sexta-feira, março 22, 2019

"As elites racharam o pacto que lhes deu o poder", por Fernando Brito

Não pensem que a atual recolonização do Brasil se deu por um processo natural. É uma decisão forjada num processo ainda em curso.

A distância do tempo e a ampliação da exposição dos fatos, escancaram a realidade.
O ódio e o "falso moralismo" conseguiam turvar o fenômeno real.

Apresar de tudo isso, a interpretação da realidade vai, paulatinamente, ficando mais nítida e quase clarividente.
O texto do Fernando Brito, hoje, aqui no seu bom blog "Tijolaço" expõe de forma sucinta e clara essa realidade. Vale conferir, por isso o blog republica o mesmo abaixo. 


As elites racharam o pacto que lhes deu o poder

Observe o que se passou neste país a partir de 2014.

Desde então, as forças de direita, os conservadores, a mídia e o Judiciário foram construindo uma unidade política prática que lhes permitisse reconquistar a classe média, eliminar os políticos de esquerda – ou ao menos isolar os petistas dos demais – e reconquistar a plenitude do poder que jamais deixou de gozar neste país, mas do qual, há uma dúzia de anos, já não conseguiam exercer de forma desabrida.

Queimaram seus ícones mais antigos, de alguma forma ainda impregnados de alguma ideia de convívio democrático e passaram a usar o golpismo, a histeria e, sobretudo, o moralismo com que preencheram sua falta de um programa para o Brasil e seu povo.

Nem é preciso dizer o quão cínico é este fundamentalismo, basta ver a situação dos que lhe serviram, nestes anos, como instrumentos: Aécio Neves, Eduardo Cunha, Michel Temer e, agora, Jair Bolsonaro.

Claro, eles foram deixando ao longo do caminho os corpos politicamente carbonizados dos que lhes serviram, mas levaram tão longe a perda da razão que lhes sobrou uma situação autofágica, onde juízes e promotores tornaram-se planta carnívoras insaciáveis, um tosco fundamentalista está no Governo e as forças armadas vão ocupando todos os espaços de direção dos assuntos nacionais.

Já não têm como deixar de perceber que este arranjo só sobrevive se puder se alimentar de carne humana, devorada em frenesis totalitários. E cada um teme ser o próximo.

Sobrou-lhes um único liame, um elo que ainda os mantêm próximos: a destruição do país e o saque sobre os parcos direitos de seu povo. Vender o patrimônio, a soberania e dissolver as garantias sociais da população ainda é o fiapo de unidade que os reúne.

Mas ele próprio vai se rompendo, porque a fúria com que se emprega em sua destruição e os privilégios das camadas do Estado que tutelam este estado de coisas são evidentes demais para conservarem uma aparência de legitimidade.

O pensamento e a ação em favor do povo brasileiro não pode deixar de considerar, de forma permanente e mais ainda no momento em que o bloco de forças do atraso se fissura tão generalizadamente que manter as liberdades públicas, as garantias jurídicas e o que resta das conquistas sociais se sobrepõe a todas nossas mágoas, rancores e até à repugnância que nos causam as partes que se soltam do que era o monólito da direita.

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