Na ausência
do livro “Goytacaz: paixão azul da cor do céu”, este blogueiro, como uma
singela e particular, homenagem a este tradicional clube, nesta sua passagem
dos seus 100 anos, resolveu trazer para este espaço uma pequena parte do relato
que tenta relatar a época e os movimentos da sociedade naquele período de agosto
de 1912, quando o Goyta foi criado.
Começo
relatando fatos e levantando uma hipótese. Antes é bom relembrar, que remexendo
na história, há quem defenda que a data para a criação do clube, é a do
padroeiro da cidade, 6 de agosto de 1912, que teria sido a data da primeira
reunião do grupo de pessoas intencionadas na criação do clube, e não 20 de
agosto, data que foi acertada em comum acordo a reunião seguinte, que, or usa
vez, agendou a data do primeiro jogo para o domingo seguinte, à reunião, dia 25
de agosto de 1912.
Parabéns
Goytacaz e à sua imensa torcida e voltemos ao relato de fatos e hipótese que
este blogueiro ousou fazer e aqui expor:
- Em 1906 foram criados os clubes de regata: Campista (10/06/1906) e o Saldanha da Gama (21/10/1906); em 1919 surge o C. R. Rio Branco, mais precisamente em 21/91/1919;
- No Futebol em 1912 são criados em Campos: Goytacaz 06 (20)/08/1912; Industrial (25/08/1912); Campos em 26/10/1912 e o Rio Branco em 05/11/1912. O Americano só é criado em 03/05/1914.
Observações:
a) Na regata, o Campista era o clube popular, o
Saldanha da Gama refletia na maior parte, os anseios da elite campista, enquanto,
o Rio Branco, os desejos de uma parte classe média: pequenos proprietários e
trabalhadores (empregados) que começava a surgir naquele período.
b) No futebol o Goytacaz era mais popular, mas também junto do
Campos. O Industrial tinha pouca torcida, o Rio Branco parte da classe média e
Americano como o Saldanha mais a elite.
Hipótese: É de
que os grupos sociais numa cidade disputam hegemonia e neste processo constroem
seus espaços de atuação no trabalho, na vida, na política, no lazer, etc. Mais
do que com ilusórios desejos de consenso é na disputa e no conflito que as
pessoas e suas identidades vão se formando, as coisas são construídas, as
relações são estabelecidas e confrontadas, as instituições criadas e as
comunidades vão se seguindo o seu caminho com erros e acertos, certamente, mas,
com a coragem que é o que se espera do cidadão diante da vida.
O que acontecia em 1912 no Brasil, no
Mundo e em Campos?
- Em fevereiro morria o Barão do Rio Branco;
- No mundo nos EUA Ford fazia seu primeiro carro;
- O Rio Paraíba era usado para passeios constituindo-se numa grande atração na cidade que acabou por contribuir para a criação do clube.
- O clube do Santos era criado em sua cidade.
- Campos possuía em 2012 cerca de 150 mil habitantes, sendo 110 mil no interior.
- Campos produzia 20% da produção nacional de açúcar. A safra de 1912 foi de 621 mil sacas de 60 Kg, sendo 70% vendidas para o Rio, 20% para Vitória e 10% para SP.
- Uma rádio era criada no Farol.
Como andavam as coisas e as pessoas
em nosso município de Campos:
A 4ª Conferência
Açucareira com a presença do presidente da Província do RJ, Oliveira
Botelho, foi realizada em Campos como forma de atenuar as reclamações regionais
de que aqui se trazia riqueza para o país, se arrecadava impostos e eles iam
para a capital da província e do país. Produtores de todo o país participaram
do evento, debatendo crédito agrícola, educação agrícola e industrial,
transportes, fretes, etc.
A cidade reivindicava melhoramentos, saneamento,
transporte local com novas linhas de trens, obras de infraestrutura, abertura
de ruas, calçamento, iluminação etc. Os preparativos do evento acontecem desde
a última semana de setembro, Oliveira Botelho chega à cidade no dia 28 de
setembro. Para dar conta destas demandas regionais foi criada uma taxa
adicional sobre o açúcar exportado de 2,5%.
O prefeito João Maria da Costa por conta dos problemas de
saneamento e das doenças proíbe comércio aos domingos e feriados. Há um
incêndio no famoso Café High-Life na rua 13 de maio e atinge também o Café
Americano. Polícia fecha cinema pornográfico também em bar também na rua 13 de
maio. Surge o lança-perfume e Ao Livro Verde oferece “máquinas falantes”... greve
na fábrica de tecidos reivindica farmácia na fábrica. Maçons unem várias lojas
e criam a Fraternidade Campista.
A igreja Boa Morte tem que ser recuada para alargamento da
rua Alberto Torres... a Fábrica de Tecidos Industrial Campista na Beira Rio se
remodela colocando 500 teares novos produzindo 20 mil metros de tecido por dia
com cerca de 1 mil operários. Abre-se fábrica de gelo também na Beira-Rio,
junto de tudo isto, o impaludismo (malária) assola a população que mora em
cerca de 4 mil prédios.
Também como resultado da Conferência sai projetos de também
alargar a rua 7 de setembro, além da Alberto Torres, de construção de cais para
evitar os seguidos alagamentos do verão, em calçamentos, arborização das
praças, Lamego conclui seu livro sobre a cidade enviado a Bruxelas.
Ainda em 1912, no dia 19 de março, o capitalista Antônio
Fernandes dos Santos compra por Mil contos a Cia. Força de Força, Luz e Carris
Urbanos, juntando luz, bondes puxados a burros. A aquisição foi feita à Alves,
Carvalho & Oliveira que foi a primeira empresa a administrar os serviços
elétricos na cidade que teve a iluminação elétrica a gás inaugurada pelo
Imperador Pedro II em 24 de junho de 1883.
A negociação entre o capitalista e o prefeito discute o
tempo de concessão de 60 anos e promete bondes, calçamento nas ruas em que
passarem os bondes e traçados das linhas de bondes elétricos até o cemitério,
Matadouro, Avenida Pelinca e o Turfe Clube.
Nesta mesma época, nas palavras de Osório Peixoto, em seu
livro “500 anos dos Campos dos Goytacazes ele diz nas páginas 135 e 136: “o
futebol invade a cidade”. “O Goytacaz traz times de fora para jogar aqui.
Joga-se em todos os lugares e muitos reclamam que as bolas quebram as vidraças
e partem os fios de eletricidade. Torcedores invadem os campos, interrompendo
as partidas e as mulheres comparecem em massa. Soldados da cavalaria apreendem
bolas no “ground” do Rio Branco que era na Praça da República... na Praça Santa
Hefigênia roubam as traves do 15 de novembro...” “Na época existia em Campos os clubes do
Internacional, Goytacaz, 15 de Novembro, Lacerda Sobrinho, Rio Branco e o
Industrial. O Anglo Americano vem jogar em campos sendo recebido por bandas de
música e hospedando-se no Hotel Gaspar... Seleção chilena ganha de 7 a 0 da
seleção campista.”
Outras informações sobre o Goytacaz:
- O 1º jogo foi contra o Internacional em 25 de agosto de 1912 e o Goytacaz venceu por 2 x 1;
- Localização dos seus campos de futebol: 1º campo: ao lado da Igreja Santo Antônio de Guarus, onde também havia um cinema. 2º campo: Praça da República; 3º campo: Em frente ao Liceu onde depois foi a casa de Finazinha Queiros, atual Casa de Cultura; 4º campo: Lapa onde foi a Fábrica de Tecidos e onde teve iluminação em 1930. 5º campo foi inaugurado em 9 de janeiro de 1938 (há 74 anos)
- O Goytacaz foi o primeiro campeão de Campos em 1914. 5 vezes campeão fluminense (6 vices). Sete times disputaram a competição: Goytacaz, Americano, Aliança, Lacerda Sobrinho, Quinze de Novembro, Internacional e Rio Branco. A final foi decidida em jogo extra com o Campos tendo o Goytacaz vencido, na prorrogação por 2 x 1, depois de um empate de 1 x 1, no tempo normal.
- Na primeira partida oficial disputada contra o Americano no campeonato campista, o Goytacaz ganhou: Goytacaz 4 x 2 Americano.
- Recorde de público no Arizão contra o Flamengo em 1978 com público de 14.996 pagantes.
- Goytacaz também foi o nome de um dos primeiros jornais (o 3º) de Campos lançado em 1831 por Teophilo Guimarães.
- Comenta-se sobre o símbolo do Goytacaz, que mostra uma bola surgindo de um cometa, seria a representação sobre a última passagem do cometa Halley, que ficou visível ao entrar na órbita da terra em 1910, dois anos antes da criação do clube que se deu em 1912.
- O Goytacaz estava na 80ª posição na classificação no ranking da CBF em 31/12/2004/.
Frases sobre o Goytacaz
- · O Goytacaz tem torcida, o Americano tem testemunha!
- · Goytacaz e igual a carro velho: 1ª, 2ª, 1ª, 2ª,1ª, 2ª...
- · Goytacaz é igual a lampião velho, só tem torcida!
- · Goytacaz é igual tiririca. Quando você pensa que morreu, ela brota de novo! (ex-jogador, médico, diretor e presidente 15 vezes do clube, Dr. Jacinto Simões).
Causos engraçados envolvendo o
Goytacaz
Porque o humor é tão ou mais importante que a própria vida:
“Manual”
“Manual”
Orlandinho Santana,
ex-jogador juvenil e tricampeão do Goytacaz pela categoria em 1974, 75 e 76,
filho do velho Orlando Santana, jogador e dirigente do clube da rua do Gás
conta uma história também interessante. Depois de ser dispensado pelo técnico,
Paulo Henrique, que havia sido lateral esquerdo do Flamengo e treinador do
Campos (hoje é o treinador do Quissamã), passou a ser apenas torcedor fanático
do clube, junto com seu irmão Coliseu e toda a família. Morava na rua Formosa
ao lado do Batalhão da PM. Assistia a todos os jogos junto do pai, que depois
de ser jogador foi dirigente, mas nunca deixou de ser torcedor. Antes de ir
para os jogos, sua mãe, pedia que o filho Orlandinho, antes de sair com o pai,
Landinho deixasse anotado os nomes dos jogadores do Goytacaz num papel que era
pra ela acompanhar pelo rádio os ataques do Goytacaz.
Ao retornar de um destes
jogos, sua mãe, não resiste e pergunta:
-
Orlandinho, me explique que história é esta. Tem um jogador que joga para os
dois times. Eu não sabia que podia isto.
Orlandinho
responde espantado:
-
Isto não existe mãe, não estou entendendo. Quem?
Sua
mãe então explica:
-
Orlandinho é um tal de Manual, porque Josélio diz: Manual para o Goytacaz,
Manual para o Americano, Manual para o Goytacaz...
“Leva
para o Corinthians”
Manoel Lucas de Siqueira,
ou, Mane Lucas, que é como muitos o chamavam, foi um grande jogador do Goytacaz.
Alguns o classificam como o melhor meio-campo que o time já possuiu em todos os
tempos. Depois de jogar se tornou treinador e a exemplo de Neném Prancha, do
Botafogo tornou-se uma daquelas figuras carismáticas e interessantes pelas
histórias, casos e causos que contava e também pelo seu jeito de falar e
simplificar as coisas para ser entendido. Era direto, objetivo.
“Um
cracaço para o Goyta”
Numa destas passagens,
Manoel Lucas recebe um senhor que quer levar para treinar no Goytacaz um
jogador do interior, de Rio Preto, lá perto do Imbé. O senhor falava:
- Mane, o cara é bom, você
precisa ver como ele domina a bola no peito, só chuta no ângulo. Dribla como
ninguém corre ligeiro e é um excelente cruzador de bola. Cabeceia melhor do que
o Dionísio o cabecinha de ouro do Flamengo e...
Manuel Lucas já irritado
interrompe seu interlocutor e diz para ele:
- Leva para o Corinthians.
Eles estão precisando, eles estão há vinte e um anos sem ganhar título, um cara
bom assim vai resolver o problema deles.
“Outra
de Mané Lucas”
Já irritado com o goleiro Zé
Amaro que fazia defesas mirabolantes e acabava deixando outras bolas bobas
passarem, Manoel Lucas chama Zé amaro e diz:
- Zé vamos fazer o seguinte,
não fica complicando e nem muito preocupado não, a partir agora, você só pega
as fáceis, aquela na mão, as difíceis você deixa, liga não...
“Olha
o pé do Zico”
O ex-zagueiro Pereira,
depois de encerrar a carreira foi aproveitado como treinador de goleiros. Nesta
função, além do treinamento físico e técnico da função de goleiro Pereira
gostava de dar dicas para que os goleiros pudessem ter também experiência,
especialmente contra os times grandes da capital, onde tanto a defesa como os
goleiros eram muito exigidos. Num destes jogos contra o Flamengo no Rio de
Janeiro, a coisa desandou e lá vai, um, dois, três, quatro... Gol de cabeça, de
falta, no ângulo, etc. O placar já estava seis a um e o juiz marca um pênalti
contra o Goytacaz. Pereira manda o massagista Adãozinho correr para trás do gol
e lembrar ao goleiro Zé Amaro (?) para não se esquecer de observar o pé de
Zico. Pois então, Zico bota a bola na marca, toma distância e Zé Amaro fixa-se
no pé de Zico. Este ao tomar carreira, Zé Amaro, fixado nos pés do craque
rubro-negro vai chegando para trás, mais para trás com o olhar fixo nos pés de
Zico e quando este bate Zé Amaro já estava há algum tempo caído de bunda no
fundo do gol. Depois de pegar a bola nos fundos da rede, Zé Amaro ainda olha
Adãozinho atrás do gol e já temeroso da bronca que iria levar e de chofre manda
dizer a Pereira:
- Diz para o homem que Zico
entorta o pé e não dá para pegar.
4 comentários:
Roberto,
Meus agradecimentos pela reportagem do Manoel Lucas.
É com orgulho e muito prazer que após 60 anos da era de ouro de Manoel Lucas, ver postado na Internet o reconhecimento do craque e do ser humano especial e carismático que foi meu pai. Um abraço Roberto e obrigada pela lembrança. Geisa Márcia
É com orgulho e muito prazer que após 60 anos da era de ouro de Manoel Lucas, ver postado na Internet o reconhecimento do craque e do ser humano especial e carismático que foi meu pai. Um abraço Roberto e obrigada pela lembrança. Geisa Márcia
Grande Roberto.
Muinto bom saber que temos pessoas como voce que não se afastam e buscam mostrar a historia do nosso Goytacaz.
Parabens
Robinho
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