terça-feira, janeiro 31, 2017

Diretor da Shell realça importância da petroleira ser uma empresa integrada, o inverso que Parente faz com a Petrobras

John Abbott, diretor da área de abastecimento e refino da petroleira anglo-holandesa, Shell disse em entrevista ao jornal inglês da área de economia e finanças, Financial Times, que as operações deste setor, chamado de “dowstream”, é a mais lucrativa da petroleira e, segundo suas palavras isto “reforça as justificativas a favor do modelo das grandes petroleiras de ter presença em toda a cadeia de negócios, da plataforma de perfuração à bomba de gasolina”.

Abott disse mais "em uma empresa integrada de petróleo, você aprende que o valor pode deslocar-se para cima e para baixo ao longo da cadeia", disse Abbott. "Mas o 'downstream' é um motor constante de dinheiro para pagar dívidas, pagar dividendos e financiar o crescimento."

A matéria na versão original a que esta nota se refere é do jornalista Andrew Ward do Financial Times e pode ser lida aqui, ou em sua republicação, edição do Valor, hoje, 31/07/2016, P. B3, aqui.

Todos que questionam o processo de desintegração que a gestão do Parente/Temer faz com o leilão de ativos da holding Petrobras há muito dizem, que uma petrolífera precisa ter uma forma de atuação integrada e nunca marginal apenas na produção.

Assim, a ideia sempre foi de fazer da Petrobras uma empresa que vai do poço ao posto. Ao longo de décadas a estatal foi se estruturando e ganhando competitividade em vários setores da cadeia produtiva do petróleo, desde a produção inovadora em águas profundas, em oleodutos e gasodutos para transporte e circulação, beneficiamento e refino e produção de petroquímicos, e ainda, com atuação na distribuição e no consumo destes derivados.

Desde que Parente assumiu ele faz o inverso desintegrando a atuação da Petrobras, entregando a preço vil tanto ativos de produção (campos de petróleo), malhas gasodutos e setores de distribuição dos derivados e petroquímicos.

Assim, a fala do diretor da Shell, John Abbott, é mais que simbólica porque confirma que a estratégia que vimos defendendo é a melhor para a estatal, assim como para uma corporação global do porte da Shell.

Desta forma, a Shell não para de investir no Brasil, tendo inclusive comprado a petrolífera inglesa BG, por US$ 50 bilhões exatamente, por conta dos direitos de exploração e campos de petróleo que esta detinha no litoral brasileiro. 

É ainda interessante relembrar que este processo de desintegração que se faz da Petrobras, permite que outras grandes petroleiras globais se verticalizem, ampliando assim, o controle mundial de ativos em diferentes nações. Eu analiso este processo em minha pesquisa e apresento na tese de doutorado, que será defendida, em março no PPFH-UERJ a representação gráfica com a imagem abaixo (p. 205).

   Fonte: Tese de doutorado do blogueiro (p.205) cujo título é "A relação transecalar e muldimensional "Petróleo-Porto" como
               produtora de novas territorialidades". PPFH-UERJ. (Previsão de defesa em março 2017)





















O fenômeno da desverticalização e segmentação de corporações estatais é vista agora de forma mais clara no setor de óleo e gás no Brasil, mas está presente em outras partes do mundo a partir da ideia de redução do tamanho do Estado, sobre as áreas em que o monopólio seria "quase natural", como energia elétrica, saneamento (água e esgoto) e óleo e gás. 

Voltando ao caso das petroleiras, é importante deixar registrado para aqueles com mentes colonizadas (ou os conhecidos cabeças de planilha) do mercado financeiro, mas de forma especial, para todo a população brasileira, que não há justificativas para o crime de lesa-pátria que produz o esquartejamento e venda, a preço vil, dos negócios das subsidiárias da holding Petrobras. 

A Petrobras tem que permanecer integrada, com controle estatal e a serviço da melhoria de vida do povo brasileiro, possibilidade que foi ampliada enormemente, depois da descoberta que se fez da fronteira petrolífera do pré-sal, a maior das duas últimas décadas no mundo.

segunda-feira, janeiro 30, 2017

A captura do Estado e o assalto à democracia: Eike & Cabral

O caso das relações do Eike com o Estado (governos) é a forma como as corporações capturam os governos, para reduzir a regulação e viabilizar seus negócios. 

O caso do Eike é simbólico, mas apenas mais um exemplo de como boa parte do mercado age. Os agentes do estado não são vítimas, mas partícipes do esquema do sistema que joga por terra a ideia de democracia.

A captura dos governos com o financiamento eleitoral dos gestores que controlam o Estado em suas várias dimensões, assim como a corrupção no cotidiano da gestão para a obtenção de facilidades exigidas pelo capital é uma das faces do sistema que compromete a democracia, em sua essência.

Assim, os detentores do capital e do poder político como representantes das corporações (mercado) e do Estado devem compartilhar as responsabilidades que assaltam a democracia, repito.

Deixando de lado as forras pessoais e institucionais é necessário cuidado para não se enfrentar as consequências e não as causas. Que os responsáveis paguem pelos seus atos. 

Porém, é preciso ainda ter o cuidado para não destruir a economia de um país e a vida das pessoas por conta desses interesses escusos de terceiros endinheirados. 

O Brasil enquanto nação é muito maior que isto. Ou deveria ser!

sexta-feira, janeiro 27, 2017

Segundo relatório da BP, o Brasil se tornará exportador líquido de energia até 2035

Segundo, as projeções da edição 2017 do relatório BP Energy Outlook, divulgado na quarta-feira, sobre o cenário energético global - oferta e demanda - para os próximos 20 anos - o Brasil se tornará um exportador líquido de energia.

Hoje a produção de energia no Brasil responde por 94% do consumo e passará a responder, se as projeções por 112% no ano de 2035. A estimativa considera o aumento que se terá no país com a produção de petróleo, gás, hidroeletricidade, energia nuclear e renováveis, superando o crescimento por demanda de energia.

Outros dados do relatório BP Energy Outlook 2035: 

1) Entre 2015 e 2035, haverá um crescimento de 68% na produção, enquanto o consumo de energia no Brasil crescerá 41%.

2) Em 2035 o Brasil terá uma participação de 3% na produção global de energia e de 2% no consumo mundial.

3) Os combustíveis fósseis representarão 50% do consumo de energia do Brasil em 2035, comparado com a média global de 77%. 

4) O consumo de energias renováveis mais do que dobrará durante o período do Outlook, aumentando 4,8% ao ano.

5) O consumo de todos os combustíveis aumentará, exceto o carvão: renováveis (incluindo biocombustíveis) +157%, hidrelétrica +37%, petróleo +16%, gás natural +43%, nuclear +149%, carvão -16%.

6) A matriz de combustíveis continuará a evoluir com energias renováveis ganhando mercado. A parcela do petróleo na matriz cairá para 34% em 2035, de 41% hoje, no entanto o petróleo continuará a ser o combustível dominante. O aumento na produção de petróleo (+70%) e gás natural (+40%) mais do que compensará a queda do carvão (-22%).

7) O consumo de gás natural crescerá 1.8% a.a., crescimento levemente maior que a média global de 1.6% a.a. e o consumo de petróleo aumentará 0.8% a.a., em linha com a média global.

8) O consumo de energia elétrica crescerá 2,2% a.a. entre 2015 e 2035. A hidroeletricidade continuará a dominar, mas sua participação cairá de 63% para 56%, na medida em que as renováveis dobram no período.

9) Até 2035, a energia eólica será a segunda maior fonte de geração de energia elétrica, ultrapassando o gás natural.

É importante observar que as projeções levaram em conta o desenvolvimento que o país vinha tendo até 2015. Portanto, este cenário traçado pelo que se vinha desenvolvendo deverá ser alterado por conta do que vem sendo desmanchado a nível nacional.

Resta saber a quem servirá este feito na medida que grande parte da infraestrutura de energia foi sendo entregues a players e corporações que atuam segundo seus interesses e não o do desenvolvimento nacional. Seguimos acompanhando.

quinta-feira, janeiro 26, 2017

Anglo American segue produzindo 1/3 a menos do que o projetado por Eike em exportação de minério pelo Açu

A Anglo American que exporta minério de ferro que vem de MG por um mineroduto de 529 km até o Porto do Açu informou hoje em comunicado que produziu e exportou em 2016, um total de 16,1 milhões de toneladas. Este volume é 76% maior que as 9,2 milhões de toneladas de 2015.

A corporação alega que ainda está em fase de ajuste para crescimento da produção até o volume projetado de 26,5 milhões de toneladas. Porém, a questão não parece ser esta. O mercado internacional voltou a aumentar os preços do minério em 2016, o que não justificaria problemas de demanda.

Na verdade a empresa não quer reconhecer que possui problemas operacionais no sistema Minas-Rio que envolve a mina em Conceição de Mato Dentro (MG) o mineroduto e a unidade de filtragem, secagem e embarque, que é realizado pela empresa FerroPort, uma joint-venture em sociedade com partes iguais com a Prumo Logística global que é controladora do Porto do Açu.

FerroPort no Açu (Anglo + Prumo)
A Anglo alega estar ainda em rand-up (ou em fase de crescimento de produção), mas no início do ano passado (2016), ela chegou a divulgar que o volume de produção neste ano ficaria entre 24 e 26 milhões de toneladas. Depois a Anglo American reajustou esta previsão em outros informes, alegando que estava modificando sua estratégia de produção para garantir custo mais baixos.

Assim, numa leitura mais atenta desta realidade, a empresa está com problemas operacionais que a impedem de alcançar o volume projetado de 26,5 milhões de toneladas por ano. Com o minério de ferro na casa dos US$ 80 como está atualmente, não é difícil que ela possa optar por ampliar a capacidade de processamento, antes de atingir o volume inicial.

De outro lado, se o preço da tonelada de minério de ferro voltar a cair para próximo dos US$ 50, ao longo do ano, ela se esforce para aumentar o volume para pouco mais do que os 16 milhões de toneladas atuais.

Interessante ainda observar observar que o comunicado que foi enviado pela assessoria de imprensa ao blog, a Anglo American não faça nenhuma previsão de volume de produção para 2017. O que reforçaria a hipótese aqui levantada. 

Antes de acabar é ainda oportuno relembrar que o Sistemas-Minas-Rio foi desenhado pelo empresário Eike Batista e vendo ainda no papel para a mineradora Anglo American por US$ 5,5 bilhões, sendo que parte do dinheiro foi pago fora do país. 

A Receita Federal cobra, por conta disto, lucros imobiliários que o empresário em recursos se nega a pagar. Parte deste dinheiro foi investido na empresa de petróleo (OGX) e no estaleiro (OSX) junto com recursos obtidos a acionistas após abertura de capital (IPO), que tiveram o debacle conhecido.

Resta saber em que fundo foi investido a parte restante dos bilhões recebido da Anglo America que estava nos EUA, onde ele hoje se encontra ao ser procurado pela Polícia Federal. Seguimos acompanhando!

quarta-feira, janeiro 25, 2017

A necessidade da volta do debate sobre o Estado em meio à confusão contemporânea

A contemporaneidade está a exigir uma retomada na discussão sobre o Estado. A Teoria Geral do Estado. O questionamento sobre a globalização e a volta ao Estado-Nação que nunca deixou de existir, mas foi quase totalmente capturado pelo mercado está na ordem do dia.

A China defende a globalização enquanto os EUA voltam para o seu estado-nação parece estranho, mas passou a ser real e nos remete ao debate: o estado-nação é um problema ou solução?

Os liberais mesmo com a preferência pela visão globalizante e desregulada parecem não se importar se a guinada ao nacional-local continuar a garantir a captura do estado e o seu rentismo seja com um percentual menor da renda dos fluxos e capitais globais ou sobre os fluxos locais, ou um pouco de cada.


Os socialistas (do mundo real) parecem ainda mais espantados com o quadro na medida que parte da social-democracia tenha de uns tempos para cá, aderido ao receituário do estado mínimo-desregulado e controlado pelo mercado. A China com seu modelo híbrido do tipo capitalismo de mercado teria feito uma opção em meio aos riscos.

Os socialistas utópicos também parecem atingidos e titubeantes entre a luta pelo universalismo ou pela defesa da luta de classes no plano das nações.

Assim, os de esquerda que defendem os estados-nações são chamados de canalhas quando defendem a intervenção a favor dos de baixa renda. Da mesma forma, os de direita recebem de volta a alcunha de populistas, antes apenas carimbada aos que defendiam a classe de menor renda.

O capitalismo não teria chegado onde chegou sem que o Estado lhe protegesse escamoteando a disputa de classes ou garantindo a força para eliminar os conflitos que fugiam ao controle dos ganhos da turma do topo da pirâmide.

No meio disto, reduz-se enormemente os que ainda acreditam na democracia grega e ocidental vendida ou imposta (paradoxalmente) como solução mundo afora. Com o Estado capturado, as escolhas e as eleições se tornaram quase que exclusivamente um faz-de-conta.

Assim, voltamos ao debate sobre as identidades nacionais e o cosmopolitismo dos que transitam sem problemas através das fronteiras, flutuando sobre as suas rendas que liberam qualquer catraca de alfândega, enquanto os imigrantes morrem nos botes que não salvam vidas.

Ainda no campo teórico progressista há debates sobre uma ou outra direção. Uma boa posição é do professor José Luis Fiori (2014, p.17) que questiona o conceito de "sistema-mundo" de Wallerstein e Arrighi [1].

Fiori ao defender o seu conceito de "sistema interestatal capitalista", ele reforça a "importância permanente e insuperável dos Estados nacionais, com seus capitais e suas moedas específicas, para o desenvolvimento do capitalismo, que é desigual e hierárquico, mas que nunca será global, pois alimenta-se da própria existência das fronteiras e das moedas e capitais que se expandem com seus Estados nacionais. [2]

Numa outra dimensão se pode observar que a cultura foi deixando de ser nacional e das comunidades e se transformou em capital cultural como virtude individual e não de nações ou regiões.

Desta forma, o debate sobre o Estado está de volta. Afinal ele é uma instância de mediação política na sociedade ou apenas uma forma de captura de uma fração da mesma?

A construção da ideia de nação tem base na unidade das partes. Uma consciência que nasce de uma construção mental que também deu origem à ideia de Estado e também dos limites de uma nação.

Desta forma, retomar a compreensão do que nos trouxe à identidade nacional e à ideia dos estados-nações, parece prudente. Considerando ainda que foram nos primórdios da ideia de estados-nação (na dinastia de Avis no século XIII) é que surgiram os primeiros projetos de expansão marítima e de colonização. Só que nunca se poderia imaginar o tamanho e a forma que os fluxos (de informações, de capital e materiais) ganhariam no mundo contemporâneo.

Entender o fenômeno real da política - ou melhor da geopolítica - no mundo contemporâneo exige uma leitura do processo histórico e do seu desenvolvimento no espaço.

O mundo real vai muito para além da disputa entre nacionalismo e universalismo, quando se vê o sistema financeiro ignorando as fronteiras desreguladas e ainda ditando as normas e definindo os poderes, sem nenhum cuidado com a democracia, que seria a base de um governo de todos e para todos.

PS.: [1] O conceito de "sistema-mundo" está presente nos livros de ARRIGHI, Giovanni "O longo século XXI", Contraponto/Unesp, 1996 e "A ilusão do desenvolvimento", Vozes, 1997; e ainda no livro de  WALLERSTEIN, Immanuel "O universalismo europeu: a retórica do poder", BoiTempo, 2007.

[2] A defesa do conceito de "sistema interestatal capitalista" de José Luís Fiori está presente em diversos livros de sua autoria, de forma especial, em três: "O poder global e a nova geopolítica das nações", BoiTempo, 2007; o "Sistema interestatal capitalista no início do século XXI", (org.), Record, 2008; e "História, estratégia e desenvolvimento: para uma geopolítica do capitalismo, BoiTempo, 2014.

segunda-feira, janeiro 23, 2017

O mercado de petróleo, o xisto nos EUA, Trump e a Opep

O aumento de contratação do número de plataformas de perfuração de petróleo nos EUA - que na semana passada aumentou em 29, atingindo um total de 551 – marcando o maior aumento semanal desde que a recuperação que começou em junho, chegou assim ao nível mais alto dos últimos 14 meses, segundo a empresa americana de engenharia de petróleo, Baker Hughes (Investing.com).

Os dados sugerem aumento de exploração para a produção de shale oil nos EUA. Se confirmado, se estaria reforçando a interpretação de que com o valor do barril próximo dos US$ 60, a produção americana seria retomada, ratificando a condição de atual reguladora do mercado.

O movimento poderá ser reforçado com o apoio de Trump à indústria do petróleo dos EUA. O fato poderá trazer consequências para a manutenção do acordo entre a Opep e outros exportadores mundiais de petróleo (não Opep).

O acordo visou reduzir a produção mundial de petróleo entre 1,5 milhão de barris por dia (bpd) a 1,8 milhão bpd, fazendo com que a oferta global do petróleo caísse em quase 2%. Na média, no mercado futuro de petróleo o tipo brent vem sendo negociado hoje, na faixa do US$ 55.

É oportuno recordar que os EUA possuem, disparado, o maior consumo mundial de petróleo na faixa de 18 milhões de barris por dia. Assim, hoje está produzindo, internamente, apenas metade deste volume consumido, que é cerca de 50% acima da China, que tem o segundo maior consumo de petróleo do mundo.

Em meio às mudanças na geopolítica mundial, o barril de petróleo segue na faixa de preço entre US$ 50 e US$ 60. Resta saber quais serão as reações do outro lado (Rússia e Oriente Médio) considerando que a China está visivelmente segurando a sua produção interna de petróleo, enquanto segue ampliando acordos em energia em outras áreas do mundo. Seguimos acompanhando.

domingo, janeiro 22, 2017

Petrolíferas compram campos de petróleo de olho no novo ciclo: pré-sal brasileiro é cada vez mais a joia roubada da coroa!

Já comentamos aqui neste espaço várias vezes sobre o fenômeno do ciclo petro-econômico que alterna as fases de expansão e de colapso, da qual se começa a sair depois dois anos e meio.

A fase de expansão ligado aos preços do barril de petróleo acompanhou os quatro anos seguidos de preços acima de US$ 100. Período tão longo de preços altos é o primeiro e único na história.

Assim, a fase de colapso levou à redução drástica – uma das maiores da história - dos investimentos na procura de novos campos de petróleo, com a atuação das sondas de perfuração caindo a menos da metade do que havia antes.

A mudança de fase no ciclo do petróleo fez com que os investimentos de capital no setor que chegou ao volume de cerca de US$ 800 bilhões por ano, entre 2001 e 2013 (segundo a consultoria Rystad Energy) caíram violentamente a partir de 2015.

Neste contexto, as descobertas de petróleo e gás natural ao redor do mundo caíram no ano passado para o menor nível em setenta anos (desde 1940), segundo a consultoria norueguesa do setor, a Rystad Energy.

Em 2016, o volume de novos reservatórios descobertos somam pouco mais de 6 bilhões de barris de óleo equivalente (boe), sendo 2,3 milhões em ambiente offshore e a maioria de gás. (Dados de matéria da agência Reuters em 18 jan.2017)

Além disso, as operadoras e petrolíferas passaram a reduzir freneticamente os custos de produção para tentar se adequar ao novo cenário, o que levou a um número enorme de fusões e aquisições de empresas no setor, por conta do endividamento de empresas menores.

Estes fatos levaram ao uso dos reservatórios de petróleo já existentes em todo o mundo que levou ao declínio destas reservas a uma extraordinária taxa de 10 % ao ano.

Observando no horizonte a redução das reservas no mundo e um novo ciclo do petróleo, as petrolíferas passaram a atuar de forma frenética na busca de ativos (campos e poços de petróleo).

Tratam-se de ações anticíclicas de olho na nova fase de colapso. Esta interpretação tem levado não apenas a compras legais de ativos de petróleo, mas a golpes políticos que viabilizem geopoliticamente esta situação. Em 7 de julho de 2016 (aqui) e 2 janeiro de 2017 (aqui), este blog comentou em notas sobre os investimentos anticíclicos na indústria do petróleo.

É nesta conjuntura que a consultoria Energy Market Square informou que as aquisições de campos de petróleo e gás triplicaram para 31 bilhões de dólares em dezembro em relação a novembro, exatamente, quando foi anunciado o acordo da Opep e outros países exportadores para cortar a produção de petróleo no mundo.

Em outra matéria da Reuters (19 jan.2017), Sachin Oza, co-gerente da Guinness Global Oil and Gas Exploration Trust disse que "quando você corta investimentos, e dois anos e meio depois vê a produção declinando e as reservas se esgotando, só há uma escolha, que é ir atrás de recursos de alta qualidade. Se você não gastou seu tempo com essas oportunidades...você só tem uma opção: tem que comprá-las.”

É neste contexto que se deve compreender a importância do pré-sal brasileiro que é a maior fronteira petrolífera descoberta no mundo nas duas últimas décadas.

Em 2015 publiquei na revista Espaço e Economia, o artigo "A ampliação da fronteira de exploração petrolífera no Brasil é parte da geopolítica da energia: oportunidades e riscos de inserção global em meio às novas territorialidades regionais e ao desafio da abundância na economia dos royalties no Estado do Rio de Janeiro" onde consta o mapa (abaixo) destas seis das dez maiores descobertas de petróleo do mundo desde 2008.

Com o extraordinário baixo custo de extração – uma surpresa para todo o mundo, decorrente da competência técnica e expertise da Petrobras – o Brasil possui, desde 2008, seis dos dez maiores campos de petróleo descobertos no mundo (três primeiros: Franco, Libra e Iara).

A Petrobras em enorme esforço a ser realçado superou as condições complexas para exploração e produção para jazidas em profundidades de 5 km. Poços de mais de 7 km de extensão, em altas pressões e baixas temperaturas e em rochas pouco conhecidas e estudadas até então, com até 2 mil metros de espessura. Exploração em reservatórios distantes até 300 km, que exigiram o desenvolvimento de materiais, tecnologias e equipamentos específicos. (MORAIS, Valor, p.A12, 20/01/17)

Estas inovações feitas em tempos recordes, levara à redução em até 60% do tempo de perfuração dos poços e de preparação para produção até então que estão levando hoje, ao aumento da produção no pré-sal iniciada em 2010 a quase metade de toda a produção nacional de petróleo com novos recordes de produção de óleo e gás no país.

Diante de tudo isto, é triste lamentar o entreguismo de nossas riquezas diante de evidências tão significativas. As perdas são muito maiores que os já lamentáveis desvios de recursos realizados na Petrobras. Infelizmente, a maior parte da população ainda segue desinformada pela mídia comercial sobre esta realidade.


sexta-feira, janeiro 20, 2017

O pragmatismo do mercado, a morte de Teori e a falsa moralidade

A reação dos mercados à morte do ministro Teori Zavaski foi o de elevar o valor das ações da empresas. 

Os colunistas empregados do setor estão indicando que é hora de investir e não de vender as ações. A Bolsa (Bovespa) subiu durante o dia.
 
Na Globo News, uma destas “colunistas”, chegou a dizer que com o atraso do julgamento, Temer ganha tempo para fazer a reforma da Previdência. Ou seja, está claro que, pragmaticamente, o mercado comemora a morte do Teori e o freio nas apurações. 

E, ainda há quem não queira entender que o discurso contra a corrupção era só uma disputa de poder.
Ou seja, a trama parlamentar-jurídica-midiática trata-se de moralismo e não moral. Na verdade imoral!

quinta-feira, janeiro 19, 2017

Como deslubrificar o mundo do petróleo?

Não creio que até o meio deste século, o petróleo deixe de ter a importância que foi obtendo desde as revoluções industriais e que possibilitou a ampliação da hegemonia do sistema capitalista. Ao analisar este processo há que se separar a diferença entre desejos e a análise do fenômeno real.

Em minha ampla pesquisa com tudo que se relaciona ao petróleo, o indicador que mais me impressionou foi a imensa relação entre o petróleo e a alimentação em todo o mundo. Veja ao lado o gráfico com as duas curvas de preço (ao longo de uma década) que são similares no período observado entre 2002 e 2012.

Isto se dá por vários motivos. O primeiro deles é que o petróleo através das demandas de adubos e pesticidas - insumos para a agricultura - mas, principalmente pela enorme demanda de combustível para o transporte de toda a cadeia produtiva até o consumidor final.

Mais da metade da alimentação do mundo está concentrada em três alimentos: trigo, milho e arroz. Num grau menor também da soja. Todas consideradas como commodities do agronegócio e da produção em massa, embora a maior parte (cerca de 70%) seja de alimentos produzidos no mundo por pequenos agricultores.

Entre diversas outras questões que o assunto remete, o rompimento com o sistema intercapitalista lubrificado pelo petróleo (ALTVATER, 2010) no mundo – numa espécie de deslubrificação – só se tornará paulatinamente real, com o ruptura desta dependência que hoje a agricultura tem do petróleo.

Hoje estima-se que para cada caloria colocada sobre nossos pratos, seriam necessários de 10 a 12 calorias de energia fóssil como insumo ou energia de transporte (Filme francês: Demain (Amanhã), 2015). Este dado é espantoso.

Não haverá saídas que não comece com o rompimento desta dependência, que envolve poderosos interesses em termos geopolíticos, de domínio e de hegemonias.

Difícil acreditar em rupturas velozes neste processo complexo e imbricado. Assim, as cordas seguem sendo esticadas em termos das enormes acumulações dos sistemas financeiros e da produção, controlada por acionistas instalados em algumas poucas nações.

terça-feira, janeiro 17, 2017

Agrava-se o quadro político-econômico no Brasil

O quadro político-econômico nacional é cada vez mais grave a despeito do esforço da mídia comercial em esconder os graves problemas e as várias reações. A tensão nas capitais e regiões metropolitanas é cada vez maior em diversos setores. O caso do Rio está beirando o descontrole. Está evidente que o uso da força e do estado de exceção vai ser ampliado, produzindo reações de outro lado. Jogaram o país no caos, com entreguismo e sem projeto de Nação.

segunda-feira, janeiro 16, 2017

Petrobras abre consulta para contratação de serviços integrados de logística

A estatal abriu para o período entre 29 de dezembro de 2016 e 18 de janeiro de 2017 uma Consulta ao Mercado (Request for Information - RFI) Oportunidade n° 70018009818 relativos à Transporte/Afretamento Aéreo - Transporte/Afretamento Marítimo - Transporte Terrestre/Rodoviário referentes à exploração e produção de hidrocarbonetos offshore na Bacia de Santos.

Pela primeira vez a Petrobras está lançando ao mercado a opção de contratar estes serviços que hoje são separados, de forma integrada. As cargas a serem movimentadas são aquelas inerentes ao processo de exploração e produção de petróleo offshore.

O processo está sendo administrado pela Gerência Setorial de Estratégia de Contratação e Gestão de Categoria Logística da Petrobras. As empresas interessadas deverão se manifestar por meio do documento de “Resposta à Consulta” até a próxima quarta-feira, 18/01/2017.

Interessante observar que enquanto a estatal se desintegra fatiando e vendendo vários dos seus ativos - que fazem parte de uma cadeia - a empresa passa a exigir do mercado uma articulação em termos de cadeia integrada de serviços.

Assim, a Petrobras admite publicamente, por vias transversas, as vantagens de um empresa atuar de forma integrada em diversas áreas da cadeia, que lhe permite tratar da gestão comercial de forma ampla e não setorial.

Isto tende a beneficiar os grandes grupos, com várias empresas de logística que possuem terminais portuários, retroáreas para armazenagem, embarcações marítimas e articulação para o transporte aéreo para as atividades offshore, embora a Petrobras informe que permite a associação entre empresas por meio de consórcio.

A Petrobras define ainda que o local de operação (armazenagem, base portuária e aeroportuária) deverá ser no estado do Rio de Janeiro, tendo em vista a localização geográfica dos blocos (Bacia Marítima de Santos).

É oportuno dizer que hoje boa parte do apoio logístico portuário é feito a partir de terminais na Baía da Guanabara. Já o transporte offshore de helicópteros é feito a partir do aeroporto de Jacarepaguá no Rio para unidades entre Rio e Santos e mais ao sul é usado o aeroporto paulista de Itanhaém.

A Petrobras diz ainda que a consulta RFI não se configura num processo de contratação. O prazo previsto de contato é de 5 anos e prevê conteúdo local mínimo entre 60% e 80%.

Esta consulta da Petrobras está sendo feita para serviços de apoio na Bacia de Santos, mas pode se ampliar. A consulta não veda a possibilidade de apresentação de propostas individuais para as diferentes atividades:
- Transporte/Afretamento Aéreo de pessoal, Afretamento Aéreo Contingencial (3 distâncias médias: bloco X: 175 e 260 km; bloco Y: 275 e 330 km e bloco Z: 220 e 320 km;
- Operações Aeroportuárias;
- Transporte/Afretamento Marítimo de cargas;
- Transporte Terrestre/Rodoviário de cargas;
- Armazenagem;
- Operações Portuárias;
 Apoio à integração dos serviços, programação, otimização, benchmarking.
O modelo das propostas pode ser parcialmente ou totalmente integrado, conforme imagem do processo de consulta abaixo:


















Abaixo o detalhamento da contratação do Tipo C: Serviços de Operação Logística e Portuária + Suporte à integração, programação e otimização.
























PS.: Atualizado às 10:56:
Abaixo as hipóteses em que os supridores dos serviços de logística podem participar de forma parcialmente integrada ou totalmente integrada:


sexta-feira, janeiro 13, 2017

Movimento e contratações no Porto do Açu

Os empreendimentos localizados no Porto do Açu avançam.  Em outubro do ano passado, a Prumo fechou acordo com a RB Capital e com a Euro Consult Engenharia para investir R$ 220 milhões na construção do condomínio.

Projeto do condomínio  logístico
Matéria da Prumo e da Gercon informaram que o condomínio logístico tem projeto em ocupar uma área de 465.000 m² e terá pátios e galpões, que serão montados de forma modular e para atender os locatários. Eles serão oferecidos a empresas que pensam em se instalar junto ao porto e ao distrito industrial. Pelo projeto, o condomínio logístico contará com infraestrutura básica e serviços compartilhados como portaria, segurança, limpeza, etc. 


O blog (Atualizado em 31/01/2017): Em 30/01/2017, a empresa Gercon Construções negou através de email de seu representante ao blog, o início de contratações para o condomínio logístico planejado pela Prumo Logística Global S.A. por convite da RB Capital, como havia sido informado anteriormente pelo blog neste espaço, por conta de matéria no site da empresa Gercon que noticiava a parceria com a Prumo para a construção do complexo logístico.)

Projeto do condomínio  logístico
No dia 11/01/2017, eu estive acompanhando  a movimentação no entorno do Porto do Açu. Ela é bem menor que a do período de construções, já que as atividades operacionais demandam menos trabalhadores que a implantação. 

A base de apoio portuária da empresa americana Edison Chouest já está em funcionamento, embora siga em construção, aparentemente, num ritmo mais rápido. Por esta base além da movimentação de cargas estão sendo feitos embarques e desembarques de trabalhadores. A cada 15 dias cerca de 300 trabalhadores que chegam em sete ônibus vindos do Farol e Campos embarcam e outros tantos desembarcam. 

As atividades de transbordo de óleo entre navios petroleiros junto ao terminal 1 segue sendo realizado, e segundo informações a empresa Oiltanking também estaria fazendo algumas contratações para ampliar esta movimentação. 

Através de algumas fontes com as quais mantenho contatos, obtive informações de que empresas hoje instaladas em Macaé que podem ter mais uma base no Açu, ou mesmo de transferir para junto ao porto para facilitar sua logística e reduzir custos.

Resta identificar os resultados destas atividades para o município, sob o ponto de vista da receita dos impostos e da relação com a comunidade regional. Os questionamentos são ainda mais fortes da população do 5º distrito, o Açu que se sente localizada no quintal do porto, tendo herdado vários problemas e impactos, sem compensações. O assunto merecerá adiante mais comentários do blog.
 
Imagem das empresas instaladas no Terminal 2 do Porto do Açu. Foto do blog em 11-01-2017

quinta-feira, janeiro 12, 2017

O ERJ virou a Grécia da vez

Desde o início, era possível interpretar os riscos de que com o golpe, o ERJ viraria uma Grécia. Não bastaria o petróleo. Com a crise e agora a ação do governo federal - que mais parece um banco que gestores - o ERJ passou a ter dono: os fundos financeiros que ainda ficam com a garantia do Tesouro Nacional. Melhor avalista impossível.

A “grecialização” pode ser vista pela redução dos salários exigida pelos bancos (ou pelo seu similar e representante o governo Temerário), pelo aumento da contribuição da previdência e pela exigência de ficar com a Cedae para ser vendida.

Vale lembrar que a Cedae como empresa pública é lucrativa (mais de R$ 1 bilhão nos últimos três anos), tem dívida muito pequena e um patrimônio de R$ 5,8 bi, tudo isto disto pelos “gênios do mercado”, como o leão de olho na presa fácil que se tornou o ERJ.

Cedae vendida para quem? Para os fundos financeiros, o mais cotado é o fundo canadense: Brookfield que daqui a pouco poderá ser considerado o dono do Rio tamanha a quantidade de ativos que abocanha pro aqui. Quem se movimenta por trás do Meireles o representante da “choldra” no governo Temerário?

Vale ainda recordar que os governos passados entregaram as dívidas (com a tal securitização) do Rio Previdência em troca de algumas moedas que entraram no jogo durante a expansão da economia e sumiram, lá pela altura de Bangu.

Ao contrário do que o senso comum pensa, o mercado ri de orelha a orelha – como canibais - quando um devedor cai, como o homem comum diante de seus agiotas que o espera nas esquinas.

O endividamento do Estado é o mais importante mecanismo de captura do poder (DOWBOR, 2016). Assim, os governos com apoio direto da mídia comercial e também do judiciário, cada vez mais prestam contas ao mercado e deixam os cidadãos, a quem em tese representam, a ver navios, enquanto seus bolsos são surrupiados.

Este é o caso do cidadão que bate de cara na porta do hospital fechado, ou da criança que volta para casa sem merenda na escola, do servidor sem dois meses de salário (e sem 13º), do jovem sem universidade para estudar e dos idosos, vistos como párias a consumir o dinheiro que poderiam ser dos juros do mercado protegido pelos Meireles, Temeres, Pezões, etc.

O caso do ERJ é emblemático ainda para se observar de forma límpida como um gestor, eleito pelo povo é comandado pelos bancos (donos dos dinheiros) a quem na essência representam. É por isso que as eleição são financiadas, os políticos capturados e o poder controlado.

Sim, a culpa é posta exclusivamente sobre os políticos que possuem responsabilidades, mas o sistema é cada vez mais cruel e claro em suas intenções: governar para os ricos controlando a turma do andar de baixo, como define o sistema na dimensão política, econômica, jurídica, etc.

Enquanto isto a mídia comercial te distrai, amplia problemas, inventa soluções – que coloca nas bocas dos “especialistas selecionados” (think thanks) e constrói consensos (CHOMSKY, 2008 - documentário) que interessa a quem lhes paga como qualquer atividade comercial.

Entender este processo é parte da solução que precisa se contrapor a esta construção mental que tenta fazer com que os cidadãos se sintam culpados, quando são vítimas dos “gênios do mercado”.

PS.: Atualizado à 15:18:
Os PIBs da Grécia e do ERJ são relativamente próximos. A Grécia tem um PIB de US$ 227 bilhões, enquanto o ERJ ele alcançava em 2014 (última apuração) US$ 176 bilhões (ou R$ 671 bilhões). 

O fato ajuda a demonstrar a importância que o sistema financeiro atribui à captura da economia do ERJ, um estado quase do porte de uma nação europeia. Além disso, trata-se da base da maior fronteira petrolífera descoberta na última década, o que facilita à compreensão dos objetivos da captura que pode ser tão ou mais interessante comparado à tradicional nação européia.

terça-feira, janeiro 10, 2017

Rússia e China avançam em projetos de usina nuclear flutuante

A Rosatom, empresa russa de energia, está na fase final para lançamento dos reatores da primeira usina nuclear flutuante do mundo. Isto deverá acontecer no 1º semestre de 2017 e tem previsão de começar a produzir em 2019.

A usina nucelar está equipada com dois reatores de propulsão KLT-40 modificados, fornecendo até 70 MW de eletricidade ou 300 MW de calor. A planta, que teve seu projeto iniciado em 2007 e tem um custo de sua construção estimado em US$ 480 milhões.

Usina nuclear flutuante da Rússia
A usina nuclear flutuante será implantada na região russa de Chukotka, onde a planta ficará ancorada na costa do Ártico, no Extremo Oriente do país. A Baía da cidade de Pevek, Chukotka tem condições meteorológicas extremamente severas. No inverno, a temperatura cai para 60 graus negativos, obrigando as instalações de terra a suportarem o impacto do frio, do gelo e dos fortes ventos na região.

As usinas flutuantes são projetadas para serem seguras contra terremotos e tsunamis, bem como de ameaças de fusão, já que a zona ativa do reator está debaixo d’água, a temperaturas baixíssimas. A tripulação da planta é composta por 70 engenheiros.

A usina flutuante tem vida útil prevista de até 40 anos de serviço, com três ciclos de funcionamento de 12 anos. Após cada ciclo, o planejamento é que a unidade seja rebocada para o estaleiro para ser feita manutenção, reabastecimento e remoção de resíduos radioativos.

Além da Rússia, a China também está bem avançada na construção de sua primeira usina nuclear flutuante, que vai utilizar um reator modular "ACPR50S" desenvolvido no país. O projeto é da estatal chinesa General Nuclear Power.
Usina nuclear flutuante da China

O projeto do reator modular offshore adota um sistema de energia descentralizado e está sendo visto como boa solução para fornecer um fornecimento constante de energia em ilhas, em áreas costeiras e distantes.

A China informa que pretende usar a unidade nuclear para fornecer energia para a exploração de campos petrolíferos no Mar de Bohai, além do desenvolvimento de campos em águas profundas no Mar da China Meridional. A China avança com suas sondas e plataformas, em projetos de exploração de petróleo em águas profundas.

Interessante observar que os projetos de plataformas de petróleo têm sido uma das bases para o desenvolvimento de tecnologias de vários tipos de unidades flutuantes, onde se pode ter energia eólica no mar, terminais portuários e até bases de produções industriais.

Há vários fundos financeiros de olho em projetos que possam permitir que estas unidades funcionem em alto mar, distante das nações e de suas águas continentais que permitiriam - em tese - que as mesmas pudessem funcionar sem licenças e sem as determinações legais tributárias e trabalhistas destas nações, numa espécie de radicalização do processo de globalização, sem controle dos estados-nação. Seguimos acompanhando projetos que podem interferir na geopolítica da energia.

segunda-feira, janeiro 09, 2017

A relação entre a política de preços dos derivados de petróleo e o desmonte da Petrobras

A antiga política de preços dos derivados do petróleo foi muito criticada pela mídia comercial e pela "turma do mercado". Ela buscava amortecer no tempo, os impactos das oscilações (variações menores) do preço do barril da gasolina no mercado internacional e do câmbio.

Bastaram seis meses da turma do mercado do Parente, para se perceber a diferença entre uma e outra política de preços dos derivados. O que vale para o exterior não vale para o Brasil.

A turma do mercado não entende isto, porque pretende apenas adequar nossa realidade às cadeias de valor global.

Assim, estas oscilações não amortecidas mexem nos preços e fazem com que os intermediários sejam os únicos a lucrar com a nova fórmula, na medida que o povo e quem está na ponta da cadeia não consegue acompanhar esta evolução.

Lembremos que quando o preço abaixou nas refinarias não chegou ao consumidor. E os vários aumentos que vieram a seguir logo-logo estavam nas bombas dos postos.

Estranho ainda porque o aumento do preço do barril de petróleo foi simultâneo à variação para baixo do dólar, moeda na qual o petróleo é cotado no mercado internacional.

Este último aumento da semana passada foi ainda mais cruel. Ele foi feito apenas para o diesel que atinge a todos porque mexe nos preços dos fretes de tudo que é consumido.

Assim, tende a atingir proporcionalmente os mais pobres, onde as alíquotas dos impostos proporcionalmente, são mais significativos sobre a renda total.

Tirando um detalhe aqui, outro ali, a política anterior de ajustes de preços dos derivados, em função do preço do barril de petróleo e do dólar atendia melhor aos acionistas e ao povo, em última instância, o dono (maior acionista) o povo brasileiro.

O consumo de diesel no Brasil equivale a mais da metade de todo o consumo de derivados de petróleo no Brasil. É maior do que a gasolina.

Desta forma, se assiste à virada na gestão da empresa, com o foco passando a ser exclusivo no curto prazo atendendo apenas os investidores da petrolífera.

O caso é apenas mais uma demonstração das consequências que a desintegração da Petrobras com a venda em liquidação dos seus ativos estratégicos produz sobre toda a população brasileira. Há quem goste e lucre com isso, mas não somos nós.

domingo, janeiro 08, 2017

A naturalização da invasão de privacidade com o uso dos celulares

O Google de forma ainda paulatina vai invadindo através dos nossos smarphones em nossas vidas. As pessoas acham engraçado quando o Google pergunta se uma foto, que você fez exclusivamente para você, e não postou em nenhuma rede social, se você quer postar uma imagem daquele local que ele já identifica na pergunta.

As pessoas acham ainda mais incrível que o Google ou o Facebook indagam se você estaria a responder a algumas perguntas sobre a padaria ou restaurante que você acabou de sair.

Interessante que as pessoas fiquem perplexas e impressionadas com a tecnologia. Elas não se dão conta que sua privacidade com o bigdata destes negócios foi para o espaço.

Muitos de nós não percebemos que as informações fornecidas servem para elas ganharem dinheiro, não mais e apenas com propaganda direta e direcionada, mas com oferta a estes comerciantes de uma pesquisa de mercado.

O bigdata e seus reflexos causam pavor. Em setembro de 2014 eu escrevi aqui no blog uma matéria sobre uma exposição sobre este processo chamada “Bigbangdata” que eu tinha visitado no período que estive em Barcelona, no Museu de Arte Contemporânea.

Dei o título ao texto de Datacentrismo & dataficação geram uma "big preocupação"! Se desejar leia aqui o texto.

Confesso que hoje a preocupação é ainda maior do que na ocasião. Pois embora, ela já mostrasse coisas reais, outras pareciam futuristas e ainda distantes. Hoje, não mais. Na ocasião se afirmava – e hoje pode ser comprovado – que o uso do celular era a chave para a massificação dos dados que ele cresceria cerca de 60% em quatro anos

Porém, me espanta mais que estejamos banalizando ou naturalizando a invasão de privacidade que serve hoje não apenas para fins comerciais, mas certamente, também para fins políticos e de controle social.

Enquanto isto, contraditoriamente, está cada vez mais difícil entabular uma conversa oral pelo telefone móvel, já que as ligações caem, são interrompidas com frequência cada vez maior, apesar dos altos preços que pagamos pelos planos das telefônicas, que no Brasil ainda são subsidiadas.

sábado, janeiro 07, 2017

China monta estratégia para ampliar produção offshore de petróleo – mais sobre geopolítica da energia

Em 2015, a China produzia 4,3 milhões de barris por dia, sendo a 5º maior produção mundial. Em termos de consumo, a China neste mesmo ano era a segunda maior do mundo com 11,9 milhões de barris por dia em 2015. Assim, em 2015, os chineses importavam este déficit de petróleo, em torno de 7,6 milhões de barris por dia, um volume que é quase o dobro de sua produção.

Por conta disso, a China fechou 2016 com uma importação média 18% acima da verificada em 2015, atingindo um volume de 7,87 milhões de barris por dia, 270 mil barris a mais que em 2015.

Este volume de importação equivale a aproximadamente 2,5 vezes maior que toda a produção brasileira. Hoje, a maior fatia de importação de óleo feita pela China vem do Oriente Médio com 1,15 milhão de barris por dia. Entre 2015 e 2016, o Brasil exportou 79% a mais de petróleo para a China.

Neste contexto, nesta última semana, a China, que possui três grande petroleiras - entre outras menores -, tomou a decisão de facilitar a entrada de equipamentos essenciais para a perfuração e produção de petróleo e gás offshore, com isenções fiscais para a importação desses produtos, considerando que o mar ao sul da China possui reservas já identificadas e potencial para investir em novas e amplas explorações.

Segundo o Ministério das Finanças da China, os fabricantes locais ainda não possuem expertise para produzir equipamentos como: sondas (perfuração) semi-submersíveis e robôs usados em águas profundas (mais de 500 metros). As isenções para as tarifas de importação e para o imposto sobre o valor acrescentado vão se estender até o final de 2020. 

Como se vê, os chineses definem um limite até adquirir o know-how, enquanto aqui no Brasil, as corporações globais de engenharia de petróleo querem as mesmas isenções de forma indefinida e lutam com o apoio dos liberais contra as exigências de conteúdo local.

Observando a movimentação da China no setor é possível identificar que há um avanço na estratégia de aumentar a produção de petróleo internamente. 

De forma simultânea, os chineses investem pesado no controle de geração e transmissão de energia e outros projetos de infraestrutura do setor de energia mundo afora. Há aí uma evidente estratégia em se garantir energeticamente, em meio a este mundo confuso. Seguimos acompanhando.

quinta-feira, janeiro 05, 2017

Em 2017 Macaé tem maior orçamento que Campos: R$ 1,9 bi x R$ 1,5 bi. Ainda assim é muito dinheiro que necessita chegar àqueles de menor renda

Macaé com um orçamento de R$ 1,9 bilhão para o ano de 2017, supera o de Campos com R$ 1,5 bilhão, em 26%. Em termos de projeção pela Lei de Orçamentária Anual (LOA) é a segunda vez que isto ocorre. Porém, em termos de execução  orçamentária real no ano de 2017 poderá ser a primeira vez na história que o município de Macaé superará o de Campos.

Macaé tem uma população de 234 mil habitantes contra 483 mil moradores em Campos, um pouco mais do dobro. Tem uma extensão territorial de 1,2 mil Km², contra 4 mil km² de Campos. Ou seja Campos tem uma extensão três vezes e meia maior que Macaé.

Estes dois indicadores afetam fortemente as demandas dos principais setores de um município. Quanto mais população, mais recursos demandados para a saúde e para a educação e quanto mais área territorial, mais demandas por recursos de infraestrutura para atender à população.

Mesmo com a fase de colapso do ciclo do petróleo, Macaé vive um economia baseada neste setor produtivo. Este fato faz com que as duas principais receitas de Macaé sejam primeiro do ISS (Imposto sobre Serviços) e depois o repasse do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Este é um tributo estadual que no caso de Macaé é forte na indústria do petróleo e retorna em parte como repasses estaduais obrigatórios.

Ao contrário disto, Campos dos Goytacazes vive na petro-dependência da economia dos royalties. Isto faz com que as receitas dos royalties que é a terceira em Macaé, continue, mesmo com a crise, a ser a maior receita do município de Campos.

Em 2009 e 2010, o orçamentos de Campos projetados pela LOA foram respectivamente de R$ 1,4 bilhões e R$ 1,5 bilhões, onde se deve considerar a inflação do período.

Sobre a evolução da receita do município de Campos dos Goytacazes, desde 1994 veja aqui nota deste blog, em 18 de março de 2013. A despeito das reduções de receitas há que se registrar que ainda assim, os orçamentos, na média tanto em Macaé quanto em Campos continuam muito expressivos.

Assim, há que se cuidar da gestão para que estes recursos atendam, efetivamente, a quem mais precisa deles que é a população mais pobre e de baixa renda.

Não apenas nos dois municípios, mas há que se ter cuidado para que as elites e a classe média (especialmente na fração mais alta) não controlem e se apropriem destes recursos públicos que precisam ser melhor empregados a favor da maioria da população.

Tende a ser falso o discurso que nega direitos sob a argumentação de se tratar de assistencialismo. Estes discursos tendem a servir aos propósitos da cooptação do erário publico pelas elites.

Não acredito em gestões tecnocráticas, que quase sempre servem aos propósitos de apropriação dos recursos públicos para aqueles de maior renda.

quarta-feira, janeiro 04, 2017

“Vamos ficar só com o royalty sem benefício para população. Seremos uma Nigéria. Esse petróleo não queremos, preferimos que fique no fundo do mar”

A indústria nacional e suas associações se mantiveram silentes durante longo tempo, junto com as federações que têm na presidência ex-empresários, hoje rentistas, como a Fiesp e Firjan.

Assim, submergiram junto com a Lava Jato e ajudaram nas artimanhas políticas que culminaram com o golpe. Só agora começaram a reagir ao processo montado pelo governo Temerário de entrega do país e sem um projeto nacional. É neste contexto que vale conhecer a fala do presidente da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos), José Veloso Cardoso, publicado em matéria nesta segunda-feira, (2 jan.) no Valor:

"Quando se fala de concessões públicas e das rodadas de leilão do setor de petróleo e gás é necessário haver contrapartidas para a geração de renda e emprego no país. A abertura para a exploração de petroleiras estrangeiras nos próximos leilões, certamente vai atrair mais interessados. Isso pode transformar o Brasil num país da Opep, mas vamos ficar só com o royalty e não gerar benefício diretamente para a população. Seremos como Nigéria ou Venezuela. Sem criar uma cadeia de valor agregado, não promovemos riqueza. Esse petróleo não queremos, preferimos que ele fique no fundo do mar”.

A Noruega avançou no desenvolvimento da indústria do petróleo com apoio e planejamento de medidas de conteúdo nacional/local. Aqui no Brasil até a estatal norueguesa Statoil defende que se suspenda estas medidas para atuar livremente em busca de lucros e sem se importar com o país. 

Conteúdo local/nacional é um dos itens de soberania. Eles podem ser readequados, reajustados, ou aperfeiçoados mas nunca suprimidos. Se o Brasil não se dá o respeito e nem se interessa por um projeto de nação, quem haverá de fazer?

Recessão na economia leva Brasil a exportar mais que importar petróleo pela 1ª vez na história

As exportações de petróleo ao exterior (mesmo tendo caído 18,7% em relação a 2015) somaram o valor de US$ 13,478 bilhões e superaram as importações (que caíram 41,5%) com a quantia de US$ 13,068 bilhões pela primeira vez no Brasil.

Assim, o setor de óleo & gás registrou um superávit de US$ 410 milhões em 2016, no ano passado, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).

Diante do volume maior de exportação que importação de petróleo e gás pelo país, se pode concluir que pela recessão e redução do consumo voltamos a ser auto-suficientes, exportando os excedentes em maior quantidade que a demanda.

Assim, diante da forte recessão que parece não retroagirá tão cedo com os cortes do governo e com os preços ainda (relativamente) baixos do barril de petróleo, o volume da produção nacional mereceria ser reavaliada.

É ainda oportuno ainda avaliar que tudo isto só ocorre porque agora os interesses que estão definindo as estratégias do setor nada mais tem a ver com o projeto de nação. As petroleiras e operadoras é que hoje definem este rumo.

Assim, com a redução da das atividades da Petrobras com a venda de ativos e desintegração da holding, cresce a tendência dela ser cada vez mais apenas uma petroleira, sem capacidade de usar o fato de atuar em diferentes pontos da cadeia.

Repito, não há projeto de nação e sim o enquadramento da política pelo mercado que se revela a cada fato macroeconômico que se analisa. Sigamos acompanhando.

terça-feira, janeiro 03, 2017

George Soros agradece!

O americano George Soros - maior especulador do mercado financeiro mundial - está rindo de orelha a orelha para cima dos "midiotas" guiados pela mídia comercial brasileira.

Diante do massacre que a Petrobras vivia no plano interno com a Lava Jato, somado à fase de colapso de preços do barril de petróleo, as ações da estatal foram ao chão. A mídia vibrava. Os "midiotas" locais vendiam a preço de banana as ações da Petrobras.

Na outra ponta das tramas financeiras do golpe político que se abateu sobre o Brasil, o megaespeculador George Soros ria e comprava as ações da petroleira brasileira.

Consumado o golpe - e colocado na diretoria da empresa um destes empregados do sistema - as ações da Petrobras na virada de 2016 para 2017, fechado os números nos últimos dias, liderava, disparada, a lista das empresas que mais ganharam valor em 2017.

A Petrobras saiu de um valor de R$ 101 bilhões no final de 2015, para a bagatela de R$ 209 bilhões no final de 2016. Um aumento recorde, em toda a história da Bolsa de Valores no Brasil com 106% de aumento de valor num único ano.

Sim, vai ter quem negue o script traçado na trama midiático-jurídico-parlamentar e realizado ao longo do ano. Porém, os fatos são reais.

Os brasileiros, pequenos investidores, que acreditaram na mídia comercial bateram panelas e venderam suas ações. George Soros e outros espertalhões do mercado compraram e continuam faturando.

Agora ganhando sobre as ações das petroleiras estrangeiras que estão recebendo quase de graça as partes do pré-sal e de outros "ativos" esquartejados da Petrobras.

segunda-feira, janeiro 02, 2017

Os investimentos anticíclicos na indústria do petróleo

Na semana passada o blog comentou aqui que a Petrobras segue movimento contrário da direção anticíclica que outras petroleiras já decidiram. Os custos menores de produção e maiores do barril apontam para a nova fase do ciclo petro-econômico.

Além dos casos da Shell, Statoil e Total com investimentos no pré-sal brasileiro outras petroleiras se preparam para o período pós 2020.

O jornal de negócio londrino, Financial Times trouxe na quarta-feira, análises da consultoria corporativa do setor petróleo, Wood Mackenzie que disse abertamente que “os campos brasileiros comprado pela Total, estão entre os ativos offshore economicamente mais atraentes do setor”. Disse mais: “a exploração em águas profundas no Brasil oferece acesso a recursos de longa vida e baixos custos e vai ajudar a mudar a carteira da Total para a ponta mais baixa de custos”.

Só o “gênio do mercado” Parente e sua trupe não sabia disso e sai entregando sem licitação as joias da coroa, em crime de lesa pátria, muito pior que toda a Lava Jato junto e triplicada. No mundo, os investimentos anticíclicos do setor vão além destas três que morderam a moleza entrega pelo parente.

A inglesa BP comprou os negócios da australiana Woolworths que envolvem recursos de US$ 1,29 bilhões que adicionará pontos de distribuição e venda de derivados de petróleo. Além disso, adquiriu por US$ 2,2 bilhões a participação em campos de petróleo em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes e mais US$ 1 bi em campo de gás natural na Mauritânia e Senegal, na África.