sábado, setembro 30, 2017

O filme "Um sonho intenso"

Para quem gosta, ou para quem estuda a história do Brasil - ou mais diretamente a sua formação econômica - é interessante assistir o documentário "Um sonho intenso".

Um filme de José Mariani que relata as transformações do processo socioeconômico brasileiro, entre os anos 30 e os dias atuais na interpretação de um grupo de economistas e historiadores. Bem mais economistas que historiadores. 

As entrevistas e os comentários misturados às imagens do período comentado confere uma dose de realidade, que evidentemente pode ser discutida e interpretada sobre outros pontos de vista. 

De uma forma ou outra, a visão e a narrativa final permitem, mais uma vez, perceber a condição cíclica e de fases de nossa história. Aliás, algumas vezes eu me pergunto se nas análises atuais a gente não confere pouca importância aos efeitos dos ciclos, mais ou menos longo.

Nesta linha, não se pode deixar de intuir alguma similaridade entre a década de 30 e os dias atuais. Assim, eu pergunto se haverá agora uma "Re-ciclagem" tal como antes, mesmo sabendo que as condições políticas e sociais parecem distintas. Enfim, vale conferir.


sexta-feira, setembro 29, 2017

O desmonte da indústria química nacional é mais um exemplo da colonização como forma de integração mundial

A desestruturação, desmonte e o repasse das nossas bases industriais e de infraestrutura vão muito para além dos leilões de privatizações e entrega do controle de nossas empresas para os fundos financeiros internacionais.

Há dois meses, o blog informou aqui sobre a redução da participação da indústria química nacional no atendimento à demanda interna destes produtos.

Na ocasião informamos com dados da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química) que no 2º trimestre de 2017, a produção nacional de químicos de uso industrial tinha caído 2,3%, enquanto as importações tinham crescido 30,5%. Isto era até então, o recorde dos últimos 28 anos, quando a taxa média de utilização da capacidade instalada destas indústrias no Brasil tinham descido a 77%.

Pois bem, agora analisando o acumulado do ano de janeiro até agosto, novamente com dados da Abiquim, se observa que para um crescimento de 8,3% do mercado brasileiro de químico de uso industrial, as importações avançaram 38,2% batendo um novo recorde. Só em agosto o Brasil gastou US$ 4,4 bilhões com a importação de produtos químicos.

Ou seja, cada vez mais o país depende da importação de produtos químicos que no geral possuem valores agregados maiores que os insumos e as matérias primas.

O país não cuida de sua industrialização. Deixa de lado as cadeias produtivas e assim vai retroagindo a uma condição cada vez mais colonizada, no que diz respeito à integração econômica com outras nações do mundo.

O quadro tende a piorar na medida em que o país repassa às corporações e fundos globais, o controle sobre a produção de matérias-primas e também os estratégicos setores de infraestrutura de logística e de energia que têm enorme peso sobre nossas cadeias produtivas e nossa produtividade.

As corporações e fundos globais pensam seus negócios como se o mundo fosse único, diversificando espacialmente as suas bases produtivas, pouco se importando com os projetos das nações.

Pior ainda, para aquelas nações como o Brasil que abandonou seus projetos e o interesse em regular a atuação dos capitais globais em nosso território de maneira a gerar emprego e renda para a nossa população.

Repito, o Brasil pós-golpe reassumiu a colonização como uma forma de integração mundial.

O pior dos mundos, cedendo espaço ao mercado livre que é muito pior que o sistema capitalista como modo de produção que nos devolverá à absoluta condição subordinada e dependente para o qual a nação estava lutando para sair.

Avança-se assim para uma civilização excludente e periférica que ampliará as tensões e ao risco da barbárie. Há que se resistir e de forma unificada lutar pela retomada de um projeto de Nação!

quinta-feira, setembro 28, 2017

Quem regula a regulação?

Observando as questões menos destacadas da realização do leilão ontem da ANP para concessão de área (blocos) para exploração de petróleo em várias bacias brasileiras, com exceção do pré-sal, é possível fazer algumas perguntas:

1) Para a formação do consórcio entre a Petrobras e a Esso para arrematar 6 áreas na Bacia de Campos, o que teria sido exposto (ou entregue) em termos de conhecimento sobre potencial desta e outras áreas pela estatal à petroleira americana?

É desta "conversa" que as duas petroleiras juntas decidiram oferecer um bônus 18 vezes maior que a segunda melhor proposta.
Vale dizer que esta dúvida eu já possuía desde o último leilão da ANP que se colocou em disputa o direito de exploração do campo de Libra no Pré-sal.

2) Quem regula isto? Ou não há regulação se a agência reguladora, em tese, mostra que seu interesse é apenas que haja interessados e que paguem valorosos bônus?

3) Sendo os consórcios cruzados, considerando que algumas parcerias em disputa são feitas ora com uma petroleira, ora com outra, como pode o interesse nacional estar presente?

Há várias outras questões que caberiam ser questionadas sobre estes processos de regulação. Especialmente, neste momento em que o governo pós-impeachment decidiu colocar na direção das agências reguladoras - que em tese seriam um braço do Estado, pessoas e gerentes tiradas diretamente das corporações interessadas.
Quem regula a regulação?
A quem atende a regulação?

quarta-feira, setembro 27, 2017

Royalties de setembro: Macaé com R$ 33,8 milhões é o município com maior parcela

Amanhã será depositada a quota do mês de setembro dos royalties do petróleo. A maioria dos municípios fluminenses teve aumento de receita em relação ao mês anterior de agosto.

Só os municípios fluminenses de Duque de Caxias e Guapimirim - que recebem royalties pela existência de bases operacionais do setor - tiverem redução das quotas mensais.

A maior quota coube neste repasse do mês de setembro coube ao município de Macaé com R$ 33,8 milhões. Em seguida vem Maricá com R$$ 26,5 milhões. A terceira maior receita foi para Campos dos Goytacazes que vem logo a seguir foi de R$ 26,4 milhões. A 4ª maior receita foi a de Niterói, vizinho à Maricá com R$ 22,1 milhões.

É bom recordar que o prefeito de Macaé, Dr. Aluizio, vem insistentemente defendendo a redução dos percentuais de royalties devidos pelas petroleiras aos entes governamentais para os campos maduros, aqueles de produção menor depois de longo tempo de extração.

Se forem contabilizadas as receitas das quotas mensais dos royalties e das participações especiais (que são trimestrais) os valores de Maricá e Niterói já estão ultrapassando a de Macaé e Campos, confirmando o que o blog chamou de deslocamento espacial do circuito petrorrentista em direção ao sul do estado e da Bacia de Santos.

Na região, Cabo Frio ficou com R$ 8,6 milhões, Rio das Ostras com R$ 7,9 milhões, São João da Barra com R$ 6,2 milhões e Quissamã com R$ 4,3 milhões.

Em relação a setembro do ano passado para a maior parte dos municípios a receita se equivalem, mas há alguns com quotas maiores e outras menores, conforme a produção nos poços e campos de petróleo do litoral confrontante de cada município.

Isto se deve mais ao aumento do valor do barril em relação ao ano passado do que, na maior parte dos caso, ao aumento de produção que continua crescendo mais na Bacia de Santos, favorecendo assim aos municípios mais ao Sul. como é o caso de Maricá, Niterói e Rio de Janeiro (capital).

A tabela e a compilação com os dados da ANP foram enviadas ao blog por Wellington Abreu que atua como consultor do setor de Petróleo e gás. Para ver a tabela em tamanho maior clique sobre ela.

















PS.: Atualizado às 18:08: Para acrescentar posição do prefeito de Macaé com relação aos royalties.

A petroleira americana Esso conquista áreas da Bacia de Campos – sozinha e em consórcio com a Petrobras - no leilão da ANP. No geral, a Petrobras segue cada vez menor!

Duas áreas da Bacia de Campos, a ExxonMobil (Esso) arrematou sozinha e outras seis arrematou em consórcio com a Petrobras. Os dois blocos na Bacia de Campos que a Esso obteve concessão sozinha foi do bloco C-M-37, com bônus de assinatura de R$ 47,1 milhões, superando o consórcio formado por Petrobras (70%) e a australiana Karoon (30%). A petroleira americana Esso também arrematou o bloco C-M-67, sem disputa com uma oferta de um bônus de R$ 16,3 milhões.

Em consórcio formado com a Petrobras (operadora, com 50%), a ExxonMobil (50%) arrematou os seis últimos blocos do leilão da ANP. As companhias duas petroleiras vão pagar R$ 3,55 bilhões por estas seis áreas na Bacia de Campos.

Mapa das áreas ofertadas no leilão de hoje (27/09) na Bacia de Campos
O mesmo consórcio Petrobras/Esso ofereceu R$ 2,2 bilhões de bônus pelo bloco C-M-346 – o maior bônus por bloco do leilão – batendo, na disputa, os consórcios Shell/Repsol, Total/BP e a chinesa CNOOC. A Petrobras/ExxonMobil também ofereceu R$ 1,2 bilhão pelo bloco C-M-411 e ganhou na disputa dos consórcios Total/BP e Shell/Repsol.

Em outra disputa, a Petrobras/ExxonMobil venceu a australiana Karoon, oferecendo R$ 31 milhões pelo bloco CM-344. O consórcio formado pela estatal e pela americana arrematou outros três blocos sem disputa: C-M-413, C-M-210 e C-M-277, com bônus de R$ 65 milhões, R$ 13 milhões e R$ 40,9 milhões, respectivamente.

Concessões nas outras Bacias
Só uma área das dez área na Bacia do Paraná foi arrematada. Neste caso pela Petrobras. A espanhola Repsol e a chinesa CNOOC arremataram outro bloco exploratório cada uma na área offshore da Bacia do Espírito Santo. Na Bacia de Santos, a petroleira australiana Karoon arrematou o único bloco que recebeu ofertas de um total de 75 áreas (blocos). A Karoon obteve a concessão do bloco 1537 com um bônus de apenas R$ 20 milhões. Outras bacias foram ofertadas como Pelotas (não recebeu proposta de exploração); Potiguar (ganhou a Geopark); Recôncavo (Petroil); Sergipe-Alagoas (Greenconsult; Guindastes Brasil; ExxonMobil (50%), Queiroz Galvão Exploração e Produção (30%) e Murphy Oil).

Petrobras cada vez menor
A Petrobras ao vender ativos e participar menos do direito de concessão de novas áreas fica cada vez menor, mesmo nas áreas de Exploração e Produção, em que a estatal resolveu concentrar seus investimentos após o golpe. É certo que o processo será ainda pior no próximo leilão das áreas do Pré-sal que a estatal descobriu e agora está sendo entregue de forma vil. Lamentável!

Chineses ganham licitação para concluir montagem da Unidade de Processamento de Gás no Comperj

Os chineses ganharam a concorrência da Petrobrás para terminar a obra da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Comperj, através da empresa Shangdong Kerui. Veja a diferença de preços entre os concorrentes:

1º – Shandong Kerui – R$ 1.947.000,00;
2º – Fluor – R$2.284.738,00;
3º – Cobra/Qualiman – R$ 2.284.791,00;
4º – Tecnimont – R$ 4.246.175,00

A Kerui Petroleum é uma empresa que atua em desenvolvimento de tecnologia sendo a maior fabricante e fornecedora de serviços de equipamentos de petróleo e gás na China. Tem sede na cidade de Dongying, onde está localizado o segundo maior campo petrolífero da China – Shengli Oilfield e possui hoje cerca de 8 mil funcionários.

Bom lembrar que a Petrobras excluiu da concorrência as empresas de engenharia do Brasil.

Vale ainda dizer que com o desmanche do setor naval no Brasil, os estaleiros chineses hoje constroem a maior parte das plataformas que entrarão em funcionamento até 2021 para extração de óleo e gás nas bacias de Santos e Campos, incluindo o Pré-sal.
Fonte da Informação: PetroNotícias.

terça-feira, setembro 26, 2017

Repsol pode fornecer gás para UTE no Porto do Açu

O consórcio formado pelas petroleiras, a espanhola Repsol e a chinesa Sinopec que opera a concessão do grande campo com produção de gás, o Pão de Açúcar, na Bacia de Campos inclui entre suas alternativas para escoar a produção do gás natural o seu fornecimento para o projeto de termelétrico (UTE GNA) da Prumo no Porto do Açu. A Respsol/Sinopec hoje produz cerca de 100 mil barris por dia de óleo equivalente no Brasil.

A informação sobre a possibilidade de fornecimento de gás natural à Prumo foi dada ontem, pelo presidente da Repsol Sinopec do Brasil, Leonardo Junqueira, no 18ª Seminário de Gás Natural, organizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) no Hotel Windsor, Florida no Rio de Janeiro.

O evento prossegue hoje com outras palestras e mesas-redondas sobre o tema, cada vez mais estratégico. Chama a atenção a enorme participação de players mundiais do setor, que trabalham de olho na flexibilização da regulação do setor de gás natural que está sendo desenhada por consultorias e corporações mundiais do setor junto ao Ministério da Minas e Energia e à ANP.

Sobre o assunto leia aqui postagem do blog no dia 20 set. 2017 com o título: "A entrega do setor de gás no Brasil: da exploração à distribuição, desintegração no Brasil e verticalização e centralização no plano global através das corporações".

O projeto de geração térmica a gás no Açu se trata de um consórcio liderado pela Prumo (controladora do Porto do Açu) que envolve ainda petroleira BP, que hoje forneceria via importação Gás Natural Liquefeito (LNG) e a Siemens que forneceria os equipamentos. Prumo e BP teriam juntas 67% e a Siemens 33% na composição da GNA.

A termelétrica UTE GNA I, é um projeto em ciclo combinado a gás natural com potência instalada de 1.300 MW, que faz parte de um complexo de gás, o Açu Gas Hub composto por 6.400 MW de geração termelétrica a gás natural. Envolve ainda terminal de importação e armazenagem de GNL; unidade de processamento de gás natural e gasodutos, onde se insere a ideia do transporte do campo de Pão de Açúcar à base do projeto da Açu Gás Hub, junto do Porto do Açu.

Como pode ser visto no mapa acima a possibilidade de fornecimento de gás natural do campo de Pão de Açúcar até uma base de distribuição e tratamento junto ao Porto do Açu demandaria a instalação de um ramal de gasoduto, a maior parte offshore com cerca de 200 km de extensão.

Uma outra alternativa poderia ser o uso do gasoduto instalado para receber gás natural de diversos poços na Bacia de Campos que chega ao continente na altura do litoral de Barra do Furado.e vai até Cabiúnas (Macaé) onde é tratado.

Como existe um ramal de gasodutos que sai de Macaé e vai para Vitória (Gascav), uma secção do mesmo na Tapera, em Campos poderia permitir outra conexão em direção ao Açu. Bom lembrar que hoje grande parte desta malha de gasodutos foi vendida pela Petrobras. A conferir!

segunda-feira, setembro 25, 2017

Começa a surgir a “Opep do Gás”

As confusões dos EUA no plano internacional que foram ampliadas após a ascensão de Trump está em vias de possibilitar, como uma das reações, o surgimento da “Opep do Gás”. Ela poderá vir através de acordo que envolveria num primeiro momento o Qatar, Rússia e Irã. Esta organização poderá ter relação com outras articulações também a Turquia e a China.

Como se sabe o Gás Natural (LGN) é visto cada vez mais com a energia estratégica no mundo. [1] [2] Assim, a "Opep do Gás" [3] poderá trazer grandes embaraços relacionados ao controle dos mercados globais de gás natural.

Os EUA, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos se mexem no xadrez da geopolítica da energia e gostariam de evitar esta articulação que visa ter controle sobre o mercado mundial do gás natural.

Como se sabe, o Gás Natural ganhou enorme poder por duas principais razões:

1) Por ser menos poluente que o petróleo; 
2) Pelo desenvolvimento das novas tecnologias que reduziram os custos para liquefazer o Gás Natural (LGN) e assim dar-lhe mobilidade para transporte pela via marítima, sem necessitar da instalação dos gasodutos. Esta mobilidade logística também confere possibilidade de variar os mercados a serem atendidos ao redor do mundo.

No caso do petróleo, a Opep, desde que foi criada e fez surgir o primeiro choque de petróleo na década de 70, perdeu força com o aumento da produção em outros países que não são membros da organização.

Hoje, apenas 1/3 da produção de petróleo mundial sai dos países membros da Opep, que assim, passou a ter um papel menor de controlador de preços. No caso da possível "Opep do Gás" (LGN) [3] uma articulação mesmo que de apenas 3 produtores pode ultrapassar ultrapassar metade da produção mundial.   

No meio de tudo isto, não esqueçamos o fato de que as reservas do pré-sal no Brasil, possuem muito gás natural. Fato que motiva a atração de uma grande quantidade de petroleiras interessadas em acessar nossos campos de gás e petróleo, como é o caso da norueguesa Statoil e da francesa Total. Além disso, a Shell nunca escondeu esta sua estratégia. Aliás, foi basicamente por conta disto que a Shell comprou a BG por quase US$ 60 bilhões.

Notas, fontes e referências:

[1] Nota no blog em 11 jul. 2016. A ampliação do poder estratégico e geopolítico do Gás Natural (GNL) na matriz energética mundial. Link: http://www.robertomoraes.com.br/2016/07/a-ampliacao-do-poder-estrategico-e.html

[2] Site Agência de Notícia Sputink. Disponível em:http://br.sputniknews.com/portuguese.ruvr.ru/2013_10_11/Mercado-mundial-de-GNL-forte-crescimento-5391/.

[3] Artigo, ENGDAHL, F. William. New Eastern Outlook in 19 sep. 2017.
Russia’s Interesting New Oil Geopolitics. Link: https://journal-neo.org/2017/09/19/russia-s-interesting-new-oil-geopolitics/. Traduzido e republicado no Blog do Alok. Link:  http://blogdoalok.blogspot.com.br/2017/09/a-interessante-nova-geopolitica-russa.html

domingo, setembro 24, 2017

"É difícil imaginar outro lugar com os recursos do pré-sal do Brasil"

Às vezes, eu considero que estou enchendo e incomodando aqueles que leem o blog com este assunto do potencial do pré-sal brasileiro e com o desmonte que se faz no setor de petróleo e gás feito pelo governo golpista no Brasil. Peço desculpas, se for esta a sensação, mas ainda assim, eu vou continuar trazendo dados que confirmam esta opinião/interpretação.

Assim, eu trouxe aqui nos últimos dois anos, de forma especial, declarações dos presidentes mundiais (CEOs) de importantes fundos financeiros e bancos de desenvolvimento com atuação no setor no mundo, além das falas dos dirigentes mundiais das maiores petroleiras do mundo como Shell, Statoil, Total entre outras, que discorreram sobre a surpresa com a potencialidade destas reservas, em termos de produtividade comparada.

Pois bem, nesta linha eu destaco a posição do diretor de pesquisa da importante consultoria britânica do setor, a Wood Mackenzie (ou WoodMac), Horacio Cuenca. Sua fala saiu publicada no meio de uma matéria dos jornalistas André Ramalho e Rodrigo Polito, no jornal Valor, em 22 set. 2017, P. B2 com o título: "País tem oportunidade de se tornar produtor relevante". A matéria também ouviu o chefe da consultoria WoodMac no Brasil, Pedro Camarota. A WoodMac possui em seus quadros mais de 500 analistas que constroem cenários com fortes bases de dados.

Bom dizer, que a meu juízo, o Brasil já é um produtor relevante no mundo independente destes próximos leilões da ANP. O Brasil, já está hoje na condição de 10º maior produtor de petróleo do mundo e possui uma das mais atraentes reservas e 6 dos 10 maiores campos de petróleo descobertos na última década.

Assim, os projetos de produção que foram planejados há 5-7 anos atrás estão sendo entregues e o Brasil já ultrapassou à produção de 3 milhões de barris de óleo equivalentes (boe) por dia. Outros projetos planejados desde 2011/2012 entrarão em funcionamento daqui até 2012 conforme imagem abaixo.

Pois bem, após este preâmbulo vamos à posição da consultoria americana Wood Mackenzie sobre a condição do Brasil em termos de exploração de reservas de petróleo do pré-sal:

"Os ativos abaixo da camada de sal, no Brasil, estão enre os mais competitivos do mundo".

"É difícil imaginar um outro lugar com estes recursos. E não é uma questão só de volume, é de produtividade também. É muito difícil encontrar lugares com uma produtividade tão significativa, o que faz do pré-sal muito econômico. Os volumes são grandes, têm escala". 

"Em outros lugares há descobertas pequenas e de médio porte que têm dificuldades de serem viabilizadas e correm o risco de ficar no subsolo. Na margem equatorial, por exemplo, as bases logísticas são distantes, não há infraestrutura logística, sendo assim muito mais complexo".

As interpretações não deixam margem a dúvidas e sustentam o extraordinário interesse das petroleiras que querem ter acesso ou ampliar o que já possuem de ativos no Brasil.

Antes, havia por parte de muitos especialistas no Brasil desdém e desconfiança com as reservas do pré-sal. Eles politizavam os dados e as reservas colocando sempre muito embaraços e senões.

Foi preciso que as operadoras, as petroleiras e para-petroleiras estrangeiras que aqui atuam falassem de suas posições - logo depois do caso da espionagem da NSA e do leilão de Libra - com a compra de ativos para esta análise se modificar.

Há que se lamentar que depois de todo esforço da nossa estatal de petróleo, grande parte deste potencial esteja sendo entregue para gerar renda para as corporações estrangeiras.

Assim, eu vou voltar a repetir o venho dizendo há mais de um ano sobre o desmonte do setor de petróleo e gás no Brasil: "a entrega da joia da coroa das nossas reservas de petróleo produz um prejuízo que é praticamente o dobro do que toda a Lava Jato, tornando o legal ainda muito mais danoso que o ilegal”.

Abaixo o blog publica um dos slides de apresentação corporativa da Petrobras (clique na imagem para ver em tamanho maior) com a informação sobre o planejamento das unidades de produção que vão entrar em funcionamento até 2021, que demonstram que o Brasil já é um país relevante na produção de petróleo no mundo.

Apenas ampliará esta importância no cenário global nos próximo anos, mesmo sem considerar os próximos leilões da ANP que tenderão a produzir resultados, em termos de produção daqui a 7/10 anos, conforme a capacidade da indústria do petróleo e a fase de ciclo de preço desta commodity:


sábado, setembro 23, 2017

O setor de farmácias repete processo vivido pelo comércio de eletrodomésticos há duas décadas: ameaças e alternativas para a economia regional

O mesmo movimento que se viu em Campos (e outras cidades de porte médio) há cerca de duas décadas, na área de eletrodomésticos, agora acontece com o setor farmacêutico.

A entrada no comércio local dos grandes grupos que atuavam nas regiões metropolitanas como o Ponto Frio, Tele Rio, Casas Bahia e outros, que foram responsáveis por desmontar o comércio local deste segmento com o fechamento da Icaraí Móveis, Distribuidora Mercantil, Tri Som e outras.

Agora este processo avança para um setor onde a característica de varejo – com pequenas e constante compras - é ainda forte, como no caso da venda de medicamentos e materiais de beleza e perfumaria, como é o caso das farmácias, onde se vende de tudo um pouco.

A invasão das lojas de redes como a Pacheco, Droga Raia e outras, já espreme o segmento varejista local do comércio de farmácias, mesmo aqueles que possuem não apenas lojas, mas uma base de distribuição, como é o caso da tradicional Isalvo Lima, grupo cada vez mais vinculado à área de imóveis e menos à de drogarias.

Este movimento não é um fenômeno local, mas atinge todo o interior, inicialmente nas cidades de porte médio em quase todo o Brasil.

Observa-se assim que o comércio no país é cada vez menos local e mais de massa, com grandes grupos e corporações comandando o varejo em boa parte do país. Tudo isto, sem falar nas vendas pela internet (e-commerce).

No máximo, os interessados em investir nos comércios locais, quase que ficam restritos às franquias de marcas mais conhecidas e com os riscos já conhecidos, para quem se dispõe a colocar suas economias no setor. Neste tipo de alternativa, muita gente vem perdendo dinheiro iludido com as promessas das marcas.

Inicialmente, as comunidades tendem a ver neste processo, uma espécie de sinal de modernidade, pelo acesso a estas marcas, porém, mais adiante percebem que elas embutem outros problemas e riscos.

Desta forma, avança-se na oligopolização também ne varejo, em grande parte do comércio nacional. Os grupos ficam de olho nas economias locais/regionais que ganham algum dinamismo, com o objetivo de capturar seus excedentes que são levados para as metrópoles.

Assim, as economias e os comerciantes locais vão sendo ameaçados por um processo difícil de ser detido. Tratam-se de circuitos distintos da economia que merecem ser investigados. Um é ligado às grandes marcas (e fundos financeiros que são seus controladores) e o outro, “inferior”, cada vez mais empurrado para o comércio informal e marginalizado instalado mais próximo do cidadão.

Em alguns pontos eles se cruzam com o uso das informações digitais e buscam disfarces para fugir dos tributos e das fiscalizações governamentais.

Fato é que este movimento tende, no geral, a enfraquecer as economias locais-regionais e favorecer – com a captura de dinheiro e lucros – os maiores grupos econômicos do país.

A vida na sociedade contemporânea é cada vez mais complexa e o interesse e capacidade de atuação dos grandes grupos é quase avassalador.

O fato chama mais a atenção porque o comércio sempre foi um espaço de atuação da antiga burguesia, num momento pós-rural, nestes negócios de intermediação, que exigia menos investimentos, por exemplo do que a implantação de plantas industriais.

O caso parece ser apenas do comércio, mas ele aponta outras as dificuldades. Analisando mais profundamente este fato, ele mostra que a implantação de projetos regionais de desenvolvimento precisam ser integrados e envolver vários municípios. Será necessário visão de integração regional.

Será necessário um projeto de desenvolvimento regional que vá além do comércio e serviços. Será preciso envolver a produção material (agrícola e industrial), para assim arrastar os demais setores. Sem essa perspectiva, os municípios viverão sempre dependentes.

Não agir pró-ativamente nesta linha reforçará a velha ideia de esperar e estimular os grandes projetos que vêm de fora (exógenos), o chamados “Grandes Projetos de Investimentos” (GPI) que quando acontecem, tendem a se instalar como enclaves, com pouquíssimo diálogo e articulação com as comunidades locais que ficam isoladas.

É preciso investir nas pessoas da região com os recursos que ainda existem e que vão ficar mais escassos adiante quando a Economia dos Royalties tiver se liquefeito.

Mas, fiquemos por aqui com a análise que acaba levantando outras questões que esta postagem quer apenas provocar.

É preciso pensar saídas, num momento em que há um certo vazio, em termos de se pensar alternativas para a diversificação da economia (para além dos royalties do petróleo) e em implantar Políticas Públicas mais eficientes e de interesse do cidadão.

sexta-feira, setembro 22, 2017

De onde surge a balela de que a economia se deslocou da política no Brasil?

Interessante este discurso dos “colonistas” econômicos da mídia comercial, divulgando repetidas vezes, a ideia de que a economia está melhorando e que ela se descolou da política e tem trilha própria.

Ora, ora, ora. Nem Delfim Neto ousaria tanto. Delfim lê bons teóricos e sabe que isto não é possível e nunca falaria uma bobagem desta, mesmo que se queira rechaçar a Economia Política.

O que houve é que o mercado capturou por completo, o poder político no Brasil.

A economia está boa para quem cara pálida? Quem está concentrando recursos e recolhendo os excedentes econômicos, enquanto o desemprego aumenta, as condições de trabalho piora e participação dos salários na economia pioram com os cortes sem fim dos direitos sociais?

A banca sempre sonhou e trabalhou por um Banco Central “independente”. Sim, independente da maioria da população do país. Sempre desejaram que o papel dos governos eleitos fossem entregues à regulação externa, como se fossem técnica.

Para isto criaram eles criaram na década de 90, as agências reguladoras. Estas seriam também “independentes” da maioria da população e estariam como hoje, só sob o controle dos donos dos dinheiros e do mercado.

A economia está sem controle da política porque ela está a serviço da minoria endinheirada que vê a população como um todo como estorvo que só serve para servir com mão de obra barata e se possível como na era da escravidão

No Brasil, após o golpe, o mercado abandonou os intermediários da política. Eles mal vistos por todos ficaram cuidando das confusões da mediação e outras coisas menores, porque tudo o que interessa (orçamento, energia/petróleo, etc.) já está sob seu controle direto.

Não tenham dúvidas, o Brasil atual, está se transformando com este dia-a-dia, num dos maiores “cases” do ultraliberalismo que trabalha promovendo uma nação para poucos, dentro de uma concepção de uma civilização excludente que empurra os pobres e a pobreza para as periferias.

As tensões aumentarão e os mesmos falarão da violência, das drogas, da necessidade de polícia, mas a economia tá bem e descolada da política.

Mas a economia tá bem e descolada da política.

quinta-feira, setembro 21, 2017

China exporta US$ 342 bilhões a mais do que importa dos EUA: o que isto tem a ver com o petróleo e a geopolítica?

Estudando um pouco mais sobre o capitalismo contemporâneo e sobre as redes globais e a forma como elas atuam sobre os territórios, com dinâmicas em várias dimensões, eu me deparei com um dado bastante interessante.

A distância entre a produção material da China e os EUA refletida nas exportações entre estas duas grandes nações. Em 2016, a China exportou US$ 347 bilhões a mais que os EUA exportou para a China.

Observando o processo histórico é possível recordar que o mesmo teve início na década de 70/80. Desde esta época os EUA foi empurrando a produção material para o exterior. Inicialmente para o Japão. Porém, manteve controle sobre o sistema financeiro que administrava esta produção.

Assim, a indústria americana foi sendo “deslocalizada” mais recentemente para a China, como mais um espaço de "outsourced". Tudo isto feito com o padrão dólar.

Fonte: http://chinalinktrading.com
Mas devemos convir que US$ 347 bilhões de déficit comercial dos EUA com a China é muito grande. Valor que equivale ao volume da décima maior nação exportadora do mundo. E, aproximadamente, o dobro de toda a exportação brasileira, também no ano de 2016.

No meio de todo este movimento, a dívida dos EUA foi se elevando. Hoje, alcança cerca de US$ 20 trilhões e não para de crescer. Desta forma, a China sabe que este déficit comercial dos EUA tem como barreira e controle, o padrão dólar.

Os chineses sabem que precisam romper este padrão único com a moeda americana. A China também sabe que o rompimento deste padrão dólar no comércio internacional, pode alterar muita coisa no jogo de xadrez da geopolítica mundial.

Assim, a ideia da China passa a ser “deslocalizar” não a produção material (industrial), já obtida, mas o poder e o controle financeiros dos bancos de Londres e Washington, construindo uma alternativa.

É neste compasso que entra o setor de petróleo. A China é o maior importador de petróleo do mundo, a mercadoria mais negociada no globo, sempre em dólares.

A China e nem a Rússia não veem motivos para isto e já articulam via Brics alternativa ao petrodólar. O petrodólar que nasceu em 1975, através do acordo dos EUA com a Arábia Saudita rompendo até então a exclusividade da equivalência com o padrão ouro.

Negociações, antes inimagináveis, entre a China e a Rússia avançam muito rapidamente para uma alternativa. E ela inclui o uso - já em vigor - de contratos futuros de petróleo, com poder de conversão em ouro.

Assim, a alternativa de uma futura moeda internacional poderia ser também viável. Ela teria lastro em ouro - que a China é hoje a maior produtora mundial - e ainda potencial para viabilizar uma cesta de várias moedas.

Tudo isto pode deslocar também a hegemonia unipolar americana que assim poderia também afastar o sonho de Trump focado na expressão da campanha eleitoral: “America first”.

É certo que mudanças estão sendo operadas nos alinhamentos mundiais entre as nações. Porém, saber se a situação segue evoluindo para conversas e negociações ou rompimentos, só o tempo dirá.

Na melhor hipótese podemos ter aí as bases de uma nova regulação financeira internacional. De outro lado, mais pressão e tensão.

No meio deste jogo vê-se que a Europa, em meio às confusões, pode estar contribuindo para importantes mudanças na geopolítica do poder, com um novo dinamismo na direção Eurásia. Lembrando que o poder sobrevive e se movimenta por conta das assimetrias e nesta dinâmica busca sempre a expansão.

FGV vai definir preço de venda da Cedae

Apesar da modelagem do processo de privatização da Cedae estar sendo feita pelo BNDES, a FGV vai receber R$ 900 mil para estabelecer o preço da venda das ações da companhia estadual de saneamento.[1]

Como se vê os ganhos com a transferência de um monopólio estatal para o setor privado vai sempre muito para além daqueles obtidos pelos operadores.

Nesta cadeia de ganhos obtidos neste percurso se inserem ainda grandes bancas de advogados - para garantir os interesses dos operadores - e a mídia comercial.

Assim tentam construir o "discurso de consenso" sobre esta necessidade, mesmo que no mundo contemporâneo, até as maiores nações capitalistas do mundo (EUA, Alemanha, Reino Unido, etc,), discordem e tenha revisto esta criminosa direção do monopólio privado.

[1] Matéria do Valor em 20 set. 2017, P.A4. Estado Rio retoma programa de de privatizações para cortar despesas. Link: http://www.valor.com.br/brasil/5125970/estado-do-rio-retoma-programa-de-privatizacoes-para-cortar-despesas

"Sem um estado forte, outro Poder mandará"

O artigo abaixo foi publicado no jornal GGN (aqui), na terça-feira 19 set. 2017. O autor é o advogado André Araújo. Ele discute o papel do Estado no Brasil, lembrando que no país, o Estado chegou antes da nação e fala dos riscos de desintegração da nação em meio à enorme crise política e econômica.

É um artigo amplo. Vale conferir. Concordar na íntegra ou em parte é o menos importante. Eu mesmo discordo de algumas sugestões, mas concordo com boa parte dos argumentos e diagnóstico. Repito. Vale conferir!

Sem um Estado forte, outro Poder mandará, por André Araújo
O Brasil está em uma crise política, econômica e social de caráter histórico. A raiz da crise é o ENFRAQUECIMENTO do Estado nacional, hoje submetido a forças desintegradoras que  agridem o funcionamento e a estabilidade de um dos maiores países do mundo.
Um novo governo, seja ele de esquerda, centro ou direita não governará nesse quadro caótico.
Ou o poder se recentraliza ou o Brasil será ingovernável, correndo sérios riscos de ruptura das colunas de integridade construídas em séculos pela Coroa ibérica, pela Igreja Catolica e especialmente pelas forças armadas, fundamentais na repulsa às invasões holandesa e francesa, às incursões castelhanas, na luta pela Independência e na submissão de rebeldias internas, forças desintegradoras que de norte a sul contestaram o Estado colonial e nacional.
Nenhum desses movimentos rebeldes poderia ter sido enfrentado se o Estado brasileiro não fosse forte por índole e propósito. O Brasil nasceu como nação pelas mãos do Estado fundador, anterior à própria formação da nacionalidade, o Estado antecede à Nação.
O Imperador Dom Pedro II era o símbolo da solidez do Estado brasileiro, o ponto de união e convergência em seis décadas quando os riscos potenciais de ruptura do Estado foram muitos e de toda ordem. Foi o Império com sua legitimidade histórica que impediu a fragmentação do território nacional, como ocorreu na América espanhola, dividida em 17 paises.
Na Primeira República, os Presidentes foram fortes e esmagaram incontáveis movimentos de contestação ao poder central, capitais foram bombardeadas ou invadidas como Salvador, São Luis , Fortaleza e São Paulo, rebeldias regionais não foram admitidas contra a República.
Revoltas violentas  foram enfrentadas por todo lado, como a Farroupilha, a do Contestado, a do Acre, que resultou na sua anexação pelo Brasil, o amplo e duradouro movimento dos Tenentes de 1922, a rebelião de 1924 em São Paulo. Já a Segunda República enfrentou revoltas em São Paulo em  1932, dos comunistas no Rio e em Natal em 1935 e com o desfecho do Estado Novo em 1937, etapa máxima da centralização do Poder do Chefe de Estado, figura simbólica  como sucessor do soberano, criando as condições de um enorme desenvolvimento social e econômico do Brasil de 1937 a 1975, regimes sequenciais ao regime varguista de 1937.
Contestação judicial ao Governo Floriano pelo STF levou à celebre frase do Presidente Floriano Peixoto ao ser ameaçado pelo Supremo “ mas quem é que dará habeas corpus ao Supremo?”
Hoje o poder da Presidência, que deveria ter as características de poder superior aos demais no sentido de seu exercício de comando operacional do Governo, está ABAIXO em poder de outras três torres de comando oficiais: o Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria Geral e a Policia Federal. Ao invés do poder dos canhões, essas três torres se utilizam de INQUÉRITOS, que podem abrir contra qualquer  autoridade em qualquer numero e sob sua exclusiva vontade, sem contraponto, contestação ou bloqueio, poder que não tem o Executivo ou Legislativo, cujas regras podem ser contestadas judicialmente enquanto normas do Supremo não tem instância superior de controle e inquéritos da Policia ou da Procuradoria produzem efeitos políticos a partir do momento de sua divulgação. Formou-se assim uma assimetria que transforma a Presidência em poder refém de outros, enquanto os demais não dependem em nada da Presidência ou do Congresso, podem atuar sem contrapesos.
Esses poderes podem abrir quantos inquéritos quiserem, com ou sem motivos e através dos inquéritos comandam os acontecimentos políticos, inalcançáveis por controle externo.
O Supremo incorporou o PODER DE LEGISLAR sobre matérias que não estavam antes em seu alcance e através dessa nova aquisição de poder governa a politica. Exemplo marcante é a decisão do STF de proibir o financiamento empresarial de campanha. É claríssimo, de uma limpidez ímpar, que essa é uma matéria de LEGISLAÇÃO e não de decisão judicial.
Não há na lei proibição ao financiamento empresarial, a proibição foi um exercício ilegítimo de poder pelo Supremo e como esse inúmeros outros temas foram objetos de PODER CRIADO interna corporis, o Supremo gera dentro dele o novo poder que exercita ACIMA DA LEI, como a aplicação da norma do DOMÍNIO DO FATO, que não se encontra na legislação positiva.
Nas novas leis “abertas” de livre  interpretação, as chamadas “leis omnibus” dentro das quais cabem enquadramentos ao infinito ,  se  usa e abusa  de uma aplicação extensiva e ao único arbítrio do julgador,  permitindo penas aterradoras, muito superiores àquelas do Código Penal, penas de 20,  30, 40 ou mais anos por ter ido a um guichê sacar um cheque, tudo entendido como  lavagem de dinheiro,penas  que não se dá a assassinos estupradores, o que demonstra grave distorção do sistema de leis penais e de sua aplicação pratica,  tal disfunção tem clara explicação politica:  essas regras extravagantes e de interpretação aberta como obstrução de justiça, lavagem de dinheiro, anti-corrupção, são LEIS DE PODER,  tem como alvo principal a “classe politica” que fica assim submetida ao comando dos novos soberanos, a arma de guerra é a capacidade desse poder reforçado de aplicar penas que equivalem à prisão perpetua, destruindo a capacidade de reação da classe eleita, colocada contra a parede por inquéritos que podem ser manejados livremente como instrumentos de comando politico.
Ao proibir o financiamento empresarial de campanha o Supremo abre largamente o mercado de inquéritos contra todos os políticos do Legislativo e do Executivo, tornando-os mais vulneráveis e imputáveis. O STF aumenta por sua própria decisão o poder da PF e da PGR para criminalizar condutas de políticos que anteriormente a essa decisão poderiam receber doações empresariais e aumentam largamente o campo de arbitragem do sistema judiciário sobre a atividade politica e seus operadores eleitos pelo voto direto, agora submetidos a um poder maior que a eleição.
MERCADO FINANCEIRO
Mais duas poderosas e  não oficiais  TORRES DE COMANDO estão acima da Presidência: o ente conhecido como “mercado financeiro”, hoje representado pelo Ministro da Fazenda e pela sua divisão blindada, o Banco Central, a ponto de um Ministro que deveria ser um auxiliar do Presidente, por ele nomeado e demissível a qualquer momento, se permitir de forma publica  a MÁXIMA ousadia que jamais um Ministro da Fazenda invocou no Brasil republicano, dizer que se mudar o Presidente ele fica, entendendo-se ele e sua equipe. Essa simples declaração em outros tempos implicaria em imediata demissão mas nestes momentos escuros o Presidente não pode demiti-lo. Na história recente em 1965 o Ministro da Guerra, Costa e Silva, disse algo semelhante  quando fez uma viagem à Europa no início do Governo Militar “viajo Ministro e volto Ministro” o que foi entendido como sendo seu poder ser superior ao do próprio Presidente Castello Branco, que a partir daí encolheu sua autoridade até Costa e Silva ser indicado e empossado realmente como Presidente, sua declaração atrevida previu o desfecho de seu poder superior ao Presidente como Ministro da Guerra.
A entidade “mercado financeiro” por seus porta vozes na mídia, cito apenas uma, Miriam Leitão, vem declarando continuamente que a POLÍTICA ECONÔMICA é independente de quem seja o futuro Presidente, o que é  uma visão historicamente absurda, porque o futuro Presidente estaria amarrado a uma politica econômica de um grupo anterior ao seu Governo?
MÍDIA
Chegamos então à quinta TORRE DE COMANDO sobre a Presidência, a mídia eletrônica, rádios e TVs que são uma concessão do Estado mas se permitem contesta-lo a todo dia. O Estado concede e pode cassar a capacidade de usar as ondas hertzianas, que pertencem ao Estado e são apenas cedidas temporariamente a particulares, o Código de Telecomunicações dá amplos poderes ao Estado para conceder e cancelar essas concessões quando elas forem desvirtuadas de suas finalidades ou em situações onde a transmissão põe em risco a segurança nacional, a cassação não demanda muitas explicações e pode ser executada por simples decreto da Presidência, ninguém é “dono” de uma frequência para radio e tv, é uma regra universal.
O democratíssimo Presidente Juscelino usou de seu poder legal para tirar do ar a TV Tupi quando Carlos  Lacerda ameaçou fazer um discurso para depor o Presidente.
Quando a mídia divulga vazamentos ilegais de processos protegidos por sigilo cabe punição severa. Paises democráticos processaram um Julian Assange por quebra de sigilos que estavam sob proteção do Estado. O que é sigiloso não pode ser divulgado e quem é cumplice da divulgação pode perder a concessão, o Estado está acima do direito subjetivo de transgressões que agridem as leis ,  Governos democráticos não devem ser fracos para dar a pessoas individuais o direito de desafia-lo indo contra a ordem legal  Certas máximas do Poder mesmo em países democráticos fora, esquecidas no Brasil a partir da Constituição de 88, a Constituição que ampliou ao infinito os “direitos” a custa do enfraquecimento do Estado.
POLÍTICA ECONÔMICA
Nas mais sólidas democracias a mudança da Presidência implica na mudança da política econômica, nos EUA isso ocorreu em todas as mudanças de ocupantes da Casa Branca, há grande diferença entre uma politica econômica do Partido Democrata e a do Partido Republicano, na crise dos anos 30, as políticas de Hoover e Roosevelt eram diametralmente opostas, assim como a de Churchill e Attlee no Reino Unido, a saída de Thatcher implicou em grande virada na politica econômica britânica. Como então o “mercado” por seus porta vozes na mídia se atreve a dizer que o próximo Presidente manterá a mesma política recessionista da atual equipe, aliás se atrevem a dizer que a mesma equipe continuará, é muita ousadia e se se a permitem é porque acham que a força do “mercado financeiro” é suficiente para mandar na economia e por extensão, no Governo, no atual contexto parece que conseguem esse feito.
Isso é o contexto de hoje mas não foi sempre assim. O Presidente Fernando Henrique mudou duas vezes o presidente do Banco Central, demitindo o ocupante por telefone, sem se aprisionar ao mercado. O Presidente Itamar Franco mudou em pouco tempo três Ministros da Fazenda, sem dar maiores satisfações ao “mercado”. O Presidente Collor mudou quem e quando quis na área econômica, tirou Zelia para colocar Marcílio Moreira sem pedir permissão ao mercado ou à mídia, o Presidente do Brasil pode muito, é uma Presidência imperial.
OS PODERES DA PRESIDÊNCIA
O aprisionamento atual da Presidência a esses novos poderes e algo novo, não tem precedentes históricos e nem é da natureza do cargo e da extensão de sua autoridade.
Um Chefe de Estado que pretenda governar o Brasil não o fará com essas torres de comando acima dele. Nada tem a ver com ideologia, é uma regra de poder simplesmente, o Comandante não pode ser emparedado pelo sargento corneteiro ou pelo oficial de intendência ou é Comandante incontestado ou o Regimento não vai combater.
A saída lógica é uma aliança do Chefe de Estado com as Forças Armadas para reconduzir as TORRES DE COMANDO a seu devido lugar na politica e na Historia.
Uma Presidência forte e centralizada será essencial para o Brasil enfrentar sérios desafios na cena internacional dos próximos anos. O enfraquecimento da Presidência levou ao apequenamento da projeção internacional do Brasil, hoje uma sombra do que foi durante o Governo Vargas e durante os governos militares, que projetaram a influencia e presença do Brasil no Oriente Médio e na Africa, criaram uma forte indústria de material bélico, prontamente liquidada pelo governo FHC ao rejeitar um papel internacional do Brasil para alinha-lo automaticamente ao sistema de Washington,, assinando o Tratado de Não Proliferação e o Acordo de Cooperação Judiciaria, dois instrumentos de perda de soberania.
Os desafios da economia, da ecologia, dos conflitos regionais, do aumento da pobreza e da concentração de renda exigirão uma Presidência institucionalmente forte e eficiente, o que jamis será com a existência de ilhas de poder concorrente contra a Presidência.
Esta pequena analise é oferecida no contexto da práxis do poder politico no modelo proposto pelo mestre Nicoló Machiavelli, sem qualquer pretensão de  julgamento ideológico ou ético-moral para indagar as razões do poder, apenas pretende-se um olhar sobre o poder em EXISTÊNCIA, ele existindo só poderá operar se tiver comando do território.
Quando os militares depuseram o digno Imperador Dom Pedro II em 15 de novembro de 1889, o Embaixador britânico no Rio de Janeiro Sir Hugh Wyndham perguntou por telegrama ao Ministro do Exterior em Londres, o lendário Marques de Salisbury (Robert Gascoyne-Cecil), vamos reconhecer o novo Governo Republicano do Brasil?
O Imperador era respeitadíssimo em Londres, seu longo reinado tornara-o um figura de peso na Europa e nos Estados Unidos, o Embaixador com razão lamentava o fim da Monarquia mas Lord  Salisbury, três vezes Primeiro Ministro, que comandava o Império Britânico quando abriu o Seculo XX, não derramou uma lágrima sentimental, sé fez uma única pergunta?
Os militares que depuseram o Imperador dominam o território?
SE DOMINAM O TERRITÓRIO RECONHEÇA O NOVO GOVERNO IMEDIATAMENTE.
Domínio para Lord Salibury significava mandar sem contestação ou oposição.
Para Salisbury não importava o justo ou o injusto, a ética, a moral, a tradição ou a ideologia do novo governo que obviamente não poderia ser da simpatia da monarquia inglesa.
Mas a politica é antes de tudo REALIDADE, o Marques de Salisbury operava dentro dela.
Essa é a chave, governa quem domina o território, quem PODE MANDAR é o poder.

quarta-feira, setembro 20, 2017

Aula Inaugural 2º Sem. Mestrado em Desenvolvimento Regional e Ambiente na UFF-Campos, nesta 5ª feira, 14:30

O blog repassa aos seus leitores e colaboradores, o convite do Programa de Mestrado e Desenvolvimento Regional, Ambiente e Políticas Públicas da UFF-Campos, para aula inaugural do 2º Semestre com o professor Carlos Vainer, do IPPUR/UFRJ. O vento será amanhã quinta-feira, 21/09/2017, às 14:30, no Auditório, conforme cartaz abaixo:


A entrega do setor de gás no Brasil: da exploração à distribuição, desintegração no Brasil e verticalização e centralização no plano global através das corporações

O setor de gás do país está sendo desverticalizado e entregue aos pedaço às grandes players mundiais. Gerentes e técnicos destas corporações e do setor financeiro estão escrevendo para o governo, a nova regulação que passará a vigorar no Brasil. Para isso dar fechamento a isto, eles estão reunidos, hoje, no Hotel Grand Mercure Ibirapuera, em São Paulo.

As corporações globais exigem garantia de acesso ao Gás Natural (GN) explorado, controle absoluto sobre a tarifação e flexibilidade para entrar e sair do setor do forma e quando quiserem. Desejam ainda quase que uma independência da ANP e do ministério de Minas e Energia.

Desta forma, o setor mais estratégico de energia hoje (Gás Natural), passará no Brasil a ser controlado pelas grandes corporações mundiais que operam no setor de forma verticalizada, pouco se importando com os programas e projetos das nações.

São players globais que atuam de forma articulada com grandes fundos financeiros que possuem capacidade de aporte de recursos em capital fixo, desde que tenha flexibilidade e garantias de alta rentabilidade.

Esquema gráfico do movimento de desvertivalização e re-verticalização do setor de gás natural (GN) entre o nacional e o global. Autor: Roberto Moraes. Arte Maycon Lima. [1]





















O esquema gráfico cima resume este movimento entre desintegração do setor no Brasil e verticalização e centralização no plano global através da corporações globais (players) do setor.

O governo Temer e seus ministérios garantem e entregam tudo. Desta forma, o governo perderá sua capacidade de regular um setor estratégico que envolve desde a exploração/produção, logística de transporte (em que os gasodutos foram e continuam sendo entregues a estas corporações e fundos), indo até a distribuição e o consumo, obviamente nas cidades e regiões mais adensadas, onde o retorno é muito maior, sem se importar com os projetos industriais das regiões.

A grande corporação que articula este processo junto ao governo brasileiro é a franco-belga Engie, mas tem o apoio de fortes consultorias que atuam no setor de energia como a EY, PwC e Deloitte, com ajuda ainda do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) que apenas tem o país em seu nome.

É oportuno ainda ter clareza que se está trocando um monopólio estatal por um monopólio privado, na medida em que a atuação neste setor não está prevendo competição e concorrência. Uma lástima.


Referência:
[1] Fonte: Tese de doutorado do blogueiro (p.222): "A relação transescalar e multidimensional "Petróleo-Porto" como produtora de novas territorialidades". Março 2017 PPFH-UERJ.

PS.: Atualizado às 15:18: para acrescentar o último parágrafo.

terça-feira, setembro 19, 2017

Fundos já possuem patrimônio de 66% do PIB do Brasil

Os "gênios" do mercado que comemoram os índices e recordes da Bolsa de Valores vão reclamar da democracia brasileira, quando os investidores abutres retirarem as suas aplicações das ações, se o resultado das eleições não garantirem seus ganhos.

E não duvidem que estes mesmos "gênios" estejam tramando a suspensão das eleições, ou formas de garantir seu resultado.

Esta hipótese ajuda a explicar este frisson altista do Ibovespa, em pela crise econômica e política do país.

Para se ter uma ideia de como a financeirzação controla a economia (e junto coopta a política) do país, é só observar os dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Por eles, se fica sabendo que o patrimônio líquido da indústria de fundos atingiu R$ 4 trilhões, valor que equivale à bagatela de 66% de todo o PIB do país.

Sim 2/3 do PIB brasileiro.

No últimos doze meses, a captação dos fundos teve uma aumento de 118%. Isto durante a crise.

Veja para onde foi migrando os dinheiros (excedentes). Do trabalho (salários e direitos sociais) para os rentistas.

Diante de um quadro deste não é difícil entender a trama jurídica-midiática-parlamentar que viabiliza seus interesses através do governo golpista.

E muitos ainda pensam que a questão era estancar os desvios.

segunda-feira, setembro 18, 2017

A maior atração do leilão do pré-sal é a área de Carcará. O Brasil perde só ali mais que o dobro do que os desvios da Lava Jato!

Agora às vésperas do leilão do pré-sal (27 de outubro), gente do setor garante que a área mais atraente e disputada por 17 grandes petroleiras, é exatamente a área vizinha (chamada de unitizável) deste campo de Carcará no pré-sal da Bacia de Santos.

Ou seja, as petroleiras se engalfinhando pelo que sobrou da joia da coroa entregue quase de graça pela Petrobras para a Statoil, no primeiro crime de lesa pátria.

Relembrando o caso
No dia 29 de julho do ano passado, os "gênios" do mercado, hoje na direção da Petrobras, liderados pelo Parente, venderam por US$ 2,5 bilhões, o direito de 66% de participação no bloco exploratório BM-S-8, onde está localizada a área de Carcará, no pré-sal da Bacia de Santos, para a estatal norueguesa Statoil.

O BM-S-8 era operado pela Petrobras (66%), Petrogal (14%), Queiroz Galvão Exploração e Produção SA (10%) e Barra Energia do Brasil Petróleo e Gás Ltda. (10%).

Além da necessidade de reduzir as dívidas, estes "gênios" do mercado alegaram que a produção no campo era complexa e que exigia a padronização de equipamentos para reduzir o custo de investimento operação que, segundo os mesmos, seria difícil de proceder.

As estimativas da Statoil, consideram o campo de Carcará como um ativo de classe mundial. Ele detém cerca de 700 a 1300 milhões de barris de óleo equivalente e a área unitizável no BM-S-8 de pelo menos mais 250 milhões de barris.

O campo de Carcará tem uma das maiores (mais extensas) colunas de rocha-reservatório de todo o pré-sal. Assim, a briga no leilão é para ficar com o complemento daquilo que a Petrobras entregou, quase de graça, para a petrolífera norueguesa Statoil.

Assim, vou repetir o que disse há um ano.

Neste caso "legal" está sendo muito mais danoso que o ilegal”.

A entrega da Joia da Coroa do campo de Carcará produz um prejuízo que é praticamente o dobro do que toda a Lava Jato.

domingo, setembro 17, 2017

Aprofundando a análise do movimento espacial dos royalties no litoral do ERJ

Há um ano, o blog publicou aqui neste espaço uma nota com o título "O movimento espacial na receita dos royalties entre os municípios do ERJ" com um mapa (que republico abaixo).


























Pois bem, hoje, quase um ano depois, jornal O Globo, publicou aqui, uma ampla matéria dos jornalistas Ramona Ordonez e Bruno Rosa com o título "Pré-sal cria novo mapa dos royalties". [1]

A reportagem reafirma esta mudança espacial da receita dos royalties do petróleo, na direção Sul, com o aumento da produção nos campos da Bacia de Santos, incluindo as porções das reservas do pré-sal, trazendo dados e gráficos atualizados (2016 e 2017) sobre a receita dos royalties, conforme mapa e infográfico abaixo. Faz isto não apenas, com o que passei a chamar de Circuito Espacial do Petróleo e dos Royalties do ERJ, mas também com o circuito equivalente no litoral paulista, o CEPR-SP.

Fonte: Infográfico de O Globo, em 17/09/2017 [1].



































































Mais do que a necessidade em se registrar esta mudança espacial, eu tenho insistido, nos debates e mesas-redondas das quais venho participando, sobre a importância em se procurar compreender o fenômeno petrorrentista, como sendo distinto da natureza da Economia do Petróleo.

Na análise que fiz em minha pesquisa (já citada aqui inúmeras vezes [2] sobre o Circuito Espacial do Petróleo e dos Royalties do ERJ - CEPR-RJ), foi produzida uma matriz multidimensional, mostrando que o efeito desta cadeia produtiva sobre o território é diferente daquilo que eu chamo com os verbetes de: "Economia do Petróleo" e "Economia dos Royalties".

A primeira "Economia do Petróleo" é aquela ligada às atividades produtivas e de apoio da indústria do petróleo. A segunda, a "Economia dos Royalties" é rentista e se desdobra da primeira, sem a qual ela não existiria.

Mesmo que elas se misturem no caso de alguns municípios, como Macaé e agora, também São João da Barra, para efeito de compreensão sobre de análise da sua repercussão sobre o território, elas são distintas.

Não compreender esta distinção dificulta e embaralha o diagnóstico que se tenta fazer para compreender as questões referentes ao desenvolvimento regional e à busca de apoio às novas atividades produtivas nestes e noutros municípios.

Vale lembrar, que mesmo sem ter clareza disto, os processos que os municípios vizinhos à Macaé desenvolveram, ao buscarem a implantação das chamadas Zonas Especiais de Negócios (ZEN), com a oferta de áreas e incentivos fiscais para atrair empreendimentos ligados à cadeia produtiva do petróleo é a tentativa de auferir ganhos com empregos e tributos com a Economia do Petróleo.

Esta iniciativa que nasceu em Rio das Ostras, depois se espraiou, como menos resultados, para outros municípios vizinhos, mesmo que com outras denominações, como foi caso de Quissamã, Carapebus e até Conceição de Macabu.

O movimento significava um esforço do município em tentar se juntar à Economia do Petróleo, evitando assim, de certa forma a "petrodependência", mesmo que isto seja ainda bastante diferente do que poderia vir a ser a implantação de projetos de diversificação econômica, quando se busca atuar em outros segmentos da economia que não os bens naturais, que com se sabe são finitos.

Para uma melhor compreensão de algumas características de cada uma destas duas economias, abaixo republico a matriz multidimensional da Economia do Petróleo e da Economia dos Royalties:

Fonte: P. 413-414 [2]

A reportagem de O Globo traz dados que busca fazer comparações sobre o uso dos recursos dos royalties em Maricá e Niterói, com relação às experiências de Macaé e Campos, entre outras.

Aprofundando um pouco mais é possível identificar que Niterói, com bases e infraestruturas portuárias de apoio à exploração do petróleo, com terminais instalados na Baía de Guanabara, mais estaleiros e a indústria naval, o município se alinha mais à Economia dos Royalties, mesmo que, como Macaé também vinculada à petrorrenda dos royalties do petróleo. Já o caso de Maricá, hoje, tende a se alinhar mais ao caso do município de Campos, que até este movimento na direção sul da Bacia de Santos, era o maior petrorrentista do país.

Enfim, o objetivo desta postagem é trazer ao debate uma forma de análise que possa ajudar a uma melhor compreensão dos processos em curso em algumas das cidades litorâneas que possuem vínculos com a exploração de petróleo, sob o ponto de vista da indústria petrolífera, ou dos resultados da renda dos royalties, gerados para os cofres dos municípios.

[1] Matéria de O Globo em 17/09/2017: "Pré-sal cria novo mapa dos royalties". Link: https://oglobo.globo.com/economia/pre-sal-cria-novo-mapa-dos-royalties-21832755.

[2] Tese de doutorado do blogueiro (p.400-471): "A relação transescalar e multidimensional "Petróleo-Porto" como produtora de novas territorialidades". Março 2017, PPFH-UERJ.

PS.: Atualizado às 19:58 para incluir o infográfico da reportagem de O Globo [1].

Campos em 1951

Este vídeo está circulando nas redes sociais. É um institucional da cidade de Campos feito em 1951. Não sei exatamente a quem dar os créditos desta pesquisa que o localizou.

Parece se tratar de um esforço do projeto chamado de "Enciclopédia Campista", do qual o blog não tem mais detalhes. O vídeo me foi enviado pelos professores Hélio Gomes Filho e José Carlos Salomão que acrescentaram o título e a breve descrição que seguem abaixo.

Vale dizer que a Usina Santo Amaro comentada era a que os mais novos conheceram com a Usina Baixa Grande na Baixada Campista. Vale conferir. A narração reproduzia um modelo que ficou conhecido como do "Repórter Esso":

Campos dos Goytacazes - 1951
Amigos conseguimos, e ai vai mais um vídeo para a Enciclopédia e para todos os nossos amigos, este vídeo nos foi indicado por um amigo da página, Paulo Barreto, e olha que maravilha!

Podemos ver a "Garre Leopoldina railway", a "Usina de Santo Amaro", o "Centro da Cidade", os carros de bois, "O colégio Saldanha da Gama", as pontes de ferro que ligam "Campos ao distrito de Guarulhos" como era chamado e muito mais!


PS.: Atualizado às 20:12 para repassar informações obtidas em comentários de colaboradores no perfil do Facebook. A produção do filme é da antiga Agência Nacional e faz parte do acervo do Arquivo Nacional.

sexta-feira, setembro 15, 2017

Ah, as coincidências...

Muita gente ainda não quer entender porque o Brasil entrou na geopolítica do petróleo.
Tenho sido repetitivo aqui sobre este tema. Porém, não é possível deixar os fatos de lado que vão confirmando esta interpretação.

Veja, as duas notícias hoje na mídia corporativa:

1 - "A Shell vai encerrar a produção de petróleo no Iraque após quase cem anos. A empresa decidiu abandonar a exploração em dois campos neste país do Oriente Médio - riquíssimo em petróleo -, segundo seus dirigentes, para “focar em negócios que considera mais rentáveis no desenvolvimento de recursos em gás”.

Pois bem, neste mesmo dia...
2 - "A diretora financeira mundial da petroleira anglo-holandesa, Jessica Uhl, relata que a empresa pretende investir ao menos US$ 10 bilhões (R$ 31,5 bilhões) no país até 2021 e que mira novas oportunidades de expandir seus negócios no mercado brasileiro, tanto na exploração e produção de petróleo, quanto no setor de gás natural e geração de energia. No Brasil, especificamente, estamos olhando para oportunidades em águas profundas".

A empolgação é tanta que a diretora diz ainda... "a depender do sucesso da companhia nos leilões, os investimentos previstos para os próximos anos no Brasil, no valor de US$ 10 bilhões, podem atingir cifras ainda maiores".

Ah, as coincidências...

Breve história do rentismo brasileiro, por Nakano

Yoshiaki Nakano é professor da FGV-SP e um técnico com bases históricas no PSDB paulista. Foi secretário estadual e diretor da Fundação de Pesquisas (Fapesp) em alguns dos vários mandatos tucanos. Porém, há algum tempo, junto com o professor Bresser Pereira se afastou do partido, por entender que o mesmo tomou rumo liberal abandonando os ideais da social democracia.

Na última terça-feira (12/09/17) ele escreveu um artigo no Valor (P.A15) com o título "Economia Política da alta taxa de juros".[1] O artigo é bastante interessante. Curto e objetivo.

Nele, o professor Nakano desenvolve uma interessantíssima hipótese da origem e evolução "desta longa tradição histórica e cultural brasileira, sobre a necessidade de "juros altos" e "taxa de câmbio valorizada" que KUPFER, David chama de "doença brasileira".

Nakano explica a origem da industrialização a partir dos fazendeiros de café. Vai além e mostra como esta mentalidade colonial do fazendeiro de café (poderia ser de açúcar no ERJ) em depositar os excedentes da safra no banco e ir para o exterior por meses. Daí sai depois a ideia de industrialização para substituição de importados (neste caso basicamente em SP) a que estavam acostumados pelos usos nas temporadas do exterior...

Adiante, Nakano prossegue mostrando como a classe política e burocrática brasileira foi sendo formada com esta forte herança colonial e "nunca chegou a formular um verdadeiro Projeto Nacional de Desenvolvimento" como os EUA, a Alemanha, Japão e mais recentemente, os tigres asiáticos.

Enfim, é melhor ler o próprio artigo. O texto e sua principal hipótese ajudam a explicar o processo histórico, não apenas de nossa economia política, mas da elite dirigente deste campo que luta e atua como pode, para conservar seus interesses, em detrimento de um projeto de nação. Vale conferir.


Economia política da alta taxa de juros | Yoshiaki Nakano
Na medida em que a taxa de inflação sofreu uma forte queda e está abaixo da meta, a taxa de juros do Banco Central do Brasil vem sofrendo significativa queda. Na última reunião, o Comitê de Política Monetária reduziu a taxa Selic para 8,25% ao ano. As expectativas são de que o Banco Central pode ainda reduzir mais um ponto percentual. Ainda assim, a taxa real de juros Selic continua bastante elevada, quando comparada aos padrões internacionais.

Em muitos países desenvolvidos, a taxa nominal de juros é negativa, em outros próxima de zero, tal a abundância de liquidez existente no mercado financeiro internacional. Mesmo nos países em desenvolvimento, incluindo a América Latina, onde a taxa de inflação é mais elevada, a taxa nominal de juros, considerada normal, está em torno de 3 % ao ano. Por que o Brasil é tão diferente do resto do mundo?

A hipótese que desenvolvo a seguir é que taxa de juros elevada e taxa de câmbio apreciada é longa tradição histórica e cultural brasileira, portanto, enraizada profundamente na economia política brasileira, do que propriamente em razões puramente economico-financeiras. É uma tradição cultural que ainda não foi explorada devidamente.

Essa preferência no Brasil por taxa elevada de juros tem longa tradição histórica, pois a industrialização e o desenvolvimento do capitalismo brasileiros não conseguiu ainda rompê-la. De fato, o negócio de café no Brasil não teve nenhuma similaridade com o desenvolvimento da indústria de transformação em países desenvolvidos, em que o empresário se engajava num Projeto Nacional de construção de uma estrutura produtiva competitiva para fazer o "catch up". Neste caso, tratava-se de construir uma Nação e o patriotismo o seu veículo. Nesta situação, o empresário tinha que enfrentar a competição, com melhoria permanente dos processos produtivos, reduzindo os custos de produção e melhorando a qualidade de seus produtos.

No negócio de café, para se tornar um fazendeiro bastava ter a posse da terra e inicialmente escravos, posteriormente imigrantes parceiros, que geravam riqueza, colhida uma vez no ano. O volume de riqueza gerada e a produtividade dependiam da qualidade do solo, de sol e chuva, sob os quais ele não tinha nenhum controle, e dos preços no mercado internacional, cuja oscilação também não tinha controle.

O fazendeiro de café se assemelhava mais a um rentista do que um produtor preocupado com redução de custos. Seus lucros dependiam da extensão da sua posse de terras e de variáveis fora de seu controle, não do seu empreendedorismo ou espírito inovador. Apesar do Brasil ser monopolista no mercado de café internacional, somente em 1916, com o acordo de Taubaté, resolve interferir neste mercado.

Uma vez colhido o café, o seu resultado financeiro tinha que ser depositado num banco, para consumir ao longo do ano seguinte, daí a preferência por juros elevados. Como o fazendeiro do café tinha uma mentalidade colonial e, para se diferenciar do resto da população, consumia importados e passava parte ano na Europa, daí a sua preferência por taxas de câmbio apreciadas. Portanto, nada mais natural e racional para a poderosa classe de cafeicultores do que a preferência por altas taxas de juros e taxa de câmbio apreciada. É esta tradição que herdamos e sobrevive até hoje no Brasil.

A classe de capitalistas industriais que surge se desenvolve no Brasil nos interstício da economia cafeeira para substituir importações, portanto voltada exclusivamente para o mercado doméstico. A sua lucratividade dependia da proteção natural e das tarifas de importação impostas pelo governo. Portanto, é uma classe empresarial mais associada ao governo, do que com espírito inovador alimentado pela competição. A realidade é que ainda não conseguimos, mesmo depois da abertura econômica que ocorreu em 1990, formar uma indústria voltada para a inovação competitiva.

A classe política e a classe burocrática brasileira, com forte herança colonial, refletia este quadro e não chegou a formular um verdadeiro Projeto Nacional de Desenvolvimento, a exemplo do que aconteceu na Alemanha, EUA e Japão, por exemplo. Nem seguiu o exemplo dos tigres asiáticos. Acomodou-se em viver sob as benesses do Estado e adaptou-se à globalização, tornando-se um associada dependente das forças dominantes globalmente.

A partir da crise dívida dos anos 80, com a hegemonia do setor financeiro, optamos por um modelo de integração financeira. Neste modelo, trata-se de praticar deliberadamente taxas elevadas de juros e taxa de câmbio apreciada para atrair capitais financeiros para o país, no pressuposto de que o mercado, sendo eficiente, alocaria estes recursos em investimentos produtivos, na ponta longa da curva de juros onde a taxa de retorno é maior e refere-se aos investimentos em capital físico Wicksell.

Nada disso aconteceu, tivemos um período de semi-estagnação e desindustrialização. Com diferencial tão elevado na taxa de juros, atraímos capitais de curto prazo para ganhos de arbitragem. A taxa de investimento, depois da liberalização de capitais não aumentou, ao contrário tem apresentado uma tendência declinante, particularmente se removermos o período do boom de commodities.
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Yoshiaki Nakano, com mestrado e doutorado na Cornell University, é professor e diretor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP).

PS.: Atualizado às 13:10 de 16/09/2017: Para corrigir distorções e de concordância em algumas partes do texto introdutório ao artigo do professor Nakano.