segunda-feira, abril 22, 2013

Porto do Açu, EBX, possibilidades e preocupações (FCC)

As informações que rondam os negócios da EBX e do Complexo do Açu são tantas que é difícil o cidadão comum compreender como as coisas andam e como elas podem ficar no futuro.

De todas as empresas do grupo EBX é sabido que a de maior valor e a que enfrenta mais problemas é a do setor de petróleo e gás, a OGX. Nesta área, o grupo, orientado pelo banco BTG Pactual está buscando novos sócios e parceiros que possam dividir riscos e/ou lucros.

Assim, está sendo processada as negociações com a Petronas da Malásia e agora, a russa LukOil, além de acordos com a própria Petrobras.

Os acordos nesta área de petróleo podem ser em ativos de campos, já descobertos e em produção, os apenas perfurados, e ainda, sociedade neste próximo leilão da ANP, o 11º Leilão, para participação com ofertas para direito de exploração em uma das diversas áreas. A OGX está inscrita no edital junto com outras possíveis sócias. Muitos das outras empresas do grupo EBX dependem do sucesso nesta área do petróleo, especialmente, o estaleiro da OSX.

Sobre o porto, o terminal TX-2, o onshore (no continente) onde está o estaleiro e as áreas alugadas para as empresas de apoio às atividades de exploração offshore, os diques estão sendo construídos pela empresa Acciona que continua enfrentando problemas com a mão de obra. Nova greve para o dia 30 não pode ser descartada.

Quanto ao estaleiro da OSX ele teve seu ritmo de implantação sensivelmente reduzido. Muito provavelmente, a OSX deverá demitir outros trabalhadores diretos e/ou terceirizados. Segundo informações obtidas pelo blog, na última sexta-feira, a empresa paulista ICEC que é especialista em montagens industriais e atua na construção de galpões no estaleiro teria demitido cerca de 100 trabalhadores.

O terminal TX-1 estava nos últimos meses com as obras em ritmo muito lento. A Anglo American que opera o Sistema Minas-Rio, de extração, transporte nos minerodutos e exportação pelo porto de minério de ferro reclamou recentemente da prioridade nas obras para o TX-2 ligado à área de petróleo.

Ainda no TX-1, os diques e quebra-mares estavam quase parados, tanto, que a informação veiculada aqui pelo blog, sobre a suspensão/redução do carregamento de pedras, suscitou a descoberta da informação sobre a construção de outra empresa espanhola para este trabalho, a FCC (veja aqui).

Pois bem, o blog ouviu outras fontes e descobriu que todo este trabalho já está em andamento e mostra que o prazo de 2014, certamente deverá ser novamente estendido. Nos próximos dias, a FCC deverá rebocar da Europa para o Brasil 10 blocos que comporão um dos diversos diques do TX-1. Veja no vídeo abaixo da FCC mais detalhes sobre o que ainda precisa ser feito nos diques do Porto do Açu:



Diante de todos estes problemas, a EBX, o empresário Eike Batista e o Banco BTG Pactual, mesmo sem definições sobre a forma de participação da Petrobras no Complexo do Açu, não abrem mão e não colocam os terminais do porto em negociações com outros grupos financeiros.

Os terminais TX-1 e TX-2, mesmo com os altíssimos custos de sua implantação e os seguidos atrasos nos cronogramas, são estratégicos para vários tipos de negócios, mesmo, que muitos empreendimentos tenham desistido ou adiado a sua instalação no Complexo do Açu. 

Em função da relação cada vez mais global da economia brasileira, seja com o Mercosul, com os EUA, Europa, Ásia e África (especialmente entre países do Brics), a demanda por portos, nas duas próximas décadas é enorme e crescente. Há explicações outras para as parcerias com a China e Rússia, mas este é um outro assunto, embora, correlato, a ser tratado em outra análise.

Avaliando a condição estratégica de sua localização, não há como não recordar, das modais de transportes com as duas ferrovias que ligarão o Complexo do Açu, ao Espírito Santo ao norte, a Macaé, Itaboraí, Rio de Janeiro, Itaguaí e São Paulo ao Sul, com trecho de aproximadamente 1.000 quilômetros. O projeto faz parte do Plano Nacional de Ferrovias, orçado em cerca de R$ 4 bilhões e traz enorme viabilidade econômico-financeira, interligando os principais portos do estado,  ligando Macaé, o complexo petroquímico do Comperj em Itaboraí, ao Rio de Janeiro, Porto de Itaguaí e aos ramais de São Paulo com o uso de variados tipos de cargas que permite desafogo de cargas entre os portos.

O outro ramal de ferrovia, em direção ao Centro-Oeste do país possibilita atrair clientes para o escoamento de grãos do Centro-Oeste, que hoje usam os portos congestionados de Santos (SP) e Paranaguá (PR), além de cargas de minério de ferro, açúcar, etc. (veja mais detalhes em postagem aqui do blog em 20 de agosto de 2012).

Por tudo isto que está exposto acima é possível perceber que há muitas variáveis em jogo. Há enormes problemas de gestão, financeiros, ambientais e sociais sobre o território que está sendo usado com péssima relação com a comunidade. 

Infelizmente, a regulação dos poderes constituídos, nos três níveis, e mais especialmente, dos que estão mais próximos da realidade é sofrível e aumentam os riscos e reduzem possibilidades do empreendimento.

O blog tem exposto neste espaço sistematicamente, desde 2005, todo este processo. Continuaremos acompanhando a implantação do empreendimento, as novas territorialidades geradas por ela, assim, como as repercussões para a região e para o estado do Rio de Janeiro.

9 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Roberto.

O achei perfeito em vossa exposição.

Roberto Moraes disse...

Obrigado.

Unknown disse...

Excelente análise. Imparcial e muito coerente... ao contrário de outros blogueiros, vc realmente é um dos poucos que se salvam quando o assunto é o projeto Superporto do Açu... demonstra profundo conhecimento e as críticas são muito pertinentes... continue com este belo trabalho.

Anônimo disse...

Concordo com Unknown exceto pelo adjetivo "imparcial".
Isto não existe.

Roberto Moraes disse...

Agradeço pelos comentários, embora, assim, como disse o último comentário, o blog não acredita no mito da imparcialidade e nem tem este como um dos objetivos do blog.

Este espaço apenas tenta, de forma ainda mais especial neste tema, juntar o maior número de dados e informações, para fazer a análise, que não é nem pretende neutra, mas, que seja mais aprofundada buscando juntar elementos não apenas da economia e da política local, regional e estadual, mas, observar cenários e estratégias nacionais e geopolíticas continentais, em profunda mutação.

Como se trata de assuntos complexos e de domínio superficial do blogueiro, a repartição da análise vita também uma interlocução que traga mais dados empíricos para análise, como também conceitos de conhecimentos, estudos e pesquisas já desenvolvidos por autores e referências, onde, acaba, mais uma vez fazendo escolhas que não são neutras.

Talvez, o sentimento de imparcialidade percebida (sem que seja objetivo e nem intenção do blog) esteja mais relacionado às poucas exceções de exposição de mais dados e análises um pouco mais aprofundada no tema.

É espantoso como o assunto é vasto com dezenas de informações diárias que não podem e não devem ser superpostas, até porque muitas são contraditórias entre si. Também não é correta trabalhar com as últimas informações para tirar conclusões apressadas.

Na verdade há um mosaico de informações que o blogueiro tem tentado construir elencando, juntando, relacionando ou descartando notícias/fatos para uma análise (compreensão) da realidade ao longo de um determinado tempo.

Neste sentido, há que se destacar a imensa rede de colaboradores entre pessoas das redes sociais (Facebook e blogs), estudiosos e pesquisadores, pessoas das comunidades afetadas, gestores públicos, militantes sociais e ambientalistas, jornalistas e funcionários e consultores ligados aos empreendimentos, que foi se formando ao longo deste tempo que, de uma forma ou outra é parte da constituição tanto do acervo de informações e dados, quanto das análises que periodicamente postamos aqui neste espaço.

O próximo objetivo do blog além de aprofundar e dar seguimento a este objetivo, talvez propondo a constituição e formalização de um Fórum (digital/virtual e real/físico) é avançar nos estudos comparativos com a implantação do Complexo Logístico-industrial de Suape-PE, um empreendimento público, da década de 70, que efetivamente foi desenvolvido a partir da década de 2000, onde projetos similares estão implantados ou em implantação e que possui impactos de uso do território e consequências sociais e ambientais semelhantes.

O blog já tratou deste assunto aqui algumas vezes:

1) Em janeiro de 2011:
http://www.robertomoraes.com.br/2011/01/porto-do-suape-x-porto-do-acu.html

Com repercussão de estudiosos de Pernambuco que o blog Pernambuco Desenvolvimento:
http://pedesenvolvimento.com/2011/01/05/porto-do-suape-x-porto-do-acu/

2) Março de 2011:
http://www.robertomoraes.com.br/2011/03/porto-suape-suas-potencialidades-e.html

3) março de 2012:
http://www.robertomoraes.com.br/2012/03/hyundai-no-acu-e-samsung-em-suape.html

4) Setembro de 2012:
http://www.robertomoraes.com.br/2012/09/porto-de-suape-em-pernambuco.html

Esta é uma tarefa árdua, mas, que poderá ensejar a participação de colaboradores desde já.

Agora em maio o blogueiro estará apresentando um artigo científico com parte desta análise num Encontro Nacional de Pós Graduação em Planejamento Urbano e Regional em Recife e nesta ocasião pretende visitar o Porto de Suape, ampliar as articulações de pesquisas e estudos nesta linha.

Sigamos em frente.

Anônimo disse...

Parabéns professor. Sucesso na sua pesquisa. Siga em frente por que o senhor tem muito mais admiradores que desafetos, embora estes últimos nos fortaleçam até mais...

Roberto Moraes disse...

Ainda bem que os desafetos existem porque eles balizam e dão clareza sobre o caminho escolhido para seguir em frente, enfrentando os bons combates que exigem lutas e enfrentamentos.

Sigamos em frente!

Anônimo disse...

Hoje se confirmou mais uma vez o que já vem sendo dito: OSX acaba de demitir mais de 100 colaboradores e com previsão para o restante de férias coletivas por 3 meses. E ainda dizem que está tudo bem....Como está tudo bem?

Odilon de Lima Jr. disse...

Senhor Roberto: não o conheço mas sei muito sobre a região do norte fluminense onde você nasceu, que ultimamente vem seno muito falada por causa do porto do Açu. Que esse projeto seja um sucesso é muito importante que além do sr. EIKE outras autoridades politicas ou não se manifestem mais decididamente pelo apoio a sua conclusão,pois tenho certeza que o retroporto de Açu será em poucos anos uma referencia nacional, por que, para mim, essa região tem tudo para se expandir em todos os setores quando o porto tiver em pleno movimento. Eu me pergunto: será que existe no sudeste do Brasil região mais apropriada que essa para tal tipo de empreendimento?