quarta-feira, novembro 15, 2017

AIE reafirma que “a era do petróleo ainda não acabou”, reforça a importância crescente do GNL, mesmo com avanço dos renováveis. E o Brasil neste cenário?

A Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou a edição 2017 da World Energy Outlook (WEO-2017) ( 2017). [1] Trata-se da principal publicação da AIE. Em síntese, a edição 2017 afirma que a procura mundial de petróleo diminuiu, mas não será revertida antes de 2040, mesmo quando as vendas de carros elétricos aumentarem significativamente.

Tendências
Ainda segundo, o WEO 2017, nas próximas duas décadas, o sistema energético global estará sendo reformado por quatro grandes forças:

1 - Os EUA evem se tornar líderes em petróleo e gás no mundo;
2 - As energias renováveis estão sendo implantadas rapidamente graças à queda de custos;
3 - A participação da eletricidade no mix de energia está crescendo;
4 - A nova estratégia econômica da China deve levar a um modo de crescimento mais limpo, com implicações para os mercados mundiais de energia.

A energia solar está configurada para liderar as adições de capacidade, empurradas pela implantação na China e na Índia, enquanto isso na União Europeia, a eólica se tornará a principal fonte de eletricidade logo após 2030.

Segundo Fatih Birol, diretor executivo da AIE:

1 - “A energia solar está avançando nos mercados de energia globais, uma vez que está se tornado a fonte mais econômica de geração de eletricidade em muitos lugares, incluindo China e Índia".

2 - "Os veículos elétricos estão na pista rápida como resultado do apoio do governo e da queda dos custos da bateria, mas é muito cedo para escrever o obituário de petróleo, já que o crescimento para caminhões, aviação, petroquímica, transporte e aviação continuam a aumentar a demanda. Eles elevam a demanda de petróleo para 105 milhões de barris por dia até 2040.

Segundo a americana AIE, os EUA se tornarão o líder incontestável da produção de petróleo e gás por décadas, o que representa uma grande agitação para a dinâmica do mercado internacional.

A produção de petróleo de xisto e gás nos Estados Unidos avançou na redução de custos e administrou internamente, a pressão que o setor de xisto (shale) sofre para impedir as limitações dos órgãos de controle ambientais. 


O papel estratégico do GNL (ou LGN) para os EUA e para o mundo
Neste espaço temos chamado a atenção desde o início do ano passado sobre papel estratégico que o Gás Natural e sua versão liquefeita (GNL ou LGN) terão na matriz mundial. [2] [3] 
Maiores produtores, exportadores e importadores de GN do mundo.
Fonte: Key world energy statistics, p.16/97. [5]


































Agora, o AIE através do WEO 2017, prevê que em meados da década de 2020, os EUA possam se tornar o maior exportador de GNL do mundo e um exportador de petróleo líquido até o final dessa década. Isso se deve à redução dos custos com as unidades de liquefação e regaseificação que deu mobilidade à energia de gás natural, com o uso de navios gaseiros, que podem substituir os pipelines (linhas de gás, ou gasodutos). Este fato vem mudando e ampliando a importância do gás natural em termos de estratégias na matriz mundial de energia.

Terminal de Sabrine Pass de GNL no estado
de Louisiana, EUA. Fonte: Cheniere E.I.
O assunto também foi tema de um dos subcapítulos (1.9. A relação entre os petróleo e o gás natural - também como poder estratégico e geopolítico)da tese desde blogueiro) da tese do autor deste blog defendida em março deste ano no PPFH-UERJ. [4]

Fato que também produz grande impacto nos mercados de petróleo e gás e desafia os fornecedores históricos e já provoca mudanças nos fluxos de comércio global, com consumidores na Ásia representando mais de 70% das importações mundiais de petróleo e gás até 2040. Os EUA acelerou este processo a partir, especialmente, de unidades instaladas em Sabrine Passe, na Louisiana, Golfo do México, EUA. Foto acima à direita. [2] e [4]


O avanço das energias renováveis
Ao mesmo tempo, a China promove uma revolução na produção de energia renováveis para reduzir seus problemas ambientais. Assim, está se tornando líder mundial em veículos eólicos, solares, nucleares e elétricos e a fonte de mais de um quarto de crescimento projetado no consumo de gás natural. À medida que o crescimento da demanda na China diminui, outros países continuam a aumentar a demanda global – com a Índia representando quase um terço do crescimento global até 2040.

Energia Solar. Estatísticas: Maiores produtores, maior capacidade instalada e % da energia solar
em relação ao toral em 2015. Fonte: Key world energy statistics, p.26/97. [5]



































Para a AIE, a era do petróleo ainda não acabou
A Agência Internacional de Energia (AIE) diz textualmente, na WEO-2017 que "a era do petróleo ainda não acabou". Diz mais: “com os Estados Unidos representando 80% do aumento do fornecimento mundial de petróleo até 2025 e mantendo a pressão descendente a curto prazo sobre os preços, os consumidores do mundo ainda não estão prontos para dizer adeus à era do petróleo.

"Até o crescimento da demanda no meio da década de 2020 continua robusto no cenário de novas políticas, mas diminui consideravelmente depois disso, uma vez que uma maior eficiência e troca de combustível derrubam o uso de petróleo para veículos de passageiros (mesmo que a frota de carros globais possa atingir 2 bilhões em 2040)".

"Um impulso poderoso de outros setores é suficiente para manter a demanda de petróleo em uma trajetória crescente para 105 milhões de barris por dia até 2040: o uso de petróleo para produzir produtos petroquímicos é a maior fonte de crescimento, seguido de perto pelo aumento do consumo de caminhões (as políticas de eficiência de combustível cobrem 80% das vendas globais de automóveis hoje, mas apenas 50% das vendas globais de caminhões), para a aviação e para o transporte”.

"Com a produção crescente de petróleo dos EUA e considerando ainda que até o final dos anos 2020 a produção não-OPEP não recuará, o mercado se tornará cada vez mais dependente do Oriente Médio para equilibrar o mercado.” É bom lembrar que o Brasil é considerado (produção não Opep). 

A AIE diz ainda que, há uma grande e contínua necessidade de investimentos para desenvolver a produção de 670 bilhões de barris de novos até 2040, principalmente para compensar declínios em campos existentes, em vez de atender ao aumento da demanda que seria suprida em grande parte pelos renováveis.

Estimativa de frotas de carros elétricos em 2010. WEO-2017
Assim, a AIE entende que a manutenção de uma produção maior de petróleo por parte dos EUA e um incremento mais rápido da entrando mercado dos carros elétricos, poderia manter os preços do petróleo mais baixos por mais tempo. 

O apoio de diversas políticas de incentivo e infraestrutura pode impulsionar uma expansão muito mais rápida na frota global de carros elétricos, que poderia se aproximar de 900 milhões de carros em 2040.

Além de uma hipótese favorável sobre a capacidade das principais regiões produtoras de petróleo de enfrentar a tempestade de menores receitas de hidrocarbonetos, isso é suficiente para manter os preços dentro de uma faixa de US $ 50-70 / barril até 2040. No entanto, não seria suficiente desencadear uma grande reviravolta no uso global de petróleo.


E o Brasil pós-golpe neste cenário?
Primeiro há que se considerar algumas questões:
1 - A redução do crescimento da demanda por petróleo é diferente de dizer que haverá redução da demanda, e sim o seu crescimento, porque a previsão é que boa parte do aumento do consumo de energia seja atendida cada vez mais pela energia renováveis.

2 - O aumento da frota de carros elétricos não dá conta da redução do peso do transporte na matriz de consumo de energia, considerando que se tem os veículos maiores, caminhões, navios (que consomem cada vez mais) e aviões cujo horizonte do uso de baterias ainda não é visível.

3 - Que assim, se terá ainda que pouco, mas um aumento do consumo de óleo, mesmo que o gás amplie a sua participação na matriz de consumo e isto seja benéfico, pela questão ambiental, especialmente quando substitui o carvão e também o próprio óleo, mesmo que também pela origem fóssil.
Redução das descobertas reservas de petróleo no mundo baixam ao maior
nível em 65 anos, desde 1952. Fonte: Bloomberg em 10 jan. 2017. [6]

4 - As descobertas de petróleo no mundo estão se tornando escassas e que está cada vez mais caro encontrar petróleo no mundo. Além disso, é importante relembrar que cerca de 90% das reservas mundiais de petróleo e gás estão, ainda, sob o controle de estatais de petróleo (National Oil Corporations - NOCs), embora a pressão e a geopolítica (com ou sem golpe, com conflitos bélicos ou guerras híbridas) esteja levando cada vez mais as nações centrais (e suas corporações petroleiras) a buscarem formas para acessarem estas reservas com apoio político a grupos internos de poder para a venda e as privatizações dos ativos das NOCs.

5 - Considerando ainda que os conflitos nos países produtores no Oriente Médio - região que ainda tem a maior reserva do mundo - não dão sinais de que vão se reduzir. Que o avanço da produção de petróleo nos EUA - disparado o maior consumidor mundial - continuará a não dar conta da sua enorme demanda.

6 - No meio de tudo isto não se pode deixar de enxergar a enorme oportunidade que o Brasil teria com as suas reservas do pré-sal, a maior fronteira de petróleo descoberta na última década e que possui seis dos dez maiores campos descobertos neste período no mundo.

7 - É de se lamentar que o governo golpista que assumiu o Brasil, em 2016 siga entregando, de forma vil, o que talvez possa ser a nossa grande oportunidade neste século que já se aproxima do fim do seu primeiro quinto (20 anos). Oportunidade de usar nossas riquezas e recursos minerais para alavancar e dar o salto que pudesse reduzir, com políticas públicas inclusivas e permanentes, as desigualdades sociais. 

Desta forma o Brasil poderia, saltar para a condição de uma nação média estrategicamente importante, no meio dos novos alinhamentos mundiais e da nova geopolítica que se desenha no mundo, onde mais uma vez, a energia que movimentou lubrificou o capitalismo mundial, nestes dois últimos séculos, continuará com novas transformações (aumento do uso da eletricidade e GN) será elemento chave e estratégico. 

A pergunta que surge é se haveria tempo para um reversão deste quadro a partir de 2019?


Referências
[1] World Energy Outlook (WEO 2017). Agência Internacional de Energia (AIE).  Disponível em: http://www.iea.org/bookshop/750-World_Energy_Outlook_2017

[2] Artigo no blog em 11 jul. 2016. A ampliação do poder estratégico e geopolítico do Gás Natural (GNL) na matriz energética mundial. Disponível em:
http://www.robertomoraes.com.br/2016/07/a-ampliacao-do-poder-estrategico-e.html

[3] Nota no blog em 30 nov. 2016. Pela 1ª vez na história os EUA exportam mais gás que importam. O que isto tem a ver com o Brasil? Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2016/11/pela-1-vez-na-historia-os-eua-exportam.html

[4] Tese do blogueiro defendida no PPFH-UERJ: “A relação transescalar e multidimensional “Petróleo-porto” como produtora de novas territorialidades”. Disponível na Rede de Pesquisa em Políticas Públicas (RPP)-UFRJ: http://www.rpp.ufrj.br/library/view/a-relacao-transescalar-e-multidimensional-petroleo-porto-como-produtora-de-novas-territorialidades

[5] Key world energy statistics. 97 p. Disponível em: http://www.iea.org/publications/freepublications/publication/KeyWorld2017.pdf

[6] Matéria da Bloomberg em 10 jan. 2017. Oil Discoveries Seen Recovering After Crashing to 65-Year Low. (Descobertas de petróleo depois de se recuperarem baixam no maior nível em 65 anos, desde 1956). MIKAEL, Holter. Disponível em: https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-01-10/oil-discoveries-seen-recovering-after-crashing-to-65-year-low

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