sábado, abril 04, 2015

O incêndio no Porto de Santos deve servir de alerta

O caso do incêndio nos reservatórios junto ao Porto de Santos deve chamar a atenção para os riscos oriundos das atividades portuárias, especialmente quando se trata do armazenamento e movimentação de combustíveis entre dutos, reservatórios e navios.

No caso do Porto de Santos chama a atenção a pequena distância dos tanques para a rodovia, o que caracteriza o adensamento urbano ao redor dos reservatórios. O fato de serem tão próximos leva a crer que quando de sua instalação a área já deveria ser cara diante do boom do polo industrial químico do final da década de 70 na Baixada Santista que deu origem ao município de Cubatão.
Incêndio reservatórios polo petroquímico Ultracargo em Santos - Valor

É pouco comum ao redor do mundo que se tenha polos petroquímicos com grandes depósitos de armazenamento de combustíveis tão próximos às aglomerações urbanas.

Nesses depósitos da Ultracargo que ardem desde a manhã de quinta-feira, portanto, há mais de 60 horas são armazenados etanol e outros produtos oriundos da Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão. Por ali sai o abastecimento da capital paulista. Pelo Porto de Santos através de navios de graneis líquidos atracados também se leva gasolina, diesel para o Nordeste, que só agora passa a contar com uma refinaria em Suape, PE.

É oportuno recordar que foi um grande incêndio no Porto de Recife, que obrigou o estado de Pernambuco (governador Roberto Magalhães) a agilizar e estruturar um pool de combustíveis em 1983, o Porto de Suape, distante cerca de 50 km de Recife, que antes sediava na área urbana de Recife esses reservatórios.

Esse foi na verdade, o primeiro start para que o Porto de Suape, PE, concebido desde a década de 70, como o primeiro porto-indústria do país tivesse condições de sair do papel e ganhar utilidade em termos de infraestrutura. 

Depois, o porto só veio ganhar musculatura para além do pool de combustíveis em 2003, quando da decisão de construir a refinaria Abreu Lima (RNEST) que iniciou a produção ano passado. Assim, o porto ampliou suas atividades e passou a ser chamado de Complexo Portuário Industrial do Suape. No final dos anos 2000, outras empresas passaram a funcionar, hoje são mais de uma centena, abrigando inclusive a indústria naval, com dois estaleiros.

Observar o processo histórico da instalação de infraestrutura, cadeias produtivas e dos aglomerados urbanos país afora (no caso com exemplos de SP no Sudeste e PE no Nordeste), podem nos ajudar a refletir sobre a nossa realidade. Ou não.

PS.: Atualizado às 22:58: Tem momentos que dá para imaginar que Cubatão e a Baixada Santista tinham há meio século, uma paisagem que era semelhante ao Açu, como parte de nossa também Baixada só que chamada de campista. Mas, isso de pensar e refletir não é algo que hoje em dia tenha muito valia diante da corrida pela notícia nova.

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