O problema não está na tecnologia digital em si, mas no seu monopólio (ou oligopólios) e na propriedade das Big Techs. Elas, extraem nossos dados capturados através de suas plataformas, microprocessados, comprimidos, classificados e selecionados por algoritmos.
Os dados são a primeira e maior fonte de valor. Depois as máquinas processam o algoritmo em modelo estatístico. A seguir os dados aparecem nas suas prateleiras como inteligência (Artificial, IA). Já sob a forma de padrões, os dados são vendidos com capacidade de prever o comportamento das pessoas, potencialidades de consumo (até induzido como imaginário) e de manipulação política em disputas de poder de uma falsificada democracia.A seguir aparecem nas suas prateleiras como inteligência (Artificial, IA). Os dados sob a forma de padrões são vendidos com capacidade de prever o comportamento das pessoas, potencialidades de consumo (até induzido como imaginário) e de manipulação política em disputas de poder de uma falsificada democracia.
Nesta complexa trama, em paralelo, a digitalização das
finanças também foi ampliando o poder econômico sobre o político, tanto na
interferência das escolhas da sociedade — por maioria fabricada —,
quando no aumento vertiginoso do financiamento destes processos, também
facilitados pelos fluxos ilimitados e impossíveis de serem regulados, com o
dinheiro sem face das criptomoedas.
Muitos destes fluxos de fake news, capital e criptomoedas,
transitam não apenas na “internet” conhecida, mas em dark-web (internet opaca), ou
deep web (internet profunda), um submundo cujos resultados depois serão vistos
por todos nós, nesta ‘internet’ e redes sociais que conhecemos e utilizamos de
forma intensa diariamente.
Por esta breve síntese, é possível intuir porque as eleições
regionais ou nacionais estão se tornando também batalhas cibernéticas. São
processos complexos e de pouco domínio da maioria que escolhe seus representantes.
Processos controlados na essência pelas Big Techs e
seus proprietários que se colocam acima dos Estados-nações. Essa realidade pode
ser percebida pelos "apelos" da justiça eleitoral em diversos países,
como está fazendo hoje o TSE no Brasil, para que eles “controlem” os conteúdos
que possam interferir nas “escolhas democráticas”. Quem, como e com quê
interesses, os proprietários destas gigantes-empresas-plataformas farão isso?
O fato mostra a encruzilhada em que as chamadas democracias
ocidentais estão envolvidas, onde os “estados-nações” se colocam claramente dependentes
e submissos a estes "Estados-plataformas" da vida contemporânea. Mundo
afora, esses esquemas cibernéticos têm favorecido — quase unanimemente — o
ressurgimento da extrema-direita e do fascismo, em boa parte aliada dos neo e
ultraliberais.
É possível que se construa contrapoder neste campo das relações
entre poder e mundo digital, mas desconfio que ainda estamos longe dessa
possibilidade.
Enquanto isso, uma forma de tentar fugir destas ameaças,
seria a de buscar maiorias mais folgadas nas escolhas de nossos representantes
políticos nos diversos níveis junto à sociedade e aos eleitores.
Porém, aí temos outra tarefa difícil, porque mundo
afora, se percebe que a imensa maioria das eleições é quase sempre decidida,
por pouca margem e em mais de um turno de votação.
Neste caso, restam nos esforçarmos para ampliar o
conhecimento sobre estes complexos processos. Talvez, esses conhecimentos,
venham servir para a construção paulatina de mecanismos de defesa e deste
contrapoder. Sem ilusões, porque quem está ganhando com tudo isso, sempre alegará
falta de liberdade e autoritarismo.