sexta-feira, outubro 31, 2025

Fintech Nubank supera Petrobras, Vale, Itaú, Bradesco, etc. em valor de mercado e expõe hegemonia financeira e plataformização

A fintech Nubank que há algum tempo tinha passado, os bancos tradicionais (privados e públicos) em valor de mercado, agora passa também a Petrobrás e a Vale, duas empresas da economia real, fora do circuito de intermediação financeira.

Em valores de mercado hoje, o Nubank chegou a US$ 77,43 bilhões, seguido do Itaú com US$ 74,7 bilhões. A Petrobrás tem hoje US$ 74,11 bilhões em valor de mercado. A Vale US$ 51,46 bilhões. Santander Brasil, US$ 43,25 bilhões. Bradesco US$ 34,25 bilhões. Banco do Brasil US$ 23,27 bilhões, cerca de 3 vezes menor que o Nubank. A CEF não é empresa S.A. e assim, não tem valor de mercado, mas tem patrimônio líquido de cerca de US$ 27,3 bilhões.

Bom lembrar que valor de mercado é a soma do valor das ações da empresa que possui capital aberto em bolsa de valores. E, normalmente, embute muito de especulação e do chamado capital fictício. O Brasil tem, hoje, o número extraordinário de 1.700 Fintechs. Em 2018 eram 503 e em 2021 já tinha avançado para 1.158 fintechs.

FinTech representa o acrônimo de "Finanças e Tecnologia" e reproduz, como pode ser visto com esses dados, o que venho chamando de hegemonia financeira que supera a economia da produção real com as conhecidas intermediações, títulos, ações, mercado de capitais e a presença crescente das gestoras dos fundos financeiros.

Esse imbricamento entre finanças e tecnologia realçam ainda o contexto do Tripé do capitalismo contemporâneo, sustentado na Digitalização/Dataficação; Financeirização/Hegemonia Financeira; sob o domínio da racionalidade neoliberal.

A Nubank surgiu em 2023 e hoje é a principal patrocinadora do Jornal Nacional da TV Globo, apesar de existir há 12 anos, ainda hoje, segue sem regulação, junto com as demais 1,7 mil Fintechs do país, porque o atual Congresso resiste em aprovar legislação nesse sentido. Razão pela qual apareceu nos esquemas de lavagem de dinheiro do PCC, junto dos fundos financeiros, nas investigações da Política Federal e Receita Federal que desbaratou esquemas que misturavam negócios ilegais com comércio legal.

Para terminar, fiz uma breve comparação sobre números de empregos entre essas companhias: Nubank: 8 mil funcionários, boa parte de pessoal de TI, já que é apenas um banco digital, sem uma agência física sequer. Seu pessoal de TI trabalha nos EUA, Canadá, Argentina e Uruguai e nos países latinos que tem atuação: México e Colômbia, além do Brasil.

A estatal Petrobras tem cerca de 191 mil trabalhadores, 41 mil diretos e 150 mil terceirizados. A Vale possui 64 mil trabalhadores diretos e 174 mil terceirizados. O Itaú tem 96 mil funcionários e o Bradesco possui 84 mil trabalhadores.

Muito me surpreende que uma realidade como essa seja pouco percebida e nem sempre avaliada no que significa a hegemonia financeira e sua forte relação com o poder político no Brasil.

Outra questão a ser observada é como a evolução da informatização bancária e do sistema financeiro no país, serviu de referência para boa parte do mundo e de certa forma é parte da gênese da expansão das tecnologias e plataformas digitais.

Segundo a Febraban, hoje 82% dos bancos no Brasil já usam Inteligência Artificial Generativa (GenIA). Alguns usam desde 2017, para avaliar riscos, migração de dados, segurança, inovação, aplicativos com os clientes e já avançaram no uso de blockchain e até computação quântica para negociar títulos.


PS.: Em 29 de julho de 2021, eu já havia alertado para as questões relativas às fintechs num texto em meu blog com o título: "Fintechs: não há “novo” na velha atividade de intermediação financeira", inclusive chamando a atenção não apenas de sua expansão, mas também do processo de digitalização das finanças e da urgente necessidade de regulação: Disponívem em:
https://www.robertomoraes.com.br/2021/07/fintechs-nao-ha-novo-na-velha-atividade.html

segunda-feira, outubro 06, 2025

Nº de matrículas em 2024 no Ensino Superior nos municípios fluminenses: interiorização, polos regionais, expansão da EaD e importância da ação estatal

O número total de matrículas na modalidade nas Instituições de Ensino Superior (IES) nos municípios fluminenses em 2024 em relação a 2023 subiu 2,38% chegando a 944.813 estudantes. Deste total, 440.695 matrículas estavam na modalidade presencial (-0,9% em relação a 2023) e 504.118 na modalidade Educação a Distância (EaD) que cresceu +5,1% no mesmo período.

O blog repete o que vem fazendo nos últimos anos ao divulgar os dados dos números de matrículas nos municípios fluminenses, a partir dos microdados do Inep-MEC, tabulados pelo professor José Carlos Salomão Ferreira, a quem o blog agradece pelo dedicado trabalho.


PS.: Clique sobre a imagem da tabela para ver em tamanho maior.



Redução de matrículas no presencial e crescimento de matrículas em EaD

O número de matrículas no Ensino Superior no ERJ na modalidade presencial vem caindo ano a ano, desde 2018, quando atingiu a 544.727 universitários, caindo em 2024 para 440.695 estudantes, um contingente de menos 104.032 matrículas presenciais nos municípios fluminenses.

Enquanto isso, nestes últimos anos aumentou-se o número de matrículas na modalidade EaD que no total no ERJ chegou a 504.118 estudantes, que também estão espalhados em mais municípios fluminenses. Em 2021, o número de matrículas em EaD no ERJ era de 355.633 estudantes. Ou seja, nos últimos em três anos, um crescimento de 148.485 matrículas ou 42% nas matrículas em EaD no ERJ.

A redução das matrículas na modalidade presencial só não foi maior porque em 2024 em relação ao ano anterior, as matrículas nas instituições públicas, subiram de 162.686 estudantes para 164.511 universitários. Ou seja, no geral pode-se dizer que o número de matrículas no Ensino Superior no ERJ, segue a média nacional e está crescendo por conta do número de estudantes em EaD, majoritariamente, nas instituições privadas.


Interiorização x metropolização das matrículas no ERJ

Dos 92 municípios fluminenses, só três não tem estudantes matriculados no Ensino Superior, pelo menos em EaD: Cambuci no Norte Fluminense, Duas Barras e São Sebastião do Alto.

Uma maioria de 50 municípios (54%) só possui matrículas em EaD, enquanto 39 municípios (42%) possuem ambas as modalidades de ensino. Entre os 39 municípios que possuem matrículas na modalidade presencial (em 2021 eram 40 municípios), 27 municípios (29%) possuem estudantes no ensino público e 12 municípios (13%) só possuem matriculas presenciais nas instituições privadas.

Olhando os dados desde 2003 observa-se que a interiorização da oferta de matrículas no ensino superior presencial se estabilizou. Em 2022 eram 40 municípios em 2024 em 39 municípios. Atualmente, a expansão da interiorização vem ocorrendo através da modalidade EaD que chegou a 50 municípios no ano de 2024.

Segue existindo uma grande concentração das vagas na capital fluminense. No ano de 2003, na modalidade presencial, haviam 260 mil de 420 mil matrículas na capital fluminense, equivalentes a 62%. Em 2021, a capital tinha 52,4% e em 2024 chegou a 51,5% do total de matrículas em todo o ERJ. Um percentual menor do que os 62% de duas décadas atrás, mas ainda alto, considerando que a relação entre a população da capital e de todo o ERJ é de 39%.

Ainda em relação à distribuição territorial das matrículas na modalidade presencial pelos municípios, identifica-se que o ERJ possui 8 (oito) municípios com mais de 10 mil matrículas: 1- Rio de Janeiro 227.180 matrículas; 2- Niterói 47.481 matrículas; 3- Nova Iguaçu 21.994 matrículas; 4 - Campos dos Goytacazes 17.172 matrículas; 5 - Volta Redonda 11.521 matrículas; 6- Duque de Caxias 11.117 matrículas; 7 – São Gonçalo 11.000 matrículas; 8 – Seropédica 10.182 matrículas.

Quase todos com reduções de matrículas presenciais nos últimos anos. Como se vê 6 destes 8 municípios estão na região metropolitana. Somadas as matrículas presenciais nestes 8 municípios, elas equivalem a 92% do total no ERJ (em 2022 essa relação era de 82%), evidenciando uma concentração ainda maior das matrículas na região metropolitana, em relação ao interior e demais polos regionais.


O peso e importância da ação estatal no Ensino Superior com pesquisa e extensão

Vale ainda resgatar esforço do governo federal no período Lula (1-2) e Dilma (1) que resultou na criação nas universidades públicas de mais 74 mil matrículas nos municípios fluminenses entre 2003 e 2020. Em números absolutos, as instituições públicas aumentaram de 82.057 matrículas em 2003 para 164.511 matrículas em 2024 no ERJ, com um crescimento em números relativos de 100% em duas décadas.

Oportuno ainda registrar que as matrículas no ensino superior nas instituições públicas (universidades e institutos) crescem ou se mantêm a despeito das crises econômicas, enquanto no setor privado o ciclo de recessão se refere imediatamente no número de matrículas, por conta da dificuldade de pagamento dos estudantes.

Além disso, vale observar que quase que apenas nas instituições públicas há investimentos e articulação (mesmo que em graus variados) às duas outras duas pernas do tripé que confere qualidade ao ensino superior: a pesquisa e a extensão, para além do ensino. No caso das instituições privadas são raros e pontuais os investimentos em projetos e programas de pesquisas e pós-graduação. Isso em todo o país e não apenas no caso do ERJ.


Polos de ensino superior no ERJ

Por fim, vale observar ainda 3 (treze) municípios-polos, com importância crescente no número de matrículas no Ensino Superior no ERJ que podem ser observados em três diferentes regiões: Metropolitana + Serrana (exceto Rio capital); Norte e Noroeste Fluminense + Baixadas Litorâneas; Sul Fluminense nas matrículas presenciais.

São municípios de porte médio que podem ser observados como polos regionais do ensino superior no ERJ. Cinco deles reforçam o peso da quantidade vagas na Região Metropolitana do estado, aumentando a centralização já existente com os 51,5% das matrículas do ensino superior na capital.

Vale observar que nos últimos anos há variações nestes números de matrículas por município, devido à presença majoritária de instituições públicas de ensino superior (que se mantém ou crescem), enquanto as instituições privadas perdem matrículas rapidamente. Primeiro com a crise econômica e Pandemia e também a expressiva expansão de EaD, basicamente adotada pelas instituições privadas como já foi observado.


Região Metropolitana + Serrana: 2024 (2020) – Exceto Rio (capital)

Niterói: 47.481 matrículas (52.527 matrículas em 2020) = -5.046 matrículas.
Nova Iguaçu: 21.994 matrículas (24.811 matrículas em 2020) = -2.817 matrículas;
Duque de Caxias: 11.117 matrículas (14.454 matrículas em 2020) = -3.337 matrículas;
São Gonçalo: 11.0000 matrículas (11.142 matrículas em 2020) = -142 matrículas;
Seropédica: 10.182 matrículas (11.855 matrículas em 2020) = -1.673 matrículas;
Petrópolis: 8.055 matrículas (9.961 matrículas em 2020) = -1.906 matrículas.


Região Norte e Noroeste Fluminense + Baixadas Litorâneas

Campos dos Goytacazes: 17.172 matrículas (18.050 matrículas em 2020) = -878 matrículas;
Macaé: 8.422 matrículas (9.509 matrículas em 2020) = -1.087 matrículas;
Cabo Frio: 7.294 matrículas (7.632 matrículas em 2020) = -338 matrículas;
Itaperuna: 7.043 matrículas (7.717 matrículas em 2020)= -674 matrículas.


Região Sul Fluminense

Volta Redonda: 11.521 matrículas (13.485 matrículas em 2020) = -1.964 matrículas;
Resende: 4.911 matrículas (6.594 matrículas em 2020) = -1.683 matrículas;
Barra Mansa: 2.630 matrículas (4.738 matrículas em 2020) = -2.153 matrículas.

Como pode ser visto na evolução de matrículas do ensino superior entre 2020 e 2024 nestes 13 municípios-polo, todos tiveram perdas de matrículas. Algumas perdas bem expressivas em números absolutos como no caso de três municípios da região metropolitana: Niterói (-5.046 matrículas), Duque de Caxias (-3.337 matrículas) e Nova Iguaçu (-2.817 matrículas).

O total de perda de matrículas entre 2020 e 2024 nesses 13 municípios-polo chega a 23.698 matriculas, número que certamente produz impactos nas economias regionais desses polos de ensino superior. As matrículas em EaD nas universidades privadas acaba sendo uma transferência de renda direta para as sedes das instituições.

Observa-se que as menores perdas são nos municípios com maior presença das instituições públicas. A crise de 2015-2017 + Pandemia e pressão do crescimento de EaD, simultaneamente, ou sequencialmente, são as causas. O crescimento de 42% nas matrículas em EaD nos últimos três anos também se tornou alternativa para os moradores dos municípios de menor porte e densidade populacional.

Os dados do Inpe-MEC permitem muitas outras leituras e análises além das estatísticas do número de matrículas presenciais e por EaD nos municípios, assim como a sua distribuição geográfica ao longo do tempo e do espaço no território do ERJ. Essa é a contribuição do blog para uma intepretação mais totalizante e menos específica que certamente exigirá que pesquisadores e autoridades em gestão educacional deverão fazer sobre a base dados e microdados do Censo do Ensino Suprior de 2025 do Inep-MEC.


Referência:
Postagem do blog em 30 de setembro de 2024. Em Campos, RJ, no ano de 2024, o nº de matrículas no Ensino Superior presencial se manteve estável, na faixa dos 17 mil universitários.Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2025/09/em-campos-rj-no-ano-de-2024-o-n-de.html