Blog do Roberto Moraes
63 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia; Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
sexta-feira, maio 27, 2022
Soberania x dependência: história mais recente da Petrobras vista a partir do petróleo como fração do capital
quarta-feira, maio 25, 2022
Case em matéria jornalística expõe fenômeno da startupização, financeirização e plataformismo
segunda-feira, maio 09, 2022
Governo militar usa infraestrutura cibernética para manutenção do projeto de poder
quinta-feira, maio 05, 2022
A propriedade das Big Techs e a dominação tecnológica-digital ampliam as desigualdades e a assimetria no capitalismo contemporâneo
Muitos dizem que a digitalização cria valor e não basicamente extrai renda da sociedade. Interessante essa afirmação, porém, se fosse verdade como explicar que as Big Techs não param de crescer, enquanto, simultaneamente, a economia global patina?
Nove
das 10 maiores corporações em valor de mercado na economia mundial são da área
de tecnologia. As cinco primeiras têm valor de mercado acima de U$ 1 trilhão
cada. Mesmo com a queda média de não esperada de 14%, neste último mês de abril, anunciada ontem (04/05/22), juntas, as Big Techs superam US$ 8 trilhões e até aqui puxaram a valorização das bolsas de
valores, enquanto a economia em geral, antes mesmo da pandemia e da guerra, segue bem pior.
Agora,
ainda no final da pandemia e com a escalada do conflite EUA-OTAN x Rússia na
Ucrânia, esse quadro piorou com a redução das atividades econômicas e inflação, mas
as ações destas gigantes empresas de tecnologia (Big Techs) seguem disparando, enquanto
a economia segue tropeçando. Assim, se observa que as desigualdades se
ampliaram.
Para
começar a entender a “dominação tecnológica-digital” e sua “aliança com a financeirização”
é necessário ir um pouco mais fundo na análise dos modelos de negócios que essas
Big Techs desenvolveram.
É preciso observar que mais que apropriar
dados, as Big Techs apropriam renda
Para
observar esse processo deve-se olhar a propriedade e os fluxos de capital. Onde
e como, efetivamente, essas gigantes de tecnologia (como agentes) atuam e
capturam renda e valor. Os processos que utilizam e as estratégias que dirigem
seus negócios.
Neste
exercício, não é difícil observar que e concentração de atividades que explicam
a monopolização (oligopolização) do setor. As gigantes da tecnologia controlam
publicidade, direitos de uso/acesso e captura de dados, através de suas enormes
e tentaculares infraestruturas. Assim, expandem suas atuações e ampliam o
controle da propriedade com a"propriação" de renda — mais que a
apropriação de dados — sobre todos os demais setores da economia e da sociedade.
A apropriação é feita pelo setor de tecnologia, mas acontece de forma externa à digitalização, através dos proprietários destas gigantes de tecnologia que capturam renda e valor dos demais setores da economia e em todos os lugares, desde o centro sede de seus negócios, à periferia do sistema-mundo.
Em síntese e refletindo melhor (e com Srnicek, 2021) sobre esse processo, é possível observar que os dados acabam sendo "meio" que servem para alcançar as rendas dos demais setores em que a digitalização vai chegando.
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Mapa do 1,3 milhão km de cabos submarinos instalados no mundo. Fonte: https://www.submarinecablemap.com/ |
Parte de propriedade das operadoras de telefonia e cada vez mais são instalados cabos de propriedade das Big Techs. É no âmbito dessas infraestruturas que o processo de intermediação realizada pelas Big Techs se vale de técnicas, arranjos de propriedade, algoritmos e infraestruturas que envolve as plataformas digitais dirigidas por grandes empresas-plataformas ou empresas-aplicativos.
São investimentos em infraestruturas (IE) de tecnologia que possibilitarão amplia ainda mais a extração de renda, a condição de monopólio rentista das Big Techs, sobre um mercado de demanda quase infinita, que ao final leva à instituição dessa espécie de império rentista-digital que se observa.
Vampirização e rentismo das plataformas
digitais sobre demais setores leva à plutocracia
É
no interior dos seus modelos de negócio que o setor de tecnologia vai sugando a
riqueza produzida pelos demais setores da vida humana desde a produção material
à imaterial. Um processo de vampirização digital sobre os demais setores.
Todas
as empresas de todos os setores passaram a depender cada vez mais das
empresas-plataformas que como intermediários se transformaram em rentistas sugando
lucro de todos os setores e empresas de todos os portes. Processo que tende a
uma disputa intercapitalista, entre empresas-plataformas que se apropria de valor
das empresas não plataformas e se transformam em monopólios (oligopólios).
Tudo
isso amplia a desigualdade e a disputa intercapitalista no interior do sistema,
ao reduzir margens de lucros em outros negócios da economia real, ao mesmo tempo, em que torna hegemônica a participação e relação entre a tecnologia e a
financeirização no sistema-mundo. Esses dois setores atuam transversalmente — e de forma intensa
— sobre todas as demais frações do capital na contemporaneidade. Fenômeno que alguns
autores passaram a denominar essa etapa de capitalismo informacional, que vai para além das
plataformas digitais vistas como partes deste processo.
Vampirismo digital, talvez seja, uma expressão simbólica para explicar a extração de renda e valor dos demais setores da economia, assim como dos excedentes da sociedade. Um processo que amplia a concentração de renda em propriedades de corporações oligopólicas que atuam de forma imbricada às inovações financeiras, impondo uma espécie de dominação (império financeiro-digital), em nova (superior) etapa de acumulação de capital.
Para finalizar não se pode esquecer que a dominação digital é desenvolvida com profunda repercussão nas relações de poder. A digitalização se desenvolve não apenas como meio de produção, comércio e finanças, mas também como meio de comunicação com imenso poder de manipulação política e de controles sobre o poder no interior e entre nações. Na hierarquia (e assimetria) entre as nações, na direção da plutocracia (regime político dos ricos), que em última instância, significa a geopolítica na chamada ordem global.
segunda-feira, abril 25, 2022
Campos dos Goytacazes tem maioria de mulheres universitárias e 39% de negros
Um número expressivo de 4.206 docentes atuando no ensino superior presencial no município. Há mais mulheres como estudantes (61%) do que como docentes (48%). Assim como, há mais negros e pardos como estudantes (39%) do que como docentes (9%).
A presença de pretos e pardos crescem a partir de 2012, quando do início da Política de Quotas. Em 2011, apenas 12% eram pardos e negros, enquanto 67% não declaravam a raça com 21% declarados como brancos.
Estudantes (graduandos) em matrículas presenciais:
Total: 18.050 matrículas;
61% mulheres x 39% homens;
Pardos + pretos 39% x 55% brancos x 15% não declarados;
61% matrículas noturno x 39% diurno.
Docentes atuando no Ensino Superior presencial:
Total: 4.206 professores;
52% homens (2.181) x 48% (2.025) mulheres;
52% com titulação de mestrado; 25% de doutorado e 22% especialização;
66% atuam em tempo integral;
18% tem idade 40-44 anos; 16% idade 35-39 anos e 16% entre 45-49 anos; 12% acima de 60 anos e 12% entre 30-34 anos;
59% não declaram raça; 31% brancos; 9,2% pardos e negros.
sexta-feira, abril 22, 2022
Corporações de tecnologia deixam bem para trás empresas do setor de petróleo em valor de mercado
Já sabemos que os saltos de valor das corporações do setor de tecnologia são colossais, mas nem sempre temos ideia disso em termos comparados e relativos. Visto dessa forma, esses indicadores podem nos apontar a dinâmica contemporânea do capitalismo contemporâneo.
Assim, dando prosseguimento às minhas pesquisas sobre os movimentos do capital e sobre a economia digital ao nível global, eu me deparei com dados atualizados que julguei interessante compartilhar. Não é exatamente uma informação nova, mas os dados são simbólicos, por isso, merecem destaque.
Simbolizam as transformações do capitalismo contemporâneo, as
bases da reestruturação produtiva da chamada economia de
plataformas/digitalização - plataformismo - e sua relação com a financeirização e a hegemonia do tal "mercado".
Assim, usando a base de dados "online" do Infinite Market Cap,
tabulei uma lista com o valor de mercado atualizado das dez maiores empresas do setor
de tecnologia e do setor de petróleo e gás. Coloquei lado a lado para melhor no quadro abaixo para melhor visualização dessa transformação.
A comparação é útil para se perceber a transformação e a transferência do controle do setor de petróleo - que lubrificou o capitalismo, durante quase um século -, sendo agora paulatinamente, dividido e repassado para o setor de tecnologia que hoje lubrifica a financeirização.
Estamos falando de corporações que atuam de forma transescalar, multidimensional e transversal sobre os demais setores da economia, como também é o caso do setor petróleo, no interior do
capitalismo contemporâneo. Não por acaso, ambos os setores econômicos (frações do capital) se concentram em grandes oligopólios, centralizados e sediados (grande maioria) nos EUA.
Os dados impressionam e falam por si. As corporações de tecnologia não apenas estão entre as maiores do mundo, mas há algum tempo passaram as cias de petróleo em valor de mercado. A exceção é a petroleira estatal Saudi Aramco da Arábia Saudita, 2ª no ranking global, que recentemente apareceu na lista por ter aberto seu capital.
As demais oito petroleiras da lista estão abaixo da décima na lista das corporações de tecnologia. A coreana Samsung e a anglo-holandesa Shell estão praticamente empatadas no valor de mercado. Merece destaque ainda a presença da Petrobras como 10ª maior petroleira em valor de mercado, quando já esteve bem melhor situada em passado recente.
Vale registrar que rankings são feitos a partir de diferentes indicadores. Há rankings que avaliam as maiores companhias por receita, outros por lucros. Esta tabulação lista as empresas por valor de mercado. São corporações que atuam no mercado aberto de capitais, nas bolsas de valores onde, vendem suas ações. As companhias de capital fechado não aparece nesse ranking.
Outra informação importante é que esse ranking por valor de
mercado é "online", assim se alteram minuto a minuto. Os dados aqui tabulados são de 20 abr. 2022, às 12 horas. Os dados das empresas asiáticas em especial da
China devem ser vistos com reservas porque os valores globais são distintos do
que eles consideram.
quarta-feira, abril 20, 2022
Entre 2003 e 2020, IES públicas do ERJ cresceram 91% das matrículas no ensino superior presencial, enquanto IES privadas perderam alunos
O número total de matrículas nas Instituições de Ensino Superior (IES) no ERJ segue caindo desde o pico em 2018, quando chegaram a 544 mil matrículas. Em 2019 teve uma queda de 5% e em 2020 de 4,3% chegando a 494.616 matrículas. Porém, a expansão na rede pública segue avançando e quase que dobrou o número de matrículas desde o ano 2003.
Desde o golpe de 2016 houve um freio na expansão do número
total de universitários, embora o movimento de crescimento no setor público
tenha continuado, por conta do impulso dos programas das universidades e
institutos federais no Estado do Rio de Janeiro pensado nos governos do PT.
No período de 15 anos, entre 2003 e 2018 ouve uma evolução de
36%, saindo de 420 mil para 544 mil matrículas no ensino superior presencial
que no ano de 2019 era desenvolvido em 42 (46%) dos 92 municípios fluminenses.
O blog repete o que vem fazendo nos últimos anos ao divulgar
os dados dos números de matrículas nos municípios fluminenses, a partir do
microdados do Inep-MEC, tabulados pelo professor José Carlos Salomão Ferreira. (Para ver a tabela abaixo em tamanho maior clique sobre ela)
Um total de 40 dos 92 municípios fluminenses possuem matrículas em cursos presenciais no ensino superior. No ano de 2020, 18 deles tiveram aumento no número de matrículas, enquanto outros 22 municípios perderam alunos.
O dado mais significativo a ser ressaltado e analisado, enquanto política pública, é que o crescimento das matrículas de 124 mil matrículas entre 2003 e 2018, se inverteu em 2019 e manteve queda também em 2020. Porém, vale destacar que a despeito desta redução no total, os resultados das instituições públicas segue positiva em 2020, em relação a 2019. Enquanto o número de matrículas nas instituições privadas caiu 25.252 matrículas, nas instituições públicas houve um crescimento de 3.032 matrículas.
Este esforço é ainda resultado do governo federal no período Lula (1-2) e Dilma (1) que resultou na criação nas universidades públicas de mais 74 mil matrículas nos municípios fluminenses entre 2003 e 2020. Em números absolutos, as instituições públicas aumentaram de 82.057 matrículas em 2003 para 156.813 matrículas em 2020 no ERJ, com um crescimento em números relativos 91%.
Neste mesmo período, a instituições privadas saíram de 338.432 matrículas em 2003 para 337.803 matrículas em 2020, ou seja, uma redução de 629 matrículas. É oportuno ainda registrar que essa redução de matrículas nas IES vem ocorrendo de forma seguida na virada de 2017 para 2018. Ou seja, na crise é o Estado que supre a demanda de vagas em todos os níveis de ensino.
Vale registrar que as matrículas no ensino superior nas instituições públicas (universidades e institutos) crescem ou se mantêm a despeito das crises econômicas, enquanto no setor privado o ciclo de recessão se refere imediatamente no número de matrículas, por conta da dificuldade de pagamento dos estudantes.
Em 2003, 260 mil de 420 mil matrículas estavam na
capital, equivalentes a 62%. Em 2020, a capital tinha 52,7% do total de
matrículas em todo o ERJ. Um percentual ainda muito alto. Em 2003 eram 31
municípios com cursos superiores e em 2020, um total de 40 dos 92 municípios
fluminenses possuíam cursos de graduação presenciais.
Polos de ensino superior no ERJ
Região Metropolitana + Serrana: 2020 (2019)
Niterói: 52.557 matrículas (54.197) = -.630 matrículas.
Nova Iguaçu: 24.811 matrículas (24.818) = -7 matrículas;
Duque de Caxias: 14.454 matrículas (16.643) = -2.189 matrículas;
São Gonçalo: 11.142 matrículas (11.398) = -256 matrículas;
Seropédica: 11.855 matrículas (10.625) = + 1.230 matrículas;
Petrópolis: 9.961 matrículas (9.918) = + 43 matrículas
Região Norte e Noroeste Fluminense + Baixadas Litorâneas
Campos dos Goytacazes: 18.050 matrículas = -987 matrículas;
Macaé: 9.509 matrículas = + 111 matrículas;
Itaperuna: 7.717 matrículas = -974 matrículas;
Cabo Frio: 7.632 matrículas = + 404 matrículas;
Região Sul Fluminense
Volta Redonda: 13.485 matrículas (13.485) = -376 matrículas;
Resende: 6.594 matrículas (6.594) = + 241 matrículas;
Barra Mansa: 4.738 matrículas (4.738) = -273 matrículas.
EaD no ERJ
No segundo quadro acima é possível ainda observar a evolução das matrículas em Educação à Distância (EaD) no ensino superior no ERJ nos últimos quatro anos (2017-2020). Neste período, as matrículas em EaD se multiplicaram 2,5 vezes, saindo de 106.149 matrículas em 2017 para 259.646 matrículas em 2020.
O aprofundamento da investigação deste conjunto expressivo de dados permite análise em várias outras dimensões para além da evolução do número de matrículas ao longo dos últimos dezessete anos.
PS.: Atualização às 19:20: Abaixo as tabelas com o número de matrículas presenciais e EaD em 88 dos 92 municípios fluminenses. Para ver a imagem das tabelas em tamanho maior clique sobre elas.
segunda-feira, abril 18, 2022
Nº de matrículas no ensino superior presencial cai 5% em 2020, em Campos, RJ. Porém, somado à EaD chegam a 25 mil graduandos

quarta-feira, abril 13, 2022
A ilusão da democracia digital diante do peso do dinheiro e da plutocracia
[2] PESSANHA, Roberto Moraes. Commoditificação de dados, concentração
econômica e controle político como elementos da autofagia do capitalismo de
plataforma. Revista ComCiência. Revista digital do Laboratório de
Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp em parceria
com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Dossiê 220.
16 Set. 2020. Disponível em: https://www.comciencia.br/commoditificacao-de-dados-concentracao-economica-e-controle-politico-como-elementos-da-autofagia-do-capitalismo-de-plataforma/
[3] WALLERSTEIN, Immanuel. O
universalismo europeu: a retórica do poder. Boitempo Editorial. São Paulo,
2007.
[4] Artigo do SCAFFIDI, Giuseppe no portal Outras Palavras: “Cronofagia: o roubo do tempo, sono e ideias”, publicado em 17 de fevereiro de 2020. Scaffidi cita Jean-Paul Galibert e seu manifesto Cronòfagi (2015), quando afirma que Galibert foi quem cunhou pela primeira vez o termo “cronofagia”, configurando-o como uma das bases de sustentação do hipercapitalismo contemporâneo. Scaffidi também se refere à influência do termo Cronofagia em outro ensaio de 2015, “Capitalism 24/7 – Il capitalismo all’attacco del sonno” [Capitalismo 24/7 – o sono sob ataque do sistema] de autoria de Jonahthan Crary, que “evidencia como uma necessidade biológica fundamental entrou em claro contraste com as exigências voltadas a alcançar a distopia de um capitalismo 24 horas por dia, 7 dias por semana”. https://outraspalavras.net/mercadovsdemocracia/cronofagia-o-roubo-do-tempo-do-sono-e-das-ideias/
[5] BUCCI, Eugênio. A superindústria do imaginário: como o capitalismo transformou o olhar em trabalho e se apropriou de tudo que é visível. Autêntica, São Paulo, 2021.
quarta-feira, abril 06, 2022
A contradição entre interesse da Globo no PL das Fake News e objeção à regulação de todas as mídias. Reestruturação subordinada e dependente das Big Techs
As players da mídia
corporativa no Brasil se reestruturam para participar de forma ainda mais subordinada
e dependente da comunicação digital global das Big Techs
Este caso do PL das Fake News serve também para ampliar a
observação sobre a fase que nos encontramos do “capitalismo digital-dataficado”
com o seu enorme poder de extração de dados dos usuários. Realidade que
significa maiores ganhos financeiros e representa também maior concentração de poder
político.
O que a holding Globo já está fazendo é saltar da fase de
ganhos de publicidade e financeiros na economia nacional, para uma nova etapa
de ganhos percentuais daquilo que é obtido pelas gigantes empresas digitais do
ocidente.
A Globo S.A. e demais players da comunicação do Brasil estão correndo para ficar com um naco de valorização e capitalizações das Big Techs dos EUA que batem seguidos recordes, em valores de mercado, que chegam a alguns trilhões de dólares para cada uma delas. Sobre o assunto vale conferir texto que escrevi há um ano sobre acordo da Globo S.A com a Big Tech Google: (8 abr. 2021: Globo & Google: de tubarão nacional a sardinha global da gigante de tecnologia: http://www.robertomoraes.com.br/2021/04/globo-google-de-tubarao-nacional.html)
Esse caso serve ainda para observar melhor a reestruturação
(vide artigo sobre balanço da Globo Comunicação e Participações S.A.: Tombo
da Globo segue espetacular e fecha 2021 com prejuízo de R$ 174 milhões!)
desta player da comunicação corporativa do Brasil.
Ela é parte da reestruturação capitalista no setor de mídia
global com enorme concentração no centro do capitalismo ocidental (nos EUA) através
das Big Techs que vem acompanhada de dependência e subordinação na comunicação na
periferia do Sul Global.
As Plataformas Digitais são simultaneamente “meios de
comunicação” e “meios de produção”. Elas exercem o papel de intermediação sobre
a informação ou sobre a produção e os serviços. E daí extrai seus lucros.
Globo S. A. e Big Techs: tudo a ver!
A comunicação e o extrativismo digital trabalham sem limites
de fronteiras como o capitalismo financeiro do qual são partes. Assim, quanto
mais acessos e conteúdo, mais extração, mais ganhos, mais financeirização, mais
acumulação e mais poder de comunicação e manipulação política.
É disso que se trata os interesses dos proprietários da Globo S.A. e demais donos da mídia corporativa no Brasil. Se pendurarem nas Big Techs para ampliar seus controles sobre a informação no Brasil e aumentando seus faturamentos por um percentual dos ganhos destas gigantes de tecnologia do Ocidente.
Essa é a estratégia do Partido da Mídia, sem nenhuma
preocupação com os interesses da nação e sua soberania, para o qual afirmam se
tratar de conversa ideológica, enquanto se movem atrás da ideologia dinheiro. Assim,
seguem atuando a favor unicamente dos seus interesses, como se fossem os interesses
nacionais. Desta forma, articulam e buscam ainda mais poder político nacional, num
processo que se alinha à estratégia de mais submissão e dependência dos
interesses das grandes corporações, do sistema financeiro e da geopolítica ocidental
centrada na OTAN, no Deep State dos EUA.
sábado, abril 02, 2022
Tombo da Globo segue espetacular e fecha 2021 com prejuízo de R$ 174 milhões!
Breve histórico de resultados: a Globo saiu de lucro líquido de R$ 1,8 bilhão (2017); R$ 1,2 bilhão (2018); R$ 752 milhões (2019); R$ 167 milhões (2020), para um prejuízo de R$ 174 milhões em 2021, tendo registrada uma dívida de R$ 5,89 bilhões.
De certa forma, uma trajetória equivalente à economia do
Brasil pós-golpe, mesmo com o violento corte de custos e demissões de pessoal
que vem implementando, a ponto dos seus gastos com salários em 2021 terem sido
de apenas R$ 41 milhões, refletindo a conhecida e grande Pejotização.
Certamente, não é coincidência. Globo e golpe tudo a ver!
O prejuízo de 2021 da Globo, se dá mesmo com aumento da
receita para R$ 14,4 bi e da demissão de milhares de trabalhadores. Essa
receita, 15% superior a de 2020, é oriunda ainda, em boa parte, da publicidade
em TV aberta, fechada e digital e também do crescimento da base de assinaturas
na Globo Play de 33%.
Como receitas extras em 2021, a Globo teve as seguintes vendas de ativos reais: a) Som Livre para a Sony por R$ 1,4 bilhão; b) Datacenter por R$ 300 milhões; Base territorial e torres de transmissão por R$ 200 milhões; além de complexo de prédios, inclusive a sede em SP (sendo agora inquilina), por mais de R$ 500 milhões que perfazem um total - já recebido - de R$ 2,4 bilhões, valor quase equivalente ao seu caixa no último dia de 2021.
Parte das receitas que diminui o impacto do prejuízo vem de
aplicações financeiras, embora menores que esta categoria de despesas, com juros dos
empréstimos, mais os rendimentos do seu obscuro Fundo Globo Venture que
controla cada vez mais ativos financeiros e menos ativos reais.
PS.: Dados extraídos dos relatórios anuais da Administração da Globo Comunicação e Participações S.A. (2017-2021). Nas Informações Gerais do Relatório da Administração de 2021, a direção da Globo informa que “o prazo para apresentação do próximo pedido de renovação expira em outubro/2022”.
PS.: Atualizado às 18:34 de 03/04/22:
Recebi com agradecimento uma crítica de que a análise era
simplista. Chegou por terceiros pela via dos grupos e comentários de whatsapp, mas resolvi trazer para este espaço de forma aqui ampliada, a minha reposta, que não teve a intenção de retrucar, mas a de trazer mais alguns elementos para o debate.
Concordei com a crítica, mas fiz algumas considerações. Na nota original eu deixei de tratar da questão das plataformas digitais, da ampliação da digitalização e papel das redes sociais e do crescimento do uso do "streaming" x TV aberta e fechada (cana).
Porém, não se pode esquecer que por
conta tanto da questão financeira, fruto da crise e do golpe, a Globo já
avançou no “streaming” da Globo Play, já fez acordo com a Google, mas segue
patinando no resultado geral. Vale ainda lembrar que mesmo antes do período
citado, o resultado positivo da Globo era em boa medida reflexo das aplicações
financeiras.
Há ainda que considerar que existe todo um contexto sobre
esses últimos resultados da holding Globo S.A, mas não tem como não levar em
conta, a aposta golpista feita pelos Marinhos.
Aliás, não tem também como lamentar o mal produzido pelo
oligopólio (quase monopólio) exercido por décadas na TV aberta, sem regulação.
Mesmo diante do que deve ser considerado como positivo, em termos de cultura,
produzido pelo grupo.
A análise mais geral, inclusive deste paradoxo, exigiria um
texto mais longo e de pessoas que acompanham mais diretamente o tema, onde a
financeirização mais recente, não é um detalhe.
A postagem, fundamentalmente - com exceção da participação
no golpe, aliás como em 64 - traz dados sobre o Relatório de Administração, que
a matéria do Valor (jornal do grupo – vide aqui) sobre o tema, escondeu. Aliás,
a matéria do Valor realça o aumento de receita de publicidade na ordem na TV
Aberta, Fechada e Digital.
Há diferentes enfoques para quem investiga relatórios de
grandes corporações. Há quem observe mais a corporação e suas potencialidades.
No caso da Globo, o seu modelo de negócios, diante da Economia de Plataformas
que é um processo global, como todos sabemos.
O outro enfoque é pensar a corporação e seu papel para a
nação. Forma de seus proprietários agirem, muitas vezes como partido político e
com olhar para os seus interesses.
É nesse contexto que se observa a aposta política dos proprietários
Marinhos que construiu as bases desses últimos resultados. Eles Levaram 3/4
anos trabalhando para a Lava a Jato, o golpe e depois a eleição em 2018. Entre
2014 e 2021 são 8 anos. Tempo exato em que a transformação digital se
intensificou e foi derrubando o castelo de negócios do grupo. Porém, o foco do
grupo midiático-financeiro, era trabalhar pelo poder no Brasil. Enquanto
isso...
segunda-feira, março 14, 2022
Live sobre "Financeirização, Fundos de Investimento e Guerra Financeira" no Diário da Crise do Eduardo Costa Pinto (IE/UFRJ)
quinta-feira, março 10, 2022
A guerra financeira das sanções já afeta os maiores fundos globais e ampliará a crise
A guerra EUA-OTAN x Rússia tem três dimensões ou elementos que se interagem transversalmente, conforme o nível da disputa das relações de poder envolvida. 1) Guerra tradicional/híbrida; 2) Financeira/sanções; 3) Cibernética e digital.
Assim, como em outras guerras, começa pela primeira dimensão
e depois oscila também para as demais que antes ou não existia (cibernética) ou
era menos importante, como a econômico-financeira, nestes tempos de mercados e
finanças globalizadas.
Não é difícil perceber que estamos agora no auge da dimensão das sanções financeiras, a maior já havida até hoje em conflitos no planeta. E tem os EUA na cabeça que é quem controla a moeda de conversão e de comércio mundial e assim, a grande maioria dos fluxos da financeirização ao nível global, agindo contra uma grande potência, porque em suma se trata de uma guerra EUA x Rússia. Sendo assim, não se pode deixar de observar que na cabeça da financeirização global estão os maiores fundos financeiros globais.
Os fundos de investimentos lubrificam a financeirização que se tornou hegemônica
Dos dez maiores, nove são dos EUA, alguns em parcerias com grande financistas do Reino Unido. No topo desta lista é o conhecido fundo americano, Black Rock, criado em 1990 e que hoje controla volume de ativos superior US$ 9 trilhões, cerca de 15 vezes o confisco que os bancos americanos fizeram das reservas russas e quatro vezes mais o PIB russo.
Já tratei no meu livro “A
´indústria´ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no
capitalismo contemporâneo”, editora Consequência, 2019, que os fundos de
investimentos, controlam de forma crescente (em especial, depois da crise do subprime, em 2008/2009), tanto os ativos
reais (produtivos), quanto ativos financeiros (títulos, papeis, ações, mercados
futuros, etc.), em nações de todos os continentes do mundo. Assim, o
instrumento dos fundos são hoje responsáveis, em boa monta pela acelerada
financeirização ao nível global.
Nesse sentido, podemos afirmar que os fundos lubrificam a financeirização que contribuiu em boa parte pela hegemonia no capitalismo contemporâneo, globalizado que agora é colocado em xeque no confronto direto entre duas potências mundiais: EUA x Rússia.
A guerra financeira, os fundos, o sistema interestatal e a disputa por hegemonia
Os fundos de investimentos também investem na economia da guerra e das armas, embora pouco se fale disso. Porém, a repercussão das sanções econômicas não são simples de serem medidas e nem compensáveis.
A Ucrânia e seu povo sofrem essa disputa, que nessa fase se
fortaleceu em termos geoeconômicos, mesmo que em meio a movimentos
geopolíticos cujos resultados só adiante serão percebidos.
É nesse contexto que o freio dos fluxos financeiros, o abandono
de empresas e ativos na Rússia, os bloqueios de suas exportações de petróleo e
minerais, as consequências da interrupção no fornecimento de insumos e
interrupções, as quebras de várias cadeias produtivas regionais, etc. já
produzem impactos para as pessoas, nações e para esses grandes fundos globais que
possuem controle centralizado nos EUA.
A guerra financeira nunca terá uma direção única como o de
uma bomba. Como a globalização os ativos estão interligados, a explosão vai em
várias direções e em efeitos sinérgicos. Os custos das pessoas e das empresas já
aumentaram com energia e com alimentos. Junto puxa a inflação nos diferentes
países, mesmo que em proporções distintas decorrentes dos impactos diversos em
cada cadeia, mas em todos, fortemente influenciados pela energia e alimentos.
Assim, a recessão tende a se ampliar também com a redução da
produção e do comércio. É nesta toada que os ativos (reais ou financeiros)
perderão igualmente, como valor real. É certo que a periferia sempre
perderá mais, porque não detém os meios que as finanças centralizadas dispõem.
A guerra sempre tem um grau de irracionalidade que depois os
líderes tentam superar. Porém, já é possível perceber que a globalização sofre
um freio com esse fenômeno da guerra EUA-OTAN x Rússia. As nações tendem a
olhar mais para dentro, para suas defesas e para as suas necessidades estratégicas.
É óbvio que isso não interessa aos fundos financeiros globais. E se é verdade que a guerra financeira afeta os fundos globais ela também afetará os fundos financeiros regionais que aos globais estão imbricados.
Os fundos com suas plataformas digitais ‘online’ que funcionam
24 horas, monitoram todos os movimentos do mercado em que atuam e já devem identificar
as tendências. Onde os fluxos se reduziram, foram trocados, os by-pass criados,
etc. Geoeconomia determinando nova geopolítica. Por isso uma guerra entre
potências (EUA x Rússia) não tem como não ser vista como um conflito de
proporções globais
O Black Rock possui a potente plataforma Aladdin com trabalho de equipes com milhares de economistas, matemáticos e técnicos de computação em telas de 360º. Usam IA e redes de
computadores expostas em tema que monitoram simultaneamente esses dados.
Observam seus efeitos em modelagens e programações de algoritmos com
aprendizado de máquinas (learning machine).
Não é por outro motivo que o Black Rock trabalha, essencialmente com o ETF, um
fundo de índices que visa ganhar como inovação tecnológica financeira com o monitoramento da totalidade.
Os fundos chineses são poucos conhecidos e articulados junto
aos seus grandes bancos estatais. Eles possuem relações com alguns destes
fundos do Ocidente, mas se movimentam com lógicas distintas por isso, devem ser
bem menos afetados. De novo, há que se observar a tendência do Oriente se
distanciar do Ocidente não apenas por conta da russofobia.
É evidente que são grandes os temores dos proprietários
destes capitais, hoje sob a gestão destes fundos financeiros gigantes que operam
juntos, e em articulação, com o Estado americano.
Neste sentido, é provável que seus gestores (Larry Fink, em
especial) tenham feito uma aposta com o Poder Político da Casa Branca. Uma
aposta de médio prazo de olho na manutenção da hegemonia geopolítica e
financeira americana, ainda muito vinculada à moeda americana.
Porém, bombas nucleares financeiras como essas das sanções
gigantes que estão sendo escaladas, não são possíveis de serem modeladas
antecipadamente. Seus resultados ainda estão sendo medidos. Os by-pass
monitorados entre fluxos subterrâneos, mercado negro, criptomoedas e outros.
O fato é que os proprietários destes ativos dos grandes fundos globais, também estão sendo atingidos, mesmo que muito menos que as pessoas, mas tendem a reagir. Observemos, pois, os movimentos e falas dos seus líderes e, então, enxergaremos melhor, os impactos da sangrenta guerra e veremos que a crise tende a se ampliar. Apertem os cintos o hegemon pode estar à prova.
segunda-feira, março 07, 2022
Para além da diabolização do Putin, o que poderá sair da guerra EUA-OTAN x Rússia?
A guerra é cruel, violenta, sangrenta e de consequências difíceis de serem medidas, mas a diplomacia sempre se mostrou limitada para essas grandes contendas. Não há santos em disputas deste tipo, ao contrário os diabos e os demônios nascem e se alimentam de tudo isso.
O fato é que com a guerra EUA-OTAN x Rússia, ou Rússia x EUA-OTAN, Putin que já era mal visto foi ainda mais facilmente diabolizado. Em especial no Ocidente e com ajuda das redes sociais e das Big Techs americanas que entraram na disputa como braços da OTAN. Creio que Putin sabia que isso iria ocorrer. Talvez, não na proporção, quando resolveu ir para o front da guerra tradicional e mortífera. O mundo se transforma a partir daí e produz enormes consequências de médio e longo prazos, daí se compreende porque é estratégica a aliança da Rússia com a China.
As duas potências se complementam, mas a China avança no “soft power”, como poder moderador de um lado e atenuador das sanções de outro, em meio aos riscos de uma grande crise Ocidente x Oriente, ou de alternância para uma liderança mundial eurasiana. Se a premissa tem algum sentido, na aliança entre Xi Jiping e Putin, o último, já deve ter aceitado que a China possa assumir um novo papel, num mundo que não seja unipolar e sob controle da EUA-OTAN.
A história não se encerra aí, evidentemente. As sanções
estão empurrando para uma desdolarização, um comércio entre grandes nações, via
moedas próprias, digitais e/ou criptos, compensações e meios de pagamento em
volumes nunca dantes realizados. É um processo paulatino, mas que já está sendo
testado na prática, com maior volume e ajustes acordados em tempo de guerra.
A Europa que já enxerga vantagens nas relações com a China,
de outro lado teme muito agora, a expansão da guerra e os riscos de um desabastecimento
energético e de alimentos, além do torpedeamento de suas potentes cadeias
produtivas regionais.
Os países da UE têm suportado as pressões se mantendo na
OTAN, para desgastar o “vizinho” Putin, mas já deve estar repensando os riscos que
tem de um lado e também do outro, assim como as vantagens que pode ter com um mundo multipolar (sem acreditar muito nisso, após sofrer duas grandes
guerras),
Enquanto isso, a Turquia que é membro da OTAN, parece
enxergar mudanças neste pêndulo, não apenas se oferecendo para moderação, mas indo
um pouco mais longe, ampliando conversas e negócios com ambos os lados, assim
como outros países do Oriente Médio e também a asiática e grande Índia. Se este for o cenário será também grande a hipótese de Trump retornar ao poder nos EUA, após ter sucumbido à condição de "hegemon". Mas, isso
já seria outra e longa conversa.
A guerra e as tragédias humanitárias vão além destes períodos
de grandes embates, batalhas, transformações e sofrimento. No dia-a-dia muitas
vezes eles não são enxergados e passam despercebidos. Não por maldade,
mas por banalização. Realisticamente, não cabe torcida num ambiente de guerra,
mas é necessário que nos esforcemos para entender o que realmente está
ocorrendo.