terça-feira, fevereiro 15, 2022

Breve síntese para entender a dominação digital e as batalhas eleitorais cibernéticas

O problema não está na tecnologia digital em si, mas no seu monopólio (ou oligopólios) e na propriedade das Big Techs. Elas, extraem nossos dados capturados através de suas plataformas, microprocessados, comprimidos, classificados e selecionados por algoritmos.

Os dados são a primeira e maior fonte de valor. Depois as máquinas processam o algoritmo em modelo estatístico. A seguir os dados aparecem nas suas prateleiras como inteligência (Artificial, IA).

sob a forma de padrões, os dados são vendidos com capacidade de prever o comportamento das pessoas, potencialidades de consumo (até induzido como imaginário) e de manipulação política em disputas de poder de uma falsificada democracia.

Nesta complexa trama, em paralelo, a digitalização das finanças também foi ampliando o poder econômico sobre o político, tanto na interferência das escolhas da sociedade — por maioria fabricada —, quando no aumento vertiginoso do financiamento destes processos, também facilitados pelos fluxos ilimitados e impossíveis de serem regulados, com o dinheiro sem face das criptomoedas.

Muitos destes fluxos de fake news, capital e criptomoedas, transitam não apenas na “internet” conhecida, mas em dark-web (internet opaca), ou deep web (internet profunda), um submundo cujos resultados depois serão vistos por todos nós, nesta ‘internet’ e redes sociais que conhecemos e utilizamos de forma intensa diariamente.

Por esta breve síntese, é possível intuir porque as eleições regionais ou nacionais estão se tornando também "batalhas cibernéticas". São processos complexos e de pouco domínio da maioria que escolhe seus representantes.

Processos controlados na essência pelas Big Techs e seus proprietários que se colocam acima dos Estados-nações. Essa realidade pode ser percebida pelos "apelos" da justiça eleitoral em diversos países, como está fazendo hoje o TSE no Brasil, para que eles “controlem” os conteúdos que possam interferir nas “escolhas democráticas”. Quem, como e com quê interesses, os proprietários destas gigantes-empresas-plataformas farão isso?

O fato mostra a encruzilhada em que as chamadas democracias ocidentais estão envolvidas, onde os “estados-nações” se colocam claramente dependentes e submissos a estes "Estados-plataformas" da vida contemporânea. Mundo afora, esses esquemas cibernéticos têm favorecido — quase unanimemente — o ressurgimento da extrema-direita e do fascismo, em boa parte aliada dos neo e ultraliberais.

É possível que se construa contrapoder neste campo das relações entre o poder e mundo digital, mas desconfio que ainda estamos longe dessa possibilidade.

Enquanto isso, uma forma de tentar fugir destas ameaças, seria a de buscar maiorias mais folgadas nas escolhas de nossos representantes políticos nos diversos níveis junto à sociedade e aos eleitores.

Porém, aí temos outra tarefa difícil, porque mundo afora, se percebe que a imensa maioria das eleições é quase sempre decidida, por pouca margem e em mais de um turno de votação.

Neste caso, restam nos esforçarmos para ampliar o conhecimento sobre estes complexos processos. Talvez, esses conhecimentos, venham servir para a construção paulatina de mecanismos de defesa e deste contrapoder. Sem ilusões, porque quem está ganhando com tudo isso, sempre alegará falta de liberdade e autoritarismo.

quinta-feira, fevereiro 10, 2022

Batalha cibernética de 2022: o encontro do poder das finanças digitais com as eleições digitalizadas

No mundo contemporâneo já deixou de ser novidade falar que o dinheiro se tornou virtual e as finanças digitais. Pouco dinheiro passa pelos bolsos e mãos das pessoas que usam cartões, APPs de bancos, fintechs, Pix, etc. As transformações seguem velozes e quase não se percebe que a concordância e o aceite para a consecução destas mudanças, se ancoram numa espécie de confiança no sistema utilizado.

Sistema já amplamente aceito e utilizado, mesmo que baseado em abstratas informações, dados e algoritmos que movem o capital financeiro. Sistema que é muito pouco conhecido, mas confiável para a maioria, que pouco teme pelos seus riscos e suas instabilidades, na guarda do seu dinheiro, que se tornou agora não apenas virtual, mas digital e acessível através de redes.

Também sabemos que os instrumentos financeiros são cada vez mais digitais e servem mais amplamente ao andar de cima, que paga caro para que essa esta dominação tecnológica-digital se estabeleça e se amplie com seus lucros.

Passemos agora das finanças digitais para os sistemas eleitorais nacionais que administram a escolha dos representantes do povo mundo afora. As eleições como toda a sociedade entra cada vez mais em amplos processos de digitalização.

As eleições nacionais são muito mais sujeitas aos descaminhos da pressão financeira e da propaganda falsa (fake news) do que os pleitos locais, onde o conhecimento das pessoas e fatos é mais fácil de ser checado e questionado pelos eleitores. 

Sobre a digitalização das eleições, não estou me referindo à votação com as urnas eletrônica, já objeto de amplos debates e esclarecimentos, mas ao processo cibernético das campanhas na totalidade.

As fake news e a relação profunda, direta e submersa desta com o mundo as finanças. Embora, hoje se tenha proibição do financiamento eleitoral das empresas, aquilo que ocorre no submerso mundo da internet profunda (deep web) é difícil de ser monitorado no financiamento direto e/ou cruzado.

Trata-se de um processo complexo e cheio de tecnicalidades. Difícil de ser acompanhado ou analisado pela imensa maioria da população – e mesmo de técnicos e especialistas - que desconhece os meandros e os intestinos que une o universo das técnicas financeiras digitais com o financiamento e a comunicação na internet.

Se antes no Brasil, a atenção central da Justiça Eleitoral era com o financiamento irregular das campanhas e com o abuso do poder econômico, agora em 2022, as preocupações estão em grande parte voltadas para a batalha cibernética que se apresenta para as eleições de outubro. A transparência e o controle são dependentes de grandes corporações (Big Techs), cujas sedes estão fora do país e colocam sempre seus ganhos e interesses acima das preocupações dos estados-nações e de suas populações.

Porém, mais importante é observar que os riscos dos desvios e instabilidades não são apenas da comunicação digital entre campanhas e eleitores, como o uso intensivo de fake news nos aplicativos de mensagens, mas também o financiamento para uso de robôs, esquemas de algoritmos e impulsionamentos digitais que, como vimos em 2018, foram sustentados por grupos empresariais — em parte instalados em servidores digitais fora do país — e que desnudaram a ilegal e submersa relação entre as finanças (poder econômico) e as eleições digitalizadas.

Os movimentos da justiça eleitoral (TSE) trazem evidências sobre suas limitações na atuação neste dois campos finanças e campanha/marketing digital que se encontrarão nas eleições de outubro. O resultado disso pode ser o de proteger e garantir o interesse democrático de escolha dos eleitores, ou, o de escancarar a conhecida e antiga relação entre poder econômico e político com uso das finanças e da campanha irregular em eleições cada vez mais digitalizadas.

A sugestão é para que os partidos e lideranças políticas progressistas se organizem para além da Justiça Eleitoral, para garantir o resultado democrático das urnas, quando que se espera que os eleitores no voto, retirem o país do atual desmonte e da ampliação da ameaça fascista, retomando a reconstrução de projeto nacional para o nosso querido Brasil. A ver!

sexta-feira, fevereiro 04, 2022

Cadê o DISJB?

Já que recordei fatos pretéritos relativos à empresa espanhola, Acciona (da cratera na Marginal Tietê) com a sua passagem nas obras no Porto do Açu, aproveito para perguntar sobre o Distrito Industrial de São João da Barra (DISJB).
 
A lembrança também tem a ver com o pedido que a Firjan fez ao governo do estado RJ, para investimentos nos distritos industriais do estado.

Na região NF poucos sabem que o DISJB existe e que foi em boa parte instalado (no papel) com as terras desapropriados de pequenos proprietários rurais. Porém, na prática, as desapropriações (que só podem ser feitas pelo Estado) foram entregues, sem nenhum controle para administração e uso da Prumo (ex-LLX) controladora do Porto do Açu. 

Hoje, essas áreas fazem parte do acervo amplamente divulgado pela Prumo, de disponibilidade, uso e até aluguel de 90 km² que diz ser sua propriedade.

Enquanto isso, centenas destes pequenos proprietários até hoje reclamam na justiça (há mais de 10 anos) pelas suas terras e/ou indenizações justas.

E volto ao tema. Cadê o DISJB? Cadê a parte da área que caberia neste distrito industrial à municipalidade? O DISJB deveria ter conselho gestor. Cadê?

Poucos na região conhecem a gênese deste processo e menos ainda sabem da sua existência do DISJB e de como essas áreas foram para as mãos privadas. 

E pior que isso. Mesmo como o desenvolvimento dos negócios do porto e estradas de acesso viabilizadas pelo Estado, usinas térmicas (GNA), base de apoio portuário offshore, terminal multicargas, exportação de minério de ferro, transbordo de petróleo para exportação, heliporto, etc. nem 4% dos 90 km² foram usados. 

Assim, há uma reserva de área, numa espécie de reforma agrária às avessas entregue ao fundo americano EIG.

Cadê o DISJB? E as indenizações aos pequenos proprietários?


PS.: Abaixo imagens do arquivo de postagens do blog sobre o DISJB e uso da área de 90 Km² no entorno do Porto do Açu.