segunda-feira, junho 18, 2018

Mais sobre a desnacionalização da petroquímica no Brasil com a venda da Braskem

Na última sexta-feira (15 jun. 2018), eu comentei aqui neste espaço sobre o assunto com a nota de título "Segue o desmonte de toda a cadeia produtiva do petróleo no Brasil. Agora é a petroquímica". Porém, é um tema que merece ser mais detalhado e aprofundado.

A corporação holandesa LyondellBasell, petroquímica que está em acordo para incorporar a Braskem (Odebrecht e Petrobras) é controlada por acionistas tendo entre estes os fundos financeiros (Acess Industries com 18,2% das ações; Fidelity com 8,7%; Vanguard (6,3%) e o fundo americano BlackRock com 5,2%).

Como se percebe o movimento que se assiste no controle das corporações mundo afora são dos fundos financeiros, interpretação que venho construindo com estes dados empíricos como argumentos que explicam o fenômeno.

A incorporação da Braskem reforça este movimento sobre "o Brasil baratinho" nesta fase de baixa do seu ciclo econômico. Ver aqui outra postagem do dia 15 de junho de 2017: A sede dos fundos sobre um Brasil baratinho!

A Braskem vale hoje em trono de R$ 50 bi e seus papéis tiveram valorização só na sexta-feira de cerca de 20%. Já a holandesa LyondellBBasell é avaliada na bolsa de Nova York no valor de US$ 45,7 bilhões, quase quatro vezes maior que a Braskem a quem está incorporando.

Infográfico do Valor Online.
O resultado da incorporação é a constituição de enorme oligopólio com uma líder global de resinas termoplásticas do mundo. Como a Braskem e Lyondell possuem ativos complementares, o porte do oligopólio que ultrapassará a chinesa Sinopec e a americana ExxonMobil se tornará uma concentração absurda, que terá poder enorme sobre o mercado em que atuam. Para ampliar este espectro, diz-se que a Lyondell se interessou pela Braskem pela capacidade na produção de aromáticos e solventes que são importantes na produção de tintas e colas.

Além disso, a Lyondell poderá comprar sua matéria prima (petróleo ou seus subprodutos eteno e propeno) para produzir o polietileno (PE) e prolipropileno (PP) - ambos derivados do eteno - de outros fornecedores que não a Petrobras, como por exemplo da anglo-holandesa Shell que hoje já é o segundo maior produtor de petróleo do país, se aproximando de meio bilhão de barris por dia. 

Diante deste quadro não é difícil imaginar que a Shell e/ou petroleiras europeias (incluindo a francesa Total) sejam as maiores interessadas em ficar com parte do parque de refino brasileiro colocado à venda, especialmente a Landulfo Alves na Bahia, onde está a maior base da Braskem.

Em todo este processo, outra questão ficou mais clara, a Odebrecht seguirá se desafazendo de seus ativos pretendendo se manter apenas como gestora de participações de diversos ativos espalhados no mundo. 

Inclusive do oligopólio que surgirá desta incorporação em que a Odebrecht poderá ficar com 10% em participação. Esta decisão que agora ganha caráter não mais de intenções e sim de execução terá influência sobre muitas outros negócios e empregos no Brasil.

Nenhum comentário: