quinta-feira, fevereiro 15, 2018

Opep e AIE também disputam a produção e interpretação de dados e indicadores que orientam o mercado de petróleo no mundo

Mensalmente, as duas agências, uma que é do consórcio dos países exportadores que existe desde o primeiro choque do petróleo na década de 70. E a outra, a AIE (Agência Internacional de Energia) que é americana. As duas disputam hoje, a maior credibilidade dos dados, indicadores e, especialmente, de suas previsões e estimativas.

Isto se ampliou agora. Antes, lá atrás, a Opep, que hoje produz cerca de um terço de toda produção mundial de petróleo, definia o mercado. Hoje não mais.

Os EUA como maior consumidor (disparado do mundo) e hoje, o segundo maior importador (até pouco tempo primeiro que hoje é a China), e atualmente, ainda um dos três maiores produtores, com as reservas de xisto e a velocidade que estas oferecem em termos de exploração e produção, regulam o mercado, tanto quanto a Opep.

Na verdade, hoje um controla o outro, em termos de mercado de petróleo e em termos de estratégias.


O fato da Rússia ter se aliado à Opep e estar mais próxima da China, hoje a maior importadora mundial e o segunda nação que mais consome petróleo do mundo, criou uma polarização que, naturalmente, também aparece na disputa sobre a confiabilidade dos dados do consórcio da Opep e da americana AIE.

Entre estas duas agências ligadas aos produtores, estão os departamentos de estudos dos grandes bancos que atuam no setor de petróleo e também as grandes consultorias, que hoje são corporações.

Os bancos e as consultorias trabalham de forma articulada. Assim, atuam tanto para financiar a exploração e a produção através das players petroleiras, quanto na infraestrutura e indústria do setor, onde atuam as para-petroleiras. Além disso, também fornecem dados para a atuação das grandes traders que atuam no comércio tanto do petróleo cru, quanto dos derivados, mundo afora.

Ainda ligados aos bancos estão os grandes fundos financeiros que definem as escolhas das frações e setores econômicos, onde o capital deve investir no curto prazo (com movimentos especulativos) no longo prazo, com investimentos em capital fixo no território, para a instalação das infraestruturas, plataformas, sondas, oleodutos e gasodutos e indústria de beneficiamento para produção dos derivados.


A disputa não apenas pela produção e controle do mercado, mas pelas estratégias que estão vinculadas às informações sobre projetos, produção e ao mercado de petróleo

É preciso compreender esta disputa para melhor analisar os movimentos desta fração do capital que investe em petróleo e em sua indústria mundo afora e também no Brasil. Os dados soltos, sem as fontes e sem a interligação com outros dados e indicadores, não permitem que se possa avançar na compreensão mais aprofundada, sobre os movimentos e as intenções dos agentes que atuam no setor petróleo, seja como produtor, prestador de serviço, indústria, comercializador e/ou consumidor.

Por exemplo, antes do baque na bolsa de Nova York (NY), a leitura que se fazia é que o aumento da demanda mundial de petróleo, que poderia chegar ainda em 2018 a 100 milhões de barris por dia é que, basicamente, vinha permitindo que o preço do barril de petróleo saísse do patamar de U$ 60 para US$ 70. E esteja hoje na faixa dos US$ 64. (No dia 14 fev. esteve a US$ 62)

Tanto a Opep quanto a AIE corrigiram a previsão de crescimento da demanda de petróleo no mundo que em 2017 foi de 97,0 milhões de barris por dia. Para a Opep, em 2018, haverá um crescimento de 1,59 milhão de barris por dia, enquanto para a AIE neste ano, o crescimento deverá ser de 1,4 milhão de barris por dia. É um diferença pequena, mas equivalente a 200 mil barris por dia.

Assim, para a Opep, o ano de 2018 deverá fechar com o um consumo de 98,6 milhões de barris por dia, enquanto para a AIE este volume deverá alcançar 98,4 milhões de barris por dia. Desta forma, para ambos, logo no início de 2019, o mundo deverá estar consumindo o volume simbólico de 100 milhões de barris por dia.

A avaliação muito próxima quase que se restringe a este cenário sobre o consumo mundial, que é bom que se relembre, são mensalmente revisados. Daí em diante há uma disputa maior. A Opep com dados do potencial de produção de seus filiados. Atualmente a Opep está produzindo em torno de 32 milhões de barris por dia.

Enquanto isto, os EUA com as suas possibilidades definidas pelos projetos nos depósitos de xisto já estão prestes a ultrapassar a produção, mesmo que por pouco, do volume extraído pela Arábia Saudita e Rússia. Veja ao lado gráfico da produção de petróleo americana no período entre 1970-2017

Desta forma, a disputa EUA e OPEP também na produção de indicadores e estratégias ganha força. Ambas agências, também analisam os movimentos dos produtores chamados não Opep (e não EUA) como a Rússia, Brasil, Canadá e México.


Potencial de crescimento da capacidade de produção dos membros da Opep
A Opep vem conseguindo (desde 2016/2017) internamente (e externamente com a Rússia) manter o corte de produção e fornecimento de 1,8 milhão de barris de petróleo por dia ao mercado. Assim, é previsível que não será fácil para a Opep manter esta decisão, diante das estimativas de que alguns de seus países membros deverão ampliar suas capacidades de produção ao longo de 2018.

Os casos mais claros, segundo a própria Opep seriam: do Kuwait que deve adicionar cerca de 225.000 bpd de capacidade até o final de março; do Irã adicionando outros 100 mil 000 bpd; e do Emirados Árabes Unidos (EAU) também adicionarão cerca de 500 mil bpd no final de 2018.

A soma do aumento da capacidade dos três totaliza 825 mil bpd, sem levar em conta a produção do Iraque que deve atingir a produção total de 5 milhões de barris por dia até o final de 2018, com uma ampliação de sua produção em quase 500 mil barris por dia.

Ou seja, a Opep seguirá com capacidade de produção ampliada em 2018, o que levará a maiores discussões sobre a manutenção dos cortes de fornecimento ao mercado, para evitar novas quedas dos preços do barril no mercando mundial.

O baque do mercado de ações americano na bolsa de Nova York, no início de fevereiro, imediatamente se refletiu na decisão dos investidores não apenas de ações, mas dos fundos, como o do tipo EDGE, muito ligado ao setor de petróleo, que vinha subindo junto dos preços do barril, baseado, fundamentalmente, no crescimento da demanda mundial. Estes investimentos ajudaram rapidamente a crescer a produção nos EUA.
Número de sondas de exploração de petróleo contratada nos EUA 

Vale lembrar que também interfere no mercado do petróleo outras variáveis, para além simplesmente do volume de produção e consumo. Assim, são os casos das informações sobre estoques e vendas de óleo cru, consumo de derivados, número de sondas em funcionamento nos EUA (gráfico ao lado) e em outras partes, além das reservas e potencial de campos de petróleo e também do volume de investimentos em áreas e campos de petróleo. O movimento destes indicadores são sempre sujeitos e contrainformações e interesses especulativos. Atrás de dados confiáveis estão a Opep e a AIE que também produzem contrainformações para interferir no mercado, o que gera uma permanente tensão.

O consumo geral por sua vez tem relação com o ciclo da economia como um todo. Se já não bastassem tudo isto, por onde se movimentam as corporações e os fundos financeiros, há ainda os interesses geopolíticos das nações que buscam controles e domínios regionais e hegemonia central.


E aí? Em meio à AIE e Opep como ficam as previsões?
Para ser sincero existem análises e previsões para todos os gostos e interesses. Muitas especulações como é comum ao mercado e aos interesses que reforçam o esquema oligopólico que sufoca as corporações menores que atuam sem o apoio e a força dos estados nacionais.

Neste quadro complexo, analistas que merecem algum crédito têm avaliado que o petróleo tende seguir estabilizado por mais algum tempo. Consideram ainda que parece improvável que um novo repique, volte a levar o preço do barril para acima de US$ 70/US$ 75, antes pelo menos de 2020.

Isto se daria, por conta da auto regulação entre a produção do xisto americano e do aumento da capacidade de produção de óleo da Opep e seus aliados. Porque juntos seriam superiores ao aumento da demanda mundial que tem previsão de atingir 100 milhões de bpd, no início de 2019, como afirmado acima.

Os EUA também ampliam sua suas exportações tanto de óleo quanto de gás natural. Assim tem fechado contratos de longo prazo (15 anos) de fornecimento de GNL para a China. Como exemplo o acordo entre Cheniere Energy dos Estados Unidos no estado da Lousiania e a China National Petroleum Corp. (CNPC) para venda de LNG (Gás Liquefeito de Petróleo) para uso na China.

Enfim, o mercado de petróleo no mundo poderá seguir um dilema. Os preços mais limitados, em torno de US$ 60 dólares, evita um maior crescimento da produção de energias não convencionais. 
Este preço “limitado” faz com que exista, num prazo de até 5 anos, menos exploração e busca de novas áreas produtoras.

O que por outro lado tende a esgotar mais rapidamente as reservas existentes. O que deverá pressionar o preço do barril de petróleo, em nova fase de um outro ciclo petroeconômico, mais próximo à metade da próxima década.

Neste meio tempo, o mundo seguirá lubrificado pelo petróleo e tende a ampliar os riscos de preços mais altos num prazo após meia década. Fora, os riscos dos conflitos regionais que vez por outra ameaça a maior região produtora de petróleo do mundo. Tensões e conflitos no Oriente Médio  poderão alterar estas análises e previsões, tanto por parte da Opep, quanto da AIE, ambos pressionadas por fortes interesses geopolíticos.

A conferir!

PS.: Atualizado às 18:08: Para pequenas correções e ajustes no texto original.

2 comentários:

Cláudia Mendes disse...

Bom artigo 😊

Cláudia Mendes disse...

Optimo post