sexta-feira, abril 10, 2020

Os fundos de pensão, a inter-relação e a inter-dependência entre os agentes do circuito financeiro

"A Abrapp associação que representa os fundos de pensão / previdência complementar espera um resultado negativo pode chegar a R$ 100 bilhões ao fim do ano."

A afirmação acima faz parte de matéria do Valor, da jornalista juliana Schincariol, em 08 de abril de 2020 "Crise acentua os déficits dos fundos de pensão - Pandemia do novo coronavírus e efeitos sobre ações fazem fundos de pensão prever crescimento dos déficits em 2020". Abrapp é a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar.

Muitos ainda não percebem a enorme vinculação - interdependência - entre os vários instrumentos de aplicação que atuam dentro do processo de financeirização, nestes tempos de sua hegemonia no capitalismo contemporâneo e da crise financeira gerada pela Covit-19 em todo o mundo.

Tem-se aí um circuito financeiro global em que atuam vários agentes produzindo fluxos em diferentes direções conforme a conjuntura que tratei de forma mais detalhada no livro A ´indústria´ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo.

Trata-se de circuito financeiro global que possui diversos agentes, como: sistema bancário tradicional; mercado de capitais (ações em bolsa de valores); gestoras de fundos financeiros; fundos de pensão; companhias de seguro; bancos centrais; shadow banking (rede financeira não bancarizada), etc. 

No livro eu trato desta interconectividade entre os agentes deste circuito financeiro global, de forma especial no capítulo 1 (p.82-97); capítulo 2 (p.143-150) e capítulo 3 (Capital helicoidal, entre p.177-192) inclusive com alguns esquemas gráficos ilustrativos. 

Após publicação do livro eu rascunhei um esquema gráfico ainda mais detalhado (usado em algumas aulas-palestra) sobre esta conexão entre os agentes do circuito financeiro de forma a possibilitar melhor compreensão sobre o mesmo. É um esquema gráfico rascunhado (veja abaixo) porque ainda necessita de um design gráfico para melhorar seu visual. 






















O esquema gráfico acima busca detalhar a relação entre os vários agentes financeiros e a forma como se apropriam da geração de riquezas e excedentes gerados pelo trabalho no capitalismo contemporâneo. Através dele é possível identificar a inter-relação e  inter-dependência entre estes agentes que atuam nesse circuito financeiro, interligados ainda em escalas nacionais e global.

O resultado dessa realidade são as consequências do fluxo de capitais entre estes agentes que tem enormes repercussões sobre a vida das pessoas e não apenas para quem tem aplicações no mercado de capitais com ações em bolsas de valores. Tudo parte do processo hegemônico e do mundo de derivativos do capitalismo atual.

Desta forma, o resultado negativo dos fundos de pensão descrito na reportagem, certamente terá consequência sobre as aposentadorias e pensões que os fundos deveriam sustentar, para aqueles que trabalharam e contribuiu durante toda a etapa de sua vida laboral.

Os gestores dos fundos de pensão, fundos de previdência complementar (capitalização) e seguros de vida, tipo PGBL e VGBL, aplicam o dinheiro que captam, numa carteira de fundos de investimentos, tipo multimercado (hedge) e outros.

Muitos também não sabem que com a redução do valor dos ativos destes fundos, os mesmos começam a ter rendimentos negativos e assim comem rendimentos anteriores e até o valor inicialmente aplicados.

A maioria nunca imaginou que poderia ter rendimento negativo. Para quem deixa seus poucos excedentes na conta corrente ou aplica na velha poupança nunca pensou nessa hipótese. Nem mesmo quem tinha passado a aplicar nos fundos de Renda Fixa.

Vou citar um exemplo. O VGBL do BB, Brasil Prev, apresentou nesta semana, aos que possuem este tipo de previdência privada, que das principais aplicações onde colocaram dinheiro, todas tinham rendimento negativo em março e também em 2020. Rendimentos que variaram em março de -0,70% a -17,33%.

Numa época de colapso como a atual, aqueles do andar de cima das finanças, que controlam as gestoras deste circuito financeiro estão tentando se safar com socorros do Tesouro.

Porém, os aplicadores menores, já estão pagando e pagarão ainda mais a conta do freio de arrumação (estouro) do sistema, perdendo boa parte de suas reservas, aplicadas na maioria das vezes nestas carteiras de bancos tradicionais ou digitais (Inter, Original. Nubank, Neon, C6 Bank, etc.) ou corretoras (XP, Fator, Órama, Rico, SRM, Votorantim, etc.).

3 comentários:

Anônimo disse...

Professor, bom dia.

Não entendi a questão da perda na Poupança ou nos Títulos Públicos. Seria a interdependência entre todos os agentes e como o fundo de previdência perdeu 100bi seria um efeito cascata?

Roberto Moraes disse...

Não.
Disse apenas que as pessoas foram estimuladas a saírem da Poupança pelos baixos rendimentos e irem para estas aplicações de maiores riscos e que são entrelaçadas a outras de riscos.

Anônimo disse...

Obrigado Professor. Estou ciente da dinâmica econômica predatória em que vivemos e gosto muito dos seus posts. Atualmente coloquei 20% do que possuo em aplicações financeiras mais arriscadas como ações e FII's, mesmo sabendo do risco, pois infelizmente os maiores retornos são estes. Compreendo que seria igual a um cachorro correndo atrás do rabo, pois quem banca o sistema financeiros são os recursos de toda a sociedade, mas o sistema é cruel e fui obrigado a rentabilizar parte do meu dinheiro..