quinta-feira, setembro 21, 2017

China exporta US$ 342 bilhões a mais do que importa dos EUA: o que isto tem a ver com o petróleo e a geopolítica?

Estudando um pouco mais sobre o capitalismo contemporâneo e sobre as redes globais e a forma como elas atuam sobre os territórios, com dinâmicas em várias dimensões, eu me deparei com um dado bastante interessante.

A distância entre a produção material da China e os EUA refletida nas exportações entre estas duas grandes nações. Em 2016, a China exportou US$ 347 bilhões a mais que os EUA exportou para a China.

Observando o processo histórico é possível recordar que o mesmo teve início na década de 70/80. Desde esta época os EUA foi empurrando a produção material para o exterior. Inicialmente para o Japão. Porém, manteve controle sobre o sistema financeiro que administrava esta produção.

Assim, a indústria americana foi sendo “deslocalizada” mais recentemente para a China, como mais um espaço de "outsourced". Tudo isto feito com o padrão dólar.

Fonte: http://chinalinktrading.com
Mas devemos convir que US$ 347 bilhões de déficit comercial dos EUA com a China é muito grande. Valor que equivale ao volume da décima maior nação exportadora do mundo. E, aproximadamente, o dobro de toda a exportação brasileira, também no ano de 2016.

No meio de todo este movimento, a dívida dos EUA foi se elevando. Hoje, alcança cerca de US$ 20 trilhões e não para de crescer. Desta forma, a China sabe que este déficit comercial dos EUA tem como barreira e controle, o padrão dólar.

Os chineses sabem que precisam romper este padrão único com a moeda americana. A China também sabe que o rompimento deste padrão dólar no comércio internacional, pode alterar muita coisa no jogo de xadrez da geopolítica mundial.

Assim, a ideia da China passa a ser “deslocalizar” não a produção material (industrial), já obtida, mas o poder e o controle financeiros dos bancos de Londres e Washington, construindo uma alternativa.

É neste compasso que entra o setor de petróleo. A China é o maior importador de petróleo do mundo, a mercadoria mais negociada no globo, sempre em dólares.

A China e nem a Rússia não veem motivos para isto e já articulam via Brics alternativa ao petrodólar. O petrodólar que nasceu em 1975, através do acordo dos EUA com a Arábia Saudita rompendo até então a exclusividade da equivalência com o padrão ouro.

Negociações, antes inimagináveis, entre a China e a Rússia avançam muito rapidamente para uma alternativa. E ela inclui o uso - já em vigor - de contratos futuros de petróleo, com poder de conversão em ouro.

Assim, a alternativa de uma futura moeda internacional poderia ser também viável. Ela teria lastro em ouro - que a China é hoje a maior produtora mundial - e ainda potencial para viabilizar uma cesta de várias moedas.

Tudo isto pode deslocar também a hegemonia unipolar americana que assim poderia também afastar o sonho de Trump focado na expressão da campanha eleitoral: “America first”.

É certo que mudanças estão sendo operadas nos alinhamentos mundiais entre as nações. Porém, saber se a situação segue evoluindo para conversas e negociações ou rompimentos, só o tempo dirá.

Na melhor hipótese podemos ter aí as bases de uma nova regulação financeira internacional. De outro lado, mais pressão e tensão.

No meio deste jogo vê-se que a Europa, em meio às confusões, pode estar contribuindo para importantes mudanças na geopolítica do poder, com um novo dinamismo na direção Eurásia. Lembrando que o poder sobrevive e se movimenta por conta das assimetrias e nesta dinâmica busca sempre a expansão.

Um comentário:

Ricardo Grigoli disse...

Por isso tanto empenho e interesse do atual governo brasileiro em abrir e conceder áreas de exploração mineral por aqui. Entregar parte do petróleo para exploração das petroleiras internacional no meu ponto de vista, assim como a abertura das áreas para mineração também é atender a pressões do capital internacional. Um pouco de vergonha na cara e nacionalismo não faria mau nenhum para esses canalhas que estão no poder. O Brasil tem condições de se ternar uma das maiores potências mundiais nos próximos 20 anos, e isso só depende das políticas que o estado decidir colocar em prática.