terça-feira, fevereiro 28, 2017

A manipulação do ciclo petro-econômico Reuters: "Arábia Saudita quer preços do petróleo a US$ 60 em 2017"

Como temos dito aqui neste espaço o ciclo petro-econômico com suas duas fases de boom e colapso, não é um processo natural. Ele é sempre produzido por interesses econômicos e geopolíticos. A matéria da agência Reuters confirma esta tese que venho defendendo:

"EXCLUSIVO-Arábia Saudita quer quer preços do petróleo subam para cerca de US$ 60 em 2017" - terça-feira, 28 de fevereiro de 2017 14:43 BRT - Por Rania El Gamal e Alex Lawler
"DUBAI/LONDRES (Reuters) - A Arábia Saudita quer que os preços do barril de petróleo subam para cerca de 60 dólares neste ano, disseram cinco fontes de países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e da indústria petrolífera.
Este é o patamar que o país, um peso-pesado da Opep, e seus aliados do golfo --Emirados Árabes Unidos, Kuweit e Catar-- acreditam que encorajaria o investimento em novos campos, mas não levaria a um saldo na produção de gás de xisto dos Estados Unidos, disseram as fontes.
A Opep, a Rússia e outros países produtores prometeram no ano passado reduzir a produção para cerca de 1,8 milhão de barris por dia a partir de 1º de janeiro. O primeiro corte na produção em oito anos tem o objetivo de elevar os preços e se livrar de um excesso de produção.
Os preços do petróleo subiram em mais de 14 por cento desde o pacto firmado em novembro, mas ainda gira na casa de 56 dólares, apesar de um cumprimento recorde do acordo entre países-membros e não-membros da Opep.
Autoridades da Opep têm dito repetidamente que o grupo não busca um preço específico para o petróleo e seu foco é ajudar o mercado a se reequilibrar."
Mas nos bastidores, Riad e seus aliados do golfo na Opep esperam ver um nível mais alto dos preços, porque o preço baixo afeta suas finanças e gera temores de um desabastecimento no futuro.

segunda-feira, fevereiro 27, 2017

Cai mais um mito: salário médio na indústria chinesa já é maior que no Brasil

O jornal inglês da área econômica, Financial Times veiculou ontem, matéria que informa que o salário médio na indústria da China superou o do Brasil.

A notícia é importante na medida que se vive dizendo que a alta produtividade chinesa teria sempre relação com baixos salários do trabalhador chinês. Pois bem, isto não é mais verdade.

Os dados são do Euromonitor compilados junto à Organização Internacional do Trabalho, à Eurostat (o órgão de estatísticas da União Europeia) junto com informações das agências de estatísticas dos países.

O salário médio por hora na indústria chinesa triplicou entre 2005 e 2016, para US$ 3,60, segundo o. No mesmo período, o salário no setor industrial no Brasil caiu de US$ 2,90 para US$ 2,70. No México, a queda foi de US$ 2,20 para US$ 2,10.

Essa informação é ainda importante para derrubar argumentos dos setores patronais de que o salário do brasileiro é que inviabiliza a sua competição.

O assunto é complexo, mas não dá para querer arrochar ainda mais o trabalhador brasileiro que é vítima e não responsável pela situação da indústria nacional. A elite econômica nacional não quer enxergar esta realidade.

E num momento importante como este, o governo brasileiro atua num dos importantes eixos de nosso desenvolvimento que é do setor petróleo, reduzindo ao mínimo as exigências de conteúdo nacional, para atender as etapas de exploração e produção no Brasil.

domingo, fevereiro 26, 2017

Estranhamentos civilizacionais como reflexões no meio carnaval

O estranho e o paradoxal passou a sentar em nossas mesas, nos diferentes cantos do mundo em intensidades crescentes e amedrontadoras.

Não é uma simples estranheza, tédio ou uma angústia individual produzida internamente.

É um vazio coletivo e cheio de não respostas.

Um estranhamento.

A sociedade ficou tão mais complexa quando mais frágil. Parece que em proporções similares.

Os governos mandam menos e na outra direção as corporações podem e controlam mais.

Tudo é controlado e simultaneamente mais sumaria e paradoxalmente vulnerável.

A urbe mais complexa e adensada, busca um quê de ruralidade, na mesma proporção que boa parte do rural se nega, enquanto tal, atraída pelo burburinho da pólis.

A globalização pelo comércio produziu, como um de seus maiores e paradoxais efeitos, o nacionalismo mais reacionário e xenófobo que nunca, sequer, foi imaginado.

A comunicação online e intensa, tornou as pessoas mais isoladas, desconectadas da realidade que se tornou frugal, superficial e solta tal pluma ao sabor do vento.

Os nossos passos e desejos são colocados à prova diuturnamente pelo google (uma espécie de anti-irmão). Bem antes que um divã que como espelho pudesse refletir a fala freudiana.

O dinheiro como equivalente geral das trocas sumiu, quase que na mesma velocidade com que os negócios mercantilizaram tudo, da vida ou da sua ausência - a morte -, explorada midiaticamente sempre que coletiva e espetacular.

Quanto mais se fala em ameaça ambiental e climática – e na importância das energias renováveis -, mais o modelo hegemônico de civilização precisa e depende dos poluentes combustíveis fósseis.

O brutal e o angelical se tornaram siameses na sociedade entorpecida e confusa.

A pós-modernidade entre soluços pode estar produzindo mudanças de paradigma na civilização. 

E o pior, é que ninguém garante que diante de tantos e tamanhos estranhamentos, o progresso seja algo, infantilmente, crido como inexorável. Qual o quê!

quinta-feira, fevereiro 23, 2017

Dólar e aumento de preço do barril produziram em fevereiro um aumento de cerca de 30% nos royalties do petróleo para os municípios

Os royalties do petróleo são pagos dois meses depois da produção que o gera. Assim, os efeitos do aumento do preço do barril para acima de US$ 50, mais o dólar acima dos R$ 3 produziram um aumento na quota mensal dos municípios petrorrentista de 30% em média.

Os dados da ANP tabulados por Wellington Abreu, consultor e ex-superintendente de Petróleo e Tecnologia de São João da Barra estão apresentados abaixo com as quotas mensais pagas no período entre janeiro de 2016 e fevereiro de 2017.
(Para ver a tabela abaixo em tamanho maior clique sobre ela)
















Em termos absolutos o município de Macaé voltou a ter as quota mensal de royalties do petróleo maior que Campos e receberá R$ 37,5 milhões, enquanto Campos dos Goytacazes receberá R$ 34,1 milhões que é um valor R$ 7,6 milhões acima do valor recebido em janeiro.

As quotas mensais dos royalties do petróleo dos municípios de Niterói e Maricá segue aumentando e se aproximando dos valores recebidos por Macaé e Campos, em decorrência do aumento da produção nos campos da Bacia de Santos no litoral destes municípios. Assim, agora em fevereiro Maricá está recebendo R$ 26,8 milhões e Niterói R$ 23,3 milhões.

Na região, Cabo Frio ficou com R$ 10,0 milhões, Rio das Ostras recebe R$ 9,8 milhões, São João da Barra R$ 7,7 milhões, Quissamã R$ 5,5 milhões, Casimiro de Abreu R$ 4,2 milhões, Armação de Búzios R$ 4,0 milhões, Arraial do Cabo R$ 2,7 milhões e Carapebus, R$ 2,5 milhões.

Além das quotas mensais alguns destes municípios chamados de produtores também recebem parcelas trimestrais das “Participações Especiais” pagas petroleiras, por decorrência dos campos com alta produção de petróleo.

terça-feira, fevereiro 21, 2017

As agências não regulam. Elas estrangulam a parte mais frágil: o povo brasileiro! A mídia bate palmas

A grosso modo, as agências reguladoras foram criadas na esteira de uma visão de redução do controle do estado e de assunção de parte de suas obrigações pelas corporações e pela iniciativa privada.

A visão de que a regulação é uma função de estado, que difere dos governos que são aqueles representantes eleitos pelo povo, passa pela ideia de que os governos podem cada vez menos, em detrimento do deus-mercado.

Este é um dos problemas que a democracia representativa vive no mundo, em que os governos foram capturados pelas forças de mercado e pelas corporações.

O poder político acabou sendo capturado a partir das suas dívidas.

Os governos assim foram perdendo suas funções que passaram para as mãos das grandes corporações, sendo que estas estão hoje controladas pelos fundos financeiros.

Assim, a financeirização da economia vem sendo ampliada enormemente nos mais diferentes setores.

Desta forma, os serviços públicos que eram estatais - porque a maioria é monopólio - foram concedidos e teoricamente, passaram a ser regulados por estas agências e não pelos governos eleitos.

Bem ou mal, alguma regulação havia, no meio de enormes pressões do mercado que vive pedindo simplificação, flexibilização, estímulo em troca de investimentos, que na maioria dos casos, acaba saindo do próprio governo (nas diferentes escalas e muitas vezes sob a forma das PPPs - Parcerias Público-Privadas).

Na maioria dos países a regulação está ficando inviável porque seus controles passaram para pessoas indicados e do próprio mercado. Hoje já nem indicam representantes são os próprios funcionários dos bancos e das empresas

No Brasil, as agências criadas por FHC na década de 90, se mantiveram nos governos Lula e Dilma, com mais ou menos poder de defender a parte mais fraca desta relação que é o cidadão.

Pois bem, depois do impeachment, o controle destas agências estão aos poucos passando completamente para as mãos de gente do mercado. 

São pessoas que saem direto das empresas privadas para regular seus ex-patrões. Não me refiro aos quadros técnicos-concursados. Estes resistem, mas não mandam. O caso da ANP é o caso mais simbólico.

Assim, se chega ao caso da Anatel que está por trás decisão de perdão de quase R$ 90 bi das operadoras de telefonia.

A ANP está em vias de decidir perdoar (waiver) outros R$ 90 bilhões de multas das petroleiras por não cumprirem as exigências de conteúdo nacional que agora estão rifando o ceifando ao mínimo as exigências.

Para completar, agora a Aneel, decidiu que as concessionárias de energia elétrica têm direito a R$ 64 bilhões por uma interpretação contratual.

Somando estamos falando aí de quase R$ 250 bilhões (Mais de US$ 80 bi). Na prática, o país passou a ter as agências controladas por gente destes fundos financeiros, que também controlam as concessionárias. Ou seja, controlam tudo.

Assim aproveitam aquilo que eles diariamente chamam da "janela de oportunidades" para sepultar as regulações, exigências, fiscalizações, multas e liberar as tarifas. Estão se sentindo no céu.

As raposas devorando a todos nós.

Se já não bastasse, a turma do mercado também assumiu os fundos de previdência de maior peso - das estatais - para injetar dinheiro nestas mesmas corporações controladas pelo sistema financeiro. 

Assim, nossas contas de serviços públicos que não são baratas vão aumentar cada vez mais e consumir nossos salários que estão contidos ou reduzidos. Na área de  telefonia, luz, água, esgoto, planos de saúde, etc.

Ah sim. Vão dizer que foi o governo anterior que gerou tudo isto. Muitos ainda acreditam nesta versão cantada em prosa e verso pelos "colonistas" de plantão da mídia comercial, enquanto estas cobram as suas contas e faturam cada vez mais, destes mesmos fundos e não da audiência - em queda - como a maioria ainda acredita.

O que está em jogo não é o fim do estado de bem-estar-social, porque não tínhamos chegado a ele. Apenas tínhamos nos aproximado. 

Eles não param de apertar o cinto no pescoço de todos nós. 

Porém, eles não estão considerando que não ganharão nada fazendo um país para menos de 10% de sua população.

Haja força policial para dar conta disto logo adiante.

Não há que se falar mal da política e sim da má política.

Fora daí é a barbárie, para o qual se caminha a passos largos, se este processo não for contido.

O "milagre" financeiro vale mais valor para a Vale

Trata-se de um ótimo caso para se entender o capital fictício e aquilo que se chama formação de valor: num único dia e numa mexida pró-mercado, a ex-estatal Vale, ganhou mais de R$ 13 bilhões em valor de mercado.

O caso também ajuda a explicar como a formação de valor tem cada vez menos relação com a produção.

Corporações e sistema financeiro juntos tornam os estados-nacionais apêndices de suas estratégias.

sábado, fevereiro 18, 2017

O colonialismo extrativista pós-moderno

Saskia Sassen é professora da Universidade de Columbia, nos EUA, pesquisadora do tema “pensamento global” e autora de diversos livros. Entre os mais conhecidos estão: Cidade global” e “As cidades na Economia Global” (1998). O seu último livro foi lançado nos EUA e Europa em 2014, e só no ano passado foi publicado no Brasil “Expulsões: Brutalidade e Complexidade na Economia Global”, onde descreve ideias bastantes interessantes.

Por conhecer um destes livros, eu adquiri este mais novo. Ele está na estante, apoiado na prateleira, daqueles separados para serem ainda lidos. Porém, é na entrevista com o jornalista Diego Viana "Os invisíveis do sistema" (Valor, Caderno Eu & Fim de Semana, 10/02/17, P. 4-7), que eu tive o interesse despertado para o que considero um conceito novo e interessante.
(Este caderno semanal, enquanto não acabam, ainda salva o jornal, sic)

Ao falar dos circuitos do capital (tema que venho tentando me aprofundar), Sassen diz que vivemos numa "lógica extrativista" que seria um novo colonialismo, mais perverso que o dos antigos impérios que ainda deixavam algo. Assim, se teria hoje um novo “colonialismo extrativista”.

Sassen cita como exemplos do que seria este colonialismo extrativista, o Google e o Facebook: “eles coletam dados disponíveis sobre nós, cria pacotes a partir deles e os vende a outras empresas. Isto é extração”.

Ela insiste ainda que processo similar se dá com as altas finanças (do andar de cima) e o sistema financeiro. A metáfora é didática para o entendimento do mundo contemporâneo. Há hoje, uma nova forma de garimpo de tudo aquilo que possa ser mercadoria.

Seja o minério ou o petróleo como recursos naturais extraído pelas grandes corporações, ou modernamente, as informações e os excedentes dos dinheiros locais garimpados pelas players em interação com os fundos financeiros.

Assim, no contemporâneo colonialismo pós-moderno se segue sugando e lucrando no movimento do capital que desdenha dos espaços encurtados pelas vias informacionais.

Saskia lembra que, desde os anos 80, as privatizações e as desregulamentações favoreceram ao surgimento deste novo extrativismo. Interpreto que ela tem razão. Na mesma direção, eu tenho comentado sobre o esgarçamento dos limites desta força que ignora a ampliação das desigualdades e avança com brutalidade para expulsar os sobrantes tornados invisíveis.

Sassen, também recorre a uma comparação com a era keynesiana, quando buscou superar a crise do capitalismo, pós-29. Hoje, com as crescentes privatizações e as forças contra as regulações que ainda haviam no mercado, se produziu a passagem de uma dinâmica que incluía para uma dinâmica que exclui.

Sem dificuldades, é possível enxergar no Brasil e no mundo essa cruel realidade, num processo que produz cada vez mais “sobrantes” que foram se tornando invisíveis porque seguem fortemente controlados, através da força e da brutalidade do Estado.

Contam para isto com as narrativas midiáticas que, diuturnamente, amedrontam aqueles do “meio da pirâmide”, com as já conhecidas ameaças do terrorismo e da barbárie, a serviço do “andar de cima”.

Assim, o "colonialismo extrativista" surge como aqueles conceitos que têm potência para ajudar a pensar e a refletir sobre o mundo contemporâneo.  Por isto, resolvi partilhar, na rede em meio às contradições que o fato em si traz embutido. Desta forma, sigamos em frente, sempre criticamente, aprofundando também sobre as contradições.

sexta-feira, fevereiro 17, 2017

A democracia fragilizada como uma taça de cristal

O mundo ocidental segue cada vez mais confuso. 

A democracia parece ter se transformado numa nuvem espalhada e tocada pelos ventos de um agouro fascista.

A plutocracia que já algum tempo vinha ampliando o controle sobre as sociedades - com a captura do poder político - agora passa também a rechaçar os resultados eleitorais que fogem ao script do sistema.

Já não falo nem dos casos dos governos da periferia, mas das chamadas democracias maduras do centro do capitalismo.

Nos EUA, o resultado eleitoral é a todo dia questionado, num processo que parece estruturar uma deposição não muito lenta.

Agora, na Inglaterra, o ex-primeiro ministro, Tom Blair, assume publicamente, o lançamento de uma campanha contra o resultado do plebiscito em que a maioria da população da Grã-Bretanha decidiu sair da União Europeia (UE).

Os limites civilizacionais mediados pela política (boa ou má) estão a cada dia sendo rompidos.
O esgarçamento vai muito para além das questões econômicas e das desigualdades. 

O sistema segue desdenhando os ignorados e excluídos.

A fragmentação da sociedade vem ampliando a sua inércia em resistir. Assim, o esgarçamento se expande e torna-se mais forte que a capacidade de mediação, até então uma virtude da democracia.

Tudo isso tornam as estruturas das complexas instituições do mundo contemporâneo tão frágeis quanto uma taça de cristal na beira de uma mesa. 

Não se observam cuidados com a frágil democracia já em queda livre.

quinta-feira, fevereiro 16, 2017

Setor de petróleo nacional ficará sem conteúdo local, sem empregos, sem dinâmica econômica e sem tributos!

Hoje o governo Temerário está decidindo o fim da política de conteúdo local que gerou milhares de empregos na indústria para atender ao setor de petróleo e gás.

Só recentemente a Fiesp e a Firjan - cujos presidentes há muitos não são mais industriais - "perceberam" que estavam sendo engolidos.

O estrago será enorme e faz parte da sanha golpista.

A disputa coloca de um lado as corporações que exploram e produzem (petroleiras) e de outro a indústria de bens e serviços do setor.

As petroleiras (todas, especialmente as estrangeiras) querem trocar as exigências atuais que vem desde 2005, estruturadas e fiscalizadas pela ANP que exige percentuais nacionais em 90 itens das instalações, por uma vaga exigência de 40% de índice global e único.

A indústria de bens e serviços diz que com esta mudança, o conteúdo local (nacional) será zero. Repito zero porque tudo será importado. 

Por quê? Porque os serviços no setor de petróleo já respondem sozinho por 50% da demanda, cabendo aos bens os demais 50%, na instalação de plataformas, sondas e embarcações especiais.

Agora que o pato (Fiesp e Firjan) foi pressionado pelos donos das indústrias, eles descobriram que isso irá reduzir o PIB do setor em 13 vezes, os empregos e salários cairão mais de 11 vezes e os impostos arrecadados pelo governo em 17 vezes.

Sim, e assim querem um esforço fiscal apenas cortando direitos, mais uma vez abrindo mão das receitas.

O resultado disto é a repetição em nível muito mais grave do que se via no governo FHC, com a construção de plataformas movimentando a economia, gerando empregos e tributos no exterior. 

A situação hoje é muito pior, porque a nossa indústria naval já chegou a ter mais de 80 mil empregos e o setor de petróleo e gás chegou a alcançar 13% do PIB brasileiro, quando na década de 90, não chegava a um terço disto.

A pressão das petroleiras estrangeiras sobre o "acessível e comprometido" governo Temerário é enorme e começa com uma organização que tem o Brasil apenas no nome: o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP).

Para se ter uma ideia do que está vindo por aí, apenas nos últimos dias, o ministro da Minas e Energia e seu secretário de Petróleo e Gás receberam em audiências os presidentes e representantes das petrolíferas: Shell, Esso, BP, Total, Statoil, etc. De quebra, também o embaixador dos EUA.

É o Brasil descendo a ladeira e assumindo mais e mais sua dependência e subordinação.

Neste rumo, a Petrobras será, após esquarteja, paulatinamente, apenas uma empresa que produz algum petróleo, da mesma forma, que se dá com a petroleira da Nigéria, Angola e outros países que abriram mão de agregar valor neste setor que possui uma imensa cadeia produtiva. 

E olha que foi a Petrobras que descobriu o pré-sal que está agora sendo entregue. É a Petrobras que tem e desenvolveu boa parte do know-how de exploração offshore, especialmente, em águas profundas.

quarta-feira, fevereiro 15, 2017

Produção de petróleo offshore tem cada vez mais vantagens sobre o xisto

A conceituada consultoria norueguesa especializada em dados e indicadores do setor de petróleo e gás, Rystad Energy, confirma, em publicação divulgada hoje, com indicadores e gráficos, que a exploração de petróleo offshore teve maior redução de custos do que a produção de xisto em terra. 

Esta realidade refuta aquelas hipóteses ventiladas no auge da produção americana de xisto, de que esta fonte empurraria as reservas offshore de petróleo pelo mundo, para um segundo plano, deixando o Brasil pra trás, como alguns analistas do mercado tanto ventilaram.

Porém, o processo se desenvolveu de outra forma. A Rystad Energy confirmou também que as duas fontes deverão receber cada uma cerca de US$ 70 bilhões de dólares de investimentos (capex) em 2017, apenas nos EUA. 

Assim, o gráfico abaixo elaborado pela consultoria mostra que poderemos estar entrando num processo de migração em que mais investimentos serão feito em exploração/produção de petróleo offshore do que em xisto (shale).































O relatório da Rystad diz ainda que os programas de redução de custos na cadeia de valor do petróleo no mar (ambiente offshore), entre 2016 e de 2017, mostram grandes avanços na competitividade sobre a exploração e xisto:

Muitos pensavam que os projetos offshore não teriam como competir com xisto, porém, os operadores offshore conseguiram transformar projetos não comerciais em projetos altamente competitivos com a ajuda de empresas de serviços. Projetos offshore que não seriam comerciais com o barril a US$ 110 em 2013 estão agora comercial a um preço do petróleo de USD 50, o barril”.

Ainda assim para a consultoria, as empresas de E&P de petróleo nos EUA não devem ainda priorizar entre uma e outra fonte nos EUA. Bom lembrar que isto está se dando nos EUA e não em todo o mundo. É bom lembrar que esta é a média mundial. Aqui no Brasil, a comercialidade da produção se dá bem abaixo dos US$ 50. 

Assim, no geral, a exploração de petróleo offshore tende a avançar mais no mundo. Atualmente, os EUA importa quase metade de todo o petróleo que consome e nunca teria condições de ser auto-suficiente mantido o atual nível de consumo. O que faz com que os EUA estimule (invista) em produção em outros canos do mundo. Que é o mesmo que faz e cada vez mais a China que está com produção interna declinante.

A Rystad analisou ainda os gastos com os serviços de engenharia de petróleo e tecnologia por setor (operação e manutenção; equipamentos; engenharia submarina; contratações de sondas sísmica e preparação de poços) e mostrou, no gráfico abaixo, que as reduções de custos para exploração no ambiente offshore caiu bem mais que para a exploração com a fonte de xisto, mesmo no continente.


A Rystad Energy informou ainda em seu relatório que os 10 melhores projetos offshore em 2017 representam quase 70% de todo o investimento. Eles priorizam os projetos melhores (best-in-class) que terão decisões dentro deste ano. 

Estes são os casos dos projetos do campo de Libra no Brasil; do MAD, fase 2, da BP, no Golfo do México; Coral FLNG, da petroleira italiana ENI, em Moçambique e do campo de gás natural, Leviatã, da Noble, no Mar Mediterrâneo, no litoral de Israel. Em 2018, a perspectiva é de ampliação destes trabalhos em ambientes offshore e do aumento de receita por parte destas empresas de engenharia de petróleo (que são grande players globais)

É fato que as experiências no desenvolvimento da tecnologia e serviços de engenharia de petróleo offshore no litoral brasileiro, feito por grandes corporações globais do setor, estão sendo hoje, fundamentais para a exploração e produção, também, em outras reservas offshore mundo afora. 

Este fato produz uma redução dos preços unitários dos projetos offshore. Ele também caíram com a diminuição das taxas diárias dos contratações de aluguel das sondas de perfuração, onde os preços caíram até 50%. Tudo isso ajudou a otimizar o “breakeven” (preço mínimo do barril a partir do qual a produção é economicamente viável) da produção offshore no mundo. 


O Brasil e a Petrobras como inovadores nas tecnologias offshores em águas profundas
Pouca atenção se tem dado a esta realidade de desenvolvimento da nossa capacidade em tecnologia e engenharia. Expertise nacional sendo repassada, depois de desenvolvida, mesmo que em conjunto, sem nenhum ganho de royalties para a Petrobras e nossa engenharia, que está sendo dizimada após a Operação Lava Jato.

No esforço de produzir uma leitura mais totalizante, para além das questões técnicas e comerciais, analisando mais profundamente (esta nota e anterior "aqui" deste blog), se vê que não há sustentação a argumentação da estratégia de mercado escolhida pela atual direção da Petrobras. 

Eles dizem estar reduzindo a dívida da estatal, mas a qualquer custo, vendendo vários ativos valiosos a preços de feira, quando a Petrobras, é no mundo da energia, uma das que possui maior potencial de crescimento, e portanto tem crédito, à disposição para ampliar a sua produção e sua estrutura comercial de forma integrada – do poço ao posto – de forma constante e consistente em diferentes cenários da economia e do setor petróleo.


Pré-sal é a joia roubada através do golpe político 
Assim, mais uma vez fica claro que foi o tiro no coração do setor de petróleo e da Petrobras que se puxou a estratégia do golpe político no Brasil. 

As informações e os dados expostos aqui, quase diariamente, trazem mais e mais evidências sobre o crime de lesa-pátria que se está cometendo sobre a joia da coroa. 

São dados de consultorias internacionais. Informações do próprio mercado que confirmam os prejuízos que vão muito para além dos desvios da Lava-Jato. 

O fim da exigência de conteúdo nacional que está sendo decidido nestes dias em Brasília, é mais uma pá de cal sobre o este processo que elimina as chances de participarmos desta cadeia produtiva, não apenas com produção de petróleo, mas fornecendo aquilo que é até mais valioso que o produto petróleo em si, que são os equipamentos, as tecnologias e os serviços de engenharia que o Brasil em que a empresa é reconhecia e premiada internacionalmente.

Não há outro caminho. Resistir é urgente e necessário. Todos os dias!

A Opep confirma as razões sobre a "sede" que o mundo tem sobre o nosso petróleo

A Opep cada vez tem desenvolvido estudos mais detalhados sobre a geopolítica do petróleo e da energia que utiliza para que a organização tome decisões.

Assim, a Opep hoje acompanha não apenas a exploração e a produção de seus 14 países membros, mas também dos demais.

Desta forma divulga bons e densos relatórios mensais. Neste último estudo, divulgado ontem, a Opep voltou a confirmar a colossal ascensão de produção de petróleo no Brasil, apesar de toda a pressão contra a Petrobras.

O Brasil será o país - fora Opep - com o maior crescimento de produção de petróleo no mundo, com cerca de mais 250 mil barris por dia.

Para a Opep, o Brasil poderá chegar à uma produção diária de 3,5 milhões de barris por dia. Isto se dá por um planejamento anterior que garantiu a entrada em funcionamento de três unidades de produção (plataformas) em 2016.

Outros países fora da Opep deverão ter também aumento de produção, embora inferior ao Brasil: EUA, Canadá, Cazaquistão na Ásia, Congo e outros países da África.

Enquanto isto, outros tradicionais países produtores perderão capacidade este ano como: México, Noruega, Rússia, China, Colômbia entre outros.

Já insistimos aqui por diversas vezes que o atual excesso de produção de petróleo no mundo, está consumindo as reservas que estão sendo menos prospectadas, por conta da redução de investimentos derivados do baixo preço.

Trata-se de ciclo petro-econômico.

Desta forma, uma nova fase de expansão dos preços se apresenta no horizonte para daqui a três a cinco anos, que pode ser antecipado por conflitos regionais.

Assim, diariamente, se coleciona dados e indicadores que confirmam a enorme sede do mundo sobre o nosso pré-sal, a maior fronteira petrolífera descoberta na última década.

O Brasil possui, nada mais, nada menos que seis dos maiores campos de petróleo descobertos nos últimos dez anos. 

Desta forma, não é difícil compreender o que se tem feito para que outras nações, corporações e fundo financeiros - agindo em conjunto - têm articulado e executado para ter acesso a tamanho manancial. 

E tudo isso com ajuda de uma elite econômica, sem projeto de nação, apenas preocupada com seus interesses em se apropriar de um mínimo percentual disto tudo - como rentistas - e sem nenhuma preocupação em assumir a condição de dependência e de consentida subordinação.  

terça-feira, fevereiro 14, 2017

Preços futuros do minério de ferro já ultrapassam US$ 100. A quem interessa esta variação cíclica?

O preço da tonelada de minério de ferro que há um ano estava a pouco mais que US$ 40, ontem atingiu US$ 92, em seguidas altas. Só nesta segunda-feira o aumento foi de 5,5%.

Nos contratos futuros de minério de ferro da China, na sexta-feira, o valor na bolsa de Dailan, atingiram a cotação de 694 yuan ou US$ 101 por tonelada. Só em janeiro agora, as importações da China cresceram 12% e atingiram o enorme volumem de 92 milhões de toneladas.

A alta futura do minério de ferro seria sustentada, segundo analistas chineses, por conta da demanda de aço para uso no setor de infraestrutura imobiliária (construção civil).

Este movimento de compra da China é um tanto sazonal, porque ela possui imensa capacidade de estoques que faz com que ao longo do ano, os preços oscilem conforme sua disposição de compra, considerando que os chineses consomem mais de metade de todo o minério de ferro comercializado no mundo.

Há ainda quem também atribua este aumento dos estoques chineses à preocupação com a valorização desta commodity com os possíveis investimentos internos mos EUA (de Trump) com infraestruturas. Estes podem vir a ampliar a demanda do minério de ferro pelo mundo.

Esta valorização traz vantagens ao Brasil que é um grande exportador e possui a Vale a maior mineradora de ferro do mundo. Assim, em janeiro deste ano o Brasil exportou US$ 1,62 bilhão em minério de ferro, mais que o dobro dos 656 milhões de toneladas de janeiro do ano passado.

O fato pode vir a contribuir para o aumento do superávit da balança comercial brasileira que tem no minério de ferro um de seus mais importantes componentes, com exportações feitas especialmente pelos portos dos estados do Espírito Santo (Tubarão) e Rio de Janeiro (Itaguaí-Vale-Sudeste-Açu) que movimentam a produção de Minas Gerais. E ainda e cada vez mais pelo Porto de Itaqui, no Maranhão, por onde sai a produção das minas de Carajás no Pará.
Área de estoque do Porto Sudeste em Itaguaí, RJ

Na esteira desta expectativa algumas minas no Brasil que estavam com projetos paralisados estão sendo retomados e ampliações de outros estão sendo estudadas. Porém, a entrada em produção do projeto SD-11 da Vale em Carajá, Pará, que possui altíssima capacidade de produção, a baixo custo (com alta produtividade) limitam as chances de outros projetos.

Mesmo que a tendência de aumento do valor do minério de ferro não se sustente no tempo, ele confirma o que temos abordado aqui neste espaço com frequência, sobre a condição cíclica com as fases de boom e de colapso de preços das commodities.

Estes ciclos não são naturais e nem decorrentes do livre mercado - como pensam aqueles que só enxergam o deus-Mercado - e sim produzidos pela força da intervenção dos maiores mercados e corporações. Estas ganham tanto na fase de boom, como todos, quanto na fase de colapso.

Na fase de expansão ampliam seus lucros e na fase de depressão, se reorganizam, reduzem custos, compram e incorporam as empresas menores e periféricas que não sustentam o baque. Assim, seguem com seus lucros, mesmo que menores temporariamente, mas se organizam para nova ampliação dos lucros com a chegada da nova fase de boom, em novo ciclo da commodity.

Os países exportadores - como o Brasil - ganham na alta, mas nem tanto como grandes tradings - mas sofrem muito na baixa e, o pior, vive como joguete das grandes players, numa economia dependente diante de um processo global do qual participa de forma subordinada.

As tradings têm papeis atuantes e relevantes no controle da circulação e na formação de valor no comércio dos recursos minerais e também no agronegócio no mundo. O processo é similar - com pequenas e peculiares diferenças - ao movimento cíclico de outras commoditys na economia global.

segunda-feira, fevereiro 13, 2017

Resultados das petroleiras em 2016

À medida que avançamos para o segundo mês do ano, as maiores petroleiras do mundo começam a anunciar os seus resultados no ano de 2016.

A anglo-holandesa Shell divulgou que teve um lucro de US$ 7,1 bilhões, enquanto na francesa Total o lucro foi de US$ 6,2 bilhões. Já a norueguesa Statoil teve prejuízo de 2,9 bilhões.

A Petrobras costumeiramente divulga os seus na segunda quinzena do mês de março.

O resultados de algumas destas petroleiras estão ainda impactados pela reavaliação de seus ativos (campos e instalações) que é chamado em inglês como impairment, onde a maioria registra em sua contabilidade os valores destas desvalorização. Fato que está relacionado com os baixos preços do barril de petróleo que interferiu no setor por mais de dois anos.

Em 2015, a Petrobras teve prejuízo líquido de R$ 34,8 bilhões, só que este resultado embutia R$ 49,7 bilhões referentes ao impairment de ativos e investimentos. Isto permitiu identificar que se não fosse este desconto da desvalorização dos ativos, a Petrobras teria registrado em 2015, mesmo com todos os conhecidos problemas, um lucro de R$ 14,9 bilhões (aproximadamente US$ 4,6 bilhões). No resultado do 3º bimestre de 2016, a Petrobras fez novo impairment de R$ 15,292 bilhões que deve se refletir no resultado anual de 2016 que será divulgado proximamente.

É ainda importante identificar que a melhoria dos preços do barril de petróleo no último trimestre de 2016, aliado à redução significativa que elas passaram a ter nos custos de produção, tenderão a melhorar os desempenhos de todas as petroleiras, numa tendência de aproximação de um novo ciclo petro-econômico.

domingo, fevereiro 12, 2017

A crise no ES vista com olhar menos pontual e mais profundo

Para você que não se satisfaz com as informações superficiais e as análises seletivas que lê nos jornalões, "colonistas" e na TV dos canais da mídia comercial, eu sugiro que assista a entrevista do cientista político, Vitor de Angelo, professor e pesquisador do Mestrado do Departamento de Política da Universidade de Vila Velha, sobre a crise do ES. 

Vitor na entrevista feita pelo jornalista Luiz Nassif vai além dos fatos da questão do movimento dos policiais capixabas e suas famílias e joga luz na relação disto com a política de desenvolvimento do ES e das estratégia do governador neste momento de enorme confusão na política nacional.

É um vídeo de 22 minutos, mas vale assistir para que se possa avançar em análises menos superficiais. Esta frugalidade das informações soltas tenta passar e vender uma ideia dos fatos sem um contexto histórico que o produziu e que delas continuará a tirar proveito.

Perfil de refino de petróleo da Petrobras

Em função atualmente do maior foco do blog em questões referentes ao setor de petróleo, passamos a ser constantemente indagado sobre informações a área. Isto redunda em postagens que buscam esclarecer algumas questões e trazer ao debate outras.

Nesta linha, o blog foi indagado sobre os percentuais de derivados que se extrai de uma barril de petróleo através do seu refino. De início vale relembrar que um barril de petróleo equivale a 158,98 litros.

O percentual de cada derivado de petróleo que se extrai numa unidade de processamento e refino depende de uma série de itens como: tipo de petróleo, características das unidades de refino; necessidades da demanda em determinado período, mercado a ser atendido, etc. Assim, o petróleo processado varia por refinaria.

No Brasil, hoje todo o refino é feito pela Petrobras. A produção de petróleo mais pesado vinha sendo exportado e, simultaneamente, se importavam derivados para atender à demanda de consumo nacional. Isso é um movimento dinâmico e altera com o tempo e conforme o movimento da economia e consumo de derivados no país.

Até 2014, o perfil de refino de petróleo era conforme o quadro da imagem abaixo cuja fonte é a própria Petrobras. Creio que estes percentuais tenham se alterado pouco de lá para cá.


quinta-feira, fevereiro 09, 2017

A rota da soja poderá sofrer mudanças com as ações de Trump

As decisões de Trump nos EUA mexem com os negócios dos EUA. Um deles é sobre o mercado da soja que hoje é ocupado pelos americanos, o maior exportador do mundo.

O Brasil como o segundo maior exportador pode vir a ser beneficiado por importadores que queiram dar a resposta aos EUA, por conta das ações protecionistas de Trump. O mesmo pode ocorrer com outra commodity alimentícia, as carnes dos mais variados tipos.

O fato poderá mudar o fluxo principal da mercadorias pelos portos do mundo que hoje seria como o esquema da FAO abaixo. O esquema foi feito com dados de 2012, mas continua praticamente o mesmo.

Desta forma, o agronegócio brasileiro poderá auferir vantagens da confusão geopolítica que se desenha a partir do Trump. Resta saber onde isso vai parar. A conferir!

terça-feira, fevereiro 07, 2017

Participações especiais com produção de petróleo para os municípios fluminenses muda espacialmente em direção à região metropolitana

Amanhã as chamadas Participações Especiais (PE) que são pagas trimestralmente aos municípios, estados e União por conta da produção de petróleo nos campos com alto volume e produtividade serão depositadas.

Como o blog fez previsão em nota aqui, no dia 3 de novembro de 2016 (O movimento espacial na receita dos royalties entre os municípios do ERJ), a redução da produção nos campos e poços da Bacia de Campos e o simultâneo aumento - vertiginoso - na produção do pré-sal na Bacia de Santos, promoveria um movimento espacial da Economia dos Royalties dos municípios da região, para outros na região metropolitana fluminense, como Maricá, Niterói e a capital, o Rio de Janeiro.

Abaixo o blog publica uma tabela elaborada por Wellington Abreu, consultor na área de tributação fazendária e ex-superintendente de Petróleo e Tecnologia de São João da Barra com dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo). A tabela traz os valores de PE pagos aos municípios fluminenses nos últimos três anos, entre fevereiro de 2014 e fevereiro de 2017.
(Para visualizar em tamanho maior clique sobre a imagem)


Na tabela acima é possível ver esta dinâmica da mudança das receitas de Participação Especial entre os municípios. Em fevereiro de 2014, Campos dos Goytacazes recebeu R$ 182 milhões, enquanto, o município de Maricá recebia R$ 17 milhões. Agora em 2017, Campos ficou com R$ 35 milhões e Maricá com R$ 105 milhões. Movimento semelhante ao de Maricá pode ser ainda constatado em Niterói e Rio de Janeiro. 

Mesmo que os valores recebidos por Campos e outros municípios petrorrentistas da região tenham aumentado em relação à quota anterior, por conta do aumento do valor do barril de petróleo e do valor do dólar, eles tendem a reduzir na próxima quota trimestral, em maio próximo, por conta da redução do valor do dólar e da redução da produção de alguns poços e campos.

É um movimento que tende a ser irreversível até que novos campos possam ser explorados no pré-sal da Bacia de Campos. Os valores que foram pagos a Maricá, Niterói e Rio tendem a crescer, o exemplo é o da instalação em breve da plataforma P-66 que citamos em nota hoje aqui do blog.

Há ainda que se registrar que no trimestre passado estes três municípios tinham tido as suas quotas de novembro retidas - judicialmente - em boa parte e que ajudaram a ampliar o valor agora recebido.

Porém, isto não elimina a interpretação do movimento de aumento substancial dos valores recebidos em PE por estes municípios, em relação aos de Campos, Macaé, SJB, Cabo Frio e Rios das Ostras que historicamente tinham maiores receitas de participações especiais (PE).

Agora em fevereiro estes 3 municípios da região metropolitana somados estão recebendo cerca de R$ 184 milhões que é mais que o triplo da soma das receitas dos demais municípios petrorrentistas.

Este tipo de informação tem significativa importância para se entender a dinâmica econômica decorrente dos royalties do petróleo no ERJ e deveria servir de reflexão e replanejamento de ações por parte do governo estadual e dos municípios afetados.

Quem perdeu receita deve se preparar para condições de ainda menor receita. E quem está recebendo mais deve mirar no exemplo do mau uso costumeiro destes recursos, para tentar fazer melhor e desta forma ficar menos dependente desta renda temporária, assim como melhorar de forma mais significativa a vida de seus munícipes. Seguimos acompanhando.

PS.: Atualizado às 21:15: para ajustes e correções no texto.

Plataforma P-66 com alto conteúdo nacional pode ser a última

Como o fim próximo das exigências de conteúdo nacional a ser promovida pelo governo Temerário, a plataforma P-66 foi o primeiro FPSO e possivelmente o último, a ter seu casco totalmente construído no Brasil.

O casco da P-66 foi construído pelo Estaleiro Rio Grande (RS), que como quase todos os demais no Brasil, se encontram em recuperação judicial. A integração dos módulos foi feita estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis (RJ), na última semana de onde a plataforma partiu para ser instalada na concessão BM-S-11, campo de Lula (Lula Sul) que é operado pela Petrobrás (65%) junto com a BG E&P Brasil (25%) e a Petrogal Brasil (10%).

A maior parte dos módulos do navio-plataforma P-66 também foi feita no Brasil e coordenada pelo Consórcio Tomé Ferrostaal e começaram ser montados em 2011. Já a integração dos mesmos à plataforma se iniciou a partir de 2014. 

Considerando os vários problemas nos estaleiros do Brasil, o tempo total de construção do casco, montagem dos módulos e integração à plataforma o tempo que, em condições normais seria menor não deve ser considerado nenhum absurdo, especialmente, pela expertise que propiciou à engenharia nacional e também pelo número de empregos e dinheiro circulando envolvendo fornecedores e prestadores de serviços nacionais.

O FPSO tem comprimento de 288m e 54 m de largura, geração elétrica com 4 turbogeradores de 25 MW, acomodações para 110 pessoas e capacidade para produzir até 150 mil barris de petróleo e 6 milhões de m³ de gás natural por dia, será ancorada a uma profundidade d’água de 2.200m. e tem capacidade de estocagem óleo no volume de 1.670.000 bbl.

Assim, estarão acabando com parte da mobilização da indústria nacional que geravam empregos e impostos no Brasil. Ao passar a contratar embarcações (plataformas, sondas e navios de apoio) no exterior, o petróleo nacional servirá, quase que exclusivamente, aos ganhos das petroleiras, sem deixar de considerar que neste momento se assiste à desintegração e venda das partes da estatal Petrobras. 

Os problemas de gestão e desvios na estatal existiam e deviam ser punidos e seus responsáveis severamente punidos. Porém, não se podia usar o caso para fazer o desmonte da tríade do setor : petróleo-porto-indústria naval como já comentamos neste espaço várias vezes. (Recentemente, aqui, aqui e aqui)

O resultado de tudo isto é que o país se assemelhará aos países produtores como Nigéria e Angola que não conseguem agregar valor e empregos às seus bens materiais exportados. Assim, sobrará desemprego e menor dinâmica econômica de um setor que chegou a movimentar 13% do PIB nacional.

segunda-feira, fevereiro 06, 2017

SBT Rio faz matéria sobre os absurdos cometidos nas desapropriações no Açu

Ao longo dos últimos anos, o blog trouxe para este espaço vasto material (muitas notas e imagens) sobre os impactos gerados sócio-econômicos gerados pela forma de implantação do Porto do Açu.

Hoje, por conta das informações que estão voltando à tona, com confirmações sobre como se deu, nos bastidores, toda esta relação entre as corporações e os agentes governamentais, de forma especial entre o empresário Eike Batista e o governador Sérgio Cabral, a questão das covardes desapropriações na região do Açu voltam à tona.

Assim, o SBT Rio preparou uma série de 5 reportagens sobre o tema. Tirando um senão aqui, outro ali, a matéria retoma várias questões que foram abordadas por este e outros blogs da região. A primeira (abaixo) foi ao ar hoje, ao meio dia. As demais estão previstas para serem exibidas ao longo da semana.


O blog tem duas seções do lado direito do blog, com vários links (as mais recentes - desde 2011) de matérias feitas sobre o Porto do Açu. A seção deixou depois de ser atualizada, mas os links continuam disponíveis para acesso com centenas de matérias.

Abaixo o blog vai trazer alguns destes links das várias notas que foram publicadas ao longo de quase uma década sobre os problemas decorrentes deste processo de implantação:

R$ 150 milhões anuais de aluguel para 4 empresas no Açu - 4 de junho de 2012:
http://www.robertomoraes.com.br/2012/06/r-150-milhoes-anuais-de-aluguel-para-4.html

Porto do Açu tem 13 das 33 ações e investigações do Ministério Público contra a EBX - 17 de setembro de 2012:
http://www.robertomoraes.com.br/2012/09/porto-do-acu-tem-13-das-33-acoes-e.html

Salinização no Açu vira matéria na Folha de São Paulo - 18 de dezembro de 2012:
http://www.robertomoraes.com.br/2012/12/salinizacao-no-acu-vira-materia-na.html

MPF depois de fazer recomendação requer da Justiça Federal a suspensão das obras do Porto do Açu -
31 de janeiro de 2013:
http://www.robertomoraes.com.br/2013/01/mpf-depois-de-fazer-recomendacao-requer.html

Valor da terra no Açu: m² de aluguel valendo o triplo do valor de compra/indenização - 8 de abril 2013:
http://www.robertomoraes.com.br/2013/04/valor-da-terra-no-acu-m-de-aluguel.html

Mais sobre a desapropriação em Água Preta - 14 de junho de 2013.
http://www.robertomoraes.com.br/2013/06/mais-sobre-desapropriacao-em-agua-preta.html 

Proprietários lutam pelos seus direitos e conseguem limpar tanques para dar água a gado no Açu - 6 de fevereiro de 2015:
http://www.robertomoraes.com.br/2015/02/proprietarios-lutam-pelos-seus-direitos.html

Para onde está indo o dinheiro das compensações ambientais - 16 de março de 2015
http://www.robertomoraes.com.br/2015/03/para-onde-esta-indo-o-dinheiro-das.html

Mar avança no Açu, toma as ruas e deixa moradores sobressaltados - 19 de março de 2015:
http://www.robertomoraes.com.br/2015/03/mar-avanca-no-acu-toma-as-ruas-e-deixa.html

2º Encontro de Resistência dos Atingidos pelo Projeto Minas-Rio no Açu - 24 de agosto de 2013:
http://www.robertomoraes.com.br/2013/08/2-encontro-de-resistencia-dos-atingidos.html

sábado, fevereiro 04, 2017

Shell e Petrobras com produções similares em 2016 têm direções opostas, interesses cruzados e ajudam a explicar a suspensão do conteúdo local

A produção de petróleo e gás em 2016 da Shell no mundo, com 3,6 milhões de barris de óleo equivalente (boe) por dia, foi apenas 6,4% maior do que o volume produzido pela Petrobras com 3,4 milhões de barris de óleo equivalente por dia.

Duas empresas diversas (uma corporação privada e a outra estatal) com produções quase idênticas, mas com direções opostas que provam que o interesse de uma significa o prejuízo da outra.
A Shell idolatrada como grande corporação e player mundial do setor, valoriza a integração de toda a cadeia produtiva do poço ao posto. como comentamos aqui, sobre posição do seu diretor de refino e abastecimento, John Abbott que afirmou com todas as letras que "uma empresa petrolífera integrada o valor pode deslocar-se para cima e para baixo da cadeia" e assim melhor se colocar.
De outro lado, a nossa Petrobras, nas mãos da turma do mercado a partir do governo Temerário, se desintegra e tende a ser apenas, uma petroleira gerando lucros e empregos no exterior.

Não por outro motivo há um ano (fevereiro de 2016) o presidente (CEO) global da Shell, Van Beurden, disse em entrevista que este blog repercutiu aqui que "o Brasil será um país-chave na nossa estratégia", afirmou. "Está seguramente no top 3 de nosso portfólio e, se considerarmos apenas a produção em águas profundas, é o maior".

Juntando as pontas das informações desencontradas que são divulgadas superficialmente e embaralhadas propositalmente, é possível ter uma leitura mais próxima e real do que está em curso. Só usando a totalidade como método de investigação e análise é possível entender e interpretar os fatos e os fenômenos em curso. 

Assim, infelizmente, é possível enxergar com clareza a entrega da joia da coroa e o crime de lesa pátria que o golpe político em curso no Brasil tem propiciado. 

Junto disto, vem a suspensão das exigências de conteúdo local que atende às petroleiras estrangeiras privadas que assim levam os empregos dos estaleiros e de uma imensa cadeia de produção e de serviços do setor que já foi responsável por 13% do PIB brasileiro e gerou milhões de empregos. 

Só agora, parte do setor produtivo nacional se apercebeu que ajudaram o golpe, mas estão também sendo por ele engolido. Se desejar leia aqui o artigo do presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), José Veloso com o forte título “Acabar com Conteúdo Local é crime de lesa Pátria” publicação ontem no PetroNotícias. Veja também aqui a publicação especial da Tn Petróleo com base no Sinaval (Sindicato da Indústria Naval) sobre a "Batalha Naval - a indústria sai em defesa do conteúdo local".

Capa do caderno especial da TnPetróleo sobre a disputa pelo conteúdo local
Na próxima segunda-feira (06/02), o governo definirá as regras de conteúdo local para a 14ª rodada de licitações de blocos exploratórios da ANP. A maioria do governo já decidiu pela pela redução destas regras com o argumento de "criar ambiente atrativo para investimentos nos próximos leilões de petróleo", como se as áreas ofertadas já não fossem por demais atrativas como confirma o CEO da Shell, Statoil, Total e outras grandes petrolíferas do mundo. Hoje, a exigência de conteúdo local fica entre 55% e 70% e é medida por itens e subitens.
O argumento para suspender as exigência de conteúdo local de que há atrasos na construção em estaleiros no país não se sustenta, como provou até a conhecida consultoria internacional Ernest Young (EY) que afirmou que no mundo todo, 78% das plataformas encomendadas acabam atrasando e 53% têm mudanças em seus orçamentos originais. (Valor, 03/02/17, P.A3).

O outro argumento de que atrasos na exploração de petróleo inibe as receitas pelos royalties é também frágil demais, para não dizer, um argumento no mínimo falacioso. 

Primeiro, porque a produção não deixará de existir - e portanto as receitas dos royalties e participações especias - mesmo que alongada no tempo. O que pode ser ainda interessante, quando o valor do barril tiver subido em novo "ciclo petro-econômico", previsto para a partir de 2020. 

Além disso, a movimentação financeira gerada pela produção industrial (tríade: petróleo-porto-indústria naval - veja postagem aqui), em termos de articulação de várias cadeias produtivas que chegaram a movimentar 13% do PIB, produzirá empregos, renda e um ambiente econômico e social melhor. 

O contrário disto é voltarmos à compra de plataformas no exterior da época de FHC (quando não havia exigência de conteúdo local) e a Petrobras ser uma petroleira desintegrada e no caminho do que acontece com a Nigéria, Angola e outras nações apenas produtoras de petróleo.

PS.: Atualizado às 14:12 para breves ajustes e acréscimos no texto.

sexta-feira, fevereiro 03, 2017

Pré-sal com produção 1,5 milhões de barris por dia é hoje muito menor que foi no passado

Pré-sal atinge a produção de 1.570.000 barris de óleo equivalente por dia oriunda de apenas 68 poços. Um colosso.

Assim cada dia que passa o pré-sal está mais próximo de atingir a maior parte da produção nacional de óleo e gás, já que a produção total de petróleo e gás natural no Brasil foi em dezembro de 3,433 milhões de barris de óleo equivalente por dia, segundo a ANP.

Só a plataforma P-58 produziu 189,6 mil barris de óleo equivalentes por dia em quatro campos de petróleo (Jubarte, Baleia Azul, Baleia Anã e Baleia Franca) através da interligação de um total de 13 poços.

Por tudo isso e pela surpresa com o seu baixo custo de produção, o pré-sal se consolida como a maior fronteira petrolífera descoberta nas últimas duas décadas no mundo, possuindo 6 dos 10 maiores campos de petróleo contabilizado neste período.

Assim, esta joia de nossa República é hoje cobiçada no mundo inteiro.

A demanda por produtos e serviços para a exploração/produção dessa imensa reserva vinha ativando o que passei a chamar da tríade "petróleo-porto-indústria naval" promovendo o econômico e social através da geração de empregos em diferentes regiões do país, mas foi dizimada. 

Os campos de petróleo estão sendo entregues assim como os serviços de engenharia e de fornecimento de equipamentos a corporações globais, abandonando a indústria nacional que vinha crescendo com a política de conteúdo nacional que está em vias de ser cortada.

Um setor que já chegou a ser responsável por cerca de 13% do PIB brasileiro, hoje está cada dia menor e menos voltado aos interesses da população brasileira. 

Desta forma, as veias abertas do pré-sal em nosso litoral passa a estar a serviço das economias centrais, mantendo a nossa condição de colônia.