quinta-feira, abril 25, 2013

Universidade S.A.: negócios a R$ 8 mil por aluno

A negociação que redundou na megafusão entre a Universidade Anhanguera e o Grupo Kroton que gerou uma empresa com o valor de R$ 12,6 bilhões que parte de um processo de incorporação que gerou cerca de 200 transações apenas na última década no Brasil.

Usando o jargão do mercado estes "ativos" educacionais estão caros com negócios fechados na casa dos R$ 8 mil por aluno. Assim, uma instituição com 20 mil alunos valeria cerca de R$ 160 milhões.

As universidades S.A. tiveram valorização de suas ações muito acima da média de outras ações comercializadas no Ibovespa: a Kroton com 151% e a Estácio com 134% ficaram nas primeiras colocações entre as 126 empresas de capital aberto com financeiro diário acima de R$ 5 milhões.

O que se diz no mercado é que esta valorização está ligado ao aumento da demanda de alunos, do Financiamento Estudantil (FIES) do MEC com juros de 3,4% ao ano e do interesse de outros grupos internacionais que estão de olho no Brasil, no crescimento da classe média e da forte expansão do ensino.

Diz-se no mercado que a Estácio S.A. deverá até o final do semestre se associar a outro "player" (outra expressão do mercado) para ampliar sua abrangência e poder lucrar com a massificação, segundo matéria da jornalista Beth Koike do Valor.

Hoje, segundo o MEC são 6,9 milhões de matrículas no ensino superior no Brasil, sendo 1,9 milhão nas universidades e institutos públicos e 5 milhões no ensino particular.

Vendo a dimensão das negociações, da valorização e dos investimentos, mesmo no campo da busca do lucro, não há com não comparar com o sacrifício em montar uma indústria ou construir uma grande infraestrutura cujas amortizações e lucros propiciados pelo investimentos são muitas vezes mais lentos do que estes na área dos serviços de educação.

Abaixo os dados da empresa que surge da fusão da Anhanguera e Kroton:

Infográfico do Valor de 23 de abril de 2013, página B3
Interessante e estranho observar um serviço que pela sua natureza é originalmente pública como dever do estado e direito do cidadão, ser tratado assim de maneira, tão fortemente empresarial.

O debate natural, para alguns anacrônicos, entre o ensino público e o privado nas universidades permite a discussão sobre a qualidade do ensino no nível superior, em instituições que não se retroalimentam das outras duas vertentes, além do Ensino, no conhecido tripé da universidade: Ensino-Pesquisa e Extensão.

Interessante, como já disse aqui em nota (há dois anos, em março de 2011) é o fato de que o perfil dos alunos desta universidades, é, em sua maioria, o trabalhador. 

É perceptível também, que a imensa maioria dos alunos estuda no turno da noite, porque durante o dia estão no trabalho. É ainda importante observar o financiamento público através destas instituições privadas e focadas no lucro.

Sob o ponto de vista do trabalhador da educação destas empresas (professores e técnicos) já há estudos e evidências de uma profunda precarização do trabalho, de desgastes e doenças mentais pelo aumento das pressões nas relações de trabalho. Também se identifica a perda da noção do valor do trabalho, a fragmentação das atividades, que na grande maioria dos casos, não trabalha com a pesquisa e desconhece a extensão, que historicamente são consideradas como atividades indissociáveis para o desenvolvimento de um ensino de qualidade.

O assunto merece muito mais que uma nota, pesquisas, hipóteses, dissertações, teses e um grande e necessário debate, diante desta realidade e dos desafios da universidade pública e da Educação que a nossa população merece.

5 comentários:

Anônimo disse...

SE fosse ensino, tudo bem, seria uma boa notícia.

Anônimo disse...

Acho que vai surgir a IDX - Indústria de Diplomas "X" no mercado financeiro.

Luís Adriano disse...

CONSOLIDAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR

CRESCER OU ESCOLHER UM LADO ?

Luis Adriano Silva

Os cadernos econômicos dos jornais e dos sites de notícias, anunciaram recentemente, a união dos dois maiores grupos de Educação do Pais: A Kroton e a Anhanguera .

A fusão cria o maior conglomerado do mundo da educação , com um faturamento esperado em R$ 4,3 bilhões . A efetivação, depende agora tão somente da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica-Cade, o que deve acontecer pois a sobreposição de cursos se dá em apenas 4 municípios.Aguardemos.

A notícia pode passar ao largo da atenção da maioria dos brasileiros, mas, é importante demais para ser ignorada, afinal, trata-se de um assunto que não pode ser encarado como reles. Educação é e sempre será a melhor maneira de elevar o nível de vida do cidadão e consequentemente, de uma nação. E a qualidade não pode ser deixada de lado.

A pergunta que fica é como tratarão a qualidade de seus cursos. O Ensino superior, diferente de outras áreas, sofre interferência direta na avaliação de um ministério, o MEC. Conseguirão manter em suas unidades o mínimo de 3 para poderem ter acesso aos FIES em seus cursos? Sim, pois o FIES hoje é o grande indutor do crescimento do ensino superior privado.

Como reagirão as IES de médio e pequeno porte frente à esta enorme fusão?

Serão incorporadas pelos grandes grupos? Penso que seja uma possibilidade. Mas Faculdades que apostaram em atuar em uma região específica, ou em algum nicho do mercado, terão o privilégio de seguir seu caminho, crescendo com sustentabilidade.

Diria Darwin que a adaptação é o caminho da evolução. Como conhecedor profundo da realidade de uma IES fundada há 10 anos , com solidez e seriedade, penso que a saída pos estar numa espécie de consórcio educacional de instituições de ensino superior. Cada uma continuará com seu regimento interno, sua soberania e liberdade administrativa própria, porém, em assuntos comuns como compras de materiais e a defesa dos interesses legítimos das entidades, a união, poderá ser a grande oportunidade de um desenvolvimento sem temores diante dos “gigantes” que surgem no horizonte.

Afinal, é com uma boa educação que tornamo-nos aptos a vencer obstáculos. Sejamos gigantes também.

Luís Adriano Silva
Diretor de Operações e Finanças da Faculdade Redentor

Anônimo disse...

oi seja...FHC privatizou e Lula ensinou as particulares a ter lucro...e a petrobras a ter prejuízo...

Alexandre Buchaul disse...

Se o MEC fizer as exigências e fiscalizar tenho certeza absoluta de que as IES privadas serão capazes de se adaptar mais rápido que qualquer ente público.