terça-feira, novembro 16, 2021

Dubai-Davos, o consciente-inconsciente coletivo do "andar de cima"

Dubai parece um ímã que atrai, consciente ou inconscientemente, os que desejam um mundo para poucos, distante da maioria, embora construído com o suor destes. Dubai é o mundo real da distopia produzida nas ideias e nos interesses de Davos que esgarça a civilização e se reenamora com a barbárie.

Há ainda contradições entre Davos e Dubai, mas elas se complementam. A primeira está na Suíça, é sede do Fórum Econômico Mundial e espaço de circulação dos negócios financeiros offshore que se escondem a tributação, enquanto aumentam seus rendimentos e derivativos. 

Enquanto Dubai é parte dos Emirados Árabes Unidos, que vivem acumulando riqueza em seus fundos soberanos oriundos da riqueza do petróleo e assim, entraram no jogo da multiplicação de rendimentos no andar superior das altas finanças.

Porém, simbolicamente, Davos e Dubai se reafirmam como importantes e contemporâneos marcos do "andar de cima das altas finanças" que explicitam a hegemonia do capital financeiro dentro da lógica da gestão de ativos e da extração de valor da renda do trabalho.

Davos e Dubai expõe ainda os processos de controle dos fundos financeiros sobre a economia e a produção real. Exigem e recebem as ofertas de entrega das estatais (planos de privatizações) de Estados-nacionais que consentem e assumem a dependência.

Há alternativas a essa lógica do capitalismo da gestão de ativos e destas inovações financeiras ampliadas pelo potencial da tecnologia e das plataformas digitais que fagocitam a economia real, em processos altamente concentrados e com tentáculos espalhados forma espacial, transescalar e global.

Para isso é necessário impedir que as finanças continuem se tornando o efetivo centro dinâmico da economia capitalista contemporânea hegemonicamente financeiro em que Davos e Dubai são símbolos. O caminho é o de limitar a atuação deste circuito financeiro global, em que seus agentes atuam capturando a autonomia e a soberania dos Estados-nações. 

Tenho dúvidas se ainda há chances de superar este esgarçamento hipercapitalista contemporâneo. Mas, há que se dedicar a esta tarefa hercúlea que passa por fortes lideranças regionais e por amplas articulações interestatais, organizadas em novas e necessárias instituições. O Brasil pode ser parte desta construção alternativa. Ou não.

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