sexta-feira, maio 31, 2019

A potência e a capilaridade da manifestação 30M dos estudantes podem ajudar a reconstruir o Brasil

A energia dos jovens é contagiante e com indicativos de perenidade.

Aliás, essa é uma outra confrontação com o desgoverno que ainda está sendo pouco percebida.

O movimento alicerçado pelos estudantes e sustentado na "Defesa da Educação", se contrapõe a uma ideia de passado, enquanto os jovens reivindicam o futuro.

Manifestação 30M em São Paulo 
Há quase um embate geracional em curso, para além da disputa entre classes sociais e governo e oposição no geral.

As diferenças de idade na média é flagrante e sintomática as perspectivas de um e outro polo dessa disputa que é, fundamentalmente, de natureza política.

E sendo de natureza política o que se contrapõe é a capacidade de um e outro lado buscar aliados às suas causas.

Nessa linha, é natural que a causa da Educação já esteja sendo agregada e apoiada por trabalhadores, pelos pais e brevemente por boa parte da periferia que é majoritária em termos de densidade e força para as mudanças.

30M em Campos dos Goytacazes. Foto Wellington Rangel
Aliás, este poderia ser o tom das lideranças estudantis de se aproximarem ainda mais dessa massa que tem peso não apenas de devolver as verbas e os orçamentos para a Educação, mas revirar o desgoverno dos ricos e banqueiros do mercado, para um governo de futuro como os jovens.
Essa aliança poderá reconstruir a Nação brasileira.

Tem um outro fator bem identificado pelo professor Nilson Lage, a interiorização desse movimento dos estudantes.

Essa capilaridade da reação está sendo puxada pelos campi dos Institutos Federais (IFs) e Universidades Federais (UFs). Isso tem uma potência enorme, mas que custa a ser percebida pelo centro metropolitano, especialmente do Sudeste.


As pessoas do interior criaram esperanças, expectativas e mesmo já viram resultados de ascensão social pela educação dos seus filhos e se dispõem a lutar por estas instituições. Isso é relativamente novo no Brasil complexo de hoje.

A força desse movimento não poderá ser medida por número de cidades e manifestantes, apenas. É mais que isso, na medida que a sociedade é única.

Assim, eu repito, esse movimento e suas alianças poderão reconstruir a Nação brasileira.

Sigamos em frente!

quarta-feira, maio 29, 2019

Breve história natural e social do rio Ururaí (I), por Arthur Soffiati

O professor e eco-historiador Aristides Arthur Soffiati, nos brinda hoje, com a história de um importante bairro (freguesia, como chamam os portugueses) do município de Campos dos Goytacazes. Ururaí fica localizado no extremo sul da área urbana de Campos sendo hoje um bairro densamente ocupado. 

Soffiati viajou no tempo e no espaço para trazer alguns apontamentos sobre as origens desse simpático bairro inclusive a melhor hipótese sobre a gênese de seu nome. Um bairro cujos moradores-trabalhadores no passado alimentaram a usina de açúcar com o seu nome e hoje, ajudam a manter uma boa parte das atividades de serviços da cidade. 


Breve história natural e social do rio Ururaí (I)
Arthur Soffiati
            Entre 10 e 5 mil anos passados, o mar avançou na área continental correspondente à planície dos Goytacazes e chegou à lagoa de Cima. O antigo continente foi erodido e deu lugar a uma imensa laguna, que mantinha contatos com o mar em vários pontos. A partir de 5 mil anos, o mar começou a recuar. Aos poucos, o rio Paraíba do Sul e outros pequenos rios transportaram sedimentos da zona serra e dos tabuleiros. Esses sedimentos foram depositados na área da antiga laguna, formando uma imensa planície aluvial. A constituição de uma grande restinga pelo mar e pelo rio Paraíba do Sul completou a planície. Argila e areia formaram a maior planície do futuro Estado do Rio de Janeiro, uma planície fluviomarinha.



1 - Em 5.100, o avanço do mar sobre o continente chega perto da lagoa de cima. A futura baixada dos Goytacazes já foi mar. Chegando ao máximo, o mar começa a recuar e um novo continente passa a ser construído com material trazido da zona serrana pelo rio Paraíba do Sul e outros menores

            O rio Ururaí associa-se ao processo de formação da planície. Ela nasceu com o recuou do mar e a formação da baixada. Com origem há cinco mil anos antes do presente, é um rio novo. Ele se formou como escoadouro das águas da lagoa de Cima, que, por sua vez, é formada pelos rios Imbé e Urubu. O Imbé coleta águas de pequenos rios que descem da Serra do Mar, que funciona como divisor de águas: pelo rio Imbé, as águas da vertente direita chegam ao mar. Pelo rio Paraíba do Sul, as águas da vertente esquerda alcançam o oceano.

            Todo rio busca a parte mais baixa do terreno. O Ururaí não é diferente. Ele coleta as águas da lagoa de Cima e recebia, como afluente pela margem esquerda, o rio Preto. A tendência de qualquer rio é chegar ao mar, mas ele pode encontrar no caminho outro rio ou lagoa. Foi o que aconteceu com o Ururaí. Ele encontrou a lagoa Feia no caminho, também formada pela construção da grande planície. Esta, por sua vez, desaguava por vários pequenos braços que formaram o rio Iguaçu (hoje muito mutilado), que alcançou o mar onde hoje fica a barra da lagoa do Açu.

            Assim, podemos estabelecer uma continuidade complexa da nascente do rio Imbé à foz do rio Iguaçu: o Imbé corre ao pé direito da Serra do Mar até a lagoa de Cima, que também recebe águas do rio Urubu; deságua no rio Ururaí, que recebe a contribuição do rio Preto; corre entre a zona serrana e a planície aluvial formando algumas lagoas, das quais as mais importantes são as lagoas de Pau Funcho. Alcança a lagoa Feia, que forma o rio Iguaçu por vários distributários. Este, por sua vez, corria até o mar.

Cabe aqui uma palavra sobre o rio Preto. Seu curso o conduz ao rio Paraíba do Sul, no qual, outrora, desaguava. Com as cheias deste, porém, seu curso era obstruído e desviava-se para o rio Ururaí, do qual atualmente é tributário, mantendo, porém, uma foz facultativa fixada por ação do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), que pode funcionar também como tomada d’água. Manoel Martins do Couto Reis diz que ele se bifurca, fazendo barra no Paraíba do Sul e lançando um braço limitado para o Ururaí. Manoel Aires de Casal entende-o como uma grande curva do Ururaí que se aproxima do Paraíba do Sul, podendo comunicar-se com ele através de um canal. A tendência natural das cheias e o rio Preto demonstram a íntima ligação entre as bacias do Paraíba do Sul e da lagoa Feia.



2 - O novo continente quase formado em torno de 2500 anos antes do presente. Destaque para os rios Preto, Ururaí, Imbé, lagoa de Cima e lagoa Feia

            Por correr o rio Ururaí entre dois terrenos distintos e de idades muito distantes uma da outra, naturalmente suas formações vegetais nativas também são diferentes. Pela margem direita, a vegetação, originalmente, era formada pela Mata Atlântica na sua feição ombrófila densa. Vale dizer, a Mata Atlântica na sua fisionomia mais conhecida: úmida, complexa, de grande biodiversidade. Ela cobria as margens da lagoa de Cima e dos rios Imbé e Urubu, apresentando feição contínua até elevados pontos da Serra do Mar. Já pela margem esquerda do Ururaí, alastrava-se um tipo de vegetação que Henrique Veloso denomina de pioneira de influência fluvial, com duas formas: permanentemente alagada ou alagável em períodos de cheias. A primeira é a vegetação típica de lagoas rasas. A segunda permite o crescimento de algumas plantas arbustivas e arbóreas.



3- Os dois tipos de vegetação de influência fluvial: ao fundo, mata inundável; na frente, vegetação aquática.

            A primeira informação sobre o rio Ururaí de que se tem notícia está no “Roteiro dos Sete Capitães”. Na segunda viagem que os fidalgos empreenderam à região, em 1633, a viagem de batismo dos acidentes geográficos, o capitão Antonio Pinto proclamou a seus colegas: “Já temos dado apelido a outros lugares, é necessário ir dando a outros também, pois estamos em um país inculto, que está em uma escuridade, é necessário que nós lhe demos a luz da aurora, para os nossos vindouros e para a sua civilização.”. Seus companheiros concordaram prontamente. Assim é que, topando com um rio que formava um pântano cercado da palmeira raraí, decidiram emprestar este nome ao curso d’água. Por sua posição, tudo leva a crer que se trata mesmo do rio Ururaí. Noutra passagem do documento, escreve-se que “... seguiu a campina e atravessou alguns lagos, direito a um alto que lhe demos o apelido do “Retiro”, por estar no centro desse alto não muito longe de um riacho d’água que fica ao sudoeste à beira de um mato, vai em direitura à grande Lagoa-feia; desta beira à sua margem da parte norte, por não podermos atravessar a grande Lagoa-feia, até apanhar a barra do rio dos Macacos, vizinho do Ururaí.” O rio aparece de repente, sem ter sido nomeado antes. Ururaí, em tupi, significa água de jacaré. A espécie de jacaré que ainda ocorre na região é o ururau. Água em tupi é í. Daí Ururaí. Quanto ao rio dos Macacos, deve ele corresponder ao hoje denominado rio Macacuá, intimamente ligado ao Ururaí e com matas alagáveis que deveriam ser o abrigo de macacos, pois macacuá significa em tupi mato de macaco. 
            Manoel Martins do Couto Reis, em 1785, mais de um século depois dos Sete Capitães, explica que o rio Ururaí esgota as águas da lagoa de Cima para a lagoa Feia, descrevendo um trajeto com grandes meandros, o que tornava a navegação enfadonha. O capitão cartógrafo ainda faz um registro importante sobre o rio: “Ele dá excelente transportação às madeiras que descem do sertão em canoas ou balsas. Seria de muita utilidade se nas maiores voltas se fizessem cortaduras para encurtar e facilitar a navegação.” Pela informação do autor, o desmatamento dos tabuleiros e da zona serrana baixa já estava em curso no final do século XVIII. Sua sugestão de retilinizar o rio será acatada pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), que, no século XX, substitui os meandros do rio, entre a localidade de Ururaí e a lagoa Feia, por linhas retas. Cada sistema econômico lida coma natureza de forma distinta. O sistema capitalista é o mais radical de todos. Podemos dizer, assim, que o rio Ururaí já estava sendo ocidentalizado pelo capitalismo no século XVIII, pelo menos quanto à navegação e ao desmatamento.





















4 - O rio Ururaí entre a lagoa de Cima e a localidade de Ururaí. Como nesse trecho não houve canalização, o rio apresenta meandros acentuados

Manoel Aires de Casal observou que o Ururaí cumpria o papel de desaguadouro da lagoa de Cima. José Carneiro da Silva ressaltou que o rio Ururaí nasce na lagoa de Cima e deságua na lagoa Feia, enquanto José de Souza Azevedo Pizarro e Araujo limita-se a dizer que ele fermenta na lagoa de Cima. Henrique Luiz de Niemeyer Bellegarde também o menciona rapidamente, explicando que “deriva-se da extremidade oriental da Lagoa de Cima, e vem por junto da Serra do Itaoca, fazer barra na Lagoa Feia, com 6 léguas de curso. Antonio Muniz de Souza encantou-se com a lagoa de Cima. Já existiam povoadores nela, mas ainda podiam ser vistas densas florestas habitadas por antas e tamanduás-bandeira. Sobre o rio Ururaí, contudo, ele se limita a repetir o que outros autores escreveram antes dele. Por sua vez, José Alexandre Teixeira Mello repete Bellegarde apenas substituindo as 6 léguas por 52 quilômetros.

Referências

BELLEGARDE, Henrique Luiz de Niemeyer. Relatório da 4ª seção de Obras Públicas da Província do Rio de Janeiro apresentado à respectiva diretoria em agosto de 1837. Rio de Janeiro: Imprensa Americana de I.F. da Costa, 1837.
CASAL, Manuel Aires de. Corografia brasílica. São Paulo: Edusp, 1976.
COUTO REIS, Manoel Martins do.  Manuscritos de Manoel Martins do Couto Reis – 1785: Descrição geográfica, política e cronográfica do Distrito dos Campos Goitacazes. Campos dos Goytacazes: Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima; Rio de Janeiro: Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, 2011.
GABRIEL, Adelmo Henrique Daumas e LUZ, Margareth da (orgs.); FREITAS, Carlos Roberto B.; SANTOS, Fabiano Vilaça dos; KNAUS, Paulo; SOFFIATI, Arthur (notas explicativas) e GOMES, Marcelo Abreu. Roteiro dos Sete Capitães. Macaé: Funemac Livros, 2012.
MELLO, José Alexandre Teixeira de. Campos dos Goytacazes em 1881. Rio de Janeiro: Laemmert., 1886.
PIZARRO E ARAUJO, José de Souza Azevedo. Memórias históricas do Rio de Janeiro, 3º vol., 2ª ed. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945.
SILVA, José Carneiro da. Memória topográfica e histórica sobre os Campos dos Goitacases (1ª ed.: 1819). Rio de Janeiro: Leuzinger, 1907.
SOUZA, Antonio Muniz de. Viagens e observações de um brasileiro, 3ª ed.  Salvador: Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, 2000.
VELOSO, Henrique Pimenta; RANGEL FILHO, Antonio Lourenço Rosa; e LIMA, Jorge Carlos Alves. Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1991.

segunda-feira, maio 27, 2019

Fusão da Fiat com a Renault é mais um indicativo do avanço da oligopolização das montadoras e da corrida para o carro elétrico

O anúncio feito hoje a nível mundial sobre a fusão entre a italiana Fiat e a francesa Renault é mais um forte indicativo da ampliação da oligopolização entre as montadoras de automóveis.

O fato tem origem na produtividade das montadoras asiáticas que reorganiza produção e controle de mercados na Europa e América Latina, já que essa fusão Fiat-Renault passará a ser a maior montadora no Brasil.

A relação da Renault com as japonesas Nissan e Mitsubishi pode ampliar o porte do oligopólio que surge nessa expressiva reestruturação.

O amigo de pesquisas no campo da geografia econômica, professor e pesquisador da UFF-Campos, Leandro Bruno lembra bem que "com os carros elétricos e híbridos e a tendência de compartilhamento, marcada pela entrada dos gigantes Uber e Google, estamos passando por rearranjo do oligopólio global".

Eu acrescento o fato de que a Europa já compreendeu essas ameaças. No caso das montadoras a alemã Volkswagem, com o episódio da falsificação das emissões conhecida com "dieselgate" retratado no documentário "Dirty Money" (Na rota do dinheiro sujo), mas também tenta correr atrás nas pesquisas e produção de carros híbridos e elétricos.

Todo este movimento trará ainda mais e profundas mudanças nos circuitos econômicos e espaciais. Transformações territoriais decorrentes da intensificação - um século depois - da eletrificação que já tratei aqui em algumas postagens. No dia 17 de março 2019 com o texto A “era pós-petróleo”, a “reeletrificação”, os ciclos históricos e o potencial do Brasil no sistema-mundo; e, no dia 7 de maio de 2019 com uma síntese do texto que apresentei no V Simpósio sobre história de eletrificação: "Eletricidade, Cidades e Quotidianos" com o título Geopolítica da "reeletrificação" e as transformações no território.

Como se trata de um setor da economia que é intensivo em capital, isto também está produzindo (como esse caso mostra) alterações sobre as decisões de investimentos em capital fixo em outra fração do capital, assunto que pretendo analisar e aprofundar mais adiante também relacionado a esse setor.

É certo que se a fusão for confirmada, o processo de reestruturação das duas montadoras no Brasil terá significativos efeitos sobre os empregos e as regiões onde as duas empresas possuem bases operacionais, especialmente nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco.

sexta-feira, maio 24, 2019

As estratégias da China diante da guerra comercial de Trump, os efeitos na geopolítica e as consequências para o Brasil atual, assumidamente submisso e dependente

A guerra comercial EUA x China embaraça o comércio global, mas explode outras questões regionais de países que possuem alguma importância, mesmo que de forma especial nas exportações de commodities.

Por enquanto, de forma bem resumida, é possível intuir que diante das pressões da guerra comercial instituída por Trump, a China escolheu alguns caminhos para seguir e que já estão sendo trilhados.

Xi Jiping sabe que as políticas e pressões dos EUA envolvem sanções comerciais, bloqueios econômicos e tarifaços. O tipo de pressão depende se o contendor é o Irã, Rússia ou a China. Assim, os chineses entendem que seria preciso fugir de algumas dependências de outras regiões do mundo que são hoje geopoliticamente controladas pelos EUA.

Assim, com o plano “Made in China 2025” decidiu aumentar a parcela de componentes e matérias-primas que hoje são em boa parte importadas para o parque industrial chinês. A decisão é voltar a produzi-las internamente na própria China. Quantitativamente é um plano ousado o de elevar esse percentual para 40% em 2020 e até 70% em 2025.

Embora, uma decisão nessa proporção não seja simples de implementar, ela produzirá enorme impactos sobre as economias emergentes, incluindo o Brasil com enormes relações com as exportações de minério de ferro e produtos agropecuários.

A China há algum tempo cuida de manter estrategicamente, alguns minerais em suas reservas, optando pela importação, especialmente, após a redução dos preços globais desde o final de 2014.

Essa decisão altera as relações econômicas não apenas com as nações chamadas de emergentes e fornecedoras tradicionais, mas todo o comércio global, na medida em que a compra de menos matérias primas (commodities) de algumas nações tendem a reduzir as compras que estas fazem de produtos chineses.

As consequências desta decisão mexe na reestruturação produtiva global que vem há pelo menos duas décadas favorecendo a lógica das cadeias globais não apenas de suprimentos, mas também de produção com etapas espalhadas em pontos (espaços) diferentes do mundo.

Outra direção tomada pela China que carece de maiores investigações é a decisão de ao invés de importar esses insumos para sua produção, passar a produzir nas próprias nações que as extraem (produzem), desde que essas possuam grandes mercados, como é o caso do Brasil.

A ampliação desses mercados fogem do controle direto dos tarifaços e sanções dos EUA evitando as pressões direta contra a China, que assim passa a ter condições de negociar também com outras nações, executando também triangulações comerciais, com produção em bases produtivas nesses outros países, onde terá apenas controle sobre parte das corporações.

Neste tipo de ação há vários projetos em andamentos e em negociação entre bancos, fundos e corporações chineses com o Brasil. Há interesses e negócios ligados à energia, alimentos e logística que possam se relacionar ao grande projeto geopolítico chinês que é a Rota da Seda. Nesse linha há claramente regiões no Brasil que se tornaram mais ou menos estratégicas para essa integração além-mar.

Porém, a China sabe que isso não impedirá uma redução do comércio global e nem evitará uma eventual decisão americana - se o processo de pressões comerciais fugir ao controle -, a favor de um enfrentamento e uma disputa militar mais “hard” (menos soft) na luta pela manutenção de sua hegemonia ameaçada.

Uma análise mesmo breve desse quadro mostra como o Brasil e a América Latina são chaves num embate desse tipo com características globais.

No caso do Brasil, o xadrez é mais complexo, porque os EUA não tem como ajudar o Brasil a sair de sua crise econômica. Aliás, não fez isso nesses três anos após golpe e aproximação submissa do país aos EUA, numa assunção clara de dependência e de condição subimperialista.

De outro lado, a China tem várias propostas de acordos entre que interessaria ao Brasil com característica complementar à chinesa, sem exigir submissão e com propostas pragmáticas e de interesses que poderiam ser negociados na linha da ampliação do valor agregado de nossa produção e ainda no setor de tecnologia.

Para circular nesse confuso cenário e disputas comerciais, políticas e geopolíticas, o Brasil precisaria ter maior capacidade de intervir entre um lado e outro, com propostas e interesses que poderiam ajudar a arbitrar soluções e negociações.

Porém, ao contrário disso, o atual governo (desgoverno) do Brasil, vem optando por ampliar a dependência não apenas política e ideológica, mas também comercial, apesar de nada receber em troca, o que reforça na prática a condição de submissão.

O assunto merece ser melhor estudado e acompanhado, porque a geopolítica e a disputa por hegemonia estão se ampliando de forma colossal, na mesma proporção em que o controle financeiro sobre o capitalismo contemporâneo é cada vez maior.

quinta-feira, maio 23, 2019

O Nordeste e o Norte podem salvar o Brasil!

Observem bem a articulação que nasceu dos governadores a partir do Nordeste.

É um acordo surgido a partir da crise de violência na região, que serviu de pressão para o ministro da Justiça ter que se curvar, mas que avançou para um consórcio - melhor estruturado e já aprovados em várias assembleias legislativas -, a partir das demandas de segurança e que avança para outros setores e outros estados, além do Nordeste.

O caso da pressão dos 14 estados contra o armamento geral da população é mais uma ação emblemática disso que estou sustentando.

É uma institucionalidade que vai para além de pleitos regionais e passou a ter peso político em negociações, pós -eleição e para além do conhecido fisiologismo da região, em relação ao poder central.

Eu tenho dito que para além das afinidades políticas, o Nordeste e o Norte podem salvar o nosso país.

Ouvindo o amigo Edilson Pereira Júnior do Ceará, eu tive ainda mais convicção para sustentar a interpretação de que o Norte e o Nordeste, ao contrário do Sudeste e do Sul, perceberam na prática, os impactos positivos de políticas redistributivas, chamadas também de keynesianas dos governos anteriores de centro-esquerda.

Até boa parte da elite econômica destas regiões se movimentou de forma diferente daqueles de outras regiões, percebendo de forma mais clara, as melhores saídas para o nosso Brasil, desde as conturbadas eleições de 2018.

Esse movimento institucional de governadores é inédito e segue sendo muito bem articulado, de forma especial pelos governadores do Maranhão, Bahia e Ceará, mas também possui em todos os demais, uma avaliação bem mais clara dos interesses comuns dessa região.

É evidente que o poder central tenta minar essa unidade e articulação, mas não tem tido êxito, porque os governadores até aqui têm tido posições claras e um interesse em negociações mais macro e não micro-localizadas ou setoriais. 

É neste sentido que volto a afirmar que o Nordeste e Norte podem salvar o Brasil.

A mídia comercial sulista e que pensa o Brasil a partir do seu umbigo, não tem olhos para observar essa realidade e os movimentos decorrentes dele. 

Por isso, insisto observem melhor e mais profundamente a sua organização, suas articulações, assim como o poder institucional que está sendo estruturado num momento em que do outro lado, o que se vê é desmonte de várias formas e diferentes setores e regiões.

terça-feira, maio 21, 2019

Maricá segue liderando receitas dos royalties no ERJ em maio

Com dados da Agência nacional de Petróleo (ANP) e tabulação do Wellington Abreu, superintendente de Petróleo, Gás e Tecnologia da PMSJB, abaixo segue as quotas dos royalties do petróleo do mês de maio, que serão depositadas amanhã nas contas das prefeituras fluminenses.

















A liderança nas receitas segue sendo do município de Maricá que receberá R$ 52,2 milhões. Em segundo vem Macaé com receita de R$ 48,5 milhões, confirmando a mudança espacial dos municípios petrorrentistas fluminenses que lidera agora estas receitas. Em terceiro no ranking fica o município de Niterói com R$ 43 milhões.

Campos dos Goytacazes agora é apenas a quarta maior receita, se computado apenas as quotas mensais e não as participações especiais (PE) que são pagas trimestralmente, por conta da alta produção nos maiores campos de petróleo. Na quota de maio, Campos dos Goytacazes terá direito de recebe amanhã o valor de R$ 31,7 milhões.

Em relação ao mês anterior de abril, as quotas que serão recebidas amanhã por esses municípios são na média entre 14% e 22% maiores, por conta do aumento do valor do barril de petróleo e também da cotação do dólar que baliza a conta sobre os valores dos royalties paga aos municípios, estados e à União.

"O preço da reconstrução", por Vitor Menezes!

O professor e jornalista Vitor Menezes publicou há pouco em seu perfil no FB, um texto crítico e de reflexão, sobre o desgoverno Bolsonaro, que merece ser lido e divulgado para se compreender o presente e se pensar em saídas e formas de reconstrução da nossa atacada Nação:


O preço da reconstrução

Já pensaram quanto o estado brasileiro vai precisar gastar para desfazer as bobagens desse governo?

1 - Será necessário investir em um descomunal programa de desarmamento para convencer os cidadãos de bem a devolverem os seus fuzis, após o crescimento alarmante das mortes por armas de fogo.

2 - Será necessário investir pesado em educação superior e tecnológica para reconstruir o que vai se deteriorar nos próximos anos.

3 - Será necessário investir em programas sociais ainda mais robustos do que os existentes para dar conta dos desvalidos da previdência e do aumento da miséria.

4 - Será necessário investir nas polícias e demais forças de segurança para que se reeduquem para uma atuação cidadã, após anos de extermínio de negros pobres.

5 - Será necessário investir pesado para recompor a base industrial do setor petróleo, que seguirá em processo de desmontagem.

6 - Será necessário investir em política externa de alto nível para recuperar a imagem internacional do Brasil.

7 - Será necessário investir milhões e milhões para recuperar áreas desmatadas pelo afrouxamento das regras de preservação ambiental.

8 - Será necessário investir em saúde pública para recuperar o SUS e combater os efeitos do aumento do uso de agrotóxicos no alimento.

9 - Será necessário investir em desenvolvimento local e regional para combater o aumento do desemprego.

10 - Será necessário investir em educação básica para formar cidadãos que não permitam, nunca mais, que o País caia em desgraça semelhante.

segunda-feira, maio 20, 2019

Brasil diante de um trevo: mais crise e caos ou busca uma saída. O mercado está espantado, mas quer esperar, porém Bolsonaro precipita um desfecho

Dólar segue em alta. 

Previsão do PIB feita pelo Banco Central cai ainda mais.

Três anos após o golpe, o quadro da economia só piora, a despeito dos argumentos que era só tirar a Dilma.

É fato que desde 2014, e mais depois de 2015, já com a ameaça de anulação das eleições e do golpe, “nenhum setor produtivo conseguiu retornar aos níveis registrados antes da crise”. Nesses cinco anos a economia foi sendo ainda mais atolada em meio à ideias ultraliberais que se imaginavam salvadoras da pátria, mas que só agravam a economia com essa fixação permanente nos ajustes fiscais.

Matéria do Estadão relata e detalha que atividades como a construção civil encontra-se 27% abaixo do registrado em 2014 e a indústria está 16,7% aquém do desempenho no mesmo período. No setor de varejo a queda é 5,8% e na área de serviços o desempenho é 11,7% inferior. 

Na reportagem, o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, afirma que "há uma diversidade de diagnósticos. Quando se tem isso, é porque ninguém está entendendo direito o que está acontecendo – o que é raro de se ver". "Havia a ideia de que a mudança do ciclo político (com a chegada de Michel Temer à Presidência, em 2016) daria um choque de confiança e melhoraria a situação. Mas houve uma frustração, porque a ociosidade era tão grande que mesmo os mais otimistas não investiram". 

O mercado e o setor financeiros não têm solução para o imbróglio que ajudou a montar. 

Aguardam ainda um desfecho que lhes interesse no projeto para previdência e sua capitalização, mas já buscam alternativas.

Bolsonaro precipita o desfecho quando, ele próprio resolve atirar contra, simultaneamente, a política, o Legislativo e o Judiciário com a convocação da manifestação do próximo domingo.

Não há governo.

Ou teremos crise mais intensa (com risco de caos completo) ou uma saída mais ou menos acordada com a sociedade.

domingo, maio 19, 2019

ANP cria ferramenta de estimativa de receita de royalties do petróleo para estados e municípios

Não é possível avaliar a qualidade da estimativa que as simulações feitas no portal da Agência Nacional de Petróleo (ANP) para as receitas dos royalties do petróleo para municípios e estados brasileiros.

É uma variável que depende do valor do barril de petróleo e da cotação do dólar, além da produção nos campos e poços, onde ainda é necessário ter em conta as paradas de manutenção das plataformas que fazem a extração do petróleo.

De toda a sorte é uma ferramenta a ser utilizada pelas gestões públicas e por pesquisadores. A ferramenta trabalha com um horizonte de 5 anos, portanto faz avaliações de receitas do ano 2019 até 2024.

Num primeiro momento, se observa que a estimativa são apenas para as quotas dos royalties do petróleo pagas mensalmente, não incluindo as previsões sobre as participações especiais, pela grande produção de alguns campos de petróleo e que são pagas trimestralmente.

Segundo a ANP as estimativas são realizadas a partir com as variáveis:

1 - Volumes de produção dos poços e campos declarados pelas empresas, preços de referência do petróleo e do gás natural (U.S. Energy Information Administration – EIA);

2- Taxas de câmbio (Sistema Expectativas de Mercado – Banco Central do Brasil);

3 - Alíquotas de royalties previstas nos contratos de exploração e produção de petróleo e gás, e decisões judiciais.

A ANP informa no seu portal que "em função das incertezas inerentes a estas variáveis, não há qualquer garantia de efetivação das estimativas ao longo do período simulado". As estimativas podem ser feitas neste link do portal da ANP: http://www.anp.gov.br/royalties-e-outras-participacoes/estimativa-royalties, conforme imagem ao lado.

PS.: Atualizado às 13:29: Para acrescentar comentário de que estas previsões de receitas não incluem os valores das participações especais (PE).

sábado, maio 18, 2019

A explosividade da política de preços dos combustíveis: a quem interessa?

Esta política de internacionalização dos preços dos combustíveis implementada por Temer e Bolsonaro é explosiva por vários fatores.

Hoje, são enorme os riscos do cenário que envolve a geopolítica da energia diante dos conflitos iminentes que podem levar o barril do petróleo a US$ 90. Hoje está em torno de US$ 70. 

Isto determinaria preços de diesel e gasolina 30% ainda maiores que hoje.

O caso é ainda pior na medida que reduziram a produção de combustíveis em nosso parque de refino, conforme a primeira imagem abaixo.*

Outras imagens mostram a redução da produção de diesel no Brasil. O interesse é o de preparar a venda das refinarias da Petrobras.

A terceira imagem mostra a ampliação da importação de diesel que o Brasil passou a fazer desde o golpe em 2016. 

Aumentaram assim a dependência e a relação com os preços internacionais de combustíveis, que não é compatível para um país que produz tanto petróleo como o Brasil e tem ainda uma parte ociosa considerável em seu parque de refino.

Já a quarta imagem mostra o volume expressivo de exportação de petróleo que o país está fazendo, tendo demanda de combustíveis e quase 1/4 do parque de refino nacional ocioso.

A quinta imagem mostra o aumento absurdo do preço do diesel no país.

Essa questão é explosiva.

Os caminhoneiros já sabem disso e já estão ampliando as reações.

Resta saber quem lucrará com os conflitos que explodirão.

Eu já comentei no blog e aqui nesse espaço que quando o barril de petróleo voltar a ficar acima de US$ 100 dólares o barril, como esteve no período entre 2010 e 2014 - único na história por tempo tão extenso - esta política de preços dos combustíveis e a economia política nacional explodem juntos, porque o litro do diesel passará dos R$ 5 e da gasolina dos R$ 7. 

Estão pagando para ver algo que é tão facilmente previsível.

A conferir!

PS.: Atualizado às 08:45 de 19/05/19 para registrar os créditos das imagens/gráficos ao economista Claudio da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras).





sexta-feira, maio 17, 2019

Mais debates sobre os fundos financeiros como importante ferramenta para a mobilidade do dinheiro no capitalismo contemporâneo

Estou em São Paulo participando do 6º Seminário Internacional FinGeo, sobre "Geografia, Finanças e Desenvolvimento Desigual" que começou na 4ª feira (15/05) e segue até o final da tarde hoje (17/05), no auditório Milton Santos da USP. Veja mais detalhes aqui no portal da USP e aqui no site do evento.
6º Seminário Financeirização, Geografia e Desenvolvimento Desigual.
Mesa de abertura no auditório Milton Santos - USP.

Ontem, eu tive a oportunidade de apresentar e debater com os participantes, uma comunicação parcial de minhas pesquisas sobre "O crescente papel dos fundos financeiros e sua enorme mobilidade no espaço e entre as frações do capital no capitalismo contemporâneo".

O tema tem sido objeto de vários textos e comentários nesse espaço e no meu blog e será objeto de uma publicação que será lançada no Colóquio Espaço-Economia, que será realizado na UERJ entre os dias 10 e 12 de junho.

A rede global de financeirização (bancária e não bancária - shadow banking) precisa ser melhor entendida, assim como a seu vínculo com o circuito do valor, tanto na produção material, quanto em sua dimensão fictícia (capitalização), num movimento simultâneo em que o centro é o dinheiro e tem nos fundos financeiros, um dos principais instrumentos para a sua reprodução. Suas gestoras esse vinculam umbilicalmente ao sistema bancário, quando os bancos perceberam ter nos fundos uma excelente ferramenta com capacidade de movimentação transfronteiriça (entre o global e o local) e de menor regulação.

Os fundos financeiros, em especial desde a crise de 2008, tem sido o instrumento que melhor oferece ao capital uma "hipermobilidade", num movimento e numa trajetória "helicoidal" de acumulação infindável (Harvey), em torno de um um único eixo que é o dinheiro (finanças), em novo e perigoso patamar no capitalismo contemporâneo, que segue esgarçando os limites do regime, entre ciclos e crises, envolvendo diferentes setores e consumindo a frágil democracia representativa ocidental.

terça-feira, maio 14, 2019

Quando a escravidão e as milícias se encontram no desgoverno Bolsonaro

O jornal Valor traz aqui a matéria que o desgoverno Bolsonaro anunciou a redução de 90% das normas de segurança do trabalho no Brasil.

O Brasil de Bolsonaro segue seu destino de levar o Brasil de volta para a escravidão e na direção da barbárie, porque a civilização que exige condições mínimas de trabalho, é vista também como empecilho aos ganhos desta forma, imorais.

O trabalhador é visto sempre como problema e nunca como parte do sistema.

As normas de segurança e saúde no trabalho possuem problemas, mas são a garantia mínima de defesa da saúde e da vida do trabalhador que produz a riqueza.

Tem-se aí um governo dos ricos e para os ricos que não se incomoda de dizer a quem serve. E o acinte é ainda maior porque esse anúncio veio no dia 13 de maio, data simbólica do fim da escravidão no Brasil, há 131 anos, tempo a qual o país está sendo levado.

Enquanto isso, fica-se sabendo que a negociata de Moro libera as milícias.

Milícia para controle das cidades e escravos para enriquecer os donos dos dinheiros.

Esse desmonte da nação tem limites e será de alguma forma barrado.

sábado, maio 11, 2019

Gestoras de fundos financeiros ameaçam e querem sugar até a última gota da renda do trabalho

Os bancos controlam a maioria das gestoras dos fundos financeiros e pretendem sugar até a última gota da renda do trabalho, por isso fazem ameaças. (Vide aqui matéria do Globo Online)

O BTG Pactual é atualmente, a 6ª maior gestora de fundos financeiros no Brasil, onde controla um volume de ativos de US$ 97 bilhões.

A relação dos financeiros no Brasil com os fundos globais fica clara nesta reportagem. 

Mais detalhes e análises sobre como esse instrumento do setor financeiro ganhou potência e mobilidade na última década, poderão ser vistos na publicação "A ´indústria´ dos fundos financeiros´: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo", que estará sendo lançado daqui a um mês.

terça-feira, maio 07, 2019

Geopolítica da "reeletrificação" e as transformações no território

Estou em Évora, Portugal participando do V Simpósio sobre história de eletrificação que tem o tema: "Eletricidade, Cidades e Quotidianos". Aqui apresentei a comunicação “A geopolítica da ´reeletrificação´ e as transformações territoriais”.

Apresentação no Simpósio em Évora em 6 maio de 2019.  
No evento, embora mais ligado à história, eu procurei olhar o passado com o viés da retrospectiva e de cenários e prospecções sobre hipóteses sobre o futuro.

No dia 17 de março quando ainda escrevia sobre essa comunicação para esse simpósio de Évora, eu escrevi nesse espaço o texto "A “era pós-petróleo”, a “reeletrificação”, os ciclos históricos e o potencial do Brasil no sistema-mundo" que pode ser lido aqui neste link do blog.

Assim, eu sustentei a hipótese de que um século depois se vive um processo de “neoeletrificação” onde as energias renováveis e o gás natural como fontes primárias alimentam o uso da eletricidade para o consumo industrial, pessoal, serviços e agora cada vez mais, nos transportes.

A “reeletrificação” representa um processo com continuidades e descontinuidades, em relação à aquele quando do início da eletrificação no mundo, que ajudou a constituir circuitos econômicos e produziu as aglomerações urbanas e a metropolização como conhecemos.

A neoeletrificação se dá em novas bases, onde junto da intensificação do uso da eletricidade se tem a digitalização e uma sociedade mais complexa no capitalismo contemporâneo.

O capital se ajusta e busca se reorganizar nesta nova fração, onde buscará mais acumulações em outras atividades que usam o territórios com investimentos em novas tecnologias, equipamentos e redes.

Estratégias de reprodução no capitalismo contemporâneo a partir das frações.
Elaboração do autor. Arte: Maycon Aguiar.
Novas estratégias de reprodução e acumulação no capitalismo são desenvolvidas num movimento entre as frações do capital como mostra a figura ao lado que consta do texto. Tem-se aí a junção da produção de valor e o uso de novos circuitos espaciais de produção que se movimenta entre os setores econômicos, nesse caso vinculado à energia.

A descarbonização com menor uso do petróleo será gradual e passará pelo combustível de transição, o gás natural, que hoje é transportado cada vez mais, de forma líquida (LNG), através de navios e não apenas de dutos e desemboca também na geração de eletricidades para o consumo de energia.

Até 2040, a previsão ainda é de maior produção e consumo de petróleo, que paulatinamente deixará de ser usado como combustível para o transporte que passará gradualmente para a eletricidade e o combustível fóssil passará para os petroquímicos e fertilizantes para a produção de alimentos entre outros produtos.

Ao mesmo tempo que se discute a “reeletrificação”, o mundo ainda possui 1/6 da população do planeta (1,2 bilhão de pessoas) sem acesso à eletricidade, onde se observa mais uma das contradições do capitalismo e um desenvolvimento desigual e combinado.

Enfim, um debate sobre hipóteses a respeito da gradual migração energética com a ampliação do peso da eletricidade na produção material e na transformação da vida urbana e social, quando a superação do capitalismo enquanto regime, continua sendo uma utopia a ser perseguida.

Os militares e a conjuntura política no Brasil

Os militares não se deram ao respeito que sua instituição merecia.

Agiram de forma oportunista e comprometeram a instituição que tem função de estado e não de governo.

Namoraram o fascismo e abraçaram o neoliberalismo entreguista, abandonando a ideia de um projeto de nação, em meio à globalização e à  vida numa sociedade complexa e na maioria das vezes contraditória e desigual.

O retorno à situação anterior - com ou sem autocrítica - não será fácil, se tornou não apenas possível, mas necessário.

Desconhecer essa realidade aprofundará não apenas a crise política e econômica, mas ampliará os riscos do descontrole.

A saída é a retomada da democracia e afastamento da aposta da "não política".

O Brasil precisa retomar seu caminho.

quarta-feira, maio 01, 2019

1 milhão de trabalhadores brasileiros que atuam na "economia do compartilhamento" podem ser vistos como escravos que alimentam o rentismo dos fundos financeiros

O dia do Trabalhador é simbólico para a reflexão sobre a renda do trabalho no capitalismo contemporâneo. A mídia brasileira divulgou no último dia 28 de abril que 4 milhões de trabalhadores "autônomos" atuavam no Uber, iFood e outros aplicativos gerenciados do exterior. (Veja aqui

Se um total de 4 milhões de brasileiros obtém renda a partir do trabalho nessas plataformas da chamada de "economia do compartilhamento", é possível então interpretar que "1 milhão de trabalhadores" brasileiros estão se esforçando para produzir renda para os donos dos dinheiros.

Sim, porque a cobrança pelo uso das plataformas se dá no percentual em torno de 25% do valor de toda a renda auferida com o seu trabalho. Um quarto de toda a renda apenas pelo uso das plataformas. todo o restante é bancado pelo trabalhador: carro, combustível, licenciamento, multas, manutenção, seguro, etc.). 

Se for retirado esse custo não seria demais dizer que o trabalhador chamado de autônomo estaria quase dividindo a renda do seu trabalho com os donos dessas plataformas. Nessa conta, poderíamos dizer que ao invés de 1 milhão, seriam 2 milhões dos 4 milhões de trabalhadores dessas plataformas gerando renda para os rentistas que controlam a economia do compartilhamento.  

Imaginem, é como se um 1 milhão de trabalhadores (25% de 4 milhões) fossem escravos a serviço dos donos dos dinheiros (ou do capital).

Isso é o que eu tenho interpretado c omo sendo uma "renda derivada" que vai alimentar o "rentismo" do setor financeiro e dos fundos globais.

A Uber que nasceu em 2009, em 2017 já estava presente em 450 cidades do mundo, quando já tinha sido capitalizada com US$ 70 bi dos fundos financeiros globais que agora capturam os excedentes das economias locais/nacionais.

Dessa forma, os fundos financeiros aspiram a renda originária do trabalho e movimentava as economias locais e que assim alimenta o rentismo da mercadoria dinheiro do capitalismo financeiro atual.

Portanto, ao contrário do que imagina, é algo que vai além da disputa entre taxistas e jovens sem emprego.

Outras plataformas digitais dessa economia do compartilhamento faz o mesmo, só que nesse caso se apoderando de outra renda, a do aluguel da propriedade que também alimenta o rentismo. 

Porém, a primeira é mais perniciosa porque se apropria de um quarto da renda do trabalho, enquanto a do aluguel é renda dos proprietários e da disputa com redes de hotéis também controlada em boa parte pelos fundos financeiros.

Investigar o rentismo é ir além da ideia dos juros bancários e compreender as rendas derivadas e de quem elas alimentam.

Na publicação que lançaremos em breve sobre a "indústria dos fundos financeiros" nós avançamos nessa análise e na interpretação de seus movimentos no capitalismo contemporâneo.