domingo, janeiro 18, 2015

A caótica manutenção dos bens públicos e o legado da maldição da abastança

Num momento em que se discute a polêmica reforma do Mercado Municipal em Campos e a necessidade de preservação de nossa memória, junto de uma maior participação da população nas decisões do Executivo, retornando à cidade e às minhas caminhadas, passei na Rodoviária Roberto Silveira.

Impressionei-me com as condições de manutenção do local reinaugurado há apenas quatro anos. É deplorável o estado, a falta de conservação e também o pouco cuidado do cidadão com as coisas públicas.

Há uma evidente falta de política de manutenção permanente das coisas públicas no município. Gasta-se enorme quantidade de recursos com reformas estruturais em praças e espaços públicos que são tão rapidamente dilapidadas.

Gasta-se também tanto recursos em comunicação e não se consegue envolver o cidadão para um conceito básico que é de passar a enxergar a coisa pública como de todos e não como de ninguém, ou da "viúva".

Talvez, seja mais uma das maldições que a abastança dos royalties tem trazido para toda a sociedade, em todos os seus estratos sociais, sem exceção.

O "dinheiro fácil" parece irmão siamês dos descasos de todos os tipos, desde a aberração dos valores das obras e contratos, quando à dilapidação de instalações e consciências, nesse processo histórico nos municípios de nossa região.

Os royalties além de não nos terem trazido tudo que sonhamos para uma vida em sociedade menos desigual, mais colaborativa e de boas condições de vida na urbe (ou pólis), ainda está nos deixando como herança um legado coletivo lamentável e entristecedor.

3 comentários:

Anônimo disse...

Hoje o Elio Gaspari fala sobre isto. O Rio inaugura museus mas deixa a Quinta da Boa Vista acabar. Como ele observa, a manutenção e o custeio não rende obras, empreiteiras, mídia e inaugurações. Rende trabalho e isto parece que nosso jeito macunaíma de ser, abomina.

Fico só imaginando aquela caríssima Cidade da Criança quando começar a operar. A julgar pelo exemplo de manutenção do Jardim São Benedito, quem arriscará deixar seu filho subir naquele circuito de arvorismo?

Quanto ao Mercado Municipal a questão no momento ainda é outra e foi debatida no Blog do Douglas da Mata com boas análise e opiniões dos comentaristas. Lá, criou-se até um apelido para o maior crítico do novo projeto, o "jênio do angú". Vale a leitura.

felixmanhaes disse...

Caro Roberto, tens análises muito bem formalizadas a respeito de assuntos afinizados com a gestão pública... aí ficará sempre um desafio a merecer também o crivo e a acuidade da sua visão... a quantidade de Ministérios do Governo Federal, alguns deles com funções superpostas.....não seria necessário o enxugamento da máquina pública, mormente em tempo de crise, em que se exige o ao máximo o sacrificio da sociedade através dos impostos e outras contribuições muitas vezes na própria ausência da devolução desses mesmos impostos por meio da prestação de serviços públicos conquistados e que estão na CF. E por mais fidelizados que estejamos às questões partidárias entes políticos pensantes do seu naipe tem esse desafio de enveredar por análises auto reflexivas dos seus próprios ambientes.Descartando a possibilidade de um PIG orquestrado, o povo tem mecanismos sensitivos e de observação quando precisa de médico, de segurança e de professores mais valorizados, e essas evidências estão à mostra. A importante pequena diferença de apenas 3% na eleição nacional já nos obriga a refletir sobre. Não podemos subestimar independente da mídia essa capacidade do cidadão expressada nas urnas.
Respeitoso e fraterno abraço.

Roberto Moraes disse...

Meu caro Felix,

A questão que você propõe em termos de análise é válida e boa.

A análise nas diferentes escalas podem sugerir e indicar algumas coisas, mas, são perigosas.

Isto não quer dizer que a gestão na União esteja adequada. Longe disso, sequer ideal, a meu juízo. E nem é preciso falar de fidelização a quem sempre fez autocríticas e críticas nessas três escalas. E continua fazendo.

Porém, ter 1,3 mil cargos comissionados na gestão de uma cidade de cerca de 200 mil habitantes, você não vai encontrar proporcionalidade sequer próxima na União.

Reconheço alguma duplicação de atribuições, por exemplo, entre as agências de regulação e os ministérios, desde quando FHC criou as primeiras, numa concepção de estado mínimo. Depois, mesmo que parcialmente superada, ela mistura fiscalização e controle com planejamento de políticas como os ministérios.

De outra forma, já não concordo com o questionamento de secretarias com status de ministério, para áreas que precisam de relevância e visibilidade para se instituírem. O fato de ser um ministério, ou uma secretaria de um ministério, não traz mais ou menos gastos, desde que mantidas as quantidades de cargos. A diferença é a visibilidade. Não acho que seja ruim, uma pasta de Direitos Humanos, de Igualdade Racial, de Portos, etc.

Mais uma vez, defendo que não se pode circular pelas escalas da gestão pública com os mesmos crivos de análise.

A gestão federal está atualmente merecendo mais críticas em outro campo, na linha macroeconômica. A diferença de 3% não muda o vencedor do pleito que poderia ter obtido o cargo de representação por apenas um voto, que é bem menos do que os 3,5 milhões de votos de diferença.

Cito uma crítica que concordo em boa parte de sua fundamentação, por quem também votou na Dilma e tem muito mais bagagem que eu para falar das políticas econômicas que é o Luiz Gonzaga Belluzzo, aliás, antigo professor e amigo da presidenta. A entrevista pode ser lida aqui, já que o site do Valor é só para assinantes:

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/539045-belluzzo-critica-o-discurso-da-nova-equipe-economica-qcomo-diz-o-keynes-o-liberalismo-adentrou-o-quarto-das-criancasq

Assim, eu entendo que as gestões merecem ser analisadas e criticadas nas três escalas de governo. Isto é bom para o governante e melhor para a sociedade se politizar e se posicionar. Rompendo intermediários (entre os quais o PIG) que se bancam de imparciais para atuar como partido com seus interesses.

Agora, só não podemos deixar de observar que nenhuma região do país, em nenhum momento da história, teve seus municípios tão aquinhoados com recursos como os nossos e tão pouco foi feito. Proporcionalmente, não há comparação possível de ser feita na relação recursos por habitante, neste que talvez, seja o único indicador possível de se fazer uma comparação direta.

Sigamos assim, em frente, atentos e críticos.

Abs.