A relação entre Finanças e Tecnologia é um "fator-chave" para entender o capitalismo contemporâneo. É uma relação cada vez mais densa e imbricada, que demanda uma colossal infraestrutura digital de datacenters, cabos, redes satélites, etc.
O discurso e a ilusão da virtualidade, desconectada do
território, já passaram. O ambiente FiDigital, entre o físico da economia real
e o digital, depende da conectividade das redes com fluxos de dados que
circulam como commodities, criando novos mercados que ampliam os ciclos de
reprodução.
O Pix como meio de pagamento e transferências digitais traz enormes facilidades. Hoje, segundo o Banco Central (BC), 90% das transações e movimentações financeiras são feitas por plataformas móveis.
Em novembro de 2025, os usuários do Pix somavam 178 milhões entre pessoas físicas e jurídicas. Vale registrar que sem a internet móvel dos celulares esse percentual não teria avançado tanto. [Vide postagem anterior no blog: "O papel dos celulares na expansão do uso da internet, extração de dados e dominação tecnológica".] [1]
O recorde da última sexta-feira (28/11), divulgada pelo BC de 297,4 milhões de transações num único dia, equivale a 206 mil transações por minuto, que movimentou um total de R$ 166,2 bilhões, cerca de 1,4% do PIB. Tudo isso num único dia. [matéria do Valor, 01/12/2025, imagem ao lado] [2]
Se trata de uma fluidez colossal, em que o Pix facilita,
supera o uso dos cartões e transações em dinheiro vivo, mas também lubrifica o
capitalismo que segue se deslizando entre as finanças e a tecnologia digital.
Na mesma matéria do Valor, o Banco Central se refere ao
instrumento do Pix como infraestrutura digital dentro dessa lógica da
digitalização e Dataficação, na qual a demanda das finanças move a tecnologia
digital e vice-versa: “O resultado é mais uma demonstração da importância do
Pix como infraestrutura digital pública para o funcionamento da economia
nacional”.
É oportuno observar como o ambiente FiDigital opera entre
a digitalização da informação na movimentação financeira com a aquisição de
bens e serviços e a materialidade da economia real. Os negócios operam entre a demanda para o consumo e a produção, com a circulação sendo realizada pela intermediação das plataformas digitais, no processo a que temos chamado de “Plataformismo” como uma nova etapa do Modo de
Produção Capitalista (MPC).
Tudo isso, sem abandonar as etapas anteriores, do Taylorismo/Fordismo
e Toyotismo, que são ressignificadas, com controle maior e online do trabalho
humano, e com ainda maior fluidez do processo de acumulação flexível das
finanças digitalizadas.
Os bancos perderam receitas com as transferências grátis via
Pix, intermediada pela infraestrutura do BC, mas ganharam com enorme inclusão
digital e com a abissal quantidade de novos mercados, negócios e dados que essas
informações financeiras das transações via Pix, lhes conferem.
Há muito mais a ser compreendido pelo potencial de
transformações que a lubrificada relação entre finanças e tecnologia estão
produzindo no presente. O uso da Inteligência Artificial (IA), inclusive a
GenIA (IA Generativa) que já é realizada desde 2017, de forma intensa por
bancos, fintechs, gestoras de fundos financeiros e mercado de capitais.
Esse avanço da digitalização torna o setor financeiro não
apenas o principal demandador e financiador das novas tecnologias e infraestruturas
digitais, mas o maior beneficiário desta coevolução. Essa intensa relação explica,
em boa parte, o avanço do processo de Dominação Tecnológica junto da Hegemonia
Financeira, ou vice-versa. Uma não avança sem a outra no capitalismo
contemporâneo.
Referências:
[1] Artigo no blog em 03 de novembro de 2025. O papel dos celulares na expansão do uso da internet, extração de dados e dominação tecnológica. Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2025/11/o-papel-dos-celulares-na-expansao-do.html.
[2] Matéria no Valor online em 01 de dezembro de 2025. Pix supera 297 milhões de transações e R$ 166 bilhões em um único dia e bate recorde na Black Friday. Disponível em: https://valor.globo.com/financas/noticia/2025/12/01/pix-supera-297-milhes-de-transaes-dirias-e-bate-recorde.ghtml
