sexta-feira, junho 23, 2017

O que é o mercado e porque ele acha que "o Brasil é uma ilusão de ótica"

Eu tenho comentado aqui com alguma frequência sobre as forças do mercado e sobre a sua atuação para a captura e controle da política e do Estado no Brasil atual.

Captura que deseja a remoção de direitos trabalhistas e previdenciários, sob o argumento de reformas modernizadoras.

Não se trata de algo abstrato. 

É real e parte do sistema político capitalista.

Convive-se, mas também - e cada vez mais - se resiste a ela.
 
Uns querem liberá-la e julgam que ela é autorregulatória. Outros, julgam que sem um Estado regulador, o quadro seguirá desandando. 

Não me refiro nem aos ganhos dos setores produtivos, cada vez mais oligopolizados, mas a sanha rentista dos donos dos dinheiros.

A análise dos movimentos de alguns grupos econômicos a que tenho me detido investigar, permite interpretar uma visão totalizante.


Sobre o assunto, eu escrevi dois breves textos em meu blog, nos dias 19 e 29 de maio de 2017, sob o título "Esquema do sistema político e intercapitalista do Brasil contemporâneo". 

De certa forma, eles poderiam ser resumidos pelo esquema gráfico ao lado que incluí nas duas postagens.

Hoje, eu trago um dos muitos exemplos do que se tem visto, daquilo que a sanha rentista propõe como modelo de sociedade para o Brasil.

Hoje, no caderno de Finanças do Valor (P. C10), uma entrevista de página inteira com o gestor de um fundo de investimentos, considerado pelos jornalistas entrevistadores como um dos mais antigos e bem-sucedidos do mercado brasileiro: "O Brasil é uma ilusão de ótica".

Trata-se do Luis Stuhlberger, gestor do Fundo Verde.

Em meio a dezenas de comentários sobre a crise política e econômica, o gestor do fundo diz:
"O Brasil é isso, um Estado grande. E tem limite. Uma das aberrações que esse sistema trouxe é: como numa crise desse tamanho os salários não caem? Uma pista é que o salário mínimo era 25% do salário médio, agora está quase 50%, é muito difícil".

Mais claro impossível.

A breve fala, para não citar outras partes, mostra a quem e como servem as crises. 

Recolher os excedentes da economia incluindo a parte do trabalho.

Querem um mundo para poucos: "tem limites". 

Trabalhador apenas para gerar excedentes e aumentando a produtividade com menores salários.
Assim, o mundo rentista estica a corda. 

Como não é possível ganhar eleições e cooptar e controlar o poder político nessa direção, daí surgem os golpes e os financiamentos eleitorais que deturpam a democracia.

Desta forma avança-se, sem pudor, para a plutocracia (governo dos e para os ricos) se afastando a cada dia mais da abstrata democracia.

Há estágios intermediários entre este modelo e o socialista, ou pós-capitalistas. 

O período pós-guerra (2ªGM) foi chamado de estado de bem-estar-social, mediado por um modelo chamado de social-democrático.

Porém, eles se esvaem cotidianamente do mundo real, nos espaços nacionais das antes chamadas democracias centrais da Europa e EUA.

No Brasil entre 2013 e 2015, viveu-se apenas uma bruma deste desejo de menor desigualdade e de busca deste estado de bem estar social.

A irrupção da crise da Espanha, Grécia, Brexit, Trump e o caso brasileiro são exemplos deste sistema político e da inter-relação capitalista do mundo contemporâneo.

PS.: Atualizado às 20:35 para algumas correções no texto.

Um comentário:

Charles Cavalcante disse...

Com muita propriedade e clareza você Roberto Moraes,contribui para o debate e chama a luz para a discussão de tamanha importância.
Exportar commodities como o petróleo cru (com o valor do barril em baixa) e contando com disponibilidade de refinar esse óleo no país isso é anti-econômico. O desenvolvimento nacional com outras matrizes energéticas devem ser patrocinados com os lucros da venda de derivados. Ainda temos um grande mercado consumidor nacional que está retraido nessa conjuntura atual. Mas devemos continuar a investir em nossos negócios rentáveis e sustentáveis.