segunda-feira, março 07, 2022

Para além da diabolização do Putin, o que poderá sair da guerra EUA-OTAN x Rússia?

A guerra é cruel, violenta, sangrenta e de consequências difíceis de serem medidas, mas a diplomacia sempre se mostrou limitada para essas grandes contendas. Não há santos em disputas deste tipo, ao contrário os diabos e os demônios nascem e se alimentam de tudo isso.

O fato é que com a guerra EUA-OTAN x Rússia, ou Rússia x EUA-OTAN, Putin que já era mal visto foi ainda mais facilmente diabolizado. Em especial no Ocidente e com ajuda das redes sociais e das Big Techs americanas que entraram na disputa como braços da OTAN. Creio que Putin sabia que isso iria ocorrer. Talvez, não na proporção, quando resolveu ir para o front da guerra tradicional e mortífera. O mundo se transforma a partir daí e produz enormes consequências de médio e longo prazos, daí se compreende porque é estratégica a aliança da Rússia com a China.

As duas potências se complementam, mas a China avança no “soft power”, como poder moderador de um lado e atenuador das sanções de outro, em meio aos riscos de uma grande crise Ocidente x Oriente, ou de alternância para uma liderança mundial eurasiana. Se a premissa tem algum sentido, na aliança entre Xi Jiping e Putin, o último, já deve ter aceitado que a China possa assumir um novo papel, num mundo que não seja unipolar e sob controle da EUA-OTAN.

A história não se encerra aí, evidentemente. As sanções estão empurrando para uma desdolarização, um comércio entre grandes nações, via moedas próprias, digitais e/ou criptos, compensações e meios de pagamento em volumes nunca dantes realizados. É um processo paulatino, mas que já está sendo testado na prática, com maior volume e ajustes acordados em tempo de guerra.

A Europa que já enxerga vantagens nas relações com a China, de outro lado teme muito agora, a expansão da guerra e os riscos de um desabastecimento energético e de alimentos, além do torpedeamento de suas potentes cadeias produtivas regionais.

Os países da UE têm suportado as pressões se mantendo na OTAN, para desgastar o “vizinho” Putin, mas já deve estar repensando os riscos que tem de um lado e também do outro, assim como as vantagens que pode ter com um mundo multipolar (sem acreditar muito nisso, após sofrer duas grandes guerras), neste momento de redefinição da ordem mundial.

Enquanto isso, a Turquia que é membro da OTAN, parece enxergar mudanças neste pêndulo, não apenas se oferecendo para moderação, mas indo um pouco mais longe, ampliando conversas e negócios com ambos os lados, assim como outros países do Oriente Médio e também a asiática e grande Índia. Se este for o cenário será também grande a hipótese de Trump retornar ao poder nos EUA, após ter sucumbido à condição de "hegemon". Mas, isso já seria outra e longa conversa.

A guerra e as tragédias humanitárias vão além destes períodos de grandes embates, batalhas, transformações e sofrimento. No dia-a-dia muitas vezes eles não são enxergados e passam despercebidos. Não por maldade, mas por banalização. Realisticamente, não cabe torcida num ambiente de guerra, mas é necessário que nos esforcemos para entender o que realmente está ocorrendo.

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