sexta-feira, janeiro 18, 2019

A máquina das dívidas amplia a financeirização, produz novo padrão de acumulação e ameaça esgarçar o sistema no capitalismo contemporâneo

A "máquina das dívidas" tem sido a fórmula básica para se criar valor no mundo das finanças.

O setor financeiro cresce basicamente com a ampliação das dívidas, tanto públicas quanto privadas. Aliás, agora mais intensa por parte das corporações do que dos governos. Na década pós crise de 2008, vive-se uma enorme expansão da liquidez "floating capital" ou capital fictício.

Assim se assiste à crescente financeirização que é puxada pelas dívidas que dessa forma mantém em movimento a economia mundial. A produção material prossegue, mas em ritmo menor. A renda deixou de ser a impulsionadora e foi substituída pelo crédito como motor da economia global.

Neste processo, o volume atual da dívida global já chega, segundo o FMI, a US$ 182 trilhões (60% acima de 2007, um ano antes da crise do subprime). [Agência EFE/Exame Online, 1 out. 2018]

Segundo o FMI, hoje, essa dívida global acumulada chega a 225% do PIB. Lembrando novamente que esse percentual é maior do que antes da crise financeira de 2008. [Valor, 18 jan. 2019, P.A7]

Essa "máquina das dívidas" vem puxando o sistema e a alimentado a "espiral de acumulação infindável” (HARVEY, 2018)

No meio desse processo cresce o rentismo e o papel dos fundos financeiros que não param de ver seus ativos aumentarem.

A americana BlackRock, maior gestora de fundos de investimentos do mundo, acumula ativos no valor de R$ 5,98 trilhões (R$ 22 trilhões). Outro grande fundo americano, o Vanguard tem ativos de R$ 5 trilhões.

Apenas esses dois fundos de investimentos possuem ativos equivalentes a mais de 6 vezes o valor do PIB brasileiro.

Observa-se assim, a intensificação do uso do dinheiro (e seus papeis (títulos do tesouro, bônus, debêntures, etc) como mercadoria e não mais apenas, como equivalente geral das trocas.

Assim, esse processo que vem sendo genericamente chamado de financeirização da economia, com ampliação do "capital improdutivo” (DOWBOR, 2017), ao mesmo tempo que amplia a mobilidade entre suas frações e aumenta os riscos do esgarçamento do sistema.

O próprio FMI, desde o segundo semestre de 2018, vem chamando a atenção para esses riscos. Aliás, o problema se tornou também o tema central do debate de Davos, onde se reúnem os donos desses dinheiros.

Governos mercadistas - que são apenas décimos das riquezas - diante desses fundos se tornam periféricos no debate de Davos, onde há preocupações com as reduções de crescimento nas maiores economias do mundo.

Enquanto isso, o ministro da Fazenda do Brasil diz que nada disso importa.

Aliás, em entrevista à revista Época (14.01.19, p.24), o ministro Guedes, garbosamente, disse que para o Brasil "esse tipo de situação dramática seria uma dádiva e uma oportunidade para construir consenso político em torno de medidas duras".

Em que ponto chegamos. Quando um agente público torce para uma grave crise mundial, para ter meios políticos para arrochar ainda mais "os de baixo", em favor dos donos dos dinheiros, o que se pode esperar?

Vai torrar as nossas reservas de US$ 380 bilhões, vender e privatizar tudo e entregar o nosso futuro ao deus mercado.

E ainda há quem tenha dúvidas sobre para quê e para quem servem as crises.

O caso é mais grave porque, aparentemente, o capitalismo contemporâneo parece estar saindo de uma fase cíclica, para um novo e mais radical padrão de acumulação, onde o esgarçamento e a "destruição criativa" pode se impor.

PS.: Atualizado às 15:02 e 16:46 e 16:54: Para fazer ajustes, correções e breves acréscimos no texto original.

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