terça-feira, maio 25, 2021

Plataformização da educação

A convite da Pró Reitoria de Graduação da UFMG, eu participei, no último dia 21 de maio de 2021 do encontro temático “Tempos Digitais" com o tema “Plataformização na Educação”, organizado pelo Laboratório Formação em Docências no Ensino Superior (GIZ-PROGRAD-UFMG).

O encontro temático teve a abertura da pró-reitora de Graduação, professora Benigna de Oliveira e a mesa-redonda foi mediada pelo educador Marcos Vinícius Tarquínio (UFMG), coordenador do LabDocências-UFMG e contou ainda com a presença dos professores-pesquisadores, Marcos Alves (UFMG) e Leonardo da Cruz (UFPA). A gravação do evento pode ser vista neste link: https://www.youtube.com/watch?v=vOYlyQWbfF4

Há cerca de dois anos venho investigando a economia de plataformas e a partir daí venho sustentado a leitura de que a plataformização e o uso cada vez mais intenso das plataformas digitais e aplicativos, tratam-se de um fenômeno multidimensional e transescalar e que sua interpretação depende de múltiplos campos de saber.

Assim, tenho me dedicado mais intensamente às leituras da dimensão econômica, espacial e política, em síntese a repercussão da plataformização e appficação no campo da geoeconomia e geopolítica.

A dimensão da educação não é o centro da minhas análises, mas por insistência dos organizadores, eu atendi ao convite, no esforço de tentar observar as consequências e tendências da plataformização no campo das formações humanas, e assim aprendi com os organizadores, os professores do debate e com os demais colegas participantes.

Após a realização do debate eu resgatei e reuni parte da minha fala incluindo algumas outras anotações sobre o tema da plataformização na educação que agora compartilho mais amplamente no texto abaixo. Não se trata de um texto acadêmico propriamente dito, mas uma espécie de breve ensaio com notas para discussão sobre o tema.

Plataformização da Educação



Talvez, seja um bom começo iniciar a tratar do tema falando daquilo tenho chamado da dominação tecnológica. Um pouco do que o Manuel Castells antecipou em linhas gerais na sua bela trilogia da “Era da Informação” iniciado com o livro “Sociedade em Rede”. [1] Porém, naquela ocasião, a digitalização era ainda um processo inicial e abstrato para a sociedade como um todo. Até porque, como sabemos, há um tempo para o desenvolvimento da tecnologia, sua implantação e o seu enraizamento nos territórios.

Ao falar de dominação tecnológica vale observar que da mesma forma que o trabalho é inerente ao ser humano, o desenvolvimento das tecnologias não existiriam sem o trabalho humano, as forças produtivas e as relações de produção. Tudo assim misturado, mas com o trabalho humano sempre presente.

Nos últimos dois anos eu tenho me dedicado a investigar a economia de plataformas e identificado as plataformas digitais, como sendo “infraestruturas de intermediação” que existem com a finalidade de atender a diferentes setores da sociedade e/ou grupos econômicos no mundo contemporâneo. Como infraestruturas (IEs) elas exercem a mediação entre as pontas e meios de circulação entre a produção e o consumo e também como meio de comunicação, o que nos faz recordar da tríade marxiana do MPC: produção-circulação-consumo.

Figura 1: Lógica da plataformização

Elaboração do autor (2020). Arte: Maycon Aguiar [12]
 

Segundo o dicionário a palavra “plataforma” tem duas principais definições: “superfície plana e horizontal, mais alta que a área circundante”. “Programa político, ideológico, ou administrativo de candidato a cargo eletivo”. A primeira definição remete à hierarquia da organização da produção. E a segunda está muito vinculada à comunicação de ideias para obter apoio. Assim, também pela interpretação da palavra, as plataformas são na prática meios (intermediação) da produção e comunicação (redes sociais), fatores que estão transformando as relações sociais e de produção no mundo contemporâneo.

Figura 2: Plataformas como meios de produção e comunicação

Elaboração: PESSANHA, 2021.



O processo de plataformização deve sempre ser visto como um fenômeno que se desenvolve e deve ser observado de forma multidimensional e transescalar. Dimensão Econômica, Inovação tecnológica (C&T); Trabalho; Espacial (Geoeconômica e Geopolítica); Política, Cultural, das redes social-comunitárias incluindo o setor da educação. Embora a dimensão da educação não seja o eixo das minhas principais análises sobre o fenômeno da plataformização, eu tentei nesse texto elencar e trazer alguns elementos que possam contribuir para o debate.

A plataformização e a economia de plataformas, já eram processos crescentes e derivados no mundo atual, em especial, a partir do incremento da internet móvel e do uso ampliado de aplicativos, a que chamo de Appficação. Os aplicativos são programas (softwares) de fácil usabilidade para uso na internet móvel no universo dos celulares.

Porém, com o advento da crise sanitária e da pandemia esse processo foi enormemente acelerado. Aceleração do tempo como dizia Thompson. Ou, como nos lembra David Harvey que se referiu à “compressão do espaço-tempo” a partir da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). [2] O que era estimado para acontecer em uma década foi trazido para um ano ou semestre, um mês.

De início, com a pandemia, os sistemas de ensino e as universidades não sabiam o que fazer. Mas, em pouco tempo, os Meet, Team, Youtube, vídeos no WhatsApp, etc. foram virando febre. As pessoas vibraram porque se sentiam saindo do isolamento completo. Mas não se tinha em mente o que havia pela frente ...

A lógica da intermediação das Plataformas Digitais (PDs) traz embutida, a enorme dominação tecnológica que chega com uma colossal e explosiva extração de dados (da lógica do circuito dos algoritmos, da vigilância, do BD e da IA) executada pelas Big Techs (gigantes-empresas-plataformas), o maior oligopólio da história da humanidade em termos de concentração de valor e poder. Só a Apple com valor de mercado superior a US$ 2 trilhões. [3] [4]

As plataformas-raiz, as Big Techs (GAFAM-Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft), sabem que o setor de ensino é um filão extraordinário. Não apenas pelo controle, pela Divisão Territorial do Conhecimento e do poder geopolítico que isso representa, mas por conta do enorme de mercado de ensino em que crescem as empresas S.A., controladas pelo “capitalismo da gestão de ativos dos fundos financeiros” (MAZZUCATO, 2020). [5]

Posso citar alguns exemplos além da oferta do Team, do Meet, Youtube, Office, Gmail, etc. As Big Techs trabalham inicialmente com ofertas de uso de softwares, plataformas e aplicativos (APPs), que são também softwares para usos na internet móvel dos celulares. As nossas universidades brasileiras, as italianas e outras foram ampliando o uso do Team, Office 365, soft Productivity score (ferramenta de vigilância e comportamental de alunos); Reflect (soft para enviar questionários para avaliação de aprendizagem – Esses últimos da Microsoft que junto da Google são as Big Techs mais próxima das universidades e do setor de ensino. O soft ClassRoom da Google para gerenciar turmas. O soft Cuppertino (Apple) com soluções de apoio capturam inovações pedagógicas e educacionais. Novas experiências de soluções para transformar o ambiente educacional e mimetizar para uso digital e depois compartilhar com venda para um público mais amplo. APPs como Power APP, Dynamics 365, Power Virtual, etc. Além da oferta de uso das nuvens Amazon Web Services, Azzure, gerenciamento emails, oferta banda-ultra-larga... 70% das nossas universidades e sistemas de ensino usam as Big Techs, em especial Google, Microsoft e Amazon. Tudo como plataformas e APPs de tecnologia que fazendo “pontes” até estudantes, guardando e capturando dados em nuvens.

No Brasil, a multinacional de EaD Laureate que acaba de se juntar à Ânima num negócio de R$ 4,6 bilhões. [6] Uma transação entre a 4ª e 9ª maior empresa privadas de ensino no Brasil. Juntas elas têm agora 330 mil alunos e receita de quase R$ 4 bilhões. A Laureate já está usando softs de IA para corrigir textos dos alunos em lugar dos professores. Promovem turmas com dezena de milhares de alunos. Aulas gravadas e repetidas.

Assim, as Big Techs com suas plataformas vão coletando dados sensíveis, como se fossem commodities da era da digitalização. Sem pedir autorização nem a estudantes, nem a professores, nem às instituições as quais “cedem” as suas plataformas e APPs.

Desta forma, as Big Techs donas da plataformas-raiz vão também, paulatinamente estruturando e ampliando a Divisão Territorial do Conhecimento. Uma nova etapa agora da colonização digital trazendo ainda mais dependência geopolítica nas relações de poder. A geopolítica do conhecimento reforça a divisão entre quem controla a pesquisa, desenvolve o conhecimento, monta as plataformas e quem recebe as tecnologias prontas, sob a forma dos APPs apenas para trabalhar na ponta, quase que apenas na certificação de estudantes.

Assim, aqui na periferia, daqui a pouco serão necessários menos professores e mais monitores e tutores, tudo num esquema ou modelo skinerizado. [7] Penso que corremos riscos de termos quase que somente “centros de certificação” do que já existe na tecnologia criada pelos desenvolvedores. Os conteúdos já estão sendo em boa parte geridos pela IA, a partir das nossas aulas no Team, Meet, Zoom... Com o Estado neoliberal desmontado, esses recursos acabarão sendo bem recebidos pelos governantes que agradecerão às Big Techs.

Tudo (ou quase tudo) que as Big Techs nos oferecem partem de nós. E está sendo extraído. A lógica das plataformas digitais é da extração de valor. As Big Techs (plataformas-raiz) através de suas “stores” (lojas online) que oferecem os Apps, capturam dados, treinam algoritmos para organizar esses dados que são processados pela IA. De posse dos dados trabalhados, industrializados e organizados nas plataformas e APPs, já dizem o que é melhor para nós. Assim, as empresas de ensino vão reduzindo os custos para o ensino massificado.

Nessa análise - talvez exagerando um pouco a crítica para ser melhor compreendida – é possível intuir que as Big Techs e corporações afiliadas, buscarão caminhar para oferecer ensino massificado do maternal à pós graduação. Penso que em especial no ensino médio e na graduação, mas o que vai ocorrer precisa ser acompanhado e investigado.

As GAFAM poderão usar os dados dos estudantes para vender ao mundo do trabalho futuro. Quem sabe moldar cursos e percursos formativos de adolescentes e jovens, em sequências de certificações, numa renovação da instrução programada, um pouco mais sofisticada, ou apenas envernizada, pelo uso da tecnologia.

Tudo isso que estava a caminho foi enormemente acelerado. Há um aproveitamento da situação de emergência sanitária e da pandemia da Covid, quando as ofertas das plataformas e APPs gratuitos “inundaram o nosso território”, nesse processo de colonização digital.

É preciso resistir. Porque, se não houver resistência, uma luta pela autonomia universitária e mesmo soberania da nação, eles seguirão avançando. O próximo passo será eliminar críticas como essa, afim de conquistar o que Gramsci chamou de “consciência superior”. Ou aquilo que Dardot & Laval falaram no seu livro “A nova razão do mundo”, sobre o neoliberalismo conquistando mentes e corações, numa espécie de dominação de espectro total executada e controlada pelo mercado. [8]

Esse processo é o que o francês Cedric Duran tem chamado de tecnofeudalismo, onde, a relação tecnofeudal se dá com o servo se oferecendo ao senhor, para ser ainda mais explorado, em troca da sobrevivência. [9] E isso já está indo muito além dos trabalhos de aplicativos de entrega e transportes. Já alcançou a educação e a saúde com trabalhadores sem relações formais e com mão de obra intermediada por plataformas e aplicativos.

Algumas universidades da Europa já estão reagindo. Na Itália, Alemanha, França. Estão exigindo leis para proteger as universidades (como instituições da sociedade) das grandes plataformas de tecnologia, Big Techs e suas associadas. [10]

Em síntese, é urgente questionar o “uso natural” das plataformas, mas em especial desmontar a sua lógica extrativista e de concentração de poder e lucros, contra os direitos coletivos da sociedade. Por isso, o seu uso precisa ser controlado pelos professores, pelas instituições e pelas nações.

 

Transformações geradas pela digitalização do ensino refletem também movimentos do modo capitalista de produção na direção do plataformismo

Na primeira parte, eu fiz menção sobre como chegamos ao que chamo de “dominação tecnológica” agora pretendo falar um pouco mais como esse processo vem se desenrolando, as estratégias dos agentes quem mais lucram com esse movimento, assim como uma análise crítica das tendências geradas por esse uso ampliado e “naturalizado” das plataformas digitais na educação a partir da emergência da crise pandêmica.

A plataformização é um processo em curso que pode estar iniciando uma espécie de sociedade das plataformas em que se identifica que essa forma de intermediação já está contribuindo para uma nova de reorganização da sociedade contemporânea de forma similar ao que produziu o taylorismo/fordismo como modo de produção capitalista há um século.

As Plataformas Digitais atuam como intermediárias entre grupos de produtores e consumidores na produção e na comunicação. Esse é o fator fundante da “Plataformização” que tem transformado as relações de trabalho e a forma como interagimos e vivemos em sociedade. 

A Plataformização se pontifica no circuito onde se dá enorme extração de valor e assim produz significativas transformações no MPC. Na década de 20 tivemos o Fordismo que, em grande parte, influenciou a forma como organizamos as nossas escolas com grades, disciplinas, séries, etc., teoria e prática, técnica e cultura, etc. Repetindo a conhecida Divisão do Trabalho presente na produção material.

Depois nas décadas de 80/90 tivemos o Toyotismo com a flexibilização da Divisão do Trabalho, processos de enriquecimento de cargos e produção em equipes. É fato que essa mudança pouco influenciou as escolas e as universidades. Pelo menos em grandes proporções. As experiências, por exemplo, da pedagogia por projetos, foram localizadas e em pequenas unidades e não chegaram a se expandir para os sistemas de ensino, embora ainda seja utilizada como prática pedagógica em disciplinas e cursos.

Assim, desde 2015 entramos na etapa do Plataformismo, ou da Plataformização e hoje, já começamos a ver as transformações nas estruturas da escolas/universidades e veremos adiante, onde chegaremos no pós-pandemia. A digitalização do ensino e da pesquisa tem bônus, porque é lucrativa para aqueles já ganhavam com a educação, mas tem ônus que precisam ser analisados de forma crítica. [11] [12]

O esquema gráfico da figura 3 abaixo, apresenta, de forma sintética o marco temporal e as principais características das transformações em curso. É importante apresentar que o surgimento de novas etapas como o Toyotismo e agora o Plataformismo, não representa a supressão das etapas anteriores que acabam por se misturarem ao fenômeno mais recente. Como exemplo, a forma de controle e supervisão técnico-digital executada pelas plataformas digitais, são formas atualizadas do taylorismo, já conhecido. No caso atual, em que o patrão ou o supervisor é o algoritmo, o aplicativo ou a plataforma digital.

Figura 3: Plataformismo: Transformações do Modo de Produção Capitalista

Fonte: Elaboração do autor (2020, a). Arte: Maycon Aguiar. [12]

É evidente que o incremento do uso da tecnologia pode ser diferente do que se identifica. Ao invés de exploração exponencial de pessoal, a exploração de possibilidades para a melhoria e o enriquecimento dos processos educacionais, conforme as direções de utilização da tecnologia. Porém, o que se vê é que estamos seguindo numa direção contrária, quando se busca na essência é a redução de custos, maior produtividade e, consequentemente mais lucros ou rendimentos.

A tecnologia digital não vai regredir e não cabe um novo movimento ludista (a destruição das máquinas e a negação da tecnologia dos trabalhadores ingleses no sec. XVIII nos primórdios da Revolução Industrial). Desta forma, será preciso direcionar as políticas públicas que retome o controle deste processo, como necessidade em termos civilizatórios, no lugar da lógica produtivista e de apropriação de valor. O fato é que a Tecnologia deixou de ser um fator ligado somente à produção, e hoje junto com a comunicação, produz essa dominação ampliada sobre a sociedade (espectro total).

Não se deve deixar de lado que Educação é muito mais que intermediação / circulação de informações ou conhecimento. A lógica da plataformização agiliza os fluxos de informação, mas não garante interação. Assim, a plataformização até poder atender ao comércio global (e-commerce), ao marketplace (shopping virtual) dos deliverys – onde são menos danosos -, mas não a processos que exigem interação social como o caso da educação. 

Como já comentado anteriormente, o processo de plataformização deve ser visto como um fenômeno multidimensional e transescalar. Repito também que as PDs são fundamentalmente meios de produção e meios de comunicação onde se dá a intermediação da informação no ambiente das conhecidas redes sociais. Meio e mensagem num mundo globalizado em termos de territórios e relações de poder.


Fragmentação, guetificação e individualismo parecem marcas da plataformização da educação

Já é possível identificar claramente que a plataformização produz mudanças no Modo de Produção Capitalista (MPC) e na forma como as pessoas interagem e leem o mundo. Transformações para além da produção, mas também na forma de organização dos serviços e da educação, assim como a escola também se pautou na taylorização e na produção em massa para se organizar.

Nessa nova etapa do MPC, as PDs integram e desintegram. Assim, como as PDs como meio de comunicação se fragmentam, pulverizam, tendem à superficialização e à diversidade, mais que ao aprofundamento.

É neste contexto que a fragmentação vai se tornando um dos maiores males do avanço da digitalização seja como meio de produção e simultaneamente de comunicação. E a fragmentação estará cada vez mais ligada às dificuldade de aprendizagem e de reflexão, porque exige múltiplas atenções.

Vive-se no presente sob o domínio do roubo do nosso tempo – Cronofagia [livro do italiano Davide Mazzocco recuperou o termo do francês Jean-Paul Galibert manifesto Cronòfagi (2015)]. [13] Roubo do nosso tempo, sono, das ideias e da atenção necessária à construção do conhecimento que é o inverso da fragmentação. Somos bombardeados de todos os lados, por diferentes instrumentos que retiram nossa atenção, a nossa capacidade de ligar os milhares de fatos que nos chegam simultaneamente.

Desta forma, também fomos nos transformando mais em meios do que em capacidade de leitura e interpretação dos fatos e das mensagens. É também por essa razão que insisto que esse fenômeno precisa ser interpretado e lido de forma multidimensional, dimensão econômica, política (das relações de poder), espacial, geopolítica, geoeconômica, ambiental, societária, sociológica, antropológica, psicológica, educação, etc.

Nessa linha interpretativa é possível também identificar que as PDs como meio de comunicação têm levado a processos de guetificação e/ou tribalização. Antes das PDs, a academia e a pesquisa já eram acusadas de guetos. Talvez, isso se intensifique, embora tenhamos a sensação e a esperança do inverso, de que estamos nos reintegrando com a sociedade, como uma espécie de “universidade aberta”.

Hoje estamos mais controlados e também mais colonizados. Isso me faz lembrar de Foucualt e do seu panóptico, como tão bem relacionou o filósofo coreano Byung Chul Han que nos trouxe a ideia do panóptico digital´, para além da retomada também do conceito da psicopolítica. [14]

O fato é que se torna difícil imaginar o processo educacional apartado da “sociabilidade pessoal” nesse esquema, mesmo que “híbrido” da intermediação digital das plataformas.

Não há muitas dúvidas de que estamos sendo empurrados para um “modelo híbrido”, mas nossas cabeças sairão desta crise sanitária e pandêmica, mais digital do que pessoal e social.

Tenderemos a pensar mais em saídas digitais do que de interação social. Possivelmente, mais individualistas que coletivistas. A escola era também o espaço onde sempre se aprendia mais, no interior do ambiente da escola e da universidade, do que necessariamente na sala e na relação exclusiva professor-aluno.

‌De certa forma, o digital pode bagunçar a estrutura taylorista da escola e da universidade, baseadas na estrutura das disciplinas, nas grades curriculares... que engessam e querem dirigir o processo de construção do conhecimento. Chegamos a pensar na educação por projetos, mas infelizmente não saímos de projetos pilotos e em escolas para poucos e pequenos grupos, como dissemos anteriormente.

Desconfio que agora a tendência maior será na direção de uma educação mais individualizada, mais “skinerizada”, talvez educação para castas e por isso a preocupação com a guetificação. O que seria muito ruim e passos atrás na história da formação humana.

Porém, dialeticamente, pode-se intuir que esse processo avançará e simultaneamente produzirá resistências a partir de suas contradições. ‌Assim, é necessário acompanhar, investigar, estudar e debater essa realidade. Na dúvida, em educação, o trivial sempre ofereceu mais garantias para a parte da população que mais precisa da escola, como chance - quase única - de acesso ao conhecimento para ascensão social.

Eu me pego muitas vezes, sentindo que aprendi mais questões, mas fico me questionando se me aprofundei nos temas. Porém, eu também me apanho algumas vezes me sentindo mais ansioso e depressivo, porque não dou conta de ler, estudar, assistir a todos podcasts, webinares, lives, textos, artigos que chegam a cada um de nós em cascatas.

Parece um movimento contraditório entre intensidade dispersiva e estudo e aprofundamento qualitativo e interpretativo. Se fossemos ver isso em termos espaciais eu diria que é um movimento dialético. Horizontal por conta da fragmentação e dispersão e outro Vertical, quando se busca o aprofundamento.

Talvez seja a dialética da aprendizagem e da educação, que já parece majoritariamente digital que lida com essas forças que parecem mais centrífugas, por conta da dispersão que o fenômeno provoca.


A plataformização na educação está gerando sofrimento, stress, medo e insegurança tanto em professores, quanto em alunos e em toda a sociedade

Todos esses movimentos aqui brevemente relatados e analisados estão produzindo consequências na sociedade como um todo e de forma especial entre profissionais da educação e estudantes.

É um processo ainda pouco percebido, porque o isolamento social físico ainda encobre muito desta realidade que mistura ansiedade pelo que estaria deixando de ser ensino e aprendido e medo dos riscos e do que virá pela frente, tanto em termos de classes profissionais, quanto de futuro dos estudantes.

Duas pesquisas descortinam pontas disso que estaria encoberto. Segundo o Datafolha, em 2020, 4 milhões (8,4%) dos estudantes, com idade entre 6 e 34 anos, matriculados antes da pandemia, abandonaram a escola. Trata-se de uma pesquisa por amostragem realizada com 1.670 entrevistas feitas por telefone, com estudantes ou seus responsáveis, entre os dias 30 de novembro e 9 de dezembro de 2020, que traz uma estimativa da repercussão sobre 43 milhões de estudantes matriculados no país, sendo 26,9 no ensino fundamental, 7,55 milhões no ensino médio e 8,6 milhões de matrículas no ensino superior. [15]

Outra pesquisa com dados relevantes sobre o tema foi realizada pelo Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente (Gestrado/UFMG), entre 8 e 30 de junho 2020, em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). [16]

A investigação foi feita com um universo expressivo de 15.654 professores, sendo 78% mulheres e 22% de homens, em todos os 27 estados da federação, proporcionalmente ao nº de docentes de suas redes: 49% municipais, 39% estaduais e apenas 1,2% da rede federal e 11% simultaneamente das rede estadual e municipal e trouxe como resultados:

a) 89% nunca tinham tido experiência em “ensino remoto; b) 50% consideravam que tinham regular habilidade para lidar com tecnologias digitas, 24% consideravam fácil e 17% difícil esse manejo. c) 42% disseram que não receberam nenhum tipo de formação para essa atuação e que utilizavam por conta própria; 21% se viravam com tutoriais e 25% tinham recebido alguma formação da Secretaria de Educação. d) 82% estavam realizando trabalho de casa, mesmo percentual que identifica que aumentaram suas horas de trabalho em relação às aulas presenciais. e) 51% eram obrigados a compartilhar recursos tecnológicos de acesso com outras pessoas do lar e tinham tempo restrito. f) 46% identificam que o nível de participação dos estudantes nas atividades diminuiu um pouco e 38% drasticamente. g) 80% consideram que isso se dá porque os estudantes não têm acesso à internet e demais recursos e 74% observa que as famílias não conseguem ajudar os estudantes nas suas atividades. h) 69% têm medo e insegurança por não saber nem quando e nem como será o retorno à normalidade.

O resultado dessas duas pesquisas apontam indicadores que causam enorme espanto, que surge em meio às mortes e à necropolítica que cerca a vida de todos nós.

As pessoas e os professores estão todos exaustos e se sentido ainda mais explorados, que em boa parte pode ser também atribuído à individualização que esse processo está nos levando. A tecnologia nos impregna de individualidades, na medida em que o seu uso nas aulas-online, foi se tornando, quase uma única alternativa, para alguma educação durante a pandemia.

Mas, os professores não aguentam mais o ambiente online e os alunos não aguentam mais assistir aulas que foram pensadas para serem desenvolvidas o olho no olho e que digitalmente perdem o encantamento e muitas vezes, o sentido.

Neste ponto é interessante retomar novamente ao filósofo coreano, Byung Chul Han, autor de um breve e bem texto escrito agora em maio de 2021. Aliás, um texto que serve como contexto nessa etapa da conversa sobre o sofrimento mensal e educadores e estudantes. O título e subtítulo: O vírus capitalista do cansaço incessante” - Depressão e esgotamento, que transbordam na pandemia, são sintomas de profunda crise de liberdade. Encontros, que revigoram a vida, sucumbem. Descarnados, somos reduzidos a nós mesmos — bem ao gosto neoliberal. Resgato deste artigo um trecho em homenagem aos professores e alunos:

“A pandemia faz com que essa forma de comunicação, essencialmente desumana, se torne a norma. A comunicação digital nos deixa muito, muito cansados. É uma comunicação sem ressonância, uma comunicação sem felicidade. Em uma reunião do Zoom, não podemos, por razões técnicas, nos olhar nos olhos. Tudo o que fazemos é olhar para a tela. A ausência do olhar do outro nos cansa. Esperançosamente, a pandemia nos fará perceber que a presença física de outra pessoa é algo que traz felicidade, que a linguagem implica experiência física, que um diálogo bem-sucedido pressupõe corpos, que somos criaturas físicas. Os rituais que temos perdido durante a pandemia também implicam em experiência física. Eles representam formas de comunicação física que criam comunidade e, portanto, trazem felicidade. Acima de tudo, eles nos afastam de nossos egos. Na situação atual, o ritual seria um antídoto para o cansaço fundamental. O aspecto físico também é inerente à comunidade como tal. A digitalização enfraquece a coesão da comunidade na medida em que tem o efeito de desencarnar. O vírus nos afasta do corpo.” [17]

Byung parece tentar evitar com o desejo da comunhão e da sociabilidade física, o processo que parece em curso de um encaminhamento em direção à individualização, “ao sujeito que se faz por si próprio”, uma “fábrica do sujeito neoliberal” [8], entranhada nas pessoas e na sociedade. Assim, ao contrário, pendurar várias tipos de softwares e de plataformas é na prática um arremedo e nunca solução.

Agora, já existe até quem pense em separar as etapas do processo de aprendizagem do aluno. Querem flexibilidade de professores e alunos.  Querem artistas. Querem quem possa ser bom tanto no desempenho presencial quanto à distância. Um superdocente ainda mais explorado, já que pode ter menor remuneração, porque trabalha de casa, sua aula pode ser reproduzida e o exército de reserva se expandiu.

É também uma espécie de mimetismo que tenta juntar a aula presencial e adaptá-la ao mundo virtual. Esses mesmos dizem e vendem a ideia de que as possibilidades que essa nova mídia oferece, seriam imensas, embora, o que se tenha, seja basicamente, a filmagem da aula que antes era presencial. Mas, a tecnologia gera muitas tensões.

Os “especialistas” dizem que “a nova mídia deve ser usada na medida da necessidade e no tempo adequado”. E quem sabe o que é adequado? Simulam-se aulas presenciais no mundo virtual em que os alunos ficam entediados, a família desesperada e os professores encurralados e estressados.

Parece que se deseja dividir ainda mais funções na tarefa de educar, o que seria um neotaylorismo. Há quem sugira professores-atores, que seriam mais aptos a esta tarefa de transmitir e empolgar, num ambiente da sala de aula virtual. Tudo é estranho e diferente. Cansativo. Estressante. 

De outro lado é necessário observar o movimento de capitalização e financeirização que os agentes privados que controlam empresas de ensino. Na prática se trata da transformação de um serviço prestado na área de educação que passa a ser tratado como gestão de ativos na lógica que Mazzucato descreve. [5]

As universidades SA, como a Estácio S.A. (hoje Yduqs), Kroton, Ânima, Laureate, Unip, Uninove, etc. crescem nos últimos anos no Brasil, num “mercado” que já supera 3 milhões de matrículas e de algumas dezenas de bilhões de reais de receita. [18] Estes agentes (corporações), naturalmente, estão vibrando com a expansão da EaD, mesmo que cobrada a preço de aula presencial, neste modelo já batizado como híbrido – e definitivo -, à base dos sopapos, em meio aos lucros que são produzidos a partir da colossal redução de custos, professores mais baratos e sem despesas de consumo e quase sem instalações. Muitos dizem que é um caminho sem volta. Importa menos o resultado do processo educacional e mais a lógica do capitalismo de gestão de ativos entre “Retorno & Riscos.

Assim, com um olhar mais geral e numa perspectiva de totalidade sobre esse processo, é possível ainda enxergar nesses movimentos, que “o capitalismo está se deslocando”, como afirma Dowbor. [19] Neste sentido, começam a surgir transformações e novas formas de organizar a sociedade, os negócios econômicos e o funcionamento das instituições estão em curso. A escola e a universidade estão no meio deste processo ou desse tsunami.

Por tudo isso, absolutamente não pode ser considerado razoável ver como natural a intensificação, ou mesmo massificação do uso das plataformas digitais, sem críticas e sem a busca de alternativas e limitações para aqueles que mais ganham com este fenômeno, sem observar os interesses de toda a sociedade. Desta forma, esse esforço para conhecer mais profundamente o processo em curso da plataformização na educação, deve ser visto também como início de ações para a transformação, numa perspectiva de uma utilização da tecnologia a favor da maioria, para além do período de emergência sanitária.


Referências:

[1] CASTELLS, M. A sociedade em rede. Paz e Terra: São Paulo. 2002.

[2] HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo: BoiTempo, 2005.

[3] PESSANHA, Roberto Moraes no Portal 247 em 22 de outubro de 2020. Com pandemia, setor de tecnologia é hegemônico no Top 100 do Financial Times. Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/com-pandemia-setor-de-tecnologia-e-hegemonico-no-top-100-do-financial-times

[4] PESSANHA, Roberto Moraes no Portal 247 em 22 de outubro de 2020. O modus-operandi das Big Techs. Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/o-modus-operandi-das-big-techs

[5] MAZZUCATO, M. O valor de tudo: Produção e apropriação na economia global. São Paulo. Schwarcz S.A. São Paulo. 2020.

[6] Matéria no Valor em 2 de novembro de 2020. Laureate anuncia venda de operações no Brasil por R$ 4,6 bilhões para Ânima. Disponível em: https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/empresas/noticia/2020/11/02/laureate-anuncia-venda-de-operacoes-no-brasil-por-r-46-bilhoes-para-anima.ghtml

[7] A expressão skinerizada deriva das ideias do psicólogo behaviorista americano Burrhus Frederic Skinner. B. F. Skinner foi professor na Universidade Harvard de 1958 até sua aposentadoria, em 1974. Skinner considerava o livre arbítrio uma ilusão e ação humana dependente das consequências de ações anteriores. Para Skinner a educação devia ser planejada passo a passo, de modo a obter os resultados desejados na "modelagem" do aluno. Em síntese, Skinner acreditava na possibilidade de controlar e moldar o comportamento humano.

[8] DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo - Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: BoiTempo, 2017.

[9] DURAND, Cédric. Technoféodalisme: Critique de l’économie numérique (Tecnofeudalismo: crítica da economia digital). Paris. Éditions Zones, 2020.

[10] Artigo da reitora da Universidade de Amsterdã, Karen Maex, em 25 de janeiro de 2021, em faz um chamamento a produção de leis para proteger e garantir a autonomia das universidades da agressão das grandes plataformas de tecnologia. Rector calls for EU law to protect universities’ tech autonomy. Disponível em: https://www.researchprofessionalnews.com/rr-news-europe-regulation-2021-1-rector-calls-for-eu-law-to-protect-universities-tech-autonomy/

[11] PESSANHA, Roberto Moraes. Commoditificação de dados, concentração econômica e controle político como elementos da autofagia do capitalismo de plataforma. Revista ComCiência do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp e SBPC. Disponível em: <http://www.comciencia.br/commoditificacao-de-dados-concentracao-economica-e-controle-politico-como-elementos-da-autofagia-do-capitalismo-de-plataforma/>.

[12] PESSANHA, Roberto Moraes. Inovação, financeirização e startups como instrumentos e etapas do capitalismo de plataformas. In. Geografia da Inovação: territórios, redes e finanças. P.433-468. Rio de Janeiro. Consequência, 2020.

[13] Artigo de Giuseppe Luca Scafiddi publicado em 17 fev. 2020, no portal Outras Palavras. Cronofagia: o roubo do tempo, sono e ideias. Disponível em: https://outraspalavras.net/mercadovsdemocracia/cronofagia-o-roubo-do-tempo-do-sono-e-das-ideias/

[14] HAN, Byung-Chul. Psicopolítica: O neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Belo Horizonte. Editora Âyiné, 2018.

[15] Matéria da Folha de São Paulo em 22 de janeiro de 2021. SALDAÑA, Paulo. Cerca de 4 milhões abandonaram estudos na pandemia, diz pesquisa. Taxa de abandono é de 10,8% no ensino médio e 16,3% no superior, segundo levantamento Datafolha a pedido do C6 Bank. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/01/cerca-de-4-milhoes-abandonaram-estudos-na-pandemia-diz-pesquisa.shtml

[16] PESSANHA, Roberto Moraes. Artigo publicado em 16 jul. 2020 no blog do autor e no Portal 247. Pesquisa da UFMG/CNTE sobre o trabalho docente da rede pública pela via digital aponta precariedades, intensificação e baixa participação dos estudantes. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2020/07/pesquisa-da-ufmgcnte-sobre-o-trabalho.html. No Portal 247, em 16 de julho de 2020. Ensino digital na pandemia: precariedades e baixa participação dos estudantes. Disponível em: https://www.brasil247.com/blog/ensino-digital-na-pandemia-precariedades-e-baixa-participacao-dos-estudantes

[17] HAN, Byung-Chul. O vírus capitalista do cansaço incessante. Portal Outras Palavras em 13 de maio de 2021. Disponível em: https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/o-virus-capitalista-do-cansaco-incessante/

[18] Matéria no Valor em 25 de maio de 2021. Curso on-line e compras driblam crise. Grandes grupos de ensino com capital aberto na B3 aumentaram base de alunos no vestibular do começo deste ano. Disponível em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/05/25/curso-on-line-e-compras-driblam-crise.ghtml

[19] DOWBOR, L. O capitalismo se desloca: novas arquiteturas sociais. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2020.

domingo, maio 16, 2021

Problemas em turbina da Siemens adiam início de operações da UTE-I da GNA no Açu

A usina termelétrica (UTE) a gás natural da empresa GNA (Gás Natural Açu) instalada na área da Prumo, no Porto do Açu já poderia estar em funcionamento, neste momento de demanda de energia elétrica no país, porém, um problema no última fase de testes interrompeu o cronograma inicial.

Em dezembro de 2020, já tinha sido concedida pelo Inea, a última licença ambiental necessária para entrar em funcionamento, a Licença Operação (LO). No dia 27 de janeiro foi a vez da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) autorizar o início de operação em testes da UTE GNA I.

UTE-1 e as 3 turbinas da Siemens. Fonte: GNA.

O funcionamento da UTE-I da GNA no Açu exige a operação conjunta da unidade de regaseificação do GNL, a subestação (SE) – para elevar a tensão da energia elétrica gerada - para ser jogada na linha de transmissão, ao nível de 345 mil volts, até à interligação no Sistema Interligado Nacional (SNI) na subestação de Furnas, em Campos. Tudo isso já está pronto desde o final de 2020.

Porém, um “expressivo problema” (que pode ter sido, um erro de operação) na(s) turbina(s) da Siemens, na última semana de abril, criou consequências que levaram ao adiamento de novos testes e mesmo a entrada em operação definitiva da usina termelétrica UTE-1 da GNA. Informações obtidas pelo blog - de mais de duas fontes -, disseram que os técnicos da Siemens estão se desdobrando, mas ainda assim, os reparos podem levar mais dois meses até serem liberados novamente para testes e para a operação.

A participação da Siemens como fabricante das turbinas na sociedade do consorcio da GNA é uma forma de garantir a aquisição do equipamento mais caro de uma usina termelétrica. A UTE GNA I compreende três turbinas a gás SGT6-8000H, uma turbina a vapor, três geradores de recuperação de calor mais os sistemas de instrumentação e controle. O modelo SGT6-8000H (classe H) é um equipamento veio da Europa através do Porto de Antuérpia na Bélgica e pesa cerca de 291 toneladas, possui 11 metros de comprimento, 4,8 metros de altura. Juntas as três turbinas a gás terão capacidade de gerar 1,3 GW de energia elétrica.

É estranho que uma informação deste tipo de um empreendimento de porte como esse e que envolve empresas importantes, estejam sendo mantidas neste relativo sigilo, até porque no mundo atual segredo deste tipo é quase impossível de ser controlado, quase toda a mídia corporativa, quase sempre só se ocupe, dos releases de marketing dos empreendimentos que são recebidos no caixa.

É oportuno registar que a GNA (Gás Natural Açu) é resultado de um consórcio (joint venture) entre grandes corporações como a Prumo Logística (controladora do Porto do Açu), a BP, a Siemens e a SPIC que garantiu o financiamento junto ao International Finance Corporation (IFC) – órgão vinculado ao Banco Mundial - no valor de US$ 288 milhões, e outro, no valor de R$ 1,76 bilhão, obtido junto ao BNDES e ao banco alemão, KfW IPEX-Bank.

Todo o planejamento da GNA (Gás Natural Açu) compreende a implantação de duas usinas termelétricas de ciclo combinado movidas a gás natural (UTE GNA I e UTE GNA II), a primeira com capacidade de gerar 1.300 MW (1,3 GW) e a GNA-II - que teve sua construção adiada, desde o início da pandemia - tem capacidade de gerar 1,7 GW. Juntas alcançariam 3.000 MW de energia. 

As duas UTEs da GNA-1 trabalharão com a importação de GNL (Gás Natural Liquefeito) e um unida de regaseificação (navio FSRU BW Magna) que recebe o GNL importado de navios gaseiros. Essa articulação torna o negócio como uma espécie de hub de gás natural, com processamento de 21 milhões de metros cúbicos/dia. 

O projeto prevê ainda a interligação deste hub (polo de distribuição) de gás natural com gasoduto, já existente em Campos (Gascav) e outro até a Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) da Petrobras, em Cabiúnas, Macaé. No final de abril esses dois ramais de gasodutos passaram pela fase de licenciamento ambiental a partir dos seus EIA-RIMA. A interligação com outras fontes de gás natural permite à GNA e ao seu hub de gás natural, intercambiar alternativas de suprimento de gás natural importado e/ou adquirido da produção nas Bacia de Campos ou Santos, assim como fornecimento em caso de sobra do produto no Açu.  

sexta-feira, maio 14, 2021

Quadro político se agrava no Brasil, mas desfecho é imprevisível

Há mudanças substanciais no quadro político no Brasil. Há esperanças de transformações no Brasil de hoje, mas ela deve estar para além da resistência.


A CPI trabalha com a apuração de dados crescentes das (ir)responsabilidades do desgoverno, tanto na questão das vacinas, quanto da ausência de gestão para proteção das pessoas.

O desgoverno é fruto de um clã alucinado ombreado por milícias digitais e territoriais e pelos generais do Partido Militar, mais preocupados em duplicar seus salários e que não se importam com a enorme massa de desempregados, famintos e excluídos. Estes tentam sobreviver com o minúsculo auxílio emergencial, sofrendo as dores da pandemia e da morte daqueles mais próximos e, em sua maioria, da mesma classe social.

O descontrole da base desgovernada aumenta, se torna visível, e parece refletir a percepção da população que, embora silenciosa, em sua maioria, segue tentando se proteger do vírus e destes genocidas.

É difícil prever o que haverá pela frente.

Os donos dos dinheiros no andar de cima, seguem satisfeitos com o aumento dos seus lucros e com o acesso às empresas vendidas na xepa das privatizações das estatais e concessões, onde o fluxo de dinheiro e rentabilidade, prescindem de investimentos em instalações, apenas adequações e reformas, pagas com crédito barato e subsidiado do BNDES, mesmo que quase desmontado. Esses, também não encontram o nome para o tal centro neoliberal.

A divisão de posição na população parece ter mudado de lado. Ainda na população, os sinais são de uma maioria acompanhando tudo de perto e querendo mostrar sua nova posição. Há preocupação e ansiedade, mas há mais que fios de esperança.
 
O Brasil, hoje é muito diferente do país de 2002, em diversos aspectos. Precisamos superar o genocídio, o desmonte do país e o atraso. É necessário mais que resistir. Sigamos em frente!

sábado, maio 08, 2021

"Family Office" dos Diniz é um bom "case" da estratégia de financeirização de fração da nossa burguesia

A matéria de O Globo (07 mai. 2021, p. p23) "Abílio Diniz lança gestora com investimento mínimo de R$ 1 mil - Família e investidores fazem aportes de R$ 1,75 bi em fundo multimercado da empresa", é um case claro da fórmula adotada pelas famílias ricas (family offices) para aumentar seus dinheiros com a ampliação do rentismo nesta fase do capitalismo hegemonicamente financeiro. 

Family office da família Diniz O Globo 07-05-2021 p.23


A família Diniz, através de um fundo financeiro (multimercado ou hedge) - O3 Capital - busca captar excedentes para se juntar ao patrimônio de R$ 12 bilhões vindo da família e da venda de seus negócios de varejo supermercado para a francesa Carrefour.

Esse caso explica bem, o movimento dos donos dos dinheiros que controlavam uma empresa comercial em direção a uma novo arranjo de acumulação de capital.
 
Uma boa parte da burguesia endinheirada nacional, passou a fazer opção por fazer parte do esquema da financeirização, que têm no instrumento dos fundos uma espécie de novo "centro dinâmico da economia" controlando através de variados arranjos, as empresas (ativos) da economia real. 

A opção, claro, foi sendo definida, porque no setor financeiro, os lucros são muito maiores (andar superior) do aquele que os Diniz (e outros setores da burguesia) tinham em sua atuação, quase exclusiva no setor (fração) comercial.

Trata-se na verdade, não apenas de um "case" - mas como venho insistindo - na realidade se estabelece como um novo padrão dos donos dos dinheiros, que passam a ter nas finanças, uma maior extração de valor do trabalho com a captura da riqueza produzida na sociedade. 

Essa fórmula dos fundos financeiros substitui a antiga intermediação bancária que cumpria o papel de captar poupança da sociedade para emprestar aos empreendedores de negócios industriais, comerciais, imobiliários e outros. 

No Brasil há quase duas décadas, essa lógica da intermediação bancária foi sendo substituída pela ideia da gestora dos fundos, que hoje controlam com diferentes arranjos (societários) as empresas da economia real em diferentes setores da economia.

quarta-feira, maio 05, 2021

O percurso estrutural do mundo das finanças em direção à digitalização

Por conta de minhas investigações mais recentes, eu tenho comentado com frequência sobre o avanço da tecnologia sobre as nossas vidas. Refletindo um pouco mais, penso que talvez, essa leitura deixe transparecer que esse frisson de técnicas informacionais é que tenham feito surgir a hegemonia financeira no capitalismo contemporâneo, mas não é assim. Tentarei explicar.

Antes, lembro que não se deve esquecer que sempre há um razoável tempo entre o surgimento da tecnologia e sua maturação para uso ampliado em vários setores. Entre exposição da nova tecnologia e o seu uso expandido, o rentismo também foi se ampliando de várias formas.

Assim como “trepadeiras” (plantas parasitas) que têm no caule da árvore a sua fonte de sobrevivência. Por equivalência, o rentismo é também derivado de algo que o sustenta em sua essência. As rendas derivadas da economia real: juros, aluguel, dividendos, comissões, marcas, etc.  

Há séculos há bancos, mercados de capitais e a ideia da partição e democratização da propriedade com a figura da sociedade anônima (SA). Há um século os fundos financeiros também já tinham surgidos, como forma similar à ideia da poupança e como instrumento individual de atualização monetária e juros para acumulação que já tinham a função de servir como meio coletivo, para produzir a expansão da riqueza, acumulação e investimentos. Se houver alguma dúvida sobre isso é só relembrar o período do entorno da crise de 29. De crise em crise, entre sobreprodução e sobreacumulação se tem muito a aprender.

Portanto, é um equívoco não apenas falar, mas também deixar transparecer qualquer ideia de que a expansão da tecnologia é que seja a gênese da financeirização. E é bom que se diga a sua forma de atuação não mudou muito neste tempo todo. O circuito do valor desde a base da pirâmide, a etapa da circulação e vendas das mercadorias até o andar das altas finanças continua o mesmo, como nos ensinou Giovanni Arrighi.

Assim, as novas tecnologias e suas formas organizacionais (TIC) aceleraram o tempo da produção e das trocas até o consumo, cada vez mais intermediado pelas infraestruturas de comunicação das plataformas digitais. Junto estamos vendo a ampliação do setor de serviços, as terceirizações, a precarização retomando a leitura da divisão do trabalho junto da reestruturação produtiva mundial.

 

TIC e plataformas digitais como meio de produção e de comunicação

As plataformas digitais essencialmente como meio de produção (Appficação) e meio de comunicação (redes sociais), surgiram junto da desregulação e flexibilização e como sucessão ao Toyotismo. A internet móvel dos celulares expandiram e misturaram a produção e a comunicação instantânea, roubando os tempos mortos numa cronofagia ainda pouco percebida.

Os mercados globalizados deixaram de ser retórica, num mundo em que os produtos saem e chegam em qualquer lugar, desde que se garanta a fluidez do dinheiro lubrificado no trânsito pelas redes informacionais e os novos meios de pagamento.

Assim, chegamos à concentração de empresas com fusões e aquisições em processo de oligopolização e conformação de um circuito financeiro global. Desta forma, as Big Techs (EUA e China) se tornaram o maior oligopólio da história da humanidade com tentáculos sobre todos os demais setores da economia em diferentes espaços e nações.


Figura 1 (PESSANHA, 2020, p. 437). Capítulo 15 "Inovação financeirização e startups como instrumentos e etapas do capitalismo de plataformas". Livro: Geografia da Inovação: Território, Redes e Finança, GOMES, Maria Terezinha, TUNES, R. e OLIVEIRA, F. G. 


Essa compressão do espaço e do tempo vem servindo de forma extraordinária à ascensão do curto prazo, como objeto do desejo da acumulação ampliada de capitais. O andar de cima dos donos dos dinheiros passou a exercer maior controle sobre a sociedade e sobre a política.

Nesta toada vivemos no presente a dominação tecnológica que amplia a hegemonia financeira que define o capitalismo contemporâneo. Em seu percurso, o capitalismo que já foi hegemonicamente comercial e depois industrial, tem hoje o predomínio financeiro, capturando cada vez mais valor, em todas as frações do capital com suporte da tecnologia da informação e da comunicação (TIC).

Aquilo que antes já existia se ampliou. O avanço da tecnologia, muito para além da maquinaria inicial e mesmo da automação, com a intensificação da TIC, foi permitindo, de forma paulatina e crescente, a constituição de formas e condições para subtrair mais valor do trabalho, da sociedade e do Estado.

Subtração do que eram seus atributos indispensáveis: o monopólio da emissão de moedas e a regulação sobre todos os setores. Hoje, o mercado define a autorregulação e o financiamento como norma das atividades em boa parte do mundo, em especial, no lado ocidental.

Não por outro motivo, os volume dos fundos de investimentos, imbricados às outras formas de aplicação no mercado de capitais e enlaçados ao circuito financeiro global, são hoje quase três vezes maior ao PIB global. Não por outros motivos, a bolsa de valores no Brasil chegou a 3 milhões de investidores comprando e vendo ações e cotas nos fundos financeiros.

 

Aprofundamento da digitalização das finanças, a falsa utopia da moeda digital e nova rodada do neoliberalismo

O amplo mercado de derivativos e os mercados futuros entre outros vão tecendo novos instrumentos com uso de tecnologias. Assim, surgem as moedas digitais, blockchain, tokenização, etc. No meio deste processo, para alguns utópicos e para outros distópicos, há quem imagine que a técnica consiga, algum dia, separar a economia da política. Ledo engano.

Assim, as finanças digitalizadas ampliaram a potência e as estratégias dos donos dos dinheiros, no processo de recolhimento de excedentes das diferentes frações do capital e em todos os territórios a nível global.

Desconfio que nessa captura de excedentes – numa espécie de vampirismo digital - caminhamos para o esgarçamento do sistema. Difícil crer em renovação de um “novo” New Deal (desculpe pela repetição), e novo Welfare-state em que se retoma as ideias keynesianas que deram certo há um século, no pós-29 e outros momentos pontuais.

As transformações neste momento parecem mais estruturais. Talvez até de padrões (in) civilizatórios. Wallerstein criador da ideia de sistema-mundo junto com Arrighi já citado falaram em caos sistêmico que desorganiza aquilo que parecia ajustado ao sistema do pós-guerra e do estado-de-bem-estar. Porém, o império se sente ameaçado e parece querer reafirmar sua hegemonia, em meio à desorganização que dá ares de mudar a hegemonia

O mundo vem se transformando. Neste momento, o andar de cima não cogita de um mundo do "estado de bem-estar-social". Talvez um “estar” de renda mínima espalhada para os sobrantes, para assim, tentar segurar a "patuleia" que fica fora da roda da vida. 

O andar de cima - dos donos dos dinheiros - se tornou os donos da maioria dos ativos, como gostam de se referir a tudo que lhes dê retorno rápido, num mundo onde as pessoas, contabilmente, se transformaram em passivos e prejuízos, quando na realidade é quem ainda produz os excedentes, embora tenha suas rendas cada vez mais expropriados.

Vivemos uma nona rodada do neoliberalismo em que os grandes fundos financeiros a nível global (reunidos em Davos) falam no tal "Great Reset" e outras asneiras. Assim, customizam o discurso financeiro da sustentabilidade, usando o acrônimo ESG (Environmental, Social and Corporate Governance: governança social e ambiental), que na prática, nada mais é do que a retomada daquela ideia dos stakeholders, em que os investidores teriam preocupações com governança social e ambiental, quando na verdade se vê a ampliação da dominação.

Observando os movimentos contemporâneos do capital com o potente aporte da tecnologia, se identifica que a nova rodada - ainda mais radical do neoliberalismo - caminha para um ciclo de acumulação ainda mais perverso. Há um monstro a ser contido, que a despeito de tudo ganhou corpos e mentes nos últimos anos, como tratam os franceses, Dardot & Laval no livro “A nova razão do mundo”.

As reações à Super Liga do futebol, organizada pelo banco americano JP Morgan, reunindo os grandes clubes e potentes fundos financeiros globais, parecem mostrar, mesmo que apenas simbolicamente, que este mundo da "utopia tecnocrática e financeira" para poucos, em detrimento da maioria tem limites. A dominação tecnológica e hegemonia financeira precisam também ter limites.

Para fechar, sabemos que as questões aqui tratadas são estruturais e se situam no campo da economia política - para além das conjunturais -, que se somam à crise dos modelo de representação política de quase dois séculos no ocidente.

Foi neste percurso que chegamos a um estado capturado e sem capacidade de regular e financiar quase nada e a cada dia entrega mais porções ao mercado. Simultaneamente o mercado amplia o controle sobre a sociedade, a política e a economia, se portando ainda mais distante dos interesses da maioria.

Sim, mesmo percebendo que as questões centrais que decorrem destas transformações oriundas da relação entre finanças e tecnologia seriam mais de ordem estrutural e civilizatória, não há como enfrentá-las sem as intervenções dos estado-nações, para dentro e para fora - interna e externamente. Assim, talvez, seja possível compreender que ações passariam pela retomada do Estado, com a finalidade de atender a maioria da sociedade. Porém, não faria nenhum sentido fazê-lo, sem amplas e profundas reformas no sistema e, nesse linha não faz nenhum sentido querer apartar a economia da política.

O assunto merece ser aprofundado.


Referências:

ARRIGHI, G. O longo Século XX. São Paulo: Contraponto/Unesp, 1996.

ARRIGHI, G. A ilusão do desenvolvimento. Petrópolis, Editora Vozes, 1997.

CHESNAIS, F. O capital portador de juros: acumulação, internacionalização, efeitos econômicos e políticos. In: CHESNAIS, F. (org.). A finança mundializada: raízes sociais e políticas, configuração, consequências. São Paulo: Boitempo, 2005, p. 35-67.

DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo - Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: BoiTempo, 2017.

DOWBOR, L. O capitalismo se desloca: novas arquiteturas sociais. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2020.

HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo: BoiTempo, 2005.

HARVEY, D. A loucura da razão econômica. São Paulo: BoiTempo, 2018.

PESSANHA, Roberto Moraes. Inovação financeirização e startups como instrumentos e etapas do capitalismo de plataformas (P.433- 468) in: Geografia da Inovação: Território, Redes e Finança, GOMES, Maria Terezinha, TUNES, R. e OLIVEIRA, F. G. Rio de Janeiro. Consequência, 2020.

domingo, maio 02, 2021

Guilherme Estrella: “Os fundos financeiros passaram a controlar o Brasil. É preciso retomar a nossa institucionalidade e a CF de 88”

O ex-diretor de Exploração & Produção da Petrobras, no período da descoberta do Pré-sal, o geólogo Guilherme Estrella tem dado algumas entrevistas que são verdadeiras aulas. Elas versam para além da Petrobras e falam sobre os esforços para a construção de um Brasil enquanto nação soberana e os percalços que as forças progressistas nacionais têm sofrido para manter esta trajetória.

Foi assim que Estrella, na última sexta-feira, 30 de abril de 2021, participou do programa “Tecendo o Amanhã”, uma parceria entre cinco emissoras comunitárias, tendo como tema” “Petrobras ameaçada”.

Guilherme Estrella fez uma síntese, desde o resgate histórico da criação da Petrobras, o papel estratégico que foi adquirindo com o tempo e a sua ampliação até a descoberta do Pré-sal, quando as forças reacionárias, as mesmas de sempre, ligadas à elite econômica predatória e escravocrata do Brasil, voltaram com  a trama de mais um golpe, em 2016, para esquartejar, desmontar e entregar a empresa para controle dos grandes fundos financeiros.

Ao falar sobre as estratégias de financeirização implementadas na estatal pós-gole, Estrella cita o livro “A ‘indústria’ dos fundos financeiros potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo” que traz uma interpretação sobre os esquemas rentistas em que os novos dirigentes reproduzem os interesses dos investidores-especuladores curtoprazistas que passaram a imprimir na Petrobras e em outros setores da nossa economia. Ag

radeço a referência do Estrella, mas em especial aos diálogos que temos mantido e que é sempre motivo de muito aprendizado.

Enfim, por tudo isso sugiro que assistam a entrevista-aula de menos de uma hora no canal no Youtube da TV Comunitária do Rio de Janeiro. Garanto que vale conferir!



PS.: Atualizado às 12:16: Para breves ajustes no texto.