quinta-feira, setembro 30, 2021

Controle sobre projeto porto-gás-UTEs do Terpor em Macaé reafirma a economia do petróleo e o uso corporativo do território no NF

A matéria abaixo do Valor (28-09-2021, p. B4) trata do acordo entre a Eneva e o Grupo Vale Azul Participações (GVA), sobre acordo de exclusividade firmado até dezembro de 2022, para controle acionário e implantação do projeto licenciado do Terpor que envolve terminal portuário (granel líquido), manuseio, transporte e armazenagem de petróleo, apoio de operações offshore offshore e terminal de GNL em Macaé.

PS.: Para ver a reportagem em tamanho maior clique sobre ela.

A Eneva, é a ex-MPX que foi do empresário Eike Batista e que era dona dos projetos de térmicas (UTEs) a carvão e gás junto ao Porto do Açu. A MPX foi vendida quando da crise da holding EBX do empresário em 2013, trocou de nome e passando a se chamar Eneva.

O acordo de exclusividade assinado entre o grupo Vale Azul (EBTE) e a Eneva tem como objetivo estudar a viabilidade técnico-econômica do projeto licenciado visando sua implementação no todo ou em parte no município de Macaé, RJ, mas tem como maior interesse os negócios relacionados à matriz de gás natural. O acordo prevê que Eneva tenha 65% e Vale Azul (EBTE) fique com 35%.

A Eneva que tem ativos no Norte, é controlada hoje por fundos do BTG e do Itaú. Esse fato reafirma as estratégias da financeirização do setor de gás, a partir do novo marco legal, com a ampliação da atuação dos fundos financeiros como principais agentes dos projetos regionais de grande porte que definem a produção e o uso do território no Norte do ERJ.

Sai a estatalidade da Petrobrás e entra em seu lugar, o setor financeiro enlaçado ao extrativismo das corporações privadas que atuam globalmente no setor de óleo e gás.

Se confirmadas as instalações de um novo Hub de Gás em Macaé (já há o UPGN de Cabiúnas da Petrobrás), junto com o Hub que se instala com a GNA no Porto do Açu, SJB, os dois municípios vão ampliando as suas condições de polos, dentro do que venho chamando - desde 2014/2015 - de Circuito Espacial do Petróleo que se estende do região metropolitana do ERJ, ao NF, indo da área continental aos espaços offshore deste litoral.

Isso é parte da Economia do Petróleo - que se diferencia do petrorrentismo da Economia dos Royalties, mas tratam de grandes projetos de investimentos, que se estabelecem como enclaves - quando há pouquíssima conexão com as comunidades e as regiões. 

Assim, seus investidores (capital) dão forma ao território, escolhem e fazem lobies para os seus interesses junto ao poder político e o Estado, mas fazem questão de se envolver o mínimo necessário, para atender projetos de compensação e mitigação e realizar os discursos de sustentabilidade socioambiental.

sábado, setembro 25, 2021

China e o seu baita desafio da “prosperidade comum” como superação da armadilha e riscos da financeirização

A China em seu socialismo de mercado (outros chamam de capitalismo de Estado) abriu espaços para o setor privado no setor imobiliário e de alta tecnologia e assim produziu um colossal crescimento econômico, em meio ao aumento da especulação, enlaces e cruzamentos desses setores com o mundo das finanças que também fez surgir muitos enriquecimentos pessoais.

O projeto chinês desembocou em processos de expansão da economia para dentro (reduzindo pobreza) e para fora que gerou uma potente e crescente integração global. A propriedade (imóveis e dinheiro) e a tecnologia, desenvolvidas a partir de políticas do Estado, foram de maneira paulatina e consciente, entregues à iniciativa privada através de empresas que adiante se transformaram e ganharam a condição de conglomerados e gigantes corporações.

Essa estratégia gerou um cenário de colossal crescimento econômico, mas também produziu muitos riscos, decorrentes das inovações financeiros (papeis) e lançou ao mercado dezenas (talvez centenas) de bilionários individuais. Casos do Jack Ma (Alibaba), Xu Jiain (Evergrande Real Estate Group) e Ren Zhengfei (Huawei) entre outras dezenas ou centenas. Junto, tudo isso agora se apresenta como ameaças e como desafios.

Não é uma tarefa simples regular estes setores da economia que ajudaram a China a crescer neste século, acima de 10% ao ano na primeira década e quase 8% (em média) na 2ª década. Hoje, o setor imobiliário responde por algo em torno de 29% do PIB da China. Já o setor de alta tecnologia de internet, redes e plataformas digitais, através de suas Big Techs - em alguns casos maiores que suas congêneres americanas – transversalmente, se tornou meio (condições gerais de produção) indispensável, a todos os demais setores da economia chinesa em suas múltiplas conexões intranacionais e global.

Também transversalmente, mas de forma potente, foi exatamente no interior destes dois setores (imobiliário-urbano e tecnologia), que a financeirização se imbricou desde os últimos anos dos anos 90. Sofisticadas inovações ajudaram a produzir uma “expansão desordenada do capital”, vinculada à ideia-mãe de transformar quase tudo em gestão de ativos, com a lógica majoritária do valor de troca (especulação), mesmo que enlaçada ao desenvolvimento da economia real e da produção com valor de uso que atrais massas enormes dos vilarejos do interior para as grandes cidades.

No processo de desenvolvimento da China há ainda que se observar a realidade do seu federalismo e relações com o planejamento e a gestão estatal. Assim como em outras nações, trata-se de uma complexa distribuição de responsabilidades entre o governos central, os provinciais e os locais, tanto em termos de arrecadação de tributos, composição de fundos públicos, orçamentos e investimentos, quanto na provisão dos gastos para manutenção da infraestrutura e equipamentos públicos.

Essa questão federativa tem, aliás, profunda relação com as questões que atualmente emergem no setor imobiliário-urbano (construção habitacional e comercial) na China, em que pese o fato de que hoje, as questões-chaves da China pareçam, em boa medida, mais setoriais e intersetoriais (órbita da nação), embora com profundas conexões matriciais com o território e com o desenvolvimento regional e locais, onde vivem as pessoas e se desenvolvem os problemas da sociedade chinesa, em seus locais de trabalho, moradia e vida

Porém, também é real, o fato de que o governo chinês dispõe, como nenhuma outra nação no mundo contemporâneo, de recursos, instrumentos e capacidades institucionais estatais e políticas para superar as ameaças e os desafios expostos. Será necessário ainda mais planejamento para enfrentar a conhecida crise cíclica do capitalismo, hoje hegemonicamente financeiro, que alcançou os meandros e interstícios da economia chinesa, mas também é certo que isso demandará poupança interna que antes tinham sido planejados para uso em vários megaprojetos dentro e fora da China.

A história seguirá seu curso diante das ações e dos movimentos dos agentes na sociedade. O mundo acompanhará a implantação, já é curso, da denominada “transição para a prosperidade comum”, política (mais que programa e projeto) do governo chinês (e PCC), observando como serão administrados os interesses nacional e geopolíticos em suas dimensões e escalas.

Em síntese, o esforço da China é o de construir uma ponte que salte sobre o pântano da armadilha da financeirização - fortemente imbricada nos setores imobiliários e de alta tecnologia - para um desenvolvimento que mantenha as atividades econômicas, mas continue a garantir a elevação do bem-estar da população chinesa. Um baita desafio, muito além do debate ideológico.

quarta-feira, setembro 22, 2021

Capitalismo financeiro: em 4 anos, o Hortifruti rendeu cerca de 10 vezes aos investidores!

O caso da compra que a Lojas Americana (grupo B2W) faz da rede de varejo Hortifruti é interessante para se entender o processo de capitalização dentro do fenômeno maior da financeirização. A partir dele é possível compreender de maneira razoavelmente simples e sintética como o capital financeiro se imbrica à economia real para dela extrair valor e recolher excedentes.

Há três anos publiquei no blog - e depois no livro "A ´indústria´ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo" - o fato da então rede capixaba de venda de hortifrutigranjeiros, nascida em Colatina no ano de 1989, para comercializar a produção da agricultura familiar ter sido vendida (primeiro em 40%) para o fundo grupo Bozzano Investimentos (derivado do Banco Bozzano Simonsen). [1] [2]

A seguir essa participação acionária foi repassada ao fundo financeiro suíço Partners Group Holding que, em 2017, integralizou a compra da rede que até aqui compunha um carteira de ativos no valor de US$ 150 bilhões. [3]

Nesse período de quatro anos, a Rede Hortifruti no Brasil saiu de 45 para 73 pontos de comércio com lojas no ERJ, SP e ES, passando a ser a maior rede de varejos de frutas, legumes e verduras do país.

O valor da venda do controle acionário da rede Hortifruti em 2017 para o fundo suíço não chegou a ser divulgado, mas estimou-se à época que se deu na casa entre uma e duas centenas de milhões de reais.

Pois bem, agora em 2021, as Lojas Americanas (LA) - que é parte da B2W, que atua no varejo e e-commerce no Brasil junto da Submarino, Shoptime e Sou Barato, com cerca de 2 mil lojas físicas, 20 CDs (Centros de Distribuição) instalados em 8 estados e 20 milhões de clientes ativos -, pagou cerca de R$ 2,1 bilhões com um lucro de aproximadamente 10 vezes o valor investido há apenas quatro anos. [4]

O fundo financeiro suíço Partners Group Holding vinha preparando o IPO (lançamento de ações) da rede Hortifruti, assessorada pelo Bozzano Investimentos, quando fechou o acordo com as Lojas Americanas para a venda total dos ativos por R$ 2,1 bilhões. [5]

O caso é um exemplo claro de como os investidores em fundos de investimentos auferem rendimentos de curto prazo, em negócios em que o capital entra e se imbrica à economia real (comércio varejista e e-commerce) realiza seus lucros, com baixíssimos riscos e, em curto prazo, sai levando para o andar superior das finanças, os excedentes econômicos gerados por uma atividade econômica presente no território. 

Trata-se de um processo e uma estratégia em que a extração de valor é realizada na base da pirâmide do capital, onde acontece a produção material, a exploração do trabalho e o ciclo de reprodução social. Veja ao lado infográfico da Pirâmide do Movimento do Capital (Figura 4, p.46, PESSANHA, 2019) [2]

Tem-se aí, aquilo que tenho chamado de um "duplo movimento entre valorização e capitalização", em que os instrumentos dos fundos financeiros servem a este recolhimento de excedentes da produção material nas economias regionais, para levá-lo após estratégias duplas ao andar superior das finanças e também permite que os dinheiros destes rendimentos venham a ser transferidos para processos semelhantes em outros setores (frações do capital).

Os fundos financeiros na prática atuam como uma forma ainda mais perversa de "intermediação financeira" - comparado aos bancos tradicionais - extraindo renda e ainda mais valor do trabalho em vários setores da cadeia. [6]

Os fundos financeiros conferem uma hipermobilidade ao capital (setorial e espacial) tanto no processo de valorização quando de capitalização numa lógica do "capitalismo da gestão de ativos" que se vive no presente e ainda e muito pouco percebido.

Ganham os investidores e perdem as economias regionais, de onde a riqueza é extraída e os trabalhadores que atuam em toda a cadeia desde a produção agrícola, a logística de distribuição e comércio nas lojas, na medida em que as margens de lucro e rentabilidades oferecidas pelo negócio dependem do trabalho, cada vez mais sem direitos e precarizadas, naquilo que temos chamado de deslocamento do Modo de Produção Capitalista.


Referências:

[1] Postagem no blog em 6 de nov. 2018. Fundos financeiros agora também nos hortifrutis: seu avanço e mobilidade estão moldando o capitalismo contemporâneo e o modus de vida das pessoas. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2018/11/fundos-financeiros-agora-tambem-nos.html

[2] PESSANHA, Roberto Moraes. A ‘indústria’ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Consequência, 2019.

[3] Potal do Partners Group Holding AG: https://www.partnersgroup.com/en/

[4] Matéria de O Globo em 14 de maio de 2021. Coluna Capital. Na fila para estrear na B3, Hortifruti inaugura loja conceito no Rio, após reforma de R$ 6 milhões. Disponível em: https://blogs.oglobo.globo.com/capital/post/na-fila-para-estrear-na-b3-hortifruti-inaugura-loja-conceito-no-rio-apos-reforma-de-r-6-milhoes.html

[5] Matéria do Estadão em 11 ago. 2021. Americanas compra o hortifrúti Natural da Terra por R$ 2,1 bilhões. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,americanas-compra-a-rede-de-hortifruti-natural-da-terra-por-r-2-1-bilhoes,70003808000

[6] PESSANHA, Roberto Moraes. Capitalismo sob a hegemonia financeira e o poder no Brasil. Revista Espaço e Economia. Ano X, Nº 21. 2021. Disponível em: https://journals.openedition.org/espacoeconomia/19705

terça-feira, setembro 14, 2021

"Nova" licitação da concessão da BR-101 (RJ) revela interesses imediatos de grupos financeiros

Não tenham dúvidas, a "nova concessão" da BR-101/356 (prevista agora para 2023) estará diretamente atrelada ao projeto da Ferrovia EF-118 (Serra, ES - Itaguaí, RJ). 

Por trás de todas as grandes infraestruturas de circulação estará sempre o fluxo e a densidade de deslocamento de cargas e num grau muito menor de pessoas. 

Quem decide sobre os formatos estão sempre muito mais influenciados pelos donos de cargas do que sobre o deslocamento das pessoas. 

Além disso, algumas das infraestruturas mais importantes da região - vinculadas ao transporte de cargas - são controladas por fundos financeiros, que sempre estão de olho em maiores rendimentos e preferencialmente com riscos e prazos menores. Não por outro motivo os concessionários atuais forçaram essa suspensão do contrato de concessão da BR-101 (Norte RJ) 

O Porto do Açu é controlado pelo fundo financeiro americano EIG Global Energy Partners e a BR-101 pela Abertis comendada pelo fundo canadense Brookfield Motorways Holdings SRKL e a espanhola Abertis Infraestructuras S.A. 

Como se vê há muito os negócios e interesses relacionados à região e ao seu desenvolvimento subiram as escalas e são negociados num patamar da superestrutura, em que as comunidades e a maior parte dos agentes locais sequer desconfiam. 

Esses grandes grupos financeiros globais atuam nas regiões, através de seus enclaves, sem fazer distinções, de olho e baseados apenas nos seus interesses e na extração de valor que usufruem por ocupar nossos territórios. De nós querem apenas que as comunidades não criem obstáculos à fluidez das suas cargas – como lugar de passagem - vendendo o discurso do progresso e do vazio argumento da sustentabilidade.

segunda-feira, setembro 06, 2021

Entrega bilionária do campo de Albacora é mais um crime de lesa pátria, por Francismar Cunha

O fatiamento da estatal Petrobras para a entrega de suas subsidiárias e seus ativos segue a ritmo acelerado desde o golpe político de 2016 no Brasil. A Petrobras é a joia dilapidada da coroa. 

A lista das empresas, ações e ativos vendidos a preço de xepa - final de feira - é enorme. No atual e conturbado cenário de desgoverno e descontrole político, a boiada vai passando com novas "vendas" (entregas) para grupos privados e financeiros que seguem aplaudindo o ultraliberalismo. Não se trata de investimento novo é entrega daquilo que está pronto, produzindo e gerando lucros. Na véspera de um 7 de setembro golpista, o que se tem é um patriotismo às avessas (anti-nacionalismo) com a nação sendo subtraída de suas riquezas. As veias abertas de um Brasil neofascista.

É neste contexto que Francismar Cunha Ferreira, pesquisador, geógrafo, mestre e doutorando em Geografia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) elaborou um breve relatório sobre o significado da "venda" dos campos offshore de petróleo Albacora e Albacora Leste, na Bacia de Campos, diante das potencialidades dos mesmos que incluem as áreas do pré-sal. Francismar, lista o histórico de produção e localização destes dois campos (ativos), demonstrando o absurdo da decisão desta atual diretoria da Petrobras e do desgoverno Bolsonaro. Observem no relatório quem são os grupos interessados e não fica difícil compreender quem foram os agentes que usando a "porta giratória" entre mercado e governo que viabilizam este crime.


As potencialidades dos campos de Albacora e Albacora Leste ignoradas pela Petrobras 

A privatização da Petrobras vem se intensificado. São constantes as notícias acerca da venda de campos, dutos, refinarias, termelétricas dentre outros ativos. Nesse movimento de desintegração da empresa, destaca-se o anúncio de venda dos campos de Albacora e Albacora Leste na bacia de Campos feito pela Petrobras em setembro de 2020. São campos que apresentam grande produtividade, já possuem infraestrutura de produção e escoamento e recentemente tiveram suas reservas aumentadas em função das descobertas no pré-sal desses campos. Em função disso, são campos que não se encaixam no interior do discurso da empresa de se desfazer dos ativos de produção considerados maduros.

No ano de 2020, o campo de Albacora produziu em média 39 mil barris de óleo por dia e 716 mil m³/dia de gás. Já Albacora Leste no mesmo período produziu em média 30 mil barris de óleo por dia e 636 mil m³/dia de gás. Em julho de 2021 de acordo com o boletim mensal da produção de petróleo da ANP os campos de Albacora e Albacora Leste foram respectivamente o 16° e o 17° maiores produtores de petróleo no Brasil. Além disso, vale destacar que ambos os campos se localizam no interior do polígono do pré-sal determinado e delimitado pela lei 12.351/10, sendo que Albacora já possui produção em poços do pré-sal. Ainda em acordo com o boletim mensal da produção de petróleo da ANP de julho de 2021, do total da produção de petróleo de Albacora, cerca 34,7% é proveniente de poços do pré-sal. O óleo produzido nesses poços possui aproximadamente 30º API de acordo com Teaser Petrobras referente aos campos de Albacora, o que o qualifica como sendo um petróleo leve capaz de produzir uma parcela maior de derivados nobres, de elevado valor comercial, tais como gasolina e diesel. Além disso, os poços do pré-sal de Albacora responderam por 55% da produção de gás do campo de acordo com o boletim mensal da produção de petróleo da ANP de julho de 2021.

Faz-se importante destacar que no primeiro semestre de 2020 a Petrobras noticiou nova descoberta no campo de Albacora a partir dos resultados obtidos com o poço 9-AB-135D-RJS. A descoberta consiste em cerca de 214 metros de reservatórios, com presença de óleo leve, comprovada por meio de testes realizados a partir de 4.630 metros de profundidade[1]. Albacora Leste também apresenta um futuro promissor no que se refere ao pré-sal, principalmente a partir da descoberta do poço Arapuçá.

Essas descobertas tendem não só a aumentar as reservas e a produtividade dos campos, como também deverá prolongar as atividades de exploração dos mesmos. Além disso, essas descobertas vêm ocorrendo em campos que já contam com grande infraestrutura de produção instalada, formada pelas plataformas P-25, P-31 e P-50, além de toda a infraestrutura de movimentação de petróleo e gás conforme aponta o mapa a seguir. Isso faz com que a produção nessas descobertas seja mais rápida do que em campos que necessitam de toda a instalação de produção e transporte.


Mapa 01: Infraestrutura de produção e escoamento de petróleo e gás dos campos de Albacora e Albacora Leste


A Petrobras é a única concessionaria no campo de Albacora. Já em Albacora Leste a Petrobras detém 90% e a Repsol Sinopec Brasil possui 10%.

O campo de Albacora se enquadra na definição de campo maduro definido pela Resolução nº 749/2018 da ANP. De acordo com a resolução, “o campo maduro pode ser compreendido como sendo o campo de petróleo ou de gás natural com histórico de produção efetiva, realizada a partir de instalações definitivas de produção, maior ou igual a vinte e cinco anos, ou cuja produção acumulada corresponda a, pelo menos, 70% (setenta por cento) do volume a ser produzido previsto, considerando as reservas provadas”. A produção no campo de Albacora já é realizada há 37 anos. Entretanto, mesmo sendo maduro, tem-se a possibilidade do desenvolvimento de novos projetos de recuperação do campo, possibilitando o prolongamento das atividades produtivas e a manutenção de toda a cadeia de fornecedores e empregos. Além disso, enquadrar Albacora como campo maduro, todavia, significa ignorar as recentes descobertas no pré-sal que redefinem positivamente as reservas e a produtividade do campo.

Em Albacora Leste a produção é realizada há 15 anos, portanto, pelo sentido temporal, ele não está enquadrado na categoria de campo maduro. Tampouco o critério de produção pode ser utilizado: com um volume estimado de 3,5 bilhões de barris e produção acumulada de cerca de 0,4 bilhões de barris, Albacora Leste produziu apenas 11% do seu potencial. Além disso, novamente não se pode desconsiderar a descoberta recente do pré-sal no campo vizinho que pode redefinir suas reservas e, consequentemente, sua produção futura.

Em resumo, os ativos de Albacora e Albacora Leste são ativos de grande importância para a Petrobras por três motivos fundamentais:

1. Pelo fato de serem ativos de grande produção de petróleo (16° e o 17° campos com maior produção de petróleo no Brasil em julho de 2021) e ainda possuírem grandes reservas a produzir;

2. Em função das recentes descobertas no pré-sal em Albacora que implica no aumento da produtividade e rentabilidade do campo (e suas adjacências) para a Petrobras;

3. Devido se localizarem no interior do polígono do pré-sal, não se pode desconsiderar a possibilidade de possíveis novas importantes descobertas nesses campos, adquiridos em rodadas ainda no regime de concessão.

Em setembro de 2020 a Petrobras lançou esses campos ao mercado a fim de vendê-los. Pouco tempo depois várias empresas e fundos financeiros começaram a especular ofertas vinculantes pelos campos. O consórcio formado pela norte-americana petroleira Talos Energy, pelo fundo financeiro do tipo private equity EIG Global Energy Partners e pelas brasileiras pela Enauta e 3R Petroleum foi um deles. Outro consórcio é formado pela PetroRio e pela Cobra, uma unidade da francesa VINCI Energies. Por fim, tem-se a petroleira australiana Karoon Energy que também manifestou interesse nos ativos.

De acordo com reportagem da CNN Brasil[2], esses ativos podem representar a maior transação financeira inerente a ativos de produção da Petrobras desde 2017, quando a estatal vendeu uma participação no campo de Roncador para a norueguesa Equinor, por US$ 2,9 bilhões.

Essa grande mobilização de empresas e fundos de investimentos, associado ao alto valor do ativo, apenas reforçam a notória viabilidade econômica dos campos de Albacora e Albacora Leste. Demostra também que a Petrobras estará se desfazendo de ativos com grande potencial de geração de lucros atuais e futuros.