domingo, abril 26, 2015

A sociedade informacional perto da gente: análise de um caso e sua relação com o todo

A mudança na sociedade em que vivemos é muito grande e às vezes imperceptível até para quem está no meio do jogo, não sendo apenas um espectador. Porém, observar parece ser necessário para tentar compreender onde e como estamos vivendo e para onde estamos caminhando.

No campo das comunicações, que alguns preferem chamar como informacional, são gigantescas as transformações e nem todas evidentemente para melhor.

O domínio global da empresa Google é assustador. Ela que nasceu como um site de buscas na internet, hoje na terra ou nas nuvens, ela sabe sobre a sua vida, quase tanto quanto você mesmo. Onde esteve e por quanto tempo. Com quem fala. O que compra, se a vista ou fiado e por aí vai. São os tais datacenter que já comentamos aqui, num texto que publicamos em setembro do ano passado, com o título: "Datacentrismo & dataficação - uma big preocupação".

Pois bem, observando novas questões nesse campo, ainda para tentar entender a extensão disso tudo, anexamos novas informações. Já se sabe que a internet móvel (via telefones) veio para ficar. Hoje já ela já é a maior ameaça às TVs abertas, e mesmo a dos canais fechados, além da mídia impressa.

O Google já previa isso faz tempo. Assim, já se sabe que nos EUA, 50% das pesquisas feitas no Google são feitas por smarphones (telefones móveis) com acesso à internet. No Brasil esse percentual é hoje de 30%, mas a Google estima que chegue também a 50%, ainda no final desse ano. Isso mostra a mudança ainda em curso do uso da internet móvel. 

A Google já tem no Brasil, o segundo maior faturamento com publicidade, só atrás da Globo, mesmo que a veiculação da publicidade digital seja bem mais barata e menos remunerada (evidentemente) que as das televisões.

Assim, a questão se torna mais complexa. O público de TV, assim como a de rádio AM e agora também FM, em sua maioria, são pessoas com mais de 40 anos. Abaixo disso, as pessoas, usam celulares para ler informações, ouvir e ver reportagens, num percentual altíssimo e de aumento exponencial e não aritmético.

Leitura de jornal impresso e assistir televisão passou a ser um fenômeno menos usual e cada vez mais distante. O caso é mundial, com reflexos nas nações e em suas regiões diante de semelhantes causas.

Assim, o blog entende que vale destacar um caso para melhor compreensão desse processo. Os jornais impressos continuam sofrendo uma perda enorme de vendagem em bancas ou por assinaturas. 

Já é comum hoje na região as pessoas citarem mais vezes mídias de jornais online e blogs, que os impressos para citar informações obtidas. Porém, um nicho ainda vinha sendo mantido, garantindo um oxigênio: a venda de classificados por preços cada vez baixos. A estratégia partia do entendimento de que quem anuncia, em maioria, acaba comprando o jornal, para ver se o anúncio foi mesmo publicado.

Pois bem, nessa toada vale citar um caso (alguns chamariam de "case") que me foi relatado por um amigo. Ele, depois de fazer anúncios, daqueles simples, pequenos tijolinhos, de venda e aluguel, por duas semanas, uma em cada impresso local, recebeu apenas um contato. 

Assim falou mal da economia, da crise, embora sem perceber que nessas época, os negócios (menores, especialmente) tendem a acontecer em maiores quantidades, porque as pessoas precisam arrumar dinheiro para sair das suas dificuldades. 

Pois bem, assim, ouviu de um terceiro amigo a sugestão de usar os anúncios em mídias digitais, do tipo OLX, entre outras. Assim, se animou, fez o cadastro (disse que rápido e desburocratizado), basicamente citando os documentos e colocou o anúncio no ar, tudo completamente grátis. 

Desta forma, em minutos ele recebeu o primeiro contato. Ao final das primeiras quarenta e oito horas, as ligações e contatos, por email, whatsApp, torpedo e/ou celular já tinham passado de duas dezenas, com o fechamento dos negócios que pretendia.

Enfim, não é tarefa comum para muitas pessoas observar que a forma de viver na sociedade está sendo alterada, porque esse processo é sempre paulatino, embora em intervalo de tempo cada vez menor. O espanto com as mudanças vem acompanhando da certeza que nem todas veem para melhorar. 

Porém, observar o processo em que esses fenômenos acontecem, tentando ligar causas e consequências, permite intuir o que pode estar vindo pela frente. Além disso, é interessante também observar a ligação da parte com todo, o caso específico com o geral, considerando a totalidade e a universalidade como um dos mais poderosos instrumentos de análise.

Seguindo vemos ainda que há os extremos. Aqueles que acreditam que todas as possíveis inovações vão funcionar, enquanto outros que negam até mesmo o que já se instalou, porém no meio dessas posições extremadas, quase sempre se enxerga a materialidade da vida contemporânea. 

Antes de concluir esse texto que era para ser uma brevíssima nota (sic), o diálogo com o amigo merece que se chame a atenção para uma outra constatação que ele também observou nesse caso. Essa observação mais detalhada do caso do anúncio digital aponta para outra mudança cultural, já instalada na sociedade, que é a de gênero.

Cerca de 80% dos contatos por conta dos anúncios eram de mulheres. Elas agiam e negociavam sozinhas, ou em nome do casal. O fato reforça a mudança já sabida da ampliação do poder das mulheres na sociedade contemporânea.

Mulheres cada vez mais independentes, mas na condução de coisas e assuntos. Aliás, em muitos casos, como no campo dos negócios, elas já costumam ser vistas como tendo bem mais atributos eficiência que os homens, vistos e chamados no passado como "homens de negócio".

A sociedade continua mudando muito e mais rapidamente. Há muitos que questionam o rumo e a velocidade desse processo usando processos de resistência mais ou menos eficiente em cada caso.

É fato que o sistema capitalista continua se reinventando. Os negócios ganham escalas e matam os pequenos num jogo parecido à aquele entre baleia e sardinha nos oceanos.

A disputa inter-capitalista se ampliou, os mercados ganharam escalas impressionantes, tornando as grandes empresas a regra, mesmo em mercados menores (observem as lojas de varejo, supermercados e os serviços em suas cidades). 

Assim houve até alguma redução de custos que trouxeram em contrapartida a ampliação do alcance do "mercado", com mais pessoas se incorporando a um consumo e serviços "mais em conta". Os negócios locais e regionais assim enfrentam cada vez têm mais dificuldades para se manterem, o que aponta que o processo em nossa na região estaria apenas no início. 

A realidade é que o tipo de vida da metrópole foi caminhando para o interior, para as cidades médias como polo das menores, como que num processo gradual, mas permanente, onde o uso do território segue as oportunidades de novos lucros.

As pessoas também se locomovem mais atraídas por coisas antes não conhecidas (além do trabalho e do estudo, conforme estudo do IBGE - veja aqui), ao inverso do que se imaginaria, com as comunicações facilitadas. Ao contrário, vai se vendo mais pressão por "coisas novas" e custos menores atraindo públicos mais distantes, mesmo que as locomoções ainda sejam limitadas.

De outro lado, a vida parece ficar cada vez mais igual, aqui ou acolá, mesmo que a custos um pouco menores, diante da tentação que o tal "mercado" tenta enfiar goela abaixo de todos nós, o tempo todo. 

Ao contrário do que alguns empolgados possam pensar, tudo isso tem um limite, um esgotamento, seja no ambiente, seja sobre as subjetividades humanas. Outros acham que não, que a metamorfose é parte natural dos humanos, acreditando na chamada resiliência e suas capacidades adaptativas.

Assim, encerro e deixo com os amigos leitores e colaboradores do blog a continuação dessa reflexão.

PS.: Atualizado às 20:36: Para algumas correções no texto.

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