sábado, julho 11, 2015

Mais sobre o traçado da Ferrovia Vitória-Rio (EF-118) em SFI, SJB e Campos

O blog tem recebido muitas perguntas sobre o traçado que o projeto desenvolvido pela empresa Sysfer Consultoria e Sistemas, a pedido dos governos dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo e bancados pela empresa controladora do Porto do Açu (Prumo), e pelos empreendedores do projeto do Porto Central, previsto para o município de Presidente Kennedy, sul do ES. (Leia as postagens anteriores. Em especial: aqui e aqui).

Antes vale ser lembrado que este é ainda um projeto que carece de muitas etapas até o início de sua efetiva viabilização. Quando do encerramento das audiências, a ANTT terá que elaborar um amai detalhado estudo econômico-financeiro - e profundamento da avaliação da demandas de cargas - para servir de base par ao modelo de concessão. Este terá que prever um compensação ou articulação com o atual concessionário (FCA do grupo Vale).

Mapa do percurso total de 577,8 km da EF-118
A terceira etapa será lançamento do edital licitação para que s empresas interessadas em realizar o projeto se apresente, de acordo com o modelo definido no edital. A seguir escolha da empresa e assinatura do contrato, o processo de licenciamento ambiental terá que ser realizado com todas as etapas previstas em lei específica. Só aí a construção/reforma poderá ser efetivamente iniciada. Considerando o porte do projeto (com pontes, viadutos, leitos das linhas, etc. além do volume estimado de recursos, no total de R$ 7,8 bilhões, é difícil estimar um intervalo  de tempo inferior a sete anos.

Mais sobre o projeto e traçado no ERJ
O projeto atende com a modal ferroviária, um total de sete terminais portuários, mas de forma especial passa nos "portões destes dois portos" (Central, PK, ES) e Açu, SJB, RJ). Com 577,8 quilômetros de extensão a ferrovia vindo do ES, pelo litoral entra também pelo litoral no ERJ, pelo município de São Francisco do Itabapoana.

Segundo o estudo o detalhamento da passagem pelos municípios de SFI, SJB e Campos forma assim descritos:

1) SFI entre o KM 169 e KM 225:

"A partir do km 169, chega-se ao norte do estado do RJ no município de São Francisco de Itabapoana desenvolvendo-se o traçado em um planalto levemente ondulado contornando entre os km 183 e 197 a zona de amortecimento da reserva de Guaxindiba no município de São Francisco de Itabapoana seguindo até o km 225 para a travessia do rio Paraíba do Sul e entrada no município de São João da Barra por ponte ferroviária de 1.640,3 m de extensão.

Por apresentar relevo ondulado, neste trecho foram previstos pontes e pontilhões devido aos braços de rios e canais existentes.

Dentre as principais vias que interceptam a ferrovia nesse trecho, estão: a SB‐77 e a RJ-224, entre outras municipais de menor porte."

Veja abaixo o mapa com o traçado da ferrovia que corta o município de SJB e Campos


2) SJB entre o KM 225 e KM 250:

"Após o rio Paraíba do Sul, o traçado se desenvolve no município de SJB onde encontrará o terminal de conexão com o CLIPA.

Esse trecho se caracteriza por pequenos núcleos populacionais distribuídos ao longo da rodovia estadual RJ‐196. O traçado acompanha a rodovia mantendo distância desses povoamentos.

Destacam‐se também pontos de interseção como o da BR‐356 e algumas estradas municipais em São João da Barra que justificam o uso de viadutos rodoviários neste trecho".

3) Campos entre KM 250 e KM 288:

"O traçado entra em Campos dos Goytacazes no km 250 se desenvolvendo entre a Lagoa Feia e a localidade de Tocos continuando pela Baixada Campista até encontrar o traçado da antiga ferrovia no km 288.

Esse trecho na região de Campos dos Goytacazes principalmente próximo à área de influência da Lagoa Feia encontra áreas susceptíveis de inundações sazonais justificando a quantidade de pontes e pontilhões previstas.

Viadutos rodoviários dispostos nesse trecho são necessários em conexões viárias próximas as comunidades de Mussurepe, Tocos e outros distritos com zonas habitadas do município de Campos dos Goytacazes."

Abaixo veja o mapa com previsão dos viadutos rodoviários previsto no trecho da ferrovia no município de Campos dos Goytacazes.










Prumo propõe ferrovia com cruzamento de vias para conter custos
Vale destacar que na audiência pública realizada ontem na ACRJ, no Rio de Janeiro, o presidente da Prumo Logística Global S.A., controladora do Porto do Açu, questionou a necessidade de tantos viadutos para supressão dos cruzamentos de linhas. Alegou que isto encarecia demais o projeto.

O responsável técnico pelo estudo discordou, sustentando que um projeto deste porte não poderia ser iniciado já com problemas e limitações em sua relação com as comunidades.

Relação entre ferrovia  "Corredor Logístico"
Outro ponto que vale ser comentado é que com este projeto aquele anterior denominado de "Corredor Logístico" fica suspenso. Agora a ferrovia foi desmembrada do projeto anterior e passou a ter novo traçado, do Açu, em direção a Campos passando por Tocos beirando a Lagoa Feia e seguindo em direção ao Rio já próximo à localidade de Ponto da Lama* na direção de Dores de Macabu, como se pode ver no mapa acima.

Diante disto, duas outras questões ficam em aberto:
1) A rodovia que a LLX (atual Prumo) pretendia fazer para acessar à BR-101, assim como as áreas contíguas para linha de serviços (LT - energia elétrica, água e comunicações);

2) A desapropriações feitas por decreto estadual por conta da implantação do Corredor Logístico. Neste caso, aparentemente, outro(s) decreto(s) deverão existir para dar conta do traçado deste projeto da ferrovia, assim como do eventual e diverso traçado para a rodovia Açu-Campos (BR-101).

Outras questões sobre o projeto da ferrovia
O blog adiante voltará a trazer mais dados sobre o assunto de forma a colaborar para que a participação e o debate na audiência pública prevista para Campos, no dia 17 de julho, entre 9h e 13h, no auditório da UCam-Campos possa ser mais qualificado em termos de esclarecimento, debates e sugestões. Comentarei sobre o transporte de passageiros pela ferrovia tema que levei publicamente à audiência pública da ANTT no Rio de Janeiro.

PS.: Atualizado às 21:32: Para pequenos acréscimo * sobre provável saída do traçado da ferrovia depois de vir do Açu, por Tocos em direção ao Rio de Janeiro.

12 comentários:

Marco Alexandre disse...

Seria demais imaginar um trem de passageiros Campos-Guarapari; Campos-Macaé; Campos-Rio; Campos-Vitória?

hahahahahaha

Márcio Abreu disse...

SJB é o município sede do Porto e provavelmente também sediará um terminal de transbordo de cargas e com isso será bastante beneficiada com arrecadação.
Uma via rodoviária, no mínimo duplicada, partindo de Campos ao Açu é estratégica para Campos. Deveria ser trecho mais curto conectando-se a BR-101, podendo aproveitar a estrada dos ceramistas e com necessária previsão de um viaduto férreo sobre este traçado.
Campos é maior e oferece mais recursos. Este acesso direto, com grande parte do seu traçado passando por terras campistas, seria a melhor opção para instalação de empresas.
Se trata de um trecho de 20 a 25Km. Muito pouco pelo que pode significar para uma Cidade desindustrializada e que vê os royalties findando. Pena são os cofres vazios!

Anônimo disse...

Uma coisa interessante é que São Francisco está no meio dos dois portos, tem uma estrada larga de acesso à Br 101 e uma enormidade de terras ociosas. Logisticamente, se desviassem o trânsito de dentro de Campos e a Br caísse em travessão, São Francisco seria o corredor rodoviário mais viável, vindo do RJ ou do ES, pela rodovia ou de avião, para atender os dois portos pelos extremos de seu litoral. De um lado tem Kennedy com o Central e do outro lado tem São João da Barra com o Açú. Logisticamente, seria o corredor rodoviário mais abrangente e com menor e melhor custo/benefício.

Marcio disse...

A posição geográfica de São Francisco é realmente interessante. Por possuir terras ociosas e de menor custo aquisitivo também se torna atrativa. Pondero ainda o fato dos recursos que Campos teria a oferecer como; escolas, hospitais, bancos, suprimentos, serviços e outros mais. Há de se considerar também o custo do transporte para trabalhadores e para cargas. Instalando-se entre dois portos há necessariamente um custo rodoviário seja para o norte(Porto Central) ou para o sul(Porto Açu). Confesso que não tenho aprofundamento em logística portuária mas, tenho dúvidas quanto a flexibilidade de operação com os portos. Também não imagino motivos para ocorrem frequentes indisponibilidades neste modal que viabilizem substituir a operação de um pelo outro. Acredito que as origens e as características das cargas juntamente com contratos de operação pré estabelecidos com os portos, definam se a melhor locação seria perto do Porto Central ou do Porto do Açu.

Roberto Moraes disse...

Caro Márcio,

Não há a meu juízo esta relação direta sobre a ocupação do território entre o Porto do Açu e o projeto de Porto Central. Vou citar um caso que fui estudar mais de perto. O caso dos dois maiores portos europeus: Roterdã na Holanda e Antuérpia na Bélgica.

Eles estão em linha reta a cerca de 80 km. Por ferrovia ou rodovia, menos de 100 km. São interligados por estas duas modais. No caso ferroviário são mais de meia dúzia de linhas ferroviárias de bitola larga. Além disso, são dezenas de pipelines (oleodutos e gasodutos) como vias de escoamento complementar às linhas ferroviárias e rodoviárias.

Ao contrário do desenho atual e de futuro próximo dos dois projetos daqui, por lá se tratam de grandes portos-indústria com centenas de empresas ao longo dos rios Mass, em Rotedã e Escalada, na Antuérpia, neste caso, mais indústrias químicas e petroquímicas.

Neste sentido, de forma resumida, pode-se estimar que com terminais portuários mais ligados ao escoamento de commodities, mesmo com algum apoio às atividades offshore, o porto conversa com o mundo, mas, amplia pouco seu raio de ação para além do seu redor mais próximo.

Isso é uma análise inicial, mas, comparada e usando a realidade de outros portos. Assim, o importante é que a rede de cidades ligadas ao traçado possa se organizar para aproveitar esta potencialidade deste modal que tende a ser mais interessante para cargas em maiores volumes.

Porém, este é um debate mais longo. Sds.

Roberto Moraes disse...

Esqueci de comentar que entre os dois portos europeus, par além das áreas dos dois rios que desaguam no mar, ond estão os portos, há enormes vazios. A maio parte é utilizada para pequenos projetos de agricultura e pecuária, tipo familiar ou similar, como conhecemos aqui. A áreas industriais parecem bem delimitadas, mesmo sendo tão próximas e entre os dois maiores portos da Europa, como é (será, ou poderá ser) o caso de SFI entre os dois projetos portuários daqui.

A utilização dos portos e o porte dos distritos industriais ao redor é que vão determinar este processo de ocupação. Portanto, não há necessariamente ligação direta ou determinismo geográfico pela localização intermediária entre os portos.

Sds

Roberto Moraes disse...

Caro Márcio,

Não há a meu juízo esta relação direta sobre a ocupação do território entre o Porto do Açu e o projeto de Porto Central. Vou citar um caso que fui estudar mais de perto. O caso dos dois maiores portos europeus: Roterdã na Holanda e Antuérpia na Bélgica.

Eles estão em linha reta a cerca de 80 km. Por ferrovia ou rodovia, menos de 100 km. São interligados por estas duas modais. No caso ferroviário são mais de meia dúzia de linhas ferroviárias de bitola larga. Além disso, são dezenas de pipelines (oleodutos e gasodutos) como vias de escoamento complementar às linhas ferroviárias e rodoviárias.

Ao contrário do desenho atual e de futuro próximo dos dois projetos daqui, por lá se tratam de grandes portos-indústria com centenas de empresas ao longo dos rios Mass, em Rotedã e Escalada, na Antuérpia, neste caso, mais indústrias químicas e petroquímicas.

Neste sentido, de forma resumida, pode-se estimar que com terminais portuários mais ligados ao escoamento de commodities, mesmo com algum apoio às atividades offshore, o porto conversa com o mundo, mas, amplia pouco seu raio de ação para além do seu redor mais próximo.

Isso é uma análise inicial, mas, comparada e usando a realidade de outros portos. Assim, o importante é que a rede de cidades ligadas ao traçado possa se organizar para aproveitar esta potencialidade deste modal que tende a ser mais interessante para cargas em maiores volumes.

Porém, este é um debate mais longo. Sds.

Marcello Porretto disse...

Bom dia, Roberto. Tenho interesse em conhecer detalhadamente o traçado da EF-118, especificamente, dentro de Macaé. Fiz o "download" da imagem, mas fica com muito pouca resolução. Você poderia me fornecer algum desenho ou imagem com boa resolução, da geometria da EF-118 dentro de Macaé? Agradeço muito sua atenção. Abs. Marcello Porretto.

P. Robson M. T. disse...

Me ajude a trazer de volta, com urgência, os trens de passageiros e turistas para Campos dos Goytacazes. Com o valor que o Governo Federal destinou para o projeto da nova ferrovia, pode construir uma mais para o litoral, liberando a antiga malha (Leopoldina) só para o transporte de passageiros e turistas. A demora na decisão do Governo Federal provoca a deterioração do material ferroviário. Possivelmente, uma ação na Justiça, com uma liminar autorizando a FCA operar o trem de passageiros e turistas. Quero viajar em uma Maria Fumaça antes de morrer. O projeto da nova ferrovia vai demorar muito e terá uma bitola de 1.6 m e não servira aos povoados que foram criados ao longo da antiga Leopoldina. Não permita que destruam a História do Brasil. O tempo é nosso inimigo. Associação de Moradores Amigos da Ferrovia, no meu face.

Anônimo disse...

P. Robson M. T.

Boa tarde meu prezado Roberto. Você ( perdoe o tratamento) é a única pessoa que encontrei, na internet, com interesse nesse projeto.A minha preocupação é com os PASSAGEIROS e TURISTAS. Historicamente, sabemos que, todas as cidades e povoados foram criados juntos as Estações ferroviárias. Tenho uma verdadeira paixão pelas ferrovias. Sou filho, sobrinho e neto de ferroviários Tenho visto vídeos com pessoas se preocupando com o abandono dos trens de passageiros e turistas (ate chorando). Com o valor destinado para a construção dessa ferrovia, poder-se-ia construir uma nova mais para o litoral liberando a antiga (Leopoldina) para o transporte de passageiros e turistas com a bitola atual. Basta o Governo Federal liberar a FCA para realizar esse trabalho. Veja minhas sugestões na Associação de Moradores Amigos da Ferrovia. Me ajude a salvar os trens de passageiros e de turistas, principalmente de Campos dos Goytacazes ate a divisa com o Esp. Santo. Antecipadamente agradeço a ajuda.

RONEY disse...

E CARAPEBUS ESTA DENTRO DESTE TRAÇADO?

Roberto Moraes disse...

Sim. Está neste mapa do traçado que foi apresentado nas audiências da ANTT.

Porém, não há previsão neste traçado de que existam estações em todas as cidades.

Ao contrário. Os interesses que podem bancar a ferrovia estão todos alicerçados no transporte de cargas e em comboios com grande quantidade de vagões.

Nas audiências públicas que aconteceram no Rio de Janeiro e em Campos dos Goytacazes, eu fiz questão de insistir no aproveitamento desta via par ao transporte de passageiros. Como ocorre na Vitória-Minas que escoa o minério de ferro do Quadrilátero Ferrífero par ao Porto de Tubarão em Vitória para ser exportado e que convive com o transporte de passageiros.

O argumento foi bem aceito em ambas as audiências, mas houve restrições ao fato de que isto não poderia fazer com que houvesse estações em todos os municípios, porque isto diminuiria a fluidez e velocidade no transporte de cargas.

Quando o projeto for adiante, as forças sociais e políticas terão que se movimentar para garantir esta possibilidade que seria muito interessante e uma grande alternativa de transporte coletivo, seguro, em relação à BR-101, especialmente, na direção onde há grande fluxo diário de pessoas.