segunda-feira, outubro 31, 2016

O acordo para tentar elevar o preço do petróleo, a disputa no Oriente Médio e a relação com a eleição nos EUA

A Opep agora parece meio apertada na busca de um acordo de limitação da produção, para tentar elevar o preço do barril de petróleo a pelo menos US$ 60, até o final do ano.

As conversas se dão em torno da redução de 2% da produção atual que estaria girando em torno de 35 milhões de barris por dia, entre os membros da Opep, que juntos, produziriam hoje, aproximadamente 37%, do volume mundial.

As informações que saem do Oriente Médio indicam que hoje, a Arábia Saudita seria a mais desesperada pelo acordo, assim busca apoio fora da Opep, especialmente da Rússia e também da Venezuela, embora este seja um dos 14 membros da organização dos países produtores e exportadores.

As resistências estariam do lado do Irã, que depois da suspensão do embargo, já está com uma produção próxima dos 4 milhões de barris por dia. Outra resistência seria do Iraque que, embora reclame das menores receitas obtidas com a renda petrolífera, ainda luta com os demais países do Oriente Médio, para ampliar o seu leque de compradores de petróleo.

Nestes últimos dias, autoridades da Arábia Saudita e Rússia entabularam conversas. Os acordos parecem avançar, mas sem serem efetivamente cumpridos, diante das desconfianças e dos interesses cruzados.

Atualmente, a Rússia é a maior produtora mundial e mesmo com algumas dificuldades no início, hoje estaria mais estabilizada com o preço atual do barril, em trono de US$ 50, considerando o câmbio em relação à sua moeda (rublo), o tamanho do seu mercado - aí incluída a China com negociação em moedas próprias - e ainda com as ameaças no cenário da geopolítica. A segunda maior produção, embora próximas, é da Arábia Saudita.

Há no horizonte, como último esforço em fechar um acordo neste ano, a data de 30 de novembro. Só que no meio disso tem uma dança das cadeiras em termos de apoios e enfrentamentos no Oriente Médio e na disputa com o Estado Islâmico.

Se já não bastassem, há ainda as confusões que pairam para o "day-after" da eleição americana, qualquer que seja o resultado. A conferir!

Mais uma megafusão no setor de petróleo afetará o Brasil e a região: GE Oil & Gas + Baker

Uma nova megafusão entre empresa do setor de petróleo está unindo duas gigantes empresas americanas do setor de serviços de engenharia de Petróleo: GE Oli & Gas e Baker Hughes.

O negócio cria uma empresa com receitas combinadas de US$ 32 bilhões e atividades em mais de 120 países entre eles o Brasil. Após autorização dos órgãos de regulação das autoridades americanas e de outros países, o oligopólio daí resultante começará o enxugamento de instalações físicas e pessoal.

A fusão das duas companhias criará a FULLSTREAM Digital industrial Services Company que espera ampliar seus ganhos em pelo menos US$ 1,6 bilhão até 2020.

As fusões, incorporações e aquisições nos dois últimos anos no setor de petróleo no mundo nesta fase de colapso do ciclo do petróleo ultrapassam a 3 mil segundo a consultoria especializada no assunto, a também americana, A.T. Kerarney.

Assim como as grandes fusões entre as petroleiras Shell e BG, FMC e Technip, esta agora entre a GE Oil & Gas e Baker criam oligopólios para gerar lucros extras, com a redução da concorrência, massificação de suas atividades que redundarão em maiores preços de contratos junto às petroleiras, com prejuízos para quem trabalha no setor.

Além dos trabalhadores, as nações e as regiões onde estas empresas possuíam bases operacionais também serão atingidas. No caso específico, a GE Oil & Gas construiu e implantou recentemente uma grande base em Niterói junto à Baía da Guanabara para ampliar o atendimento às demandas da Bacia de Santos e do Pré-sal. 

Em Macaé a GE possui uma base em frente à Baker no Parque Industrial Novo Cavaleiros. Além desta base a Baker Hughes possui outra base operacional em Macaé, no bairro Lagomar quase em frente ao Parque de Exposições. 

Observando esta realidade e considerando a desidratação das atividades na Bacia de Campos, em contraposição ao crescimento da exploração na bacia de Santos e Pré-sal não é difícil intuir quais bases deverão ser eliminadas e outras adensadas.

Outra observação importante é que o volume de faturamento das empresas de engenharia e serviços no setor de petróleo, especialmente, nas áreas e campos que exigem mais tecnologia e equipamentos (como águas profundas) se aproximam dos ganhos finais e líquidos das petroleiras, donas da produção de óleo e gás.

Assim, com as fusões estas corporações se vacinam para evitar e melhor enfrenta as pressões destas sob os seus contratos, como se está vendo neste momento de colapso de preços do barril de petróleo, desde 2014.

Difícil acreditar que os órgão reguladores aqui ou acolá impeçam a fusão ou exijam compensações que possam proteger as empresas nacionais ligadas ao setor e afetadas, assim como os trabalhadores e as cidades/regiões que serão afetadas por este processo de olipolização do setor. 

Como eu costumo lembrar todo processo de olipolização namora com o monopólio, onde as corporações sonham não possuir concorrentes. O fato assim, traz à tona a maior das contradições do sistema que alega se basear na ampla concorrência para reduzir custos e produzir movimentação econômica.

Assim, considerando o atual momento por que passa o país, com radicalização do liberalismo e das desregulação econômica, junto com desmonte das políticas de conteúdo local que geravam movimentação econômica e novos empregos na região e no país, a medida poderá receber até aplausos. Não tardará muito para que a região compreenda como surgirão alguns vazios decorrentes de ais esta decisão.

Não há novidade neste movimento das corporações que acontecem em acordo e com aporte de grandes fundos financeiros. O fato que merece atenção é observar como há a maioria destes movimentos têm como bases espacial os EUA. A conferir!

PS.: Atualizado às 12:42: para mais detalhes sobre o processo de fusão leia aqui comunicado da Baker Hughes ao mercado e investidores hoje pela manhã.

PS.: Atualizado às 14:00: para pequeno ajuste no título.

sábado, outubro 29, 2016

Geopolítica do petróleo: distribuição espacial da produção e consumo pelas regiões do mundo

Num mapa bem atualizado de 2016 é possível identificar o que o blog tem comentado sobre a atual distribuição espacial da produção mundial de petróleo por regiões. Ela vem se diversificando, embora ainda com a liderança do Oriente Médio. Veja a atual distribuição espacial da produção de petróleo pelas várias regiões do mundo:























O Oriente Médio segue na liderança com 30,1%, porém é seguido de perto pelas Américas com 27,4% e pela Europa + Ásia com 25,8%. Com o aumento da produção de xisto e do pré-sal do Brasil, mesmo com a sensível queda da produção do México, a América poderá se aproximar um pouco mais do Oriente Médio.

Do total da produção mundial, em 2015, num percentual de 71% se dava em terra (onshore) e 29% (offshore), segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE).




















Cinco países produzem 43% de toda a produção offshore do mundo. O restante está espalhado em diversos países, grande maioria em águas rasas. O maior produtor offshore do mundo é a Arábia Saudita que sozinha produz 13% de todo offshore.

O segundo maior produtor é o Brasil que segue em ascensão e é disparado o maior em reservas de águas profundas. Segue em terceiro lugar, o México (em declínio), quarto, a Noruega e na quinta posição os EUA.


É interessante ainda relacionar a produção de petróleo ao consumo também por região. Na verdade é esta diferença que define a circulação da mercadoria mais exportada do mundo.

A América do Norte consome mais que produz, assim como a região asiática. A América do Sul se equilibra, assim como a região da Eurásia que envolve a Rússia. A África mais produz que consome.

É no meio deste cenário que são definidos negócios e ações de poder com articulação entre nações e corporações que se relacionam a interesses sobre controle e hegemonia entre as nações:



























Fontes:BP Statical 2016, ANP e AIE.

quinta-feira, outubro 27, 2016

Campos em 1988 e agora em 2016: o semelhante e o diverso na política

E passaram-se 28 anos. Quase toda uma geração, para que a política em Campos voltasse a ter uma jovem liderança vencendo uma antiga, enraizada e eivada de “maus modos”.

Em 1988 éramos apenas Campos, hoje somos os Campos dos Goytacazes.

Em 1988, a não existência ainda da regra do segundo turno permitiu que com pouco mais de 30% dos eleitores, a liderança jovem chegasse ao poder máximo na cidade, que ainda eram bem rural.

Em 2016, de forma similar, a redução da abastança dos royalties do petróleo na receita do município, foi decisiva para derrubar a velha liderança política, já no primeiro turno.

Nas finanças municipais que uma e outra liderança nova encontrou há situações bem diversas entre estes dois momentos. Em 1988, saindo da elaboração da nova Constituição Federal (CF), os municípios forma empoderados com novas receitas que geraram um orçamento crescente e com boas margens de investimentos.

Hoje, em 2016, o município vive o inverso com orçamento em declínio, menos parcelas dos royalties, poucas receitas próprias, dívidas e um passivo de demandas cidadãs tão grande quanto em 1989. E o pior, um costumeiro mau uso e costume com os recursos públicos da época de abastança que geraram obras e serviços absurdamente caros.

Em 1988, a liderança nova tinha perfil mais popular e propunha mudanças e a redenção das classes de menor renda, num discurso que acentuava o descaso dos anos do monopólio sucro-alcooleiro, base da liderança política antiga.

Em 2016, a liderança política que envelheceu em quase três décadas, deixou de representar aspirações das classes de renda mais baixas, desconfiadas com o perfil de permanente luta por um poder nas diferentes esferas. Isto tornou velho o discurso e a liderança foi se distanciando cada vez mais das necessidades dos representados.

Tanto em 1988, quanto em 2016, as antigas lideranças desdenharam a hipótese de perder o controle político que comandavam anos a fio. Da mesma forma, as expectativas e esperanças das lideranças novas foram desdenhadas e questionadas nos dois momentos.

Em 1988 e 2016 de forma similar, as estruturas de cargos comissionados eram e continua sendo entregues aos apadrinhados políticos.

Assim, neste quesito, o quadro não difere muito em termos de realidade, apesar do percurso do tempo, das novas legislações e regras que, em tese, passaram a proibir o nepotismo e o compadrio, que nem por isto deixaram de existir.

Também em tese o servidor público hoje seria apenas concursado, obedecendo a Constituição Federal de 1988. Mas a criatividade do exercício do poder fizeram surgir os terceirizados.

Em 1988, os buracos das ruas eram cobertos pelas máquinas próprias da prefeitura, organizadas pela estrutura do chamado “Triturador”, base operacional da PMCG, que funcionava ao lado do Cemitério do Caju e era relativamente eficiente, comparada aos custosos serviços feitos hoje pelas empreiteiras.

Os motoristas de caminhão eram da prefeitura, assim como os operadas de máquinas que também atendiam aos pequenos agricultores e a área rural. Na saúde, todo o pessoal era do quadro e mesmo que apadrinhados eles não geravam custos extras com que se tem hoje com a intermediação e a exploração sobre o trabalho das pessoas.

O mesmo na educação entre porteiros e merendeiras das escolas. Hoje eles engordam uma verba de custeio do orçamento quase insustentável em relação ao retorno que prestam.

A varrição das ruas era feita por servidores próprios e foram a base do discurso da liderança nova que garantiu contratação de gente dos próprios bairros. Elas seriam as “margaridas” que cuidariam do seu bairro, como cuidavam de suas casas.

Entre 1989 e 2016, a limpeza urbana cresceu como a complexidade da cidade, mas ao invés das margaridas dos bairros, quem passou a tomar conta foram as grandes empreiteiras.

As empreiteiras de pessoal e serviços passaram a contratar os campistas como terceirizados e com as indicações do poder político, tal como antes. Assim, além de explorados politicamente, eles passaram a fazer parte das folhas milionárias destas corporações que foram pouco a pouco corroendo os royalties do petróleo, em troca da varrição e ajardinamento dos canteiros de ruas e praças.

Decorridos quase três décadas, os desafios seguem em proporções similares. Os cidadãos campistas, também chamados de munícipes, continuam acompanhando a política crentes e descrentes quase na mesma proporção.

Acreditando que o quadro possa se alterar, mas também guardando bem no fundo d´alma, uma desconfiança dos risco de que tudo pode mudar, para ficar mais ou menos do jeito que já era antes, apesar da modernidades dos dias atuais, das conversas em rede online e das dezenas de bilhões dos royalties que durante um bom tempo jorraram nossas terras, pouco chegando à nossa gente.

Ainda assim, é necessário acreditar e cobrar. Isto faz parte do exercício da cidadania e da democracia quem terá sempre na política, a melhor de mediar o atendimento à aqueles que mais precisam de uma boa atuação dos representantes eleitos.

Espera-se um governo que deve ser planejado e voltado para aqueles que mais precisam da boas políticas públicas. Sigamos em frente!

PS.: Atualizado às 18:50 de 28/10 para corrigir o título que havia saído como 1998 e não a 1988, a partir de observação feita no comentário do Alex que o blog agradece.

Influência do ISS nos orçamentos municipais: o caso fora da curva de Campos

Com a crise da receita dos royalties do petróleo, a receita dos Impostos sobre Serviços (ISS) cresceu de importância em todos os municípios petrorrentistas da região.

No município de Macaé, que já tinha um ISS pujante, por conta da presença das empresas do setor petróleo a receita do ISS avançou ainda mais. Em 2011, o ISS representava 23% do orçamento total. Já em 2015, o ISS passou de um terço do orçamento total atingindo R$ 725 milhões, equivalentes a 34% das receitas totais de Macaé.

Em São João da Barra, em 2011, o ISS tinha um peso de 4% no orçamento total. Já em 2015, este percentual chegou a 18% do orçamento total com arrecadação de R$ 61 milhões.

Em Campos dos Goytacazes, o ISS em 2011 equivalia a 3,6% do orçamento total e durante três anos oscilou pouco em torno de R$ 100 milhões por ano. Em 2015, a receita do ISS em Campos caiu em valores absolutos para R$ 89 milhões, embora tenha tido um ligeiro aumento em termos percentuais para 4,3%, por conta da redução total do orçamento do município com a queda dos royalties.

Em todo o ERJ são raríssimos os municípios que tenham tido perda de arrecadação em valores absolutos nos últimos anos. mesmo com a crise. Além disso, 4% de peso no orçamento total é muito pouco para uma cidade porte médio com várias empresas do setor de serviços atuando.

O governo que entra tem aí uma fonte de receita para ajudar a enfrentar a combalida economia do município, dependente dos royalties do petróleo e agora também com dívidas a serem pagas.

quarta-feira, outubro 26, 2016

ERJ é proibido de conceder novas isenções de impostos

Parte dos problemas fiscais atuais do governo do ERJ - que poderá redundar na redução de 20% dos salários dos servidores ativos e inativos - está ligado à venda das dívidas (securitização) e às bilionárias isenções de impostos que segundo o TCE-RJ chegaram a R$ 138 bilhões.

Na ação julgada nesta noite pela Vara da Fazenda do TJ-RJ, o governo do estado reconheceu que a concessão de R$ 38,7 bilhões. Valor que é aproximadamente o dobro do déficit de caixa do governo estadual. Os promotores que atuaram no processo disseram que as isenções somaram mais de R$ 150 bilhões.

Enquanto isto o governador interino e o de fato ainda tentam convencer que o problema está ligado às reduções das receitas dos royalties do petróleo.

Na ação o juiz Marcelo Martins Evaristo concedeu liminar suspendendo novas isenções e reduções de impostos, além de proibir o governo estadual em fazer novas concessões.

Resta saber como e quando serão julgados os responsáveis por esta situação que a população, as instituições e os servidores estaduais estão sofrendo e pagando.

 

terça-feira, outubro 25, 2016

Projeto portuário em Macaé (Terpor) é ampliado ainda em fase de licenciamento

O projeto do Tepor (Terminal Portuário de Macaé) previsto para ser implantado no bairro de São José do Barreto, no norte de Macaé, próximo à Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) de Cabiúnas da Petrobras voltou à tona.

O projeto muito questionado por moradores e organizações ambientais do município pelos impactos em área urbana que causaria, depois de audiências públicas conturbadas recebeu em junho a licença prévia ambiental (LP) do governo estadual. Logo após o Ministério Público Estadual voltou a fazer questionamentos sobre o projeto e sobre a concessão da licença prévia (LP).

O projeto nasceu em 2012, numa negociação que envolvia a preifeitura e o grupo Queiroz Galvão. Depois, o mesmo passou ser conduzido exclusivamente pela empresa EBTE Engenharia, por meio de uma empresa subsidiária, a BR-Rio Engenharia Especializada.

É desta forma que o site PetroNotícias publicou hoje, na íntegra, um release da Assessoria de Comunicação da EBTE informando sobre os seus planos de ampliar o uso do terminal portuário, para outro "multiuso" e para "graneis líquidos".

O projeto original previa um investimento de R$ 1,3 bilhão, utilização de uma área de 400 mil metros quadrados, uma ponte de 1,6 mil metros de extensão, um quebra-mar e uma plataforma de apoio, onde serão construídos berços para atracação de embarcações de apoio offshore (supply boats).

Os instituidores pretendem ainda ter autorização para trabalhar com unidade flutuante de gás natural, certamente, buscando tirar proveito com a proximidade com o polo de processamento de gás natural de Cabiúnas da Petrobras. 

É certo que a resistência dos moradores e ambientalistas aumentará, mas também fica claro que a especialização que a Macaé tende a assumir mais ligado à atividade do gás natural, considerando que é a própria Petrobras que a afirma que o município é o maior polo de processamento de gás natural do país.

De certa forma, há vínculo entre esta informação e a outra que o blog publicou ontem, aqui, sobre o Porto do Açu estar projetando um ramal de gasoduto entre Campos e o Açu.

O fato reforça a interpretação que apesar da fase de colapso do ciclo do petróleo com os atuais baixos preços, os grupos empresariais seguem se movimentando para voltar a atuar num cenário de nova expansão do setor previsto para 2020. Evidente que estimuladas pela venda de parte do patrimônio da Petrobras.

Enfim, confiram abaixo o release da empresa - incluindo foto - sobre seus interesses com o projeto do Terpor em Macaé:


"Terminal Portuário de Macaé amplia área e terá terminais de apoio offshore, multiuso e de granéis líquidos"

"O Tepor – Terminal Portuário de Macaé vai ampliar sua área offshore. Além do terminal de apoio logístico ao segmento de petróleo e gás – o primeiro na cidade de Macaé (RJ) totalmente privado –, o projeto terá um terminal multiuso para cargas em geral e um terminal de granéis líquidos, capaz de receber unidades flutuantes de regaseificação. O Tepor ingressará no Inea (Instituto Estadual do Ambiente) com o pedido da alteração da licença ambiental Prévia (LP) obtida em junho, com a respectiva inclusão da ampliação na licença ambiental.

A estrutura offshore do Tepor será interligada à retroárea do terminal por uma ponte de aproximadamente 2,2 mil metros de extensão (a extensão anterior à ampliação era de 1.600 metros) e terá quebra-mar e plataforma marítima, numa área total de 280 mil metros quadrados. O terminal de apoio, com 12 metros de profundidade, vai contar com dez berços de atracação para supply boats e área para docagem e manutenção, enquanto o terminal multiuso, com 480 metros de cais e 18 metros de calado, poderá receber navios de longo curso, para transporte de cargas gerais, e também sondas e embarcações de variados tipos para manutenção e apoio.

Já o terminal de granéis líquidos terá dois cais específicos, de 400 metros de extensão e 18 metros de profundidade, capazes de receber até quatro navios simultaneamente. Além disso, o terminal poderá abrigar unidades flutuantes de regaseificação, o que irá permitir o recebimento de cargas de gás natural liquefeito (GNL) na região. Por isso, contará também com um gasoduto exclusivo para escoar o gás, bem como com dutos para escoamento de líquidos para a unidade de tancagem onshore.

O Tepor será instalado no bairro de São José do Barreto, no norte de Macaé, bem próximo à Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) de Cabiúnas, da Petrobras. Sua localização é estratégica para atender a projetos de Exploração e Produção (E&P) instalados nas bacias de Campos e de Santos.

Com investimentos previstos da ordem de R$ 2,2 bilhões, o Terminal Portuário de Macaé terá suas obras iniciadas em 2017, gerando mais de 1.100 empregos diretos e indiretos. O início da operação do Tepor está previsto para 2020, quando a expectativa é gerar, no pico, cerca de 7,5 mil postos de trabalho diretos e indiretos, sendo 800 apenas na gestão do terminal.

A EBTE Engenharia detém o controle acionário integral do Tepor desde março deste ano. O projeto começou a ser estudado em 2012 e atualmente vem sendo conduzido exclusivamente pela subsidiária BR-Rio Engenharia Especializada.

Atividades previstas na Retroárea

A parte onshore do Terminal Portuário de Macaé – Tepor ocupará uma área de 400 mil metros quadrados, onde serão construídos pátios para estocagem e armazéns alfandegados. Também será instalado um pólo para tancagem de derivados de petróleo, com capacidade para cerca de 300.000 m3. A exemplo da estrutura offshore, a retroárea poderá ser ampliada.

O Tepor é parte de um empreendimento intermodal conjunto do Grupo EBTE Engenharia, que conta ainda com o CLIMA – Complexo Logístico & Industrial de Macaé. Com 6,3 milhões de metros quadrados (sendo 4,15 milhões de m² de área privativa de terrenos, destinados a empresas e indústrias de variados setores econômicos, e 1,5 milhão de m² em áreas verdes), o CLIMA contará com um sistema exclusivo de captação, adução e tratamento de água, unidades de tratamento de esgoto e até um helicentro para helicópteros de grande porte. Além disso, terá grande oferta de energia elétrica e disponibilidade de gás natural.

O complexo será instalado em uma área altamente estratégica, localizada na RJ-168, a principal via de acesso a Macaé, dentro da Zona Industrial ZI4. O loteamento está a apenas quatro quilômetros da BR-101 e a cerca de cinco quilômetros da área urbana de Macaé."

segunda-feira, outubro 24, 2016

Prumo contrata empresa para fazer estudo de um ramal de gasoduto entre Campos e o Açu

A Prumo Logística Global S.A. contratou a empresa capixaba Control Ambiental para fazer um levantamento da área necessária para construção de um ramal de gasoduto, de cerca de 50 km, entre Campos e o Porto do Açu.

Os estudos da área onde passaria o gasoduto tem como referência, o acompanhamento da linha de transmissão (LT) existente entre estes mesmos dois pontos em Campos na chegada da BR-101 próximo à Tapera e o porto.

De certa forma, grosso modo, o traçado teria como referência a ideia daquele antigo Corredor Logístico que previa a LT e dutos de água e gás que a empresa pensou em fazer no auge da apuração de recursos que o Eike Batista estava viabilizando. Hoje, a empresa espera que a rodovia e a ferrovia sejam feitos pelo estado, ou por concessionárias, a partir de licitação dos governos federal e estadual.

Há que se saber o interesse de uso para o gás, mas não é difícil imaginar que ele possa atender à demanda das empresas instaladas junto ao Porto do Açu e também atender a um projeto de geração de energia elétrica - com uma ou duas turbinas inicialmente - numa usina termelétrica (UTE).

Antes, já houve aceno da Prumo em ter acesso a gás vindo diretamente das plataformas, com acordos que poderia envolver a Shell/BG que hoje tem negócios de transbordo de petróleo no Açu. Porém, um ramal de 50 km entre Campos e o Açu pode ser menos caro para atender a uma demanda inicial.

Há que se recordar ainda que o ramal de gás que passam por Campos em direção ao Espírito Santo e Bahia (chamado GASCAV) é alimentado a partir da Unidade de Processamento de Gás Natural, de Cabiúnas, Macaé que hoje é o maior polo de gás do país.

Veja mais detalhes em nota do blog aqui no dia 15 de maio de 2016. Abaixo o mapa da malha de gasodutos da região Sudeste publicado em nota deste blog no dia 30 de agosto de 2016.

Além disso, também é oportuno registrar que o fundo financeiro canadense Brookfield tem participação acionária na Prumo (veja nota do blog aqui em 14 de outubro de 2015) e liderou a composição de um consórcio que fechou, no início de setembro, a aquisição de toda a malha de gasodutos (Nova Transportadora Sudeste- NTS) de cerca de 2,5 mil quilômetros que pertencia a uma das subsidiárias da Petrobras.

Assim, observando as diversas pontas soltas das informações fragmentadas é possível compreender a lógica que está por trás destas informações. A empresa Control Ambiental fez algumas contratações para executar o trabalho encomendado. Para isso está fazendo pesquisa de campo, medições e conversas com proprietários localizados em área, onde planejam projetar o gasoduto.





























PS.: Atualizado às 00:22: O ministro de Minas e Energia anunciou hoje, que o diretor de óleo e gás da Prumo, Decio Oddone foi indicado pelo governo para ocupar uma das diretorias da ANP, em substituição à vaga da Magda Chambriad, atual diretora-geral que está com seu mandato vencendo. Oddone é uma indicação dos setores privados, apesar de ter sido funcionário da Petrobras. Assim, as "coincidências" seguem o seu curso na atualidade.

sábado, outubro 22, 2016

Arábia Saudita também cede à financeirização de sua economia para bancar déficit orçamentário de US$ 100 bilhões - o que isto tem a ver com o debate civilizacional?

A Arábia Saudita e os EUA miraram em alguns produtores de petróleo para manejar o ciclo do petróleo que redundou nesta fase de colapso, que já dura mais de dois anos.

Porém, hoje, e cada vez mais, o mercado mundial de petróleo é mais complexo e mexe com mais variáveis e sua articulação envolve mais atores na geopolítica mundial para além das petroleiras.

Assim, a Arábia Saudita e os EUA, articuladores da alteração da fase do ciclo do petróleo, também sofrem as consequências de suas decisões. Evidentemente, pensam que perdem no varejo e ganham no atacado.

Os EUA interromperam a produção de petróleo e gás de xisto que não se sustenta com preços abaixo de US$ 60, o barril. Sua produção já caiu, no todo, quase dois milhões de barris por dia, desde o pico de produção do xisto em 2013/2014.

Agora é a Arábia Saudita. Depois de defender na Opep a liberação geral da produção de petróleo, para manter seus mercados e assim, atingir o Irã - que ainda vivia o embargo e hoje já voltou a produzir 3,85 milhões de barris por dia – e também as novas fronteiras petrolíferas, entre as quais o pré-sal do Brasil, hoje se vê às voltas com grandes problemas econômicos e fiscais.

A Arábia Saudita que tem 75% de suas receitas com exportações de petróleo, foi obrigada internamente a aumentar impostos, reduzir subsídios, controlar gastos e obter empréstimos de US$ 10 bilhões junto a bancos internacionais, para compensar o seu déficit orçamentário que atinge US$ 98 bilhões.

Agora a Arábia Saudita foi além e ampliou a financeirização de sua economia, para satisfação dos grandes fundos financeiros. Nesta semana, os sauditas fizeram a maior emissão de bônus (dívida) no mundo este ano. captaram US$ 17,5 bilhões junto aos mercados internacionais e, assim compensar a redução de receitas oriundas do petróleo que estourou o seu déficit para quase US$ 100 bilhões.

Até então a Arábia Saudita vivia basicamente de seu fundo soberano constituído com os dinheiros da venda do petróleo. Com a crise, ele foi em boa parte consumido e o recurso de buscar dinheiro fora chegou. Segundo informações há quem faça previsão de emissões nos próximos anos de mais de US$ 120 bilhões pela Arábia Saudita.

Outros países produtores de petróleo do Golfo Pérsico já fizeram o mesmo, como é o caso do Catar, Abu Dhabi, Omã e Barein  que este ano já captaram juntos cerca de US$ 20 bilhões, também em emissões de títulos. Parte deles será referentes à abertura de capital da petroleira estatal saudita, a Saudi Aramco.

Enquanto isto, aqui no Brasil, se atribui a crise do país e da Petrobras, exclusivamente à Lava Jato. Bobagem. O caso é mais embaixo e exige aprofundamentos.


A ampliação da financeirização do setor petróleo no mundo
A fase de colapso do ciclo petro-econômico - e da economia como um todo pelo mundo - fez com que os investimentos de capital no setor de petróleo tenha sofrido cortes da bagatela de US$ 1 trilhão, segundo a consultoria escocesa Wood Mackenzie.

Os grandes bancos internacionais J.P. Morgan, Citigroup, HSBC e outros que coordenaram a emissão de bônus saudita - junto com os grandes fundos financeiros que também organizam - são os mesmos que emprestariam capital para as petroleiras se, estivesse na fase de expansão (boom) do setor. Assim ganham sempre aqui ou acolá.

Diante desta realidade, fica fácil enxergar os caminhos dos dinheiros.

Ora ele aporta sob a forma de capital físico na economia real e na produção material, através de instalações e infraestruturas – na fase de boom – ora recolhe os excedentes durante as crises que impõem sacrifícios às populações, para em seguida, retornar para o andar superior, das altas finanças. Como capital fictício ele passa a controlar as ações das grandes corporações e mesmo dos Estados-nações.

É nesta toada que a financeirização da economia global vem avançando - sem limites, ignorando regulações - sobre as corporações, as nações e a vida das pessoas.

Desta forma, os fundos financeiros controladores das empresas exigem mais e mais rentabilidade na produção material, mesmo que para isto se tenha que migrar instalações e a produção material. Automatizam a produção, passam a pagar menores salários e admitem o quase trabalho escravo.

No meio disso, o capital financeiro e suas corporações agem junto dos governos das nações que possuem hegemonia e capacidade de controle sobre os outros, para derrubar e tirar do caminho os governos dos estados-nacionais que resistem a esta lógica.

Desta forma, aproveitam suas vulnerabilidades internas, tanto econômicas quanto políticas, para impor novos governantes, trocando-os por aqueles que admitem uma total subserviência à lógica. Assim como a conhecida "ponte do futuro".

Algumas nações, como o Brasil estavam na direção e busca para a instalação de um mínimo de estado de bem-estar-social. Trabalhava para reduzir as desigualdades, fazia inclusão social e... foi podada. Simultaneamente, as nações que já viviam no welfare state nas chamadas economia centrais, estão sentido a regressão da qualidade de vida e direitos sociais conquistados desde o pós-guerra.

Civilizacionalmente, é certo que este movimento de massacre terá limites. Parece que estamos perto disto. A barbárie não será o fim e muito menos o nazifascismo.

Há que ter novos caminhos em termos de civilização que não seja exclusivamente pelos ganhos globalizados e inconsequentes do sistema financeiro sem cara e nem pudor que são irrigados pelo rentismo emponderado no interior de muitas nações.

Assim, se pode perceber que o caso das cadeias globais de valor do setor de petróleo e da ampliação da financeirização de mais uma economia nacional, deve ser visto de forma bem mais ampla do que simplesmente, como uma informação da área de macroeconomia. Ela é parte e define o dia-a-dia da sua vida, diante do sistema-mundo globalizado.

Compreender esta lógica do plano global e resistir nacionalmente parece ser o caminho para a construção de alternativas pós-capitalistas. Fora daí só restará a barbárie!

sexta-feira, outubro 21, 2016

Prumo anuncia condomínio logístico-industrial e centro de convivência para o Porto do Açu

Em comunicado hoje ao mercado, a Prumo Logística Global S.A., controladora do Porto do Açu, no Norte Fluminense, anunciou dois empreendimentos que serão instalados em sua retroárea portuária: um condomínio logístico industrial e um centro de convivência.

O condomínio logístico industrial vem aprofundar o negócio de aluguel (ou arrendamento) de áreas. O empreendimento vem tentar suprir a lacuna deixada pelo Distrito Industrial de São João da Barra (DISJB), elaborado numa parceria da LLX (atual Prumo) junto com a companhia estadual Codin.

O DISJB suscitou a desapropriação de mais de 500 pequenos proprietários rurais e outros 2 mil donos de terrenos em loteamento no balneário, mas não avançou. Seja pela ausência de infraestrutura previsa no processo de licenciamento - como arruamento, iluminação, água e esgoto - ou pela suspensão dos projetos do estaleiro, siderúrgicas, cimenteiras entre outras.

Assim, o projeto de instalação do condomínio logístico-industrial vem atender à demanda por bases logísticas para apoio offshore, que incluiria também galpões e mais infraestruturas. O objetivo é o de receber empresas do setor de petróleo que estão vindas de Macaé para o Açu com o espichamento do Circuito Espacial do Petróleo até o Açu, sobre o qual já comentamos aqui, por várias vezes.

O blog já comentou aqui, em nota no dia 22 de julho de 2015, que hoje existe em Macaé, um total de sete condomínios, ou parques logísticos industriais em funcionamento ou em fase de final de licenciamento junto ao Inea.

O projeto do condomínio logístico industrial foi anunciado como um parceria com o fundo de investimentos RB Capital. Os empreendedores divulgaram a previsão de investimentos de R$ 220 milhões, a disponibilização do mesmo no 1º semestre de 2018, com uma área locável de 340 mil m², dentro de um terreno total de 465 mil m².

O outro empreendimento que foi anunciado foi um centro de convivência que teria 8 mil m² de área total, sendo 2 mil m² de área bruta locável para ser instalado junto aos terminais portuários com o objetivo em aluguel de salas, lojas, posto de gasolina e um centro médico.

O centro foi projetado para ser instalado junto à área prevista para um hotel, em projeto desenvolvido por outra empresa do setor imobiliário, a InterRio. Veja abaixo a planta de empreendimentos da Prumo no Porto do Açu, segundo apresentação corporativa de setembro de 2016.

O Centro de Convivência foi anunciado como uma parceria entre a Prumo e a empresa do setor imobiliário Euro Urbanismo e prevê investimentos de R$ 3 milhões, com operação prevista para o 2º semestre de 2017.

Interessante observar como os negócios que avançam na retroárea do Porto do Açu estejam fortemente vinculadas ao setor imobiliário, com ganho rentista, pela locação e com aportes de fundos financeiros. Há que se acompanhar os desdobramentos.

Porém não se pode deixar de registrar que estas áreas forma obtidas em boa parte com desapropriações feitas pelo governo - e agora com usufruto privado - de pequenos proprietários rurais e de donos de terrenos de loteamentos. A maioria até hoje não recebeu nenhum centavo por estas áreas.
PS.: Atualizado às 16:28: Para ajustar e corrigir a redação.


quinta-feira, outubro 20, 2016

O que a Shell está vendendo pelo mundo para estar no Pré-sal brasileiro

Mesmo que o assunto sobre a compra que a Shell fez da petroleira britânica BG, por conta das reservas petrolíferas (ativos) que esta possuía no Brasil, já seja um tema conhecido, vale voltar ao assunto trazendo novos indicadores.

Assim se liga a melhor as pontas das informações soltas construindo interpretações mais consolidadas e próximas dos fatos reais.

A Shell pagou pela BG uma quantia entre US$ 50 bilhões e US$ 60 bilhões. Por conta disso, a petroleira anglo-holandesa acumulou uma dívida líquida superior a US$ 75 bilhões. (Veja aqui nota do blog em 26/08/16 sobre a dívida de 4 petroleiras que atingem R$ 600 bilhões)

Nesta fase de colapso de preços do barril de petróleo, os custos destas dívidas pressionam a Shell que assim, decidiu vender inúmeros ativos pelo mundo, até atingir a quantia de US$ 30 bilhões.

Porém, a Shell já percebeu que a venda neste momento representa perdas enormes e está adiando o quanto pode. Desta forma, a petroleira só "desinvestiu" US$ 1,5 bilhão até agora.

O movimento parece ser diverso do que a Petrobras segue fazendo no feirão das partes da empresa, vendendo mesmo com os preços baixos de hoje. Entregando até "joias da coroa", como o campo de Carcará no Pré-sal.

Veja que a Shell faz um movimento ao contrário da Petrobras. Comprou aqui para vender no resto do mundo e assim mesmo está segurando, por conta dos preços baixos que estaria apurando no mercado. Tudo isto em troca de estar aqui no Pré-sal brasileiro.

Se desejar ter mais detalhes e relembrar o caso leia aqui nota do blog no dia 16 de fevereiro de 2016, sobre os significados da fala do CEO global da Shell, Van Beurden, quando a corporação fechou negócio e finalmente assumiu a aquisição da petroleira BG no mundo:

"O Brasil será um país-chave na nossa estratégia", afirmou. "Está seguramente no top 3 de nosso portfólio e, se considerarmos apenas a produção em águas profundas, é o maior." "Van Beurden disse acreditar na competitividade do pré-sal, mesmo em um cenário de petróleo barato. "O break even (preço de equilíbrio dos projetos) é muito favorável, mesmo nessa faixa de preços. E, se os preços caem, os custos também caem".

Pois bem, para garantir estar na maior fronteira petrolífera descoberta nas últimas décadas, o Pré-sal do Brasil, a Shell está tentando se desfazer de 16 ativos que estão em processo de venda. Entre estes estão:

1) Pacote de ativos no Mar do Norte avaliado em US$ 2 bilhões;
2) Operações Marítimas no Golfo do México;
3) Refinaria na Dinamarca;
4) Participação na refinaria japonesa Showa Shell;
5) Campos de petróleo na Nova Zelândia, Tailândia e Gabão;
6) Participação no terminal de gás natural liquefeito na Malásia, a MLNG;
7) Reservas nas areias betuminosas do Canadá;
8) Área de xisto americana nas bacias de Delaware e Permiana do Texas e Novo México, consideradas algumas das reservas de xisto mais fáceis de explorar na América do Norte que poderiam valer de US$ 9 bilhões a US$ 13 bilhões, por ser tido como "código postal desejável".

Assim, a Shell quer somar vendas de US$ 30 bilhões para saldar as suas dívidas. Mas não está aceitando fazer feirão ou liquidação topando qualquer preço.

Diante desta realidade é possível fazer relação entre as escutas da NSA denunciadas pelo Edward Snowden sobre as reservas petrolíferas brasileiras, a Petrobras, os interesses estrangeiros, a Lava Jato, a sua ligação com os EUA e o golpe. Tudo isto sem correr o risco em ser acusado de estar tratando de teorias conspiratórias.

Antes que possam questionar a origem dos dados, eu informo que eles estão numa matéria do jornalista Andrew Ward, do conhecido informativo inglês do setor de economia, o Financial Times.

Evidentemente, não com as relações aqui feitas com a Petrobras e sobre as estratégias da Shell no Brasil e as articulações entre os poderes econômicos e os políticos na dimensão em que o assunto exige da geopolítica da energia. Mais claro impossível!

Empresários do setor portuário querem ser vistos como atividade comercial e não de serviços: por que será?

Dentro daquilo que o setor empresarial chama de "janelas de oportunidades", oferecidas pela atual política brasileira, que amplia a liberalização e reduz a regulação - que é atribuição dos governos - os empresários do setor portuário querem ser compreendidos como pertencentes à atividade comercial e não de serviços, que realmente são.

Assim, desejam que os arrendamentos e concessões dos terminais dos portos públicos e os terminais privados sejam empreendimentos comerciais e não de serviço público. Entendem que assim teriam mais liberdades para cobrar o preço que quiserem e não tarifas como são os serviços públicos.

A pressão da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP) que organiza outras associações que atuam no setor é para "convencer" a Antaq, agência reguladora do setor e o TCU (Tribunal de Contas da União) de que podem agir livremente cobrando o que quiserem em livre negociação.

A grosso modo é como se os transportes públicos nas cidades pudessem cobrar livremente, como se estivessem num mercado, os preços das passagens dos cidadãos que usam os ônibus, metrôs, trens, ou barcas para se locomoverem.

Sim, é claro que há diferenças. A atuação do setor portuário atua no que se chama de consumo produtivo e na circulação de mercadorias. Seria uma disputa com os armadores, donos dos navios e rotas, mas fundamentalmente, seria um prejuízo para as nações e para os cidadãos que pagarão a conta do aumento dos produtos que circulam por estas infraestruturas ligados à mobilidade e ao fluxo de cargas.

Pretender que se compreenda o setor portuário como um simples comércio, como se estas infraestruturas fossem um simples mercado, onde há múltiplas de produtos, é um entre vários cúmulos, para onde o ultraliberalismo (ou o liberalismo puro na essência, sem nenhum controle ou regulação) está tentando conduzir as coisas, através de um Estado cooptado e sem força.

Como os leitores e colaboradores mais atentos do blog sabem, eu venho estudando e investigando a relação petróleo-porto na economia global. É por conta disto que os fatos destes dois setores aparecem neste espaço com tanta frequência, porque a investigação empírica serve de base material para a interpretação da realidade que nos cerca.

Interpretando um pouco mais o caso não é difícil enxergar, também neste processo, as digitais da ampliação da participação dos fundos financeiros também nos sistemas portuários, com suas características intrínsecas de atuar para suspender toda e qualquer regulação dos estados nacionais.

Neste contexto, é possível afirmar que este não é um fato isolado. Nem se trata de uma disputa entre Estado e setor privado. É mais do que isto. Parece uma tendência e um esgarçamento de posições.

Deixar o leão do capitalismo sem controle é mais arriscado para este. O historiado francês Fernand Braudel estudioso sobre os ciclos da economia e ciclos históricos gostava de lembrar que não há capitalismo sem Estado. Os cenários assim se tornam cada vez mais nebulosos e arriscados. A conferir!

PS.: Atualizado às 14:48 e 18:20 e 11:48 de 21/10/16: Para ajustes no primeiro parágrafo e no título do texto.

terça-feira, outubro 18, 2016

O feirão da Petrobras segue com mais agravantes apesar de todos os seus recordes

O caso agora que mais chama a atenção é a venda de 51% das ações da BR-Distribuidora. Ou seja, o seu controle. A atual diretoria da Petrobras colocou a empresa literalmente no feirão da esquina. Está oferecendo a companhia para 60 grupos que chama de "potenciais interessados ou investidores".

Além de varejistas como Carrefour, Lojas Americanas, mas na verdade o interesse é entregar também para fundos financeiros internacionais. Nesta lista estão Brookfield, Blackstone, GP Investments, Advent International e Carlyle Group.

Assim, mais que atender aos oligopólios conhecidos do setor petrolífero privado, o esquartejamento da estatal vai sendo entregue a fortes fundos financeiros. Desta forma ele verticalizarão seus interesses na companhia. Assunto que tratamos em artigo aqui, no último dia 10 de outubro, com o título: "A fase de colapso do ciclo do petróleo contribui para a ampliação da financeirização sobre o setor".

Imagem do blog do Robson Pires
Porém, o mais esdrúxulo e escancarado entreguismo vem nas ações que estão sendo tomadas nesta fase anterior à entrega.

A diretoria resolveu no novo Plano de Negócios (2017-2012) resolveu ampliar em 22,4% (R$ 2,5 bilhões) os investimentos na BR Distribuidora, dizendo que pretende ampliar a sua fatia no mercado em 1,9% (de 34,9% para 36,8%) e também aumentar a rede de postos de atendimento para 9,5 mil estabelecimentos.

E tudo isto, mesmo prevendo que o aumento do mercado de combustíveis será de apenas 1,3%, até 2021, quando o mercado nacional já chegou a aumentar por ano 8%, como aconteceu em 2010, em relação a 2009. 

Estranho - ou não - é você decidir colocar tanto dinheiro, num momento de entregar o controle da empresa (vendendo 51% das ações) até o meado do ano que vem.

Ou seja, o governo Temerário e golpista continua ultrapassando todos os limites do entreguismo. Ou seja, investindo para entregar. É fato que o discurso da turma do mercado com o apoio da mídia comercial - que é remunerada para isto - se dirá que estão sendo tomadas medidas para "vender" melhor. Me desculpem, mas isto é conversa fiada.

Em qualquer lugar do mundo, um caso deste seria motivo de prisão. Vou voltar a repetir o que já comentei aqui neste espaço. Opera-se hoje na empresa com um conjunto de decisões que são bem mais prejudiciais à empresa e ao povo brasileiro do que aquelas feitas pelos bandidos como Paulo Roberto Costa, Cerveró, Barusco e cia. Ltda. Continuam assaltando a joia da coroa!

segunda-feira, outubro 17, 2016

A combatida Petrobras segue batendo recordes: quem desdenha quer comprar!

A produção total de petróleo e gás natural no mês passado foi de 2,88 milhões de barris de óleo equivalente por dia (óleo + gás), 5,9% maior que ano passado e 1,4% sobre o mês anterior de agosto. Deste total, um volume de 2,75 milhões de boed foram produzidos no Brasil e 0,13 milhão no exterior.

Assim, a atacada Petrobras bateu em setembro um novo recorde mensal ao superar os 2,72 milhões de boed atingidos no mês de agosto.

O caso é significativo diante dos baixos preços do barril, das pressões de governança com os desvios da Lava Jato e às ações de fatiamento da empresa e de retardamento dos projetos das novas unidade de produção com o desmonte da indústria naval nacional.

A permanecer os baixos preços, há que se começar a indagar a validade em continuar a explorar as reservas com altas produções.
Plataforma Cidade de Ilha Bela que entrou em produção
em novembro de 2014 no Pré-sal da Bacia de Santos

O pré-sal continua ampliando sua participação. A produção da Petrobras junto com outras petroleiras parceiras nestes campos do pré-sal atingiu em setembro 1,46 milhões de bpd.

Enquanto isto, na Bacia de Campos, a Petrobras começa a desmobilizar a produção em várias plataformas, entre elas a do importante campo de Marlim.

Além do escasseamento do óleo em poços e campos, os seus altos custos de produção estão relacionados ao tempo de operação desta unidades.

A Petrobras possui 74 plataformas com mais de 25 anos de uso. A empresa já estuda os custos para descomissionar estas unidades de produção, priorizando a produção no pré-sal, onde a produção é feita na grande maioria dos casos por terceiros.

BRICS cada vez mais sem o "B"

No encontro dos Brics em Goa na Índia, parece que só o Brasil vai ficando isolado. China e Rússia avançaram em vários acordos bilaterais, especialmente na área de energia, sobre gasodutos e negociações de petróleo e gás em suas próprias moedas.

Rússia e Índia anunciaram acordo sobre aquisição por parte da estatal de petróleo russa Rosneft, de uma fatia do controle da petroleira indiana Essar Oil que inclui a infraestrutura portuária desta pelo equivalente US$ 12,9 bilhões.

O acordo e a participação russa chama a atenção por conta das dificuldades enfrentadas pela Rússia com o baixo preço do petróleo e do gás, que representa quase metade do seu PIB.

Hoje a Índia possui a maior refinaria do mundo, construiu nos últimos anos 5 refinarias e importa quase o equivalente à atual produção brasileira de petróleo.

O acordo entre a Índia e Rússia também gerou acordo de uma fábrica de helicópteros russos na território indiano, além de geração de energia elétrica nuclear e questões militares.

Observando as informações de diversas origens sobre a reunião do Brics em Goa se observa que o desconfianças sobre o Brasil se ampliaram enormemente e assim, o país vai ficando isolado. É evidente que o governo temerário e a mídia comercial brasileira se encarregam de passar outra visão distante da realidade.     

sexta-feira, outubro 14, 2016

Hora dos novos gestores pensarem e agirem regionalmente superando a competição entre municípios

A superação em boa parte do esquema de "criador e criaturas" nas prefeituras petrorrentistas da região, poderiam permitir que os novos gestores organizassem as suas gestões com uma concepção menos local e mais regional.

Explicando: uma boa parte dos problemas que interessam à população pode ser melhor resolvido de forma integrada, com cooperação entre os municípios e não de forma concorrencial, como normalmente conhecemos, por conta das disputas políticas e pela indução da falha estrutural do federalismo brasileiro.

Não há porque esperar o governo estadual que há muito é omisso, tanto na formulação de diagnósticos, quanto, especialmente, na articulação para a elaboração de projetos comuns relacionados aos setores de saúde, educação, mobilidade, inovação, geração de empregos, etc.

Pensar, planejar e agir mais regionalmente e não exclusivamente de forma local, poderia ser um princípio para as novas gestões. Este intervalo entre a eleição e a posse, que é quando se pensa mais em projetos, o desenvolvimento desta concepção mais que necessária, entendo que fosse essencial às expectativas da população.

As políticas setoriais podem ser melhor desenvolvidas com uma concepção regional que local. Um pensamento espacial mais amplo dento do conceito de regiões, para além dos limites das cidades, pode oferecer pistas para enfrentar a crise de baixas receitas e altas demandas da população, especialmente neste momento de crise econômica estadual e nacional.

Alguns teóricos que valem ser observados e estudados insistem que se vive cada dia mais um processo de urbanização que é regional e não local. Assim a perspectiva de “Desenvolvimento Espacial Regional”, não apenas sob a dimensão econômica, mas social, ambiental e cultural devem ser pensadas, para o esboço e os debate sobre programas e projetos de interesse das comunidades.

É fato que os maiores fluxos de pessoas, materiais e comunicações levam a que cada vez mais as pessoas tenham começado a perceber – mesmo sem racionalizar - que hoje se vive mais nas regiões, e não, exclusivamente em suas cidades. Assim, é quase natural que anseiem por gestões que os favoreçam nesta linha.

Os dados sobre o que o IBGE chama tecnicamente de movimento pendular, que são as pessoas que diariamente se dirigem a outras cidades para trabalhar, estudar ou se relacionar é crescente e um dos mais significativos do país, segundo relatório divulgado no ano passado.

Assim, a compreensão desta necessidade não passa por elencar, tecnocraticamente, o que poderia ser feito. Isto seria fruto de debates mais amplos.

As gestões que pretendem ser voltadas para as pessoas e não para os sistemas, ou esquemas, este processo pode ser visto como uma construção gradual, mas firme. Desde que a concepção seja um princípio e não um atalho para resolver apenas uma ou outra questão, como a fórmula dos conhecidos consórcios. Eles ajudam, mas não bastam.

É certo que as assimetrias entre os municípios pesam na direção contrária. Municípios maiores em áreas e adensamentos populacionais têm mais dificuldades em se relacionar com a diversidade dos problemas dos municípios de menores proporções de gente, área e orçamento.

Assim, tem-se agora, um bom momento para o(a)s novo(a)s gestore(a)s municipais pensarem e agirem regionalmente, superando a velha competição e adotando a concepção de gestões colaborativas e de complementariedade.

quinta-feira, outubro 13, 2016

Rússia segue com a maior produção mundial de petróleo

Em setembro o volume de petróleo produzido pela Rússia chegou a 11,1 milhões de barris por dia (mbpd), permanecendo assim, como a maior produção mundial seguido de perto pela Arábia Saudita e depois pelos EUA.

Em junho, a produção da Rússia tinha sido de 10,71 milhões de bpd, próximo do que a Arábia Saudita produziu em julho com 10,67 milhões de bpd, enquanto os EUA está com a produção na faixa de 8,5 milhões de bpd, importando cerca de outros 5 milhões de bpd.

Considerando todos os produtores, o volume total da oferta de petróleo no mundo alcançou, em setembro, a quantia de 97,2 milhões bpd, superando em cerca de 600 mil bpd o volume no mês anterior de agosto.

Assim, há muita desconfiança se o acordo entre os 14 países da Opep + Rússia, firmado na primeira semana de outubro, para de reduzir entre 1% e 2% a produção, irá ser efetivamente cumprida. Uma próxima reunião ministerial da Opep está marcada parra 30 de novembro.

Desta forma é mais provável que o preço do barril permaneça próximo aos US$ 50 até o final do ano, do que se aproximar dos US$ 60. Assim, a tendência seria uma certa estabilidade em torno do atual valor. A não ser que conflitos regionais ocorram e se ampliem envolvendo os países produtores.

Setor de tecnologia ganha valor e simultaneamente gera menos empregos

Em uma década e meia (2000-2015) a evolução dos sistemas tecnológicos aumentou o valor das empresas em 80%, enquanto o número de emprego caiu 22%.

Os dados são do Wall Street Journal e se referem às 5 maiores empresas do setor nos EUA, que em 2000 eram a Cisco, Intel, IBM, Oracle e Microsoft, enquanto em 2015: a Apple, Alphabet, Microsoft, Facebook e Oracle. Como se vê, em 15 anos, só duas das cinco maiores permaneceram no ranking das maiores.

Esta análise é setorial e comparativa entre as maiores e não por porte das empresas. Como as menores empresas geram mais empregos haveria que se pesquisar a evolução também nelas e não apenas nas grandes corporações. Porém, é bem provável que também entre estas a proporção de empregos no setor de tecnologia tenha se reduzido.

Em termos de valor as cinco maiores empresas do setor valiam em 2015, a bagatela de US$ 1,8 trilhão com 22% de trabalhadores a menos. As empresas se transformam em grupos e corporações. 

A seguir se transformam em oligopólios e o passo seguinte é o de serem controladas pelos fundos financeiros. Assim, ficam cada vez mais distantes do mundo material e voltadas para grupos menores. Onde isto vai parar é uma grande incógnita. Ou não! 

quarta-feira, outubro 12, 2016

A ANP tem obrigação de divulgar quais petroleiras estão sendo investigadas por falsificação para pagar menos royalties

A informação divulgada na terça-feira, por um diretor da ANP (Agência Nacional de Petróleo), durante audiência pública que discutia a revisão de valores do preço do petróleo, que pode ampliar as quotas das participações governamentais sobre a produção no Brasil caiu como uma bomba.

Há muito existe desconfianças sobre os valores pagos pelas petroleiras, especialmente depois que a produção de outras petroleiras foram se ampliando no país, para além da extração majoritária da Petrobras.

A fiscalização não é simples. Ela não se dá apenas sobre o volume de produção por poço e campo de petróleo, no ambiente offshore. Há ainda um cálculo para determinar o pagamento da chamadas participações governamentais (royalties e participações especiais que é devido por campos com grandes volumes de produção).

Esse cálculo depende do que se chama de preço de referência definido entre o maior valor de venda informado pela petroleira (operadora) e o preço mínimo definido pela ANP.

O diretor da ANP Waldyr Barroso disse textualmente que foram identificados "comportamentos atípicos dos preços de venda que estariam muito próximos ou iguais aos preços mínimos definidos pela ANP". Barroso cita claramente que até agora foram descobertos dois casos que estão sendo apurados.

A ANP desconfia que o preço de venda informado estaria "sendo simulado", ou melhor definido, manipulado, para reduzir as parcelas a serem pagas como royalties. Porém, o diretor da ANP foi mais longe e disse que as petroleiras que estariam procedendo desta forma, "comercializam o petróleo para traddings do próprio grupo no mercado externo".

O diretor da ANP disse que até aqui só se exigia a nota fiscal da exportação, sem exigência da apresentação da venda feita posteriormente pela tradding da próprio grupo empresarial (ou holding).

Assim, o caso é grave porque identificaria não apenas um erro, mas um grave crime de sonegação que seria seguido por formação de quadrilha, entre outros.

Não são muitas as petroleiras que atuam no Brasil e se constituem em grupos com empresas de traddings de petróleo. A ANP fala em dois casos que estão sendo apurados. Porém, observando a lista das petroleiras com produção no Brasil, para além da Petrobras, segundo o último Boletim Mensal de Produção (de agosto, sempre de dois meses anteriores) estes dois casos estariam entre um universo de apenas seis empresas: BG-Shell; Repsol Sinopec; Chevron; Statoil; Sinochen e Petrogal.

Assim, não dar divulgação a quais seriam os dois grupos que estão sendo investigados, é o mesmo que colocar todas em questionamento.

O caso é ainda mais grave por conta do momento em que o país vive. Tanto se fala em combate a corrupção e em punição aos agentes públicos, como se eles fossem os únicos responsáveis pelos crimes e se atribui à Petrobras com a Lava Jato, quase todos estes males.

Desta forma, a divulgação ampla e plena sobre este provável crime tem que ser exigido. Até porque a forma com que a mídia comercial divulga alguns crimes e esconde as sonegações de fortes grupos empresariais (inclusive da própria mídia) leva a que a sociedade julgue que a saída para o problema da corrupção estaria na privatização de todas empresas e serviços públicos, como se assim o país pudesse ficar imune à corrupção e às sonegações, quase sempre tão significativas e volumosas, quanto os desvios de corrupção.

O caso interessa também aos governos (nas três escalas) que estariam sendo lesados em receitas dos devidas como parcela de royalties e de participações especiais. Assim, a omissão de informações significará o acobertamento de crime e peculato. O país precisa saber quem está falsificando e sonegando. Com a palavra a ANP.  

terça-feira, outubro 11, 2016

Anglo American obtém licença para fase 2 do Sistema Minas-Rio

A mineradora Anglo American conseguiu obter na reunião extraordinária da Unidade Regional Colegiada Jequitinhonha do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) realizada no dia 06 de outubro, em Diamantina (MG) a Licença de Operação (LO) da Fase 2 da mina do Minas-Rio.

A segunda fase se refere à "otimização da mina já existente e a um conjunto de melhorias e ajustes operacionais, incluindo um pequeno avanço na cava". A empresa diz que em julho desse ano, já havia recebido a Autorização Provisória para Operação (APO) da Fase 2 da mina, concedida pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad). A APO permitiu o início da operação desta fase.

Unidade de beneficiamento do Minas Rio
em Conceição do Mato Dentro, MG
O Sistema Minas-Rio envolve uma mina de minério de ferro e unidade de beneficiamento em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, em Minas Gerais, um mineroduto com 529 km de extensão e que atravessa 33 municípios mineiros e fluminenses e um terminal de minério de ferro do Porto de Açu, onde faz a filtragem da água, secagem e embarque do minério para exportação.

Este último terminal localizado em São João da Barra (RJ) é operado pela FerroPort, uma joint-venture entre a Anglo American e a Prumo Logística com 50% de participação de cada uma das empresas.

A Anglo American faz uma previsão de produção do Minas-Rio para este ano entre 15 e 17 milhões de toneladas de minério de ferro. A sua capacidade máxima de produção, de 26,5 milhões de toneladas por ano, só acontecerá após a conclusão do licenciamento da Fase 3 da mina.

Uma das várias manifestações dos atingidos no Minas-Rio 
O Sistema Minas-Rio é responsável por várias denúncias de impactos ambientais e sociais no entorno do empreendimento, seja junto à mina e à unidade de beneficiamento no interior mineiro, quanto junto ao extremo do mineroduto no Porto do Açu, no Norte Fluminense. Sobre problemas em Minas Gerais veja algumas postagens do blog aquiaqui e aqui, mais foto ao lado. Já os impactos junto ao terminal no Porto do Açu veja aqui e aqui.

A volatilidade do preço do petróleo e a ameaça de conflitos

O barril do petróleo do tipo brent chegou ontem a US$ 53 no mercado futuro para entrega daqui a 60 dias. Hoje já desceu para a faixa de US$ 52. Apesar disto, os números da AIE (Agência Internacional de Energia) indicam que a Opep teria fechado o mês de setembro com um recorde de produção de 33.64 milhões de barris/dia.

O fato se deveu ao aumento de produção no Irã, Iraque, Líbia e Nigéria, que se prepararam para manter os níveis de produção que a Opep está defendendo. Assim, fazem em mais altos patamares.

A Opep fechou um acordo para limitar sua produção para o intervalo de 32,5 milhões e 33 milhões de barris/dia após encontro paralelo a conferência de energia na Argélia no último mês.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem anunciado que seu país vai apoiar o esforço da Opep de cortar (ou limitar) a produção para melhorar os preços.

Porém, as ameaças de conflito parecem ser mais fortes que o acordo da Opep para que o preço tivesse esta ligeira subida acima dos US$ 50, o barril. Tirando os conflitos nenhum outro fato indicaria que o petróleo possa se aproximar dos US$ 60.

Como já comentei aqui neste espaço, hoje, os EUA é mais regulador dos preços do que a Opep, pela facilidade que teria para retomar a produção com xisto, desde que o preço do barril passe de US$50. A Opep hoje é responsável por apenas cerca de 1/3 da produção mundial, embora junto com a Rússia já aproxime da metade da produção mundial. A conferir!

PS.: Atualizado às 14:18: Para acrescentar o último parágrafo.

segunda-feira, outubro 10, 2016

A fase de colapso do ciclo do petróleo contribui para a ampliação da financeirização sobre o setor

Ao apresentar uma comunicação sobre o “ciclo petro-econômico” no seminário da Rede Iberoamerciana de Investigadores em Globalización y Territporio (RII) realizado na semana passada em Monterrey, no México - que o blog comentou abaixo (aqui) -, uma pergunta me foi feita sobre o papel que ainda teria as “sete irmãs”, (como são chamadas as grandes petroleiras privadas) sobre os negócios do setor no atual estágio da Economia Global.

Em resumo afirmei que a meu juízo estas corporações globais (Esso, Chevron, Shell, BP, etc.) ainda mantêm grande poder como petroleiras e operadoras, porém bem menor que antes, mesmo que forçando constantemente a oligopolização com aquisições de ativos ou empresas.

Há duas questões principais para entender este processo. Primeiro é compreender que o setor vive parte da reestruturação que atinge todo o setor produtivo.

Desta forma, antes estas corporações eram integradas do poço ao posto e também possuíam todas as estruturas de tecnologia e serviços para a viabilizar sua atividade principal. Hoje, não.

As grandes empresas especializadas em serviços e tecnologia de petróleo (Halliburton, Baker, FMC, GE, etc.) faturam tanto quanto estas, porque atendem também às fortes estatais petroleiras em todo o mundo.

Segundo, é que hoje quase todas destas grandes petroleiras possuem dívidas e ações controladas pelos fundos financeiros, o que confirma o avanço do processo de financeirização também sobre este setor.

E isto vale tanto para as petroleiras privadas, quanto as estatais que possuem grandes dívidas com o setor financeiro. Dívidas que durante esta fase de colapso de preços do barril de petróleo vão também se transformando em controle acionário.

Assim, hoje, mais que a ampliação dos oligopólios destas corporações globais do setor petróleo a novidade é o aumento do controle do sistema financeiro sobre as grandes petroleiras privadas.

O avanço dos fundos financeiros sobre o setor pode ser visto na aquisição da rede de gasodutos do sudeste da Petrobras, majoritariamente, comprado pelo fundo financeiro canadense Brookfield, junto com outros fundos asiáticos.

O caso vale ainda para os sistemas portuários que atendem a base de apoio para a exploração offshore e para o transporte do petróleo para as nações. Assim, o Porto do Açu é um destes exemplos, sendo hoje, de propriedade da Prumo, grupo controlado pelo fundo financeiro americano, EIG Global Energy Partners.

É oportuno recordar que os fundos financeiros possuem controle sobre outras atividades além de petróleo e portos. Como o setor naval e de geração de energia que são vinculados aos dois primeiros. Assim, os negócios relativos a estas áreas se concentram (verticalizam) e ampliam o poder do setor financeiro sobre a produção, o que explica a feroz pressão contra as exigências de conteúdo local.

Enfim, no atual estágio do capitalismo o processo de acumulação avança sobre os setores produtivos e as corporações do petróleo não ficam fora deste contexto. Nesta fase de colapso dos preços do barril e de perdas contábeis e grandes dívidas, os ativos da petroleiras ficam baratos.

Isto se dá também porque nesta fase, as nações produtoras vivem grandes desvalorizações cambiais. Assim, os fundo financeiros trabalham com visão anticíclica esperando nova fase de expansão, prevista para depois de 2020.

A grande preocupação é que em todo o mundo o avanço dos ganhos do sistema financeiro sobre o produtivo aumenta o interesse sobre o rentismo e sobre o aumento do valor, muito mais do que sobre a produção em si, quando da etapa anterior do capitalismo em todo o mundo. Isto se dá sobre as nações centrais quanto naquelas de capitalismo tardio como o Brasil.

Porém, neste setor específico a situação é mais grave pelo peso geopolítico que envolve o petróleo e a renda petrolífera que sempre foi motivo de disputa entre o Estado e as corporações. 

Assim, hoje esta disputa se dá entre o Estado e o sistema financeiro que atua fortemente na política cooptando e controlando os governos e, consequentemente os Estados-nações.

Desta forma, a articulação entre o sistema financeiro e as nações que disputam hegemonia agem sobre os estados-nação e se aproveitam de suas vulnerabilidades. 

Assim, com apoio dos novos líderes políticos destas nações, os fundos ampliar a captação dos excedentes de suas economias ao obter dos governos menores regulações que possam garantir maiores fluxos de capital em direção à suas matrizes.

Neste contexto é bem fácil entender a atual conjuntura do Brasil. Por ela se entende as estratégias sobre os quais se agem sobre o controle político do país e sobre os interesses comerciais que estão garantindo o acesso à nossa colossal reserva de petróleo do pré-sal, a maior fronteira de exploração de petróleo descoberta na última década em todo o mundo.

quarta-feira, outubro 05, 2016

Desmonte das petroleiras estatais em todo o mundo

O processo que vive a Petrobras de desmonte é seguido no mundo por outras petroleiras estatais, sob o argumento da necessidade de reduzir dívidas e enfrentar a fase de baixa do ciclo petro-econômico. As regras do mercado são as mesmas em todas as nações e corporações. Vejamos.

Estou no México, desde segunda-feira, mais especificamente, em Monterrey para participar do XIV Seminário da Rede Iberoamericana de Pesquisadores em Globalização e Território (RII).

Assim, abro um dos jornais do México, o "La Jornada" e me deparo com a matéria abaixo "A Pemex acelera seu desmantelamento, perde técnicos qualificados e liquida infraestrutura".

A reportagem poderia ser semelhante ao que se vê no Brasil, com a Petrobras. Na semana passada (27/09) o blog trouxe um texto aqui sobre a estatal mexicana de petróleo, a Pemex e fez uma comparação sobre a sua difícil situação em relação à estatal brasileira, a Petrobras.

A situação são distintas, mas as "soluções do mercado" são similares. Desmontar e vender as petroleiras estatais. É o avanço do capital financeiro sobre a indústria do petróleo, especialmente as estatais, que ainda se mantinham fortes.






















No Brasil, a Petrobras vende sua rede de gasodutos do Sudeste, a BR Distribuidora, parte dos direitos nas plantas petroquímicas e quer abrir mão do direito de ter 30% em todo os campos da área da colossal reservas do pré-sal.

No México, a matéria do jornal mexicano que a Pemex para se "adequar" ao mercado e enfrentar sua dívida em torno de US$ 100 bilhões, coloca à venda seus bens como as refinarias, complexos petroquímicos (planta de polietileno), navios petroleiros, plantas de absorção de hidrogênio, etc. como se pode ver na imagem da reportagem acima.

Esta é uma das consequências do ciclo petro-econômico, tema sobre o qual tenho me debruçado e que será motivo de minha exposição do evento no México. Insisto que este ciclo não é natural, ele é produzido e tem em algumas nações junto com fortes corporações interesses específicos.

Na atual fase do ciclo as empresas (petroleiras - operadoras - e as de insumos e serviços de engenharia que atendem o setor) se fundem, são incorporadas e os oligopólios se ampliam.

Mais que isto, por conta das dívidas, o sistema financeiro avança fortemente sobre o setor, absorvendo os "ativos" destas empresas a preços baixos, porque uma das consequências da fase de baixa do ciclo petro-econômico é a mudança cambial que desvaloriza a moeda local.

Assim, os bens ou ativos das petroleiras perdem "valor" pelas baixas contábeis e também pela variação cambial. A junção destas duas situações produz um resultado onde se depositam fortes interesses dos fundos financeiros que circulam pelo mundo.

Não é por outro motivo que a compra da rede de gasodutos do Sudeste da Petrobras foi liderada por um destes fundos, o canadense Brookfield. Outros fundos estão se organizando para participar de outras privatizações, aproveitando o que eles chamam de "janela de oportunidades", no processo de globalização mundial dos mercados, e que envolve o setor de petróleo como uma das importantes cadeias globais, onde há acumulações de excedentes econômicos a serem capturados.

Resistir é preciso. Novo ciclo e nova expansão darão lucros colossais a estes fundos financeiros depois de ter arruinado as nações, desmontado as petroleiras estatais, para quem trabalharão alguns dos seus técnicos mais qualificados, após saírem ou serem demitidos pelos planos "voluntários" e de incentivo à demissão.

Nova fase de expansão do ciclo do petróleo virá, não imediatamente adiante, mas após 2020. Estes fundos sabem disto e assim fazem estes "investimentos anti-cíclicos" para ganhar na fase de expansão e espoliar na fase de colapso, toda a estrutura de valor (da produção - circulação - consumo) que estas petroleiras estatais montaram ao longo de décadas em suas nações.

É isto que está sendo debatido hoje na Câmara Federal, em Brasília, para alterar um dos marcos legais do setor de petróleo no Brasil.

Entender esta realidade e seus meandros e também as fortes articulações entre os poderes econômicos e políticos (geopolíticos) que envolvem o setor e as populações, prescinde da compreensão disto que tenho chamado de "ciclo petro-econômico", razão de debates que tenho desenvolvido com outros pesquisadores e trabalhadores do setor e de minha exposição também aqui em Monterrey, México.

PS.: Atualizado às 13:58: Para alguns ajustes no texto, sem alteração do conteúdo.

"Seminário Modelo de Extrativismo Mineral sob Crítica" na UFES

No dia 10 de outubro de 2016 acontecerá no CCNH da UFES o "Seminário Modelo de Extrativismo Mineral sob Crítica". O evento é uma organização conjunta dos grupos de Pesquisa Organon e PoEMAS.

A programação está abaixo. Os organizadores informam que que as vagas são limitadas e a inscrição podem ser feitas pelo link: https://franciscoguilherme.typeform.com/to/pdtjri

Programação:
Análise de conjuntura boom e pós-boom da mineração
Rodrigo Santos - Doutor em Sociologia e Professor da UFRJ/(PoEMAS)

As zonas de sacrifício no Espírito Santo - sistemas portuários, infraestrutura de mineração
Cristiana Losekann - Doutora em Ciência Política e Professora da UFES/(Organon) e Roberto Vervloet - Doutor em Geografia Física/USP/(Organon)

O extrativismo mineral em Goiás - os mega projetos de extrativismo mineral e os conflitos com as comunidades rurais.
Ricardo Gonçalves - Doutor em Geografia e professor da UEG/(PoEMAS)

Debates: Maíra Mansur - Doutoranda em Sociologia na UFRJ/(PoEMAS)
Rafaela Dornelas - Mestra em Ciências Sociais/(Organon)

Concepções do social em mineração:

Os riscos da política e a política dos riscos. Estratégias empresariais diante da contestação social no setor de mineração.
Raquel Giffoni - Doutora em Planejamento Urbano e Regional e Professora do IFRJ/(PoEMAS)

O que é licença social?
Júlia Castro - Mestranda em Ciências Sociais na UFES/(Organon)

Resistência e contra informação: relatórios sombras e suas efetividades
Maíra Mansur - Doutoranda em Sociologia na UFRJ/(PoEMAS).

Maiores detalhes pode ser visto no link: https://www.facebook.com/events/1253598201358144/.

terça-feira, outubro 04, 2016

A descoberta de petróleo no pré-sal do Albacora reforça a hipótese de que ela é a bacia original

A descoberta do pré-sal no campo de Albacora, depois de já ter ocorrido no campo de Marlim, ambos na Bacia de Campos, reforça a hipótese de que ela seria, na verdade, a bacia original e não o inverso.

Sobre esta nova descoberta estima-se que o petróleo anterior seria aquele que teria vazado e atravessado o selante de sal para chegar à camada de pós-sal que é aquele mais próximo à linha d´água - e de menor profundidade e mais próximo ao continente - como se havia descoberto há 42 anos (1984) na bacia que na ocasião ganhou o nome de Campos, apesar de ser mais próximo de Macaé.

Esta hipótese (desconfiança) é antiga entre os geólogos que trabalharam e trabalham nas equipes de sondagem e estimativas sobre reservas de poços de petróleo no mar.

Se a hipótese se confirmar como tese, a ideia em relação à Bacia de Campos e às reservas de petróleo brasileira ganham ainda e muito mais relevância e podem reforçar também as interpretações geopolíticas que envolvem o Brasil, como temos insistido aqui no blog e em outros espaços de debates.

Hoje, a Bacia de Campos produz 1,6 milhão de barris por dia, ou 55% do total de 2,9 milhões de barris diários produzido no Brasil, pela Petrobras – cerca de 90% - e 10% somado da produção das demais empresas petroleiras.

No pré-sal de Albacora, a Petrobras já teria perfurado 5 poços. Foi nesta última perfuração que a estatal chegou a 4.600 metros de profundidade - concluída em junho último – e encontrou uma coluna de 45 metros de extensão e cerca de 500 metros de espessura, com "óleo leve de boa qualidade e com estimativa de vazão média de 15 mil barris".

A Petrobras está se organizando para fazer o primeiro Teste de Longa Duração (TLD) que é aquele que confirmam o volume das reservas que passam a ser denominadas de "provadas".

Assim, a Petrobras obedecendo a legislação já comunicou o feito à Agência Nacional de Petróleo (ANP). E empresa atesta que está é a maior das descobertas já feitas no pré-sal na Bacia de Campos tradicional reserva no pós-sal.

Outra grande notícia é que a descoberta no pré-sal do Albacora permitirá uma rápida preparação para a produção de petróleo, considerando que o campo já opera no pós-sal com duas plataformas.

A notícia ruim para os municípios da região, mas boa para todos os demais municípios brasileiros é que os royalties e as participações espaciais (PE) deste reservatório - no pré-sal do campo de Albacora - não reverterão em receitas - para estes municípios, antes chamados de produtores por estarem no litoral, na direção das projeções das paralelas e ortogonais dos extremos do continente rebatido sobre o mar, o ambiente offshore.

A maior comemoração deve estar sendo feita pelos controladores do Porto do Açu. Esta descoberta que deve orientar outras aumentam a potencialidade deste terminal portuário, já com base de apoio às explorações offshore montadas e com aumento paulatino de atuação.

Assim, o fato também expande o que tenho denominado em meus estudos do Circuito Espacial de Produção do Petróleo na direção de Macaé para SJB até o Açu. Veja mapa abaixo.

Resta saber se a nova direção da Petrobras se interessará em produzir e alocar este novo ativo ao seu rol, ou se poderá entrega-los como fez com o campo de Carcará, também na reserva do Pré-sal, só que da Bacia de Santos, vendido recentemente à norueguesa estatal, Statoil. 

Assim, volto a insistir como fiz na postagem, ontem, sobre o assunto aqui no blog: a descoberta do pré-sal no litoral brasileiro já é a maior fronteira de petróleo da última década no mundo e deverá permanecer e ampliar por mais uma ou duas décadas. Entregar esta joia da coroa é mais que crime de lesa-pátria!


segunda-feira, outubro 03, 2016

Descoberta de petróleo abaixo do campo de Albacora, na reserva do pré-sal, fica a 100 km do Farol de São Tomé: o litoral brasileiro é maior fronteira de petróleo das últimas décadas

O assunto foi divulgado hoje aqui pela jornalista Ramona Ordoñes de O Globo. Hoje, o campo de Albacora paga royalties por produção aos municípios de Campos e SJB, mas no pré-sal os municípios não terão direito nem aos royalties e nem às quotas trimestrais das chamadas participações especiais (PE), porque são na camada do Pré-sal.

Como a gente tem dito, as reservas do pré-sal são colossais. É a maior descoberta da última década e possivelmente se manterá para as duas próximas décadas no mundo.

O ex-diretor da Petrobras Guilherme Estrela, o "pai do pré-sal" costuma afirmar que o "pré-sal é riqueza única" porque "ele fica no talude até o sopé, antes da crosta oceânica", onde não deve ter mais petróleo.

Enfim, é baseado nisto que há um frisson entre as petroleiras estrangeiras com o governo Temerário, que junto com o Parente na Petrobras estão dispostos a entregar a joia da coroa a preço vil. Veja abaixo o mapa dos campos de petróleo, onde se localiza o Albacora, no litoral do Norte Fluminense:


domingo, outubro 02, 2016

A ameaça sempre presente do fascismo, lembrada por Umberto Eco

O momento é oportuno para reflexões que devem preceder as ações, mesmo que vinculadas e nunca dispersas. A ameaça do fascismo sorrateiro está como o cutelo sobre nossos pescoços, entre uma pseudo-democracia que já não dá importância dos votos como supõe os seguidos pleitos eleitorais.

O texto num dia de eleições que se segue ao desrespeito que se fez cassando os votos das urnas do último pleito no Brasil, não é por um acaso. Sim, é um texto longo, mas curtos têm sido os recados daqueles que instrumentam o novo fascismo travestido em democrático pelo voto que só vale se produzir os resultados que "eles" fascistamente e totalitariamente querem.

As ameaças chegam de todos os lados, formas e dimensões. Travestidas de falsos debates ela tenta se impor, diante do torpor da fragmentação contemporânea em que todos estão se comunicando e desligados de interpretações coerentes.

É neste contexto que o blogueiro traz à tona o artigo do saudoso escritor italiano Umberto Eco (1932-2016) publicado no Opera Mundi (aqui), de 1995 fruto de uma conferência proferida em 1995, na Universidade Columbia: Umberto Eco: 14 lições para identificar o neofascismo e o fascismo eterno".

Por fim duas observações de Eco:
Uma das características dos fascismos históricos tem sido o apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por alguma crise econômica ou humilhação política”.

"Não esqueçam”.

'O Fascismo Eterno'
Em 1942, com a idade de dez anos, ganhei o prêmio nos Ludi Juveniles (um concurso com livre participação obrigatória para jovens fascistas italianos — o que vale dizer, para todos os jovens italianos). Tinha trabalhado com virtuosismo retórico sobre o tema: “Devemos morrer pela glória de Mussolini e pelo destino imortal da Itália?” Minha resposta foi afirmativa. Eu era um garoto esperto. 
Depois, em 1943, descobri o significado da palavra “liberdade”. Contarei esta história no fim do meu discurso. Naquele momento, “liberdade” ainda não significava “liberação”.
Passei dois dos meus primeiros anos entre SS, fascistas e resistentes, que disparavam uns nos outros, e aprendi a esquivar-me das balas. Não foi mal exercício. 
Em abril de 1945, a Resistência tomou Milão. Dois dias depois os resistentes chegaram à pequena cidade em que eu vivia. Foi um momento de alegria. A praça principal estava cheia de gente que cantava e desfraldava bandeirolas, invocando Mimo, o líder a resistência na área, em alto brado. Mimo, ex-suboficial dos carabinieri, envolveu-se com os partidários do marechal Badoglio e perdeu uma perna nos primeiros confrontos. Apareceu no balcão da Prefeitura, apoiado em muletas, pálido; tentou acalmar a multidão com uma mão. Eu estava ali esperando seu discurso, já que toda a minha infância tinha sido marcada pelos grandes discursos históricos de Mussolini, cujos passos mais significativos aprendíamos de cor na escola. Silêncio. Mimo falo com voz rouca, quase não se ouvia. Disse: “Cidadãos, amigos. Depois de tantos sacrifícios dolorosos… aqui estamos. Glória aos que caíram pela liberdade…”. E foi tudo. Ele voltou para dentro. A multidão gritava, os membros da resistência levantaram as armas e atiraram para o alto, festivamente. Nós, rapazes, nos precipitamos para recolher os cartuchos, preciosos objetos de coleção, mas eu tinha aprendido então que liberdade de palavra significa também liberdade da retórica. 
Alguns dias depois vi os primeiros soldados norte-americanos. Eram afro-americanos. O primeiro ianque que encontrei era um negro, Joseph, que me apresentou às maravilhas de Dick Tracy e Ferdinando Buscapé. Seus gibis eram coloridos e tinham um cheiro bom.
Um dos oficiais (o major ou capitão Muddy) era hóspede na casa da família de dois dos meus companheiros de escola. Sentia-me em casa naquele jardim em que alguns senhores amontoavam-se em torno ao capitão Muddy, falando um francês aproximativo. O capitão Muddy tinha uma boa educação superior e conhecia um pouco de francês. Assim, minha primeira imagem dos libertadores norte-americanos, depois de tantos caras-pálidas de camisa negra, era a de um negro culto em uniforme cáqui que dizia: “Oui, merci beaucoup Madame, moi aussi j'aime le champagne…” Infelizmente, faltava o champagne, mas ganhei do capitão Muddy o meu primeiro chiclete e comecei mastigando o dia inteiro. De noite colocava o chiclete em um copo d'água para que ficasse fresco para o dia seguinte. 
Em maio, ouvimos dizer que a guerra tinha acabado. A paz deu-me uma sensação curiosa. Haviam me dito que a guerra permanente era a condição normal de um jovem italiano. Nos meses seguintes descobri que a Resistência não era apenas um fenômeno local, mas Europeu. Aprendi novas e excitantes palavras como “reseau”, “maquis”, “armée secrète”, “Rote Kapelle”, “gueto de Varsóvia”. Vi as primeiras fotografias do Holocausto e assim compreendi seu significado antes mesmo de conhecer a palavra. Percebi que havíamos sido liberados. 
Hoje na Itália existem algumas pessoas que se perguntam se a Resistência teve algum impacto militar real no curso da guerra. Para a minha geração a questão é irrelevante: compreendo imediatamente o significado moral e psicológico da Resistência. Era motivo de orgulho saber que nós, europeus, não tínhamos esperado passivamente pela liberação. Penso que, também para os jovens norte-americanos que derramaram seu sangue pela nossa liberdade, não era irrelevante saber que atrás das linhas havia europeus que já estavam pagando seu débito. 
Hoje na Itália tem gente que diz que a Resistência é um mito comunista. É verdade que os comunistas exploraram a Resistência como uma propriedade pessoal, pois realmente tiveram um papel primordial no movimento; mas lembro-me dos resistentes com bandeiras de diversas cores. 
Grudado ao rádio, passava as noites — as janelas fechadas e a escuridão geral faziam do pequeno espaço em torno ao aparelho o único halo luminoso — escutando as mensagens que a Rádio Londres transmitia para a Resistência. Eram, ao mesmo tempo, obscuras e poéticas (“Ainda brilha o sol”, “As rosas hão de florir”), mas a maior parte eram “mensagens para Franchi”. Alguém soprou no meu ouvido que Franchi era o líder de um dos grupos clandestinos mais poderosos da Itália do Norte, um homem de coragem legendária. Franchi tornou-se o meu herói. Franchi (cujo verdadeiro nome era Edgardo Sogno) era um monarquista tão anticomunista que, depois da guerra, se uniu a um grupo de extrema direita e foi até acusado de ter participado de um golpe de Estado reacionário. Mas que importa? Sogno ainda é o sonho da minha infância. A liberação foi um empreendimento comum de gente das mais diversas cores. 
Hoje na Itália tem gente que diz que a guerra de liberação foi um trágico período de divisão, e que precisamos agora de uma reconciliação nacional. A recordação daqueles anos terríveis deveria ser reprimida. Mas a repressão provoca neuroses. Se a reconciliação significa compaixão e respeito por todos aqueles que lutaram sua guerra de boa-fé, perdoar não significa esquecer. Posso até admitir que Eichmann acreditava sinceramente em sua missão, mas não posso dizer: “Ok, volte e faça tudo de novo”. Estamos aqui para recordar o que aconteceu e para declarar solenemente que “eles” não podem repetir o que fizeram. 
Mas quem são “eles”?
Se pensamos ainda nos governos totalitários que dominaram a Europa antes da Segunda Guerra Mundial, podemos dizer com tranquilidade que seria muito difícil que eles retornassem sob a mesma forma, em circunstâncias históricas diversas. Se o fascismo de Mussolini baseava-se na ideia de um líder carismático, no corporativismo, na utopia do “destino fatal de Roma”, em uma vontade imperialista de conquistar novas terras, em um nacionalismo exacerbado, no ideal de uma nação inteira arregimentada sob a camisa negra, na recusa da democracia parlamentar, no anti-semitismo, então não tenho dificuldade para admitir que a Aliança Nacional, nascida do MSI (Movimento Social e Italiano), é certamente um partido de direita, mas tem muito pouco a ver com o velho fascismo. Pelas mesmas razões, mesmo preocupado com os vários movimentos neonazistas ativos aqui e ali na Europa, inclusive na Rússia, não penso que o nazismo, e sua forma original, esteja ressurgindo como movimento capaz de mobilizar uma nação inteira. 
Todavia, embora os regimes políticos possam ser derrubados e as ideologias criticadas e destituídas de sua legitimidade, por trás de um regime e de sua ideologia há sempre um modo de pensar e de sentir, uma série de hábitos culturais, uma nebulosa de instintos obscuros e de pulsões insondáveis. Há, então, um outro fantasma que ronda a Europa (para não falar de outras partes do mundo)?
Ionesco disse certa vez que “somente as palavras contam, o resto é falatório”. Os hábitos linguísticos são muitas vezes sintomas importantes de sentimentos não expressos. 
Portanto, permitam-me perguntar por que não somente a Resistência mas toda a Segunda Guerra Mundial foram definidas em todo o mundo com uma luta contra o fascismo. Se relerem "Por quem os sinos dobram", de Hemingway, vão descobrir que Robert Jordan identifica seus inimigos com os fascistas, mesmo quando está pensando nos falangistas espanhóis. 
Permitam-me passar a palavra a Franklin Delano Roosevelt: “A vitória do povo americano e de seus aliados será uma vitória contra o fascismo e o beco sem saída que ele representa” (23 de setembro de 1944).
Durante os anos de McCarthy, os norte-americanos que tinham participado da guerra civil espanhola eram chamados de “fascistas prematuros” — entendendo com isso que combater Hitler nos anos 1940 era um dever moral de todo bom norte-americano, mas combater Franco cedo demais, nos anos 1930, era suspeito. Por que uma expressão como “fascist pig” era usada pelos radicais norte-americanos até para indicar um policial que não aprovava os que fumavam? Por que não diziam: “Porco Caugolard”, “Porco Falangista”, “Porco Quisling”, “Porco croata”, “Porco Ante Pavelic”, “Porco nazista”?
Mein Kampf é o manifesto completo de um programa político. O nazismo tinha uma teoria do racismo e do arianismo, uma noção precisa de entartete Kunst, a “arte degenerada”, uma filosofia da vontade de potência e da Übermensch. O nazismo era decididamente anticristão e neopagão, da mesma maneira que o Diamat (versão oficial do marxismo soviético) de Stalin era claramente materialista e ateu. Se como totalitarismo entende-se um regime que subordina qualquer ato individual ao Estado e sua ideologia, então nazismo e estalinismo eram regimes totalitários. 
O fascismo foi certamente uma ditadura, mas não era completamente totalitário, nem tanto por sua brandura quanto pela debilidade filosófica de sua ideologia. Ao contrário do que se pensa comumente, o fascismo italiano não tinha uma filosofia própria. O artigo sobre o fascismo assinado por Mussolini para a Enciclopédia Treccani foi escrito ou inspirou-se fundamentalmente em Giovanni Gentile, mas refletia uma noção hegeliana tardia do “Estado ético absoluto”, que Mussolini nunca realizou completamente. Mussolini não tinha qualquer filosofia: tinha apenas uma retórica.
Começou como ateu militante, para depois firmar a concordata com a Igreja e confraternizar com os bispos que benziam os galhardetes fascistas. Em seus primeiros anos anticlericais, segundo uma lenda plausível, pediu certa vez a Deus que o fulminasse ali mesmo para provar sua existência. Deus estava, evidentemente, distraído. Nos anos seguintes, em seus discursos, Mussolini citava sempre o nome de Deus e não desdenhava o epíteto: “homem da Providência”. Pode-se dizer que o fascismo italiano foi a primeira ditadura de direita que dominou um país europeu e que, em seguida, todos os movimentos análogos encontraram uma espécie de arquétipo comum no regime de Mussolini. 
O fascismo italiano foi o primeiro a criar uma liturgia militar, um folclore e até mesmo um modo de vestir-se — conseguindo mais sucesso no exterior que Armani, Benetton ou Versace. Foi somente nos anos 1930 que surgiram movimentos fascistas na Inglaterra, com Mosley, e na Letônia, Estônia, Lituânia, Polônia, Hungria, Romênia, Bulgária, Grécia, Iugoslávia, Espanha, Portugal, Noruega e até na América do Sul, para não falar da Alemanha. Foi o fascismo italiano que convenceu muitos líderes liberais europeus de que o novo regime estava realizando interessantes reformas sociais, capazes de fornecer uma alternativa moderadamente revolucionária à ameaça comunista. 
Todavia, a prioridade histórica não me parece ser uma razão suficiente para explicar por que a palavra “fascismo” tornou-se uma sinédoque, uma denominação pars pro toto para movimentos totalitários diversos. Não adianta dizer que o fascismo continha em si todos os elementos dos totalitarismos sucessivos, por assim dizer, em “estado quintessencial”. Ao contrário, o fascismo não possuía nenhuma quintessência e sequer uma só essência. O fascismo era um totalitarismo fuzzy[1]. O fascismo não era uma ideologia monolítica, mas antes uma colagem de diversas ideais políticas e filosóficas, uma colmeia de contradições. É possível conceber um movimento totalitário que consiga juntar monarquia e revolução, exército real e milícia pessoal de Mussolini, os privilégios concedidos à Igreja e uma educação estatal que exaltava a violência e o livre mercado?
O partido fascista nasceu proclamando sua nova ordem revolucionária, mas era financiado pelos proprietários de terras mais conservadores, que esperavam uma contrarrevolução. O fascismo do começo era republicano e sobreviveu durante vinte anos proclamando sua lealdade à família real, permitindo que um “duce” puxasse as cordinhas de um “rei”, a quem ofereceu até o título de “imperador”. Mas quando, em 1943, o rei despediu Mussolini, o partido reapareceu dois meses depois, com a ajuda dos alemães, sob a bandeira de uma república “social”, reciclando sua velha partitura revolucionária, enriquecida de acentuações quase jacobinas. 
Existiu apenas uma arquitetura nazista, apenas uma arte nazista. Se o arquiteto nazista era Albert Speer, não havia lugar para Mies van der Rohe. Da mesma maneira, sob Stalin, se Lamarck tinha razão, não havia lugar para Darwin. Ao contrário, existiram certamente arquitetos fascistas, mas ao lado de seus pseudocoliseus surgiram também os novos edifícios inspirados no moderno racionalismo de Gropius. 
Não houve um Zdanov fascista. Na Itália existiam dois importantes prêmios artísticos: o Prêmio Cremona era controlado por um fascista inculto e fanático como Farinacci, que encorajava uma arte propagandista (recordo-me de quadros intitulados Ascoltando all radio un discorso del Duce ou Stati mentali creati dal Fascismo); e o Prêmio Bergamo, patrocinado por um fascista culto e razoavelmente tolerante como Bottai, que protegia a arte pela arte e as novas experiências da arte de vanguarda que, na Alemanha, haviam sido banidas como corruptas, criptocomunistas, contrárias ao Kitsch nibelúngico, o único aceito. 
O poeta nacional era D'Annunzio, um dândi que na Alemanha ou na Rússia teria sido colocado diante de um pelotão de fuzilamento. Foi alçado à categoria de vate do regime pro seu nacionalismo e seu culto do heroísmo — com o acréscimo de grandes doses de decadentismo francês. 
Tomemos o futurismo. Deveria ter sido considerado um exemplo de entartete Kunst, assim como o expressionismo, o cubismo, o surrealismo. Mas os primeiros futuristas italianos eram nacionalistas, favoreciam por motivos estéticos a participação da Itália na Primeira Guerra Mundial, celebravam a velocidade, a violência, o risco e, de certa maneira, estes aspectos pareciam próximos ao culto fascista da juventude. Quando o fascismo identificou-se com o império romano e redescobriu as tradições rurais, Marinetti (que proclamava que um automóvel era mais belo que a Vitória de Samotrácia e queria inclusive matar o luar) foi nomeado membro da Accademia d'Italia, que tratava o luar com grande respeito. 
Muitos dos futuros membros da Resistência, e dos futuros intelectuais do futuro Partido Comunista, foram educados no GUF, a associação fascista dos estudantes universitários, que deveria ser o berço da nova cultura fascista. Esses clubes tornaram-se uma espécie de caldeirão intelectual em que circulavam novas ideias sem nenhum controle ideológico real, não tanto porque os homens de partido fossem tolerantes, mas porque poucos entre eles possuíam os instrumentos intelectuais para controlá-los. 
No curso daqueles vinte anos, a poesia dos herméticos representou uma reação ao estilo pomposo do regime: a estes poetas era permitido elaborar seus protestos literários dentro da torre de marfim. O sentimento dos herméticos era exatamente o contrário do culto fascista do otimismo e do heroísmo. O regime tolerava esta distensão evidente, embora socialmente imperceptível, porque não prestava atenção suficiente ao um jargão tão obscuro. 
O que não significa que o fascismo italiano fosse tolerante. Gramsci foi mantido na prisão até a morte, Matteotti e os irmãos Rosselli foram assassinados, a liberdade de imprensa suspensa, os sindicatos desmantelados, os dissidentes políticos confinados em ilhas remotas, o poder legislativo tornou-se pura ficção e o executivo (que controlava o judiciário, assim como a mídia) emanava diretamente as novas leis, entre as quais a da defesa da raça (apoio formal italiano ao Holocausto).
A imagem incoerente que descrevi não era devida à tolerância: era um exemplo de desconjuntamento político e ideológico. Mas era um “desconjuntamento ordenado”, uma confusão estruturada. O fascismo não tinha bases filosóficas, mas do ponto de vista emocional era firmemente articulado a alguns arquétipos. 
Chegamos agora ao segundo ponto de minha tese. Existiu apenas um nazismo, e não podemos chamar de “nazismo” o falangismo hipercatólico de Franco, pois o nazismo é fundamentalmente pagão, politeísta e anticristão, ou não é nazismo. Ao contrário, pode-se jogar com o fascismo de muitas maneiras, e o nome do jogo não muda. Acontece com a noção de “fascismo” aquilo que, segundo Wittgenstein, acontece com a noção de “jogo”. Um jogo pode ser ou não competitivo, pode envolver uma ou mais pessoas, pode exigir alguma habilidade particular ou nenhuma, pode envolver dinheiro ou não. Os jogos são uma série de atividades diversas que apresentam apenas alguma “semelhança de família”:
1 - 2 - 3 - 4
abc bcd cde def
Suponhamos que exista uma série de grupos políticos. O grupo 1 é caracterizado pelos aspectos abc, o grupo 2, pelos aspectos bcd e assim por diante. 2 é semelhante a 1 na medida em que têm dois aspectos em comum. 3 é semelhante a 2 e 4 e é semelhante a 1 (têm em comum o aspecto c). O caso mais curioso é dado pelo 4, obviamente semelhante a 3 e a 2, mas sem nenhuma característica em comum com 1. Contudo, em virtude da ininterrupta série de decrescentes similaridades entre 1 e 4, permanece, por uma espécie de transitoriedade ilusória, um ar de família entre 4 e 1.
O termo “fascismo” adapta-se a tudo porque é possível eliminar de um regime fascista um ou mais aspectos, e ele continuará sempre a ser reconhecido como fascista. Tirem do fascismo o imperialismo e teremos Franco ou Salazar; tirem o colonialismo e teremos o fascismo balcânico. Acrescentem ao fascismo italiano um anticapitalismo radical (que nunca fascinou Mussolini) e teremos Ezra Pound. Acrescentem o culto da mitologia céltica e o misticismo do Graal (completamente estranho ao fascismo oficial) e teremos um dos mais respeitados gurus fascistas, Julios Evola. 
A despeito dessa confusão, considero possível indicar uma lista de características típicas daquilo que eu gostaria de chamar de “Ur-Fascismo”, ou “fascismo eterno”. Tais características não podem ser reunidas em um sistema; muitas se contradizem entre si e são típicas de outras formas de despotismo ou fanatismo. Mas é suficiente que uma delas se apresente para fazer com que se forme uma nebulosa fascista. 
1.   A primeira característica de um Ur-Fascismo é o culto da tradição. O tradicionalismo é mais velho que o fascismo. Não somente foi típico do pensamento contra reformista católico depois da Revolução Francesa, mas nasceu no final da idade helenística como uma reação ao racionalismo grego clássico.
Na bacia do Mediterrâneo, povos de religiões diversas (todas aceitas com indulgência pelo Panteon romano) começaram a sonhar com uma revelação recebida na aurora da história humana. Essa revelação permaneceu longo tempo escondida sob o véu de línguas então esquecidas. Havia sido confiada aos hieróglifos egípcios, às runas dos celtas, aos textos sacros, ainda desconhecidos, das religiões asiáticas.
Essa nova cultura tinha que ser sincretista. “Sincretismo” não é somente, como indicam os dicionários, a combinação de formas diversas de crenças ou práticas. Uma combinação assim deve tolerar contradições. Todas as mensagens originais contêm um germe de sabedoria e, quando parecem dizer coisas diferentes ou incompatíveis, é apenas porque todas aludem, alegoricamente, a alguma verdade primitiva.
Como consequência, não pode existir avanço do saber. A verdade já foi anunciada de uma vez por todas, e só podemos continuar a interpretar sua obscura mensagem. É suficiente observar o ideário de qualquer movimento fascista para encontrar os principais pensadores tradicionalistas. A gnose nazista nutria-se de elementos tradicionalistas, sincretistas ocultos. A mais importante fonte teórica da nova direita italiana Julius Evola, misturava o Graal com os Protocolos dos Sábios de Sião, a alquimia com o Sacro Império Romano. O próprio fato de que, para demonstrar sua abertura mental, a direita italiana tenha recentemente ampliado seu ideário juntando De Maistre, Guenon e Gramsci é uma prova evidente de sincretismo.
Se remexerem nas prateleiras que nas livrarias americanas trazem a indicação “New Age”, irão encontrar até mesmo Santo Agostinho e, que eu saiba, ele não era fascista. Mas o próprio fato de juntar Santo Agostinho e Stonehenge, isto é um sintoma de Ur-Fascismo.
2. O tradicionalismo implica a recusa da modernidade. Tanto os fascistas como os nazistas adoravam a tecnologia, enquanto os tradicionalistas em geral recusam a tecnologia como negação dos valores espirituais tradicionais. Contudo, embora o nazismo tivesse orgulho de seus sucessos industriais, seu elogio da modernidade era apenas o aspecto superficial de uma ideologia baseada no “sangue” e na “terra” (Blut und Boden). A recusa do mundo moderno era camuflada como condenação do modo de vida capitalista, mas referia-se principalmente à rejeição do espírito de 1789 (ou 1776, obviamente). O iluminismo, a idade da Razão eram vistos como o início da depravação moderna. Nesse sentido, o Ur-Fascismo pode ser definido como “irracionalismo”. 
3. O irracionalismo depende também do culto da ação pela ação. A ação é bela em si, portanto, deve ser realizada antes de e sem nenhuma reflexão. Pensar é uma forma de castração. Por isso, a cultura é suspeita na medida em que é identificada com atitudes críticas. Da declaração atribuída a Goebbels (“Quando ouço falar em cultura, pego logo a pistola”) ao uso frequente de expressões como “Porcos intelectuais”, “Cabeças ocas”, “Esnobes radicais”, “As universidades são um ninho de comunistas”, a suspeita em relação ao mundo intelectual sempre foi um sintoma de Ur-Fascismo. Os intelectuais fascistas oficiais estavam empenhados principalmente em acusar a cultura moderna e a inteligência liberal de abandono dos valores tradicionais. 
4. Nenhuma forma de sincretismo pode aceitar críticas. O espírito crítico opera distinções, e distinguir é um sinal de modernidade. Na cultura moderna, a comunidade científica percebe o desacordo como instrumento de avanço dos conhecimentos. Para o Ur-Fascismo, o desacordo é traição. 
5. O desacordo é, além disso, um sinal de diversidade. O Ur-Fascismo cresce e busca o consenso desfrutando e exacerbando o natural medo da diferença. O primeiro apelo de um movimento fascista ou que está se tornando fascista é contra os intrusos. O Ur-Fascismo é, portanto, racista por definição. 
6. O Ur-Fascismo provém da frustração individual ou social. O que explica por que uma das características dos fascismos históricos tem sido o apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por alguma crise econômica ou humilhação política, assustadas pela pressão dos grupos sociais subalternos. Em nosso tempo, em que os velhos “proletários” estão se transformando em pequena burguesia (e o lumpesinato se auto exclui da cena política), o fascismo encontrará nessa nova maioria seu auditório. 
7. Para os que se vêem privados de qualquer identidade social, o Ur-Fascismo diz que seu único privilégio é o mais comum de todos: ter nascido em um mesmo país. Esta é a origem do “nacionalismo”. Além disso, os únicos que podem fornecer uma identidade às nações são os inimigos. Assim, na raiz da psicologia Ur-Fascista está a obsessão do complô, possivelmente internacional. Os seguidores têm que se sentir sitiados. O modo mais fácil de fazer emergir um complô é fazer apelo à xenofobia. Mas o complô tem que vir também do interior: os judeus são, em geral, o melhor objetivo porque oferecem a vantagem de estar, ao mesmo tempo, dentro e fora. Na América, o último exemplo de obsessão pelo complô foi o livro The New World Order, de Pat Robertson. 
8. Os adeptos devem sentir-se humilhados pela riqueza ostensiva e pela força do inimigo. Quando eu era criança ensinavam-me que os ingleses eram o “povo das cinco refeições”: comiam mais frequentemente que os italianos, pobres mas sóbrios. Os judeus são ricos e ajudam-se uns aos outros graças a uma rede secreta de mútua assistência. Os adeptos devem, contudo, estar convencidos de que podem derrotar o inimigo. Assim, graças a um contínuo deslocamento de registro retórico, os inimigos são, ao mesmo tempo, fortes demais e fracos demais. Os fascismos estão condenados a perder suas guerras, pois são constitutivamente incapazes de avaliar com objetividade a força do inimigo. 
9. Para o Ur-Fascismo não há luta pela vida, mas antes “vida para a luta”. Logo, o pacifismo é conluio com o inimigo; o pacifismo é mau porque a vida é uma guerra permanente. Contudo, isso traz consigo um complexo de Armagedon: a partir do momento em que os inimigos podem e devem ser derrotados, tem que haver uma batalha final e, em seguida, o movimento assumirá o controle do mundo. Uma solução final semelhante implica uma sucessiva era de paz, uma idade de Ouro que contestaria o princípio da guerra permanente. Nenhum líder fascista conseguiu resolver essa contradição. 
10. O elitismo é um aspecto típico de qualquer ideologia reacionária, enquanto fundamentalmente aristocrática. No curso da história, todos os elitismos aristocráticos e militaristas implicaram o desprezo pelos fracos. O Ur-Fascismo não pode deixar de pregar um “elitismo popular”. Todos os cidadãos pertencem ao melhor povo do mundo, os membros do partido são os melhores cidadãos, todo cidadão pode (ou deve) tornar-se membro do partido. Mas patrícios não podem existir sem plebeus. O líder, que sabem muito em que seu poder não foi obtido por delegação, mas conquistado pela força, sabe também que sua força baseia-se na debilidade das massas, tão fracas que têm necessidade e merecem um “dominador”. No momento em que o grupo é organizado hierarquicamente (segundo um modelo militar), qualquer líder subordinado despreza seus subalternos e cada um deles despreza, por sua vez, os seus subordinados. Tudo isso reforça o sentido de elitismo de massa. 
11. Nesta perspectiva, cada um é educado para tornar-se um herói. Em qualquer mitologia, o “herói” é um ser excepcional, mas na ideologia Ur-Fascista o heroísmo é a norma. Este culto do heroísmo é estreitamente ligado ao culto da morte: não é por acaso que o mote dos falangistas era: “Viva la muerte!” À gente normal diz-se que a morte é desagradável, mas é preciso enfrentá-la com dignidade; aos crentes, diz-se que é um modo doloroso de atingir a felicidade sobrenatural. O herói Ur-Fascista, ao contrário, aspira à morte, anunciada como a melhor recompensa para uma vida heroica. O herói Ur-Fascista espera impacientemente pela morte. E sua impaciência, é preciso ressaltar, consegue na maior parte das vezes levar os outros à morte. 
12. Como tanto a guerra permanente como o heroísmo são jogos difíceis de jogar, o Ur-Fascista transfere sua vontade de poder para questões sexuais. Esta é a origem do machismo (que implica desdém pelas mulheres e uma condenação intolerante de hábitos sexuais não-conformistas, da castidade à homossexualidade). Como o sexo também é um jogo difícil de jogar, o herói Ur-Fascista joga com as armas, que são seu Ersatz fálico: seus jogos de guerra são devidos a uma inveja pênis permanente. 
13. O Ur-Fascismo baseia-se em um “populismo qualitativo”. Em uma democracia, os cidadãos gozam de direitos individuais, mas o conjunto de cidadãos só é dotado de impacto político do ponto de vista quantitativo (as decisões da maioria são acatadas). Para o Ur-Fascismo os indivíduos enquanto indivíduos não têm direitos e “o povo” é concebido como uma qualidade, uma entidade monolítica que exprime “a vontade comum”. Como nenhuma quantidade de seres humanos pode ter uma vontade comum, o líder apresenta-se como seu intérprete. Tendo perdido seu poder de delegar, os cidadãos não agem, são chamados apenas pars pro toto, para assumir o papel de povo. O povo é, assim, apenas uma ficção teatral. Para ter um bom exemplo de populismo qualitativo, não precisamos mais da Piazza Venezia ou do estádio de Nuremberg.
Em nosso futuro desenha-se um populismo qualitativo TV ou internet, no qual a resposta emocional de um grupo selecionado de cidadãos pode ser apresentada e aceita como a “voz do povo”. Em virtude de seu populismo qualitativo, o Ur-Fascismo deve opor-se aos “pútridos” governos parlamentares. Uma das primeiras frases pronunciadas por Mussolini no Parlamento italiano foi:“Eu poderia ter transformado esta assembleia surda e cinza em um acampamento para meus regimentos”. De fato, ele logo encontrou alojamento melhor para seus regimentos e pouco depois liquidou o Parlamento. Cada vez que um político põe em dúvida a legitimidade do Parlamento por não representar mais a “voz do povo”, pode-se sentir o cheiro de Ur-Fascismo. 
14. O Ur-Fascismo fala a “novilíngua”. A “novilíngua” foi inventada por Orwell em 1984, como língua oficial do Ingsoc, o Socialismo Inglês, mas certos elementos de Ur-Fascismo são comuns a diversas formas de ditadura. Todos os textos escolares nazistas ou fascistas baseavam-se em um léxico pobre e em uma sintaxe elementar, com o fim de limitar os instrumentos para um raciocínio complexo e crítico. Devemos, porém estar prontos a identificar outras formas de novilíngua, mesmo quando tomam a forma inocente de um talk-show popular. 
Depois de indicar os arquétipos possíveis do Ur-Fascismo, permitam-me concluir. Na manhã de 27 de julho de 1943 foi-me dito que, segundo informações lidas na rádio, o fascismo havia caído e Mussolini tinha sido feito prisioneiro. Minha mãe mandou-me comprar o jornal. Fui ao jornaleiro mais próximo e vi que os jornais estavam lá, mas os nomes eram diferentes. Além disso, depois de uma breve olhada nos títulos, percebi que cada jornal dizia coisas diferentes. Comprei um, ao acaso, e li uma mensagem impressa na primeira página, assinada por cinco ou seis partidos políticos como Democracia Cristã, Partido Comunista, Partido Socialista, Partido de Ação, Partido Liberal. Até aquele momento pensei que só existisse um partido em todas as cidades e que na Itália só existisse, portanto, o Partido Nacional Fascista.
Eu estava descobrindo que, no meu país, podiam existir diversos partidos ao mesmo tempo. E não só isso: como eu era um garoto esperto, logo me dei conta de que era impossível que tantos partidos tivessem aparecido de um dia para o outro. Entendi assim que eles já existiam como organizações clandestinas. 
A mensagem celebrava o fim da ditadura e o retorno à liberdade: liberdade de palavra, de imprensa, de associação política. Estas palavras, “liberdade”, “ditadura” — Deus meu —, era a primeira vez em toda a minha vida que eu as lia. Em virtude dessas novas palavras renasci como homem livre ocidental. 
Devemos ficar atentos para que o sentido dessas palavras não seja esquecido de novo. O Ur-Fascismo ainda está ao nosso redor, às vezes em trajes civis. Seria muito confortável para nós se alguém surgisse na boca de cena do mundo para dizer: “Quero reabrir Auschwitz, quero que os camisas-negras desfilem outra vez pelas praças italianas!”. Ai de mim, a vida não é fácil assim! O Ur-Fascismo pode voltar sob as vestes mais inocentes. Nosso dever é desmascará-lo e apontar o indicador para cada uma de suas novas formas — a cada dia, em cada lugar do mundo. Cito ainda as palavras de Roosevelt: “Ouso dizer que, se a democracia americana parasse de progredir como uma força viva, buscando dia e noite melhorar, por meios pacíficos, as condições de nossos cidadãos, a força do fascismo cresceria em nosso país” (4 de novembro de 1938). Liberdade, liberação são uma tarefa que não acaba nunca. Que seja este o nosso mote: “Não esqueçam”. 
E permitam-me acabar com uma poesia de Franco Fortini:
Sulla spalletta del ponte
Le teste degli impiccati
Nell'acqua della fonte
La bava degli impiccati
Sul lastrico del mercato
Le unghie dei fucilati
Sull'erba secca del prato
I denti dei fucilati

Mordere l'aria mordere i sassi
La nostra carne non à più d'uomini
Mordere l'aria mordere i sassi
Il nostro cuore non à più d'uomini.
Ma noi s'è letto negli occhi dei morti
E sulla terra faremo libertà
Ma l'hanno stretta i pugni dei morti
La giustizia che si farà.
Na amurada da ponte
A cabeça dos enforcados
Na água da fonte
A baba dos enforcados
No calçamento do mercado
As unhas dos fuzilados
Sobre a grama seca do prado
Os dentes dos fuzilados

Morder o ar morder as pedras
Nossa carne não é mais de homens
Morder o ar morder as pedras
Nosso coração não é mais de homens
Mas lemos nos olhos dos mortos
E sobre a terra a liberdade havemos de fazer
Mas estreitaram-na nos punhos os mortos
A justiça que se há de fazer.

Umberto Eco, O Fascismo Eterno, in: Cinco Escritos Morais,
Tradução: Eliana Aguiar, Editora Record, Rio de Janeiro, 2002.

[1] Usado atualmente em lógica para designar conjuntos “esfumados”, de contornos imprecisos, o termo fuzzy poderia ser traduzido como “esfumado”, “confuso”, “impreciso”, “desfocado”.