segunda-feira, outubro 10, 2016

A fase de colapso do ciclo do petróleo contribui para a ampliação da financeirização sobre o setor

Ao apresentar uma comunicação sobre o “ciclo petro-econômico” no seminário da Rede Iberoamerciana de Investigadores em Globalización y Territporio (RII) realizado na semana passada em Monterrey, no México - que o blog comentou abaixo (aqui) -, uma pergunta me foi feita sobre o papel que ainda teria as “sete irmãs”, (como são chamadas as grandes petroleiras privadas) sobre os negócios do setor no atual estágio da Economia Global.

Em resumo afirmei que a meu juízo estas corporações globais (Esso, Chevron, Shell, BP, etc.) ainda mantêm grande poder como petroleiras e operadoras, porém bem menor que antes, mesmo que forçando constantemente a oligopolização com aquisições de ativos ou empresas.

Há duas questões principais para entender este processo. Primeiro é compreender que o setor vive parte da reestruturação que atinge todo o setor produtivo.

Desta forma, antes estas corporações eram integradas do poço ao posto e também possuíam todas as estruturas de tecnologia e serviços para a viabilizar sua atividade principal. Hoje, não.

As grandes empresas especializadas em serviços e tecnologia de petróleo (Halliburton, Baker, FMC, GE, etc.) faturam tanto quanto estas, porque atendem também às fortes estatais petroleiras em todo o mundo.

Segundo, é que hoje quase todas destas grandes petroleiras possuem dívidas e ações controladas pelos fundos financeiros, o que confirma o avanço do processo de financeirização também sobre este setor.

E isto vale tanto para as petroleiras privadas, quanto as estatais que possuem grandes dívidas com o setor financeiro. Dívidas que durante esta fase de colapso de preços do barril de petróleo vão também se transformando em controle acionário.

Assim, hoje, mais que a ampliação dos oligopólios destas corporações globais do setor petróleo a novidade é o aumento do controle do sistema financeiro sobre as grandes petroleiras privadas.

O avanço dos fundos financeiros sobre o setor pode ser visto na aquisição da rede de gasodutos do sudeste da Petrobras, majoritariamente, comprado pelo fundo financeiro canadense Brookfield, junto com outros fundos asiáticos.

O caso vale ainda para os sistemas portuários que atendem a base de apoio para a exploração offshore e para o transporte do petróleo para as nações. Assim, o Porto do Açu é um destes exemplos, sendo hoje, de propriedade da Prumo, grupo controlado pelo fundo financeiro americano, EIG Global Energy Partners.

É oportuno recordar que os fundos financeiros possuem controle sobre outras atividades além de petróleo e portos. Como o setor naval e de geração de energia que são vinculados aos dois primeiros. Assim, os negócios relativos a estas áreas se concentram (verticalizam) e ampliam o poder do setor financeiro sobre a produção, o que explica a feroz pressão contra as exigências de conteúdo local.

Enfim, no atual estágio do capitalismo o processo de acumulação avança sobre os setores produtivos e as corporações do petróleo não ficam fora deste contexto. Nesta fase de colapso dos preços do barril e de perdas contábeis e grandes dívidas, os ativos da petroleiras ficam baratos.

Isto se dá também porque nesta fase, as nações produtoras vivem grandes desvalorizações cambiais. Assim, os fundo financeiros trabalham com visão anticíclica esperando nova fase de expansão, prevista para depois de 2020.

A grande preocupação é que em todo o mundo o avanço dos ganhos do sistema financeiro sobre o produtivo aumenta o interesse sobre o rentismo e sobre o aumento do valor, muito mais do que sobre a produção em si, quando da etapa anterior do capitalismo em todo o mundo. Isto se dá sobre as nações centrais quanto naquelas de capitalismo tardio como o Brasil.

Porém, neste setor específico a situação é mais grave pelo peso geopolítico que envolve o petróleo e a renda petrolífera que sempre foi motivo de disputa entre o Estado e as corporações. 

Assim, hoje esta disputa se dá entre o Estado e o sistema financeiro que atua fortemente na política cooptando e controlando os governos e, consequentemente os Estados-nações.

Desta forma, a articulação entre o sistema financeiro e as nações que disputam hegemonia agem sobre os estados-nação e se aproveitam de suas vulnerabilidades. 

Assim, com apoio dos novos líderes políticos destas nações, os fundos ampliar a captação dos excedentes de suas economias ao obter dos governos menores regulações que possam garantir maiores fluxos de capital em direção à suas matrizes.

Neste contexto é bem fácil entender a atual conjuntura do Brasil. Por ela se entende as estratégias sobre os quais se agem sobre o controle político do país e sobre os interesses comerciais que estão garantindo o acesso à nossa colossal reserva de petróleo do pré-sal, a maior fronteira de exploração de petróleo descoberta na última década em todo o mundo.

Um comentário:

aba disse...

Exelente visão atual , global e da situação brasileira nesse assunto.

Parabéns Roberto Moraes!