sábado, maio 08, 2021

"Family Office" dos Diniz é um bom "case" da estratégia de financeirização de fração da nossa burguesia

A matéria de O Globo (07 mai. 2021, p. p23) "Abílio Diniz lança gestora com investimento mínimo de R$ 1 mil - Família e investidores fazem aportes de R$ 1,75 bi em fundo multimercado da empresa", é um case claro da fórmula adotada pelas famílias ricas (family offices) para aumentar seus dinheiros com a ampliação do rentismo nesta fase do capitalismo hegemonicamente financeiro. 

Family office da família Diniz O Globo 07-05-2021 p.23


A família Diniz, através de um fundo financeiro (multimercado ou hedge) - O3 Capital - busca captar excedentes para se juntar ao patrimônio de R$ 12 bilhões vindo da família e da venda de seus negócios de varejo supermercado para a francesa Carrefour.

Esse caso explica bem, o movimento dos donos dos dinheiros que controlavam uma empresa comercial em direção a uma novo arranjo de acumulação de capital.
 
Uma boa parte da burguesia endinheirada nacional, passou a fazer opção por fazer parte do esquema da financeirização, que têm no instrumento dos fundos uma espécie de novo "centro dinâmico da economia" controlando através de variados arranjos, as empresas (ativos) da economia real. 

A opção, claro, foi sendo definida, porque no setor financeiro, os lucros são muito maiores (andar superior) do aquele que os Diniz (e outros setores da burguesia) tinham em sua atuação, quase exclusiva no setor (fração) comercial.

Trata-se na verdade, não apenas de um "case" - mas como venho insistindo - na realidade se estabelece como um novo padrão dos donos dos dinheiros, que passam a ter nas finanças, uma maior extração de valor do trabalho com a captura da riqueza produzida na sociedade. 

Essa fórmula dos fundos financeiros substitui a antiga intermediação bancária que cumpria o papel de captar poupança da sociedade para emprestar aos empreendedores de negócios industriais, comerciais, imobiliários e outros. 

No Brasil há quase duas décadas, essa lógica da intermediação bancária foi sendo substituída pela ideia da gestora dos fundos, que hoje controlam com diferentes arranjos (societários) as empresas da economia real em diferentes setores da economia.

2 comentários:

Unknown disse...

Prezado Roberto,
Gostei do seu blog, parabéns. Trago a seguinte reflexão. Quais são os maiores fundos de investimento do mundo, que são donos das maiores multinacionais do mundo? O próprio Estado, através dos fundos de pensão, e de investimentos soberanos. Pergunto: seria essa uma estrutura legítima ou só quando utilizada pelo Estado? Qual a solução? Não sei responder, mas fica a reflexão.

Roberto Moraes disse...

Caro comentarista,

A postagem chama a atenção para as estratégias e a lógica dos fundos financeiros no capitalismo da gestão de ativos. Essa troca da forma de intermediação financeira em relação aos excedentes da poupança das famílias e das empresas para essa nova lógica direta de controle dos ativos. Isso vale também para a maioria dos fundos de pensão e fundos soberanos. Trato de ambos quando analiso circuito financeiro global no meu livro "A ´indústria´ dos fundos financeiros: potência e estratégia no capitalismo contemporâneo".

A professora americana Mariana Mazzucato também trata e crítica essa lógica no seu mais recente livro "O valor de tudo: produção e apropriação na economia global". A questão criticada é esta lógica extrativista do valor da economia real em proporções cada vez maiores. Isso é uma lógica predadora e que esgarça os ganhos rentistas, sobre a economia real e sobre o trabalho. Ela estimula os rendimentos curtoprazistas e estimula uma forma de gestão na produção e nos serviços que precariza o trabalho.

Essa lógica em que grande parte dos lucros é obtida pelos canais financeiros e não por meio das atividades comercial e produtivas estão levando os agentes da economia real a ampliarem o rentismo e os ganhos financeiros em meio às suas atividades deformando o sistema.

Se acompanha o que escrevo já deve ter visto que defino que os fundos não são um problema em si, como instrumento de recolhimento da poupança e dos excedentes na sociedade, a questão é o que vem se derivando daí, em especial depois da crise financeira - subprime em 2008/2009 - quando junto se passou a viver com menores juros, em especial e primeiro nas nações do capitalismo central.

A partir desse período é que se amplia a hegemonia financeira sobre a economia real e se torna um padrão de acumulação que estrangula o sistema, dentro de uma lógica de que o mercado é que deve regular a vida em sociedade.

Há outro equívoco na sua breve informação, os maior fundo financeiros do mundo, aquele com maior patrimônio líquido, sob sua custódia é o americano BlackRock que hoje tem patrimônio superior a US$ 8 trilhões. Em seguida há outros na tabela que publico no livro. Eles possuem ativos em ações com o controle majoritário ou parcial das maiores empresas a nível global. Os fundos de pensão e os fundos soberanos também estão listados lá. O maior fundo soberano é o norueguês e ele tem patrimônio líquido na casa do US$ 1 trilhão, bem inferior aos fundos privados. Os fundos de pensão da mesma forma.

Mas, concluo repetindo, em síntese, o problema não é o instrumento dos fundos, mas a lógica e as várias estratégias, que eles passaram a adotar, enlaçados a um número expressivo de outras inovações de negócios financeiros, ligadas ao mercado de capitais e ainda articulados à dominação tecnológica que permite um movimento informacional, transfronteiriço e desregulado do capital, atrás somente de novas formas de acumulação, maiores rendimentos e menor tributação.