sexta-feira, junho 30, 2017

Usina Canabrava: financiadores e credores uma conta que não fecha

Nestes últimos dias, fornecedores e trabalhadores que possuem créditos com a usina/destilaria Canabrava instalada nos limites e divisa dos municípios de Campos dos Goytacazes têm manifestado repúdio e manisfestado contra os gestores da empresa. Reclamam seus direitos.

A empresa repete o que várias outras empresas deste segmento sucroalcooleiro veio reproduzindo ao longo das últimas décadas. Mesmo sendo contempladas por vários e generosos empréstimos, seus donos ou sócios não pagavam as dívidas e forma deixando fornecedores sem pagamento. O caso dos trabalhadores sempre foi o mais grave. Milhares ficaram sem salários e até sem suas carteiras de trabalho.

Assim, hoje, dezenas destas empresas da região devem à União, por sonegação de impostos, FGTS e Previdência Social mais de R$ 25 bilhões, quantia muitas vezes superior aos desvios apurados pela tão propalada Operação Lava Jato. (Veja aqui postagem do blog sobre o tema em 14 mai. 2017)

Por conta destas questões, o blog resolveu levantar dados sobre a origem e financiadores do empreendimento. É difícil imaginar que efetivamente se tenha ali tenha investido a quantia de quase R$ 1 bilhão, conforme apurado e descrito abaixo.

As fontes das informações são várias. Desde documentos de órgãos públicos, processos judiciais e dezenas de informações jornalísticas, ao longo dos últimos anos. Assim o blog disponibiliza e compartilha com os credores e a sociedade em geral alguns destes dados.

Os negócios e o financiamento da Canabrava
A Canabrava tem capacidade para moer cerca de 300 toneladas por hora. No ano de 2012 moeu um total de 500 mil toneladas de cana. Para este ano a meta é de que alcance a marca de um milhão. O álcool produzido vai para o grupo Raízen (Ipiranga, Shell e a Ale).

Em 2013, este blog comentou aqui que a Canabrava informou sobre a compra, por R$ 65 milhões, da Usina Santa Cruz, pertencente ao grupo J. Pessoa que estava parada e em processo de recuperação judicial desde 2010. Na ocasião a Canabrava falava em investir R$ 100 milhões na Santa Cruz para reabrir a usina em 2014, onde pretendia produzir apenas açúcar.

Vista aérea (2012) da Canabrava em São Diogo,
divisa entre Campos e SFI
A Canabrava chegou cogitar também a colocação em funcionamento da usina de Quissamã onde funcionaria a Canabrava-2, fazendo investimentos de R$ 300 milhões, para processar 1,5 milhão de toneladas de cana-de-açúcar e produzir 120 milhões de litros de álcool, que assim como a planta de São Diogo também teria uma planta de cogeração de energia elétrica, com capacidade de 44 megawatts (MW).

O grupo Canabrava recebeu quase R$ 700 milhões dos fundos de pensão, segundo relatório final da CPI que tratou do tema. Só a Petrus (Petrobras) e Postalis (Correios) investiram R$ 478 milhões através do FIP (Fundo de Investimentos em Participação (FIP) Bioenergia. Petrus com R$ 134,2 milhões e Postalis R$ 343,8 milhões. O FIP tem ainda como investidores o fundo da Serpro e do Faceb (Cia. de Energia de Brasília). Nesta confusão de trocas de quotas teria havidos estes esquemas de debêntures entre os fundos de pensão, o FIP Bioenergia e ainda um outro fundo chamado de BNY Mellon.

Consta que desde abril deste ano, estes fundos que possuem o controle sobre a empresa contratou o banco Brasil Plural para gerir a empresa, por conta das enormes dívidas trabalhistas e tributárias (e também o Fundecam). Os bancos estão fazendo seis “due diligences” para analisar estes passivos e questões (fiscais, tributárias, ambientais, jurídicas, etc.) para tentar voltar a tocar a Canabrava. Há informações que no meio deste imbróglio, os antigos controladores teriam arrendado a empresa.

O certo é que é muita grana para fazer tão pouco. O dinheiro parece ter tomado outro destino - incluindo o do Fundecam - assim como os recursos que os governos por décadas colocaram nas usinas da região.

Se já não bastasse tudo isto, em novembro do ano passado, a Canabrava se envolveu numa ocorrência de venda de álcool que a ANP teria identificado a existência de metanol (que é proibido pela sua toxicidade). A ANP autuou postos, as distribuidoras e interditou a destilaria apontada como fornecedora do álcool e abriu processo administrativo contra a empresa e também enviou ao MPE o processo que abriu uma ação civil pública.

Nesta ação do MPE, o promotor pede a suspensão da inscrição estadual das empresas, com a suspensão dos benefícios fiscais e financeiros concedidos pelo governo estadual. Em função disto tudo, no dia 15 de novembro passado a ANP vistoriou a Canabrava interditando a usina por um mês.

Ou seja, empresa nova e os velhos esquemas, onde o setor privado fica pendurado nas tetas dos governos com isenções, empréstimos e dinheiros de fundos – em esquemas de finaceirização – onde o dinheiro some, junto com a produção. E pior. São quase mil trabalhadores com salários sem receber, sem FGTS, etc... O mesmo que fizeram o grupo Othon, Cambaíba, etc.

E no final o problema são os partidos e a política. Quem captura quem?

2 comentários:

Vitor disse...

é isso aí: politicos, partidos e empresários fazem os esquemas e quem fica na m 'é nóis"

douglas da mata disse...

Meu caro, faltou você acrescentar a sua ótima análise:

O papel de cafetões dos meios de comunicação, que, como sempre, alardearam o "pogreço" que os "empreendedores" trariam...

Espelhinhos e miçangas, por milhões e milhões de nossas riquezas...

Colonáveis e colonistas babando o saco dos "colonizadores"...

Pois bem, como no caso do senhor "x", e em tantos outros casos (ver Fundecam), o Erário ficou com o mico, e os "desbravadores" e seus asseclas, com lucros e comissões...

Qualquer um que ousasse questionar, os impropérios de sempre...