedicto Barbosa Silva Júnior, presidente da Odebrecht Infraestrutura.

Na quarta-feira, o juiz Sérgio Moro decretou sigilo sobre o processo ao qual foram juntadas os arquivos, que devem ser encaminhados ao Supremo Tribunal Federal (STF). Não é possível afirmar se as doações foram feitas legalmente ou por meio de caixa dois.

domingo, março 27, 2016

Retomando as utopias em meio à diversidade

Em épocas de travessias, como a atual conjuntura política no Brasil, recorrer ao conhecimento adquirido pelas nossas civilizações é sempre uma forma de tentar aprofundar na leitura deste fenômeno, buscando uma melhor forma de intervir.

Para além das disputas de poder e representação política e do uso de interpretações abstratas e subjetivas, do arcabouço jurídico político existente, os tempos da atual modernidade líquida, para além do Brasil, tem propiciado o esgarçamento da convivência real entre os humanos. Mas não deve ser encarado como o fim.

Civilizações e culturas são questionadas em nome de supremacias e hegemonias. Os riscos da barbárie são sempre lembrados. Tentam nos fazer crer que as utopias desapareceram, diante do pragmatismo dos interesses reais e imediatos.

Outros se abraçaram às utopias não humanistas, a naturalista, ou a pós-humanista, a partir das questões postas pelo conceito de "choque de civilizações", descrito por Huntington.

Em meio a tudo isto, me parece que a ideia da utopia parece mais potente que antes. Utopia em meio à dinâmica dos movimentos e dos conflitos sociais inter e intranacionais.

Os conflitos estão (ou seguem em toda a parte) e parecem ser sinais de que a energia segue dinâmica na busca para reduzir desigualdades e assumir diversidades. Ao contrário do que se imagina, os conflitos não se anulam, eles tendem a avançar para um novo patamar.

Porém o movimento não é natural e nem decorre da inércia. Este movimento continua sendo produzido pelos homens, pelas culturas e pelas civilizações.

Não há nada que possa nos evidenciar que se caminha para a unificação das civilizações e das culturas, mesmo que a luta por hegemonias e pelo poder unilateral, siga ainda com mais força.

Aí parece estar a grande questão. A convivência entre as diversidades. A civilização é a possibilidade de uma cultura conviver com outra cultura, com a diversidade.

O filósofo francês Fausto Wolf lembra que o bárbaro considera que tudo que não é igual a ele, não é humano. E assim, a barbárie seria o outro a ser destruído.

Wolf gosta de recordar aquilo que chama como o grande momento da civilização européia, o do século X, na região ao sul da Espanha, na Andaluzia.

Na ocasião três culturas, a judaica, muçulmana e a cristã conviveram em diversidade. Ele considera que este foi um grande momento da civilização, com mestiçagem cultural, mas, ao mesmo tempo, um momento de criação literária e musical muito grande, tudo construído na possibilidade do diálogo.

Wolf faz ainda questão de separar conceitualmente as noções de cultura e de civilização. Em sua interpretação, elas não se colocam no mesmo nível. A "civilização seria, meramente, a possibilidade da existência da diversidade de culturas".

Em meio a esta reflexões, num domingo de Páscoa, originário de uma das culturas, a cristã, eu entendo que seja uma oportunidade de reforçar a retomada do ideário da utopia humanista, de luta pela igualdade, em meio às diversidades.

Mais que isto, há que se lutar contra a barbárie e contra o desejo de aniquilamento do que é diverso, seja em termos de cultura, ou mesmo da política, na busca pelo domínio do poder de representar.

O diverso não é o bárbaro, mas também não pode ser nem exclusivo e muito menos superior. Nesta linha devemos ampliar a luta contra o fascismo, doença civilizacional, não erradicada e que demanda novo mutirão de vacina, nas ruas, casas e praças.

No caso do Brasil há ainda que se lutar pelo Estado Democrático de Direito, sem o qual regrediremos. Bom domingo a todas e todos!

Prejuízo da Prumo (controladora do Porto do Açu) em 2015 é 4 x maior do que em 2014

A holding Prumo Logística Global S.A., que controla o Porto do Açu, anunciou, nesta última quinta-feira, um prejuízo líquido em 2015, de R$ 216,8 milhões. Trata-se de um prejuízo 4,5 vezes maior do que o de R$ 47,6 milhões contabilizado em 2014

No mesmo comunicado a Prumo informou que a receita líquida da Prumo em 2015 foi 41% maior do que em 2014 (R$ 71,9 milhões), alcançando o valor de R$ 101,5 milhões.

A Prumo também afirmou que em 2015 fez investimentos de R$ 1,3 bilhão no Porto do Açu. Segundo a empresa, somando o investimento realizado desde 2007, o valor chega um total aplicado de R$ 10 bilhões, divididos em: R$ 6,3 bilhões na Porto do Açu Operações (subsidiária da Prumo Logística), e R$ 3,7 bilhões pela Ferroport (joint venture formada pela Prumo e a Anglo American).

A Prumo diz ainda que espera resultados melhores em 2016, especialmente, com dois novos contratos:

1) Terminal de Petróleo (TOil) a ser operado pela empresa alemã Oiltanking que fechou contrato com a BG (Shell) que prevê a realização de serviços de transbordo de petróleo no Terminal de Petróleo (T-OIL). A operação prevê a movimentação de 200 mil barris por dia. O terminal com 20,5 metros de profundidade – com expansão para até 25 metros – tem capacidade já licenciada para movimentar 1,2 milhão de barris por dia e previsão para começar a operar em maio deste ano.

Terminal 2 do Porto do Açu: base da Edison Chouest, com Technip ao fundo 
2) Início no próximo mês de abril da operação da base portuária da Edison Chouest contratada pela Petrobras. A base em construção tem uma área lugada à Prumo de 597 mil m², cais com extensão de 1.030 km de cais e 16 berços para atracação.

A Prumo afirma ainda em seu relatório que o Porto do Açu em 2015 iniciou um novo negócio com o recebimento de equipamentos de exploração de petróleo offshore para manutenção. Assim, citou o caso da atracação no Terminal 2, da sonda de perfuração semissubmersível de águas profundas ODN Tay IV, que pertence a Odebrecht Óleo e Gás (OOG). Segundo as estatísticas de 2015 da Prumo, o Porto do Açu recebeu mais de 200 embarcações e realizou mais de 60 operações de minério de ferro.

sábado, março 26, 2016

Dia 31 em Campos: Vem para a democracia. Todos contra o golpe!

Alexis Sardinha, um dos membros da Frente Popular em Campos dos Goytacazes enviou ao blog o convite, que já corre nas redes sociais convocando para a manifestação que acontecerá em todo o Brasil, na quinta-feira, dia 31/03. A mobilização e organização cresceu enormemente nos últimos dias em todos os estados.

Em Campos, o ato está marcado para as 17 horas na Praça São Salvador. O evento foi definido na reunião de formação da Frente Popular em Campos que ocorreu na última quarta-feira. O blog reforça seu apoio ao movimento em defesa do Estado Democrático e de Direito.

# Não vai ter golpe!


sexta-feira, março 25, 2016

AIE prevê novo choque de petróleo por conta do atual corte de investimentos: o que isto tem a ver com o Brasil?

A Agência Internacional de Energia (AIE) anunciou, nesta última terça-feira, através do seu diretor da divisão de indústria do petróleo e mercados, Neil Atkinson, em um evento sobre o setor de petróleo, na Cingapura, que "os cortes históricos nos investimentos em petróleo produzem chances de surpresas em segurança em petróleo, para um futuro não muito distante".

Atkinson afirmou ainda, em matéria na Bloomberg que seriam necessários aproximadamente US$ 300 bilhões para sustentar o atual nível de produção. Para ele, países como os EUA, Canadá, Brasil e México estão enfrentando dificuldades para manter os investimentos.

A AIE também disse que se em 2017 e 2018 os investimentos continuarem reprimidos teremos um "novo choque do petróleo para breve".

Neill Atkinson disse ainda que as petroleiras entre elas, a Shell, BP, Conocco Philips, já cancelaram mais de US$ 100 bilhões em investimentos. Ontem foi o caso da PetroChina, a maior petrolífera da China em produção que informou cortes nos gastos de capital em 5% neste ano, caindo para US$ 30 bilhões.

Menos investimentos, em exploração, significam menos reservas provadas e menos campos e poços preparados para produzir. Assim, o atual excesso de produção, que atende com sobras a demanda crescente de petróleo (mesmo que em ritmo menor, por conta da economia mundial), quando desfeita poderá gerar, em nova fase do boom, outro ciclo do petróleo levando a um novo choque.

Entender um pouco deste processo é se aproximar da análise da dimensão geopolítica de diversos embates intranacionais e interregionais, mundo afora.

O Brasil como detentor, desde 2008, de seis das dez maiores reservas descobertas no mundo neste período (Franco, Libra, Iara, Sapinhoá, Carcará e Júpiter) evidentemente sofre pressões e interesses geopolíticos que aparecem refletidos e escamoteadas em questões menos substantivas.

Negar esta evidente realidade é trabalhar de forma deliberada e nada ingênua, com estes interesses, que em nada refletem os interesses da Nação e do povo brasileiro. Por isto, eles têm pressa. O novo ciclo do petróleo já é possível ser visto no horizonte.

De onde ressurge e amplia o fascismo na atual conjuntura política do Brasil?

Eu tenho me feito esta pergunta com alguma frequência. Alguns reportam a uma sintonia com movimentos similares em outros países.

Entendo, mas me parece que há algo para além disso e com cara brasileira. Assim, eu percebo que em conjunturas anteriores, estas ações, nesta linha de ódio, junto com a ideia de "higienização" e assepsia, sempre foram sendo enfrentadas em seu próprio nascedouro e, nunca tiveram muito espaços para evoluir, como se vê agora.

Acho bobagem atribuir isto e "lideranças" que por décadas tentaram bater bumbo nesta linha, como o tal Bolsonaro. Ele apenas é receptáculo deste processo e não sua causa.

O nazi-fascismo alemão não chegou onde chegou sem um imenso poder de comunicação. Esta comunicação foi engendrada a partir de uma construção mental simbólica, na linha da assepsia de tudo que era ruim e que deveria ser extirpado.

Sem este imenso poder de comunicação, a perigosa ideia de assepsia seria natimorta.

A fervura que ajudou na sua evolução possuía bases iniciais de uma disputa de poder local, nacional, como outras, mas derivou em meio às idiossincrasias do embate da luta política real (e no espaço local, como todas) para o campo das intenções simbólicas, inicialmente, não verbalizadas, mas presentes.

Ninguém nasce fascista, mas as pessoas se tornam fascistas por decorrência dos conflitos sociais e da disputa de poder na sociedade.

Liquidar os contra para limpar a sociedade de tudo e todos era ideia simples, que elimina as explicações complexas de como funciona a se estrutura a sociedade. Assim, ela era facilmente enfrentada e ampliada através da comunicação de massa.

É neste contexto que eu arrisco interpretar que o monopólio da comunicação existente no Brasil foi se enredando, em meio à disputa pelo poder político nacional.

A repetição à exaustão como se fosse diariamente um programa eleitoral gratuito de um único lado, que mostra os pontos altos de sua versão, ouvindo seus melhores ideólogos e, para ainda mostrar uma neutralidade, coloca no ar pequenos trechos das falas contrárias, só que em seus piores e desfocados argumentos, dentro da narrativa editorial milimetricamente estudada.

A agressão ao bispo Dom Odilo Scherer e ao ministro do STF Teori são apenas a parte visível do ódio latente articulado no poder simbólico (Bourdieu) do processo. Não. A Globo não propõe a violência explicitamente. Ao inverso ela fala o contrário, daquilo que induz freudianamente.

Como eu disse ontem, em meu perfil no Facebook, ao sugerir e comentar uma análise do Paulo Nogueira (no seu blog Diário do Centro do Mundo) sobre como a Globo foi se enredando neste processo que inicialmente era apenas para tirar o PT e colocar um dos seus, para salvar o império oligopólico de comunicações.

Porém, paulatinamente, como ocorreu com o nazi-fascismo, o jogo foi se transformando numa disputa de vida ou morte.

Assim, o ódio melhor expresso pela "waakanização" do personagem pego nos esquemas denunciados pelo wikileaks de repasse de informações, avançou na linha do carreirismo bem pago, para o processo de "kamelização", misturado a oportunismo, que está ajudando a engendrar uma estrutura mental que traz a ideia de "higienização" e de "assepsia" similar ao esquema do fascismo.

Não se trata mais de uma polarização de disputa pelo pode, que já seria estranho quando travado por uma empresa contra um governo ou partido e não por duas propostas políticas apresentadas por partidos políticos.

A disputa nas ruas e nas redes sociais na última semana mostram de formam evidente que o duelo (sim duelo) se dá entre a Globo contra o governo, um partido e os movimentos sociais que o apoiam.

Este embate nos demonstra de forma evidente os furos, hiatos e os vícios de nosso arcabouço jurídico-político que ainda permite estas excrecências.

Em momentos como este, reclamar da polarização (alguns simplificam chamando de Fla x Flu) não ajuda a lutar por saídas, porque tende a responsabilizar a todos, como se as causas, fossem iguais em extensão e em conteúdo. Não. Os excessos precisam ser controlados sim, mas também a direção dos movimentos.

Hoje, mais do que defender os partidos e seus líderes, agora a causa remete à Defesa da Democracia e do Estado de Direito, contra o Estado de Exceção.

Necessitamos de Mais Democracia, menos intolerância, mais inclusão, menos desigualdades. Só essa luta barra o fascismo e o Estado de Exceção.

Sigamos em frente!

quinta-feira, março 24, 2016

Parcela dos royalties para os municípios caem ainda mais em março: percentuais de queda entre fevereiro e março ficam entre 16,8% e 29,9%

A Agência Nacional de Petróleo (ANP) divulgou o valor das quota mensais de royalties a serem pagas aos municípios, referentes ao mês de março, pela produção do mês de janeiro. Os valores são os menores desde o ano de 2002, apenas quatro anos depois da nova Lei do Petróleo.

O blog publica abaixo a tabela elaborada pela Superintendência de Petróleo da Prefeitura de São João da Barra e encaminhada ao blog. O blog dividiu a tabela em duas. Na primeira (acima - clique sobre ela para ver em tamanho maior) ela faz um levantamento dos valores pagos da quotas mensais nos últimos doze meses a 18 municípios fluminenses.

Na tabela a seguir (ao lado) são mostrados apenas os valores da quotas de fevereiro e março de 2016, para estes mesmos 18 municípios, assim como a variação percentual entre os valores destas duas últimas quotas pagas.

Percentualmente, a maior perda de 29,9% foi para o município de Quissamã que desceu da receita de R$ 3,9 milhões em fevereiro de 2016, para R$ 2,7 milhões mensais, agora. em março de 2016.

Em termos de valores absolutos a maior perda é do município de Campos dos Goytacazes que perde R$ 6,4 milhões por mês, saindo de R$ 25,7 milhões em fevereiro, para R$ 19,3 milhões em março. A seguir vem Macaé que sai da quota mensal em fevereiro de R$ 24,4 milhões para R$ 18,5 milhões, com uma perda, entre fevereiro e março de 2016, de R$ 5,9 milhões.

Em termos percentuais a menor perda é do município de São João da Barra com 16,8%, recebendo agora em março o valor de R$ 5 milhões, contra R$ 6 milhões em fevereiro.

Esta redução é resultado no geral da redução da produção em alguns poços/campos da Bacia de Campos ( o aumento no geral é no pré-sal da Bacia de Santos) e também, e especialmente, aos baixos preços do petróleo, que teve o seus menores patamares, entre janeiro e fevereiro deste ano.

Para o superintendente de Petróleo da PMSJB, Wellington Abreu que enviou a tabulação ao blog "a queda menos acentuada para São João da Barra foi decorrente da retomada de produção do Campo Frade, operado pela Chevron e também a constante produção em alta do Campo de Roncador".

Como era esperado, o cinto continua se apertando para os municípios fluminenses que possuem maior dependência dos recursos dos royalties do petróleo, nesta fase de baixa do ciclo petro-econômico. 

Pelo cenário, um novo ciclo não deverá elevar antes de 2020, o preço do barril aos patamares que tivemos entre os anos de 2010 e 2014, sempre acima de US$ 100, o barril, que foi o maior período de tempo da história com tão elevados preços. 

Hoje, já se começa a avaliar que o novo normal do petróleo deverá ficar até o final deste ano, em torno de US$ 40, o barril. Agora às 16:50 horas, o preço do barril de petróleo, tipo brent está cotado a exatos: US$ 40,45. A conferir!

PS.: Atualizado às 21:34: Corrigido a redação truncada do primeiro parágrafo: "A Agência Nacional de Petróleo (ANP) divulgou o valor das quotas mensais de royalties a serem pagas aos municípios referentes ao mês de março, pela produção do mês de janeiro. Os valores são os menores desde o ano de 2002, apenas quatro anos depois da nova Lei do Petróleo."

Estácio S.A. 2015: lucro líquido de R$ 484 milhões; Grupo Kroton: R$ 1 bilhão

Apesar da "crise" e da redução do Fies (o financiamento estudantil de nível superior), os grandes grupos que controlam inúmeros campi de universidades privadas, aumentaram o número de alunos e também seus lucros líquidos.

Mais uma vez o blog volta a acompanhar a ampliação das universidades S.A.

Já fizemos isto nos anos anteriores. Relatório de 2014 publicado em 2015 ver aqui. Relatório de 2013, publicado em 2014 ver aqui. Relatório de 2010, publicado em 2011 ver aqui.

No Relatório de Administração da Estácio S.A. publicado no último dia 13 de março de 2016, sobre o exercício de 2015 no Valor, P. C9 - C16 foi possível registrar:

1) Apesar da crise em 2015, o número de alunos e matrículas  cresceu 15,4% e atingiu a 502,8 mil alunos. Sendo que o número de matrículas no ensino presencial de 358,2 mil estudantes. Em EaD (Educação à Distância) cresceu 12,4% e atingiu a 133,2 mil matrículas, mais 11,4 de alunos vindo de novas aquisições de faculdades feitas pela Estácio nos últimos meses.

Em 2014, o número de alunos total da Estácio S.A. era de 437 mil matrículas.

2) A Receita operacional líquida foi de R$ 2,939 bilhões. O lucro líquido cresceu 13,9% para o volume de R$ 484,7 milhões (meio bilhão), já que em 2014 tinha sido de R$ 425 milhões. Ou seja, um lucro líquido anual de R$ 964 por aluno.

3) O total de trabalhadores fechou 2015 com 15.475 trabalhadores, sendo 9.903 docentes e 5.572 em áreas administrativa.

Em 2014, o número total de trabalhadores era de 14.192. Em número absolutos, 1.283 trabalhadores a mais em 2015. O número de docentes subiu de 9,025 em 2014 para 9.903 professores. Um aumento de 878 docentes para dar conta de mais 65, 8 mil matrículas. Ou seja, a elação número de alunos por professor subiu de 48,4 para 51 estudantes por professor. Uma média absurdamente alta.


Resultados e lucros da Kroton
Outro grande grupo que controla instituições de ensino superior no Brasil é Kroton Educacional que nasceu a partir do Curso Pitágoras em Minas Gerais. Em julho de 2014, a Kroton se tornou a maior empresa brasileira no segmento de ensino superior para o número de alunos e de receita, a partir da fusão com a paulista Anhanguera Educacional. Assim como a Estácio de Sá, A kroton tornou-se uma empresa de capital aberto com ações comercializadas na Bolsa de Valores.

Em seu relatório de 2015, a Kroton informou que aumentou em 39,5% sua receita e que foi para R$ 5,2 bilhões e no mesmo percentual o seu lucro líquido que chegou a R$ 1,4 bilhão. Segundo a Kroton ela fechou o ano com pouco mais de 1 milhão de alunos, o que representa um aumento de 3,7% em relação a 2014. Em EaD a Kroton disse que vai aumentar seu número de polos de 678 para 910 até o final do ano.

O blog já comentou nos anos anteriores, que o número crescente de matrículas em aulas presenciais ou em EaD não é acompanhado do desenvolvimento de pesquisas e extensão, o que permite aos acionistas e donos o aumento de lucros líquidos, que se torna a intenção básica da empresa. Hoje, os dois grupos chegam a terceirizar a outras prestadoras de serviços a captação de alunos que gera um faturamento extraordinário.

quarta-feira, março 23, 2016

Novos ares!

Há sinais evidentes de que novos ares já começam a ser respirados. A coragem pela defesa da Democracia está mexendo com muita gente, comunidades, associações e instituições.

As ruas ganharam um novo significado. Mesmo que fosse antes impensável a necessidade de novamente retomar a defesa da Legalidade, isto está agora posto para todo o povo.

Nas redes sociais vejo que com trabalhadores entendem os apelos dos sindicatos e se mobilizam. Hoje, na Ford, no ABC paulista, uma assembleia com 4 mil operários decidiu lutar pela Democracia e por mais direitos. Movimentos de bairros, a Central de Favelas, etc. se multiplicam, assim como manifestos e atos nas universidades e organizações classistas.

Alguns bem-intencionados que estavam incomodados com as notícias editadas e pautadas por um único viés, começam a mudar de posição. Perceberam que estavam sendo usados e manipulados.

A posição da Cepal, mais a da OEA, assim como as análises das mídias estrangeiras (Reino Unido, Espanha, Alemanha, EUA) mesmo que vinculadas ainda a interesses comerciais, trouxeram à tona uma interpretação diversa daquela patrocinada pela mídia comercial brasileira.

A ânsia por participar e defender tudo o que foi conquistado avança e parece superar o movimento golpista dos falsos moralistas. Eles não querem corrigir os desvios do sistema político. 

A lista de financiamento eleitoral hoje vazada (depois de um mês segurada por Moro) mostra o falso moralismo dos que não têm moral. Querem o poder e mais que isto, querem impedir que as investigações peguem e punam quem merece ser punido. 

Abandonaram o debate sobre o financiamento eleitoral, porque queriam com ajuda da mídia e de uma parte do judiciário, criminalizar um único partido, se aproveitando da conjuntura econômica adversa. Não aceitam o resultados das urnas.

Alguém disse e eu concordo que o movimento de resistência já supera a capacidade de organização. Ele é maior e mais amplo. Isto mostra uma força e uma politização que temíamos que tivesse se fragmentado em meio à fase de boom do ciclo econômico.

A batalha não está ganha e nem muito menos a guerra. Porém, em meio ao enfrentamento ainda em urso, é preciso reconhecer o tamanho da resistência e o significado político desta nova conjuntura que ainda necessita de mais debates, mais articulação em favor da construção de Mais Democracia, Mais Inclusão e Direitos Sociais. A Frente Popular tem papel relevante e suprapartidário nesta avanço.

Sigamos em frente!

terça-feira, março 22, 2016

Outro lado sobre os resultados da Petrobrás em 2015

A notícia do resultado da Petrobras sobre o exercício 2015 é ruim, mas não pode ser interpretada isoladamente, como fazem os "colonistas" econômicos ligados aos setores de investimentos dos bancos.

A baixa dos ativos e investimentos (impairment) de R$ 44,6 bilhões, maior que o valor do prejuízo anunciado de R$ 34,8 bilhões, mostra que a parte operacional segue bem, apesar do mercado do setor de petróleo ter sido o mais tumultuado de todos os ciclos de petróleo até aqui. As demais petroleiras mundo afora, também anunciam resultados ruins, como já era de se esperar.

Porém, há notícias boas no meio da tentativas de desvalorização da empresa, para além do que a fase de baixos preços produz, junto com as consequências da Operação Lava Jato.

O endividamento hoje em 2015, era menor do que em 2014. A empresa fechou 2015 com R$ 100,8 bilhões em caixa. E por último, mais uma informação que ratifica o enorme potencias das reservas do pré-sal: foi encontrada a maior coluna de óleo descoberta pelo consórcio que opera o campo de Libra, que tem 301 metros de espessura com óleo do poço conhecido como NW5 que é de "elevada qualidade".

Nesta fase do "ciclo petro-econômico" que já dura quase dois anos, não há nada fora do contexto. Há sim, interesses econômicos agindo em direção às potencialidades das reservas petrolíferas que o Brasil possui. Assim, fragilizar a Petrobras é parte da estratégia para ampliar o acesso às áreas que hoje a estatal comanda.

O acesso às nossas reservas, a absorção de setores da Petrobras e o rompimento do Brasil com os BRICS, para um alinhamento completo, exclusivo e dependente dos EUA, são as questões na dimensão geopolítica, que explicam o movimento golpista hoje, no país.

PS.: Atualizado às 15:10 de 25/03/2016:
Ainda sobre o assunto é oportuno conhecer a opinião sobre o assessor legislativo e ex-funcionário da Petrobrás Paulo César Ribeiro Lima sobre os resultados da Petrobras de 201. Ele considerou "exagerada a baixa contábil (impairment) de R$ 49,748 bilhões, sendo que R$ 36,184 bilhões referem-se a campos de produção. Para Ribeiro Lima, o valor contábil referente aos campos de produção da Petrobras é subestimado, uma vez que as reservas, bens da União, não podem ser contabilizadas no ativo da empresa, ao contrário do que sugere o Relatório divulgado nesta segunda-feira (21)".

Campos como Sapinhoá, Lula e Búzios, localizados na província do Pré-Sal, são ativos cujo valor real não está nem pode ser registrado no ativo contábil. Assim sendo, essa baixa contábil de R$ 36,184 bilhões não faz o menor sentido, pois poderia ser mais que compensada pela “valorização contábil” de outros campos. Conclui-se, então, que a Petrobrás poderia ter apresentado lucro, em vez de prejuízo, no ano de 2015”.

segunda-feira, março 21, 2016

"Simulacro e poder: uma análise da mídia", por Marilena Chauí em “A ideologia da competência”

O artigo “Mídia empresarial e a corrosão dos valoresdemocráticos” de autoria do professor Gaudêncio Frigotto que publicamos aqui neste espaço, avança na direção da compreensão de como a mídia comercial vai se transformando em partido político, escamoteando seus interesses.

O tema merece ser aprofundado para além das merecidas denúncias da falsa neutralidade e moralismo que lançam reações crescentes na sociedade brasileira.

Na manifestação da última sexta-feira (18/03) no Rio de Janeiro, ficou evidente que esta percepção ganhou nitidez e clareza entre as pessoas que foram à Praça XV para defender o estado democrático e de direito.

Entre 80% e 90% das faixas e cartazes individuais e/ou de instituições e associações eram contra o monopólio da mídia comercial e sua sanha golpista.

No mesmo ato, eu ouvi de uma importante liderança sindical brasileira, que ele não tem dúvidas que a mídia alternativa e independente foram a força fundamental para impedir até aqui o golpe midiático-jurídico armado pelas elites. Ele deu destaque especial aos blogs. Eu detalho e enfatizo que os blogs dos jornalistas que optaram sair, ou dividir suas atuações profissionais com a militância digital, fazendo jornalismo sério e, em contraponto à dos donos da mídia comercial que noticiam a versão que interessa aos seus negócios.

É nesta linha que julgo que o tema mereça ser aprofundado. Assim, me recordei de um dos capítulos do livro “A ideologia da competência” da professora e filósofa Marilena Chauí.

O livro reúne textos que questionam a origem e o sentido da ideologia da competência e no conjunto faz uma interessantíssima crítica a esta que remete a um surrado discurso da meritocracia que renasce nestes tempos estranhos.

O capítulo mais longo do livro editado em 2014, pela Autêntica Editora, é o que trata do “simulacro e poder: uma análise da mídia”.

Chauí, abre o capítulo recordando que “simulacrum, palavra de origem latina deriva de similis que significa “o semelhante”. De símilis vem o verbo simulare, que significa “representar exatamente”, “copiar, ou “tomar aparência de”; este último sentido leva o verbo a significar também “fingir”, “simular”. Ou seja, simulacrum pode significar uma representação ou cópia exata de alguma coisa percebida ou o oposto disso, isto é um fingimento, uma simulação”... (P.121)

Chauí adiante diz que “simulacrum é a imagem por representação (pintura, escultura, imagem no espelho, música). Em outras palavras, o simulacro é um duplo, porque é a imagem de uma coisa percebida. Por meio dele, passamos da percepção de uma coisa à representação ou à sua reprodução”. (P.121). A professora da USP traz ainda os filósofos, o grego Epicuro e o latino Lucrécio que afirmam que todo conhecimento é sensação e composição de sensações. (P.122)

Estas breves passagens servem para sugerir a leitura deste texto da Marilena Chauí. Ele nos oferece pistas para melhor compreender, e talvez desocultar o real, entre imagens e representações que nos são oferecidas pela mídia-partido diuturnamente.

Porém, antes de fechar vou transcrever três parágrafos seguidos (P.187 e 188) deste mesmo capítulo, por considera-los importantes para a compreensão da trama que envolve ainda parte do judiciário, que se considera portadora de uma meritocracia resumida na ideologia da competência:

A ideologia da competência pode ser resumida da seguinte maneira: não é qualquer um que pode em qualquer lugar e em qualquer ocasião dizer qualquer coisa a qualquer outro. O discurso competente determina de antemão quem tem o direito de falar e quem deve ouvir, assim como predetermina os lugares e as circunstâncias em que é permitido falar e ouvir, e, finalmente, define previamente a forma e o conteúdo do que deve ser dito e precisa ser ouvido. Essas distinções têm como fundamento uma distinção principal, aquela que divide socialmente os detentores de um saber ou de um conhecimento (científico, técnico, religioso, político, artístico), que podem falar e têm o direito de mandar e comandar, e os desprovidos de saber, que devem ouvir e obedecer. Em uma palavra, a ideologia da competência institui a divisão social entre os competentes, que sabem, e os incompetentes, que obedecem”.

Enquanto discurso do conhecimento, essa ideologia opera com a figura do especialista. Os meios de comunicação não só se alimentam dessa figura, mas também não cessam de instituí-la como sujeito da comunicação. O especialista competente é aquele que, no rádio, na TV, na revista, no jornal ou na multimídia, divulga saberes, falando das últimas descobertas da ciência ou nos ensinando, por exemplo, à maneira do resenhista, como escrever um livro ou artigo. O especialista competente nos ensina a bem fazer sexo, jardinagem, culinária, educação das crianças, decoração da casa, a ter boas maneiras, a usar roupas apropriadas em horas e locais apropriados, como amar Jesus e ganhar o céu, meditação espiritual, como ter um corpo juvenil e saudável, como ganhar dinheiro e subir na vida. O principal especialista, porém, não se confunde com nenhum dos anteriores, mas é uma espécie de síntese, construída a partir das figuras precedentes: é aquele que explica e interpreta as notícias e os acontecimentos econômicos, sociais, políticos, culturais, religiosos e esportivos, aquele que devassa, eleva e rebaixa entrevistados, zomba, premia e pune calouros – em suma, o “formador de opinião” e o “comunicador”.  Ideologicamente, portanto, o poder da comunicação de massa não é igual ou semelhante ao da antiga ideologia burguesa, que realizava uma inculcação de valores e ideias. Dizendo-nos o que devemos pensar, sentir, falar e fazer, afirma que nada sabemos, e seu poder se realiza como intimidação social e cultural”.

Todavia, é preciso compreender o que torna possível essa intimidação e a eficácia da operação dos especialistas, é de um lado a presença cotidiana (explícita ou difusa), em todas as esferas de nossa existência, da competência como forma que confere sentido racional às divisões, assimetrias, desigualdades e hierarquias sociais – em suma, a interiorização da ideologia pela sociedade; e de outro, sua manifestação reiterada e perfeita na estrutura dos meios de comunicação, que, por meio do aparato tecnológico, da atopia e da anacronia, e dos procedimentos de encenação e de persuasão, aparecem com a capacidade mágica de fazer acontecer o mundo. Ora, essa capacidade é a competência suprema, a forma máxima do poder: o de criar a realidade. E esse poder é ainda maior (igualando-se ao divino) quando, graças a instrumentos técnico-científicos, essa realidade é virtual ou a virtualidade é real. O poder ideológico-político se realiza como produção de simulacros”.

Penso que a clareza da exposição de Chauí posta à prova diante da realidade que vivemos, nos traz luz para melhor compreender o fenômeno que a que estamos submetidos, com a anomalia do protagonismo da mídia comercial, atuando como partido político, escondendo seus interesses e dissimulando, ou falseando uma neutralidade.


Uma melhor interpretação deste fenômeno nos oferecem alternativas para compreender e dar direção às estratégias de resistência e potência às nossas ações e lutas, de forma complementar e dialética, como são a vida e a política. 

domingo, março 20, 2016

Itaperuna como pólo tem mais matrículas per capita no Ensino Superior na região

O município de Itaperuna vem se consolidando como polo de ensino superior entre as regiões Norte, Noroeste e Baixada Litorânea no interior fluminense. Itaperuna com 99.021 habitantes (2015) possui um total de 6.797 matrículas. Isto dá uma relação por habitante (per capita) de 3,7%.

Enquanto isto, o município de Campos dos Goytacazes com 18.062 matrículas e uma população de 483.970 habitantes, tem uma relação per capita de 3,6%. Outros polos como Macaé a relação per capita é de 3,7% e de Cabo Frio 4,4%.

É certo que esta alta relação per capita em Itaperuna está relacionada ao fato de estar numa área de abrangência e influência, sem cobertura de ensino superior, nas demais cidades do Noroeste Fluminense e no Oeste Mineiro.

A evolução do número de matrículas em Itaperuna é permanente, com uma estabilidade entre 2013 e 2014, identificadas por estes censos do Inep/MEC, lembrando que o Censo de 2014 é o último divulgado no final do ano passado.

Um total de sete instituições oferecem matrículas no ensino superior em Itaperuna, sendo quatro públicas (UFF; IFF; ISE e Faetec) e três particulares (Faculdade Redentor; Unig e Centro Universitário São José).

Evolução das matrículas no ensino superior em Itaperuna:
2010 - 5.809 matrículas;
2011 - 5.963 matrículas;
2012 - 5.866 matrículas;
2013 - 6.866 matrículas;
2014 - 6.793 matrículas.

Apesar das instituições públicas ofertantes serem maioria no total elas oferecem um universo de 435 matrículas, equivalentes ao percentual de apenas 6%. Enquanto isto, as três instituições privadas oferecem 6.362 matrículas (cerca de 94%) do total de 6.797 matrículas.

Nestes municípios-polo de ensino superior nas regiões Norte, Noroeste e Baixada Litorânea, majoritariamente as matrículas são em instituições de ensino particulares. Dos quatro polos citados, Campos, Cabo Frio, Macaé e Itaperuna, o que tem o maior percentual de matrículas em instituições públicas é em Campos dos Goytacazes com 37,5% das matrículas do município (Uenf, UFF, IFF e Isepam-Faetec).

A instituição com a maior oferta de vagas no município de Itaperuna é a Faculdade Redentor que desde o ano de 2013 ultrapassou a Unig em matrículas. Em 2014 possuía um total de 3.026 alunos.

O curso com a maior quantidade de alunos em Itaperuna, assim como em Campos e em todo o Brasil é Direito com 893 matrículas (556 na Unig e 317 na Redentor).

Individualmente,  o curso por instituição, com maior quantidade de matrículas é Medicina na Unig com 688 alunos, cerca de 10% do total. A seguir vem Engenharia Civil na Redentor com 660 alunos.

Desde o 2015, a Faculdade Redentor recebeu autorização do MEC e também instituiu o curso de Medicina que assim quando estiver completo com todas as turmas, dará um total aproximado de 1,2 mil matrículas, com receitas totais que podem ser estimadas em R$ 9 milhões mensais, ou R$ 108 milhões anuais, considerando o valor da mensalidade e Medicina e 7,5 mil.

Mesmo que boa parte destes estudantes de medicina sejam de fora do município, um volume de 1,2 mil estudantes na área de Medicina, mais outros em Enfermagem, Odontologia, Fisioterapia e Fonoaudiologia, conferem ao município, um potencial que reforça a área de serviços de saúde que Itaperuna vem consolidando.

Há que se lamentar que as atividades de pesquisa e extensão que dão qualidade e solidez à formação no ensino superior seja muito pequena, relativamente, embora, não seja um problema exclusivo de Itaperuna.

Outras análises (postagens) sobre o assunto do Ensino Superior no interior fluminense, neste último Censo 2014 do Inep/MEC podem ser visualizados nestes links (aqui e aqui) do blog. Seguimos avaliando.

sexta-feira, março 18, 2016

“Mídia empresarial e a corrosão dos valores democráticos”, por Gaudêncio Frigotto

Abaixo o blog reproduz o texto do professor do PPFH-UERJ, Gaudêncio Frigotto. Ele reproduz com propriedades aquilo que aqui no blog temos denunciado sobre os interesses corporativos da mídia comercial brasileira. Vale conferir!

Mídia empresarial e a corrosão dos valores democráticos

                                                                                                           Gaudêncio Frigotto*
        Um dos temas mais cruciais hoje para a vida democrática no Brasil  é a necessidade inadiável de assumir o debate sobre as corporações empresariais que detém o monopólio   da informação.  Não por acaso, um tema que, de imediato, essas próprias corporações esgrimam em suas redes de TV, rádio e seus jornais, no esforço de convencermentes e corações que a censura voltou e se está cometendo o maior atentado contra a democracia. Democracia por elas entendida como defesa do mundo privado.
             O filme documentário de Camilo Galli Tavares – O dia que durou 21 anos, mostra o quanto foi decisiva a grande mídia no golpe civil e militar de 1964. O que se revela no documentário é que esta mídia agiu nos bastidores com políticos brasileiros e dos Estados Unidos e, diretamente, com as pautas diárias induzindo a opinião da classe média e das grandes massas, a respeito da suposta ameaça comunista, que estaria às nossas portas.
Mas valeria, também, analisar os tempos que precederam a morte de Getúlio Vargas. Esse retrospecto pode nos ajudar a ver com meridiana clareza que esta mesma mídia está implicada diuturnamente em fomentar as massas para manter privilégios de grupos e, no momento, legitimar o golpe institucional que está em processo e que representará um retrocesso pior, porque mais profundo, do que o golpe de 1964.
As consequências sociais e políticas podem ser dramáticas, pois as três décadas de frágil ordem democrática permitiram formar sindicatos, organizações científicas, culturais e movimentos sociais e populares que não existiam em 1964 e que certamente não se calarão. Os efeitos podem não ser no dia seguinte ao golpe se consumado, mas logo quando as grandes massas se perceberem da manipulação a que foram submetidas por uma minoria rica, cínica e prepotente representada em todas as esferas institucionais do país.
Pela Constituição brasileira, os meios de comunicação são concessão do Estado e deveriam atender aos interesses universais e não privados. Portanto, interesses democráticos. Mas a imprensa empresarial privada e monopolizada é, por definição, anti democrática. Vale dizer, atende aos interesses de grupos e não aos interesses da sociedade no seu conjunto.  O argumento de que o controle social da mídia é censura dissimula o caráter de censura da grande mídia empresarial ao pensamento divergente, fermento da ordem democrática.
 Os estudos acadêmicos sobre o caráter parcial, direcionado, seletivo da grande mídia monopolizada são abundantes. No plano internacional, as análises de um dos maiores sociólogos do Século XX, o francês Pierre Bourdieu, e do linguista e cientista político Noam Chomsky, mostram o quão parcial e demolidora dos direitos à informação livre é a mídia monopolizada mundialmente. 
No Brasil poucas vozes de juristas, políticos e intelectuais têm se manifestado sobre o risco da manipulação midiática para a manutenção e aprofundamento da ordem democrática e, conseqüentemente, para avanços nas reformas estruturais historicamente postergadas e que nos constituem como uma sociedade das mais desiguais do mundo. Desigualdade que está na origem de todas as formas de violênciatão banalizadas pela mídia empresarial.
O que se está presenciando pela pauta dominante da grande mídia empresarial, sem dúvida o maior partido ideológico atual no Brasil, torna mais queatuais as afirmações feitas pelo jornalista húngaro Joseph Pulitzer. “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma (grifos meus).”
Na mesma direção, de candente atualidade, éo destaque que o Eric Hobsbawm dá em seu  livro Tempos Fraturados (Companhia das Letras,2013)  ao que o escritor  alemão Karl Kraus observou sobre o papel da mídia no contexto da primeira  Guerra Mundial. Hobsbawm destaca que “a imprensa não só expressava a corrupção da época, mas era, ela própria, a grande corruptora, simplesmente pelo “confisco dos valores através da palavra”. Eapoiado em Confúcio sublinha que quando não “se diz tudo o que deve ser dito e se quer dizer, o que precisa ser feito não será feito; se isso não é feito, a moral e a arte se deterioram; se a justiça se extravia, o povo esperará em impotente confusão”( p.162)
Por fim, em meados do século XX, na coletânea de textos de Pier Paolo Pasolini, publicada em 1990 pela editora Brasiliense com o título “Jovens Infelizes”, este autor  de vasta obra, observando o papel da imprensa no pós Segunda Guerra Mundial assinalava que o fascismo arranhou a Itália, mas o monopólio da mídia arruinou. O magnata da mídia Berlusconi é a expressão políticamais candente da ruína a que foi submetida a Itália.

Há sim que denunciar e combater a corrupção, mas não seletivamente e sim sob todas as formas e todos os envolvidos. Corrupção por propinas a políticos, corrupção por evasão fiscal, corrupção da dívida pública, etc. Para aqueles que lutam pela efetiva democracia e o esforço de construir uma nação não é termos uma imprensa monopólio estatal ou empresarial, mas uma imprensa com controle social de forma institucionalizada para que, sobre todos os temas de interesse universal, não se diga apenas meias verdades, pois isto é pior que a mentira.
__________________
* Gaudêncio Frigotto é filósofo e doutor em Educação, História e Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de  São Paulo. Atualmente professor na Faculdade de  Educação e no Programa de Pós Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

O ciclo do petróleo e sua relação com a crise política

O preço do barril de petróleo brent chegou nesta manhã a US$ 42,45 e segue negociado acima de US$ 42. Trata-se, aparentemente, de mais que uma nova flutuação e pode estar apontando para o início de um novo "ciclo petro-econômico", como tenho insistido em analisar.

A decisão de alguns países produtores em reduzir suas produções e assim também os estoques tenderão a manter o patamar de preço adiante entre US$ 40 e US$ 50, o barril.

A antecipação da reunião da Opep com outros grandes produtores para o mês de abril reforça esta hipótese. Porém, analisando os ciclos petro-econômicos anteriores, não há nenhum indicativo de que os preços possam, no prazo até 2018 (talvez até 2020), voltar a ficar acima dos US$ 100, o barril como ficou entre 2010 e 2014, único período da história seguido em que permaneceu acima dos US$ 100, o barril.

Observando este cenário e as consequências desta cadeia produtiva sobre a economia brasileira (12% do PIB no Brasil e 33% do PIB no ERJ), é possível intuir porque tanta pressa e tanta pressão por alterações no comando da política país no curto prazo, no Brasil.

quinta-feira, março 17, 2016

"A imprensa e o judiciário não podem atuar como partido político"

O blog reproduz abaixo vídeo que denuncia a tentativa de golpe e faz uma defesa da democracia:

"A imprensa e o judiciário não podem atuar como partido político. O que está em jogo é algo muito mais importante do que quem ocupará a Presidência da República. O que está em jogo é a própria democracia, a estabilidade do país e todas as instituições do Estado. ‪#‎GolpeNuncaMais‬‪#‎TodosPelaDemocracia‬ ‪#‎JuntosPeloBrasil‬ ‪#‎MaisAmorMenosGolpe‬

Dia 18 vamos para rua pela democracia. Confirme sua presença no evento:"

Publicado por TV Poeira em Quarta, 16 de março de 2016




terça-feira, março 15, 2016

Ainda sobre o setor de petróleo: previsões da AIE sobre investimentos, produção e o novo ciclo

A Agência Internacional de Energia (AIE) instalada nos EUA fez na semana passada algumas previsões em seu relatório mensal sobre a produção e sobre o mercado de petróleo no mundo:

a) A produção de petróleo dos EUA terá um declínio de 530.000 barris por dia neste ano porque a queda dos preços causará impactos nos investimentos e nas perfurações;

b) A produção da Opep está caindo mais que o esperado, mesmo com o aumento da produção do Irã. A previsão é que a produção total dos países da Opep caia 750 mil barris este ano.

Diante destas estimativas não é difícil traçar o cenário de um novo ciclo adiante. Hoje há excesso de produção da ordem de 1,5 milhão de barris por dia. A queda de produção dos EUA + Opep já produz uma redução de 1,2 milhão de barris por dia (mb/d).

A diferença de 300 mil barris por dia tende a ser consumida pelo aumento do consumo mundial, mesmo que abaixo da média dos últimos anos. Assim, não é difícil reafirmar que o novo ciclo já é visível no horizonte, mesmo muito distante dos patamares de preço entre 2009/2014, quue ficou acima dos US$ 100, o barril.


Redução de investimento da americana Chevron para 2017 e 2018

A queda do preço do barril brendt abaixo do U$ 40, desde ontem, já eram esperado, mesmo com a leitura acima que aponta para mudanças adiante. O fato se dá porque a queda da produção citada acima será gradual, chegando àqueles valores, lá pelo final do ano.

Para explicar este quadro e ampliando a informação aqui já publicada, sobre cortes de investimentos das petroleiras para enfrentar esta fase de colapso do ciclo, a americana Chevron anunciou na semana passada, novo corte de gastos de capital para US$ 17 bilhões em 2017 e US$ 22 bilhões para 2018.

Este é o segundo corte seguido que a petroleira Chevron fez desde outubro do ano passado, para o biênio 2017 e 2018. Na ocasião a previsão de investimentos para 2017 era de US$ 20 bilhões e US$ 24 bilhões para 2018.

Este ano, a Chevron já havia cortado em 25% seus investimentos para este ano que é de US$ 26 bilhões. Assim, se vê que a queda entre 2016 e 2017 será de US$ 26 bilhões para US$ 17 bilhões, ou US$ 9 bilhões a menos, ou seja corte de 35% deste ano, para o ano que vem. Isto mostra que a fase de baixa aos olhos da Chevron pode ser ainda mais longa.

Exploração no gelado Mar Ártico apontam o novo "ciclo petro-econômico": 
Enquanto isso, novas fronteiras exploratórias seguem, mesmo com o quadro acima de significativa redução de investimentos. A petrolífera italiana Eni anunciou no domingo que começou sábado (12/03) a produzir petróleo em sua plataforma Goliat, no Mar Ártico. O fato só aconteceu dois anos depois da previsão do cronograma inicial.
Plataforma Goliat da petrolífera italiana ENI no Mar Ártico

A plataforma fica localizada no ponto mais ao norte do mundo, em uma destas áreas com custos mais altos de produção, das novas fronteiras exploratórias. Este projeto de produção no Ártico é desenvolvido de forma consorciada com a petroleira estatal norueguesa Statoil, nas proporções: 65% para a Eni e 35% para a Statoil e tem como dificuldade as baixíssimas temperaturas daquela região.

As notícias acima do setor global de petróleo mostram que os problemas vão bem para além da Petrobras e o baixo preço atinge a todos. De outro lado, as informações também trazem evidências, que mesmo com a redução de investimentos, as petroleiras olham o novo ciclo e se movimentam, mesmo que mais lentamente no presente. 

O caso se assemelha com a exploração do pré-sal brasileiro, tão cobiçado e com custos e potencial muito para além das reservas do gelado Mar Ártico. Enquanto isso as pressões da geopolítica atingem os países produtores das mais variadas formas. Continuamos acompanhando!

PS.: Atualizado às 17:02: O projeto da plataforma Goliat foi executado no estaleiro em Ulsan, na Coréia do Sul. De lá saiu em abril do ano passado e levou 63 dias de navegação até chegar a Hammerfest, no norte da Noruega. A plataforma tem a forma de um cilindro que na parte superior mais alargada tem diâmetro de 90 metros, peso de 64 mil toneladas, é de 320 metros de comprimento e se eleva acima do nível do mar até 50 metros de altura. A plataforma foi concebida para enfrentar as tempestades árticas e tem uma capacidade de produção de 100 mil barris por dia, segundo a petroleira Eni. Tem potencial para extrair 175 milhões de barris em 15 anos de atividade e até 8 bilhões de metros cúbicos de gás.