sexta-feira, abril 26, 2024

Compra de mineradora Anglo American que exporta pelo Porto do Açu reforça lógica global e de enclave no complexo porturário

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A gigante mineradora australiana BHP Billiton está na mira para comprar a Anglo American, mineradora sul-africana que exporta minério de ferro, em seu terminal no Porto Açu, através da joint-venture Ferroport, formada com a Prumo Logística Global, holding americana controladora pelo fundo também americano, EIG Partners. 

O negócio está se iniciando com proposta de compra da Anglo American, feita BHP por US$ 39 bilhões. As exportações de minério-de-ferro pelo Açu foram as primeiras exportações realizadas no 2⁰ semestre pelo complexo portuário do litoral de SJB. 

O minério de ferro que chega ao Açu é extraído da mina da região do Quadrilátero Ferrífero de MG e vem para o litoral fluminense, por meio de um mineroduto de 522 km do chamado Sistema Minas-Rio, vendido, ainda no papel, por Eike Batista por cerca de US$ 5 bilhões.

Esses negócios de fusão dos grandes grupos que atuam no Porto do Açu, reforçam a visão sobre como os negócios extrativistas formam enclaves e são comandados por grandes corporações ligadas ao que se chama de Cadeias de Valor Global e que se utilizam do extrativismo dos recursos minerais e usam os demais áreas e comunidades como "territórios de passagem". 

Vale ainda observar como a transação comercial é feita baseada em todas a cadeia de negócios da mineradora Anglo American e não sobre o negócio específico da mesma no Sistema Minas-Rio que exporta minério pelo Porto do Açu. A reportagem deixa claro que o maior interesse é pela extração de cobre, material que ganha importância com a intensificação dos processos de eletrificação ampliado com o avanço da transição energética, portanto, sem nenhuma relação direta com o Minas-Rio que entra como complemento na venda.

São negócios que movimentam bilhões de dólares com exportações de (cerca de 26 milhões de toneladas), mas com pouquíssima conexão e benefícios para a região. Muitos dos controladores destes negócios sequer conhecem a região. Extrativismo, enclave, centralização, concentração e oligopólios que prescindem do território e das infraestruturas portuárias, apenas para realizar seus lucros com as exportações.

[1] Matéria em O Globo, 26/04/2024, p.17, NEDER, Vinícius.

PS.: Atualização às 09:28: É ainda importante relembrar que a mineradora BHP Billiton era sócia da mineradora brasileira Vale (50% +50%) na minha da Samarco em MG cuja bacia de rejeitos desmoronou e provocou um dos maiores tragédias social e ambiental do país, matando 19 pessoas, devastou o Rio Doce e atingiu cidades mineiras e capixabas em 5 de novembro de 2015. O processo criminal que tornou rés 22 pessoas e as mineradoras Samarco, Vale, BHP Billiton e VogBR Recursos Hídricos pelo desastre.

PS.:Atualização às 12:58: com outros dois comentários que envolvem esses processos de fusão, aquisições e incorporações (F&A) entre corporações globais e GPIs controladas por grandes fundos financeiros globais.

1) Ainda observando mais esse movimento de aquisição, fusão e incorporação (F&A) entre corporações, também vale registrar alguns processos que venho analisando em pesquisas no território. O mundo corporativo é uma realidade muito distante. Andar superior é uma boa definição. No território, junto às instalações e bases operacionais (capital fixo) ficam seus operadores. São encarregados que recebem por contrato e extras por metas cumpridas e bajulações(sic) desde que lucrativas para investidores, na maioria fundos financeiros. Os CEOs, diretores e alguns gerentes trabalham por mandato, como os treinadores e jogadores de futebol. Quando se desgastam com a comunidade (stakeholders), são trocados para reduzir conflitos e criar novas expectativas.

2) Esse caso reforça a "Lógica das Cadeiras de Valor Global" (CVG). Muito correlata à lógica dos fundos globais. Trato disso em algumas análises que já realizei em textos anteriores sobre o tema e também como já comentei acima, esses controladores de GPIs não tratam a importância de um negócio específico da corporação nessas decisões, mas sim os ganhos na cadeia todo. Podem perder em alguns, às vezes muito, mas ganham em negócios complementares. Por isso, fica difícil concorrer com as corporações globais que vão se transformando em oligopólios. E costumam ser recebidos com tapetes vermelhos de gestores que muitas vezes trabalham como despachantes de luxo destes negócios, usufruindo dos resultados políticos do discurso genérico e difuso do progresso e do emprego que chegam, mas em quantidades muito menores, em especial para cargos mais qualificados e de confiança da corporação, que vem gerir como encarregado dos investidores (acionistas) os negócios e as operações nas bases locais. O objetivo é produtividade, lucros e amortização de conflitos. A maioria dos gestores públicos abre mão em acompanhar compensações, exigir contrapartidas proporcionais aos volumosos lucros e admitem que seus territórios, sirvam mais para fluxos de passagem do que para alguma perspectiva de desenvolvimento, mesmo que mais predominantemente voltada aos interesses da corporação. O grau em que isso se dá é que define ou não a condição de enclave que gera poucas externalidades para a economia e as comunidades locais.

PS.: Atualização às 08:16 de 27/04/2024
A Bloomberg informa que acionistas da Anglo American querem mais pela venda da mineradora para a BHP Billiton. No jargão do comércio significa que o negócio depende apenas do acerto nos valores. 
Fonte: O Globo 27-04-2024 a partir da informação da Bloomberg.




domingo, abril 07, 2024

Musk quer com seu estado-plataforma X (Twitter) a mesma liberdade que buscou Hitler

As pressões e articulações de Ellon Musk CEO do X (Twiiter) trabalha numa lógica de um Estado-plataforma (Pierre Lévy) acima do Estado brasileiro. Suas falas e ações não são contra o judiciário apenas e sim contra todo o Estado. São articulações globais da extrema-direita com viés da geopolítica. Esse é o interesse de Musk ao defender uma liberdade total para seguir articulando a volta do fascismo.

A Meta (Facebook e Instagram) já tem uma corte suprema que decide as punições por cima dos Estados-nações. Não se trata apenas de regular. A extrema-direta e o oligopólio das corporações digitais e das Big Techs são efetivamente uma ameaça. Esses oligopólios não são exatamente iguais, mas no todo reforçam os riscos. A regulação não dá conta do que se tem pela frente, mas é o mínimo em defesa desse setor estratégico para a soberania nacional.

Com essas ações e manifestações, quem pode acreditar que os algoritmos do X (twitter) e do FB não ampliam ou limitam o alcance dos perfis conforme sua programação algorítmica baseado na ideologia? Isso se chama controle e dominação tecnológica.

Trata-se de uma articulação escancarada da extrema-direita global entre donos de corporações de mídia e lideranças políticas. O TSE teve papel importante no freio de arrumação nas eleições de 2022. É disto que reclamam. É sobre isso que articulam.

Tenho repetido à exaustão. O fenômeno da digitalização como etapa da reestruturação produtiva é global, mas as articulações e também as resistências são e serão sempre dos estados- nacionais. Assim, o TSE garantiu a lisura das eleições de 2022 e as instituições impediram a seguir o golpe militar-bolsonarista de 8 de janeiro.

Vivemos sob o que tenho chamado de um "tripé do capitalismo contemporâneo": digitalização e dominação tecnológica; hegemonia financeira e a racionalidade neoliberal. Não é possível analisar a "digitalização de quase tudo" dissociada da hegemonia financeira e da lógica neoliberal. Eles seguem juntos e imbricados num presente distópico que exigem intervenção civilizatória.

O enfrentamento a esse fenômeno se dá no campo da Economia Política e deve ser contra todo o tripé, mesmo que alternados nas três diferentes bases dessa tríade que refletem os movimentos transfronteiras na geoeconomia e na geopolítica.