domingo, março 15, 2020

Se as plataformas digitais são neutras (“e do bem”), por que elas ajudam tão pouco em situações de crise como na pandemia do coronavírus?

O blog é para mim sempre um espaço de diálogo, aprendizado e, ultimamente, uma inspiração para a pesquisa. Assim, já comentei aqui, que estou me preparando para escrever sobre o "capitalismo de plataformas", como expressão da maior relação entre a inovação tecnológica, startups e a financeirização no interior dos diferentes setores da economia.

O uso exponencial das "plataformas digitais" com forma de intermediação - quase automática e online - do capital e do sua utilização em diferentes frações do capital (e da vida cotidiana das pessoas no território), já é bem conhecida e tem servido, basicamente, à ampliação da captura da renda, levando à intensificação, sem precedentes, da precarização do trabalho, fato que hoje impressiona até os liberais, ainda apartados do neoliberalismo ou ultraliberalismo.

O Covid-19 mais conhecido como novo coronavírus já é considerado um vírus da globalização que expõe a potência das redes, as conexões e os fluxos da economia globalizada.

Pois então, na conjuntura atual com uma explosiva pandemia e atroz sofrimento humanitário, em especial dos mais pobres – como sempre -, a pergunta que se coloca diante de nós é: se a tecnologia é neutra, como sustentam alguns, por que essas inovações quase não são percebidas, de modo efetivo, a favor das pessoas e não das bolsas de valores, bancos, fundos de investimentos e dos donos dos dinheiros?

E olha, que é a massa que faz a roda do sistema girar. Porém, o esgarçamento e a vampirização de tudo que atende à base da pirâmide social, não cessa nem em situações de calamidade global como a atual.

As plataformas digitais poderiam estar mais a serviço dos serviços públicos. Porém, hoje, com a desconfiança de que muitos destes sistemas estão mais a serviço da captura desenfreada de dados das pessoas para usos comerciais (e com Fake News para domínio político), quase ninguém acredita na finalidade e no uso destes aplicativos.

Tudo isso reforça a interpretação de que essas plataformas digitais são, hegemonicamente, instrumentos do capitalismo contemporâneo. Solidariedade, humanismo e civilidade, continuam a vir das pessoas, dos trabalhadores e de suas relações sociais. No meio da crise em que vivemos, é importante lembrar que da tríade “mercado, sociedade e governo” que define o mundo atual, sem a sociedade pressionando o governo e controlando o mercado, o que resta é a barbárie que surge agora tão diante de nós.

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