quinta-feira, março 28, 2019

A geopolítica do petróleo segue se movimentando de forma centralizada, enquanto o Brasil entrega suas joias da coroa: o pré-sal e a Petrobras

As placas tectônicas da geopolítica do petróleo estão se movendo. A Bloomberg divulgou na terça-feira uma matéria repercutida ontem  pelo Valor (veja aqui) [1], mostrando que o enorme crescimento das exportações de petróleo pelos EUA, pode alterar a geopolítica do setor.

A reportagem traz dados reais do aumento da produção de petróleo por parte dos EUA, mas também permite outras interpretações. Uma delas é a de que a Bloomberg pode estar tentando ajudar Trump a ampliar os feitos da indústria de petróleo americana com o Texas entupindo o mundo de petróleo. 

Esse jogo de empurrar mais rapidamente petróleo para todo o mundo tende a reduzir os preços do barril no mercado internacional e assim aumentar os problemas das nações que dependem mais fortemente do petróleo. Seja como importadores para suprir déficits entre produção e consumo e, especialmente, por parte dos exportadores, como a Rússia e Arábia Saudita que passaram a se aproximar via a Opep, sob preocupação dos EUA. 

O discurso do secretário de energia de Trump, que também está na matéria da Bloomberg, visa o público americano, mas o interesse maior é do presidente que hoje está mais de olho, em conseguir sua reeleição, em novembro próximo.

Há algum tempo eu passei a chamar a atenção para esse processo de pressão sobre os preços do barril de petróleo, por um movimento que vai além da oferta e da procura.

Dei a esse processo de "ciclo petro-econômico". Ele não é um fenômeno natural. Ele é produzido. Os EUA com o aumento da produção de xisto mexe no tabuleiro da geopolítica, mas ainda será deficitário considerando seu consumo, mesmo que tenha hoje, o menor déficit em 20 anos, considerando o seu enorme parque de refino que importa óleo cru e exporta derivados (gasolina e diesel).

Além disso, há ainda que se considerar que quanto mais rápido os EUA extrair o que descobre - impactando ainda mais o ambiente com a tecnologia do "fracking" -, mais rápido demandará as reservas estrangeiras. Esse "time" não é simples se avaliado na dimensão geopolítica entre golpes e fragilização das economias nacionais promovidas direta ou indiretamente pelos EUA.

Com tudo isso, os EUA não conseguirão produzir tudo aquilo que consomem. Isso mais adiante poderá produzir novos golpes ou colocar a hegemonia em risco. Hoje os EUA tem uma vantagem em seu circuito do petróleo, que é o enorme parque de refino, por onde exporta entre 3 e 4 milhões de barris de derivados, que agora estão sendo acrescidos de mais 3 mi de bpd de exportação de óleo cru.

Enquanto isso, outro grande produtor, a Rússia, outro player do setor, continua fazendo novas descobertas e controlando a produção na medida em que há ofertas de mais no mercado e ainda sofreu recente bloqueio comandado pelos EUA, com o apoio dos países europeus. A partir daí a Rússia ampliou sua atuação nas crises do Oriente Médio e também aumentou suas relações com produtores como Opep e Venezuela. 

A China como grande consumidora e maior importadora de petróleo do mundo, aproveitou a fase de preços menores, desde 2015, para controlar sua produção nacional, faz mais exploração para descobertas (também offshore no mar do sul da China) e assim vai acumulando reservas de petróleo (e especialmente gás natural). Enquanto isso tem importado mais e também ampliado os já enormes parques de estocagens, além dos investimentos em novas e grandes refinarias e petroquímicas.

Nesse mesmo tempo em que os EUA exportam mais petróleo e derivados, hoje, também se confirmou que as exportações de petróleo dos EUA para China caíram 91%, nos últimos meses, depois da guerra comercial definida por Trump.

Ao relembrar que a China é hoje o maior importador de petróleo do mundo e o segundo maior consumidor, só atrás dos EUA, se percebe que há aí uma questão fundamental, ainda s ser melhor observada e compreendida, dentro da geopolítica, em que essas duas nações hoje disputam espaço e hegemonia.

Ainda sobre o setor petróleo e gás, na América do Sul, nessa última semana, também se tomou conhecimento que a Bolívia anunciou novas descobertas de gás natural, do que pode vir a ser uma espécie de um “pré-sal do gás”. 
 
São movimentos no tabuleiro da geopolítica da energia, onde se tem um jogo mais claro. Não há como entender todas questões daí decorrentes, apenas no campo da economia, sem entender as implicações políticas e de poder de umas nações sobre outras. 

Ao contrário do que dizem, a previsão da Agência Internacional de Energia (AIE), com sede nos EUA, é que o consumo de petróleo no mundo continuará crescente pelo menos até 2050, a despeito da ampliação do uso de outras energias primárias com o que chamei em artigo recente [2] de reeletrificação. Desdenhar a importância do petróleo para esse período é um equívoco enorme, onde comumente se tem misturado desejo com realidade.

World Energy Outlook, 2016, p. 115/669. 
A Agência Internacional de Energia (AIE) em seu WEO-2016 previu um consumo de petróleo a nível global de 107,7 milhões de barris em 2040. (Ver quadro ao lado).

Assim, a AIE confirma que o consumo de petróleo crescerá, mesmo com o incremento dos renováveis e da eletrificação dos transportes, porque o petróleo será também cada vez mais utilizado no setor de petroquímica, para a produção de plásticos e fertilizantes.

E o Brasil que hoje tem o Pré-sal nisso tudo? O nosso país segue entregando os campos de petróleo do pré-sal, bacias de Santos e Campos e vendendo a preço vil, as subsidiárias da Petrobras, os gasodutos, as refinarias, o setor de petroquímico, BR Distribuidora, e abrindo o setor de gás a oligopólios e fundos financeiros estrangeiros.

Não é difícil interpretar que a atual explosão de produção de petróleo pelos EUA, só acontece hoje, porque os americanos identificaram que já possuem segurança energética, para além de 2025-2030 com o controle sobre outras reservas do mundo, onde há bilhões de barris de pet´roleo em novas fronteiras de exploração descobertas.

Assim, é bom relembrar que o Pré-Sal do Brasil é a maior fronteira descoberta no mundo na última década e possui seis dos dez maiores campos descobertos em todo o planeta. Dessa forma, as colossais reservas do Brasil estarão disponíveis a partir de 2025-2030 quando os EUA mais precisarão.

Não é por outro motivo, que os EUA resolveu abrir agora as torneiras dos seus poços de petróleo, ainda que a sua atual produção, só chegue a um percentual entre 60% e 70% do seu consumo diário de derivados de petróleo.

Os EUA é um país movimento a petróleo com o consumo de quase 20 milhões de barris por dia, mais de 50% do segundo maior consumo de petróleo do mundo que hoje é da China. Enquanto isso,  Bolsonaro bate continência e se oferece a Trump, sem ele mesmo pedir, em ato explícito de colonizado.


Referências:
[1] Matéria da Bloomberg - Houston, traduzida e republicada pelo Valor. 26 mar. 2018. P.A9. BLAS, Javier. Exportações de petróleo dos EUA já influenciam o xadrez geopolítico. Disponível em: https://www.valor.com.br/internacional/6183493/exportacoes-de-petroleo-dos-eua-ja-influenciam-o-xadrez-geopolitico

[2] Texto publicado no blog em 17 mar. 2019. A “era pós-petróleo”, a “reeletrificação”, os ciclos históricos e o potencial do Brasil no sistema-mundo. Disponível em: https://www.robertomoraes.com.br/2019/03/a-era-pos-petroleo-reeletrificacao-os.html

terça-feira, março 26, 2019

Torcedores e banqueiros comemorarão juntos mais depósitos em conta: O que os patrocínios de gestoras financeiras ao Palmeiras e ao Flamengo significa?

Parece um fato natural, a presença crescente do “business” do futebol atual.

Começaram com as empresas que vendiam produtos e tinham interesse em vista como simpática pelos milhões de torcedores de futebol.

Aos poucos o que ocorre no mundo extra-futebol chegou aos clubes.

As empresas financeiras entraram no túnel e chegaram aos gramados.

Assim, nos últimos anos, Caixa Econômica Federal chegou a financiar todos os clubes brasileiros da Série A.

Porém, o estalo sobre o jogo que estava se anunciando ficou mais claro agora em 2019.

O anúncio de que o banco BS2, antigo Banco Bonsucesso, seria o novo financiador (antigamente chamava patrocinador) do Flamengo acendeu uma luz para se tentar entender esse jogo.

O futebol tem centenas de colunistas que veem e comentam os jogos para a gente.

Mas, essa disputa parece necessitar de um outro tipo de análise para se investigar e entender esses “bastidores” dos clubes, como gostavam de falar os repórteres que cobriam os clubes antes das centenas de entrevistas coletivas de hoje.

Assim, o blog também está entrando no gramado para expor o que está vendo nesses dois clubes que esbanjam dezenas e centenas de milhões em contratações a cada ano.

Será que o Flamengo também vai jogar nos fundos?

Será que precisava mesmo do Bonsucesso?

Não sabemos, mas o banco BS2 (ex-Bonsucesso) resolveu bancar o Flamengo. Através da gestora B2Asset o Flamengo vai agora atuar também nos fundos, os financeiros.

O BS2 se propõe a ser um hub de capitais. Assim, junto do Flamengo quer distribuir o jogo pelos fundos.

Pode ser acaso, coincidência, numa época de tantas coincidências também entre a política e as milícias no Rio, mais especialmente, no Recreio (por favor sem metáfora e dupla interpretação).

Assim, se começa a perceber que aqueles dois clubes que mais têm investido (sim já se falava em investimentos), comprando e "branqueando" jogadores milionários (sim de milhões reais, dólares ou euros) estão hoje vinculados mais às gestoras de fundos financeiros do que com os clubes.

O Palmeiras com a Crefisa e agora Flamengo com o BS2 Asset. 

Mais fortemente, desde 2015 a Crefisa vem bancando o Palmeiras e nos dois últimos anos com aportes de mais de R$ 100 milhões anualmente.

Agora, o BS2 colou nos “novos cartolas” do rubro-negro da Gávea com oferta R$ 30 milhões por ano ao clube do Rio, que não paga nem Vitinho, mas é muita grana.

A Crefisa tem mais de 1 milhão de clientes e 1000 pontos de atendimento no país no jogo de crédito pessoal e empréstimos a “afogados”.

Assim, parece que o BS2 quer disputar esse meio campo e jogar a disputa para o campo digital.

O BS2 tinha em 2018, ativos de R$ 5,8 bilhões, tendo captado R$ 2,4 bilhões nesse último ano, quando teve lucro líquido de R$ 35 milhões em 2018, quase o acordado para em investir agora em 2019 no Flamengo. 
Composição Acionária do banco BS2.
Parece até aqueles esquemas táticos dos treinadores.
No ataque Asset, Câmbio e Empresarial, etc.
Só que é um campo redondo porque toda a bola,
(ou dinheiro) volta para o mesmo dono. 

Ao lado a composição acionária do banco BS2 que agora vai para o banco Flamengo. 

O BS2 quer a grande torcida no seu campo financeiro. Assim, se os torcedores abrirem mais contas na plataforma digital, o valor a ser pago pelo banco no "patrocínio" poderá ser ampliado, conforme a quantidade de contas e o volume de captação de recursos.

Pronto tá feito um enrosco ainda maior do futebol, meio campo, fundos, business tudo jogando lá no fundo, o financeiro.

Pode ser que minhas pesquisas andem me fazendo misturar as bolas vendo interesses onde antes havia futebol.

Os fundos financeiros vão assim chegando a todas as frações do capital, como minha intuição de pesquisador mostrava, e assim cada vez me afastando mais da torcida pelo futebol que hoje passa a exigir a abertura de conta no Bonsucesso (BS2).

Assim, é oportuno ainda no campo da finanças, que se investigue de onde vem esse doping (que poderia também ser dumping] no futebol atual do Flamengo. De onde vem o banco BS2 (ex-Bonsucesso) antes dele colar no meio campo do Flamengo.

O BS2 tem como controlador a família mineira Petagna Guimarães. Outro ramo da mesma família é dona do BMG. Sendo que um deles já foi presidente do Atlético Mineiro, quando o BMG o patrocinava, já mostrando um elo antigo, em outro estado da região mais rica do Brasil, entre o mundo das finanças e o da bola.

Pouco percebiam esse bastidores entre os cartolas, mesmo que eles já estivessem no túnel das equipes, de olho grande para a quantidade de torcedores nas arquibancadas dos times com os quais trocariam passes e patrocinios.

Voltando, para a história do BS2, os dois ramos da a família Petagna Guimarães (BS2 e BMG) tiveram origem na descendência do coronel Benjamin. Foi ele quem criou o antigo Banco de Minas Gerais, lá no longínquo ano de 1930, década em que o Flamengo no Rio de Janeiro, só conseguiu um título, lá no final, em 1939.

O dinheiro do coronel Benjamin que virou capital e permitiu a criação do Banco de Minas Gerais, como sempre teve como meio de campo a produção material.

O coronel Benjamim em 1906 tinha criado em Minas Gerais, a tecelagem Ferreira Guimarães, que chegou a ser uma das mais conhecidas fabricantes de tecidos em todo País, em função da qualidade de seus produtos, numa época que não havia campeonato nacional de futebol e as camisas dos clubes ainda não tinham valor que possuem hoje.

Com a tecelagem, o coronel Benjamin ganhou muito dinheiro, em especial, nos períodos das duas guerras mundiais. E foi assim, que juntou dinheiro e partiu para o ataque recebendo bolas (e captando depósitos) e distribuindo o jogo lá na frente com os empréstimos que engordaram seus fundos financeiros.

Assim, se observa que a história do dinheiro e a da bola correm sempre pela gramado e entre as várias frações do capital. E ajuda a nos explicar com as atuais camisas dos clubes de futebol vivem também sob a égide de um capitalismo que já foi comercial, industrial e agora é mais fortemente financeiro.

Conta de banco no celular, bola pra frente e barulho nas arquibancadas. O apelo agora é que o povão torcedor, que antes assistia o futebol de seu time na geral do estádio, abra uma conta do banco no banco virtual, através do celular, e se quiser ainda assistir ao jogo, que procure um bar da esquina para ter acesso ao pay-per-view na TV.

O ingresso diferenciado em preço para o sócio torcedor (o que já afasta quem é do interior), agora exigirá mesmo de longe que também coloque o seu dinheirinho na conta do banco. Futebol na arquibancada é agora, mas que antes, só para quem tem dinheiro no banco.

Sim, o BS2 quer entrar nesse varejo de crédito pessoal e disputar com a Crefisa. Assim, o que antes era um Flamengo x Palmeiras, agora será BS2 x Crefisa.

Façam suas apostas, na disputa que será agora noutro tapete verde.

Torcedores e banqueiros comemorarão juntos mais depósitos em conta, mais rendimentos bilionários com empréstimos a juros estratosféricos, porém esses darão lucros, apenas para um lado do campo.

Não há problemas com o fato dos torcedores e banqueiros comemorem juntos os gols e os resultados dos seus times de futebol era assim antes. E era bom, porque isso de ocorria com eles juntos e misturados nos estádios e não com cada um apartado nos seus guetos como é hoje. O pobre nas periferias e os ricos trancados em seus condomínios fortemente protegidos.

As mentes e os corações juntam na torcida aquilo que a divisão de classes colocava em campos opostos.

Os banqueiros em menor quantidade terão mais torcida e muito mais dinheiro.

Oh, transformação cruel, o antigo futebol bretão assim cada terão clientes bancários-torcedores longe dos estádios torcendo e perto daqueles para que levam o seu suado dinheiro.

Éramos feliz e não sabíamos.

“Mais valia” ver o Garrincha brincar de bola a ver o futebol pay-per-view dos banqueiros.


PS.1: Poderia ter na postagem as camisas e os patrocínios dos clubes citados, mas essa mídia "gratuita" custaria caro se fosse jabá e não pagaria nem a cerveja no bar da esquina. Melhor não!

PS.2: E o pior no meio de tanta dinheirama não sobra nada para o meu Goytacaz (que tem a cor da composição acionária do banco BS2) tentar novamente sair da segundona, enquanto vive afogado em dívidas, parte delas também a bancos. Oh, crueldade!

Sobre as bases portuárias para apoio à exploração de petróleo offshore no Sudeste

Um leitor do blog solicitou nos comentários de uma nota minha opinião sobre as bases de apoio portuário que servem às atividades de exploração offshore de petróleo, de forma especial,  relacionadas à concorrência que a seu ver existiria, entre o projeto do TerPor da empresa EBTE em Macaé e o Porto do Açu para os próximos anos.

Por conta do possível interesse de outras pessoas no tema eu resolvi transcrever abaixo a minha longa resposta. Para começar, eu informei que a minha avaliação era mais no plano macro e envolvia o que passei a chamar do Circuito Espacial do Petróleo e dos Royalties no ERJ (CEPR-RJ).

Há um processo em curso para ampliação das bases operacionais que dão apoio logístico às operações offshore de exploração e produção de petróleo no litoral sudeste.

As limitações das bases de Imbetiba (Petrobras) e do Rio (terminais da Triunfo no Caju) para a Petrobras e Niterói (NitShore) com vários terminais  que atendem a petroleiras e privadas e para-petroleiras que fornecem equipamentos e serviços a essas atividades, ampliam o potencial do Porto do Açu.

Logística integrada para exploração offshore. Tese do Autor [3],
Figura, nº 34. P.344 em que cita apresentação da Brasco Offshore, ago. 2014.
Vale lembrar que isso varia um pouco conforme a localização das sondas mais plataformas e o município base dessas empresas. É entre eles que a logística se desenvolve. Também não são uniformes as cargas. Algumas dependem de maior retro-área, enquanto outras, dependem de um transbordo abrigado.

Isso ocorre mais ao norte no ES - onde o Açu leva maior vantagem - quanto a direção sul, na Bacia de Santos, mais ou menos próximo aos terminais portuários de Rio/Niterói.

Há ainda que se considerar que o apoio offshore para a Bacia de Santos no litoral paulista e o Pré-sal naquela região até aqui continuou a depender dos terminais portuários da Baía da Guanabara (Rio e Niterói).

Por razões diversas, o Porto de Santos visando manter o seu maior fluxo de navios de cargas (contêineros e graneleiros) criou dificuldades para esse tipo de operação naquele complexo portuário, onde há 54 terminais portuários operando o mais diferente tipos de cargas.

Cargas de apoio offshore movimentam muitos rebocadores e, de certa forma, reduzem a trafegabilidade para os terminais de maior movimento que pretendem fixar e ter o Porto de Santos como principal hub do Brasil.

Assim, tudo que se explorou e descobriu em termos de poços e campos de petróleo nos últimos anos na Bacia de Santos e Pré-sal saiu especialmente das bases de apoio instaladas nos terminais portuários do Rio de Janeiro e Niterói.

Outros pontos do litoral sul fluminense e norte paulista foram procurados para montar novas bases de apoio offshore. Porém, o recorte de um litoral sinuoso e com a Serra do Mar muito próximo à praia, incluindo as várias unidades de conservação ali existentes, impediram até aqui esse processo. Angra dos Reis no ERJ e São Sebastião foram alternativas estudadas, mas que não avançaram.

Porém, nos últimos dias, um consórcio da subsidiária de Petrobras PB Log, o terminal portuário Tecon da CSN, na Baía de Sepetiba [junto ao Porto de Itaguaí] e ainda uma empresa de aviação (helicópteros pela CHC) ganharam uma licitação para operar a base de apoio offshore para atender as movimentações de cargas para o mega campo de Libra, que equivale a quase uma bacia petrolífera.

A base portuária da BrasilPort (grupo Edson Chouest) instalada no T2 do Porto do Açu até se interessou em participar, mas em função da proximidade desse terminal com o campo de Libra, acabou desistindo. 

Essa base portuária integrada (marítima, aérea e rodoviária), conforme a estrutura que seja montada poderá conquistar adiante uma hegemonia, para ter parte importantes das bases de apoio offshore que hoje operam nos terminais portuários de Rio e Niterói e assim melhor atender a Bacia de Santos e o Pré-sal daquela região.

Esse processo poderá reduzir paulatinamente, a demanda de apoio das bases portuárias do Rio de Janeiro e Niterói, mas também dependente das corporações que movimentam cargas e de suas localizações. Algumas possuem instalações e contratos em Niterói e podem manter ali as suas operações. Outras poderão migrar.

Numa estimativa mais geral, hoje, é possível afirmar que a tendência é que todas essas bases portuárias possam operar de forma conjunta e simultânea, só que aí terão menos concentração, onde cada uma atenda a clientes já definidos e outros que ainda chegarão.

Essa decisão sobre o apoio portuário ao megacampo de Libra não altera muito a situação do Açu e nem de Imbetiba. O Porto do Açu mexeu foi com a base portuária de que atendeu ao ES ao ficar com boa parte dessa demanda.

Nesse contexto, depois dessa volta (porque não cabe a meu juízo avaliação apenas de um terminal em relação a outro, é preciso olhar o geral) o caso do Terpor, se depender, unicamente, de movimentação de apoio a exploração offshore, terá imensas dificuldades para buscar investimentos e se viabilizar, para além dos graves impactos socioambientais de sua instalação.

Aliás, os terminais portuários em todo o mundo tendem a possuir múltiplas atividades para movimentação de cargas. A dependência de um ou outro setor como eram antigamente não comporta mais. 

Para isso teria o projeto do Terpor teria que se sustentar em outras atividades, como aliás fez, em seu último EIA/Rima em que busca o licenciamento ambiental. Ali, a EBTE apresentou propostas de atividades para ser base de transbordo de petróleo,  base de recebimento de LNG e gasodutos para viabilizar uma unidade de processamento de gás natural, equivalente a Cabiúna, entre outras atividades, porém numa área limitada e junto à área urbana de Macaé. 

Porém, a ampliação dessas atividades aumentam de outro lado os impactos socioambientais decorrentes da vizinhança com área urbana e ainda com a proximidade com o Parque Nacional Ambiental de Jurubatiba. Dessa forma, uma vantagem do uso múltiplo do terminal carrega junto uma enorme desvantagem que é o aumento exponencial dos impactos socioambientais.

Ainda assim, considerando o cenário político atual de liberação e de menor regulação sobre atividades econômicas é possível que o Terpor possa tanto buscar investidores como se viabilizar, mesmo que menor. Ou não.

A articulação entre poder econômico e político e ainda os interesses das corporações é que definirão onde e como conseguirão usar o território e essas instalações.

Porém, no geral, eu reforço a interpretação de que a tendência é a de um aumento do número de bases operacionais de apoio às atividades offshore na região Sudeste, sendo elas um pouco menores e menos densamente utilizadas. Vale ainda observar que a integração modal (intermodalidade) com articulação do marítimo com as rodovias e os trens podem potencializar umas bases portuárias em relação às outras.

Espero ter respondido à sua indagação, depois de tantas voltas. Porém, eu precisava aprofundar o assunto e levantar outras relações sobre o tema.

Há uma tendência para quem observa de longe a questão de ter um raciocínio quase sempre de comparação e disputa de projetos e negócios. Porém, não se deve esquecer que a lógica do capital e das corporações são norteadas pelos seus ganhos. O território eles apenas usam.


Resposta complementar:
(Diante de nova indagações e questionamentos do interlocutor eu estendi um pouco mais a resposta).


Os interesses inter-capitalista são muito grandes nesse tipo de negócio que envolve forte investimentos em capital fixo. São setores chamados de intensivos em capital. Os interesses corporativos invocam nesses casos grandes volumes de recursos.

Nele há poucos concorrentes, assim, sempre será mais provável que eles juntem seus recursos e esforços para um acordo, do que imaginar hipóteses de apostas em projetos individuais, em que cada parte terá mais custos e mais riscos. Essa lógica não se sustenta.

Dessa forma a discussão locacional sobre os empreendimentos também são dependentes dessas articulações. Tanto entre quem tem poder econômico, quanto quem tem poder político. E ambos  articulam entre si e tomam as decisões sobre o uso do território.

Todo esse processo sempre se dá numa escala acima das disputas locais, onde apenas se reproduzem os interesses de grandes corporações grupos e donos de capital.

Quanto às atividades econômicas do Circuito Espacial do Petróleo em Macaé e região, elas continuarão a passar por mudanças espaciais e de atores. O "boom" do setor entre 2011 e 2012, em especial num único município, não deverá se repetir por uma série de motivos que caberiam em outro texto.

É da praxe do poder político construir expectativas e esperanças. Esse poder depende disso, mesmo que a realidade seja um pouco ou bem distante do desejo.

A análise apenas um pouco mais profunda dessas novas "dinâmicas econômico-espaciais-políticas" desse processo dão pistas claras sobre o que é retórica e o que pode ser concreto e real.

Sigamos acompanhando o mundo real e as articulações.

domingo, março 24, 2019

Os bolsonarianos se consideram e se portam como "ungidos": obscurantismo amplia riscos de mais autoritarismo e fundamentalismo

Há uma explicação para essa briga de todos contra todos dentro do "governo" Bolsonaro e sua "base".

Todos se consideram "ungidos" por méritos próprios.

Não reconhecem o contexto e nem a conjuntura que os levaram ao poder.

Cada um de um jeito, se considera com méritos para estar onde a conjuntura e a superestrutura permitiram.

Não sabem o que é isso e não se interessam por compreender o processo histórico e as intercorrências dos quais se originaram.

Ao se considerarem "ungidos" cada um deseja a sua parte no botim. Quase como um "direito divino".

Isso é relativamente comum na vida individual, mas não costuma terminar bem em processos coletivos e que exigem mediação política, que é quase impossível diante de quem se considera "ungido" e, portanto, merecedor de tratamento diferenciado.

Iludem-se os que imaginam ver no caso um embate entre liberalismo e nacional-desenvolvimentismo.
Não é isso. Há um obscurantismo nesse processo. 

Em termos de povo, nação e civilização tudo isso poderá ainda ser superado após essa intercorrência política. 

Ou intensificado num regime mais autoritário e fundamentalista misturando religião, força militar ideia higienista e ultraliberal.

No meio desse processo ainda veremos mais brigas entre "ungidos". Muitas mais e não mais e apenas no twitter.

De outro lado, só uma ampla coalização reverte esse processo, já em curso, acelerado.

sábado, março 23, 2019

A Petrobras está sendo entregue em fatias e pelo controle acionário

A entrega da Petrobras não está sendo articulada apenas através das vendas, já em curso, das suas subsidiárias como a TAG, NTS, NTN, campos de petróleo das bacias de Campos, Santos e Pré-Sal, refinarias, petroquímicas, etc.

A entrega também já está em curso na venda das participações acionárias da holding (grupo) Petrobras.

A CEF que possui 2,3% do capital social planeja vender até maio pela bagatela de R$ 9,4 bilhões essas ações. (Infográfico ao lado)

Infográfico sobre capital social Valor, 22 mar. 2019. P. C12.
Assim, as entregar vão se dando no atacado tanto do setor petróleo quanto do setor bancário estatal, reduzindo ainda mais as condições estratégicas do governo fazer política no geral.

A CEF vai lançar IPOs e também entregar controle acionário. 

O BB o mesmo com os ativos e seus fundos da na gestora BB DVTM, para os quais o fundo de investimentos americano BlackRock já está posicionado. 

Apenas para continuar a agradando ao deus mercado, na crença de que ele regula e protege a todos.

Os banqueiros agradecem. Não esperavam tanto, mas não garantem que não aplicarão novo golpe. 

Porque sabem que investimentos em capital fixo necessitam de um bom cenário macroeconômico para gerar expansão e rendimentos. 

E com tantos elefantes no Planalto não há cristais - mesmo do rico petróleo - que possa valer à pena.

"História, narrativa e o desvelamento", por Nilson Lage

O professor Nilson Lage num texto publicado em seu perfil no facebook. Claro como água e encorpado pelo tempo como um bom vinho, em mais uma ótima síntese.


História, narrativa e o desvelamento
O que há de errado no Brasil é a falta de espelhos – também os retrovisores.

Assim, um país que tem a maior parte de seu território ocupado por populações de origem matriarcal indígena e africana– descendentes do processo de miscigenação que caracteriza sua história – inventa que se divide entre “brancos” e “pretos”, só porque a elite, a mídia e as escolas deixam-se tutelar por norte-americanos, que, como declarou o presidente Bolsonaro, “resolveram esse problema” exterminando 10 a 12 milhões de índios no Século XIX.

Para explicar o fascismo atual, é fácil atribuir a culpa a raízes coloniais – na verdade, bastante diversificadas nos diferentes ciclos econômicos –, quando é visível que ele se apoia principalmente na descendência de famílias imigraram da Itália, Alemanha, Portugal e alguns outros países europeus no período que vai do início da Primeira Guerra Mundial ao fim da Segunda Guerra – alojados, em maior número, no Sul e Sudeste do país. Inadaptados e confinados em guetos culturais, cuidam de impor seus valores aos demais, que se deslumbram.

História é processo caótico em que se embaralham cadeias de eventos. 

Como o que caracteriza o evento histórico é o conflito – de classes, tribos, nações, culturas, ideologias – haverá duas ou mais narrativas para cada cadeia de eventos e, no mais das vezes, uma delas dominará. 

A narrativa é a forma pela qual habitualmente se acessa a História. Trata-se de construção que obedece a um dos esquemas lógicos dos discursos humanos: os fatos dispõem-se em sequências, costuradas pela relação implícita de causa – o consequente resulta do antecedente; personagens – ou, mesmo, circunstâncias – sujeitam-se à atribuição de culpa. As sequências justapõem-se como que ao acaso, cabendo ao receptor do relato estabelecer conexões.

Ocorre que causa e culpa são invenções dos homens que não existem no mundo; pressupõem consciência da situação e livre arbítrio, ambas condições historicamente determinadas e, geralmente, fora de controle dos personagens do relato que se faz em outro espaço e tempo. Tudo se resumiria, então, a questões de ética pessoal.

São duvidosos juízos de valor formulados sobre eventos históricos envolvendo causas e culpas – até porque, se os fatos relatados fossem outros, o efeito multiplicador devastaria o mundo real de quem conta a História.

Quem conta a História e quem a escuta são guiados pelo aqui-e-agora. Não por acaso, Henri Pirenne recontou desde o início islâmico a história medieval europeia justamente quando, prisioneiro na Primeira Guerra Mundial, via o sonho europeu estrebuchar nas trincheiras e desfazer-se o Império Otomano, herdeiro decadente do apogeu árabe.

No entanto, as motivações humanas no passado podem não ser aquelas que, hoje, agradaria imaginar. A distribuição de terras a famílias de negros e índios, por exemplo, pretendida por José Bonifácio de Andrada, o naturalista preceptor de Pedro II, e que, para horror dos conservadores, empolgava sua filha Isabel, herdeira do trono, não era um projeto humanístico, mas político: pretendia colonizar vazios do Oeste – em Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso –, elevar a produção agrícola e impedir que os escravos, que inevitavelmente se libertariam acorressem e se aglomerassem nas cidades, como, de fato, aconteceu na República.

Teria sido medida progressista, alternativa ao "branqueamento", mas despida da aura de generosidade que às vezes lhe emprestam. Não houve, e isso, pelas vias caóticas da História, confluiu para a formação da massa consciente que clama por seu protagonismo, para o deslumbramento de nós todos, nos carnavais do Rio de Janeiro.

São esses foliões que têm feito subir ao alto da página os heróis dos rodapés dos livros – a Chica da Silva, Sepé, o Zumbi dos Palmares e sua Dandara –, e projetaram cenários – o Cristo Mendigo, o cativeiro social, o avesso do mesmo lugar. Iluminam ainda, os que, em outro plano, resistem na História, de Mauá a Delmiro, de Getúlio a Lula, de Guararapes aos anos de chumbo.

Preservam uma originalidade que o poder hoje dominante no país esforça-se por suprimir.

sexta-feira, março 22, 2019

A petrodependência aparece no PIB do ERJ

O assunto já foi tratado aqui nesse blog por diversas vezes. Porém, novos dados e indicadores sugerem revisitar o tema.

Números preliminares do PIB do ano passado do ERJ divulgados pela Firjan indicam que eles superaram o magro PIB brasileiro: 1,2% PIB ERJ x 1,1% PIB Brasil.

Os resultados mostram melhores indicadores nos setores de transformação (+2,6%) e serviços industrias de utilidade púbica (+3%). Porém, o resultado tem mais a ver mesmo é com a retomada de melhores receitas com os royalties do petróleo, a partir de uma recuperação do preço do barril no mercado internacional. 

Em 2018, o governo do ERJ recebeu R$ 13,8 bilhões quase o dobro da receita com royalties e participações especiais (PE) em 2017 que foi de R$ 7,6 bilhões. Somando esses R$ 13,8 bilhões com outros R$ 4 bilhões recebidos pelos municípios fluminenses chega-se a R$ 18 bilhões. Lembrando que a receita estimada no orçamento de 2019 do governo do ERJ é de R$ 72,3 bilhões.

A petrodependência é mais grave em função da crise fiscal do estado que por enquanto tem a cobrança da dívida suspensa. Outra questão é que a redistribuição dos royalties aprovada em 2012 e suspensa depois por liminar requerida no STF pelo governo do ERJ que arguiu a constitucionalidade da Lei Nº 12.734/20162.

A Confederação Nacional dos Municípios (CMN) continua a pressionar diariamente o STF e Congresso Nacional reivindicando esses royalties para os demais estados e municípios. Com a crise de todos eles a pressão proporcionalmente tende a se ampliar.

"As elites racharam o pacto que lhes deu o poder", por Fernando Brito

Não pensem que a atual recolonização do Brasil se deu por um processo natural. É uma decisão forjada num processo ainda em curso.

A distância do tempo e a ampliação da exposição dos fatos, escancaram a realidade.
O ódio e o "falso moralismo" conseguiam turvar o fenômeno real.

Apresar de tudo isso, a interpretação da realidade vai, paulatinamente, ficando mais nítida e quase clarividente.
O texto do Fernando Brito, hoje, aqui no seu bom blog "Tijolaço" expõe de forma sucinta e clara essa realidade. Vale conferir, por isso o blog republica o mesmo abaixo. 


As elites racharam o pacto que lhes deu o poder

Observe o que se passou neste país a partir de 2014.

Desde então, as forças de direita, os conservadores, a mídia e o Judiciário foram construindo uma unidade política prática que lhes permitisse reconquistar a classe média, eliminar os políticos de esquerda – ou ao menos isolar os petistas dos demais – e reconquistar a plenitude do poder que jamais deixou de gozar neste país, mas do qual, há uma dúzia de anos, já não conseguiam exercer de forma desabrida.

Queimaram seus ícones mais antigos, de alguma forma ainda impregnados de alguma ideia de convívio democrático e passaram a usar o golpismo, a histeria e, sobretudo, o moralismo com que preencheram sua falta de um programa para o Brasil e seu povo.

Nem é preciso dizer o quão cínico é este fundamentalismo, basta ver a situação dos que lhe serviram, nestes anos, como instrumentos: Aécio Neves, Eduardo Cunha, Michel Temer e, agora, Jair Bolsonaro.

Claro, eles foram deixando ao longo do caminho os corpos politicamente carbonizados dos que lhes serviram, mas levaram tão longe a perda da razão que lhes sobrou uma situação autofágica, onde juízes e promotores tornaram-se planta carnívoras insaciáveis, um tosco fundamentalista está no Governo e as forças armadas vão ocupando todos os espaços de direção dos assuntos nacionais.

Já não têm como deixar de perceber que este arranjo só sobrevive se puder se alimentar de carne humana, devorada em frenesis totalitários. E cada um teme ser o próximo.

Sobrou-lhes um único liame, um elo que ainda os mantêm próximos: a destruição do país e o saque sobre os parcos direitos de seu povo. Vender o patrimônio, a soberania e dissolver as garantias sociais da população ainda é o fiapo de unidade que os reúne.

Mas ele próprio vai se rompendo, porque a fúria com que se emprega em sua destruição e os privilégios das camadas do Estado que tutelam este estado de coisas são evidentes demais para conservarem uma aparência de legitimidade.

O pensamento e a ação em favor do povo brasileiro não pode deixar de considerar, de forma permanente e mais ainda no momento em que o bloco de forças do atraso se fissura tão generalizadamente que manter as liberdades públicas, as garantias jurídicas e o que resta das conquistas sociais se sobrepõe a todas nossas mágoas, rancores e até à repugnância que nos causam as partes que se soltam do que era o monólito da direita.

quinta-feira, março 21, 2019

A sabujice e o americanofilismo sem fim do bolsonarismo

Aos poucos a extensão da sabujice desse governo aos EUA, o americanofilismo (expressão aqui do Fernando Brito do Tijolaço) vai se mostrando nas decisões de entrega do do Brasil ainda pouco conhecidas. 

Agora se começa também a saber que a área de agricultura aceitou abrir mão de cotas de importação de trigo em favor dos EUA que contraria a Argentina, mesmo que os preços dos americanos sejam iguais ou maiores do que do país vizinho.
Hoje pelas regras do Mercosul o trigo importado de países fora do bloco pagavam uma tarifa de 10%. 
Porém, isso alterava pouco, porque o preço do trigo argentino x custos de frete dos EUA até aqui quase se equivaliam.
O resultado disso, será a suspensão de outros acordos da Argentina que importa do Brasil produtos mais sofisticados e e de maior valor agregado.
Dessa forma, a dependência e sabujice dos americanos vai envolvendo o Brasil numa guerra comercial dos EUA. A troco apenas de submissão.
Se vê, assim, que o governo Bolsonaro, nos assuntos de submissão e dependência dos americanos não têm limites.
Eles parecem um elefante numa loja de cristais.
Para atender os "americanos acima de tudo e todos" eles saem criando embaraço com outras nações parceiras mundo afora.

quarta-feira, março 20, 2019

Primeira sentença da justiça sobre as desapropriações das terras do Açu confirma decreto, mas obriga a Codin a corrigir as indenizações aos agricultores para R$ 37, o m². Valor dessa sentença R$ 19 milhões

Num processo de 2010 (portanto mais de 8 anos), um agricultor conseguiu que a justiça, em decisão do juiz Leonardo Cajueiro, titular da Comarca do município SJB (Cartório da 2ª Vara) concedesse sentença condenando a Codin e obrigando-a a corrigir os valores da despropriação de terras na região do Açu, SJB, para o valor de R$ 37 por meto quadrado.

A sentença do processo Nº Processo N 0004724-34.2010.8.19.0053 foi publicada no 12/03/2019 nas folhas 632/635 do Diário de Justiça (DJERJ) e determina que uma propriedade que havia sido indenizada por R$ 805 mil, ao final do processo de mais de 2 mil folhas, a sentença determinou o pagamento corrigido no valor da terra para R$ 6,4 milhões, que acrescido de jutos e correção vai para R$ 19,7 milhões. No site do TJ-RJ o processo e a sentença podem ser pesquisadas.

Considerando que esse é apenas um, de mais uma centena de processos, se estima que todas as indenizações possam se aproximar de R$ 4 bilhões. O Ministério Público Estadual (MPE-RJ) e a Prumo Logística Global, como sucessora da LLX que atuou junto da Codin-RJ no processo de desapropriações foram ouvidos em todas as etapas do processo, sendo a Prumo como "terceira" interessada em função tanto do Porto do Açu, quando do controle sobre o Distrito Industrial de São João da Barra (DISJB).

Essa decisão, sobre a qual cabe recurso no TJ-RJ, deve assustar a Prumo e prejudicar alguns de sues empreendimento que dependem de empréstimos junto a bancos internacionais. O valor das indenizações serão muito grandes e é possível que alguns agricultores possam retomar suas terras, caso o pagamento não seja efetuado após as decisões.

A decisão não atende aos agricultores que questionam a justiça do decreto produzido por um processo hoje sabido e que foi envolvido em diversos atos de corrupção. Porém, ela reduz, em parte, a injustiça contra os agricultores que foram violentamente desapropriados. Pode atender no campo da revisão financeira das injustiças, mas nunca anular as marcas que deixou para a vida de várias famílias,  inclusive de alguns agricultores, precocemente falecidos. 




terça-feira, março 19, 2019

Brasil como condado. Para os sabujos, os EUA acima do Brasil e de todos. Nem os americanos querem isso!

O Brasil oficializado como colônia com o consentimento dos colonizados, onde parte das vítimas aplaude os seus algozes.

Entregaram Alcântara, a Embraer e estão entregando a Amazônia, a Petrobras, o BB (para o fundo americano BlackRock), etc.

Tudo isso em troca de nada.

EUA acima do Brasil e de todos.


Há 70 anos, o Brasil foi a guerra com os EUA, Rússia e os aliados para evitar o fascismo.

Como parte disso Getúlio ainda tirou recursos para industrializar o país com a CSN, algo que os EUA não queriam, mas tiveram que compor.

Depois disso, nas décadas de 60 até a de 90, tivemos um período, em que a visão era a de que o Brasil fazia parte do "sub-imperialismo", comandado pelos EUA, onde se admitia uma "dependência negociada", mas nunca essa grotesca submissão.

Agora, em nome de um risco abstrato, fruto da cabeça de alucinados, o Brasil se torna apenas um condado dos EUA. Não há mais nação e sim uma volta à condição de colônia.

Nem os americanos, em sua maioria, queriam isso.

O slogan de campanha era fake news, o que vale é o de hoje: EUA e Trump acima de tudo e todos!

A nação brasileira não aceita tamanha sabujice!


PS.: Atualizado às 13:08: Para breve acréscimo no texto.

domingo, março 17, 2019

A “era pós-petróleo”, a “reeletrificação”, os ciclos históricos e o potencial do Brasil no sistema-mundo

Há um grande debate sobre o que já passou a ser chamado como a "era pós petróleo".

Tenho estudado o assunto de forma mais profunda desde que pesquisei o setor petróleo (fração do capital) e suas relações com os grandes capitais, a grande demanda de infraestruturas e a produção social do espaço em várias partes do mundo. De forma especial na região sudeste do Brasil.

Dessa forma, produzimos uma tese e mais recentemente, um artigo (papper) sobre o peso do Circuito Espacial do Petróleo, como importante fator para a constituição da megarregião Rio-SP e de outras megarregiões pelo mundo.

Várias instituições, "think thanks", institutos e players (petroleiras) do setor estudam sobre quando deverá ocorrer o tal “pico de consumo de petróleo” no mundo.

A maioria dos estudos aponta que o pico de consumo do petróleo deverá ocorrer entre na década entre 2040 e 2050.

Já a respeitada Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que isso se dará mais adiante e faz questão de não estimar datas e nem períodos.

A petroleira chinesa China National Petroleum Corp. estima que se dê já a partir de 2030. A petroleira anglo-holandesa Shell fala em 15 anos. A americana Esso, em 2040. A Opep faz previsões de que o pico de consumo se dará daqui a 30 anos.

Esses e outros cenários dão pistas, mas não podem estabelecer previsões definitivas.

Porém, há uma confusão por parte de muitos quem avaliam que esse fato possa trazer rupturas bruscas. Esses não compreendem (ou não desejam entender) que os processos de migração energética são graduais e que entre eles, há períodos de convivência entre todas essas matrizes de produção de energia.

Aliás, como é o caso do poluente carvão que ainda hoje é responsável por 27% da energia primária consumida em todo o planeta, bem próximo do petróleo que tem hoje participação de cerca de 31%.


A reeletrificação
A energia renovável (ou os renováveis como já é resumidamente citado) cresce como produção de energia de forma espetacular desde a década de 90, mas a partir de bases muito pequenas ainda, por isso ainda custa deslanchar. Porém, em 2014, os renováveis já eram responsável por 14% da matriz mundial de energia. Incluindo aí a eletricidade.

Aliás, aquilo que eu passei a denominar como "reeletrificação", terá, cerca de um século depois, um papel tão importante quanto o início do seu uso no final do século XIX, início do século XX, no mundo. (Sendo essa questão merece outra uma análise à parte)

Assim, não é difícil entender esse processo se você considerar que as energias primárias dos renováveis, o gás natural e a nuclear Todas se utilizam da eletricidade como forma de fazer a energia chegar até o consumidor final, sejam elas, as indústrias, comércio, serviços lazer e agora também os transportes, com os veículos elétricos.

É a esse processo que chamo de "neoeletrificação".

É um assunto muito vasto e assim, adiante eu vou voltar a tratar dele por aqui.

Porém, ainda nesse primeiro texto, que acontece junto da escrita que faço para um artigo científico para um congresso [onde cito fontes, referenciais teóricos e de pesquisas sobre o tema], considero que vale destacar que, ao contrário de alguns apressados e ansiosos, o capitalismo que foi "lubrificado pelo petróleo", espera continuar a usá-lo por muito mais tempo e de forma mais ou menos intensa, sob outras formas. 


Petróleo é mercadoria especial e vai para além dos combustíveis
O petróleo é um produto finito e especial. Ele é responsável por mais de 3 mil outros derivados, onde o combustível, embora seja onde o seu uso se dê em maior quantidade, talvez seja um dos menos nobres para a vida moderna.

Entre eles se destacam, os usos do petróleo como petroquímicos (plásticos), fertilizantes (para a agricultura - tanto é que os custos de muitos alimentos são muitos atrelados ao preço do petróleo, embora, o seja também pelos gastos com transportes entre o produtor, distribuidor e consumidor final), remédios, roupas, alimentos, etc.

Assim, o menor uso gradual do petróleo e seu derivado como combustível, não vai alterar tão cedo e nem de forma assim tão intensa, a sua demanda no mundo.

Há muitos que não querem entender que esse fato nada tem a ver com a defesa dos combustíveis fósseis que contribuem para a atual grande carbonização e poluição do mundo, com graves consequências para as questões climáticas, entre outras, como já é amplamente conhecido.

Estudos da própria AIE identificam que até 2030, um terço da demanda global de petróleo, venha do setor de petroquímico. A estimativa é a de que em 2050, já seria a metade. 

Assim, ao contrário daqueles entreguistas que estão defendendo que é hora do Brasil produzir todo o seu petróleo rapidamente. De que é uma oportunidade para que a Petrobras entregue parte dos seus campos do pré-sal, as suas subsidiárias - e pasmem até as nossas petroquímicas, a Braskem, que a Petrobras é sócia meio a meio e que é a sexta maior do mundo – é uma completa aberração e despropósito.

Os dados, indicadores e estudos internacionais de várias fontes mostram amplamente o contrário. Muitos consultores ganham muito dinheiro e gordas comissões para falar o contrário e boa parte da mídia dá espaços e créditos para isso, sendo também bem remunerada. Cada um com seus interesses. 


O entreguismo que desperdiça o potencial do Brasil no "Sistema-mundo"
O Brasil com o volume de bens naturais estratégicos que possui, poderia e deveria usar também o petróleo, para incrementar os renováveis (energia eólica, solar, eletricidade), financiar a infraestrutura, a elevação e qualificação da população, o setores de pesquisas para acompanhar a evolução desses processos que tenderia produzir ainda mais inclusão socioeconômica e um desenvolvimento menos desigual.

O contrário disso é o que se vê, o entreguismo, sabujismo e um aumento da dependência e da submissão, feita àqueles que não possuem nenhum compromisso com o nosso povo.

Infelizmente, ainda há muitos que caem nesse conto. Alguns mais inocentes misturam desejos sem olhar a realidade e dessa forma acabam fazendo coro com os entreguistas de plantão e com aqueles de visão eternamente colonizada.

O assunto como já disse, remete a questões e interpretações em diversas dimensões e mistura indicadores técnicos e estatísticos com interpretações que encaminham ainda para análises no campo das ciências sociais, economia, política, geopolítica, sistema interestatal capitalista etc, estado-nação, hegemonia, ciclos históricos e sistema-mundo.

Porém, o objetivo aqui é bem mais simples: chamar a atenção para o que parece encoberto, no campo que envolve a produção de energia, o seu uso para superar desigualdades sociais e promover perspectivas civilizacionais inclusivas. Desenvolvimento só vale com civilização menos desigual.

sexta-feira, março 15, 2019

Estácio S.A. e à distância: os lucros estratosféricos do oligopólio financeiro na educação

Desde 2011, o blog traz para esse espaço, um resumo com dados e indicadores sobre essa instituição de ensino/financeira, que são publicados nos relatórios anuais de Administração da Estácio Participações S.A.

Observando os principais dados do relatório de 2018, publicado hoje no Valor (P. C9 a C16), se observa que os lucros não param de subir, possui mais alunos (em Educação à Distância - EaD), muito menos professores e nada de pesquisa e pouquíssimo de extensão.

Em 2018 foram R$ 645 milhões de lucros líquidos (52% maior que em 2017), para uma receita total (quase tudo de mensalidades) de R$ 5,7 bilhões. Incluídas aí, as rentabilidade com as aplicações financeiras que em 2018 somaram R$ 92 milhões*. A parte direta do rentismo nos lucros da Estácio S.A.

No dia 31 de dezembro de 2018, a Estácio S.A. informou que possuía em caixa R$ 818 milhões, fora os R$ 500 milhões que distribuiu como dividendos para os seus acionistas. No mesmo período de 2018, a Estácio S.A. investiu apenas R$ 248 milhões, sendo quase tudo, em novas unidades e não em melhorias das já existentes.

Sobre a quantidade de alunos, em dezembro de 2018, a Estácio S.A. possuía 517,8 mil alunos distribuídos em 44 faculdades e 607 polos de EaD. Em 2017 eram 515, 3 mil alunos.

Do total de 517,8 mil alunos em 2018, 314,7 mil (61%) são em ensino presencial, um percentual 8,7% menor que em 2017, quando possuía 344,7 mil alunos em sala de aula. Já no Ensino à Distância (EaD) o número de alunos saiu de 170,6 mil estudantes em 2017, para 203,1 mil alunos em 2018, um crescimento de 19%.

Sobre a quantidade de professores e funcionários estudantes se vê perfeitamente como a Estácio S.A. segue reduzindo a sua mão de obra, a despeito de ter bem mais alunos. Em 2018 eram 11.851 servidores no total, sendo 6.840 docentes. Para se ter uma avaliação dessa redução, no ano de 2014, a Estácio S.A. possuía um total de 14.192 funcionários no total, sendo 9.025 docentes.

Vejam como a relação de lucro, numa atividade que é mais a presença de professores se deu. Em 2014, a Estácio S.A. possuía uma relação de 48 estudantes por professor. Uma relação que já era absurdamente alta, mesmo considerando que parte disso (30%) era em EaD.

Já em 2018, portanto, apenas 4 anos depois, com o incremento da empresa na área de ações e financeiras, a Estácio S.A. possuía uma relação de 76 alunos por professor.

Tudo isso ajuda a explicar o crescimento de mais de 50% nos lucros a cada ano da Estácio S.A. Em faculdades com poucos laboratórios e professores muitas vezes bem menos qualificados e bem menores salários, para garantir maiores lucros para os acionistas. As reclamações do alunos são muitas. É só conversar com alunos e professores para conhecer essa realidade.

Assim, com pouquíssimos investimentos em extensão e nada em pesquisa, a Estácio S.A. se orgulha, em seu relatório de 2018, de possuir um volume médio diário de negociações de ações na bolsa de valores R$ 99 milhões. Sim, por dia com um percentual 43,2% maior do que em 2017.

Quem tem esse tipo de preocupação em atender os investidores, que receberam R$ 500 milhões, limpinhos só em dividendos (sobre os quais não são cobrados impostos), não vai ter mesmo muito tempo e nem interesse para se ocupar com a formação dos alunos.

Pode ser que você julgue tudo isso normal, natural, considerando a atividade como negócio. Lucro de R$ 645 milhões, numa instituição que se tornou um oligopólio (quase monopólio) comprando faculdades e universidade regionais em todo o país. 

Assim a cada ano absorve (engole na verdade) mais concorrentes diretos. Esses poucos oligopólios que restaram, com a mudança da política nos últimos anos, aumentaram o poder de pressão contra a regulação dos governos através do MEC. Tanto sobre os custos das mensalidades quanto do relaxamento da qualidade dos cursos. Aliás, foi garantido e reafirmado pelo atual ministro da Fazenda, Paulo Guedes e o do MEC. Liberdades absolutas na crença de que o mercado regula.

Mais uma vez, o blog informa que os dados aqui resumidos e sintetizados estão aqui expostos para conhecimento e debate, inclusive para a participação da própria Estácio S.A., dos seus professores, alunos e técnicos e suas representações de classes, e ainda para os gestores de outras instituições e pesquisadores sobre temática educacional local/regional e brasileira.

PS.: Aqui o blog disponibiliza links para algumas de suas postagem sobre os relatórios anuais da Esácio S.A. Em 2011 aqui, o de 2014 aqui e o de 2015 aqui. Uma outra postagem do blog em 3 de junho de 2016 sobre a possibilidade (absurda) depois negada pelo Cade de fusão dos oligopólios Estácio S.A. e Kroton S.A. pode ser lida aqui.

PS.: Atualização às 23:32 de 17 mar. 2019: Na digitação o erro entre bilhões e milhões. Os rendimento de aplicações financeiras foram de R$ 92 milhões e não de R$ 92 bilhões. Não faria sentido, não só pelo volume, como disse estratosférico, como pela sua discrepância que teia com o lucro líquido de R$ 645 milhões. Agradeço o comentário de alerta do Aldo Renato Franzoi.

quinta-feira, março 14, 2019

A Globo e o rentismo

O grupo Globo viu seu lucro líquido cair de R$ 1,8 bilhão em 2017, para R$ 1,2 bilhão em 2018.

É ainda o resultado mais expressivo entre os donos de todas as mídias no Brasil.

Porém, um dos dados mais simbólicos do seu balanço, publicado no Valor, em 12 fev. (P.C5), é que boa parte desse lucro veio de receita financeira que atingiu R$ 930 milhões.

Em 2017, as receitas financeiras tinham sido de R$ 585 milhões, portanto um crescimento de quase 60% de 2017 para 2018.

O fato reforça como o grupo, assim como outras empresas, vivem cada vez mais do "rentismo" do que da produção e das suas atividades.

O rentismo, o mercado financeiro e o sistema bancário é o que há de mais generoso no atual estágio do capitalismo, até para quem exerce alguma atividade ou produz algo.

Sendo assim, não é difícil compreender como os donos desses dinheiros vinculados ao setor de comunicação, definirão suas estratégicas e suas linhas editoriais.

Mais claro, impossível!

quarta-feira, março 13, 2019

Percurso civilizatório do Brasil segue ladeira abaixo!

Quando se dizia que a divulgação de arminha na cabeça e a liberação de armas, mexiam com o imaginário das pessoas, em especial os mais jovens, num momento em que a mídia online e do espetáculo, já representavam um ingrediente a mais de riscos, tudo isso parecia apenas retórica.

Fato é que a mediação da vida em sociedade e o percurso civilizatório no país vem piorando a uma velocidade absurda.

É compreensível que se precise de tempo para que haja um reconhecimento mais amplo e geral disto que o cotidiano já está nos mostrando.

Há que se lamentar que a disputa política pelo poder tenha enebriado a visão de quem julgava que esses riscos "não eram isso tudo que se falava".

E nada indica que o processo esteja sendo contido. Ao contrário. 

Porém, temos que compreender que sempre será tempo de mudar o curso das coisas no Brasil.

Militares doaram a Embraer para a "Boeing cai-cai"

Começou com Temer e terminou com a sua continuação, o governo Bolsonaro, a entrega da lucrativa e inovadora Embraer.

A empresa instalada em São José dos Campos era a base para a parcela mais expressiva de exportações com altíssimo valor agregado do país. Com alto conteúdo de tecnologia que atingia um grande e expansivo mercado.

Fora isso exportamos commodities: minério, soja e petróleo.

Venderam não. Pior. Juntaram ficando a Embraer com um pequeno percentual da "Boeing cai-cai".

A queda de mais um Boeing 737, tipo Max 8, depois de decolar do aeroporto de Adis Abeba, na Etiópia ameaça a empresa e por decorrência a Embraer. 

O caso assim como a queda de outro avião similar na Indonésia, há pouco tempo, evidencia um problema técnico de projeto da empresa americana.

Analistas que acompanham o setor dizem que esse é o modelo (Boeing 737, tipo Max 8) é o que a a fabricante americana de aviões mais vendeu em toda a sua história. Para o qual teria ainda uma encomenda - nessas alturas (sem trocadilho, por favor) - já quase toda suspensa. 

Cada avião desse tipo custa meio bilhão de reais. Fazendo as contas por alto, a Embraer está também indo para o espaço. Por favor, de novo, sem trocadilho.

A turma do capitão que comanda os generais de pijama só pensa em atender os EUA. Mesmo quando estes lhes mandam para o espaço.

É de doer. Qual deveria ser a tipificação para esse crime de lesa-pátria?

sexta-feira, março 08, 2019

A quase ausência europeia na planície dos Goitacazes no século XVI, por Soffiati

O tema já havia sido abordado pelo historiador e ecologista Aristides Soffiati aqui, em seu primeiro desses dois artigos que ganharão uma nova seção do blog aqui do lado direito. Organizado como poucos, Soffiati cumpriu o que ele mesmo estabeleceu de dividir a publicação da pesquisa, em dois textos.

No artigo anterior eu já havia dito, e repito, que aprecio muito as análises de Soffiati que envolvem o "sistema-mundo", numa perspectiva braudeliana. Ao observar os ciclos longos e a análise da estrutura, Soffiati interpreta a forma de colonização que os europeus, no século XVI, tiveram para com a produção do espaço, nos campos dos Goitacazes, numa dimensão socioambiental. Como sempre, vale muito conferir.




A quase ausência europeia na planície dos Goitacazes no século XVI: condicionantes ambientais, antropológicas e econômicas (final)
Arthur Soffiati
         No primeiro artigo da série, tentamos detectar e analisar os motivos que levaram os europeus, representados pelos portugueses, a não investir na colonização do atual norte do Rio de Janeiro por mais de um século, com exceção da malsinada tentativa de Pero de Gois com a capitania de São Tomé. Agora, concluímos a reflexão com uma revista panorâmica da expansão europeia em outras regiões do mundo no século XVI.
América
            A região que constitui hoje o norte fluminense integrou-se à globalização ocidental com um século e pouco de atraso. São Vicente foi fundado em 1532; a vila do Espírito Santo (Vila Velha) em 1535; Olinda em 1537; Salvador em 1549; o povoado de Benevente, hoje Anchieta, começou sua vida em 1561. Em 1556, foi erguido um povoado em Angra dos Reis. O Rio de Janeiro nasceu diretamente como cidade em 1565, sem passar pela condição de vila. Um núcleo ibérico foi criado em Guarapari em 1585. Belém nasceu em 1580, como ponta de lança da colonização ibérica da Amazônia.
            A vila da Rainha foi fundada em 1539. Se tivesse continuidade, seria um dos mais antigos núcleos da colonização ibérica no Brasil. Não há qualquer lamento em nossas palavras. Talvez exista nelas um certo alívio por saber que a região continuou a gozar por mais de um século da liberdade que desfrutou por dois milênios, mais ou menos.

1 - Animal exótico do Brasil segundo descrição de Hans Staden, séc. XVI

        Os espanhóis conquistaram Cuba em 1511. O império asteca foi conquistado com muita violência e morte pelo ambicioso Hernán Cortez à frente de tropas espanholas em 1519. Apesar de armas de fogo, a conquista durou sete meses. As línguas dos nativos, sobretudo o náuatle, não puderam ser suprimidas. A cidade do México se tornou um dos mais importantes entrepostos do mundo, fazendo a ligação entre Europa e Ásia. 

          Missionários e homens de letras não puderam fazer tábula rasa da cultura ancestral. Assim, europeus que se fixaram no México, a exemplo do franciscano Bernardin de Sahagun, incorporaram o vocabulário mexicano pré-europeu e aceitaram o estilo nativo de pintura em seus livros.

2 - Chegada dos espanhóis ao México. Códice Durán - 1581

          Entre os nativos, a catequese formou também homens letrados que escreveram sobre o passado e o presente mexicano. Um dos nomes mais notáveis foi o do jesuíta de origem mexicana Juan de Tovar. 

        O códice atribuído a ele reúne informações sobre ritos e cerimônias dos astecas. Seus desenhos são tipicamente mestiços, com forte influência pré-colombiana.

3 - Códice Tovar (séc. XVI): menino no mês do escorpião (outubro)

            O império inca foi conquistado oficialmente em 1532 por Francisco Pizarro. A ocupação e conquista espanhola do Peru também produziram mestiços não só em tipos físicos, mas também na cultura. O processo de aculturação vai desde Garcilaso de la Vega, inca, até Túpac Amaru (1545-1572), passando pelo movimento milenarista Taki-Ongoy e pelo originalíssimo Guamán Poma de Ayala. Garcilaso de la Vega teve uma rigorosa formação europeia. Ele pode ser considerado o pioneiro dos ocidentalistas. Embora defendesse a cultura de seus ancestrais, Garcilaso pensa como um europeu. Túpac Amaru sagrou-se imperador inca num movimento posterior à conquista espanhola do Peru. O Taki-Ongoy é um movimento milenarista que eclodiu no Peru por volta de 1570, pretendendo expulsar a cultura europeia do país. Finalmente, Guamán Poma é um nativo convertido ao catolicismo que protestou contra os desmandos espanhóis e católicos em “Nova crônica e bom governo”, não apenas escrita de forma original, mas ilustrada por um grande número de desenhos do próprio autor. Esses desenhos expressam uma fusão entre as culturas ocidental e peruana.


4 - Desenho de Guamán Poma com a seguinte legenda: “Conquistadores das Índias. Juan Díaz de Sólis Martín Fernandez, Vasco Núñes Balboa, Colón não descansavam, não faziam nada. Só pensavam em ouro e prata. A cobiça lhes fazia perder o juízo. Às vezes, nem comiam obcecados por esse pensamento. Os piores são os corregedores, sacerdotes e encomendeiros que, com a cobiça de ouro e prata, vão para o inferno.”

África
            O primeiro continente a ser atingido por europeus – notadamente por portugueses – foi a África na sua costa atlântica. Os portugueses foram avançando aos poucos no litoral ocidental com a intenção de alcançar a Índia, chamada então de Índias Orientais. Na verdade, a Índia seria a base para as conquistas portuguesas na África e na Ásia. Os portugueses escolheram Goa como capital de suas feitorias e colônias em África e Ásia, assim como Salvador se transformou na capital do Brasil.
            A África não era um continente desabitado. Pelo contrário. Havia povos os mais diversos em seu território, com níveis de cultura do mais simples ao mais complexo. Os bosquímanos e hotentotes organizavam-se ainda em sociedades paleolíticas, nômades e vivendo da coleta e da caça. A maioria dos grupos já se encontrava no neolítico, praticando a agricultura e o pastoreio, o que lhes permitia vida sedentária. Mas havia também sociedades civilizadas, com grau considerável de sofisticação, como as civilizações de Benin, da Etiópia, do Mali, de Gana e do Zimbabue.
            Nos séculos XV e XVI, o contato dos portugueses com esses povos era ainda superficial, mas já se processavam trocas culturais entre eles e as sociedades africanas. A África era ponto de compra de escravos, de marfim, de ouro e de especiarias. A economia mercantil começou a desestruturar as economias tradicionais do continente, onde os muçulmanos também praticavam um trabalho de catequese. Maomé chegou antes de Cristo na África, exceto na Etiópia, onde o cristianismo chegou logo no primeiro século do cristianismo na sua forma monofisista.


5 - Soldado português do século XVI na concepção artística da civilização de Benin, África Ocidental
            
            Os contatos entre portugueses e diversas sociedades africanas também propiciaram trocas culturais. Logo depois dos portugueses, chegaram à África franceses, ingleses e holandeses. A grande partilha da África em colônias europeias foi definida no Conferência de Berlim, em 1884-85. Os portugueses, então, já haviam instalado suas colônias na Guiné, em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique.
            Assim como o ocidente influenciou as culturas africanas, essas também influenciaram os europeus. A civilização de Benin registrou a presença de portugueses. Os relatos de André Álvares de Almada, de André Donelha, de Francisco de Lemos Coelho, de João Julião da Silva, de Zacarias Herculano da Silva e de Guilherme Ezequiel da Silva mostram o encantamento dos portugueses pelos rios e culturas africanas.


6 - Senegâmbia em carta de Luís Teixeira, 1602

Ásia
            No século XVI, os portugueses já estavam instalados em Goa, na costa ocidental da Índia, onde se basearam para alcançar os grandes entrepostos comerciais do Ceilão, de Malaca, de Macau, do Japão e de Timor, até então controlados pelos muçulmanos. Como na África, a relação dos portugueses com os povos nativos era de encantamento e repúdio. O hinduísmo, a princípio, foi confundido com o cristianismo pele existência da divindade Krishna e de imagens em fabulosos templos. Os portugueses abominavam o islamismo, cujas mesquitas eram desprovidas de imagens.
            Goa foi o centro português do oriente, algo como uma segunda Lisboa. O processo de conquista das Índias foi violento. Na viagem de 1502, Vasco da Gama volta à Índia para se vingar das humilhações que julgava ter sofrido em Calicute. Ainda nas costas índicas da África, Vasco da Gama capturou uma embarcação repleta de peregrinos islâmicos que retornavam de Meca. Além de pilhar o navio, sem resistência dos passageiros e da tripulação, Vasco da Gama ordenou que o navio fosse incendiado com todos a bordo. O escrivão português Tomé Lopes, ficou chocado com o massacre de 380 pessoas, entre homens, mulheres, velhos e crianças.
            Em Calicute, Vasco da Gama apreendeu, no seu navio, pescadores e comerciantes, dos quais mandou cortar pés, mãos, narizes e orelhas, determinando que as partes cortadas fossem postas em cestos e enviados à terra com uma mensagem ameaçadora. Afonso de Albuquerque não foi menos violento. Massacrar pessoas não cristãs era como massacrar vermes. Poucas vozes se levantaram contra essa violência.
            Goa, como o centro do mundo português no oriente e, entre 1580 e 1640, do império ibérico, tinha quase vida própria. Dois grandes intelectuais viveram lá grande parte da sua vida. Um deles, o mais conhecido, era o português Garcia da Orta. Ele embarcou como médico de Martin Afonso de Souza em sua viagem à Goa, em 1534, e por lá ficou. Ele publicou “Colóquios dos simples e drogas da Índia” em dois volumes, editado em Goa em 1563. Embora cristão, era grande seu relativismo e, por consequência, sua tolerância com as diferenças.
            O segundo foi o holandês Jan Huygen van Linschoten, que escreve na linha de Garcia da Orta. Ele era protestante, mas trabalhou como guarda-livros de Vicente da Fonseca, arcebispo de Goa. Além de escrever um livro altamente informativo, Linschoten, como bom holandês, também desenhava. São famosas suas ilustrações da Ásia.


7 - Árvores da Índia em gravura de Linschoten

            Em 1519-21, os espanhóis irromperam em território que, pelo Tratado de Tordesilhas, pertencia a Portugal. Na primeira viagem de circunavegação da história, Fernão de Magalhães atingiu o oceano Pacífico e transformou o arquipélago das Filipinas em sua base asiática. O iminente conflito entre Portugal e Espanha durou até a união das coroas dos dois países na cabeça de Filipe II.
            Os portugueses se instalaram também em Macau, na foz do rio das Pérolas, na China. Logo, a pequena possessão também adquiriu vida própria, embora subordinada a Goa. Os chineses toleraram os portugueses por ser muito grande o seu território. Mas iberos também penetraram na China com intenções comerciais e catequistas. No século XVI, frei Gaspar da Cruz visitou o país oriental e dele deu notícia no “Tratado das coisas da China”.


8 - Domínios portugueses no século XVI
            Em 1543, os portugueses chegaram ao Japão. Estabeleceram relações comerciais com o país e iniciaram o trabalho de catequese. Os espanhóis estavam alcançando as Filipinas. Em 1580, com a morte do cardeal D. Henrique, não havendo sucessor ao trono, a coroa portuguesa ficou com Filipe II, o herdeiro mais próximo. Criou-se assim o maior império colonial que o mundo conheceu até aquele momento.
            Colonizadores ibéricos estavam nos quatro cantos do mundo. Enquanto isso, os interesses do império Filipino só voltaram os olhos para o norte do Rio de Janeiro em 1632.


9 -Nau portuguesa em Macau em biombo japonês

Leituras
ALMADA, André Álvares de. “Tratado breve dos rios de Guiné e Cabo Verde feito pelo capitão André Álvares de Almada em 1594”. Lisboa: Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1994.
COELHO, Francisco de Lemos. “Duas descrições seiscentistas da Guiné”. Lisboa: Academia Portuguesa da História, 1953.
CRUZ, Gaspar da. “Tratado das coisas da China”. Lisboa: Sociedade Editora de Livros de Bolso, 2010.
DONELHA, André. “Descrição da Serra Leoa e dos rios de Guiné do Cabo Verde”. Lisboa: Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1977.
LINSCHOTEN, Jan Huygen van. “Itinerário, viagem ou navegação para as Índias Orientais ou portuguesas”. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997.
ORTA, Garcia da. “Colóquio dos simples e drogas da Índia”, 2 vols. Lisboa: Imprensa Nacional, 1987.
POMA, Guamán. “Los dibujos del cronista índio em Nueva crónica y buen gobierno”. Peru: Editorial Piki, 2009.
SILVA, João Julião da; SILVA, Zacarias Herculano da e SILVA, Guilherme Ezequiel da. “Memórias de Sofala”. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1998.