sábado, fevereiro 18, 2017

O colonialismo extrativista pós-moderno

Saskia Sassen é professora da Universidade de Columbia, nos EUA, pesquisadora do tema “pensamento global” e autora de diversos livros. Entre os mais conhecidos estão: Cidade global” e “As cidades na Economia Global” (1998). O seu último livro foi lançado nos EUA e Europa em 2014, e só no ano passado foi publicado no Brasil “Expulsões: Brutalidade e Complexidade na Economia Global”, onde descreve ideias bastantes interessantes.

Por conhecer um destes livros, eu adquiri este mais novo. Ele está na estante, apoiado na prateleira, daqueles separados para serem ainda lidos. Porém, é na entrevista com o jornalista Diego Viana "Os invisíveis do sistema" (Valor, Caderno Eu & Fim de Semana, 10/02/17, P. 4-7), que eu tive o interesse despertado para o que considero um conceito novo e interessante.
(Este caderno semanal, enquanto não acabam, ainda salva o jornal, sic)

Ao falar dos circuitos do capital (tema que venho tentando me aprofundar), Sassen diz que vivemos numa "lógica extrativista" que seria um novo colonialismo, mais perverso que o dos antigos impérios que ainda deixavam algo. Assim, se teria hoje um novo “colonialismo extrativista”.

Sassen cita como exemplos do que seria este colonialismo extrativista, o Google e o Facebook: “eles coletam dados disponíveis sobre nós, cria pacotes a partir deles e os vende a outras empresas. Isto é extração”.

Ela insiste ainda que processo similar se dá com as altas finanças (do andar de cima) e o sistema financeiro. A metáfora é didática para o entendimento do mundo contemporâneo. Há hoje, uma nova forma de garimpo de tudo aquilo que possa ser mercadoria.

Seja o minério ou o petróleo como recursos naturais extraído pelas grandes corporações, ou modernamente, as informações e os excedentes dos dinheiros locais garimpados pelas players em interação com os fundos financeiros.

Assim, no contemporâneo colonialismo pós-moderno se segue sugando e lucrando no movimento do capital que desdenha dos espaços encurtados pelas vias informacionais.

Saskia lembra que, desde os anos 80, as privatizações e as desregulamentações favoreceram ao surgimento deste novo extrativismo. Interpreto que ela tem razão. Na mesma direção, eu tenho comentado sobre o esgarçamento dos limites desta força que ignora a ampliação das desigualdades e avança com brutalidade para expulsar os sobrantes tornados invisíveis.

Sassen, também recorre a uma comparação com a era keynesiana, quando buscou superar a crise do capitalismo, pós-29. Hoje, com as crescentes privatizações e as forças contra as regulações que ainda haviam no mercado, se produziu a passagem de uma dinâmica que incluía para uma dinâmica que exclui.

Sem dificuldades, é possível enxergar no Brasil e no mundo essa cruel realidade, num processo que produz cada vez mais “sobrantes” que foram se tornando invisíveis porque seguem fortemente controlados, através da força e da brutalidade do Estado.

Contam para isto com as narrativas midiáticas que, diuturnamente, amedrontam aqueles do “meio da pirâmide”, com as já conhecidas ameaças do terrorismo e da barbárie, a serviço do “andar de cima”.

Assim, o "colonialismo extrativista" surge como aqueles conceitos que têm potência para ajudar a pensar e a refletir sobre o mundo contemporâneo.  Por isto, resolvi partilhar, na rede em meio às contradições que o fato em si traz embutido. Desta forma, sigamos em frente, sempre criticamente, aprofundando também sobre as contradições.

Um comentário:

douglas da mata disse...

Não é um conceito novo, embora adaptado...

O fetiche do capital, de Marx, depois moldado e associado a noção de imperialismo, por ele, e depois por Lênin dão boas pistas...

Lógico que eles não imaginavam que o processo de transformação da riqueza e sua acumulação orgânica em itens subordinados a virtualidade dos ativos e suas alavancagens, na pós-terciarização da economia...