quarta-feira, julho 31, 2013

Ainda sobre o IDH dos municípios: aprofundando a análise

A divulgação do Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios como sempre causa um saudável debate político na sociedade. Quem está fora do governo sempre acha alguma brecha para reclamar e fazer oposição.

Já quem está dentro também sempre descobre algo a ser comemorado como feito do seu governo, embora, o resultado divulgado ontem pelo Pnud-ONU, se refira ao período de gestão da década entre 2000 e 2010, porque trabalha com os dados do Censo 2010 do IBGE.

O debate é compreensível e salutar, porque remete às avaliações das políticas públicas e seus resultados na área de Educação, Saúde e Renda, o que sempre traz um aprofundamento da população sobre estas questões relacionadas ao seu cotidiano.

É menos produtivo a discussão sobre o posicionamento dos municípios nos ranking das 5.565 cidades brasileiras ou das 92 cidades fluminenses. Embora se possa ver quem subiu e desceu comprada às outras, a melhor análise é sobre a evolução do IDH da própria cidade na série histórica dos três últimos censos (1991, 2000 e 2010).

Mesmo que todas as cidades tenham melhorado nos seus índices, elas cresceram em proporções distintas, por item e por cidade e isto sim é interessante de ser abordado.

Porém, ainda mais interessante e motivo principal desta postagem é a observação de que o gestor que queira ver o seu município e sua bem população, melhor posicionada no IDH 2020, deve mesmo fazer é eliminar a miséria e reduzir ao máximo a pobreza no seu município.

A questão é ainda mais ampla e interessante.

Quer um exemplo que vale ser aprofundado e estudado: o caso do município de Bom Jesus do Itabapoana localizado aqui na vizinha região do Noroeste Fluminense que ficou com um IDH melhor que Campos, mesmo não tendo royalties do petróleo, um orçamento pequeno e uma dinâmica econômica baseado principalmente na agropecuária de pequeno porte e algum beneficiamento de alimentos.

Em resumo: vida simples, saudável, sem indústrias, mas, também sem misérias e com alto grau de vida solidária, colaborativa e cooperativa, algo bastante diferente do que alguns concebem como modernidade do tempo ágil e massacrante dos modelos urbanos industriais almejados por algumas cidades.

Este fato remete a uma investigação interessante de ser feita sobre a população de Bom Jesus do Itabapoana, do seu modo de vida, das rendas que por lá circulam e outras investigações de caráter também político, sociológico e por que não antropológico.

Interessante observar que Bom Jesus no extremo noroeste de nosso estado é vizinho do estado do Espírito Santo, também chamado de Bom Jesus, só que do Norte, apesar de estar no sul daquele estado e mais ao norte do nosso. Eles são divididos, entre aspas, por uma ponte sobre o Rio Itabapoana que em seu curso divide outras cidades fluminenses das capixabas.

Quem conhece Bom Jesus sabe que ela influencia e recebe influências daquela comunidade, e outras colonizações presentes no interior capixaba que valorizam e dão valor a este "modus vivendi", diverso do urbano, como alternativa de vida e civilização que nada tem a ver com modernidade e desenvolvimento como normalmente se tende a conceber. Ainda visitando as origens daquela comunidade se vê também sua relação com o povo mineiro de forte tradição rural.

Por fim, insisto que tudo isto merece ser analisado, também para outros municípios. Até por isto, o uso do indicador IDH, que foi pensado inicialmente pelo indiano Amartya Sen, prêmio nobel de Economia, que propôs uma fora diferente de medir o "desenvolvimento" de um país que superasse a visão exclusivamente economicista da aferição do crescimento econômico pelo PIB (Produto Interno Bruto).

Mais adiante, a ONU, através do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) passou a sugerir a utilização deste indicador para aferir o desenvolvimento de regiões e/ou cidades dentro de um país.

Porém, é provável que não tenham imaginado este resultado complementar de colocar em debate o estilo de vida e a necessidade de se reduzir as desigualdades, o que é extremamente positivo e salutar para o debate político e comunitário.

Pensemos nestas questões para além de saber e diagnosticar porque Bom Jesus está na frente de Campos e de todas as demais cidades da região Norte Fluminense, com exceção de Macaé, a base do petróleo, meca do setor petróleo.

Macaé fica na frente no IDH, mesmo ostentando imensa disparidade entre ricos e pobres. Interessante observar que Macaé deve te ricos mais ricos, mesmo com muitos pobres e miseráveis, enquanto Bom Jesus está bem na fita do IDH, porque embora sem ricos, deve possuir miséria, pobres e pessoas de hábitos simples e um custo de vida imensamente menor. Ou seja, com os mesmos rendimentos tende a se viver diferente em um ou outro lugar.

Se a você enquanto cidadão fosse dado o direito de escolher, qual o modelo de cidade você optaria em viver? Sei que as respostas variarão conforme a idade, profissão, renda, patrimônio, etc., mas a pergunta tem o objetivo de fazer você refletir sobre sua cidade e seu modo de viver.

Antes de concluir este post que pretendia apenas levantar uma simples questão o blog vai listar alguns dados básicos sobre o município de Bom Jesus do Itabapoana que serão aproximados para facilitar sua absorção. Importante ainda dizer e lembrar que com esta análise não se pretende de forma maniqueísta interpretar que tudo em Macaé possa estar ruim, e em Bom Jesus bom. Esta interpretação não vale, seria impertinente e descontextualizada da abordagem que se pretendeu dar ao tema.

Dados gerais sobre Bom Jesus do Itabapoana: primeiro nome da localidade Campos Alegre; veja aqui no site da prefeitura de Bom Jesus mais informações sobre a história do município; instalação enquanto município em 1938, segundo o IBGE; 35 mil habitantes; 600 km²; altura da sede em relação ao nível do mar: 88 m; distância da Capital: 251 Km; população urbana 71%; rural 29%; expectativa de vida 74,2 anos; renda per capita; R$ 717; 3% de extremamente pobre e 10,5% pobres; 8% de desocupados; 0,06% de pessoas com água e esgoto inadequados; 1,6% de crianças de 6 a 14 anos fora da escola; 96,3% tem água encanada; mortalidade infantil 15 para cada mil nascimentos (índice considerado aceitável da OMS é de 10); orçamento da prefeitura de Bom Jesus do Itabapoana em 2013: R$ 53 milhões (dez vezes menos do que o orçamento da Secretaria de Saúde de Campos).

7 comentários:

Anônimo disse...

Caro Blogueiro.

Vale lembrar que Itaperuna também ficou bem a frente de Campos. Destaque para a longevidade.

Abc

Anônimo disse...

Bom Jesus do Itabapoana…0,732
Itaperuna 0,730
Natividade 0,730
Santo Antonio de Pádua 0,718
Itaocara 0,713
Miracema 0,713
Porciúncula 0,697
Aperibé 0,692
Italva 0,688
Laje do Muriáe 0,668
Varre Sai 0,659
São José de Ubá 0,652

Anônimo disse...

Bom Jesus do Itabapoana

1991 - 0,490
2000 - 0,625
2010 - 0,732

Roberto Moraes disse...

De certa forma, o conteúdo da nota vale como observação para outros municípios da região noroeste fluminense com características similares, embora, alguns com deficiências bastante grandes também refletida no IDH.

Porém, os três primeiros se destacam e Bom Jesus está na frente, seguido muito de perto por Itaperuna e Natividade.

A lembrança do comentarista reforça o que está dito na nota.

Obrigado pela informação trazida.

Anônimo disse...

Pena que isto são números e que na prática parece ser maquiado na pesquisa, porque Bom JEsus vive uma fase terrível, a Casa de saúde fechada a anos e o unico hospital o São Vicente de Paulo quase fechando e operando precariamente. E toda maior necessidade na a´rea da saude tem de ir para Itaperuna,

Rafael Leite disse...

Como fidelense, posso dizer que há pouco tempo voltei a morar em minha cidade natal justamente em busca de uma vida mais tranquila, um custo de vida mais baixo e as outras vantagens citadas no post.
Ainda tenho que ir todos os dias para Campos para trabalhar, mas ainda considero que tenha feito a melhor escolha.
Infelizmente (para a cidade) temos tido uma saída grande de jovens da cidade, prejudicando um pouco nossas "notas". Muitos se formam e vão morar em Campos, Macaé e etc.

Anônimo disse...

Na verdade, as cidades ao redor de Campos cresceram muito mais, especialmente aquelas com poucos recursos. Vale dizer que na região Itaperuna até Itaocara o Estado de Rio de Janeiro fiz um papel decisiva, asfaltando e recuperando estradas, sistemas de irigação, programa leiteiro, programas com foco na produção de frutas, tomates, quiabo etc. Os numeros não mentem.