sexta-feira, janeiro 29, 2016

Sobre a audiência pública da Prumo em SJB na 4ª feira: duas questões principais

Eu fiquei devendo aqui para este espaço, pelo menos, um breve comentário sobre a audiência pública para licenciamento da dragagem para aprofundamento do canal de atracação do Porto do Açu, realizada pela Ceca/Inea, na sede do município de SJB, na última quarta-feira, 27/01/2016.

Eu havia falado sobre ela aqui no dia 13 de janeiro. As audiências públicas de licenciamento ambiental estão muito desgastadas perante a sociedade.

Há um descrédito perante as informações do empreendedor e uma falta de espaço para um diálogo menos desigual, entre os técnicos a serviço do empreendimento e os demais cidadãos.

A comunidade com razão, sente-se usada para a legitimação de um processo, sem que suas preocupações com a redução e mitigação de impactos sociais e ambientais sejam de fato, levados em consideração, como contrapartidas da licença que o estado quase sempre fornece.

Na época de euforia do desenvolvimento o discurso é para aproveitar a onda e viabilizar os empreendimentos, deixando as preocupações e a maiorias das exigências de lado. Em épocas de baixa do ciclo, como agora, o discurso é o de liberar porque os empregos (que neste caso são mínimos e muito específicos) são necessários para vencer a crise. Nesta toada, exigências mínimas são deixadas de lado.

Sobre o caso em si deste licenciamento ambiental da dragagem para aprofundamento do canal de atracação do Porto do Açu vou tratar de apenas duas questões, dentre tantas outras importantes.

Apesar de presente à audiência na última quarta-feira, em São João da Barra, eu não tive a oportunidade para fazer oralmente, porque não interessava fazer apenas por escrito. As duas questões a serem encaminhadas à Ceca são:

1) A ilegalidade do licenciamento estar sendo feita pelo governo estadual através do Inea (Ceca) e não do Ibama.

2) Os impactos da dragagem sobre o litoral com repercussão sobre a erosão da Praia de Barra do Açu.

Sobre o primeiro assunto, eu compreendo que há um conflito no encaminhamento deste processo de licenciamento. Trata-se de um porto marítimo de um terminal com cerca de 3 km para dentro do mar e o canal de atracação que ser quer ampliar a profundidade com dragagem tem mais de 20 km. Não se trata de um porto de baía ou de enseada, na foz de um rio, mas do mar que tem responsabilidade ambiental do Ibama. Logo, me parece um conflito a ser corrigido. Vou citar um exemplo: o porto de Santos, o maior do país a dragagem é autorizada, inclusive a mais recente, pelo Ibama, mesmo sendo um porto de enseada, mas tendo o seu canal avançado em direção ao mar.

Sendo assim, eu não tenho muitas dúvidas que o MPF, ou uma ação judicial suspenderá um eventual licenciamento. A empresa Prumo Logística Global S.A. sabe disso, e se tem tanta pressa no licenciamento para ampliar a profundidade do canal de atracação e assim poder, no segundo semestre deste ano, já começar a fazer transbordo de petróleo, no Terminal 1 do Açu, deveria ter escolhido o caminho mais adequado e não o que lhe pareceu mais adequado, por razões que deveria explicar.

Erosão do mar do Açu em 03/09/2015 (Veja aqui)
Quanto à  dragagem com movimentação e retirada de areia, para uma área de depósito (bota-fora), na proporção e volumes projetados, considerando ainda os problemas já ocorridos, com a instalação dos quebra-mares que produziram uma significativa supressão de areia da praia, ninguém tem dúvidas que o problema da erosão se ampliará. 

Aliás, cabe recordar que o EIA/Rima do Terminal Sul (atual Terminal 2) usado para o licenciamento ambiental do mesmo já previa este grande impacto. É irresponsável a informação que consta do Rima deste licenciamento, de que historicamente há erosão na Praia do Açu. Isto não é verdade. 

Há aí uma tentativa de se livrar de um problema criado pelo empreendimento, e reconhecido no Rima anterior, de que a erosão que suprimiu cerca de 100 metros de praia, não tenha ligação com a construção dos quebra-mares. 

Assim, este licenciamento deveria, no mínimo prever medidas para proteger a praia, com projetos de engorda e uso de areia e também de proteções, para evitar novas movimentações e supressões de areia naquele litoral. 

A ampliação do canal e o transbordo de petróleo para a petroleira inglesa BG, numa empresa em sociedade coma empresa alemã Oiltanking, trará em curto espaço de tempo, milhões de dólares de lucro. 

O transbordo de pequenos petroleiros que trará o petróleo extraído das plataformas da região, para grandes petroleiros exportarem, em viagens para os EUA e Ásia, entre outros lugares gerará um ganho entre US$ 3 e US$ 4 por barril, por conta da redução do custo de frete. 

Uma empresa com verdadeira responsabilidade com a sociedade e com o ambiente onde está instalada, estaria se preocupando e agindo para prevenir situações como a previsível. Mais, estaria planejando ações, com um ínfima parte dos lucros que obterá com o empreendimento. 

Diante do quadro que se viu repetido na audiência pública de licenciamento, a sensação é que sociedade local/regional continuará a fazer as indagações já frequentes, sobre as vantagens da instalação do empreendimento sobre suas vidas. A conferir!

PS.: Atualizado às 01:30: Para corrigir a informação que saiu antes no título e no texto que a audiência aconteceu na terça feira, quando na realidade, foi na quarta-feira, 27/01/2016. A segunda, correção foi feita no meio do texto, quando equivocadamente me referi à Praia de Barra do Furado, quando na realidade é Barra do Açu.

Transporte responde por 64% em todo o consumo de petróleo no Brasil

Assim, como em todo o mundo, o setor de transporte (de pessoas e movimentação de cargas) também responde por uma maior participação no consumo de derivados de petróleo no Brasil, com o percentual de 64,4%. Em segundo lugar está o uso industrial com 11,4%.

Só em terceiro aparece o peso da geração de energia elétrica no consumo de petróleo no país, como 6,9%. É oportuno lembrar que o infográfico abaixo publicado originalmente pelo Valor, com dados do Ministério da Minas e Energia (MME), se refere ao uso energético do petróleo que equivale a 90% do total, os 10% restante tem uso na área de petroquímicos.

A ampliação da implantação e uso das energia renováveis que no Brasil está acima da média mundial tende a conter e reduzir estes percentuais, ampliando a chamada segurança energética, mesmo que para um prazo mais dilatado. A conferir!


As entrelinhas do que falam as agências de risco e a mídia comercial sobre a Petrobras

Eu acompanho, mesmo de longe, o que falam as tais agências de risco. Eu as vejo como uma forma de contribuir para ajudar na especulação do mercado e à pressionar nações e empresas, conforme seus interesses e de quem as pagam.

O caso da crise do financiamento das hipotecas americanas e europeias (sub-prime) na crise de 2008, já tão detalhadas em vários filmes, inclusive de Hollywood, é exemplar para mostrar os objetivos fundamentais da existência destas agências e suas estratégias de ação.

Ainda assim, dentro do receituário do economês que só olha dentro da caixinha, também me espanta como muitos dos "colonistas" econômicos da mídia comercial, e seus "inocentes" seguidores, acabam por apenas reproduzir a parte dos relatórios destas agências, que lhes interessa, conforme a demanda do dia.

Desta forma, outras leituras, mesmo que nas entrelinhas, de parte destes relatórios, permite outras interpretações, diversas da manchetes das páginas econômicas.

Escolhi uma delas para exemplificar o que estou comentando. A tão propalada agência de risco Fitch que vive ameaçando o Brasil e suas principais empresas (com aquelas letrinhas repetidas e seguidas de mais ou menos) divulgou esta semana, um dos inúmeros relatórios que tratam da questão do baixo preço do petróleo e de suas consequências.

Interessante observar que neste último, a agência Fitch diz textualmente que "a situação da Petrobras não é das piores", ao contrário do que se repete quase diariamente no país.

No relatório a Fitch diz ainda que "a estatal brasileira e a YPF argentina têm situação mais confortável por conta de sua habilidade de controlar preços de combustíveis no país. A geração de fluxo de caixa da Petrobras se manteve relativamente inalterada desde o início da queda dos preços já que a companhia conseguiu estabilizar os preços do produto que sai de suas refinarias em moeda local".

Boa parte disso, eu havia comentado aqui em duas notas no blog, em especial uma última em que defendi maior atenção com o projeto de refinarias, em especial a do Comperj quase pronta.

Enfim, é bom que se tenha um olhar mais amplo e cuidadoso, reconhecendo o limiar de um ciclo, entendendo que sair desta fase de transição, tem que ser a estratégia de curto prazo, para seguir adiante. Especialmente para as empresas que possuem ativos valiosos como a Petrobras com o seu pré-sal.

E nesta linha vale lembrar aqui uma outra matéria de outra agência internacional só que de notícias, a Reuters, que há poucos dias, também nas entrelinhas, ao falar das centenas de bilhões de dólares que estavam sendo cortados dos investimentos na área de petróleo, reproduziu a a fala de um especialista do mercado de petróleo: “As atividades que sobreviverem serão aquelas que irão oferecer os melhores retornos.”

Avançar na leituras das entrelinhas tem sido um dos meus hobbies. Na época do antigo Pasquim, um dos seus conhecidos criadores disse que notícia e informação de qualidade eram aquelas que não saía na mídia geral, que ficavam no cesto dos editores (as matérias eram batidas à máquina e colocadas numa caixa que o editor escolhia para publicar).

Hoje, em dia, após a ditadura tivemos a compreensão mais ampla de que ao invés de mídia geral ou jornalões, ela devem ser chamadas, mais apropriadamente, de mídia comercial.

Quanto ao conteúdo do que a agência Fitch disse é que em meio a todos os problemas E não são poucos), a Petrobras segue na fita, para desespero de quem quer apenas entregá-la para receber.

PS.: Atualizado às 11:42: para um breve complemento sobre o assunto.

Considerando a observação feita pela agência Fitch sobre a situação da Petrobras, neste contexto de crise do baixo preço, torna-se importante considerar como para a estatal é importante, a manutenção de sua cadeia de empreendimentos ligado ao petróleo, desde a exploração, refino e distribuição. 

É isso que lhe dá condições de enfrentar as especulações e pressões das corporações globais que se ampliam com as crise como a atual. Sem as pontas desta cadeia, a Petrobras estaria com os pés e as mãos atadas para construir alternativas para esta travessia de ciclos. 

Exatamente, isto que os "colonistas" econômicos defendem dia e noite: fatiar a Petrobras e vendê-la em pedaços, para combater o que eles chamam de "gigantismo desnecessário". 

Vejam como as entrelinhas, pode nos permitir, mesmo com a análise da agência de risco, ter uma melhor compreensão da realidade. Diante de tudo isto fica mais fácil entender as estratégias geopolíticas em jogo neste movimento global do setor de óleo e gás.

quinta-feira, janeiro 28, 2016

Wärtsilä confirma "hibernação" de suas atividades na unidade do Açu, embora garanta que o mercado do Brasil é um dos seus focos

O blog informou aqui na terça-feira que a empresa finlandesa Wärtsilä suspenderia suas atividades na unidade do Açu, cuja implantação se deu ano passado, junto ao terminal 2 do Porto do Açu.

Hoje, a assessoria de comunicação da empresa confirmou a informação do blog informando que:

"A Wärtsilä Brasil informa que decidiu “hibernar” o Delivery Centre Açu, em São João da Barra (RJ), a partir de janeiro de 2016, devido aos adiamentos do prazo de entrega dos equipamentos fabricados na unidade. A produção será retomada tão logo sejam confirmados os novos prazos por parte dos clientes.

Vale ressaltar que o Brasil permanece como um dos principais mercados para a Wärtsilä no mundo, fazendo do país foco na estratégia de investimento global da companhia."


O blog apurou ainda que a Wärtsilä não chegou a ter muitos funcionários na unidade do Açu. No máximo, durante o ano passado, entre 25 e 30 funcionários, incluídos entre 10 e 15, da empresa contratada para limpeza e serviços gerais.

O foco de atuação principal da Wärtsilä é o setor de grandes motores para embarcações e motores/geradores para sistemas de geração de energia elétrica. 

Por isto, é possível identificar que a empresa espera com uma das duas atividades voltar, num novo ciclo do petróleo e colocar a unidade do Açu em atividade. Ela será agora apenas guardada e protegida em termos de segurança de suas instalações.

A origem do gigantesco déficit do governo do ERJ e a mediação política para a busca de alternativas

Este blog comentou aqui, por duas ou três vezes, que o déficit no orçamento do governo estadual, não se explicava completamente, pela redução da receita dos royalties do petróleo (-R$ 3,3 bilhões, aproximadamente) e nem pela queda de receita do mais importante imposto arrecadatório dos estados brasileiros: o ICMS (-R$ 2 bilhões, aproximadamente, em valores absolutos e não corrigidos pela inflação).

Somando-se estas duas importantes quedas de receita, elas chegam a aproximadamente R$ 5,5 bilhões, valor que é bem inferior em mais de R$ 10 bilhões, ao déficit total do orçamento estadual.

Então qual a origem deste buraco? Resposta: a dívida do governo estadual que vem sendo rolada há tempo, com garantia e aval sustentados nas receitas dos royalties que o estado vinha arrecadando.

É verdade que nestes últimos tempos, de "vacas gordas", as dívidas vinham crescendo mais que o normal, mas sempre se conseguia um jeito para rolar esta dívida.

Isto acontecia por conta das garantias e dos avais, relacionados sempre ao crescimento da produção do petróleo no estado e ao alto preço do petróleo. O fato se derivava da razão de que eles apontavam para crescentes receitas de royalties e participações especiais, pagas pelas petroleiras, aos governos e repassadas, através da Agência Nacional de Petróleo (ANP).

Pois bem, aí está a explicação para o caos nas finanças do ERJ. A queda da receita dos royalties e até da queda da receita do ICMS que reflete o impacto disto na cadeia e em toda a economia, são altas, mas poderiam até ser contornadas.

Porém, a rolagem dívida do ERJ superior a R$ 10 bilhões ficou inviável por dois motivos. Primeiro, porque o aval é pequeno devido a previsão de receita baixa dos royalties com o preço do barril de petróleo em tão baixo nível, desde o segundo semestre de 2014.

Em segundo lugar, e em especial, por conta da total impossibilidade dos bancos (mesmo os públicos) avalizarem a rolagem desta dívida, que soma uma monta desta proporção de R$ 10,5 bilhões. Esta impossibilidade se dá por conta do altíssimo e iminente risco da liminar concedida pelo STF, que sustenta a atual forma de divisão das quotas de royalties do petróleo ser cassada, e assim as receitas do governo do ERJ desabarem ainda mais, ampliando os problemas, aí não apenas para o ERJ, mas para outros estados e também para os bancos. 

O governo do estado já há meses sabe disto. Foi baseada nesta avaliação, deste quadro preocupante e atemorizador das finanças estaduais, que a Procuradoria Geral do Estado e a Secretaria de Fazenda criaram dois projetos de lei, aprovados nos últimos dias do ano passado, taxando o setor de petróleo no ERJ.

Aparentemente, um contrassenso, ou um paradoxo: ampliar os tributos de um setor que está espremido por um ciclo de baixos preços e margens bem pequenas, para sustentar os pagamentos destes dois tributos:

1) Taxa de controle e fiscalização da exploração de petróleo equivalente a R$ 2,71 por barril.

2) Lei estadual 7183/2015 com alíquota de 18% de ICMS sobre movimentação de petróleo no estado.

Num linguajar popular, o governo estadual colocou o bode na sala. 

Nos primeiros dias deste ano, a Petrobras e outras as petroleiras que operam no país, já engordavam as receitas dos escritórios de advocacia especializados em questões tributárias e do setor de óleo, questionando a constitucionalidade destas medidas no campo jurídico.

No campo político, a Petrobras e a Shell procuraram conversar com a presidente Dilma e o governo estadual para retardar o cumprimento da lei e buscar saídas. Junto Pezão buscou o presidente do STF já por duas vezes, para expor a situação, tentando convencê-lo que uma decisão na linha do que está encaminhado, em que o ERJ perde as receitas para os demais estados, o caos se confirma no segundo maior estado da federação.

Evidente que hoje se reconhece que municípios e estados "petrorrentistas" gastaram como se não houvesse amanhã, de forma seguida e continuada, através dos diferentes gestores, nos sucessivos mandatos, num período de cerca de duas décadas.

Responsabilizar os servidores no geral, por este quadro geral é absurdo e inaceitável. No poder Executivo do estado, se tem uma média de salários que é inferior à da maioria dos estados do Brasil, assim como o comprometimento percentual da Receita Líquida (RL) do estado. É fato que algumas poucas áreas e categorias fogem a esta média.

Porém, os ajustes nas finanças do estado que agora emerge como um real problema é antigo e veio sendo escamoteado, por soluções financeiras, que só são viáveis em períodos de ciclo expansivo da economia. Na fase de colapso e de contração, o quadro é sempre caótico e nunca terá resolução unilateral, como alguns às vezes sonham ou inferem.

Entender de forma mais clara esta realidade (objetivo deste breve texto) é importante para que o debate não caia, nem no campo das tecnicalidades jurídicas ou financeiras, e nem na pura disputa de poder.

É sabido e notório que a solução de tão complexo problema e de tão profundas e graves consequências (como já visto na área de saúde e no atraso dos salários do funcionalismo), só poderá ser de natureza política e de mediação entre as diversas partes envolvidas.

Para que isto possa ser melhor mediado, eu compreendo que é necessário que este diagnóstico possa ser repartido pelas partes, diretamente interessadas, nesta mediação política. Só assim se poderá imaginar a construção de alternativas de curto, médio e longo prazos para o governo estadual, que nos representa enquanto população no exercício do poder político.

Não haverá saída fora deste diálogo que deve nascer da compreensão de que há que se reformar e corrigir desvios, mas não se pode penalizar a parcela da população que precisa mais dos governos, em suas diversas instâncias. 

Assim, eu espero que a colaboração desta breve análise contribua para a busca das saídas, sem que se deixe claro os motivos e as responsabilidades pelo quadro atual, de forma a evitar a repetição do quadro de tão graves consequências.

quarta-feira, janeiro 27, 2016

As previsões para o preço do petróleo até 2018 e o cuidado com a renovação das esperanças para um novo ciclo nos municípios da região

O Banco Mundial e o banco Goldman Sachs refizeram as previsões de preço do barril de petróleo, médio para este ano 2017 e 2018.

O primeiro estimou o preço médio para o 1º trimestre deste ano em US$ 29,25. Para se ter uma ideia a previsão anterior, para o preço médio de todo o ano era de US$ 51.

A previsão para o período de julho a setembro é subir para um valor entre US$ 38 e US$ 40. Assim, o valor médio do preço do barril ano seria US$ 36,25, equivalente a 27% menor do que a previsão anterior que era de US$ 51.

Para 2017, a estimativa de preço médio seria de US$ 54. Para 2018, a estimativa de preço médio é de US$ 67, já num novo ciclo.

Sem guerra entre os poderosos, preços acima de US$ 100 como ocorreu entre 2009-2014 não está na previsão de ninguém.

Assim, o cinto continuará apertado nos municípios petrorrentistas, porque eles terão que viver com valores de receita equivalentes a este de agora do menor preço.

Isto acontecerá porque a ligeira folga de 2017 e 2018, seria consumida integralmente, pelos empréstimos feitos pelas prefeituras junto aos bancos, em 2015, e agora, em 2016.

Ou seja, há que se saber dos candidatos aos cargos eletivos a nível destes municípios da região, no pleito de outubro próximo, como pretendem caber dentro deste cinto já previamente apertado.

Este esforço não será uma tarefa simples, porque a busca da confiança do cidadão para representá-lo, costumeiramente, se pauta num ambiente de esperança e expectativas.

É no pleito e no contato direto que a democracia eleitoral oferece para que esta confiança e esperança sejam renovadas, mas há também que se ter o cuidado, para não enganar mais uma vez as pessoas, com promessas inexequíveis e incompatíveis, à dramática realidade a que se chegou nestas cidades, a despeito dos inúmeros alertas feitos, por parte da sociedade.

Há que se buscar coragem e determinação para enxergar as saídas, junto com quem mais precisa dos governos.

terça-feira, janeiro 26, 2016

Blog obtém informações que a Wärtsilä planeja suspender atividades no Porto do Açu - empresa diz que se posicionará amanhã

A empresa finlandesa Wätrsilä implantou uma unidade junto ao terminal 2 do Porto do Açu visando desenvolver atividades relacionados ao seu ramo de atuação, em montagem e manutenção de motores principais e auxiliares, serviços de propulsão para embarcações e soluções completas para usinas de energia elétrica.

A Wärtsilä está no Brasil desde o ano de 1990 e, segundo a sua página na internet, possui cerca de 700 funcionários em oito estados: Rio de Janeiro, Amazonas, Rondônia, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Maranhão e Espírito Santo. Ao todo, seriam mais de 29 usinas termelétricas no país com mais de 2,5 GW de potência instalada. Na área naval, a Wärtsilä Brasil tem base instalada com capacidade superior a 1100 MW em mais de 270 embarcações e instalações offshore.

No Porto do Açu, em São João da Barra, a Wärtsilä montou uma "fábrica multi-produto", com um galpão, instalado no final do canal do terminal 2, que ficou pronta ano passado, 2015. (foto aérea ao lado da Prumo)

De lá para cá a Wärtsilä vinha mantendo um número pequeno de funcionários, que estaria fazendo ajustes na planta e desenvolvendo atividades, em atendimento a demandas de outras unidades da empresa, inclusive, Niterói, onde funciona um centro de serviços para indústria offshore no Brasil, atendendo demandas de empresas que atuam na área de exploração de petróleo nas bacias de Santos e de Campos. 
Unidade Wartsila em Niterói,
próximo à subida da Ponte

O blog obteve a informação de que vários trabalhadores da Wärtsilä estão sendo dispensados, com a informação de que as atividades no Açu, poderiam retornar daqui a um ano. No final de dezembro pasado, a empresa já havia rompido o contrato com a empresa de limpeza Rio Shop que demitiu o pessoal que trabalhava para a Wärtsilä.

O blog fez contado com a Assessoria de Imprensa e Comunicação da empresa e recebeu como resposta que Wärtsilä "está em período de silêncio e, por isso só se manifestará sobre o assunto após o dia 27/01".

A empresa diz ainda que este "período de silêncio" é necessário porque antecede à divulgação dos resultados da empresa que acontecerá amanhã, dia 27/01. A Wärtsilä está listada na bolsa NASDAQ em Helsinki, na Finlândia. No Brasil a Wärtsilä não está inscrita e não possui ações na Bovespa. Assim, o blog aguarda a resposta da empresa, enquanto trabalha com a informação apurada no Açu.

10,7% do consumo total brasileiro é de conteúdo estrangeiro

Este dado se origina de uma tabulação da OCDE, a partir do indicador Tiva (Comércio em Valor Agregado entre Nações). O Tiva utiliza a matriz insumo-produto mundial e mede fluxos de importações e exportações em valor adicionado na produção de mercadorias. O percentual de 10,7% é referente ao ano de 2011, o último disponível.

Este dado foi citado pelo diretor do IE da UFRJ, professor e economista David Kupfer, em seu último artigo no Valor "Todo mundo em pânico".

A partir dele, uma série de reflexões pode ser feita. Uma mais simples é a confirmação da baixa inserção externa da economia brasileira nas cadeias de valor global. Para o bem e para o mal.

Por outro lado, indica uma pujança local razoável, bem acima do que se imagina e, muitas vezes, até se divulga ou comenta, sem base na realidade.

Ainda, segundo Kupfer, no setor da indústria de transformação este percentual chega a cerca de 50% do valor adicionado total, a maioria ligada às cadeias de Alimentos, Derivados de Petróleo, Química e Petroquímica e Metalurgia.

De alguma forma estas quatro cadeias são baseadas em commodities. O que se configura como uma preocupação, embora nem de todo ruim, porque ela contém uma agregação de valor através da atividade industrial.

Esta nota tem a intenção em reforçar, a importância de estudos para se conhecer mais profundamente, a realidade sobre as nossas cadeias produtivas. Se sabe pouco sobre elas.

O caso atual de crise do ERJ com o susto com o tamanho da dependência da cadeia do petróleo é uma demonstração inequívoca sobre a complexidade destas cadeias, de suas relações e de sua importância na tomada de decisões governamentais e privadas.

segunda-feira, janeiro 25, 2016

A crise nas cidades petrorrentistas - como compreender o processo e buscar mediações e alternativas de superação?

O quadro econômico-financeiro nas prefeituras petrorrentistas, em especial - pelo porte - Campos e Macaé - era conhecida há muito tempo e tem por trás dele, muitos responsáveis, entre criadores e criaturas.

Ele vai bem para além das finanças públicas e envolve outras atividades econômicas que foram, paulatinamente - umas mais e outras menos - se pendurando, na dependência do que chamo a "economia dos royalties" que é diferente da "economia do petróleo", embora só exista por dependência desta última.

O quadro, como previsto, já repercute sobre o comércio e sobre os serviços e tende a ampliar esta repercussão. Outro setor inflado artificialmente, com manipulações e especulações é o setor imobiliário que terá ainda mais impacto arrastando e sendo arrastado, pela atual baixa da economia dos royalties sobre todas estas cadeias.

Como já disse deve se evitar ser cabotino, diante de um quadro que, se de um lado expõe seus responsáveis (ou irresponsáveis), de outro também faz sofrer um contingente enorme de pessoas que foram manipuladas, tanto pela área política, quanto por espertos dos outros diversos setores, em proporções difíceis de serem medidas.

O momento é de respeito às vítimas deste quadro lamentável, mas é também de superar a retórica da responsabilização, para a construção, com coragem de uma nova maneira de gerir, tanto a coisa pública, quanto os setores privados que atuam na economia regional.

Tenho repetido que é preciso que a região se enxergue menos fragmentada por municípios e por setores de atividades, cada uma, a seu modo vem tentando se safar das dificuldades. Sabia-se que elas viriam e que chegariam mesmo antes do petróleo acabar, ou dos royalties serem divididos também para outras unidades da federação.

Não há milagres diante de uma realidade tão cruel, mas também não se pode deixar atingir a todos igualmente. É preciso considerar aqueles que possuem menos meios de enfrentarem o quadro atual e também, como se imaginava, viria junto com dificuldades econômicas do estado e da União ampliando e as consequências sobre a população.

É a partir daí que se deve pensar as alternativas, no curto e no médio prazos.

Da mesma forma que se desejava que se fizesse a gestão pública, na época do boom (e da bonança) de forma participativa e compartilhada, não há porque decidir sobre cortes e ajustes, da forma centralizada e autocrática ou tecnocrática com este "moderno nome" - de "gabinete de crise" - que se pegou emprestado (das emergências de desastres ambientais), composto unicamente dos próprios gestores (secretários) sem outras representações da sociedade.

Por aí se avança pouco. Sem interlocução e mediação política, as alternativas pensadas, parecerão sempre, como sendo de um lado contra o outro e não, de saídas que devem interessar a toda a sociedade.

PS.: Título da nota construído a partir da boa observação do Yuri Costa, em comentário feito no perfil do FB, onde este texto foi postado há pouco.

Nova rodovia do Açu pode ser acrescida à BR-101 que tem indefinições sobre duplicação e contorno de Campos

Uma audiência realizada no último dia 13 de janeiro, por convocação da Firjan- Macaé, nas dependências do Senai daquele município, discutiu diversas questões relativas aos gargalos das obras de duplicação da BR-101.

Este trecho de 320,1 quilômetros de extensão da BR-101, entre a Ponte Rio-Niterói e a divisa com o estado do Espírito Santo é operado pela concessionária Autopista Fluminense S.A, empresa do grupo espanhol Arteris.

Na audiência a Autopista Fluminense informou que as indefinições seriam sobre a duplicação dos 46 quilômetros da rodovia que passam por Macaé. Também se comentou sobre a rota que removerá o traçado da estrada de dentro do trecho urbano de Campos, quando a empresa alegou dificuldades por conta da "complexidade e volume de recursos que serão necessários".

A Autopista alegou que as dificuldades no trecho que corta Macaé, e o construir duas novas pistas no trecho conhecido como "Brejo da Severina" e também parte que corta a Reserva Biológica da União (ReBio).

Em Campos, o desafio está na realização das obras de duplicação dentro da localidade de Ibitioca, situada no Km 80 da rodovia. No caso do trecho do "Brejo da Severiana" a concessionária deixou a entender que poderá não duplicá-lo, apesar da obrigação contratual. Resta saber a posição da ANTT que é o poder concedente.

Ainda segundo a Autopista Fluminense, dois trechos têm previsão de liberação da duplicação até o final do primeiro semestre deste ano: na região de Campos dos Goytacazes, entre o km 84 e o km 101 e na região entre Rio das Ostras e Rio Bonito, entre o km 197 e o km 248. Eles somam 68 quilômetros.

O trecho urbano de Casimiro de Abreu (km 206) ficará para mais adiante porque pelo projeto será construído um elevado. Segundo a concessionária até agora foram entregues 43 quilômetros de pistas duplicadas de um total de 176 quilômetros previstos.

O presidente da Câmara de Vereadores de São João da Barra, Aluizio Siqueira, presente à audiência questionou sobre a rodovia que faria obre a ligação do Porto do Açu até à BR-101. Na ocasião, a LLX que desenhou o projeto passou a chamá-lo de Corredor Logístico, com previsão de pista rodoviária, linha ferroviária e dutos de serviços para gás, água e comunicações.

Sobre o assunto a concessionária informou que a informação que dispõe é que se trata agora de uma outra rodovia com novo traçado. Ela sairia do Porto Açu passaria próximo à Tocos seguiria próximo à Lagoa Feia e ligaria ao novo traçado da BR-101, na altura de Ibitioca, em trajetória próxima, mas distinta do traçado da ferrovia que ligará os portos de Vitória ao Rio, passando pelo Açu.

A informação é de que este seria uma noval rodovia estadual, apesar do estado não ter dinheiro para obras novas e nem perspectivas. A não ser que pretendam trocar a obra por uma concessão em troca de pedágios.

Esta hipótese não é improvável, porque na mesma audiência foi comentado por pelo responsável pela Autopista Fluminense que há uma expectativa, que depois que a estrada for construída, ela possa ser federalizada, para em seguida ser acrescida à concessão federal da BR-101.

Sobre o assunto, também foi ventilado na ocasião, que existiria até um paradigma, de uma estrada no município de Aracruz, no ES, que teria sido acrescida à concessão federal. A conferir!

sábado, janeiro 23, 2016

A conta petróleo no Brasil e os investimentos em refino como parte das estratégias a serem desenhadas para o próximo ciclo

Ainda e mais uma vez avançamos nas reflexões sobre petróleo, enquanto uma das vertentes do desenvolvimento nacional.

O Brasil é superavitário (em US$) na relação entre importações e exportações de petróleo, com o valor de US$ 4,4 bilhões em 2015.

O nosso problema é com os derivados cuja conta foi negativa em US$ 10,1 bilhões, especialmente por conta da demanda interna de diesel (cuja balança foi deficitária em US$ 3,3 bi), em nafta (déficit de US$ 1 bi) e gás natural com déficit de US$ 5,3 bilhões.

No ano passado o Brasil exportou 16,5 bilhões em petróleo (especialmente o pesado, parafinado e de valor menor e que nossas refinarias não processam) e importou 22,2 bilhões, especialmente em derivados.

Assim, resumindo, sem querer ser superficial, mas para ser breve, temos uma necessidade de concluir o Comperj e ampliar o parque de refino, mesmo que a demanda interna, neste momento esteja contida, mas ainda é maior que a produção interna. Isto ajudaria a reduzir o déficit na conta petróleo que é baixa, além de ativar nossa economia.

No mundo, antes deste momento ímpar de baixo preços e manipulação deste mercado de petróleo, havia avanços nas buscas e descobertas de novas fronteiras de exploração petrolífera.

Porém, o que é mais fácil de ser percebido é o avanço nos parques de refino, especialmente na Índia, Oriente Médio e África.

Na Índia se vê uma expansão da capacidade de refino de quase 700 mil barris por dia (b/d) e o início do funcionamento em 2008, da Reliance Industries, maior refinaria do mundo que processa até 580 mil barris por dia. Por lá, outras 5 refinarias estão em construção.

No Oriente Médio, o Kuwait monta novas refinarias com capacidade superior a 600 mil b/d. Também, os Emirados Árabes com 400 mil b/d; Abu Dhabi com 417 mil b/d, assim como instalações em Argélia e Angola na África.

Refinaria Abreu Lima, Suape Pernambuco
A estratégia não é simples, porque não se constrói uma refinaria da noite para o dia. Com investimento, muito esforço, dedicação e competência, há necessidade de pelo menos 4 a 5 anos.

Até por isto, e considerando ainda a produção crescente de petróleo no Brasil até 2025 (mesmo que em ritmo menor do que o previsto anteriormente) e de olho em um novo ciclo à frente, a estratégia do setor de petróleo e gás nacional necessita ser ajustada.

Há vários problemas a serem corrigidos no setor e em sua maior empresa, a Petrobras. Porém, a venda sem critérios e sem visão estratégica e integrada da função de cada ativo desta cadeia de valor, é um tremendo equívoco, para ser tolerante, com os propositores desta ideia.

Neste cenário, não dá para não considerar desvairada, a outra ideia de reduzir o tamanho da Petrobras, ou transformá-la numa série de novas empresas, dividas por ativos, para além do que já se tem.

Assim, neste ponto, há que passar a agir na direção da renegociação da dívida da Petrobras, assim como de uma capitalização para este novo momento. Parceiros não faltarão.

O setor de energia continua sendo estrategicamente indispensável, para uma nação como o Brasil que possui seis dos maiores campos descobertos no mundo nas últimas duas décadas.

Além do petróleo, as energias alternativas avançam em produção também no Brasil e por isto devem ser consideradas, no tabuleiro das decisões desta geopolítica.

O Brasil, queiram ou não, é uma peça cada vez mais importante e por isto tão alvejado por pressões políticas e econômicas e, por outro lado, tão procurado para para parcerias diversas, daquelas até aqui formuladas. Para isso, é preciso olhar para além da conjuntura e enxergar e trabalhar no novo ciclo que se terá, inexoravelmente, adiante.

PS.: Atualizado às 22:54: Para corrigir o título.

sexta-feira, janeiro 22, 2016

Prefeitura de Vitória multa as empresas Vale e Arcelor em R$ 68 milhões por poluir ar e mar


A Prefeitura de Vitória multa as empresas Vale e Arcelor em R$ 68 milhões (R$ 34, milhões cada) por poluírem ar e mar, com pó de carvão e minério de ferro, movimentados no Porto de Tubarão, onde as atividades continuam interditadas.

Diante do problema real e que vinha se arrastando é sempre louvável identificar um gestor local com com disposição de fazer o que seu papel de regulação e fiscalização em defesa da comunidade lhe cabe.

O comum é o inverso, uma total submissão aos interesses das empresas, especialmente, as de grande porte, como é o caso.

É certo que a municipalidade também perde com a interdição, porque se reduzem as receitas do Imposto Sobre Serviços (ISS) que não são pequenas, ainda mais em época de crise, como a atual.

É também sabido que estas multas seguem um processo longo, com fases de recursos, analisados por conselhos e câmaras.

Ainda assim, vale (sem nenhum trocadilho) observar os desdobramentos do caso, considerando que questionamento sobre problema similar esteve sendo investigado pelo Ministério Público Federal (e Inea), no Terminal 1, do Porto do Açu, onde há a movimentação de minério de ferro, através da empresa FerroPort, joint-venture, entre a Anglo American e a Prumo.

Sobre este assunto o blog publicou aqui uma nota em maio de 2015. Outra aqui em junto de 2015.

Na imagem abaixo retirada do vídeo divulgado pela própria Prumo, no mês passado (dezembro de 2015) é possível ver as condições e as consequências do embarque de minério de ferro, num navio graneleiro, junto ao Terminal 1 do Porto do Açu.






















PS.: Atualizado às 17:56: Da Agência Reuters:
"A Vale afirmou nesta sexta-feira que a interdição judicial de operações no porto de Tubarão, no Espírito Santo, impedirá o embarque diário de 200 mil toneladas de minério de ferro por dia e a importação de 44 mil toneladas de carvão mineral, que também abastece grande parte da indústria siderúrgica nacional.

A mineradora, maior exportadora global de minério de ferro, paralisou na quinta-feira as vendas externas a partir do porto de Tubarão, responsável pelo embarque de mais de 30 por cento da produção da companhia, cumprindo decisão judicial motivada por questões ambientais
."

Manipulação no mercado futuro de petróleo gera enorme volatilidade

O nível de manipulação e especulação nos negócios de petróleo são imensos, mesmo que isto esteja relacionado a uma enorme variedade de indicadores.

Veja que hoje, mesmo depois de ter sido divulgado ainda pela manhã que os EUA formou com os baixos preços o maior estoque de petróleo em 25 anos, o preço do valor do barril, estava há pouco com alta, só hoje, na faixa de 8%, tendo atingido, US$ 31,60. Veja gráfico da movimentação hoje.


Esta volatilidade está relacionada, não apenas ao controle que os principais bancos fazem deste comércio que acontece apenas em dólar, mas especialmente ao chamado comércio de futuro, ou derivativos, feito em papeis.

Tenho lido análises de que haveria no mercado, um volume de papeis de comércio de petróleo futuro, cerca de três vezes maior do que o real que hoje é relativo a uma produção mundial pouco acima dos 90 milhões de barris por dia.

Desta forma, pode-se afirmar que este setor não tem importância apenas estratégica e geopolítica. Como a mercadoria (commodity) mais negociada do mundo, a manipulação em pequenos percentuais (para cima ou para baixo) já geram enormes lucros a quem tem o controle deste fluxo.

PS.: Atualizado às 13:56:
Duas outras notícias desta manhã, sobre o mercado de petróleo, reforçam a tese da volatilidade, manipulação e nervosismo que ronda o setor, não apenas entre governantes das nações, mas no ambiente das grandes corporações:

1 - "Shell, BP, Statoil e Total podem ser rebaixadas pela Moody's".

2 - A gigante de serviços na área de óleo & gás, Schlumberger informou que vai demitir 10 mil trabalhadores, após identificar prejuízo de US$ 1 bilhão, só no último semestre de 2015. O primeiro nos últimos 12 anos.

O CEO da empresa disse que: "o baixo preço do barril de petróleo vem afetando diretamente as finanças da companhia, com menos projetos sendo desenvolvidos. “Não havia sinais de recuperação de preços a curto e médio prazo”.

quinta-feira, janeiro 21, 2016

Polícia Federal interdita Porto de Tubarão por poluição com pó de minério de ferro e carvão

A ação da Polícia Federal, se deu como cumprimento de um Mandado Judicial de Interdição foi expedido pela 1ª Vara Federal do Espírito Santo.
Foto mostrando a poluição divulgada pela PF.

A decisão judicial suspendeu temporariamente as atividades que são geridas pelas empresas Vale e ArcelorMittal, no terminal de minério de ferro e no Pier de Carvão na Praia Mole, por conta da poeira de carvão no ar de Vitória e pó de minério, no mar.

Um inquérito policial investiga os supostos crimes ambientais cometidos pelas empresas. "Alusivos à poluição e ao assoreamento da Praia de Camburi, decorrentes do lançamento de minério e carvão no mar, bem como aos danos causados à saúde humana, em razão da emissão de gases poluentes e partículas".

Os equipamentos dos terminais foram lacrados, e assim a Vale, que é responsável pleas atividades no Porto, foi impedida de operar qualquer atividade comercial que envolvem minério ou carvão.

PS.: Atualizado às 16:22: O Porto de Tubarão iniciou suas atividades em 1966 e é por onde sai a maior parte das exportações de minério de ferro do Brasil. Ele é seguido pelo Porto de Itaqui, no Maranhão, por onde sai parte do minério extraído pela Vale, na Serra de Carajás, no Pará.

quarta-feira, janeiro 20, 2016

El País atribui ao "colapso das bolsas ao preço do petróleo e aos riscos geopolíticos mundiais"

Manchete agora, no portal jornal espanhol El País, também atribui à queda (que o jornal chama de colapso) das principais bolsas europeias (fecharam com quedas superiores a 3%) à crise dos baixos preços do barril de petróleo e ao que chamou de "dúvidas sobre o crescimento e ao petróleo e ao riscos geopolíticos mundiais":

"Desplome de las Bolsas por las dudas sobre el crecimiento y el petróleo Las grandes plazas europeas cierran con grandes pérdidas superiores al 3% lastradas también por los riesgos geopolíticos mundiales. El Ibex 35 cae en una jornada negra un 3,2%."

Vale lembrar que a Espanha ganha com os baixos preços do petróleo, porque importa 99% de tudo que consome.


Empresa canadense de helicópteros CHC reafirma interesse na área offshore do Brasil

Em extensa entrevista concedida ao site PetroNotícias, o gerente Geral de Operações da CHC Brasil,Ricardo Maltez, subsidiária da canadense CHC Global disse sobre a Petrobras:

"A Petrobrás, por exemplo, é uma das principais clientes a nível mundial. É uma conta-chave. É Um cliente muito estratégico. Aliás, mais do que nunca, ela é o nosso foco. É importante para nós deixarmos clara nossa parceria com os nossos clientes, e no Brasil não tem como não ser parceiro da Petrobrás, que usa cerca de 90% da frota brasileira voltada ao setor offshore. Dos 38 helicópteros que a gente opera no País, a maior parte é para atender à Petrobrás. Hoje também atendemos a Shell."

A CHC no Brasil é uma subsidiária da CHC Global, criada a partir da aquisição da BHS, então uma empresa familiar, na década de 2000. Hoje conta com pouco mais de 630 funcionários e representa entre 15% e 20% do grupo. A CHC tem em torno de 240 aeronaves, em 20 países no mundo e 38 em operação no Brasil.

A CHC Brasil possui quatro bases de operação no país: em Macaé, onde operam vários operadores; em Cabo Frio, que afirma ser a principal; Farol de São Tomé, que é da Petrobrás, mas só operada pela CHC; e uma quarta em Vitória, onde opera para a Shell. A de Cabo Frio é onde opera com maior intensidade fazendo voos mais longos, também atendendo algumas plataformas da reserva do pré-sal. Nesta base de Cabo Frio foi realizado um investimento de R$ 42 milhões e se transformou num hub da empresa, onde comporta mais de 10 aeronaves.

A empresa afirmou ainda que tinha plano de expansão com construção de outro hangar no aeroporto de Macaé, com investimento de US$ 5 milhões, mas resolveu adiar, depois de terraplanar a área, por conta da conjuntura global, para ver como vai trafegar em 2016 de como será a demanda das petroleiras.

Nesta fase a empresa diz estar prospectando outros clientes no Uruguai, Bacia da Guiana e a Margem Equatorial e México. Sobre a situação no Brasil, o CEO da CHC informa que pretende fazer um adequado dimensionamento, que "sirva também para quando o crescimento retomar. Estamos prontos para voltar a crescer quando for necessário".

Como se percebe, as empresas estão se ajustando, isto significa alguma redução de pessoal, segurando despesas e salários, mas sabem que o setor é cíclico e desta forma, também cuidam de planejar a retomada. 

Boa notícia, os juros e a lógica

Em meio aos problemas, uma boa notícia: "em seus dos 23 setores industriais a participação das exportações na produção já voltou ou superou ao nível de 10 anos atrás". A fonte é o jornal Valor (aqui).

Aliás no mesmo Valor, também há uma boa entrevista com um dos ganhadores do prêmio Nobel de Economia, talvez, um dos mais importantes até aqui, o Stiglitz, que defendeu que o Banco Central brasileiro abaixe os juros, imediatamente.

Neste quesito ele certamente está acompanhado por muitos. Um deles é o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco que também defendeu a redução dos juros. Pode parecer incrível um banqueiro com esta posição.

Porém, é simples de entender. Trabuco também afirmou ao jornal que a demanda por crédito em nossa economia "é quase inexistente".

Ou seja, melhor emprestar com juros menores e para mais gente, do que para poucos (ou ninguém) com a fixação de juros altos. Simples, não precisa entender de macroeconomia para concluir.

terça-feira, janeiro 19, 2016

Ainda sobre o preço do petróleo entre prejuízos, dumping e o efeito bumerangue

Segundo estimativas da consultoria Rystad da Noruega, cerca de 20 milhões de barris, produzidos por dia no mundo, estão registrando prejuízos por estarem acima dos seus custos de extração, mais royalties e custo dos investimentos (dívida).

Vale recordar que atualmente se produz em torno de 90 milhões de barris por dia em todo o mundo, nas diferentes condições e regiões.

Há efetivamente, um custo destas petroleiras que estão mantendo a produção apesar dos prejuízos. Porém, elas certamente, estão queimando gorduras da época áurea, no aguardo de um novo ciclo.

De outro lado, é possível intuir que as intenções de quem trabalha para manter nos baixos patamares o atual preço do barril, é o de derrubar as concorrências para ganhar adiante.

Os economistas chamam este fenômeno provocado de dumping. O setor financeiro e os fundos de investimentos conhecem bem este processo e sabem perfeitamente quem são os alvos. Assim tentam atingi-los, mas o processo nem sempre é assim tão controlável e muitas vezes age tal qual bumerangue. A conferir!

Planejamento e exploração para um novo ciclo

Devem ser comemorados e incentivados, no Brasil e no mundo, todos os planos, projetos e ações a favor do incremento das chamadas energias alternativas.

Porém, por tudo que se pesquisa, no prazo de pelo menos três décadas, até lá por volta de 2050, a economia do petróleo, ainda terá um peso enorme na geopolítica da energia. Gostemos ou não disso.

Assim, neste momento de baixa do setor, que favorece compradores e prejudica produtores de petróleo é quase do cotidiano, o corte de atividades e suspensão de projetos.

Porém, quando da retomada, será fato que existirão menor quantidade de reservas e equipamentos, em condições de colocar em curto espaço de tempo, instalações e equipamentos para fazer os poços e campos de petróleo e gás produzirem.

Neste momento, quanto menos capacidade de produzir, quanto maior serão os preços dos "ativos" das petroleiras e do barril do óleo e m³ do gás.

Assim, não é difícil intuir que as nações e as corporações do setor que melhor se planejarem, para este momento, mais ganharão desde que, consigam superar as adversidades conjuntural e cíclica deste momento.

É nesta condição que observo a informação de que o maior navio de sísmica do mundo 3D, o Ramfor Atlas, da empresa PGS foi contratado para atuar em áreas das Bacias Potiguar e do Ceará, obtidas na 11ª Rodada de Licitações de Blocos de Petróleo e Gás da ANP.

Embarcação de sísmica Ramfor da PGS
O trabalho desemprenhará de sísmica será desenvolvido em 7.200 Km² da Bacia do Ceará e 2.600 km² da Bacia Potiguar no litoral do Rio Grande do Norte. Veja detalhes aqui.

Enfim, no setor de óleo é importante, tanto observar o que está sendo feito para evitar os atuais problemas decorrentes do baixo preço do barril, quanto verificar o que pode estar sendo feito em termos de planejamento e exploração para um novo ciclo.

No meio desta atual conjuntura, há aqueles que diuturnamente defendem a entrega de tudo, ou quase, para depois ter que depender dos oligopólios e das traders que junto do setor financeiro comandam esta cadeia produtiva.

Em termos de energia no geral é importante seguir avançando os projetos de energia eólica e solar. Já na área do petróleo e do gás é o momento de suportar os trancos e as pressões, se ajustar, corrigindo problemas e distorções e preparando projetos e equipamentos de menores riscos aos trabalhadores e ao ambiente, enquanto se espera o novo ciclo é o caminho para seguir em frente.

Impactos da economia do petróleo em diferentes nações

Ao contrário do que alguns pensam, nem todos perdem com a redução do preço barril de petróleo, como é o caso dos países que consomem mais que produzem.

Neste quadro há dois casos especiais. Um de menor porte é a Espanha na Europa. Outro é, por exemplo, a grande Índia.

O caso espanhol é emblemático porque, mesmo no sul da Europa tem a grande petroleira que é a Repsol e vive procurando petróleo no Mar Mediterrâneo, mas ainda hoje importa 99% de todo o petróleo que consome.

Diante do atual quadro de redução do preço do petróleo, a Espanha comemora, depois de ter atualizado as suas contas, dizendo que a cada 10% de queda do preço do barril do petróleo, o seu PIB cresce entre 0,10% e 0,15%.

Estes números podem parecer pouco, mas para uma economia que tem mais 25% de desemprego, nenhum crescimento com perspectiva de alavancagem pode ser desprezado.

Num outro lado, no Brasil, um país com grande produção e consumo, onde estes números se aproximam, vendendo e importando petróleo e derivados, por conta das capacidades instaladas e tipos de petróleo processados em suas refinarias, os investimentos na sua estatal de petróleo, a Petrobras, significam um retorno dobrado no PIB brasileiro. Ou seja, para cada real (ou dólar investido) se tem como resultado, o dobro deste valor no PIB.

É certo que aí está apontado bem para além dos resultados com a extração, mas também toda a IE de apoio, indústria e serviços demandados e que geram empregos e movimentam a economia.

Entender estas e outras diferenças e similaridades é parte da imbricada forma de se pensar a inserção nas cadeias de valor global, diante de oportunidades e riscos.

segunda-feira, janeiro 18, 2016

Ainda sobre o difícil quadro econômico do ERJ

O ERJ usou R$ 6,9 bilhões dos recursos de depósitos judiciais para reduzir o déficit no orçamento estadual do ano passado que ultrapassou os R$ 15 bilhões.

Isso na prática significa que um dos artifícios para reduzir o déficit em 2016, já não existe mais. A redução com a receita de royalties e PE ficaram em valores absolutos de 2015, em relação a 2014, em torno de R$ 3,5 bilhões. Já a perda de receita com ICMS foi de cerca de R$ 2,5 bilhões (Veja PS. abaixo).

Desta forma, não tendo mais às mãos, o artifício usado foi aumentar algumas alíquotas e criar novas taxas e impostos. O governo estadual estuda também ampliar os descontos dos servidores da ativa, de 12% para 14%, para capitalização do Rio Previdência.

Os vários descontos oferecidos aos sonegadores de impostos, inscritos na dívida ativa, também já gerou a maior parte da arrecadação possível.

Assim, as contas para este ano tendem a ter ainda mais dificuldades, mesmo com os cortes de despesas, porque as áreas básicas, como educação e saúde, que atendem diretamente ao cidadão fluminense, não têm mais como serem cortadas.

O pior é que mesmo vendo a queda nos preços do barril do petróleo, a Secretaria de Fazenda insistiu em prever receitas com royalties e PE, baseadas no preço médio de US$ 65. Enquanto isso, hoje, o barril do petróleo chegou ao valor de US$ 27,77, ou seja, bem menos da metade do valor estimado.

Mesmo com a ajuda do governo federal, a situação do ERJ é bastante preocupante para o ano de 2016. O descontrole com contratos caros e terceirizações ajudou a compor este quadro. E olhe que o salário médio do servidor e o percentual de gastos com pessoal em relação à arrecadação total no ERJ é inferior à maioria dos demais estados.

PS.: Sobre perdas de arrecadação em ICMS, veja abaixo tabela elaborada em artigo de Pedro Jucá Maciel que mostra os valores arrecadados entre janeiro e outubro de 2015, comparado ao mesmo período de 2014, para 20 dos 27 estados da federação. Observe que neste período a perda em valor absoluto (sem levar em conta a inflação, ou estimativa de arrecadação) de receita de ICMS é de cerca de R$ 1,8 bilhão. 
Para ter acesso ao artigo completo do Maciel "ICMS: um retrato da economia brasileira em 2015", clique aqui. Entre outras coisas ele mostra que se não fossem os aumentos de arrecadação de ICMS com energia (através da correção das tarifas) e do recebimento das dívidas ativas, o quadro seria ainda mais dramático para os estados da federação, embora, em proporções diversas, conforme a realidade de cada um.  


Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana Fluminense

Foi assinado na quinta-feira da semana passada o contrato para a elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana. O consórcio vencedor foi o liderado pelo arquiteto Jaime Lerner e formado pelas empresas Jaime Lerner Associados e Quanta Consultoria e terá investimentos de R$ 7,7 milhões do Banco Mundial.

assinam o contrato,Vicente Loureiro, José Ribamar e
Jaime Lerner. 
Fotógrafo: Carlos Magno
Pelo contrato, o plano definirá ações estruturantes para os 21 municípios da Região Metropolitana, com prazo de conclusão em 30 de junho de 2017.

As áreas estratégicas de execução do plano envolverão os setores de Mobilidade, Saneamento, Resiliência, Uso do Solo e Comunicação. As primeiras ações começam este mês, com a definição de ações nas áreas de mobilidade, saneamento, sustentabilidade e ordenamento territorial.

A tarefa caberá ao Comitê Executivo de Estratégias Metropolitanas – criado para integrar as políticas de caráter metropolitano – e contará com a participação de representantes de oito secretarias: Obras, Casa Civil, Transportes, Ambiente, Habitação, Fazenda, Assistência Social e Planejamento.

Pela metodologia, o consórcio que coordena o plano ele ficou com o compromisso em ouvir a sociedade com a realização de audiências públicas nos municípios e ainda criar um conselho, reunindo representantes do Executivo e do Legislativo dos 21 municípios, entidades de classe, universidades e ONGs para acompanhar todas as etapas do plano.

Fonte: Imprensa RJ.
Mapa dos 21 municípios que atualmente compõem a
região metropolitana fluminense

Comentário: O blog já falou sobre este assunto no ano passado por pelo menos duas vezes. Uma aqui no dia 19 de fevereiro. A outra foi aqui no dia 15 de setembro, quando, além da notícia sobre o plano, o blog fez diversas considerações sobre a necessidade de uma gestão compartilhada, de uma interação supramunicipal e infra-regional. Nesta oportunidade disse entre outras coisas:

"A medida da organização da gestão metropolitana é tardia e muito necessária. O ERJ está atrasado neste esforço. Outros estados andaram pouco na discussão deste tipo de governança e de gestão compartilhada que, de certa forma objetiva pensar uma articulação supramunicipal dentro da região que é um problema do federalismo brasileiro, que cria enormes dificuldades de implementação de políticas públicas, para resolver carências que ultrapassam o âmbito dos municípios."

Assim, a pergunta é no sentido de saber se, em meio à crise financeira do ERJ, se pode ter esperanças de que o plano possa ter alguma serventia, se será efetivamente participativo, ou se servirá apenas e mais uma vez para atender às consultorias. É fato que urge não apenas um planejamento, mas ações coordenadas e integradas da região metropolitana fluminense. 

sexta-feira, janeiro 15, 2016

Não há razões para imaginar que o baixo preço do barril do petróleo não atinja fortemente os EUA

Posso até estar errado – e não é difícil – mas, observando com mais acuidade a crise do baixo preço do barril de petróleo no mundo, mesmo que o sentimento possa ser diverso, eu começo a desconfiar que os EUA, no geral, talvez percam tanto, ou mais, do que outras nações, com as intercorrências desta conjuntura, em meio às disputas intercapitalistas, por setor de atividade.

Muitos alegarão que a atual conjuntura é parte da estratégia dos EUA, de um nova guerra fria, de pressionar a Rússia, Irã, Venezuela e ainda criar condições favoráveis para adquirir “ativos petrolíferos”, com preços menores pelo mundo (inclusive Brasil), etc.

Porém, os EUA possuem, disparadamente, a maior capacidade tecnológica e de suprimento de equipamentos, bens e serviços do setor de óleo e gás do mundo.

Assim, os EUA encabeçam esta poderosíssima cadeia produtiva – no Brasil atua com as empresas que mais faturam em equipamentos e serviços - e desta forma, sofrem pelos baixos preços e pela redução das atividades de sondas e outros equipamentos, que valem milhões em alugueis (ou bilhões em venda), além da diminuição dos investimentos futuros. Abaixo um gráfico da redução do nº de sondas em atividade nos EUA, entre setembro de 2014 e janeiro de 2016:

Fonte: San Antonio Express


















No plano interno dos EUA, lendo um relatório de um destes analistas de riscos de fundos de investimentos ligado à cadeia do petróleo, lá consta a estimativa de que o setor de energia seria responsável por cerca de 70% do crescimento da capacidade industrial americana, entre os anos 2009 e 2014, exatamente após a crise de 2008. Não sem coincidência, no auge do preço do petróleo, considerando que entre 2011 e 2013, em nenhum momento o preço do barril esteve abaixo dos US$ 100.

Esta análise não é simples, porque mesmo que os EUA sejam, quase empatado com a Rússia e a Arábia Saudita, os maiores produtores de petróleo, são também os maiores importadores e consumidores mundiais, seguidos, em ambas as situações, pela China.

Talvez seja um exagero considerar atual a frase do Henry Kissinger no início da década de 80 “controle o petróleo e você controlara as nações”, mas não convém descartá-la por completo.

Todos sabemos que as commodities vivem ciclos e que o petróleo é a commodity mais negociada do mundo. E em dólar. Os ciclos remetem inevitavelmente a períodos de assenso e descenso trazendo a recessão que parece se avizinhar, para adiante, se ter uma nova expansão, após apropriação dos excedentes.

Se esta hipótese tem algum sentido nós veremos em breve, e assim o freio na economia dos EUA poderá ser tão complicada quanto a da China. A conferir!

PS.: Atualizado às 13:08: Para corrigir redação e aperfeiçoar título.

quarta-feira, janeiro 13, 2016

Consumo de álcool (etanol) combustível cresceu 39,2% em 2015, o maior desde o início do ProÁlcool

O consumo de etanol (álcool) hidratado como combustível aumentou 39,2% em 2015, quando comparado ao ano anterior de 2014. Foram vendidos cerca de 11 bilhões de litros do biocombustível. Foi o maior consumo de etanol desde o início do Programa do Álcool.

Por que será que você não viu esta informação com destaque em nenhuma mídia comercial?

Esta notícia é boa para a questão ambiental, considerando ainda que o consumo total de combustíveis em 2015 caiu 3% e o de gasolina reduziu 8,6% em relação ao ano anterior.

No total, segundo a Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas de Combustíveis e Lubrificantes) as suas associadas teriam vendido cerca de 101 bilhões de litros de combustível em 2015.

PS.: Atualizado às 23:40:  Interessante ainda relembrar como o município de Campos foi ficando de fora deste circuito. O programa ProÁlcool quando iniciou em 1975 - quando da crise do petróleo - o Norte Fluminense tinha participação importante no contexto da produção nacional. Não que a população vivesse bem. Hoje, vive-se a maldição mineral com um combustível não renovável e uma petrodependência.

PS.: Atualizado ás 13:42: O jornal Valor publicou hoje, na P.A2, uma matéria sobre o consumo de combustíveis em 2015 no Brasil, mas não dá destaque ao maior consumo de álcool desde o início do Programa do Álcool na década de 70 no Brasil. A matéria traz um infográfico sobre o consumo de combustíveis no Brasil em 2015, a partir de dados do Sindicom:



Audiência Pública para Licenciamento do Aprofundamento da Dragagem do Terminal 1 do Porto do Açu

As informações do site da holding Prumo Logística Global S.A. controladora do Porto do Açu estão paralisadas desde que a empresa decidiu fechar o seu capital em dezembro, no mesmo momento em que houve a troca de comando da empresa. A Prumo é controlada pelo fundo financeiro americano EIG.

Os acionistas minoritários da Prumo Logística (ex-LLX) estão reclamando da falta de informações do setor de Relações com Investidores (RI). Uma assembleia geral está marcada para o próximo dia 22 de janeiro, onde os laudos de avaliação do valor destas ações serão apreciadas. Segundo informações obtidas pelo blog as avaliações são muito díspares, com diferença de mais de três vezes.

Enquanto isto, o blog foi informado de que no próximo dia 27 de janeiro, às 19 horas no Estádio Municipal José Viana, no centro do município de São João da Barra, haverá uma audiência pública para debater o licenciamento ambiental para avaliar a autorização para o aprofundamento da dragagem do Terminal 1 do Porto do Açu.

Estranho uma audiência num estádio de futebol e às vésperas do carnaval. Além disso, a questão da dragagem se relaciona à hipótese da erosão na Orla da Praia de Barra do Açu e também onde será o "bota fora" da areia que será retirada com o aprofundamento do canal de atracação do Porto do Açu.















PS.: Atualizado às 22:12: Clique aqui e faça o download para o arquivo do EIA (Estudo de Impacto Ambiental) do licenciamento. São 2.221 páginas.

Preço do petróleo deve chamar reunião de emergência da Opep. Previsão que produtores de xisto americano entrem em recuperação judicial

O baixo preço do barril de petróleo pode levar a reunião de emergência da Opep. Além disso, há uma previsão de que os produtores americanos de xisto entrem em recuperação judicial.

As informações são da agência de notícias "Investing" ligado a investidores. "Os atuais preços do barril de petróleo na casa dos US$ 30 - com projeções que o levam até US$ 20 - começam a trazer à tona o desconforto de parte dos países da Opep. A organização poderá realizar uma reunião de emergência ainda nestre trimestre, segundo o ministro de petróleo da Nigéria, Emmanuel Ibe Kachikwu.

A reunião poderá dar novos rumos à atual estratégia da Opep de não reduzir a produção para controlar preços. Estes em queda dificultam o negócio dos produtores com custos mais altos fora do cartel, especialmente da extração do shale nos EUA.

Atualmente, cerca de 35% da produção mundial é controlada por países membros da Opep, participação que vem sendo reduzida ao longo do tempo com a entrada de novos players. Kachikwu defende que um acordo entre os exportadores - Opep ou não - é essencial para garantir o equilíbrio no mercado que atualmente está sobreofertado.

Projeções de três grandes bancos de investimento - Morgan Stanley (N:MS), Goldman Sachs e Citigroup - já esperam que o barril do óleo caia para a casa dos US$ 20, como resultado da redução do ritmo de crescimento da China e da apreciação do dólar.

Previsão da Wolfe Research aponta que um terço dos produtores norte-americanos poderá entrar em recuperação judicial em meados de 2017 com os atuais preços do óleo.

O barril do óleo perde 2,6% nesta terça-feira (12/1) e é negociado aos US# 30,59 Às 13h50. O Brent desvaloriza 2,3% para US$ 31,20."

Hoje, no mercado internacional, às 15 horas o valor do barril brent estava ainda mais baixo que ontem a US$ 30,38.

Enquanto isto, por aqui, se critica a Petrobras porque definiu investimentos de US$ 98 bi até 2019. O valor é maior do que o definido pela maioria das petroleiras do mundo. 

Só como exemplo, a Gazprom, segunda maior produtora mundial de petróleo com 8,3 milhões de barris por dia, previu para 2016, investimentos de US$ 11 bilhões.

Impressionante como se fala bobagem e como papagaios repetem os "mantras" dos colonistas que seguem a mesma cartilha de Wall Street.

Por que analisar os investimentos da Petrobras pelos cortes?

Interessante ler de outra forma a matéria do Globo de hoje que diz em machete: "Corte da Petrobras causa perda de R$ 260 bi no PIB".

A reportagem se baseia num estudo do ano passado, do Ministério da Fazenda. O mesmo atribui reflexo dobrado ao PIB do país, de tudo aquilo que é investido na Petrobras.

Considerando que em todo o mundo os cortes no setor são imensos e que os investimentos anunciados pela estatal até 2019, são maiores do que a maioria das petroleiras em todo o mundo, neste cenário de baixíssimo preço do barril, a ênfase da matéria poderia ser outra, como aliás comentei ontem aqui neste espaço.

Com investimentos de US$ 98,4 bilhões, ou cerca de R$ 400 bilhões, pode-se imaginar uma grande contribuição da Petrobras à retomada mesmo que gradual da economia, já que por ele, o impacto no PIB do Brasil seria de R$ 800 bilhões, quase R$ 1 trilhão.

Cada vez mais eu percebo o quanto é importante aprofundar a análise da informação que nos tentam passar como verdade. Podemos ler todos os jornais e ver as todas as tvs, de acordo com o tempo e o interesse que possuímos. 

Porém, especialmente nas questões essenciais, é necessário aprofundar o conhecimento, construir uma visão crítica. Contrapor opiniões, levantar hipóteses, construir sínteses, etc. e daí formular opiniões, debater coletivamente fazendo a roda girar.

Consumir informações pautadas e editadas transformando-as em verdades, mais do que um equívoco é assumir a disposição em ser usado. 

Nos meus quase doze anos de blog e outros tantos, simultaneamente de FB e twitter, eu nunca pretendi passar verdades e ter diálogo apenas com quem concorda comigo. Ao contrário defendo que que se leia criticamente todas as informações e opiniões, inclusive, e por que não, as deste blogueiro.

Este é um caminho mais saudável e interessante. Por diversas vezes, como ocorre comigo, eu não tenho bases sobre o assunto que leio. Assim, se o tema me interessa, eu busco mais informações, outras opiniões, leituras conceituais que explicam a base do conteúdo, e daí em diante, passo a construir hipóteses, sínteses, etc.

Cada um lê o que quer nas reportagens, porém não creio que ninguém goste de ser usado como correia de transmissão daquilo que não se conhece.

Mais sobre informação e contrainformação na geopolítica da energia: a desdolarização do comércio de petróleo no mundo

Há uma semana, no dia 6 de janeiro, eu comentei aqui sobre uma reportagem do The Wall Street Journal, sobre a redução dos investimentos de capital para exploração de petróleo e sobre os interesses envolvidos no setor e entre as nações.

Pois bem, hoje, a nossa fonte de informação utilizada é outra. É o jornal russo Pravda. Ele traz uma matéria "Preço do petróleo: Rússia quebrará monopólio de Wall Street" com elementos interessantes sobre a estratégia russa, e que seria também da China, sobre o rompimento com o petrodólar, ou seja, com a necessidade de se possuir dólar para comercializar o produto mais negociado no mundo.

Até para seguir na linha que busca interpretar o que é informação e o que seria contrainformação vale conferir as intenções expostas nesta matéria. É oportuno lembrar que a Rússia é, praticamente, junto com a Arábia Saudita e os EUA, os maiores produtores mundiais de petróleo.

Sugiro ainda que se releia nota do blog, publicada no dia 28 de dezembro de 2015 (aqui) com o título
"Rússia se mantém entre os maiores produtores de petróleo, mesmo com a crise do baixo preço" que comenta matéria da Bloomberg sobre a estratégia russa que ao desvalorizar sua moeda aumentou a produtividade, reduzindo custos de produção de petróleo em seu território.

Enfim, juntando estas diversas pontas deste grande e complexo novelo da geopolítica da energia vale conferir a estratégia sobre a desdolarização do comércio de petróleo.

"Preço do petróleo: Rússia quebrará o monopólio de Wall Street"
"Rússia acaba de dar passos significativos para quebrar o atual monopólio que Wall Street impõe ao preço do petróleo, pelo menos para parte significativa do mercado mundial de petróleo. O movimento é parte de estratégia de mais longo prazo para descolar a economia da Rússia e, especialmente sua muito significativa exportação de petróleo, do dólar norte-americano - que é hoje o calcanhar de Aquiles da economia russa. 

No final de novembro, o Ministério de Energia da Rússia anunciou que começaria a testar um novo preço referencial para o petróleo russo. Talvez pareça café pequeno para muitos, mas é importantíssimo. Se o experimento for bem-sucedido, e não há razão para que não seja, os contratos futuros negociados para o cru russo nas bolsas russas, serão denominados em rublos, não mais em dólares norte-americanos. É parte de um movimento de desdolarização que Rússia, China e número crescente de outros países já iniciaram sem alarde.

A fixação de um preço referencial [orig. oil benchmark price: preço para o cru que serve como referência, facilitando para vendedores e comparadores a determinação dos preços de incontáveis variedades de crus e misturas] é o eixo de distribuição de todo o sistema que os grandes bancos de Wall Street usam para controlar os preços mundiais do petróleo. 

Hoje, o petróleo é a principal mercadoria negociada em dólares em todo o mundo. O preço do cru russo está hoje referenciado a um preço chamado "preço Brent". O problema é que o campo de Brent, como outros grandes campos do Mar do Norte estão já em declínio, o que implica dizer que Wall Street pode estar usando uma referencial em vias de esgotamento, para controlar o preço de quantidades gigantescas de petróleo. O outro problema é que o contrato Brent é controlado essencialmente por Wall Street e pela manipulação dos derivativos em bancos como Goldman Sachs, Morgan Stanley, JP MorganChase e Citibank.

O fim do 'petrodólar'

A venda de petróleo denominado em dólares é essencial como apoio ao EUA-dólar. Por sua vez, manter a demanda por dólares em todos os bancos centrais, como moeda básica das reservas nacionais para pagar pelo petróleo importado, em países como China, Japão ou Alemanha, é essencial para que o EUA-dólar continue a ser a principal moeda de reserva em todo o mundo. O status de principal moeda de reserva no mundo é um dos dois pilares da hegemonia dos EUA desde o final da 2ª Guerra Mundial. O segundo é a força militar armada.

EUA financia suas guerras com dólares dos outros

Porque todos os países têm de comprar dólares para pagar pelo petróleo e por praticamente todas as mercadorias que importam, países como Rússia ou China (para ficar nesses exemplos) investem em papéis do governo dos EUA ou outras securities semelhantes do governo dos EUA - portanto, em dólares -, o excedente que suas empresas acumulam. O único segundo candidato suficientemente grande para esses investimentos, o euro, passou a ser visto como de mais alto risco desde a crise da Grécia em 2010.

O papel de liderança do EUA-dólar na função de moeda de reserva é o que permite, desde agosto de 1971, quando o dólar foi desvinculado do lastro ouro, que o governo dos EUA sobreviva apesar de infindáveis déficits no orçamento, sem ser forçado a subir a taxa de juros - como alguém que pudesse usar um 'cheque especial' bancário infinito, sem limite nem prazo.

É também o que permitiu que Washington criasse dívida federal recorde de $18,6 trilhões, sem nenhuma preocupação. Hoje, a relação dívida federal/PIB do governo dos EUA é 111%.

Em 2001, quando George W. Bush assumiu a Casa Branca, e antes de torrar trilhões na "Guerra ao Terror" no Afeganistão e Iraque, a mesma relação EUA-dívida/PIB era a metade do que é hoje: 55%.

Daí que os falastrões em Washington vivam a dizer que "dívida não é problema": porque têm certeza de que Rússia, China, Japão, Índia, Alemanha estão para sempre condenados a ter de comprar a dívida dos EUA com os dólares excedentes que consigam acumular. 

Manter esse 'poder' - a condição de principal moeda internacional de reserva - é prioridade estratégica para Washington e Wall Street, vitalmente ligada ao processo pelo qual o mundo determina os preços do petróleo.

No período até o final dos anos 1980s os preços mundiais do petróleo eram determinados, em grande proporção, pela relação real diária entre oferta e demanda. Ali ainda reinavam os corretores de petróleo, os que compravam e vendiam. Então, Goldman Sachs decidiu comprar uma pequena corretora de mercadorias que havia em Wall Street, J. Aron, nos anos 1980. Já haviam posto o olho na possibilidade de transformar o modo como, dali em diante, o petróleo seria negociado nos mercados mundiais.

Foi o advento do "petróleo papel", petróleo vendido em contratos futuros - contratos independentes de entrega do cru físico, que podem ser muito mais facilmente manipuláveis por grandes bancos, cujos preços são muito sensíveis a boatos e a operações clandestinas sórdidas 'de mercado', e quanto mais sórdidas mais lucrativas. Esse 'mercado' era meia dúzia de bancos de Wall Street que denominavam as vendas futuras de petróleo e sabiam que posições preservar e que posições vender - função insider muito conveniente, da qual não se fala em reuniões sociais da boa sociedade. 

Foi o começo da conversão do mercado de petróleo em cassino, no qual Goldman Sachs, Morgan Stanley, JP MorganChase e uns poucos outros bancos gigantes de Wall Street controlam as mesas de roleta.

Depois do aumento do petróleo da OPEP em 1973, quando o preço chegou a quase 400% em apenas alguns meses depois da Guerra do Yon Kippur em outubro de 1973, o Tesouro dos EUA enviou emissário de alto nível a Riad, Arábia Saudita.

Em 1975, o secretário-assistente do Tesouro dos EUA Jack F. Bennett foi enviado à Arábia Saudita para firmar um acordo com a monarquia, pelo qual o petróleo saudita e de toda a OPEP passaria a ser negociado exclusivamente em EUA-dólares, não mais em ienes japoneses, ou marcos alemães, ou o que fosse. Imediatamente depois, Bennett assumiu um alto posto na Exxon.

Os sauditas exigiram altas garantias militares e equipamento de ponta, em troca do 'acordo' e, daquele ponto em diante, por mais que países importadores de petróleo tenham protestado, o petróleo é vendido em dólares em todos os mercados do mundo, a preços determinados por Wall Street mediante o controle dos derivativos e do mercado de futuros, como se faz na Bolsa Intercontinental Exchange, ICE em Londres, na Bolsa de Mercadorias NYMEX, em New York, ou na Bolsa Mercantil de Dubai, que determina o preço de referência para o cru árabe. Todas essas instituições são propriedade de um fechadíssimo grupo de bancos de Wall Street (Goldman Sachs, JP MorganChase, Citigroup e outros). Foi quando se diz que o secretário de Estado Henry Kissinger teria dito que "Se você controla o petróleo, você controla nações inteiras". O petróleo sempre foi o coração do Sistema EUA-dólar, desde 1945.

Importância do preço referencial russo 

Hoje, os preços do petróleo que a Rússia exporta são fixados conforme o preço Brent negociado em Londres e New York. Com o lançamento do preço referencial da Rússia, isso deve mudar, provavelmente muito dramaticamente. O novo tipo de contrato para o cru russo em rublos será negociado na Bolsa Mercantil Internacional de São Petersburgo (SPIMEX).

Os contratos referenciados ao preço Brent são usados atualmente para fazer preço não só do petróleo cru russo. Fazem preço também de mais de 2/3 de todo o petróleo negociado internacionalmente. O problema é que a produção do Mar do Norte está caindo, a ponto de que hoje míseros 1 milhão de barris de Brent ali produzido fazem o preço de 67% de todo o petróleo comercializado no mundo. 

Contratos denominados em rublos russos podem dar mordida considerável na demanda por petrodólares, tão logo comecem a aparecer.

A Rússia é o maior produtor de petróleo do mundo; a criação de um referencial independente para o preço do petróleo russo, que seja independente do dólar, é evento muito significativo, para dizer o mínimo. Em 2013 a Rússia produziu 10,5 milhões de barris/dia, pouco mais que a Arábia Saudita. Dado que país usa predominantemente o gás natural, os russos podem exportar 75% de todo o petróleo que extraem. A Europa é, de longe, o principal consumidor do petróleo russo, comprando 3,5 milhões de barris/dia, ou 80% do total das exportações russas.

O petróleo Urals Blend, mistura de vários tipos de petróleo russo, é o item mais exportado da 'carta' de petróleo russo. Principais consumidores são Alemanha, Países Baixos e Polônia. Para avaliar com mais clareza o peso do preço referencial que os russos estão criando, basta considerar que os demais grandes fornecedores de cru para a Europa - Arábia Saudita (890 mil barris/dia), Nigéria (810 mil b/d), Cazaquistão (580 mil b/d) e Líbia (560 mil b/d) - ficam muito abaixo da Rússia, na relação de fornecedores para a Europa.

E, também, a produção doméstica de petróleo na Europa já entrou em declínio acentuado. O petróleo extraído em toda a Europa caiu abaixo de 3 mi b/d em 2013, acompanhando o declínio ininterrupto também no Mar do Norte, base do referencial Brent.

Fim da hegemonia do dólar não prejudica os EUA

O movimento dos russos para negociar petróleo em rublos para os mercados mundiais, especialmente para a Europa Ocidental, e cada vez mais para China e Ásia pelo oleoduto SOOP (Sibéria Oriental-Oceano Pacífico) [ing. ESPO, Eastern Siberia-Pacific Ocean] e por outras vias, precificado pelo novo referencial russo, na Bolsa Mercantil Internacional de São Petersburgo não é, de modo algum, o único movimento concebido por países dependentes do dólar, para escapar dessa dependência na compra de petróleo.

Em algum momento, no início do próximo ano, a China, segundo maior importador de petróleo do mundo, planeja lançar seu próprio contrato para compra de petróleo a ser pago, não em dólares, mas em yuan chineses - a ser negociado na Bolsa Internacional de Energia de Xangai.

Passo a passo, Rússia, China e outras economias emergentes estão tomando medidas para reduzir o muito que dependem do EUA-dólar, para se "desdolarizar". Petróleo é a mercadoria mais negociada no mundo e quase inteiramente em EUA-dólares. Se essa relação desigual for rompida, a capacidade do complexo industrial militar norte-americano para fazer guerras sofrerá duro baque.

Talvez assim se abram algumas portas para ideias mais pacíficas, menos belicistas, sobre como gastar os dólares dos contribuintes norte-americanos para reconstruir a infraestrutura básica da economia dos EUA, hoje reduzida às mais escandalosas ruínas.

Em 2013, a Sociedade Norte-Americana de Engenheiros Civis estimou em $3,6 trilhões o investimento em infraestrutura básica de que os EUA carecem, se for feito nos próximos cinco anos (se demorar mais que isso, os números crescem). 

Aquele relatório informa que de cada nove pontes nos EUA, mais de 70 mil pontes em todo o país, estão em estado precaríssimo. Quase 1/3 de todas as grandes rodovias nos EUA estão em más condições. Só dois, dos 14 grandes portos que há na costa leste têm condições de receber os super cargueiros que em breve estarão chegando pelo recém alargado Canal do Panamá. Já há no mundo mais de 224 mil quilômetros de trilhos para trens de alta velocidade; nem um metro deles em território dos EUA.

Esse tipo de gasto em infraestrutura básica seria fonte muito mais economicamente benéfica de empregos reais e de renda real para os EUA, que as infindáveis guerras de que John McCain fez meio de vida. Investimento em infraestrutura, como já escrevi incontáveis vezes, tem efeito multiplicador na criação de novos mercados. Infraestrutura cria eficiências econômicas e arrecadação da ordem de 11 dólares para cada dólar investido, porque toda a economia ganha eficiência.

Declínio dramático no papel do dólar como moeda mundial de reserva, se combinado com foco concentrado, à moda russa, na reconstrução da economia nacional, em vez de deslocalizar tudo, terceirizar tudo em todos os casos, seria excelente caminho para reequilibrar um mundo já completamente enlouquecido com tantas guerras.

Por paradoxal que pareça, a desdolarização - que negue a Washington os meios para financiar guerras futuras com o que o país recebe de chineses, russos e outros compradores de papeis da dívida pública dos EUA - pode vir a ser valiosa contribuição para um mundo de paz genuína. Não seria ótimo, para variar?"

Link da matéria no Pravda: http://port.pravda.ru/russa/13-01-2016/40168-petroleo_russia-0/.

PS.: Atualizado às 17:22: O autor do texto reproduzido pelo Pravda é F. William Engdahl. Ele é consultor de risco estratégico e professor formado em Política da Universidade de Princeton, além de autor best-seller do "Petróleo e geopolítica". Seu texto foi publicado originalmente na revista on-line "New Outlook Oriental", link: "http://journal-neo.org/2016/01/09/russia-breaking-wall-st-oil-price-monopoly/."