sexta-feira, junho 30, 2017

"A tendência na próxima década, é o país se consolidar como exportador de petróleo e importador de derivados"

O que foi comentado em três textos postados no blog (aqui, aqui e aqui) consta também de um boletim elaborado pela empresa pública vinculada ao próprio Ministério da Minas e Energia, a EPE (Empresa de Pesquisa Energética).

O 2º Boletim de Conjuntura da Indústria do Petróleo no Brasil divulgado ontem pela EPE, aponta com clareza o que já havíamos assinalado:

"O Brasil deve se consolidar no papel de exportador líquido de petróleo e importador líquido de derivados nos próximos anos".

Neste estudo, a EPE prevê que a produção brasileira de petróleo alcance de 4,5 milhões a 5 milhões de barris diários daqui a uma década (2026)*, para uma demanda entre 3 milhões e 3,5 milhões de barris por dia.

Ou seja, uma diferença entre 1,5 milhão e 2 milhões de barris por dia de petróleo a ser exportado sob a forma crua, sem refino.

Nas palavras do responsável pelo estudo, o diretor de Estudos do Petróleo, Gás e Combustíveis da EPE José Mauro Ferreira Coelho: "A tendência na próxima década, é o país se consolidar como exportador de petróleo e importador de derivados".

Ou seja, o diretor da EPE confirma que não se trata de uma questão pontual, como já havíamos identificado, não se trata de uma questão pontual (ou momentânea) com a exportação atual de petróleo cru e importação (hoje) de cerca de meio milhão de barris por dia de derivados de petróleo. Uma tendência promovida após o golpe político no país.

É ainda oportuno relembrar que a atual capacidade de refino do Brasil é inferior a 2,5 milhões de barris por dia. É fato que a concorrência par ao refino se ampliou com o aumento da capacidade instalada no mundo, mas nunca se pode deixar de lado que a proximidade entre o refino e o local de consumo é questão estratégica e de interesse dos estados nacionais.

Assim, não se pode deixar de comentar sobre os que tanto bateram e criticaram os projetos das refinarias no Brasil, a Abreu Lima, em PE, Comperj no Rio e ainda a Premium I e II no Maranhão e Pernambuco.

Sim, como país colonizado, o Brasil deixa pra trás a ideia de entrar numa nova fase, assim já exporta suas riquezas minerais sem beneficiamento e compra derivados. O fantasma do colonialismo da entrega do ouro e do recebimento dos "espelhinhos".

PS.: Atualizado às 23:45: * para corrigir a década da previsão. Ao invés de 2016 que já passou, a estimativa da EPE para produção e demanda de consumo é para o ano de 2026.

Usina Canabrava: financiadores e credores uma conta que não fecha

Nestes últimos dias, fornecedores e trabalhadores que possuem créditos com a usina/destilaria Canabrava instalada nos limites e divisa dos municípios de Campos dos Goytacazes têm manifestado repúdio e manisfestado contra os gestores da empresa. Reclamam seus direitos.

A empresa repete o que várias outras empresas deste segmento sucroalcooleiro veio reproduzindo ao longo das últimas décadas. Mesmo sendo contempladas por vários e generosos empréstimos, seus donos ou sócios não pagavam as dívidas e forma deixando fornecedores sem pagamento. O caso dos trabalhadores sempre foi o mais grave. Milhares ficaram sem salários e até sem suas carteiras de trabalho.

Assim, hoje, dezenas destas empresas da região devem à União, por sonegação de impostos, FGTS e Previdência Social mais de R$ 25 bilhões, quantia muitas vezes superior aos desvios apurados pela tão propalada Operação Lava Jato. (Veja aqui postagem do blog sobre o tema em 14 mai. 2017)

Por conta destas questões, o blog resolveu levantar dados sobre a origem e financiadores do empreendimento. É difícil imaginar que efetivamente se tenha ali tenha investido a quantia de quase R$ 1 bilhão, conforme apurado e descrito abaixo.

As fontes das informações são várias. Desde documentos de órgãos públicos, processos judiciais e dezenas de informações jornalísticas, ao longo dos últimos anos. Assim o blog disponibiliza e compartilha com os credores e a sociedade em geral alguns destes dados.

Os negócios e o financiamento da Canabrava
A Canabrava tem capacidade para moer cerca de 300 toneladas por hora. No ano de 2012 moeu um total de 500 mil toneladas de cana. Para este ano a meta é de que alcance a marca de um milhão. O álcool produzido vai para o grupo Raízen (Ipiranga, Shell e a Ale).

Em 2013, este blog comentou aqui que a Canabrava informou sobre a compra, por R$ 65 milhões, da Usina Santa Cruz, pertencente ao grupo J. Pessoa que estava parada e em processo de recuperação judicial desde 2010. Na ocasião a Canabrava falava em investir R$ 100 milhões na Santa Cruz para reabrir a usina em 2014, onde pretendia produzir apenas açúcar.

Vista aérea (2012) da Canabrava em São Diogo,
divisa entre Campos e SFI
A Canabrava chegou cogitar também a colocação em funcionamento da usina de Quissamã onde funcionaria a Canabrava-2, fazendo investimentos de R$ 300 milhões, para processar 1,5 milhão de toneladas de cana-de-açúcar e produzir 120 milhões de litros de álcool, que assim como a planta de São Diogo também teria uma planta de cogeração de energia elétrica, com capacidade de 44 megawatts (MW).

O grupo Canabrava recebeu quase R$ 700 milhões dos fundos de pensão, segundo relatório final da CPI que tratou do tema. Só a Petrus (Petrobras) e Postalis (Correios) investiram R$ 478 milhões através do FIP (Fundo de Investimentos em Participação (FIP) Bioenergia. Petrus com R$ 134,2 milhões e Postalis R$ 343,8 milhões. O FIP tem ainda como investidores o fundo da Serpro e do Faceb (Cia. de Energia de Brasília). Nesta confusão de trocas de quotas teria havidos estes esquemas de debêntures entre os fundos de pensão, o FIP Bioenergia e ainda um outro fundo chamado de BNY Mellon.

Consta que desde abril deste ano, estes fundos que possuem o controle sobre a empresa contratou o banco Brasil Plural para gerir a empresa, por conta das enormes dívidas trabalhistas e tributárias (e também o Fundecam). Os bancos estão fazendo seis “due diligences” para analisar estes passivos e questões (fiscais, tributárias, ambientais, jurídicas, etc.) para tentar voltar a tocar a Canabrava. Há informações que no meio deste imbróglio, os antigos controladores teriam arrendado a empresa.

O certo é que é muita grana para fazer tão pouco. O dinheiro parece ter tomado outro destino - incluindo o do Fundecam - assim como os recursos que os governos por décadas colocaram nas usinas da região.

Se já não bastasse tudo isto, em novembro do ano passado, a Canabrava se envolveu numa ocorrência de venda de álcool que a ANP teria identificado a existência de metanol (que é proibido pela sua toxicidade). A ANP autuou postos, as distribuidoras e interditou a destilaria apontada como fornecedora do álcool e abriu processo administrativo contra a empresa e também enviou ao MPE o processo que abriu uma ação civil pública.

Nesta ação do MPE, o promotor pede a suspensão da inscrição estadual das empresas, com a suspensão dos benefícios fiscais e financeiros concedidos pelo governo estadual. Em função disto tudo, no dia 15 de novembro passado a ANP vistoriou a Canabrava interditando a usina por um mês.

Ou seja, empresa nova e os velhos esquemas, onde o setor privado fica pendurado nas tetas dos governos com isenções, empréstimos e dinheiros de fundos – em esquemas de finaceirização – onde o dinheiro some, junto com a produção. E pior. São quase mil trabalhadores com salários sem receber, sem FGTS, etc... O mesmo que fizeram o grupo Othon, Cambaíba, etc.

E no final o problema são os partidos e a política. Quem captura quem?

terça-feira, junho 27, 2017

O baixo preço do petróleo não atinge todos e altera o movimento espacial da capacidade de refino e a geopolítica de energia no mundo

Tem sido relativamente comum uma avaliação (mais de senso comum) de que a redução do preço do barril do petróleo no mundo, seja ruim, igualmente, para todas as nações.

É evidente que não. O baixo preço é ruim para os países produtores, em especial para aqueles petrodependentes. O mesmo vale para as regiões intranacionais.

Onde há maior consumo que produção, o baixo preço do barril tende a fortalecer a economia. Em termos de nações este é o caso atual da Índia, Polônia, Espanha, Turquia, Coreia do Sul e outros.

Nestas nações, estima-se que esta fase de colapso do ciclo petro-econômico tem trazido ganhos no PIB em torno de 1%, na medida que gera superávit na balança comercial destes países que são consumidores da commodity de petróleo, bruto, ou sob a forma de derivados e combustíveis.

De outro lado, as nações exportadoras perdem na medida em que maior volume de petróleo exportado gera menores divisas, com a consequente perda de receitas e geração de déficit em seus orçamentos.

Juntos os 13 maiores exportadores de energia viram suas reservas cambiai descerem de US$ 1,26 trilhão no final de 2013, para US$ 967 bilhões, três anos depois, no final de 2016. Assim, Argélia ficou com menos 41% de reservas; Nigéria menos 38%; Rússia menos 35%; Angola menos 30% e Catar menos 29%, etc.

Dentre os exportadores, o mais atingido em volume total é a Arábia Saudita com déficit de 16,9% no PIB. Outros nações produtoras vivem crises decorrentes da redução destas receitas quanto maior é a sua dependência, como o caso da Nigéria, Venezuela, Emirados Árabes Unidos, etc.

Para o Brasil, considerando a produção e o consumo atual, não há muita alteração, a não ser pela redução dos investimentos, comum nesta época de baixo preço do barril. Há que se lamentar é que isto ocorra exatamente durante o início da exploração/produção da enorme reserva do pré-sal.

Além disso, a "coincidência" com crise econômica-política e a virada produzida na direção do desenvolvimento do Brasil, tem levado à reversão da política de conteúdo local (PCL) que assim freia uma imensa cadeia de fornecedores de bens, tecnologia, equipamentos e serviços para o setor.

Sob o ponto de vista dos negócios (stricto-sensu) do petróleo, a Petrobras até que conseguiria ganhar vendendo no mercado interno derivados a um preço bem superior aos custos de extração do petróleo e seu beneficiamento.

A estatal só fazia isto porque até aqui era uma empresa integrada, do poço ao posto, atuando nas diferentes etapas da cadeia produtiva da exploração à distribuição dos derivados para consumo, conforme fluxograma abaixo.

























O desmonte e o fatiamento da Petrobras para elas ser negociada por partes, está eliminando esta possibilidade. Além disso, os atuais dirigentes da Petrobras, liderados pelo Parente, ainda tem tornado as partes mais lucrativas da cadeia (refino e a distribuição) ociosas, em função de uma política de preços que tem levado às importações de derivados de petróleo pelas tradings.

Esta decisão levou  a que as refinarias brasileiras passassem a trabalhar com 25% de ociosidade e agora em junho de 2017, o Brasil importa 550 mil barris por dia de derivados de petróleo, enquanto exporta petróleo cru. (Veja postagem aqui e aqui sobre desmonte do setor de refino no Brasil)

A Ásia é hoje uma importante base de refino de petróleo do mundo, aproximadamente 1/3 em termos de volume e quase metade de toda a movimentação financeira com esta atividade. A Ásia é também a parte do mundo onde mais cresce a demanda de petróleo e derivados do mundo. (Veja mapa abaixo)

A China hoje é um dos principais exportadores de derivados de petróleo. Em 2016, a China, sendo 2º maior importador (crescendo na razão aproximada de 5% ao ano, desde 2008) e consumidor mundial de petróleo - só atrás dos EUA - vendeu no mercado mundial quase 1 milhão de barris de petróleo refinado, faturando assim com o processamento industrial de refino.

As refinarias asiáticas são também uma das mais lucrativas, obtendo entre 15% e 20% do valor do preço do barril, com o beneficiamento e transformação em combustível. Um valor próximo a US$ 7 e que varia conforme a variação do preço do petróleo cru e da demanda mundial.

Fonte: Anuário Estatístico 2016 da ANP. P.39.




















Assim, com a sobra da produção de derivados e o aumento dos seus estoques, alguns projetos de refinaria têm sido abandonados. Os países do Oriente Médio, os maiores exportadores de petróleo, com a baixa do preço do barril, desistiram de bancar alguns projetos industriais de refino na Ásia, embora Kuwait, Emirados Árabes e Abu Dhabi tivessem, antes, aproveitado a fase de boom do ciclo do petróleo para montar refinarias.

Ainda assim, alguns projetos de refino continuam sendo tocados na Ásia. Segundo a consultoria Energy Aspects seis países da Ásia devem adicionar 932 mil barris diários em capacidade de refino.

Muito disso se deve à expansão da Índia ao aumento de demanda de combustíveis da Índia que, segundo a consultoria, Wood Mackenzie deve crescer a uma média anual de 2,8% até 2025.

Vale dizer que a Índia já é o quarto maior mercado de petróleo do mundo e vem expandindo muito significativamente o seu parque de refino. Desde 2008, possui a refinaria de maior capacidade do mundo, a Relliance Industries que processa 580 mil barris por dia e montou e segue concluindo seis novas unidades de refino.

Lembrando que na Índia o petróleo é usado fundamentalmente no transporte, já que 70% da eletricidade vem do carvão, num país onde 260 milhões de indianos (mais que um Brasil inteiro) ainda não têm acesso à energia elétrica.

As unidades de refino instaladas mais recentemente, incorporam mais tecnologias e automação e assim, conseguem ter maior produtividade por barril processado, compensando, em boa parte, os custos de logística de transporte até os mercados consumidores.

É neste contexto que há que se lamentar - e muito - que o Brasil, pós-golpe político, tenha deixado de ter um projeto de desenvolvimento nacional que pudesse incorporar as oportunidades de ter e explorar a maior fronteira de exploração de petróleo descoberta no mundo, nesta última década (Pré-sal).

E junto a isto, simultaneamente, há que se lamentar que o Brasil  esteja deixando de estruturar uma extensa cadeia produtiva nacional (derivada da Política de Conteúdo Local - PCL) para fornecimento de tecnologia, equipamentos e serviços para este setor de grande valor agregado e enorme capacidade para gerar emprego, renda, impostos e fazer a economia crescer reduzindo desigualdades.

Quando se abre mão de um projeto de Nação, apenas se deixa espaço para que setores de elite econômica nacional, possam auferir percentuais das rendas de projetos de players globais. Estas players se organizam de olho no novo ciclo petro-econômico. Assim, aqui vão se instalar para explorar nossas riquezas, usando suas tecnologias, exportando equipamentos e mão de obra, obtendo assim grandes lucros num país pós-colonizado e dependente.

PS.: Atualizado às 08:15 para alguns breves ajustes no texto.

Brasil, o caminho se faz ao caminhar! Diretas Já!

Está evidente que Temer não governa mais.

O que ainda está confuso para os que engendraram o golpe é a saída.

Apostaram no caos e ele está aí caminhando para a plenitude.

Há mais buraco no fundo do chão retirado.

O presidente da Câmara aposta todas as fichas em ocupar a cadeira, com o apoio da turma do mercado e assim tentar operar as aprovações das mudanças nas leis trabalhistas e previdenciárias.

Esta turma não quer nem ouvir falar na alternativa óbvia, se pensassem em termos de Nação, que seria a eleição geral para legitimar o eleito a tocar o país.

Com Lula na frente nas pesquisas, eles ainda pensam numa forma de adiar as eleições do ano que vem, se não conseguirem inabilitar o ex-presidente para a disputa.

Triste ver que até a vaga ideia de projeto de Nação foi pro espaço.

Neste cenário desolador, as histerias direitistas, dos bolsomitos que fingem não estar envolvidos em todo o esquema, tenderão a ganhar um pouco mais de força.

Quem pariu esta tendência para enfrentar a centro-esquerda, agora já se desespera.

A confusão e as disputas regionais também crescem e reduzem o sentimento de identidade nacional.

Há vozes dispersas e fragmentadas apelando para uma frente de reconstrução nacional.

Assim, a tarefa é reforçá-las.

Diretas Já é o instrumento e a estratégia.

O caminho se faz ao caminhar!

segunda-feira, junho 26, 2017

"A visita do imperador" por Eugênio Soares

O professor Carlos Eugênio Soares de Lemos contactou o blog para boas notícias, em tempos bravios. A divulgação de "dois trabalhos de literatura que estão sendo desenvolvidos sobre a nossa região esse ano".

O primeiro dos dois trabalhos é sobre o livro "A visita do Imperador". "No link abaixo segue a sinopse da ficção histórica que retrata a passagem do imperador Pedro II sobre a região. A narrativa é mais sobre a sociedade que o recebe do que propriamente sobre o soberano. Ele é apenas o motivo para falarmos de nossas antigas assimetrias."
Abaixo a sinopse na íntegra e o link no perfil do FB e, ao lado, o convite para o lançamento do livro:

"A visita do Imperador" é um romance (ficção histórica) que resultou de uma pesquisa, desenvolvida ao longo dos últimos três anos, sobre a primeira visita do imperador Pedro II ao Norte da Província do Rio de Janeiro, em 1847, quando tinha apenas 21 anos. Misturando personagens históricos e ficcionais, o fio da narrativa é sobre as disputas que envolvem a visita do monarca a uma comunidade tão rica quanto iletrada, num contexto de consolidação política do Império, emergência do Romantismo literário, acirramento dos debates sobre o fim do tráfico de escravos e a expansão do modelo civilizacional francês. Nessa visita, em que predominou o jogo das aparências, os nomes de família, as traições políticas, as alianças matrimoniais e a sobreposição dos interesses privados aos públicos, revelam-se as desigualdades que, muito embora pareçam distantes no tempo, ainda se apresentam com outras máscaras na realidade do Brasil atual.

https://www.facebook.com/eugeniosoares1847/

"O segundo trabalho é a peça de teatro "As pessoas na sala de jantar", que aborda o cotidiano de uma família do interior fluminense nos anos de chumbo Ditadura Militar. Essa montagem está sendo realizada no regime de colaboração participativa. No link abaixo segue o site no qual as pessoas podem colaborar".

https://www.catarse.me/aspessoasnasaladejantar?ref=facebook&utm_source=facebook.com&utm_medium=social&utm_campaign=project_share_insights

Duas ótimas pedidas no campo cultural, abordando questões que ligam o poder político na escala nacional, ao cotidiano da vida na região. Parabéns professor Eugênio pelas inciativas. Vale participar e colaborar!

sábado, junho 24, 2017

Centenas de cidades pelo mundo (Berlim, Paris e outras) estão reestatizando os serviços de água, esgoto e lixo

O meu amigo professor Hélio Gomes, em função da matéria que publicamos aqui no blog, no último dia 15 de junho de 2017, sobre os lucros extraordinários e o absurdo da correção das tarifas de água e esgoto em índices muito acima da inflação, pela concessionária Águas do Paraíba que opera no município de Campos dos Goytacazes, nos enviou uma extensa e densa matéria publicada ontem pela BBC-Brasil.

A reportagem é da jornalista Julia Dias Carneiro e tem como título: "Enquanto Rio privatiza, por que Paris, Berlim e outras 265 cidades reestatizaram saneamento?". A matéria reafirma o que foi dito aqui na nota do blog: o aumento desenfreado das tarifas e os altos lucros das concessionárias privadas, são os motivos essenciais deste enorme movimento pela reestatização dos serviços públicos mais essenciais. Por natureza, pela suas características monopolísticas é mais adequado que eles sejam operados diretamente pelo Estado e não apenas (regulado ou falsamente controlado com as negociações conhecidas).

Assim, abaixo o blog transcreve uma parte da matéria e expõe ao final o link para acesso ao tento na íntegra:

"Enquanto iniciativas para privatizar sistemas de saneamento avançam no Brasil, um estudo indica que esforços para fazer exatamente o inverso - devolver a gestão do tratamento e fornecimento de água às mãos públicas - continua a ser uma tendência global crescente.

De acordo com um mapeamento feito por onze organizações majoritariamente europeias, da virada do milênio para cá foram registrados 267 casos de "remunicipalização", ou reestatização, de sistemas de água e esgoto. No ano 2000, de acordo com o estudo, só se conheciam três casos.

Satoko Kishimoto, uma das autoras da pesquisa publicada nesta sexta-feira, afirma que a reversão vem sendo impulsionada por um leque de problemas reincidentes, entre eles serviços inflacionados, ineficientes e com investimentos insuficientes. Ela é coordenadora para políticas públicas alternativas no Instituto Transnacional (TNI), centro de pesquisas com sede na Holanda.

É como dar cheque em branco': privatizar estatal de água para sanar rombo no Rio é medida 'imediatista', diz relator da ONU

"Em geral, observamos que as cidades estão voltando atrás porque constatam que as privatizações ou parcerias público-privadas (PPPs) acarretam tarifas muito altas, não cumprem promessas feitas inicialmente e operam com falta de transparência, entre uma série de problemas que vimos caso a caso", explica Satoko à BBC Brasil.

O estudo detalha experiências de cidades que recorreram a privatizações de seus sistemas de água e saneamento nas últimas décadas, mas decidiram voltar atrás - uma longa lista que inclui lugares como Berlim, Paris, Budapeste, Bamako (Mali), Buenos Aires, Maputo (Moçambique) e La Paz.
Privatizações a caminho

A tendência, vista com força sobretudo na Europa, vai no caminho contrário ao movimento que vem sendo feito no Brasil para promover a concessão de sistemas de esgoto para a iniciativa privada.

O BNDES vem incentivando a atuação do setor privado na área de saneamento, e, no fim do ano passado, lançou um edital visando a privatização de empresas estatais, a concessão de serviços ou a criação de parcerias público-privadas.

À época, o banco anunciou que 18 Estados haviam decidido aderir ao programa de concessão de companhias de água e esgoto - do Acre a Santa Catarina.

O Rio de Janeiro foi o primeiro se posicionar pela privatização. A venda da Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) é uma das condições impostas pelo governo federal para o pacote de socorro à crise financeira do Estado.

A privatização da Cedae foi aprovada em fevereiro deste ano pela Alerj, gerando polêmica e protestos no Estado. De acordo com a lei aprovada, o Rio tem um ano para definir como será feita a privatização. Semana passada, o governador Luiz Fernando Pezão assinou um acordo com o BNDES para realizar estudos de modelagem.

Da água à coleta de lixo, 835 casos de reestatização

Satoko e sua equipe começaram a mapear as ocorrências em 2007, o que levou à criação de um "mapa das remunicipalizações" em parceria com o Observatório Corporativo Europeu.

O site monitora casos de remunicipalização - que podem ocorrer de maneiras variadas, desde privatizações desfeitas com o poder público comprando o controle que detinha "de volta", a interrupção do contrato de concessão ou o resgate da gestão pública após o fim de um período de concessão.

A análise das informações coletadas ao longo dos anos deu margem ao estudo. De acordo com a primeira edição, entre 2000 e 2015 foram identificados 235 casos de remunicipalização de sistemas de água, abrangendo 37 países e afetando mais de 100 milhões de pessoas.

Nos últimos dois anos, foram listados 32 casos a mais na área hídrica, mas o estudo foi expandido para observar a tendência de reestatização em outras áreas - fornecimento de energia elétrica, coleta de lixo, transporte, educação, saúde e serviços sociais, somando um total de sete áreas diferentes."

A matéria é ainda mais extensa. Clique aqui e leia a reportagem da BBC na íntegra. Aqui neste outro link é possível acessar ao portal de uma rede mundial de re-municipalização dos serviços de água (Water remunicipalisation Tracker) que está organizada em nações de todo o continente.

PS.: Atualizado às 12:37: para breve ampliação do texto.

sexta-feira, junho 23, 2017

O que é o mercado e porque ele acha que "o Brasil é uma ilusão de ótica"

Eu tenho comentado aqui com alguma frequência sobre as forças do mercado e sobre a sua atuação para a captura e controle da política e do Estado no Brasil atual.

Captura que deseja a remoção de direitos trabalhistas e previdenciários, sob o argumento de reformas modernizadoras.

Não se trata de algo abstrato. 

É real e parte do sistema político capitalista.

Convive-se, mas também - e cada vez mais - se resiste a ela.
 
Uns querem liberá-la e julgam que ela é autorregulatória. Outros, julgam que sem um Estado regulador, o quadro seguirá desandando. 

Não me refiro nem aos ganhos dos setores produtivos, cada vez mais oligopolizados, mas a sanha rentista dos donos dos dinheiros.

A análise dos movimentos de alguns grupos econômicos a que tenho me detido investigar, permite interpretar uma visão totalizante.


Sobre o assunto, eu escrevi dois breves textos em meu blog, nos dias 19 e 29 de maio de 2017, sob o título "Esquema do sistema político e intercapitalista do Brasil contemporâneo". 

De certa forma, eles poderiam ser resumidos pelo esquema gráfico ao lado que incluí nas duas postagens.

Hoje, eu trago um dos muitos exemplos do que se tem visto, daquilo que a sanha rentista propõe como modelo de sociedade para o Brasil.

Hoje, no caderno de Finanças do Valor (P. C10), uma entrevista de página inteira com o gestor de um fundo de investimentos, considerado pelos jornalistas entrevistadores como um dos mais antigos e bem-sucedidos do mercado brasileiro: "O Brasil é uma ilusão de ótica".

Trata-se do Luis Stuhlberger, gestor do Fundo Verde.

Em meio a dezenas de comentários sobre a crise política e econômica, o gestor do fundo diz:
"O Brasil é isso, um Estado grande. E tem limite. Uma das aberrações que esse sistema trouxe é: como numa crise desse tamanho os salários não caem? Uma pista é que o salário mínimo era 25% do salário médio, agora está quase 50%, é muito difícil".

Mais claro impossível.

A breve fala, para não citar outras partes, mostra a quem e como servem as crises. 

Recolher os excedentes da economia incluindo a parte do trabalho.

Querem um mundo para poucos: "tem limites". 

Trabalhador apenas para gerar excedentes e aumentando a produtividade com menores salários.
Assim, o mundo rentista estica a corda. 

Como não é possível ganhar eleições e cooptar e controlar o poder político nessa direção, daí surgem os golpes e os financiamentos eleitorais que deturpam a democracia.

Desta forma avança-se, sem pudor, para a plutocracia (governo dos e para os ricos) se afastando a cada dia mais da abstrata democracia.

Há estágios intermediários entre este modelo e o socialista, ou pós-capitalistas. 

O período pós-guerra (2ªGM) foi chamado de estado de bem-estar-social, mediado por um modelo chamado de social-democrático.

Porém, eles se esvaem cotidianamente do mundo real, nos espaços nacionais das antes chamadas democracias centrais da Europa e EUA.

No Brasil entre 2013 e 2015, viveu-se apenas uma bruma deste desejo de menor desigualdade e de busca deste estado de bem estar social.

A irrupção da crise da Espanha, Grécia, Brexit, Trump e o caso brasileiro são exemplos deste sistema político e da inter-relação capitalista do mundo contemporâneo.

PS.: Atualizado às 20:35 para algumas correções no texto.

quarta-feira, junho 21, 2017

Brasil refina menos 550 mil barris por dia de petróleo: o desmonte não disfarçado é visto com espanto em boa parte do mundo

No último dia 31 de maio este blog publicou aqui um texto que teve grande repercussão e foi replicado por vários sites e outros blogs: "Desmonte na Petrobras atinge setor de refino. Brasil exporta petróleo cru e passa a importar cada vez mais combustíveis refinados".

Ontem, a Folha de São Paulo publicou uma matéria similar, confirmando os dados e parte de nossa interpretação, sobre o fato do setor de refino de petróleo estar sendo reduzido por ação da diretoria da Petrobras e que esta diferença significa que o país está exportando óleo cru e importando mais derivados: "Importação cresce e produção das refinarias nacionais cai a pior nível".

Para termos uma ideia do volume que vem deixando de ser refinado no Brasil é só observar a capacidade de refino no Brasil de 2,397 milhões de barris por dia, em 2015, segundo a ANP.

Sobre a produção nacional de petróleo, em abril, segundo a ANP, era de 2,5 milhões de barris por dia. Já o petróleo processado nos quatro primeiros meses do ano em nossas nas refinarias teve um volume de 221,4 milhões de barris, equivalente a uma média diária de aproximadamente 1,845 milhões de barris por dia.

Desta forma é possível dizer que com a capacidade instalada que possui o Brasil, ele deixou de processar cerca de 550 mil barris de petróleo por dia, considerando a diferença entre o que está sendo refinado e a capacidade instalada de refino.

Pela diferença entre 2,5 milhões bpd de produção e a atual capacidade instalada o país teria uma sobra que poderia ser exportada de outros 100 mil barris por dia de petróleo.

O Brasil possui hoje 11 refinarias de maior porte e outras 6 refinarias de menor porte, conforme tabela publicada no Anuário 2015 da ANP que reproduzimos abaixo:




O caso é ainda mais grave na medida em que o aumento da produção de petróleo no pré-sal e redução do volume de produção na Bacia de Campos ampliou o percentual de petróleo leve para o qual foi projetada a maior parte de nossas refinarias.

A perda com esta estratégia é de bilhões que poderiam estar ajudando a abater parte da dívida da estatal, ao invés da venda a preço vil de seus principais ativos.

Assim, o Brasil está desperdiçando capacidade instalada de refino para vender óleo cru e importar derivados. Boa parte do mundo olha para este quadro sem acreditar ou entender. O fato é tão inacreditável que a postagem de maior do blog gerou questionamentos e entrevistas de publicações do exterior especializadas em energia e petróleo.

A confusão é tão grande que a FSP em sua versão online publicou na noite desta terça-feira matéria sobre o aumento também da importação de etanol, sendo o Brasil o maior produtor mundial de álcool: "Importação de álcool cresce 403% no 1º tri e preocupa agência reguladora". O próprio diretor da ANP citado na matéria não sabe explicar as razões e diz que o tema precisa ser discutido.

Como já foi dito no texto anterior, nesta fase de colapso do ciclo petro-econômico com preços mais baixos do barril de petróleo, os maiores ganhos de uma petroleira que trabalha de forma integrada (do poço ao posto) é a venda dos derivados.

É evidente que a política de preços da Petrobras criou confusão no mercado nacional que era praticamente seu, abrindo espaços para a importação de derivados que gera lucros a outras petroleiras e às tradings que atuam no mercado global desta commodity que desde o segundo semestre do ano passado aumentaram enormemente seus faturamentos no Brasil.

O fato tende a enfraquecer a atividade de refino da estatal que poderá ser vendido também em partes como vem sendo feito com outras atividades da petroleira. A integração de uma petroleira permite que a corporação se movimente melhor nas diferentes fases do ciclo do petróleo e da economia nacional e mundial.

Tudo isto tende a pressionar ainda mais a estatal que tende a reduzir seu tamanho e sua importância tanto para a economia quanto para o povo brasileiro. Volto a dizer que é lamentável enxergar este processo que pode ser revertido, conforme a orientação resultante da disputa pelo poder político.

terça-feira, junho 20, 2017

Prumo controladora do Porto do Açu tem dívida de R$ 4,5 bilhões

A informação consta do balanço do primeiro trimestre de 2017 publicado para investidores. A dívida está dividida especialmente entre quatro grandes credores como mostra o slide nº 10 a da apresentação do balanço: BNDES (R$ 2,757 bilhões: R$ 1,920 bi + R$ 837 milhões); FGTS (R$ 1,3 bilhão) e o fundo financeiro canadense Brookfield (R$ 469 milhões). Sobre custos do dinheiro, vencimento e condições de pagamento veja tabela abaixo (slide nº 10/20) da apresentação resumida do  referido balanço financeiro.

É uma dívida bastante expressiva, mas pagável, dependendo dos resultados da empresa que precisa ter lucros para se preparar para o final da carência e início do pagamento para a continuação das atividades do empreendimento. Porém, não há como negar que este volume de dívidas dificulta a alavancagem de dinheiro (empréstimos) para novos empreendimentos no Porto do Açu.

Ainda sobre cada uma das dívidas há que se registrar que a contraída junto ao FGTS é aquela que as investigações policiais indicaram a participação do ex-deputado Eduardo Cunha em sua autorização, após solicitação do antigo controlador da empresa Eike Batista. As dívidas com o BNDES (R$ 2,7 bilhões) são expressivas e equivalem a 60% do total. Estas dívidas são intermediadas, garantidas e repassadas através de bancos particulares que respondem por elas no caso do seu não pagamento.

A divulgação destes dados ajuda a que se possa ter uma melhor compreensão sobre a corporação, hoje controlada pelo fundo financeiro americano EIG Global Energy Partners. Sua interpretação deve ir além das divulgações publicadas em colunas pagas ao preço da mídia comercial. Assim, vale ainda registrar que neste mesmo balanço, 1º Trimestre 2017, a Prumo informa que teve prejuízo líquido no período  de R$ 130 milhões.

Por fim, deve-se ainda registrar que hoje no Porto do Açu se tem investimentos que vão para além daqueles aportados no passado pela LLX (hoje Prumo), e se estendem a outras empresas que alocaram recursos próprios ou obtidos também empréstimos particulares.

Já a Prumo Logística Global S.A. informou que até o ano passado havia investido um total de R$ 10 bilhões no empreendimento, sendo que a quantia de R$ 6,3 bilhões foram investidos apenas pela sua subsidiária Porto do Açu Operações, enquanto outros R$ 3,7 bilhões tinham sido alocados na empresa Ferroport, uma joint-venture com a Anglo American que atua na exportação de minério de ferro.





segunda-feira, junho 19, 2017

Volume extraído de petróleo e gás no pré-sal prestes a ultrapassar metade de toda a produção nacional

A produção de petróleo e gás natural camada pré-sal no Brasil já atinge 1,57 milhão de boed (barris de óleo equivalente: óleo + gás).

Este é o resultado de maio, com um volume 5,1% acima de abril.

Em comparação a maio de 2016, houve um aumento de 37% da produção da camada pré-sal.

Esses resultados derivam principalmente, do início da produção do projeto Lula Sul, através da P-66, e do retorno à produção após parada para manutenção, da plataforma FPSO Cidade de Angra dos Reis.

Está muito próximo da produção nacional de petróleo e gás no pré-sal superar todo o restante.

Em abril passado a produção total no Brasil foi de 3,18 milhões boed. Comparando a produção de pré-sal de maio com a produção total (e não apenas da Petrobras) de abril (pq a ANP só no mês que vem divulga - 60 dias depois) este percentual seria de 49,3%. (1,57 boed /3,18 boed)

E tinha gente que dizia que o pré-sal era uma miragem e/ou apenas um discurso.

Estes resultados resultam de uma empresa estatal - Petrobras - que mesmo sendo vilipendiada de todos os lados, e diante do já longo período de colapso de preços do barril, segue sendo procurada para parcerias por todas as grandes petroleiras do mundo.

Enquanto isso, os novos dirigentes golpistas da Petrobras seguem fatiando e entregando a preço vil, seus ativos, desintegrando a empresa com a promoção do desmonte dos seus diversos setores, pessoal, refino, logística, exploração, etc.

Há que se denunciar e seguir resistindo. Este quadro não persistirá!

PS.: A Shell (incluindo a BG comprada em 2016) que está colada nos ativos da Petrobras, já ultrapassou a produção de 350 mil barris de óleo equivalente por dia em abril no Brasil. E segue aumentando a sua participação na produção nacional de óleo e gás. Assim, a Shell pretende chegar à produção de meio milhão de barris por dia até 2020.

PS.: Atualizado às 16:54 e 17:02: Abaixo a tabela dos 20 maiores produtores de óleo e gás (boed) no Brasil. Tabela do Boletim Mensal de Produção da ANP, em abril de 2017, p.14/32. Como se pode ver a produção das petroleiras estrangeiras no país já ultrapassa, hoje, os 620 mil boed.
 

Questões sobre a aquisição pela Prumo do direito de construção de usina termelétrica no Açu

Há poucos dias, a Prumo Logística Global S.A. (controlada pelo fundo americano EIG Global Energy Partners) e  controladora do Porto do Açu, anunciou a aquisição junto a Blognesi, através de sua subsidiária Gás Natural Açu Ltda. (“GNA”), de uma autorização emitida por portaria do Ministério de Minas e Energia (MME) nº 210, em 14 de maio de 2015, de um projeto de construção e operação de uma termelétrica (“UTE Novo Tempo”) com capacidade de geração 1.238 MW, que tinha sido obtida pelo grupo gaúcho, ao vencer Leilão de Energia Nova A-5 de 2014 (Leilão no 06/2014 – Aneel). (Veja aqui comunicado da Prumo em fato Relevante)

O grupo Bolognesi desenvolveu projetos de usinas termelétricas junto a dois outros portos brasileiros (Suape em Pernambuco e Rio Grande no Rio Grande do Sul). Chegou também a assinar termo de compromisso de parceria e aluguel de área, em outubro de 2015, para outro projeto no Porto do Açu. (Veja aqui). Menos de seis meses depois, a gaúcha Bolognesi anunciou a desistência do projeto. (Aqui).

A Bolognesi começou comprando projetos de geração de energia elétrica do grupo Bertin que não conseguia avançar nos mesmos. O grupo gaúcho tinha expectativa de angariar investidores para garantir recursos para: acesso a gás natural, através de gasodutos ou unidade de gaseificação do GNL (Gás Natural Liquefeito) que seria importado por navios especializados; construção das usinas geradoras de energia elétrica; além de contratos com futuros interessados em compra desta energia.

Tratam-se de projetos caros, atualemnte com custos entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões cada UTE, como a que foi projetada para o Porto do Rio Grande, ES, que tinha esta mesma capacidade de geração imaginada para a unidade do Açu com 1,2 GW (1.200MW). Com o país em recessão-estagnação, menor consumo de energia e os riscos políticos e econômicos atuais, o projeto continuará tendo dificuldades em ser viabilizado.

A geração de energia elétrica a partir do gás natural é uma boa alternativa em termos ambientais. Porém o custo de geração nas UTEs é maior do que na usinas hidrelétricas (UHEs) o que faz com que as primeiras só sejam usadas na falta de energia das primeiras ou nos picos de consumo. No restante do tempo elas são remuneradas por ficarem em stand-by para situações de emergências.

No caso do Açu o projeto ainda teria que ser decidido se trabalharia com gás viabilizado por gasodutos, numa interligação com o ramal Gascav que sai de Cabiúnas para Vitória e passa por Campos, ou por novo duto para transporte do gás.
Terminal GNL Pecém, CE. Agência Petrobras.

Outra alternativa seria um terminal e uma unidade pra regaseificação de LNG importado como o existente da Petrobras no Rio Baía da Guanabara e no Ceará, no Porto doe Pecém. Hoje, o Brasil importa GNL do Qatar, Nigéria e Trinidad e Tobago.

Assim, há muitas questões a serem resolvidas antes da decisão sobre a construção e implantação de uma UTE junto ao Porto do Açu. A sua possível construção gera um pouco mais de empregos na construção do que na operação, em grande parte automatizada, sendo parte de ex-alunos do IFF (ex-Cefet Campos).

Quanto a área a ser utilizada para a construção da UTE no Porto do Açu, ela seria pequena diante dos 20 km² que a Prumo possui junto ao porto, sem ter necessidade de utilização de área da imensa área de 72 Km² do Distrito Industrial de São João da Barra (DISJB) que está atualmente sendo questionada pelos agricultores atingidos , porque depois de quase uma década quase nada está sendo utilizada.

Para se ter uma ideia da demanda de área para  implantação da usina termelétrica (UTE) à gás vejamos o caso das duas instaladas no município de Macaé, a Norte Fluminense e a Mário Lago. Junto elas possuem capacidade de geração de cerca de 1.800 MW, quase 50% acima deste projeto da Bolognesi de 1.200 GW e ocupam uma área total de menos de 1 km², incluindo as áreas das subestações junto a cada uma delas, além da área de proteção vizinha. Veja no mapa abaixo (Wikimapia do Google) a área e a régua da escala na parte inferior.

O projeto de uma UTE à gás junto ao Porto do Açu pode ser um projeto interessante mais para gerar receita de ICMS para o estado e quota-arte para o município, do que necessariamente para geração de empregos. Menos ainda, se o objetivo do anúncio tenha sido a tentativa de propagandear projetos para justificar manutenção das áreas desapropriadas.

Volto a afirmar - e vou depois trazer outros dados - que a área desapropriada para o DISJB de 72 km² é na verdade um despropósito, por isso permanece sem utilização. 72 Km² para este distrito industrial é 5 vezes menor do que a soma de todos os outros 9 distritos industriais que a Codin possui atualmente em nosso estado.


quinta-feira, junho 15, 2017

Águas do Paraíba: lucro líquido de R$ 55 milhões e a 8ª tarifa mais cara do Brasil em Campos

A concessionária dos serviços de água e esgoto no município de Campos dos Goytacazes, Águas do Paraíba S.A., empresa da holding Águas do Brasil S.A. teve um lucro líquido no passado de 2016 de R$ 55 milhões. Este lucro líquido em 2016 é mais que o triplo do ano anterior de 2015 e equivale a cerca de um terço da receita total no passado que chegou ao valor de R$ 186 milhões.

É um lucro extraordinário. São poucos os negócios "lícitos" no mundo que permitem um lucro nesta magnitude. De outro lado, a concessionária é a mais reclamada pelos munícipes de Campos, nos serviços de atendimento ao consumidor do tipo Procon.

A Águas do Paraíba cumpre um contrato de concessão obtido em conturbada licitação, tipo concorrência pública (Nº 001/96), realizada no dia 16 de setembro de 1996.

O prazo de concessão prevista na licitação era de 30 anos com possibilidades de prorrogação, a partir da ordem de serviço inicial, que foi emitida no dia 14 de setembro de 1999. Só que nos governos Mocaiber, em 23 de novembro de 2007, e depois Rosinha, em 20 de maio de 2015, foram assinados termos aditivos para prorrogação do prazo de concessão com a PMCG.

Mocaiber concedeu mais 108 meses, já Rosinha, em 2015, mais 72 meses. Assim, hoje, a concessionária diz que o término do contrato foi prorrogado até setembro de 2044, ou seja, mais 27 anos.

É oportuno recordar que nos últimos anos a correção das tarifas de água em Campos foi sempre acima dos índices inflacionários. Entre 2009 e 2017, a PMCG reajustou as tarifas de água e esgoto, em favor da Águas do Paraíba acima do dobro da inflação: Tarifas 131,94% x IPCA de 65,08%. No último ano (de 2016 para 2017), o reajuste da tarifa foi de 15,286% (R$ 3,199/m³ x 3,688/m³) contra um IPCA de 6,29%.

Em 2008, segundo o Instituto Trata Brasil, Campos tinha a 8ª mais cara tarifa de água do país. Veja aqui. Este fato ajuda a explicar o extraordinário lucro líquido da Águas do Paraíba em Campos. Ainda sobre o assunto veja outras publicações do blog sobre o assunto: aquiaquiaqui e aqui.

Nas cidades onde o abastecimento já está a cargo da iniciativa privada, os moradores hoje pagam de 15% a 70% mais caro do que os clientes dos 64 municípios atendidos só pela Cedae. Sobre o assunto veja aqui matéria no jornal Extra em 11 set. 2016.

O governo atual de Rafael Diniz acaba de transferir para a concessionária a responsabilidade de saneamento água e esgoto dos distritos e localidades do interior, com a reversão dos bens patrimoniais que eram EMHAB para a Águas do Paraíba, conforme publicação no Diário Oficial do município no dia 9 de junho de 2017.

O blog ainda está apurando, mas consta que esta cessão das instalações das ETAs (Estações de Tratamento de Água) da EMHAB para a Águas do Paraíba, terá como correspondência a cobrança aos moradores das localidades do interior das tarifas de água que até aqui eram sustentadas pelo município.

Assim, os moradores destas localidades do interior do município de Campos passarão a ter que arcar com o aumento do transporte, mas também com o início da cobrança pela água.

O certo é que os valores da tarifa de água em Campos precisam ser revistos. Uma auditoria do contrato e estas correções sempre acima da inflação necessitam ser investigados. Elas estão "desorquestradas".

Não é razoável que Campos tenha uma das maiores tarifas do país. O próprio grupo Águas do Brasil S.A. (formado pela Carioca Engenharia, Queiroz Galvão, Construtora Cowan e New Water) que controla outras empresas concessionárias de água e esgoto sabe que seus lucros em Campos estão muito acima daqueles obtidos por serviços similares em outros municípios.

Assim, sigamos em frente arguindo discussões sobre Políticas Públicas. 

quarta-feira, junho 14, 2017

Para-petroleiras são forçadas a reduzir custos dos seus serviços com a fase de colapso do ciclo petro-econômico

Para-petroleiras são as corporações que atuam fornecendo bens (máquinas, equipamentos e materiais), tecnologia e serviços para as as petroleiras (nacionais-estatais ou privadas).

Em períodos de baixos preços do barril (fase de colapso do ciclo do petróleo) as operadoras (petroleiras) pressionam as empresas prestadoras de serviços a reduzirem seus contratos, sob pena de corte dos projetos de perfuração e/ou produção. (Sobre fusões e aquisições a nível mundial em empresas para-petroleiras veja aqui postagem do blog em 21 mar. 2017).

O resultado disto é uma enorme redução de custos. Segundo relatório da consultoria norueguesa do setor, a Rystad Energy, os contratos de projetos iniciados entre 2012 e 2014 fizeram com os custos médio de extração a nível mundial tenham para US$11/boe para projetos em águas profundas, US$7/boe para a outros em águas rasas (plataforma continental) e de US$4/boe para desenvolvimentos da produção em terra (onshore).*

A maior redução ficou para os projetos que são mais caros: 42%, 31% e 26% para águas profundas, águas rasas e onshore, respectivamente.

Só para se ter uma ideia sobre esta redução de custos para as diferentes fase do que chamo de ciclo petro-econômico, em 2014, os custos eram de aproximadamente US$17/boe em águas profundas, US$11/boe para águas rasas e US$4/boe para projetos onshore. 

Em 2017, estes custos são aproximadamente 30% mais baixo para águas profundas e 20% mais baixo para a águas rasas e campos terrestres.

Em 2012, mais de 650 novos projetos de exploração de petróleo e gás saíram do papel para serem implantados. Porém, desde a crise (fase de colapso do ciclo petro-econômico), este número caiu em um terço e chegou ao patamar mínimo em 2016 com menos de 200 novos projetos.

O fato demonstra que todas as petroleiras a nível mundial convivem com as mesmas questões decorrentes da diferentes fases do ciclo petro-econômico. 

Assim, o caso da Petrobras, não é diferente como quer fazer crer boa parte da mídia comercial brasileira. Inclusive o título e boa parte da matéria do site Terceira Via (aqui) que me ouviu como especialista e não compreendeu (especialmente no título) o que tentei explicar.

Enfim, as duas fases do ciclo petro-econômico (boom e colapso) produzem reações em diferentes dimensões (econômica, espacial, ambiental, geopolítica, etc.) para todo o setor de petróleo e gás, desde as petroleiras às fornecedoras de bens, equipamentos e prestadoras de serviços. 

Na fase de colapso de preços do ciclo do petróleo, elas são obrigadas a reduzir seus contratos sob pena de não ter contratante. As consequências disto são diversas, em especial para a parte de menor poder que são os trabalhadores.  

Por tudo isto, não é possível compreender o movimento desta cadeia produtiva observando apenas as questões nacionais num setor que é completamente globalizado.

*Bom lembrar que se tratam de custos líquidos, sem o custo do dinheiro de investimentos, impostos e royalties. 

sábado, junho 10, 2017

Morre mais um petroleiro vítima de explosão em navio-sonda na Bacia de Campos

Mais um petroleiro, agora, Jorge Luis Damião faleceu hoje, por conta da queimadura que sofreu em 96% do corpo, em função da explosão que ocorreu ontem na caldeira na praça de máquinas do navio sonda NS-32 (Norbe VIII), afretado pela Odebrecht, na Bacia de Campos, conforme nota publicada ontem, aqui no blog. A empresa Odebrecht Óleo e Gás (OOG) é prestadora de serviço da Petrobras.

Ontem faleceu Ericson Nascimento de Freitas, de 28 anos que era técnico em inspeções. Eduardo Aragão Lima passou por cirurgia ontem, seu estado é grave e está no Hospital de Macaé, RJ. O quarto trabalhador atingido, Fernando Garcia Pinheira teve alta hospitalar hoje.

Em documento que o blog teve acesso (abaixo), um alerta do setor de SMS da Petrobras foi emitido fazendo um alerta para outras unidades, sobre os riscos de explosão similar.

Evidente que um acidente com tamanha gravidade com explosão de uma caldeira (equipamento de alto risco, ainda mais numa plataforma) que mata dois trabalhadores terá que ser melhor analisado.

Porém, como disse ontem aqui no blog, nesta fase de colapso do ciclo petro-econômico - com redução do preço do barril -, as ações para redução de custos são sempre muito grandes e algumas vezes, desarrazoadas. Isso, faz com que os riscos se ampliem quase como consequência direta. O mesmo se dá com as reduções de contingente embarcado nas sondas e plataformas.

As causas do acidente devem ser apuradas. Infelizmente é muito comum a responsabilização dos trabalhadores, escamoteando causas originais que podem levar à ocorrências dos acidentes, quando as hipóteses de redução sem critérios dos custos podem afetar os processos e a segurança no trabalho.

O Sindipetro-NF declarou luto por conta da morte dos dois trabalhadores da Odebrecht Óleo e Gás (OOG).


sexta-feira, junho 09, 2017

Reflexo da redução de custos no setor de petróleo: acidente 1 morte e 3 feridos em sonda contratada

A redução de custos quase sem limites nesta fase de colapso de preços do barril de petróleo,  após 2015, vai mostrando seus resultados. As investigações ainda vão apurar as causas, mas as hipóteses já vinham sendo levantadas.

Abaixo as informações do Sindipetro-NF que fala sobre 4 trabalhadores feridos.

"Quatro trabalhadores foram feridos nesta manhã por explosão em uma caldeira na praça de máquinas do navio sonda NS-32 (Norbe VIII), afretado pela Odebrecht, na Bacia de Campos. Três deles com queimaduras.

A explosão ocorreu às 7h48. As informações iniciais obtidas pelo Sindipetro-NF são de que dois dos trabalhadores feridos foram desembarcados pela aeronave de emergência. Os outros dois passam por avaliação médica a bordo da unidade.

Não houve incêndio, mas as operações na plataforma foram interrompidas. A explosão aconteceu durante manutenção em uma caldeira que não estava operando.

De acordo com o site Marine Traffic, no momento da explosão o NS-32 seguia, no Campo de Marlim, em direção ao Porto do Açu, em São João da Barra (RJ). O Navio tem bandeira das Bahamas e foi construído em 2011.

O Sindipetro-NF ainda apura mais informações sobre o acidente. A entidade fez contato com a área de segurança da Petrobrás e aguarda resposta. "


PS.: Atualizado às 16:56: Infelizmente um dos trabalhadores feridos internados no HPM de Macaé faleceu. Outros dois estão gravemente feridos e outro deverá ter alta amanhã segundo dirigente do Sindipetro-NF.

Na íntegra vídeo da Audiência Pública na Alerj que questionou o não uso dos 72 km² de área desapropriada para o DISJB

Como já comentamos em nota aqui no blog, aconteceu na manhã de ontem (08/06) na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), uma audiência pública com o tema: "Os impactos sociais da implantação do Complexo Industrial e Portuário do Açu".

A reunião foi convocada por três comissões e uma frente: Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania; Comissão de Política Urbana, Habitação e Assuntos Fundiários; Comissão de Representação para Medir Conflitos Decorrentes da Implantação do Porto do Açu e Frente Parlamentar de Economia Solidária.

Há um consenso de que o Porto do Açu com a área que dispõe de 20 km² pode funcionar com suas atividades de exportação de minérios, de transbordo de óleo, de movimentação de outras cargas e apoio às explorações de petróleo offshore, sem necessitar dos 72 km² de área desapropriado pelo Estado na região do Açu.

Inúmeros dados comparativos com outros projetos de logística portuária e de distrito industrial no pais forma apresentados e os dados de demanda de áreas comparados com os 72 Km² que as desapropriações destinaram ao DISJB no Açu, em favor da Prumo.

Veja abaixo o vídeo na íntegra produzido pela TV Alerj, sobre os debates na Audiência Pública:

quinta-feira, junho 08, 2017

Agricultores do Açu conquistam em Audiência Pública, hoje na Alerj, forte apoio de deputados para suspender as desapropriações

Aconteceu na manhã desta quinta-feira (08/06), entre 10 e 13 horas, numa da salas de reunião das comissões (316) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), uma audiência pública com o tema: "Os impactos sociais da implantação do Complexo Industrial e Portuário do Açu".

A reunião foi convocada por três comissões e uma frente: Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania; Comissão de Política Urbana, Habitação e Assuntos Fundiários; Comissão de Representação para Medir Conflitos Decorrentes da Implantação do Porto do Açu e Frente Parlamentar de Economia Solidária.

A direção da Audiência Pública com os quatro deputados
que presidem as comissões que a convocaram: Bruno Dauaire,
Marcelo Freiro, Zeidan e Waldeck Carneiro.
A audiência teve a participação das lideranças dos agricultores do Açu (antigo 5º Distrito do município de São João da Barra), organizados pela Asprim, que levou cerca de 50 pequenos produtores-atingidos pelo empreendimento e pelas desapropriações; dos apoiadores como o MST; pesquisadores e núcleos de pesquisas de várias instituições (IFF, UFF, Uerj) que estudam o problema; Defensoria Pública do ERJ (Seção SJB); Câmara de Vereadores de SJB (presidente e mais três vereadores), entre outras autoridades e público em geral. A audiência esteve superlotada todo o tempo e foi transmitida ao vivo pela TV Alerj.

Mais de 14 deputados estaduais estiveram na audiência pública e qualificaram o volume e o conteúdo das informações ali apresentadas como fortes elementos para garantir o apoio político deles para a aprovação do decreto de suspensão das desapropriações pela Alerj, tendo sido em todo este tempo, a audiência mais produtiva e eficiente, segundo todos aqueles que se pronunciaram.

O apoio político pela suspensão do decreto é suprapartidário e demonstra a compreensão das bases em que o decreto de desapropriação do governador Cabral foi assinado, em acordo que hoje é questionado em ação criminal que envolve ainda o empresário Eike Batista, beneficiário do mesmo, estando hoje, ambos presos por decisão judicial a pedido do Ministério Público Federal.

A repercussão da audiência pública foi e continua sendo bastante grande. Todos faziam questão de registrar o fato de que o decreto de desapropriação perdeu a sua razão, se desvinculando do objeto e de sua finalidade na medida em que a extraordinária área de 72 km² que seria para a instalação do Distrito Industrial de São João da Barra (DISJB) hoje se encontra em quase sua totalidade sem utilização.

Na prática, segundo todos, o DISJB se transformou num condomínio de área controlado pela Prumo (ex-LLX), sem controle da Codin. As grandes indústrias extensivas em áreas (2 siderúrgicas, 2 cimenteiras, usinas termelétricas e outras, ultrapassados quase dez anos não se instalaram e nem perspectivas.

Há um consenso de que o Porto do Açu com a área que dispõe de 20 km² pode funcionar com suas atividades de exportação de minérios, de transbordo de óleo, de movimentação de outras cargas e apoio às explorações de petróleo offshore, sem necessitar dos 72 km² de área desapropriado pelo Estado na região do Açu.

Inúmeros dados comparativos com outros projetos de logística portuária e de distrito industrial no pais forma apresentados e os dados de demanda de áreas comparados com os 72 Km² que as desapropriações destinaram ao DISJB no Açu, em favor da Prumo.

Esta extensão de área desapropriada em favor do DISJB é maior do que 198 municípios brasileiros, entre estes (Búzios com 69 km²; Iguaba Grande com 53 km²; Porto Real com 50 km²; mesquita com 34 km² e Nilópolis com 19 km²).

Vários outros dados foram apresentados e gerou enorme reação (indignação dos presentes) e interesse dos jornalistas e serão - de forma paulatina - descritos e postados aqui no blog. Porém, um deles, o mapa que demonstra o que era previsto em termos de empreendimentos para o DISJB e o que efetivamente existe foi o que surtiu maior impacto e está apresentado abaixo.



O mapa foi elaborado por Eduardo Barcelos do grupo de agrária da AGB (Associação de Geógrafos, seção Niterói-Rio*. O mapa da esquerda apresenta os projetos do DISJB que foram amplamente divulgados entre 2008-2010. E o mapa da esquerda mostra, na área que tem verde de 62 km², a localização das terras que foram desapropriadas e que hoje estão abandonadas em sem nenhuma função.

Por conta do fim do uso rural destas e outras terras de SJB, a produção agrícola em SJB caiu de cerca de 185 mil toneladas em 2009, para 30 mil toneladas em 2015, como uma redução de 84%. A área colhida caiu de 3.755 hectares para 1001 hectares, com uma redução de 73%.

A enorme repercussão dos relatos dos produtores rurais por Rodrigo Santos e Da. Noêmia Magalhães apresentação pela Asprim e pelos dados dos pesquisadores e defensores públicos, fez com que logo após a audiência pública, uma comissão fosse recebida pelo líder do governo na Alerj, deputado Albertasi, para agilizar as medidas legislativas e políticas para sustar as desapropriações.

Agricultores, pesquisadores e defensores públicos detalham no mapa para o líder do governo deputado Albertasi, o não uso das áreas desapropriadas no Açu. 






















O blog voltará a tratar do assunto com mais dados e informações tanto sobre a audiência, quanto sobre seus desdobramentos. E finaliza esta comunicação lembrando as palavras de Da. Noemia falando como uma das produtoras rurais do Açu: "somos como sementes e assim a nossa luta renasce a cada dia!".

PS.: Atualizado às 12:22 de 09/06/17: Para inserir abaixo matéria da TV Alerj sobre a Audiência Pública que que se encaminha para aprovar PDL (Projeto de Decreto Legislativo) que suspenderá as desapropriações de terras do Açu, que depois de 9 anos não tiveram uso no DISJB:



PS.: Atualizado às 23:48 de 13 de junho de 2017 para trocar imagem do mapa que agora vem com assinatura da AGB.

Como é visto o setor de petróleo do Brasil no mundo

Do executivo norueguês Kjetil Solbraekke, ex-presidente da filial brasileira da Statoil, petroleira daquele país, que é o vice-presidente para a América do Sul da empresa de consultoria da área de óleo & gás, Rystad Energy, uma das mais respeitada do mundo:

"O Brasil é o mais importante, o melhor lugar [para exploração] de petróleo do mundo". 
(Valor, 05 jun. 2017, P. B4)

quarta-feira, junho 07, 2017

"A disputa entre Arábia Saudita e Qatar pode ser sobre gás, não terrorismo"

Mais uma questão da crise no Oriente Médio como parte da geopolítica da energia. Há acusações de forças de um lado e outro, mas poucos acreditam que as informações e contrainformações que cercam o caso do Qatar com Arábia Saudita tenha como justificativa o terrorismo.

Além de maior produtor de gás natural (GN) do mundo, possui um dos maiores fundos financeiros (soberanos) com influência em diversas corporações e bancos espalhados pelo mundo. Até por isso, este artigo do site "RT" (aqui) merece ser lido. Uma versão traduzida por Alex Prado foi publicada aqui pela Aepet que transcrevemos abaixo:

"A disputa entre Arábia Saudita e Qatar pode ser sobre gás, não terrorismo"

"A disputa da Arábia Saudita com o Qatar é datada de 1995 e decorre do sucesso do país na produção de gás natural liquefeito (GNL). O GNL deu maior independência ao Qatar frente a Riyadh e alinhou Doha com o Irã, arquinimigo da Arábia Saudita.

A revolução do GNL fez do Qatar uma das nações mais ricas do mundo com uma renda per capita anual de US$ 130.000. O país também se tornou o maior exportador de GNL.

O campo norte offshore do Qatar, que fornece todo o gás do país, é compartilhado com o Irã. O Qatar também hospeda o Comando Central dos EUA e comprou uma participação de US$ 2,7 bilhões na principal petrolífera russa, Rosneft.

Base portuária para exportação de LNG no Qatar
"O Qatar costumava ser uma espécie de estado vassalo da Arábia Saudita, mas usou a autonomia que a riqueza do seu gás criou para desempenhar um papel independente ", disse Jim Krane, pesquisador de energia do Instituto Baker da Rice University, Texas, segundo a agência Bloomberg.

"O resto da região tem procurado uma oportunidade para cortar as asas de Qatar", acrescentou Krane.

Na segunda-feira, a Arábia Saudita, o Egito, o Bahrein, os Emirados Árabes Unidos, o Iêmen e outros países reduziram os laços diplomáticos com o Qatar, acusando o país de apoiar o terrorismo.

A riqueza de GNL permitiu que o Qatar formasse uma política externa, independente dos sauditas.

Riyadh acusou Doha de apoiar a Irmandade Muçulmana no Egito, o Hamas na Faixa de Gaza e os grupos armados opostos entre Abu Dhabi e Riyadh nas guerras Líbia e Síria.

Além disso, a Arábia Saudita e outros países do Golfo viram um aumento na demanda de GNL para produzir eletricidade. Como o Qatar tem os menores custos de extração, os sauditas dependem de importações de GNL de custo mais alto.

"Você pode questionar porque o Qatar não esteve disposto a fornecer para seus países vizinhos, tornando-os pobres de gás, provavelmente havia uma expectativa de que o Qatar vendesse gás para eles com um bom desconto", Steven Wright, Ph.D. Professor associado da Universidade de Qatar disse à Bloomberg.

O ministro das Relações Exteriores do Qatar disse na terça-feira que Doha estava pronta para os esforços de mediação para aliviar a fissura entre os países do Golfo.

O governante do Kuwait, Sheikh Sabah Al-Sabah, anunciou que viajaria para a Arábia Saudita na terça-feira para mediar o fim da briga."

terça-feira, junho 06, 2017

O cerco dentro do golpe!

O cerco do golpe dentro do golpe pelos tucanos está avançando.

Uma a uma as cabeças do PMDB estão sendo tombadas.
Vão aprisionando o Temerário.
Entre os tucanos a disputa para chegar na cadeira de presidente - sem votos - cresceu entre Alckmin e Jereissati.
Eles continuam não pensando na Nação.
Imaginam que basta derrubar o já tombado Temerário.
Estão brincando com fogo.
Não estão levando em conta que cada vez mais a Nação percebe que só as eleições diretas resolvem este imbróglio.
Conhecendo um pouco de política, ninguém pode imaginar que população vá se contentar apenas com a derrubada de Temer, para ver Maia, Meirelles, ou um destes tucanos, seguindo mesmo script.

segunda-feira, junho 05, 2017

Jornada Internacional em Políticas Sociais no PGPS da Uenf: 9, 12 e 13 junho

O blog abre espaço mais uma vez para divulgação de um evento acadêmico, de nível internacional, numa universidade em Campos. A V Jornada Internacional em Políticas Sociais tem como tema: "Políticas Sociais e a nova urbanidade. O evento é organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais (PGPS) da Uenf. Abaixo o cartaz do evento e sua programação:




Ainda sobre a saída dos EUA do Acordo de Paris: um mundo limpo e asséptico ambientalmente na parte de cima desenvolvida e depreciado nos trópicos

Ainda sobre a saída dos EUA do Acordo de Paris.

Foi interessante observar que os acionistas da Esso ficaram a favor da avaliação dos riscos climáticos.

Eles alegavam querer garantir uma "transição suave para uma economia de baixo carbono".

A Shell também diz algo parecido quando afirma que hoje faz opção pelos ativos de gás natural.

Porém, ambas as corporações sabem que a demanda de petróleo tende a crescer nas próximas décadas, especialmente, nas regiões menos desenvolvidas do planeta, onde os projetos de energia sustentáveis quase inexistem.

Assim, as corporações do setor, que desenvolveram o capitalismo lubrificado pelo petróleo, apostam numa dupla e cruel matriz: energia sustentável em nível ascendente nos países ricos e petróleo na periferia sobrante do mundo.


A União Européia (UE) é hoje o maior mercado de carbono do mundo e assim avança para a energia menos insustentável.

Um mundo limpo e asséptico, ambientalmente, para a parte chamada de desenvolvido e depreciado nos trópicos.

Mesmo que a questão do clima atinja a todos, na média, ele seria menos intolerável na parte de cima do Equador, até pela média de menos impacto ambiental no alto do globo e maiores na parte sobrante de baixo.

E as corporações seguem manejando este jogo que vai bem para além da decisão de Trump e dos EUA.

sábado, junho 03, 2017

A saída dos EUA do Acordo de Paris e algumas consequências...

Tem momentos que é meio difícil crer que os EUA saiu do Acordo de Paris, enquanto a China, numa reviravolta também quase inacreditável, mudou quase radicalmente, a sua posição.

A China agora tende a ampliar, paulatinamente, o espaço na direção da liderança de uma agenda que mistura tecnologia, inovação e produção de energias alternativas, que ainda terá que conviver um bom tempo com o ciclo do carbono através da mercadoria especial do capitalismo que é o petróleo.

O resultado disto parece paradigmática e simbólica, do fim de um ciclo e também da virada da aliança do Ocidente - desde o pós-guerra - para a outra direção: da Eurásia.

A geopolítica segue mudando dia-a-dia com velocidade que não é comum nesta dimensão.

O que isto poderá produzir, acho que ninguém gostaria de arriscar, embora sigamos otimistas, em busca de melhores dias, mesmo diante de realidades estranhas.

sexta-feira, junho 02, 2017

Álcool de milho no Mato Grosso é mais uma ameça à produção de cana na região

A agroindústria canavieira do Norte Fluminense com a produção de açúcar e álcool segue cada vez mais ameaçada. Além das bilionárias dívidas das usinas, a perda de competitividade da produção regional diante de outras regiões é muito significativa. Talvez, definitiva.

As produções no Oeste paulista e na região Centro-Oeste ampliam a cada dia, a diferença em termos de custo de produção e produtividade, em relação à produção regional.

Além disto, a produção do etanol de milho cresce de forma muito significativa consumindo parte excedente da produção de milho daquele estado. Desde 2012, quatro usinas já implantaram instalações para a produção compartilhada (usinas flex) moendo cana-de-açúcar e milho alternadamente na entressafra do outro, garantindo funcionamento e produção o ano inteiro.

Destilaria flex de etanol de milho e cana da Usimat, MT
Uma desta plantas flex de produção de álcool é da Usimat, na cidade de Campos de Júlio, MT, a 600 km de Cuiabá, que já está produzindo 490 mil litros diários de etanol de milho este ano.

Em 2012, quando a Usimat começou a produzir etanol de milho a produção era de apenas 50 mil litros por dia. Hoje a estimativa do estado do Mato Grosso é de produzir este ano mais de 300 milhões de litros de etanol de milho.

O Mato Grosso produz quase metade de toda a produção nacional de milho. Por lá, a produção de etanol de milho tende a se alterar conforme a demanda pelo produto in-natura no mercado mundial, como acontece aqui na região com o valor da commodity açúcar.

É certo que parte da produção lá e cá atende aos mercados locais/regionais o que garante uma certa estabilidade na demanda, em função dos custos de logística para distribuição da produção. Há espaços ainda para a agroindústria canavieira na ampla extensão de área do Norte Fluminense, mas ela têm se estreitado.

Assim, parece cada cada vez mais claro que a produção agrícola fluminense (e regional) precisa se voltar para projetos ligados à alimentação para atendimento do enorme mercado consumidor desta adensada região que tende à uma metropolização com características específicas.

Poderiam ser projetos de menor porte e articulados por grupos regionais/locais de produtores, com apoio técnico e planejamento de logística para reduzir custos de comercialização e garantias de mercado. Mais um bom debate!

quinta-feira, junho 01, 2017

Interesses e consequências do desmonte na área de pessoal da Petrobras

Da mesma forma que se assiste o fatiamento dos ativos da Petrobras, para entrega ao mercado, se identifica também, o desmonte das estruturas organizacionais e dos negócios, antes integrados e verticalizados no sistema Petrobras

O desmonte da área de logística (dutos e transportes), de negócios e refino (com venda de óleo cru e importação de produtos refinados - veja postagem aqui) entre outros, pode ser também observado, em detalhes, sobre uma parte estratégica de uma empresa de petróleo: a área de pessoal. O desmonte na área de pessoal atinge todas as áreas do sistema Petrobras.

No último dia 15 de maio já comentávamos sobre este assinto e postagem aqui no blog. Hoje, porém vamos ampliar um pouco mais esta análise.

Tanto as IOCs (corporações internacionais de óleo) quanto as NOCs (empresas estatais de óleo), ou ainda as chamadas para-petroleiras (empresas de tecnologia, equipamentos e serviços que atuam no setor de óleo e gás) sabem, o quanto é estratégico, a montagem (seleção, contratação, treinamento e retenção) de um quadro de pessoal qualificado e especializado no setor. Trabalho de décadas.

Mesmo que se tenha capital (e muito) nada vai adiante sem este pessoal qualificado que não se consegue montar da noite para o dia.

Na realidade das corporações do setor de petróleo é prática corriqueira, as estatais (NOCs) formarem, abrirem espaços para experiência e know-how aos seus melhores técnicos e gerentes e, depois, verem as gigantes IOCs tomarem – a dedo, um a um – os quadros mais qualificados e dos setores estratégicos desta companhia.

É neste contexto que a nova direção da Petrobras (Temer/Parente) talvez esteja fazendo o maior - e mais definitivo - desmonte na empresa, logo, no exato momento, em que o país passa a participar da geopolítica do petróleo - de forma ativa - após a extraordinária descoberta e exploração – com enorme sucesso - das reservas do pré-sal.

O desmonte em algumas das outras áreas pode até ser revista, numa nova direção de governo da Nação. Na área de pessoal este recrutamento e retorno dificilmente poderão ser recompostos, pois as pessoas qualificadas não o são apenas, individualmente, mas em suas equipes.

Nesta linha de raciocínio, não é difícil intuir que, talvez, o pré-sal não fosse descoberto sem a equipe de geólogos, físicos e especialistas em tecnologia e equipamentos de sondagens, perfuração, análises e interpretações dos potenciais poços e campos de petróleo que atuavam em conjunção e articulação.

Este mesmo movimento se viu acontecer na área de produção, onde hoje se conseguiu viabilizar nas reservas do pré-sal uma produtividade antes sequer imaginada, nem pelos mais otimistas.

É certo que a atual fase de colapso do ciclo do petróleo (que prefiro chamar com características em diferentes dimensões como ciclo petro-econômico) exige ajustes e contenções de dinheiro e pessoal. Porém, isto sempre deve ser feito de olho na nova fase de expansão do ciclo que virá a seguir, mas esta visão minimamente prospectiva (sem os chavões do marketing) sequer é considerada.

O que se está vendo na área de pessoal é um desmonte criminoso. Basta observar, mesmo que por alto, o que vem sendo desenvolvido sobre contenção de custos em todas as corporações privadas do setor de petróleo no mundo (as IOCs como Esso, Shell, Chevron e outras).

Em nenhuma – repito, nenhuma – o desmonte é desta ordem e de forma tão ardilosa, sob o falso argumento das consequências dos desvios e da preparação do ambiente que entrega o “filé” do setor ao mercado.

A redução total de pessoal que atua no sistema Petrobras nos últimos anos foi, de praticamente metade. Saiu (em números aproximados) de 370 mil trabalhadores para 185 mil petroleiros.

O corte que foi e continua sendo feito é indiscriminado. Milhares de técnicos, que mesmo não sendo do quadro direto da empresa, era de gente que há muito tempo atuava e tinha se especializado em operação, gestão e apoio às atividades petrolíferas.

No quadro dos empregados diretos da empresa, o corte já atinge 13 mil e a previsão é de 17 mil. Este descarte de mão de obra altamente qualificada fez com que o total de empregados diretos da empresa tivesse sido reduzido - no final de 2016 - a 68,8 mil petroleiros. Dois PIDVs foram responsáveis por este “empurrão” para fora da empresa de gente muito competente.

As petroleiras privadas que atuam no Brasil - e que hoje produzem pouco mais de 6% do petróleo nacional - agradecem, por esta graciosa colaboração. Assim, elas podem com menos custos e maior facilidade atingir a meta de, em 2020-2022, estarem produzindo cerca de 40% de toda a produção nacional de óleo e gás. E assim, discursarem sobre modernidade e eficiência.

Aliás, este é um dos motivos que se deve compreender a lógica deste desmonte de pessoal no sistema Petrobras. Não se deve seguir a linha de observar, como pretende o mercado, a lógica financeira da dívida da estatal, ou da necessidade de redução de custos.

Deve-se recordar e deixar registrado que a produtividade total da empresa, antes desta expulsão generalizada destes técnicos, sempre esteve bem acima da média mundial, com enorme reconhecimento e a conquista de vários prêmios internacionais.

Para fechar vale ainda chamar a atenção para os riscos de segurança sobre as instalações e sobre os petroleiros.

Foi num contexto similar a este de enxugamento, quando da tentativa de privatização da estatal que a gestão do FHC, na década de 90, com o Reitschul na presidência da Petrobras, produziu em 2000-2001, vários acidentes. Entre eles os vazamentos de óleo na Baía da Guanabara e no rio Iguaçu no Paraná; e o mais grave com a explosão e afundamento da plataforma P-36, matando 11 petroleiros na Bacia de Campos.

O contexto atual é semelhante. Dentro desta mesma visão administrativa-tecnocrática de quem não conhece o dia-a-dia da exploração offshore e desdenha a complexidade do desenvolvimento dos processos com petróleo e gás.

Um comunicado interno da direção da Petrobras aos petroleiros da empresa enviado esta semana atesta esta visão. Ele fala da “revisão organizacional das UOs (Unidades de Operação) do setor de E&P (Exploração e Produção) e também da área de RGN (Refino e Gás Natural)”.

O texto fala em “revisão do modelo de governança e gestão organizacional”, mas deixa claro o foco na economicidade, eficiência e segurança”. Sim, segurança em último lugar dentro desta trilogia. Lembrando que se trata de um setor em que se trabalha em ambientes, processos, equipamento e produtos que oferecem mesmo com muita gestão, enormes riscos.

O comunicado da direção da empresa detalha ainda, de forma mais clara, outras indicações de seus principais objetivos: “rever conceito atual das UOs para maximizar a geração de valor”; “capturar ganhos financeiros com implementação de estruturas mais enxutas”.

O documento estipula o prazo de agosto para esta revisão com apresentação de diagnóstico/consolidação de mudanças nas áreas de E&P e RGN, com implementação a partir de outubro, após avaliações das diretorias executivas e Conselho de Administração (CA).

É neste contexto, ambiente e direção de enxugar tudo que os riscos se ampliam. Os ajustes e as necessidade de enfrentar pontos críticos e melhoria da performance, deve fazer parte de uma boa administração, e nunca de uma direção como esta.

Comunicados como estes fazem com que as gerências inferiores queiram ser mais realistas que o rei, para mostrar resultados e assim se apresentar como maior performance num ambiente estimulado de ascensão funcional nas carreiras.

Tudo isto cria o “molho perfeito” para ampliação dos riscos que a seguir tende a gerar efeito inverso, com perda de produtividade, planos de contingência, perda de prestígio institucional, etc.

O quadro geral - de certa forma resumido apresentado aqui - mostra a natureza destrutiva e criminosa que o enxugamento generalizado de pessoas representa para o Sistema Petrobras e para o Brasil. Certamente, este é o maior dos desmontes que Parente/Temer se propuseram a fazer no sistema Petrobras por aqueles do mercado que o sustentam.

A nação, trabalhadores, pesquisadores e a população em geral seguirão observando todos estes movimentos, como forma de ampliar as resistências e a reconstrução de um país para todos.