A ameaça não tão explícita exposta em uma coluna ontem na Folha da Manhã vem hoje, sob a forma de artigo. (veja aqui) Como a assinatura do mesmo é grifada, como de uma autoridade municipal, não há como não considerá-la, como sendo a posição do governo a qual serve. No artigo é dito que a quantia de R$ 1 milhão recebida pela Ucam-Campos é parte do total destinado ao programa de R$ 18 milhões. Sendo assim repito que bom seria explicar ao grande público, quais os critérios para uma universidade receber cerca de R$ 6 milhões e outra R$ 1 milhão?
Discordar da pesquisa, de seus resultados, dos métodos, das opiniões dos seus pesquisadores faz parte do debate e sempre será de bom grado a discussão. Agora daí a ameaçar e insinuar para “a instituição abrir mão de um convênio que Universidades como a Uenf, por exemplo, receberia de muito bom grado para financiar bolsas de ensino para seus alunos de baixa renda. Cuspir no prato que come é hipocrisia” é totalitarismo sórdido.
Mais, a exposição desta posição em nome do governo sugere, que as demais universidades se cometerem o mesmo desatino de questionar os investimentos do governo municipal poderão receber idênticas reprimendas é significativo daquilo que chamo de cooptação e dependência das tetas dos royalties. Sucumbir, manipular e manietar a sociedade tem sido a prática. Universidades, hospitais, ongs e associações, clubes de futebol, etc. não vivem mais autonomamente. Para quem duvidava das contrapartidas exigidas nestes acordos, agora não resta mais dúvidas.
O falso zelo com a verba pública que seria bem-vindo deveria, ao invés de tentar manietar dados, estudos ou opiniões de pesquisa tomar conta, por exemplo, dos ralos por onde estão sendo despejados os generosos recursos dos royalties. No Diário Oficial do dia 04/06/2007 foi publicada uma dispensa de licitação para a obra de recuperação emergencial do sistema de drenagem e de pavimentação da estrada do Ceramista no valor de R$ 4.894.184,64 em favor da Imbé Construtora e Comércio Ltda.
Nada haveria de se questionar, se a favorecida não fosse a mesma empresa que a menos de dois anos entregou a obra como pronta. Mais, que os recursos para reparo seja de quase 30% do valor total da obra, que mal feita agora necessita ser consertada com o seu, o meu, o nosso dinheirinho. Ao invés de tentar calar vozes dissonantes da forma de gestão espúria e autoritária com ameaças, pressões e perseguições, este gestor deveria cuidar de zelar por aquilo que o eleitor confiou ao alcaide que o nomeou.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
2 comentários:
Que parece haver em nossa cidade um ranço feudal, não há duvidas. Há declarações proferidas pelos nossos algozes governantes que, de tão estapafúrdias, são no mínimo risíveis, tamanha a imbecilidade. O hilariante está muito próximo do trágico, já dizia Bertolt Brecht. No entanto, o sorriso sarcástico, que faz graça da própria desgraça, some quando por golpe nos é arrancado de forma abrupta e irascível. Abrir um jornal de Campos parece, invariavelmente, ensejar um bocejo: linhas trôpegas, argumentação torpe, discursos inférteis em nada relevantes, opiniões que saltam aos olhos necessariamente perdem-se na polarização política inútil e no maniqueísmo sórdido, onde bem e mal se entrincheiram a gosto do freguês.
Os periódicos campistas parecem, de certa forma, representar com excelência a atmosfera da cidade e seu povo: a reciprocidade é absurda.
Tudo transcorreria como sempre caso hoje pela manhã não fossemos, cidadãos campistas, bombardeados em uma dessas colunas.
Não por mérito do articulista, que, aliás, em face da galhofa governamental que representa, cumpre seu papel à altura.
Num atentado moral vexatório, que em qualquer cidade ou país que se preze sério ficaria à mercê de uma retratação pública para posteriormente ser expurgado do seu cargo de imediato, este senhor, ostentando seu título de secretário, arrombou a liberdade de todos nós.
Inúmeras são as argumentações que este cidadão poderia utilizar para contrapor os métodos da pesquisa realizada pela Faculdade Cândido Mendes, mas talvez a mentalidade provinciana do secretário, e a afeição que tem pelo jugo opressor não permitam que faça um discurso menos evasivo e simplório, legando aos seus escritos um odor ditatorial insuportável.
O dinheiro que custeia as bolsas escolares, secretário, é dinheiro público. Estas bolsas são uma medida necessária para promover minimamente a justiça social e a socialização dos que estão à margem da sociedade, dando oportunidade de ingressar no ensino superior.
Por conseguinte, por se tratar de dinheiro publico, sua aplicabilidade não é vedada ao altruísmo de um governante, mas direito constituído pelo cidadão. Não é favor algum, mas dever, embora seja favorável de certa forma para aquelas instituições que se dobram a este poder público ao mínimo aceno capital.
O secretário, como porta voz do governo, deveria vir a público externar quais são os deturpados critérios utilizados para distribuir estas bolsas, embora nos bastidores saibamos que é moeda de troca e influência política. Deveria demonstrar por onde escorre o turbilhão de recursos dos royalts, pois, qualquer ser minimamente critico que leia ou apenas caminhe por esta cidade percebe que sua realidade não condiz com o que deveria ser a realidade de uma cidade que ocupa proporcionalmente o 5º lugar em arrecadação no país.
Deveria, também, ater-se à sua função e controlar seus arroubos caudilhos, honrar o diploma que ostenta, bem como os colegas de profissão, que deram sangue para que a imprensa neste país alcançasse sua independência. O cidadão campista, e acredito também, a instituição Candido Mendes, não se dobrarão à subserviência que tenta nos impor através desta chantagem pública que nada deve aos tempos da mordaça.
Angariar apoio desta forma na cidade parece já ser senso comum, tão comum, que a falta de senso deste artigo hodierno talvez nem ao menos tenha sido sentida, até mesmo por seu autor.
Bruno,
O seu comentário soa como bálsamo que nos reforça a tese, de que a luta não é em vão e de que a educação livre e cidadã gera a independência que remará contra esta maré que tenta impor, o totalitarismo e o pensamento único sustentado pela riqueza dos royalties que bancam no poder, os algozes do povo que os escolheram.
Gostaria de ver clarividência e coragem semelhante à sua, nos docentes e gestores de nossas instituições de ensino superior. Espero que seja questão de tempo.
Agradeço pelo comentário apelando que aqueles que pensem de forma contrária possam aqui também externar suas posições.
Abs,
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