segunda-feira, novembro 27, 2017

As consequência do desmonte e desintegração da Petrobras para o Circuito Espacial de Produção do Petróleo na Bahia

Estou retornando hoje, depois de  uma semana na Bahia, onde participei de um simpósio em Salvador. Como é de costume, eu aproveitei, junto com amigos professores e pesquisadores, para conhecer parte do entorno que envolve o Circuito Espacial de Petróleo no estado da Bahia e municípios do Recôncavo Baiano.

Foto Wandeike Costa, Sindipetro-BA da atividade de campo dia 22 nov.2017. 
Há muita coisa para descrever sobre o tema. Assim, aqui farei uma primeira descrição sobre a visita de campo sobre a região do circuito espacial do petróleo no estado da Bahia. Um relato do Sindipetro-Bahia você pode ler aqui [1]. O informe do sindicato noticia uma parte daquilo que pretendo ainda explorar sobre o tema.

Há que se registrar, e agradecer a colaboração dos integrantes do Sindipetro-Bahia que muito auxilou na compreensão desta realidade. Em especial, ao seu coordenador David Bacelar, ao diretor André Araújo e Elizabeth Temad, à jornalista Carol Ataíde e ao fotógrafo Wandeike Costa.


A história do petróleo do Brasil começa na Bahia
A história do petróleo no Brasil se mistura ao processo histórico que fala do desenvolvimento do estado da Bahia. Bom recordar que a Refinaria Landulfo Alves foi criada em 1950 e a Petrobras em 1953, por conta da pujança que o setor demonstrou com a produção em terra.

Foi na região do Recôncavo Baiano que começou, na década de 50, a produção de petróleo no país. Ali, onde hoje é o município de Candeia foi instalada em 1950, a primeira refinaria Landulfo Alves que ainda hoje é a segunda maior em capacidade de produção de cerca de 320 mil barris por dia.

A Refinaria Landulfo Alves (Rlam) produz os seguintes derivados: diesel, gasolina, querosene de aviação (QAV), asfalto, nafta petroquímica, gases petroquímicos (propano, propeno e butano), parafinas, lubrificantes, GLP, óleos combustíveis (industriais, térmicas e bunker). [2] [3]

Todas as bases operacionais de produção, escoamento (sistema de dutos),  beneficiamento e produção de energia derivada do petróleo no estado da Bahia estão previstas para serem entregues pela Petrobras para grupos privados estrangeiros.

A venda da Refinaria Landulfo Alves, localizada no município de Candeias, região metropolitana de Salvador, junto com os poços de produção localizados em terra (onshore) que alimentam a refinaria com o mix de petróleo bruto vindo da Bacia de Campos e outros lugares representa o abandono da empresa estatal da Bahia, assim como está acontecendo em quase todo o Nordeste.

O desmonte é ainda maior com a venda da rede de dutos e dos terminais portuários localizados nos municípios de Madre de Deus. Trata-se de um dos menores municípios do Brasil com 11 km². A cidade é toda recortada por uma avenida de dutos aéreos que divide boa parte da área urbana de Madre de Deus.

Mapa extraído do wikimapia com os destaques feitos pelo autor. 



















No mapa abaixo se dá o destaque à relação porto-petróleo mostrando mais detalhadamente o Terminal Almirante Alves Câmara. É possível identificar nos dois mapas como os dutos cortam e ligam os reservatórios e terminais, convivem e são partes do cotidiano da cidade. No mapa acima a malha de dutos está em vermelho.Nas fotos abaixo se tem uma melhor dimensão desta relação dos dutos com a área urbana.

Mapa extraído do wikimapia com os destaques feitos pelo autor. 


















A avenida de dutos permite a circulação dos derivados de petróleo processados na refinaria até os reservatórios localizados nos terminais portuários do município. São dois: Terminal Marítimo Almirante Alves Câmara e o Terminal da Transpetro Temadre.

Certamente, não há no país nenhum município que conviva com proximidade tão grande com as instalações de petróleo (esta mercadoria tão especial) por dentro da cidade.

Não seria nenhum exagero que o simpático município com o sagrado nome de Madre de Deus, pudesse ser considerada como uma "Dutópolis", ou uma cidade dos dutos. Ao lado e abaixo se vê  registros fotográficos do blog, que nos apontam a a convivência da área urbana com os dutos.

Para se ter uma ideia do convívio da estatal com o município, da área de 11,1 Km² do município, a estatal controla e administra 60% disto, ou seja, 6,5 Km², cabendo menos de 5 Km², para ser administrado pela prefeitura local. 

Madre de Deus tem cerca de 18 mil habitantes e em 2017 possui um orçamento anual na faixa de R$ 159 milhões, sendo que em 2016, apenas 15,8 milhões por ano foram originários com a petrorrenda dos royalties do petróleo, quando em 2014, antes da crise com a fase de baixa de preços do ciclo-petro-econômico [4], a mesma receita dos royalties do petróleo tinha atingido a cifra de R$ 47,7 milhões.

O circuito espacial do petróleo na Bahia é bem mais amplo ainda do que a localização da sede regional da Petrobras em Salvador, estas bases operacionais da refinaria (Rlam), malha de dutos e terminais portuários em Madre de Deus e no Porto de Aratu. 

Há ainda uma unidade de regaseificação que recebe o LNG importado que atende e abastece as usinas térmicas (UTEs) que atendem à cadeia do petróleo e outros empreendimentos industriais. 

Há ainda o Polo Petroquímico no vizinho município de Camaçari, onde várias indústrias químicas e a montadora Ford funciona. Mais recentemente, o Centro Industrial de Aratu que pertence ao distrito de Candeias, também se ampliou e hoje já conta com quase uma centena de empreendimentos no distrito industrial localizado no que pode ser considerado a retroárea do Porto de Aratu. 

Mapa da região metropolitana da Bahia. 
Assim, é possível depreender aí uma disputa por localização de empreendimentos com Camaçari. Outras regiões da Bahia possuem bases também ligadas à cadeia do petróleo como Itabuna que recebe por oleodutos parte do petróleo refinado na Rlam para distribuição na região sul do estado da Bahia. Trata-se de um circuito de acumulação regional.

Madre de Deus, Candeias/Aratu, Camaçari e São Francisco do Conde pertencem à região metropolitana de Salvador e se situam ao longo da Baía de Todos os Santos que possui 1.223 km², sendo três vezes maior que a Baía da Guanabara que tem uma área de 412 km². Abaixo publicamos uma base atualizada de dados dos municípios da região metropolitana de Salvador [5].

Aliás, pode-se considerar que há muitas similaridades entre as duas regiões metropolitanas: Fluminense e Salvador e suas vinculações com as atividades produtivas ligadas à cadeia do petróleo. No caso fluminense, se tem de um lado a Refinaria de Duque de Caxias e de outro, agora o Comperj e ambas as regiões possuem rede de dutos para chegada do petróleo e escoamento dos derivados.

Além disso, possuem instalações dos terminais portuários que servem de infraestrutura logística e bases para dar mobilidade à energia gerada pelo petróleo. Além disso, também possuem UTEs que transformam a energia do óleo e do gás em eletricidade, também oferecendo mobilidade à energia.

Voltando ao caso do Circuito Espacial do Petróleo na Bahia (CEP-BA) se identifica que o petróleo é ainda base importante da produção material do estado da Bahia, mesmo que ao longo do tempo suas atividades produtivas e de serviços tenha se diversificado. 

Assim, não é difícil depreender que o desmonte e a desintegração das atividades da Petrobras, ao longo da cadeia produtiva do petróleo, trará mudanças importantes para as regiões e para as comunidades que convivem com o Circuito Espacial do Petróleo da Bahia (CEP-BA). 
Voltaremos ao assunto.


Referências
[1] Histórico da Refinaria Landuldo Alves. Portal da Petrobras. Disponível em: http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/principais-operacoes/refinarias/refinaria-landulpho-alves-rlam.htm 

[2] Matéria da jornalista Carol Ataíde (site e jornal) do Sindipetro-Bahia. Professores visitam a Bahia para pesquisar a logística local do petróleo. Disponível em: http://www.sindipetroba.org.br/2017/noticia/8295/pesquisadores-visitam-a-bahia-para--entender-a-log%C3%ADstica-local-do-petr%C3%B3leo

[3] Sobre o desmonte do setor de refino de petróleo no Brasil ler textos do blog. Em 30 mai. 2017.
Desmonte na Petrobras atinge setor de refino. Brasil exporta petróleo cru e passa a importar cada vez mais combustíveis refinados. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/05/desmonte-na-petrobras-atinge-setor-de.html. 
Em 21 jun 2017: Brasil refina menos 550 mil barris por dia de petróleo: o desmonte não disfarçado é visto com espanto em boa parte do mundo. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2017/06/brasil-refina-menos-550-mil-barris-por.html

[4] Para compreender melhor o que se refere ao ciclo petro-econômico, ver o item 1.7 (Capitulo 1), P. 95-147, "Ciclo petro-econômico" da tese de doutoramento do autor, defendida no PPFH-UERJ: “A relação transescalar e multidimensional “Petróleo-porto” como produtora de novas territorialidades”. Disponível na Rede de Pesquisa em Políticas Públicas (RPP)-UFRJ: http://www.rpp.ufrj.br/library/view/a-relacao-transescalar-e-multidimensional-petroleo-porto-como-produtora-de-novas-territorialidades

[5] Wikipedia quadro com a base atualizada de dados dos municípios da região metropolitana de Salvador. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Regi%C3%A3o_Metropolitana_de_Salvador

PS.: Atualizada às 13:42, 13:56, 14:27 e 15:30: Para acrescentar quadro sobre dados dos municípios da região metropolitana de Salvador, referência nº 3 e outros acréscimos.

quinta-feira, novembro 23, 2017

Royalties de novembro serão depositados amanhã: Macaé recebe mais 10,6% e Campos mais 5,7%

Amanhã será depositada nas contas dos municípios a quota mensal referente aos royalties do petróleo do mês de novembro. Em tabulação feita pelo Wellington Abreu, ex-superintendente de Petróleo de SJB, com dados da ANP se verifica um aumento na quota mensal.

No ERJ, os maiores aumentos percentuais nas quotas mensais de royalties foram mais uma vez para os municípios que abrangem o litoral onde está a Bacia de Santos, como Rio de Janeiro, Niterói e Maricá.

Em termos absolutos as maiores quotas foram recebidas pelos municípios de Macaé com R$ 34,7 Milhões, seguido de Maricá com R$ 28,5 milhões, Campos dos Goytacazes com R$ 28 milhões e Niterói com R$ 24 milhões.

Cabo Frio receberá R$ 8,9 milhões, Rio das Ostras R$ 8,2 milhões e SJB R$ 6,8 milhões. Abaixo a tabela completa da quota de novembro dos royalties de novembro das maiores receitas do ERJ:


sábado, novembro 18, 2017

Revisitando o noroeste fluminense (I): eixo Muriaé por Soffiati

O ecologista e professor Aristides Arthur Soffiati voltou a percorrer a região Noroeste Fluminense guiando pesquisas de campo. Como um dos desdobramentos deste trabalho, Soffiati nos brindará com um relato que será dividido em partes.

Soffiati como um bom mestre vai guiando o nosso olhar para melhor observar as alterações que o homem (sujeito - antropo) vai realizando na natureza. Repete na descrição - e nas fotografias - aquilo que detalhou para aqueles que o seguiam como professor de campo pela região Noroeste Fluminense.

Para melhor visualização da galeria de fotos que Soffiati apresenta na sua revisitação ao Noroeste Fluminense, o blog fez questão de publicar as fotos no maior tamanho possível. Enfim, viajemos sob o olhar ambientalmente por esta região que merece atenção tendo como guia o mestre Soffiati:


Revisitando o noroeste fluminense (I): eixo Muriaé
Arthur Soffiati

Certa vez, numa palestra, perguntaram-me como a terra chega ao topo de um morro para permitir o desenvolvimento de florestas. Algumas perguntas são constrangedoras porque as respostas revelam que o questionador ignora questões básicas. Um morro pedregoso sofre bombardeios de chuva e sol. É o que se chama de intemperismo. Um morro não pode se esconder dos fenômenos naturais de ordem física, química e biológica. Ao longo de muito tempo, a pedra se quebra e se pulveriza, formando a base do solo. Insetos, aves e mamíferos semeiam a pedra pulverizada. As plantas lançam galhos e folhas mortas que se decompõem e formam solo adubado. As árvores crescem e retêm o substrato. Trata-se de um processo de retroalimentação a longo prazo.

Então, certas economias removem a floresta e a substituem por lavouras e pastagens. A economia de mercado instalada no Brasil e, por conseguinte, no norte e noroeste fluminenses ultrapassou os limites de resiliência, ou seja, de recomposição. Particularmente, o território que hoje constitui o noroeste fluminense, na margem esquerda do rio Paraíba do Sul, caracteriza-se por elevações de baixa altitude. Os dois rios principais a drenarem e a irrigarem a região são o Pomba e o Muriaé. A vegetação nativa que aí se desenvolveu é a floresta estacional semidecidual atlântica, uma espécie de mata atlântica mais seca que perde até 50% de suas folhas na estação seca do ano. É estacional por estar sujeita às oscilações climáticas das estações. É semidecidual por perder parte das folhas (VELOSO).

Os autores que nos informaram sobre o Noroeste Fluminense no passado, quando ele ainda não tinha esse nome, foram Manoel Martins do Couto Reis, Antonio Muniz de Souza e Manoel Basílio Furtado. Couto Reis escreveu, em 1785, que “o Rio Muriaé (...) tem avultado curso e belíssima navegação até o primeiro cachoeiro, e ainda passado este, mais acima um bom espaço, depois do que são repetidas as itaupevas que dificultam a passagem (...) São as suas margens abundantíssimas de varjarias excelentes em terreno alto, porém, ainda assim com excelentíssimas baixadas, de onde se geram longos brejais que se comunicam com outros igualmente dilatados. A sua parte oriental até perto do primeiro cachoeiro está muito bem povoada de engenhos”. O capitão cartógrafo, no entanto, esclarece que não navegou o rio por enfrentar problemas.

Já Muniz de Souza subiu o rio Muriaé no dia 5 de fevereiro de 1828. Ele era um sergipano autodidata que residiu em Campos nos anos de 1827 e 1828. Ele ficou encantado com as fazendas, os engenhos e as olarias, que já subiam o rio. O sergipano contou 48 engenhos no eixo do Muriaé. Deve-se esclarecer que os engenhos daquela época eram pequenos em relação às usinas. Os disfarçados morros a que ele se refere no seu relato têm coloração vermelha e amarela. Ele ainda não havia alcançado a região serrana, mas apenas os tabuleiros. Em suas palavras, o rio Muriaé é ladeado por margens com extensas vargens, muitos brejos nutritivos excelentes para a criação de gado. Registra também o cultivo de mandioca, feijão e arroz. E as matas? O autor se maravilha com as frondosas árvores. A hoje denominada floresta estacional semidecidual atlântica cobria os tabuleiros e a serra. Mas ele já vê brechas nas florestas e vislumbra o maior aproveitamento econômico do vale.

Manoel Basílio Furtado, excursionou nas bacias do Itabapoana e Itapemirim, em 1875, cem anos após Couto Reis. Costumo usar a noção de Ecorregião de São Tomé para designar o território que se estende do rio Macaé ao rio Itapemirim. Quem examinar com atenção este espaço notará que ele apresenta unidade. Na borda da zona serrana, entre a margem esquerda do rio Paraíba do Sul e a margem direita do rio Itapemirim, estendem-se vastas terras de tabuleiros. Em alguns pontos, o tabuleiro encosta no mar, separado apenas pela fímbria arenosa da praia. Na margem esquerda do rio Itabapoana, formou-se a pequena restinga de Marobá, numa reentrância da costa. Do rio Guaxindiba ao rio Paraíba do Sul, encontra-se a porção setentrional de uma grande restinga. No município de Quissamã, existe uma pequena amostra de tabuleiros. Esta configuração geológica tem explicação, que não cabe agora explicar. Que nos contentemos em examinar o mapa abaixo.

1- Ecorregião de São Tomé

O intervalo de um século entre Couto Reis e Manoel Basílio mostra que não houve mudanças profundas no ambiente. Montes cobertos por florestas, vales com vegetação herbácea e muita umidade, rios com grande vazão mesmo nos períodos de estiagem, biodiversidade florística e faunística de notável riqueza. Mas cicatrizes causadas pela mineração e pela agropecuária. As cidades praticamente inexistiam. Os aglomerados humanos não passavam de povoados.

Por um tempo razoável, não visitei o Noroeste Fluminense com olhar observador. Estive lá em novembro de 2017 com a professora Adriana Filgueira, da Universidade Federal Fluminense. Planejamos quatro excursões. A primeira seguindo o eixo do rio Muriaé; a segunda acompanhando o eixo Paraíba do Sul-Pomba; a terceira acompanhando o rio Itabapoana e o quarta trilhando o vale do rio Itapemirim.

Na primeira excursão, saímos de Campos e seguimos a BR-356 até Itaperuna, passando por Cardoso Moreira e Italva. De Itaperuna, rumamos para Varre-Sai. O que mais nos chamou a atenção foi a secura. Embora no início da estação chuvosa, a seca é inclemente. Na verdade, a grande seca de 2014-15 não foi compensada com as chuvas de 2016-17. O balanço hídrico tem sido negativo em toda a Região Sudeste. 

2- Rio Muriaé entre Cardoso Moreira e Italva. Estiagem severa



























A vazão do Muriaé está muito reduzida. Na zona rural, pequenos afluentes seus não contam mais com água. Seus leitos ressecados estão expostos. Os pequenos cursos d’água cercados por núcleos urbanos são alimentados por esgoto.

3- Aspecto do ribeirão Santa Cruz, em Varre-Sai, com canos de esgoto nas margens























4- Rio Muriaé em Itaperuna, com margem invadida pela cidade






























Chama a atenção, também, o grau de supressão da vegetação nativa, ou seja, o desmatamento. Com a instalação da agropecuária, as florestas foram substituídas por monoculturas e pastagens. Não se trata de defender a integridade absoluta das florestas, mas, em nome da economia e do desenvolvimento, as atividades rurais avançaram mais do que deviam. Antes, as florestas não só protegiam o solo das intempéries e reduziam a erosão, como também acumulavam água, reduzindo o impacto das enchentes e das secas.

5- Desmatamento, secura de fragmentos florestais e erosão




























6- Erosão intensa




























Em São José de Ubá, não basta desnudar o solo com a remoção das matas. Arranca-se a pele e a carne dele com a mineração de calcário. Em outros lugares, os morros são cortados para o fornecimento de material para elevação do leito de ruas e estradas e para a expansão urbana em áreas de risco.

7- Corte na encosta para transferência de material. Varre-Sai




























8- Varre-Sai escalando elevação com plantação de eucalipto




























Nenhuma encosta tem sido poupada da agricultura, da pecuária e da urbanização. Em Varre-Sai, o café e o eucalipto têm sido implacáveis com as florestas. Na maior parte das outras, o gado sobe o morro com suas patas provocando erosão laminar.

9- Cidade, café e eucalipto em Varre-Sai
10- Pastagem pobre e erosão em encosta. Varre-Sai


Por fim, a urbanização. No Noroeste Fluminense, Itaperuna, Santo Antônio de Pádua e Bom Jesus do Itabapoana já alcançaram a dimensão de metrópoles regionais, com todos os problemas das grandes cidades e com as carências de uma cidade pequena. Geralmente, as cidades impermeabilizam o solo com seu asfalto e suas construções, avançam sobre encostas e rios, produzem muito esgoto e muito lixo sem que eles tenham a destinação adequada. Daí as enchentes, os deslizamentos, a poluição hídrica e a poluição do solo.


11- Adensamento e verticalização urbana. Varre-Sai




























12- Aspecto do rio Muriaé em Itaperuna




























13- Poluição por resíduo de lentíssima decomposição




























Leituras adicionais

FURTADO, Manoel Basílio. Itinerário da Freguesia do Senhor Bom Jesus do Itabapoana à Gruta das Minas do Castelo. Campos dos Goytacazes: Essentia, 2014.

REIS, Manoel Martins do Couto. Descrição Geográfica, Política e Cronográfica do Distrito dos Campos Goitacás que por Ordem do Ilmo e Exmo Senhor Luiz de Vasconcellos e Souza do Conselho de S. Majestade, Vice-Rei e Capitão General de Mar e Terra do Estado do Brasil, etc se Escreveu para Servir de Explicação ao Mapa Topográfico do mesmo Terreno, que debaixo de dita Ordem se Levantou. Rio de Janeiro: manuscrito original, 1785.

SOUZA, Antonio Muniz de. Viagens e observações de um brasileiro. Salvador: IGHB, 2000.

VELOSO, Henrique Pimenta; RANGEL FILHO, Antonio Lourenço Rosa e LIMA, Jorge Carlos Alves. Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1991.

sexta-feira, novembro 17, 2017

Direito continua a ser a graduação com mais alunos em Campos

No dia 11 de novembro publicamos aqui, os números de matrículas no ensino superior no município de Campos dos Goytacazes, a partir dos dados do Censo 2016 do Inep/MEC. A publicação também mostrou uma série histórica com dados sobre as estatísticas por instituição nos anos de 2003; 2008; 2013; 2014; 2015 e 2016 (este último divulgado no início deste mês).

O Censo de 2016 mostrou que Campos possuía um total de 19.850 alunos matriculados no ensino presencial em divididos em 12 diferentes instituições e em 60 diferentes tipos de graduação.

Aprofundando os dados um pouco mais, o professor José Carlos Salomão que já havia feito a tabulação anterior, a pedido do blog, levantou também quais são os cursos com mais matrículas no município de Campos dos Goytacazes.


Cursos superiores com mais matrículas em Campos dos Goytacazes no ano de 2016
Pela tabela publicada abaixo, o curso com mais matrículas no município continua sendo o de Direito com 1.829 estudantes, quase 10% do total, que estão distribuídos em 5 instituições. A seguir vem o curso de Pedagogia com 1.360 matrículas distribuídas em 6 instituições. Em terceiro lugar, Engenharia Civil co 1.227 matrículas distribuídas em 4 instituições. Em quarto lugar Psicologia com 1.073 matrículas distribuídas em 3 instituições.

De certa forma, um surpresa é o aumento das matrículas no curso de Nutrição que é o quinto com maior quantidade de matrículas alcançando 1.010 estudantes distribuídos em 3 instituições.

Seguem as matrículas nos cursos de:
6- Engenharia Mecânica com 996 matrículas em 3 instituições;
7- Arquitetura e Urbanismo com 820 matrículas em 3 instituições;
8 - Engenharia de Produção com 800 matrículas em 6 instituições. Curso já foi um dos mais
     procurados em Campos em passado recente.
9 - Administração com 788 matrículas em 5 instituições. Outro curso que já foi bem mais procurado.
10 - Educação Física com 716 matrículas em 5 instituições.
11 - Enfermagem com 696 matrículas em 4 instituições.
12 - Medicina com 612 matrículas numa instituição.
13 - Serviço Social com 595 matrículas em 2 instituições;
14 - Geografia (licenciatura) com 439 matrículas em 2 instituições;
15 - Fisioterapia com 408 matrículas em 3 instituições. Outro curso que já foi muito procurado.

 


































Algumas questões
Mais do que as estatísticas destas matrículas e sua evolução ao longo do tempo, eu me pergunto, que relação os tipos de graduação podem ter com o desenvolvimento regional e às perspectivas de geração de emprego, mesmo sabendo, que não necessariamente, todas as formações (50) precisam seguir esta premissa, mas podem também, considerar os interesses de saber individual das pessoas.

Porém, observando os dados deste Censo 2016, sobre as matrículas na graduação presencial no município de Campos dos Goytacazes, e considerando que 60% delas estão nas instituições privadas, uma pergunta surge quase naturalmente.

Será que estas opções de cursos ofertadas pelas instituições de ensino e demandados pelos alunos (na maioria jovens) - e mesmo considerando a diversidade das ofertas de graduação (60) - e também analisando as quantidades de vagas ofertadas por tipo de curso, não estariam olhando mais o passado que o presente e o cenário futuro?

A qualidade da formação é outro fator que deveria interessar não apenas às instituições, mas aos alunos e à comunidade local/regional. Ter uma boa formação na graduação é muitas vezes mais importante do que até a escolha da área e/ou curso.

Neste campo de análise se observa que os ex-alunos que mais se interessam pela boa formação, para além da certificação, estão sendo obrigados a procurar logo após a conclusão da graduação, os cursos de pós-graduação, tipo especialização (lato-sensu), ou mestrado e doutorado (stricto-sensu).

Os cursos de mestrado e doutorado no município estão se ampliando, mas ainda são poucos diante da imensidão de ofertas dos cursos de especialização. Estes muitas vezes, antes de especializar, acabam por tentar suprir lacunas da formação durante a graduação.

Fato que nem sempre é atendido pela maioria das especializações. Boa parte das ofertas de cursos de especialização visa mais os ganhos financeiros que, novamente, os resultados e qualidade da formação.

Todos sabemos que a razão disto está ligada à quase total falta de atuação das instituições privadas nas áreas de pesquisas e extensão, que em tese alimentariam não apenas os mestrados e doutorados, mas também a boa qualidade nos cursos de graduação e especialização.

Enfim, este é um debate que deveria interessar ao município e à região, para além da relação direta entre instituições (universidades, institutos, centros e faculdades) e os alunos que buscam a formação. Porém, parece que também neste campo, a lógica tem sido a de liberal de deixar o mercado se auto-ajustar.

PS.: Atualizado às 13:45 para justes no texto.

quinta-feira, novembro 16, 2017

Nova descoberta de petróleo no pré-sal do campo de Marlim reforça hipótese de que ali está o verdadeiro depósito

A Petrobras anunciou há pouco uma nova descoberta de petróleo no pré-sal do campo de Marlim, na Bacia de Campos.

Falam em descoberta de óleo de boa qualidade em reservatórios carbonáticos do play pré-sal, com espessura 196 m, a maior coluna de óleo já encontrada na Bacia de Campos.

Assim, geologicamente, é cada vez mais forte a hipótese de que o petróleo que começamos a tirar nos poços e campos mais rasos, na verdade era em maior parte aquele da camada mais profunda do pré-sal que vazava das fendas do selante de sal que se abre e se movimenta deixando passar o fluido.

Para Guilherme Estrella, geólogo que atuou desde as primeiras explorações offshore na década de 60 e foi o "pai do pré-sal" (denominação que rejeita) como diretor de exploração a camada selante de sal - mesmo que espessa - possui fendas que se movimentam, abrem e fecham, o que permitiria que o fluido vaze para a camada de pós-sal.

Diante de tudo isto é cada vez dolorido enxergar a entrega que se faz das nossa riquezas e do desmonte e fatiamento da Petrobras.

Foi a partir da inteligência de técnicos competentes e nacionalistas trabalhando nas explorações offshore, desde a década de 60 no litoral brasileiro, em 2006, descobriram o pré-sal, quando muitos desdenhavam desta hipótese, querendo entregar, ainda mais prematuramente, todas estas riquezas, que significam rendas.

Rendas petroleiras que poderiam alavancar o país com inclusão social e um projeto de Nação.

Será inevitável um referendo homologatório questionando todas estas ações entreguistas e retornado o direito sobre estas rendas para a constituição de um Fundo Soberano para investimentos em saúde e educação. Até os perdulários países petrorrentistas do Oriente Médio fazem isto. À luta!

quarta-feira, novembro 15, 2017

AIE reafirma que “a era do petróleo ainda não acabou”, reforça a importância crescente do GNL, mesmo com avanço dos renováveis. E o Brasil neste cenário?

A Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou a edição 2017 da World Energy Outlook (WEO-2017) ( 2017). [1] Trata-se da principal publicação da AIE. Em síntese, a edição 2017 afirma que a procura mundial de petróleo diminuiu, mas não será revertida antes de 2040, mesmo quando as vendas de carros elétricos aumentarem significativamente.

Tendências
Ainda segundo, o WEO 2017, nas próximas duas décadas, o sistema energético global estará sendo reformado por quatro grandes forças:

1 - Os EUA evem se tornar líderes em petróleo e gás no mundo;
2 - As energias renováveis estão sendo implantadas rapidamente graças à queda de custos;
3 - A participação da eletricidade no mix de energia está crescendo;
4 - A nova estratégia econômica da China deve levar a um modo de crescimento mais limpo, com implicações para os mercados mundiais de energia.

A energia solar está configurada para liderar as adições de capacidade, empurradas pela implantação na China e na Índia, enquanto isso na União Europeia, a eólica se tornará a principal fonte de eletricidade logo após 2030.

Segundo Fatih Birol, diretor executivo da AIE:

1 - “A energia solar está avançando nos mercados de energia globais, uma vez que está se tornado a fonte mais econômica de geração de eletricidade em muitos lugares, incluindo China e Índia".

2 - "Os veículos elétricos estão na pista rápida como resultado do apoio do governo e da queda dos custos da bateria, mas é muito cedo para escrever o obituário de petróleo, já que o crescimento para caminhões, aviação, petroquímica, transporte e aviação continuam a aumentar a demanda. Eles elevam a demanda de petróleo para 105 milhões de barris por dia até 2040.

Segundo a americana AIE, os EUA se tornarão o líder incontestável da produção de petróleo e gás por décadas, o que representa uma grande agitação para a dinâmica do mercado internacional.

A produção de petróleo de xisto e gás nos Estados Unidos avançou na redução de custos e administrou internamente, a pressão que o setor de xisto (shale) sofre para impedir as limitações dos órgãos de controle ambientais. 


O papel estratégico do GNL (ou LGN) para os EUA e para o mundo
Neste espaço temos chamado a atenção desde o início do ano passado sobre papel estratégico que o Gás Natural e sua versão liquefeita (GNL ou LGN) terão na matriz mundial. [2] [3] 
Maiores produtores, exportadores e importadores de GN do mundo.
Fonte: Key world energy statistics, p.16/97. [5]


































Agora, o AIE através do WEO 2017, prevê que em meados da década de 2020, os EUA possam se tornar o maior exportador de GNL do mundo e um exportador de petróleo líquido até o final dessa década. Isso se deve à redução dos custos com as unidades de liquefação e regaseificação que deu mobilidade à energia de gás natural, com o uso de navios gaseiros, que podem substituir os pipelines (linhas de gás, ou gasodutos). Este fato vem mudando e ampliando a importância do gás natural em termos de estratégias na matriz mundial de energia.

Terminal de Sabrine Pass de GNL no estado
de Louisiana, EUA. Fonte: Cheniere E.I.
O assunto também foi tema de um dos subcapítulos (1.9. A relação entre os petróleo e o gás natural - também como poder estratégico e geopolítico)da tese desde blogueiro) da tese do autor deste blog defendida em março deste ano no PPFH-UERJ. [4]

Fato que também produz grande impacto nos mercados de petróleo e gás e desafia os fornecedores históricos e já provoca mudanças nos fluxos de comércio global, com consumidores na Ásia representando mais de 70% das importações mundiais de petróleo e gás até 2040. Os EUA acelerou este processo a partir, especialmente, de unidades instaladas em Sabrine Passe, na Louisiana, Golfo do México, EUA. Foto acima à direita. [2] e [4]


O avanço das energias renováveis
Ao mesmo tempo, a China promove uma revolução na produção de energia renováveis para reduzir seus problemas ambientais. Assim, está se tornando líder mundial em veículos eólicos, solares, nucleares e elétricos e a fonte de mais de um quarto de crescimento projetado no consumo de gás natural. À medida que o crescimento da demanda na China diminui, outros países continuam a aumentar a demanda global – com a Índia representando quase um terço do crescimento global até 2040.

Energia Solar. Estatísticas: Maiores produtores, maior capacidade instalada e % da energia solar
em relação ao toral em 2015. Fonte: Key world energy statistics, p.26/97. [5]



































Para a AIE, a era do petróleo ainda não acabou
A Agência Internacional de Energia (AIE) diz textualmente, na WEO-2017 que "a era do petróleo ainda não acabou". Diz mais: “com os Estados Unidos representando 80% do aumento do fornecimento mundial de petróleo até 2025 e mantendo a pressão descendente a curto prazo sobre os preços, os consumidores do mundo ainda não estão prontos para dizer adeus à era do petróleo.

"Até o crescimento da demanda no meio da década de 2020 continua robusto no cenário de novas políticas, mas diminui consideravelmente depois disso, uma vez que uma maior eficiência e troca de combustível derrubam o uso de petróleo para veículos de passageiros (mesmo que a frota de carros globais possa atingir 2 bilhões em 2040)".

"Um impulso poderoso de outros setores é suficiente para manter a demanda de petróleo em uma trajetória crescente para 105 milhões de barris por dia até 2040: o uso de petróleo para produzir produtos petroquímicos é a maior fonte de crescimento, seguido de perto pelo aumento do consumo de caminhões (as políticas de eficiência de combustível cobrem 80% das vendas globais de automóveis hoje, mas apenas 50% das vendas globais de caminhões), para a aviação e para o transporte”.

"Com a produção crescente de petróleo dos EUA e considerando ainda que até o final dos anos 2020 a produção não-OPEP não recuará, o mercado se tornará cada vez mais dependente do Oriente Médio para equilibrar o mercado.” É bom lembrar que o Brasil é considerado (produção não Opep). 

A AIE diz ainda que, há uma grande e contínua necessidade de investimentos para desenvolver a produção de 670 bilhões de barris de novos até 2040, principalmente para compensar declínios em campos existentes, em vez de atender ao aumento da demanda que seria suprida em grande parte pelos renováveis.

Estimativa de frotas de carros elétricos em 2010. WEO-2017
Assim, a AIE entende que a manutenção de uma produção maior de petróleo por parte dos EUA e um incremento mais rápido da entrando mercado dos carros elétricos, poderia manter os preços do petróleo mais baixos por mais tempo. 

O apoio de diversas políticas de incentivo e infraestrutura pode impulsionar uma expansão muito mais rápida na frota global de carros elétricos, que poderia se aproximar de 900 milhões de carros em 2040.

Além de uma hipótese favorável sobre a capacidade das principais regiões produtoras de petróleo de enfrentar a tempestade de menores receitas de hidrocarbonetos, isso é suficiente para manter os preços dentro de uma faixa de US $ 50-70 / barril até 2040. No entanto, não seria suficiente desencadear uma grande reviravolta no uso global de petróleo.


E o Brasil pós-golpe neste cenário?
Primeiro há que se considerar algumas questões:
1 - A redução do crescimento da demanda por petróleo é diferente de dizer que haverá redução da demanda, e sim o seu crescimento, porque a previsão é que boa parte do aumento do consumo de energia seja atendida cada vez mais pela energia renováveis.

2 - O aumento da frota de carros elétricos não dá conta da redução do peso do transporte na matriz de consumo de energia, considerando que se tem os veículos maiores, caminhões, navios (que consomem cada vez mais) e aviões cujo horizonte do uso de baterias ainda não é visível.

3 - Que assim, se terá ainda que pouco, mas um aumento do consumo de óleo, mesmo que o gás amplie a sua participação na matriz de consumo e isto seja benéfico, pela questão ambiental, especialmente quando substitui o carvão e também o próprio óleo, mesmo que também pela origem fóssil.
Redução das descobertas reservas de petróleo no mundo baixam ao maior
nível em 65 anos, desde 1952. Fonte: Bloomberg em 10 jan. 2017. [6]

4 - As descobertas de petróleo no mundo estão se tornando escassas e que está cada vez mais caro encontrar petróleo no mundo. Além disso, é importante relembrar que cerca de 90% das reservas mundiais de petróleo e gás estão, ainda, sob o controle de estatais de petróleo (National Oil Corporations - NOCs), embora a pressão e a geopolítica (com ou sem golpe, com conflitos bélicos ou guerras híbridas) esteja levando cada vez mais as nações centrais (e suas corporações petroleiras) a buscarem formas para acessarem estas reservas com apoio político a grupos internos de poder para a venda e as privatizações dos ativos das NOCs.

5 - Considerando ainda que os conflitos nos países produtores no Oriente Médio - região que ainda tem a maior reserva do mundo - não dão sinais de que vão se reduzir. Que o avanço da produção de petróleo nos EUA - disparado o maior consumidor mundial - continuará a não dar conta da sua enorme demanda.

6 - No meio de tudo isto não se pode deixar de enxergar a enorme oportunidade que o Brasil teria com as suas reservas do pré-sal, a maior fronteira de petróleo descoberta na última década e que possui seis dos dez maiores campos descobertos neste período no mundo.

7 - É de se lamentar que o governo golpista que assumiu o Brasil, em 2016 siga entregando, de forma vil, o que talvez possa ser a nossa grande oportunidade neste século que já se aproxima do fim do seu primeiro quinto (20 anos). Oportunidade de usar nossas riquezas e recursos minerais para alavancar e dar o salto que pudesse reduzir, com políticas públicas inclusivas e permanentes, as desigualdades sociais. 

Desta forma o Brasil poderia, saltar para a condição de uma nação média estrategicamente importante, no meio dos novos alinhamentos mundiais e da nova geopolítica que se desenha no mundo, onde mais uma vez, a energia que movimentou lubrificou o capitalismo mundial, nestes dois últimos séculos, continuará com novas transformações (aumento do uso da eletricidade e GN) será elemento chave e estratégico. 

A pergunta que surge é se haveria tempo para um reversão deste quadro a partir de 2019?


Referências
[1] World Energy Outlook (WEO 2017). Agência Internacional de Energia (AIE).  Disponível em: http://www.iea.org/bookshop/750-World_Energy_Outlook_2017

[2] Artigo no blog em 11 jul. 2016. A ampliação do poder estratégico e geopolítico do Gás Natural (GNL) na matriz energética mundial. Disponível em:
http://www.robertomoraes.com.br/2016/07/a-ampliacao-do-poder-estrategico-e.html

[3] Nota no blog em 30 nov. 2016. Pela 1ª vez na história os EUA exportam mais gás que importam. O que isto tem a ver com o Brasil? Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/11/pela-1-vez-na-historia-os-eua-exportam.html

[4] Tese do blogueiro defendida no PPFH-UERJ: “A relação transescalar e multidimensional “Petróleo-porto” como produtora de novas territorialidades”. Disponível na Rede de Pesquisa em Políticas Públicas (RPP)-UFRJ: http://www.rpp.ufrj.br/library/view/a-relacao-transescalar-e-multidimensional-petroleo-porto-como-produtora-de-novas-territorialidades

[5] Key world energy statistics. 97 p. Disponível em: http://www.iea.org/publications/freepublications/publication/KeyWorld2017.pdf

[6] Matéria da Bloomberg em 10 jan. 2017. Oil Discoveries Seen Recovering After Crashing to 65-Year Low. (Descobertas de petróleo depois de se recuperarem baixam no maior nível em 65 anos, desde 1956). MIKAEL, Holter. Disponível em: https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-01-10/oil-discoveries-seen-recovering-after-crashing-to-65-year-low

domingo, novembro 12, 2017

Receitas dos municípios com royalties + PE nos últimos 5 anos. Em 2017, Maricá passa a ser o maior município petrorrentista do Brasil

Com o repasse das Participações Especiais (PE) feita nesta sexta (10/11) pela ANP aos municípios em função da produção nos maiores campos de petróleo, como informamos em nota abaixo (aqui), foi possível elaborar uma tabela com a estimativa das receitas de royalties + PE do ano de 2017, para os municípios fluminenses de maior arrecadação.

A pedido do blog, Wellington Abreu, ex-superintendente de Petróleo do município de São João da Barra e consultor que atua na área, elaborou uma tabela estimando um aumento de receita de 15% para a quota de royalties de novembro de 2017 e de 8% para dezembro deste ano.

Assim, foi possível elaborar também uma tabela com as receitas de Royalties + Participações Espaciais (PE) destes municípios nos últimos anos entre 2013 e 2017 que segue abaixo.




































Campos até 2016, o maior município petrorrentista do Brasil com média anual de R$ 1 bilhão
Em, 2017, O destaque em termos de receitas totais é par ao município de Campos dos Goytacazes que entre 2013 e 2017 deve fechar com cerca de R$ 4,139 bilhões, sendo 3,3 bilhões, ou cerca de 80% disto entre 2013 e 2015. Apenas cerca de 20% do total de R$ 4,1 bilhões de receitas de Campos entre 2013-2017, ou R$ 847 milhões, foi recebido nos dois últimos anos (2016-2017), sendo que neste ano de 2017, deve fechar com receitas de royalties + PE de R$ 469 milhões que é 24% acima da receita de 2016 que foi de R$ 378 milhões.

Pela tabela abaixo se vê que o ano de maior receita de Campos dos Goytacazes com royalties + PE foi em 2013 com R$ 1,309 bilhão, quase o triplo do que será a receita de 2017. Porém, se observarmos os anos anteriores a 2013 veremos que a maior receita anual foi em 2012 com R$ 1,235 bilhão.

Neste período a receita dos royalties em Campos dos Goytacazes chegou a superar 70% de todo o orçamento municipal. Aliás, em 2010, já tinha sido bilionária com R$ 1,016 bilhão. Em 2011 ela subiu para R$ 1,235 bilhão. Assim, no caso de Campos, que até 2016 teve a maior receita de royalties + PE do ERJ, se ampliarmos o período de observação para 8 anos (de 2010 -2017) termos a colossal quantia de R$ recebida de 7,7 bilhões. Ou uma média anual de quase R$ 1 bilhão.


A partir de 2017, Maricá supera Campos como o maior município petrorrentista do Brasil
Outro destaque é a evolução da receita do município de Maricá que na soma das quotas dos royalties mais Participações Especiais (PE), em 2017, com R$ 744 milhões pela primeira vez passou a receita dos municípios de Campos dos Goytacazes ((R$ 469 milhões) e Macaé com R$ 401 milhões.

Há apenas 5 anos, em 2013, as receitas de royalties + PE de Maricá foi cinco vezes menor com  o valor de R$ 144 milhões. Em.2010, a receita de Maricá com royalties + PE era de apenas R$ 36,9 milhões. Resta avaliar e torcer para que Maricá não siga o mesmo caminho de gastos dos municípios petrorrentistas do Norte Fluminense, como Campos e Macaé.

Como já comentamos diversas vezes, o aumento das receitas de royalties + PE de Maricá se deve ao aumento da produção e à produtividades dos poços e campos da Bacia de Santos e do pré-sal no litoral ao sul, na altura da região metropolitana fluminense. 

O mesmo acontece em relação ao município de Niterói que nas receitas Royalties + PE passou a ser segunda maior do país na frente Campos e e Macaé. Em 2017, atingiu R$ 612 milhões, quase duas e vezes e meia maior que estas mesmas receitas em 2016, quando foi de R$ 258 milhões.


A mudança espacial dos municípios petrorrentistas de Campos-Macaé para Maricá e Niterói
Esta mudança espacial reflete uma redução desta receitas nos municípios petrorrentistas do Norte Fluminense, ligados aos poços e campos mais maduros e há um bom tempo em produção da Bacia de Campos (que teve seu auge entre os anos de 2011 e 2014 com R$ 5,186 bilhões), em direção à região metropolitana contemplando os municípios da região metropolitana que faturam pela alta produção e produtividade nos campos da Bacia de Santos e das reservas do Pré-sal.Veja abaixo o mapa que retrata a mudança espacial da petrorrenda no ERJ:





























A classificação dos municípios fluminense pelo volume das petrorrendas entre 2013-2017 
Pelas receitas torais dos municípios petrorrentistas fluminenses no período de 2013-2017 se pode identificar variações muito significativas entre Campos com R$ 4,1 bilhões, como a maior receita e Carapebus em décima quarta maior receita de royalties no ERJ:

1) Campos dos Goytacazes - 4.139,4 bilhões; (quase o dobro do segundo que é Macaé);
2) Macaé - R$ 2.156,1 bilhões;
3) Maricá - R$ 1.697,1 bilhão;
4) Niterói - R$ 1.449,4 bilhão;
5) Rio das Ostras - R$ 1.019,7 bilhão;
6) Cabo Frio - R$ 1.014,1 bilhão;
7) São João da Barra - R$ 862,4 milhões;
8) Rio de Janeiro - R$ 576,7 milhões;
9) Casimiro de Abreu - R$ 379,0 milhões;
10) Parati - R$ 362,2 milhões;
11) Quissamã - R$ 352,1 milhões;
12) Armação de Búzios - R$ 301,3 milhões;
13) Arraial do Cabo - R$ 194,4 milhões;
14) Carapebus - R$ 151,98 milhões.


Para além da questão econômica da renda dos royalties para os municípios
Já comentamos algumas vezes neste blog, sobre a importância do conceito de Economia dos Royalties e Economia do Petróleo para melhor entender o desenvolvimento dos municípios que fazem parte do Circuito Espacial do Petróleo e dos Royalties no Norte Fluminense.
Há municípios que construíram uma base produtiva ligada à cadeia do petróleo e assim passaram a usufruir desta cadeia e assim chamamos daqueles que vivem a Economia do Petróleo.

Outros vivem basicamente dos royalties, são petrorrentistas e passaram a depender das receitas dos royalties do petróleo como é o caso em especial do município de Campos dos Goytacazes. sendo que estes segundos não existiriam sem os primeiros, mas eles possuem características distintas.

Assim, é possível dizer que hoje, Macaé e agora SJB vivem das duas economias. Os municípios que possuem empresas ligadas ao setor petróleo passaram a ampliar as receitas de ISS e até IPTU dos municípios para além dos royalties do petróleo.


Os royalties para o o bem e para o mal mexem com a vida dos municípios
A petrorrenda produz uma série de alterações nestes municípios em várias dimensões e não apenas econômica. Mudanças sociais, impactos ambientais, forma de organização política e de gestão governamental, infraestrutura, custos dos serviços, moradia, oferta de educação e serviços de saúde, etc.

No geral, pode-se dizer, sem errar que de uma forma geral estes recursos foram muito mal utilizados, sem considerar a sua finitude. Pior sem conseguir realizar um planejamento de longo prazo, considerando que se trata de um bem inter geracional que levou milhões de anos para existir, como é o caso do petróleo.

É verdade que as demandas sociais e de infraestruturas dos municípios eram e continuam a ser enormes, o que ajuda a pressionar para o uso imediato dos recursos dos royalties.

Porém, estas significativas receitas ofereceram um enorme poder aos prefeitos para a gestão destes recursos, que acabaram sendo mais utilizados na manutenção deste poder do que no aperfeiçoamento das gestões municipais.

Para efeito de outras análises e estudos mais detalhados o blog disponibiliza a outra tabela produzida pelo Wellington Abreu, com dados da ANP, detalhando os valores recebidos a título dos royalties (quota mensal) e de Participações Espaciais (PE que são quotas quadrimestrais pagas apenas por campos de maior produção) entre os últimos 5 anos (2013-2017).
















Vale ainda considerar e relembrar que neste último ano de 2017 (que ainda não acabou, se optou por trabalhar com uma estimativa das receitas dos royalties com correção de 15% para a quota de novembro, em relação a outubro e de 8% para quota de dezembro deste ano.

É uma estimativa média, já que a produção dos campos varia ao longo do tempo, também com paradas de manutenção de plataformas e os cálculos dos royalties e PE variam também com o preço internacional do barril de petróleo e do dólar (câmbio).

sábado, novembro 11, 2017

Censo do Ensino Superior 2016: Campos com 19,8 mil universitários. E a qualidade?

O blog com apoio do professor José Carlos Salomão que tabula anualmente os micro-dados do Inep/MEC, vem acompanhando a evolução das matrículas nas graduações nas diversas instituições de ensino superior em Campos dos Goytacazes e demais municípios fluminenses, desde o ano 2000.

Assim, apresentamos abaixo uma tabela com os dados do número de matrículas das 12 instituições que atuam no município de Campos dos Goytacazes, sendo 4 públicas (IFF; UFF; ISEPAM e UENF) e oito particulares (Isecensa; Uniflu; FMC; Estácio; Universo; FACRedentor e FABERJ). Eles mostram a evolução do ano 2003 até o ano de 2016, quando o município atingiu o número de 19.850 matrículas no ensino superior. Os dados deste último Censo (2016) foram há poucos dias disponibilizados pelo Inep/MEC.

A instituição com a maior quantidade de matrículas em Campos dos Goytacazes é a Universidade Estácio de Sá com 3.568 matrículas (4,8% a mais que no a o anterior de 2015). O Instituto Federal Fluminense (IFF) vem em segundo lugar com 3.172 alunos matriculados, com o percentual de 21,7% a mais do que no ano anterior, em função da criação de novos cursos e turmas.

Em 2016, a soma das matrículas nas quatro instituições públicas equivalem a 40% do total 60% das matrículas nas oito instituições particulares. Assim, continuam crescendo em relação as matrículas nas instituições particulares, embora em proporção menor, já quem 2015, estes percentuais foram de 39% de matrículas nas instituições públicas x 61% nas instituições particulares. [1]

Abaixo apresentamos a tabela montada para o blog, pelo professor José Carlos Salomão com dados dos anos 2003; 2008; 2013; 2014; 2015 e 2016. Vale observar que o ano que o município de Campos teve a maior quantidade de alunos matriculados na graduação foi em 2008 com 21.244 universitários na graduação.






















Em 2013, tinha caído para 17 mil e depois vem se mantendo próximo dos 20 mil universitários, fora as matrículas no ensino à distância (EaD) e na pós-graduação, tipo lato-sensu (especialização e sctricto-sensu: mestrado e doutorado) onde se estima um número anual em trono de 5 mil matrículas.

É possível ainda identificar uma regularidade no número de matrículas da maioria das instituições, o que parece interessante, em função da crise econômica e da superação de uma situação, onde uma importante parcela das matrículas nas instituições privadas eram bancadas por bolsas pagas pelas prefeituras.

Entre 2004 e 2006, só a Prefeitura de Campos chegou a bancar mais de 9 mil bolsistas, a maioria com valor integral. Hoje, a quantidade de bolsas é relativamente pequeno, em relação ao total de quase 12 mil universitários nas instituições privadas. É certo também que uma boa parte deste público passou a ser atendida pela enorme expansão do programa FIES criado e ampliado nos governos Lula e Dilma.

Dois outros dados são ainda importantes de serem ressaltados:

1) A demanda por cursos universitários agora parece atender a um fluxo de quem já vem estudando nos níveis anteriores. Nos primeiros anos da ampliação das vagas, muitas delas eram preenchidas pela demanda reprimida de quem não pode ir estudar fora e já estava no mercado de trabalho e com um pouco mais de idade.

2) Também nos últimos anos, foi possível observar que o atendimento de universitários que moram de outros municípios, pelas vagas ofertadas em Campos se reduziu. Uma boa parte desta demanda passou a ser atendida pela expansão de outros polos de ensino regionais em Itaperuna, Macaé e cabo Frio. Com isso cresceu o atendimento a alunos dos municípios mais próximos do Norte Fluminense (São Fidélis, Cardoso Moreira, SJB, SFI) e ainda de uma parte do sul do estado do Espírito Santo. Sobre este assunto o blog voltará a comentar e detalhar em outra postagem.

Para fechar esta postagem vale ainda observar que a concorrência entre as instituições privadas pela oferta de matrículas no ensino superior tem sido mantida, até aqui, sem fusão, aquisição e incorporação.

Há um atendimento até certo ponto diversificado, em termo de ofertas de curso e ainda com a criação e manutenção de cursos de especialização. Estes possuem duração de apenas um ano e garantem bom retorno financeiro para as instituições que mantém relação com seus ex-alunos. Porém, é possível ainda observar ações de algumas instituições visando ocupar espaços da concorrência, com a incorporação de alunos das concorrentes.

Um outro importante tópico sobre o ensino superior a ser observado também em Campos dos Goytacazes, é sobre a qualidade do ensino. Tema que merece ser abordado e aprofundado na medida em que, praticamente, apenas as instituições públicas desenvolvem projetos robustos e amplos de pesquisa e extensão, enquanto a maior parte das instituições privadas mantêm apenas aulas para os seus alunos.

Além disso, as instituições privadas praticamente não possuem em seus quadros professores com dedicação exclusiva à instituição. Fato que dificulta ainda mais, ou quase impede, o desenvolvimento de programas e projetos de pesquisa e extensão que qualificam e enriquecem o processo de ensino e aprendizagem, no conhecido e virtuoso tripé da academia.


Referências:
[1] Postagem do blog sobre o Censo no anos anteriores. Em 23 nov. 2016.
Campos aumenta nº estudantes no Ensino Superior para 19,3 mil matrículas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/11/campos-aumenta-n-estudantes-no-ensino.html

Em 1 de mar. 2016. Campos possui 18 mil alunos no Ensino Superior. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/03/campos-possui-18-mil-alunos-no-ensino.html

Em 18 de ago. de 2015. Ensino superior em Campos perde 4 mil matrículas em 5 anos. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/08/ensino-superior-em-campos-perde-4-mil.html?m=1

Em 31 jul 2015. Campos tem 17,1 mil alunos matriculados no Ensino Superior. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/07/campos-tem-171-mil-alunos-matriculados.html

quinta-feira, novembro 09, 2017

Em repasse que será feito amanhã, Maricá fica com a maior Participação Especial (PE) do petróleo com R$ 116 milhões, quantia quatro vezes maior que Campos

A ANP deposita amanhã (10/11/2017) aos municípios e estados produtores a última quota quadrimestral do ano de 2017 das Participações Especiais (PE), pela produção de petróleo dos campos com grande produtividade:
















Na tabela acima elaborada por Wellington Abreu, que acompanha de forma permanente os dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), é possível ver que a maioria dos municípios teve um aumento da quota a ser repassada em função, especialmente, do valor do barril de petróleo neste último quadrimestre do ano.

Na região Norte Fluminense a maior parcela de repasses em valores absolutos coube ao município de Campos dos Goytacazes com R$ 28,3 milhões, e em segundo lugar, ao município de São joão da Barra com R$ 7,6 milhões.

Em todo o ERJ, mais uma vez, o destaque dos repasses de PE coube ao município de Maricá com R$ 116 milhões, seguido de Niterói com R$ 102 milhões, valores próximo do total anual recebido pelo município de Campos dos Goytacazes (em PE) com cerca de R$ 125 milhões. O fato se deve à enorme produtividade dos campos produtores da Bacia de Santos e do Pré-sal. 

quarta-feira, novembro 08, 2017

Ferrovia Vitória-Rio sua viabilidade, interesses e impactos para as regiões envolvidas

Hoje os governadores dos estados do RJ, Pezão e do ES, Paulo Hartung, se encontraram no Porto do Açu e seus diretores, mais autoridades locais fluminenses.

Os governadores e seus assessores voaram das capitais dos seus estados para escrever uma carta para Temer que segue apenas preocupado em se segurar no cargo.

Os governadores solicitam ao governo federal que o projeto da Ferrovia ligando Vitória ao Rio, articulando diversos portos por este litoral, seja colocado para andar. É uma ferrovia com extensão de 577,8 km (170 km no ES e 407 no ERJ, aproximadamente 1/3 no ES e 2/3 no ERJ) num projeto que demanda investimentos estimados em R$ 7,8 bilhões.

Os arquivos do blog que há dois anos acompanhou em detalhes as três das quatro audiências públicas sobre o assunto, estão tendo nos dois últimos dias, uma imensa quantidade de acessos. Aqueles que desejarem ter acesso às postagens podem clicar aqui, aqui, aqui, aquiaqui e aqui. [1]

A ferrovia é um modal indispensável ao transporte de cargas e de interligação aos sistemas portuários. Este projeto da Ferrovia Vitória-Rio integra a região Sudeste e articula ainda os outros dois estados da região que é economicamente a mais desenvolvida do país. Por isso o projeto tem potencial enorme interligando portos capixabas, fluminenses e paulistas também às bases produtivas do estado de Minas Gerais.

Minas Gerais já possui ramais ferroviários funcionando para o transporte de minério de ferro que assim chega até os portos de Tubarão no Espírito Santo e Itaguaí, no Sul Fluminense, que por sua vez já está interligado ao maior porto contêinero do país que é o de Santos.


A importância de uma ferrovia em termos econômicos e seus impactos
O traçado referencial da Ferrovia Rio-Vitória atravessa 25 municípios em 577,8 Km prevê um total de 6 túneis, 43 viadutos ferroviários, 130 pontes, 128 viadutos rodoviários, 117 passagens inferiores e 60 passarelas.

A ferrovia é uma infraestrutura de transporte que na economia é tratada como Condições Gerais de Produção que permite os empreendimentos se articularem economicamente e se desenvolvam.

Considerando a demanda já existente a movimentação de cargas nesta região Sudeste pode-se afirmar tratar-se de um tipo de empreendimento que cabe ao empreendedor privado realizar em troca da remuneração que a sua utilização trará com esta moderna e ágil logística.

Com a ferrovia os dois estados ampliarão sua integração dentro da região Sudeste e crescerão seus papeis como centro de logística, que complementa a economia de Minas Gerais. Porém, do lado dos cidadãos que moram nestes estados, há que se ter cuidado com os impactos socioambientais decorrentes da sua implantação. 

Infelizmente é muito comum a luta dos investidores/implantadores para reduzir os custos dos investimentos com cortes e reduções no projeto. Assim, túneis e viadutos são substituídos por passagens de níveis sempre problemáticas e de riscos para as comunidades. Contornos das áreas urbanas são suprimidas aumentando os riscos, considerando que o transporte cargas em bitola larga é sempre feito em maiores velocidades.

Matéria da FSP em 07/11/2017. [2].
De alguma forma tudo isto já consta das postagens anteriores, incluindo aí o pleito de que esta ferrovia não seja apenas para o transporte de cargas, mas atenda também à mobilidade para o transporte de pessoas, assunto que fiz questão de colocar publicamente, nas diversas audiências que fiz parte em 2015. [1-e]


Por que se lembra sempre dos chineses?
Porém, o que cabe perguntar hoje é porque este projeto não interessou aos investidores sejam do Brasil ou do exterior?

Os chineses foram sondados várias vezes e são especialistas (juntos com os russos) em construir ferrovias, que basicamente se trata de duas partes essenciais: as vias (linhas) e o material rodante.

Os chineses têm imenso interesse em negócios no Brasil, como pode ser visto aqui numa matéria de ontem da Folha de São Paulo que fala em investimentos chineses de R$ 35 bilhões no Brasil, valor cinco vezes maior do que o necessário para construir e implantar os 577 km desta ferrovia.

Em diversas partes do mundo, os chineses preferem investir em empreendimentos complementares e que facilite a ligação com suas bases produtoras na Ásia e preferencialmente, que seja complementar à sua economia. 

Por isso, no Brasil, a preferência dos chineses é para os negócios em energia (petróleo e energia elétrica) e alimentos (que equivale indiretamente à importação também de água) e de forma complementar e não menos importante, em infraestrutura de transporte (ferrovias e portos).

Este tipo de investimentos permitem ganhos nos serviços de logística barateando os custos para levar os produtos comprados para a China. Os casos de investimentos do infográfico ao lado da matéria da FSP, ontem [2] reforça esta interpretação.

Na Europa é comum ver as empresas chinesas possuírem os navios que transportam produtos e levam importações. Estas são vinculadas a outras corporações chinesas que são concessionários dos terminais portuários que fazem este desembaraço logístico. Ainda articulado aos terminais portuários os chineses costumam implantar grandes galpões de logística (ZAL- Zona de Apoio Logístico) junto à retroárea. Nos ZALs, eles além de armazenam e montarem a  logística de distribuição dos produtos trazidos da China, algumas vezes, eles também complementam com a etapa final da fabricação dos itens exportados desde à Ásia, o que demonstra a sofisticação e complexidade da reestruturação produtiva no mundo contemporâneo.


Por que o Porto do Açu parece atrair pouco os chineses?
Por tudo isto, para o Porto do Açu, a ferrovia Vitória-Rio teria enorme potencial para agradar aos chineses, mas eles não abrem mão de possuírem também o controle sobre terminais portuários. É com esta integração intermodal entre seus negócios (bases) no Brasil e a interligação com os seus portos na China que eles ampliam a escala dos seus ganhos. 

Diante desta realidade, não é difícil compreender que neste caso parece haver aí várias questões que embaralham os interesses dos chineses, que estão muito mais articulados em bases no Centro-oeste e no Sul do Brasil. 

Além disso, o fato do Porto do Açu ser hoje controlado majoritariamente (hoje quase totalmente) por um fundo americano, o EIG Global Energy Partners pode ser um problema a mais considerando as dificuldades criadas pelo Trump. 

Ainda há que ser considerado que, observando outros empreendimentos hoje instalados junto ao porto permite que se veja no mesmo quase um condado em terras brazilis. 

No Açu está o grupo americano Edison Chouest com uma base de apoio às operações de exploração de petróleo offshore que tende à Petrobras, mas também à petroleira também americana Chevron e possivelmente, adiante também à Esso que ganhou o direito, no último leilão para explorar áreas na Bacia de Campos. 

A Edison Chouest também opera no Brasil a empresa de afretamentos marítimo Bram Offshore que possui dezenas de contratos de embarcações no Brasil. Além destas há ainda a FMC-Technip surgida da recente fusão da americana FMC com a francesa Technip que no Açu fabrica tubos flexíveis usados na exploração de petróleo offshore. 

Por tudo isto, há que considerar que hoje, o investimento chinês na ferrovia Vitória-Minas, a despeito das questões geopolíticas, agrega mais valor e condições gerais de produção aos interesses comerciais americanos que chineses. 


Este tipo de negócio imbricado vai muito para além de "cartas e voluntarismos" 
Não se pode entender esta questão - que não depende de "missivas" - sem ligar as diversas pontas da economia globalizada feita por interesses de capitais que só aporta no território, com a implantação de infraestruturas, quando esta está articulada à sua produção material e a uma maior rentabilidade dos seus negócios.

Na outra ponta da ferrovia, há que se saber que do lado do Espírito Santo, com o ramal de aproximadamente 140 km de Vitória até Presidente Kennedy, onde está em fase final de licenciamento o projeto do Porto Central, há uma tratativa feita com a empresa Vale. 

A Vale hoje possui a concessão da ferrovia Vitória-Minas que liga Belo Horizonte e o Quadrilátero Ferrífero ao Porto de Tubarão em Vitória, ES. Esta concessão está próxima de se encerrar e a Vale tem interesse em ampliar por mais algumas décadas seu contrato junto à ANTT. 

Uma das hipóteses discutidas pelo governo capixaba junto à União e à ANTT é a de negociar com a Vale mais 40 anos de concessão, para ter em contrapartida, a construção da parte da ferrovia que fica no Espírito Santo, interligando assim, o Porto de Tubarão ao sul do estado, onde se planeja o Porto Central. 

Estima-se que este trecho tenha um custo entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões, valor perfeitamente absorvível por uma empresa do porte da Vale. Assim, a mineradora ampliaria o prazo de concessão da Vitória-Minas que o que mais lhe interessa, o mesmo tempo ganharia um novo ramal ferroviário, que pode vir a agregar outros valores e resultados, para além do atual uso do Porto Tubarão.


Os interesses comunitários nestes grandes projetos exigem ordenamento territorial
Enfim, considerando os interesses capitalistas e a forma como o capital se movimenta em seu processo de formação de valor - e aumento de rentabilidade - há que se entender que, mesmo diante de um Brasil pós-golpe - e entregue completamente ao mercado-, a implantação de infraestrutura vai muito para além de desejos voluntaristas de quem não consegue ligar as várias pontas de interesses.

Pior, é que muitas das pessoas e autoridades que se envolvem nestas questões, quase nunca observam, onde em tudo isto, estão os interesses das comunidades envolvidas. Os interesses destas comunidades regionais devem ir muito para além da geração de empregos, pois estes são decorrência da rentabilidade antes apurada pelos investidores, sendo portanto consequência para eles. 

Grandes Projetos de Investimentos (GPI) carecem de um plano de ordenamento territorial que leve em conta as pessoas e a vida em comunidade. Assim, os gestores locais, regionais e estaduais precisam ter uma visão mais ampla como gestor estatal para mediar os interesses entre os interesses da população e os lucros dos investidores. 

Abaixo o blog republica uma lista de estações previstas no projeto da ferrovia Vitória-Rio em seus quase seiscentos quilômetros de extensão. Com esta postagem estimulamos o debate para além dos interesses econômicos que movem estes projetos.


Referências:
[1] Matéria mais recentes do Blog do Roberto Moraes sobre as audiências públicas e do projeto da ANTT da nova Ferrovia Vitória-Rio. 

a- Audiência Pública sobre ferrovia Vitória-Rio (EF 188) hoje em Campos: mais informações
Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/07/audiencia-publica-sobre-ferrovia.html  

b - Mais sobre a Audiência pública da ANTT sobre a Ferrovia Vitória-Rio (EF-118). Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/07/mais-sobre-audiencia-publica-da-antt.html

c - Traçado e alguns detalhes do projeto da Ferrovia Vitória-Rio. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/07/tracado-e-alguns-detalhes-do-projeto-da.html

d - Mais sobre o traçado da Ferrovia Vitória-Rio (EF-118) em SFI, SJB e Campos. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/07/mais-sobre-o-tracado-da-ferrovia.html

e - O transporte regional de passageiros na ferrovia é viável técnica e economicamente - só não existirá por desmobilização comunitária e política. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2015/07/o-transporte-regional-de-passageiros-na.html

f - Sobre o interesse dos chineses no projeto da ferrovia Peru-Açu. Disponível em:
 http://www.robertomoraes.com.br/2015/07/sobre-o-interesse-dos-chineses-no.html

[2] Matéria da Folha de São Paulo em 07 nov. 2017. HIRATA, Taís. China investe R$ 35 bi no país e consultores preveem mais aportes. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/11/1933341-china-investiu-r-35-bi-no-pais-e-consultores-preveem-mais-aportes.shtml

Anexo
Quadro das Estações ferroviárias previstas no projeto no trajeto Vitória-Rio:
Localização das Estações segundo o Estudo da Sysfer - ANTT - Distância aproximada entre as estações: 25 quilômetros.