sábado, maio 17, 2014

O que diz Thomas Piketty?

Não há mais como ofuscar as evidências empíricas fruto das observações e pesquisas de longos ciclos e séries históricas comprovando a ampliação das desigualdades de renda e de patrimônio em todo o mundo. As conclusões dos estudos liderados pelo francês, em seu livro, “O Capital no Século XX” editado na França há cerca de um ano, e que ao ser lançado nos EUA há pouco mais de um mês já vem produzindo enorme repercussão. Na Espanha, durante dez dias, eu li duas grandes matérias sobre o livro e suas idéias em artigos e entrevistas. Ao retornar ao Brasil, encontrei outras duas grandes e boas matérias na revista Piauí também sobre o livro e as idéias do Piketty.

Ontem, o jornal Valor (o único impresso que ainda leio, há quase dois anos), no caderno “Eu & Fim de Semana” publicou uma extensa e boa entrevista com o próprio, em que fala do livro e das pesquisas, mas, também aponta questões que envolvem o Brasil e os países chamados de emergentes, propondo, mais que apenas fazendo diagnósticos, uma série de iniciativas.

Os ricos, reacionários e os de direita (adjetivos repetitivos e talvez desnecessários) estão estrebuchando nos EUA e na Europa, porém, não conseguem ter respostas, diante da análise dos dados. Dois economistas que são prêmio Nobel de Economia já se manifestaram positivamente sobre o estudo e suas conclusões. O colunista econômico mais respeitado dos EUA e publicado no mundo inteiro, Paul Krugman, já disse que “os conservadores parecem incapazes de elaborar um contra-ataque às teses do Piketty”.

J. Bradford DeLong, ex-secretário adjunto do Tesouro dos EUA e professor de Economia da Universidade da Califórnia em artigo publicado no jornal espanhol El País, no último domingo, 11 de maio disse: “os críticos de direita de Piketty vão transformar a valorização do seu livro chamando-o de “vermelho” e “francês”.


Enfim, confiram a entrevista do Valor feita pelo jornalista Assis Moreira:

O rock star da economia

Por Assis Moreira | De Paris
Reuters / Reuters
Piketty: 15 anos de pesquisas produziram dados inéditos, com utilidade permanente para os debates sobre desigualdade
Em seu modesto escritório na Escola de Economia de Paris, quase na periferia da capital francesa, Thomas Piketty, o economista mais famoso do momento, não demonstra qualquer afetação e parece reagir genuinamente com humildade ao estrondoso sucesso de seu livro. "O Capital no Século XXI" é uma obra (de 970 páginas em francês e 685 em inglês, mas de idêntico conteúdo) sobre a história do dinheiro, do patrimônio e do aumento da desigualdade no mundo, que tende a se tornar incontornável no debate econômico.
Ao receber o Valor, Piketty confirma que assinou contrato para a publicação do livro em português - no Brasil será editado pelo Intrínseca - e que os direitos autorais já foram vendidos para publicação em outros 20 idiomas. Comenta, com naturalidade, que já foram vendidos 250 mil exemplares nos Estados Unidos, dos quais 150 mil nas últimas duas semanas. Na maior economia do mundo, Piketty tornou-se uma espécie de economista "rock star". O auditório para sua palestra na City University de Nova York, no mês passado, estava tão repleto que obrigou à transmissão, por canal fechado, para outro espaço. Ele foi depois à Casa Branca, em Washington, a convite do secretário americano do Tesouro, Jacob Lew, para discutir as conclusões de seu livro.
Piketty diz que se trata de 15 anos de pesquisas não só dele, mas de um grupo de economistas, que cita nominalmente. Depois, reconhece que seu mérito é o de mostrar, pela primeira vez, dados sólidos para um debate permanente sobre a desigualdade.
Ele argumenta que a tendência geral é de haver mais desequilíbrio nas sociedades, e não de maior igualdade econômica. Uma de suas principais conclusões é que o mundo vai na direção de um capitalismo patrimonialista, com acumulação de renda ininterrupta enquanto persistir uma taxa de retorno financeiro bem mais alta do que o crescimento da economia.
Piketty desmonta a tese de que o mundo desenvolvido vive numa meritocracia, um sistema em que desigualdades ocorrem num contexto de prevalência da seleção por mérito e dedicação ao trabalho, mais do que por influência de fatores relacionados a filiação e renda.
Na verdade, afirma, o discurso de meritocracia fica longe da realidade: na lista dos bilionários da revista "Forbes", 60% têm fortuna herdada. E numa sociedade dominada pela riqueza, dinheiro compra poder e a desigualdade não é eliminada.
É sua convicção que a dinâmica mundial de acumulação e repartição de patrimônios vai na direção de trajetórias explosivas e espirais de desigualdade fora de controle. "Não há piloto no avião, nessa história", disse Piketty na entrevista.
Sobre a situação nas economias emergentes, ele acha que os rendimentos mais altos vão continuar obtendo uma parte desproporcional do crescimento da produção, mas o ritmo de aumento poderá ser atenuado pela expansão da economia.
Para salvar o capitalismo dos capitalistas, como resumiu o "Financial Times", Piketty propõe um imposto mundial sobre o capital. Mas acha que há muito a fazer antes, em termos nacionais, para imposição de um verdadeiro imposto progressivo sobre a renda e as heranças.
Leia, a seguir, trechos da entrevista.
Valor: O senhor é chamado de guru dos críticos das desigualdades, Marx I, economista "rock star". Como reage à repercussão de seu livro?
Thomas Piketty Para mim está bem, se isso tudo incita as pessoas a lerem o livro e façam um debate mais baseado em fatos sobre a desigualdade. Depois podem tirar as conclusões que quiserem. Se o livro faz sucesso é porque oferece, pela primeira vez, uma história do dinheiro, da renda, do patrimônio que se apoia em fontes históricas numerosas e precisas. É o resultado de um projeto de coleta de dados, de muitas pessoas, em vários países. Procuramos abranger o maior numero possível de países, e isso é novo. As pessoas discutem sobre desigualdades desde sempre e vão continuar, mas a novidade que se tem agora, com o livro, é que se torna disponível uma base histórica longa e melhor, que pode ajudar num debate mais racional. Há gente tanto de direita como de extrema esquerda que faz críticas ao livro, de toda maneira.
Desigualdade pode cair com educação e crescimento econômico, mas taxar patrimônio também é essencial, afirma Piketty
Valor: Até que ponto vai a força desestabilizadora do rendimento privado do capital mais elevado que o crescimento da renda e da produção?
Piketty: Há forças tanto para aumento da desigualdade como para sua redução. O conhecimento, a educação, a qualificação permitem, em certo momento, reduzir as desigualdades, tanto entre países - como entre emergentes e desenvolvidos -, como também no interior de países, se há instituições educativas que permitem a cada um ascender a funções melhor remuneradas. Essa é uma força potente da redução de desigualdades. Mas pode não ser suficiente. Há forças de amplificação das desigualdades, em particular em países de crescimento fraco. No longo prazo, todos os países terão crescimento fraco, pois não dá para crescer eternamente a 5% ou 10% ao ano. A experiência histórica sugere que, quando estamos na fronteira tecnológica mundial, o crescimento se reduz.
Valor: Qual a ordem de grandeza das desigualdades de renda e de patrimônio?
Piketty: Nos EUA, os 10% de rendimento mais elevado passaram de 30% a 35% da renda total para mais de 50% hoje, antes de impostos e transferências. É uma grande mudança. A questão é até onde isso vai. Entre países mais igualitários, como a Suécia em 1985, a renda total foi de 20% ou 25% para os 10% mais ricos. Nos mais desiguais, subiu a 60%. Sobre o patrimônio, a diferença é muito mais extrema e tudo é para o alto. Nos países mais igualitários, mesmo na Suíça, os 10% mais ricos têm 50% do patrimônio. Nos mais desiguais, varia de 80% a quase 100%. Antes da Primeira Guerra, a França achava que, graças à Revolução [Francesa], era um país igualitário. Era uma ilusão. A desigualdade não diminuiu porque cortaram a cabeça da aristocracia. Cerca de 80% do patrimônio estavam nas mãos de 10% mais ricos, não havia classe média. No século XX, o desenvolvimento de uma classe média com patrimônio é a principal fonte de redução da desigualdade nos países desenvolvidos. Acho que hoje temos o mesmo tipo de desenvolvimento possível nos países emergentes. Uma das conclusões do livro é que não há determinismo econômico nesse tema. O desenvolvimento patrimonial da classe média corresponde a acontecimentos históricos particulares, a instituições sociais, políticas, educativas, fiscais. Há várias dinâmicas possíveis. O livro não dá razão nem a Karl Marx nem a Simon Kuznets [economista nascido na Ucrânia, naturalizado americano, morto em 1985, autor das primeiras contas nacionais americanas e das primeira séries sobre desigualdades]. Marx pensava que as desigualdades iriam aumentar até a explosão final. E Kuznets, no extremo oposto, achava que na etapa avançada do desenvolvimento econômico as desigualdades iriam diminuir e se estabilizariam num nível inferior. Os dois estavam errados. Há várias evoluções possíveis que dependem das instituições, às vezes de choques políticos. A Primeira Guerra teve um papel enorme na redução da desigualdade no século XX [na Europa], de maneira trágica.
Valor: Os EUA criaram o imposto progressivo e, no entanto, a desigualdade no país hoje ainda é enorme...
Piketty: Cada país tem uma história complicada de combate às desigualdades, feita de hesitação, recuos, peculiaridades de identidade nacional. Os EUA não queriam ser desiguais como a velha Europa. E criaram nos anos 1920-30 o imposto progressivo sobre os altos rendimentos e sobre a herança, com um vigor fortíssimo. Entre 1930 e 1980, a taxação superior sobre renda nos EUA era de 82%. Não havia nenhum país na Europa ocidental com nível parecido. Na taxação sobre as heranças, a diferença era também espetacular. Nos EUA e no Reino Unido, as heranças mais elevadas eram taxadas em 70-80%, enquanto a França e a Alemanha ficavam abaixo disso. Sob Reagan, os EUA mudaram. Jogaram "ioiô" com seus ricos no século XX. Foram muito redistributivos num momento, quiseram colocar fim à desigualdade extrema e tinham um ideal de sociedade igualitária. Mas nos anos 1970-1980, partiram para a outra direção com o mesmo entusiasmo e o mesmo vigor, e essa é uma das explicações da forte subida das desigualdades e dos supersalários.
Valor: Até que ponto chegará a propagação dessa categoria de supersalários, em contraste com o lento crescimento de ganhos da maioria da população?
Piketty: Há o risco de que outros países, em particular na Europa, sigam o exemplo americano. A Europa é repartida em pequenos países na escala da economia mundial. As sedes de grandes empresas podem facilmente se deslocar de Bruxelas para Amsterdã, aproveitando a concorrência fiscal entre os países. Nesse pequeno território da Europa ocidental, se não houver mais cooperação fiscal, o que vai acontecer é mais concorrência para atrair grandes salários. Por força da globalização, pequenos países - e todos os europeus estão nesse caso - se encontram numa dinâmica bem diferente do que desejariam inicialmente. Atualmente, países europeus aplicam imposto sobre o lucro das empresas menor do que nos EUA, que têm taxa de 35%. Na França, são 33%, mas pode haver uma redução para 30% ou 25%, porque há pressão para baixá-la a 15% ou 20%. A Europa reduz o imposto sobre as empresas, mas aumenta o imposto sobre o consumo, sobre os salários. Tudo isso é absurdo.
Valor: Nos emergentes, o número de pobres diminui, a classe média aumenta, mas os mais ricos continuam ganhando também mais do que antes. As desigualdades que aumentam nos EUA vão se repetir na mesma dimensão nesses outros países, onde a sociedade já é bastante desigual?
Piketty: O livro mostra que a tendência de longo prazo do rendimento do capital superior à taxa de crescimento leva a forte concentração do patrimônio. Parece lógico que essa questão vai se colocar da mesma maneira para os emergentes. Mas isso pode levar tempo. Nos países com forte crescimento, a problemática principal para reduzir a pobreza é o acesso à educação, à formação. Evidentemente, o próprio crescimento é a força principal que permite aproximar os salários daqueles dos desenvolvidos. Já há emergentes, como a China, onde a questão da tributação do patrimônio merece grande atenção, diante da desigualdade de acesso à propriedade imobiliária nas grandes cidades. Não devemos esquecer a estagnação, mesmo a diminuição da população, que se vê na Asia. O aspecto demográfico tem papel importante em meu livro. Quando você vê uma população que diminui 30% na China, o tamanho da geração atual que é menor que a de seus parentes, o patrimônio transmitido por herança torna-se muito importante. No momento, na China e na Rússia a maneira de regular as diferenças muito fortes de patrimônio se dá caso a caso. Toleram os oligarcas quando são dóceis, mas se quiserem fazer política é outra coisa.
Valor: Ou seja, também nos emergentes os rendimentos mais altos vão continuar obtendo uma parte desproporcional do crescimento da produção, mas enquanto continuarem crescendo bem pode-se atenuar o aumento da desigualdade.
Piketty: Sim, é isso. Se os EUA tivessem tido forte crescimento desde os anos 1980, o aumento da desigualdade teria sido menor e as diferenças seriam mais bem aceitas. A razão pela qual os EUA se inquietam muito é que vimos a alta dos supersalários, da desigualdade, mas não do ritmo de crescimento. No período 1980-2012, o PIB por habitante subiu só 1,5%, em média. Se 3/4 vão para os 10% mais ricos, não resta grande coisa para a classe média. Se o crescimento tivesse sido de 5%, teria sido mais facilmente aceito.
Valor: O senhor é critico do discurso sobre meritocracia, principalmente nos EUA...
Piketty: O discurso sobre meritocracia é exagerado. Os ganhadores no sistema econômico - por exemplo, os que ganham supersalários, procuram justificar-se com base no mérito. Mas, quando comparamos as empresas que pagaram US$ 10 milhões a seus dirigentes, em vez de US$ 1 milhão, e tentamos ver o desempenho dessas empresas, não há nada de excepcional. Acima de certo nível de salários, trata-se simplesmente de captação de renda, o mérito tem pouco a ver. Como digo no livro, é preciso cautela sobre o discurso do mérito, que é uma espécie de corrida entre os altos salários e os altos patrimônios. Os beneficiados por altos salários se justificam dizendo que podem chegar a altos patrimônios sem serem herdeiros. O problema é para os que não são nem uma coisa nem outra. Existe uma forma moderna de desigualdade, que pesa ainda mais para os perdedores do sistema.
Valor: Ao mesmo tempo, o mundo entra numa fase de convergência entre países ricos e pobres?
Piketty: Entre países, sim. Mas são as desigualdades no interior dos países que continuam a aumentar. Se pegarmos os últimos 30 anos, vemos que a parte mais elevada do patrimônio, em termos mundiais, progrediu três vezes mais rápido que o patrimônio médio. Isso não é evidente para muita gente, porque, ao mesmo tempo, há diminuição na distribuição do patrimônio mundial entre a parte média e a parte baixa, graças aos emergentes. Mas a parte alta, os mais ricos, já se distanciam da média. Assim, quando as forças de desigualdade tiverem diminuído na parte baixa, restará a força da desigualdade vinda dos patrimônios mais altos. Muita gente ainda não se dá conta disso, porque continua havendo, com o crescimento dos emergentes, uma forte renovação das elites mundiais, com os novos ricos na China, Brasil, Rússia. É preciso ter em mente que, quando falamos de um PIB mundial que aumenta 3% em 2014, a metade é crescimento da população mundial. Ou seja, uma grande parte do crescimento mundial, da renovação das elites, é esse aumento da população. Mas, conforme as previsões da ONU, esse crescimento vai cair a quase zero por volta de 2040. Essa redução demográfica é um fenômeno novo, que pode dar uma importância ainda maior ao patrimônio e à herança do que no passado.
Valor: Ou seja, as heranças vão ter um peso maior nas economias no futuro...
Piketty: Sim, em sociedades com população estagnando ou declinante, o peso da herança poderá mesmo superar o que havia nas sociedades europeias do século XIX. E muito depende da demografia.
Valor: Com a enorme acumulação de riqueza, quem vai possuir o mundo no futuro: os fundos soberanos dos paises produtores de petróleo ou a China?
Piketty: Sou incapaz de dizer quem vai possuir o mundo em 2050. Mas é certo que, com o nível de acumulação dos fundos soberanos, as coisas podem ir muito rápido. A acumulação é gigantesca, sobretudo como efeito dos rendimentos elevados, de 5% a 7% por ano, comparados ao crescimento de 1% a 2% da economia dos países ricos. A Noruega [com fundo soberano de US$ 700 bilhões] vai se tornar um país de rentistas. Mesmo quando esse país não tiver mais petróleo, os rendimentos de seu fundo soberano no estrangeiro vão representar muito mais que toda sua produção industrial e todas suas exportações de bens e serviços. Isso é bastante perturbador para uma identidade social-democrata. A Noruega é um pequeno país, mas se pegarmos o conjunto dos paises produtores de petróleo, e a China, com reservas de quase US$ 4 trilhões, sem dúvida há uma dinâmica de repartição do patrimônio, em nível mundial, bastante explosiva. Se não houver uma regulação coletiva que permita, já agora, ter mais transparência sobre quem possui o quê, o risco de reação nacionalista poderá ser bastante forte.
Valor: Sobre emergentes, aliás, o senhor fala de "buraco negro" sobre informações de repartição de riqueza...
Piketty: É verdade que, no caso do Brasil, há muita dificuldade para se ter dados sobre a renda. Uma lição disso é que o imposto é também um instrumento de transparência democrática. Quando você não tem mais imposto progressivo, ou mal administrado, perde a fonte de informação e limita a capacidade da sociedade de conhecer a si mesma. E isso alimenta os fantasmas. Conhecer bem os altos rendimentos ou patrimônios não é para cortar cabeças, mas sim para tentar soluções pacíficas, racionais. Porque, no fundo, mesmo nos paises mais desiguais, não é suficiente taxar mais os altos patrimônios, fazer os ricos pagarem, para resolver o problema.
"A concentração de capital pode chegar a um nível que será ameaçador para o funcionamento das instituições democráticas"
Valor: Como o senhor vê um país onde os 10% mais ricos tinham 42% da renda em 2012, enquanto 13,3% cabiam aos 40% mais pobres, e a renda real do trabalho do 1% de mais ricos era 87 vezes superior à dos 10% mais pobres?
Piketty: É o Brasil, é isso? O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. Uma das lições da história do século XX nos países ricos é que não se precisa de desigualdade acentuada para ter desenvolvimento. O tipo de desigualdade extrema que havia na Europa antes da Primeira Guerra era simplesmente inútil. A França criou o imposto de renda unicamente para financiar a guerra contra a Alemanha em 1914, não para financiar as escolas. A extrema concentração de riquezas fazia com que o processo político fosse capturado pelos detentores dos altos patrimônios. Hoje, há a mesma inquietação nos EUA sobre o financiamento das campanhas eleitorais.
Valor: Sua proposta de imposto mundial sobre o patrimônio provoca muito debate. Como seria essa taxação?
Piketty: Antes de chegar a isso, pode-se fazer muita coisa em nível nacional. Nos EUA e na Europa, há tributação sobre o patrimônio, em geral na forma de impostos sobre a terra, mas não se levam em conta ativos financeiros. O que se poderia fazer é adotar um imposto progressivo sobre o patrimônio livre de dívida. Se um apartamento custa € 400 mil, por exemplo, mas tem uma divida de € 390 mil, o imposto seria bastante reduzido. Em contrapartida, a taxa sobre o patrimônio mais importante aumentaria um pouco mais. O objetivo não é aumentar o total do imposto sobre o patrimônio, mas torná-lo mais progressivo, para permitir a participação da classe pobre e média no patrimônio nacional e limitar a concentração entre as classes altas. Depois, seria necessário ir mais longe. Mas seria necessária mais cooperação internacional. A União Europeia e os EUA negociam um tratado comercial, e acho que nesse tratado seria importante incluir uma base comum de tributação sobre empresas, e o registro de títulos financeiros. É preciso proceder por blocos. Os EUA têm um quarto do PIB mundial, a Europa outro quarto, a China 20%... A novidade de meu livro sobre isso é que, se não tivermos um objetivo fiscal, com taxa mínima de tributação de ativos financeiros transfronteiras, toda a discussão no G-20 sobre a área fiscal não vai a lugar nenhum.
Valor: Mas o G-20 já avançou sobre troca automática de informações entre os fiscos (os bancos serão obrigados a facilitar o acesso aos dados pelos fiscos nacionais). Vai nessa direção, não?
Piketty: Sem dúvida. Há cinco anos, dizia-se que isso era impossível. Os bancos suíços só avançaram sob a ameaça de sanções americanas. Muita gente me diz que um imposto mundial é utópico. Eu não me impressiono com quem sabe de antemão o que vai acontecer ou não. A história dos rendimentos, do patrimônio, de impostos é cheia de surpresas. Eu tento contribuir para esse debate colocando em perspectiva uma reflexão sobre o imposto justo. E a transparência do patrimônio e do imposto é muito importante.
Valor: Qual o papel da inflação na dinâmica de repartição de riquezas e na desigualdades?
Piketty: Essa é uma questão muito importante. Prefiro o imposto progressivo sobre o patrimônio privado porque a inflação acaba afetando todo tudo e mais duramente os pequenos poupadores. Cada país tem sua própria história com a inflação. A experiência europeia com a inflação foi muito dolorosa. Permitiu à França e à Alemanha extinguir sua divida pública após a Primeira Guerra Mundial. Mas se destruiu grande parte da poupança privada, sobretudo a popular. A zona do euro foi construída em parte com essa ideia de não termos mais inflação. Mas sem inflação, e tendo uma grande divida publica, serão necessários 30, 50 anos para reduzir significativamente a divida só com austeridade. Para quem me diz que não é realista um imposto sobre o patrimônio privado, indago se é realista considerar 30, 50 anos de austeridade. Certos paises emergentes aceitam um nível de inflação, o que tem pelo menos o mérito de reduzir mecanicamente a dívida pública. Mas é claro que com inflação e, ao mesmo tempo, taxa de juro alta, tampouco se resolve.
Valor: Concluindo, o mundo vai na direção de acumulação infinita de capital?
Piketty: Não. No meu modelo teórico, a concentração do patrimônio vai parar, mas em nível muito elevado. Até onde vai? Nos últimos 30 anos, os patrimônios mais elevados cresceram três vezes mais rápido que o tamanho da economia mundial. É uma enorme concentração de capital. E pode chegar a um nível tão mais elevado, comparado a hoje, que será ameaçador para o funcionamento das instituições democráticas. Mas, em caso de crescimento econômico elevado, seria possível equilibrar o rendimento do capital e a desigualdade pararia em nível aceitável. Só que, em vez de esperar que essa inacreditável coincidência se produza, é melhor preparar um plano B, regular essa dinâmica. Não há piloto no avião nessa história.

23 comentários:

douglas da mata disse...

Bem, Roberto...

Bom saber que alguém se dedicou a estudar aquilo que a gente intuía há algum tempo.

Me recordo que em alguns debates sobre Harvey (David), falávamos que o sistema capitalista não era um processo harmônico pontuado por crises cíclicas, mas ao contrário, um processo caótico e assimétrico com intervalos de estabilidade.

E enfim, ao contrário do que pregaram as pitonisas e cassandras, Marx não morreu...assim como a História não acabou.

Roberto Moraes disse...

É verdade Douglas,

Não li ainda o livro. Só as diversas repercussões que ainda continuam.

Porém, do que tenho lido sobre ela, o que mais me chama a atenção é que não há como sustentar este modelo, sem que a democracia seja suprimida. Ele comprova que a desigualdade é um efeito inevitável do capitalismo e que se não houve um forte combate à desigualdade ela seguirá sempre crescente até níveis que sufocarão não apenas a democracia, mas a estabilidade econômica do sistema.

Neste caso não há como não falar em crise civilizatória. A reinvenção do capitalismo pode enxergar aí os seus limites e aí não se trataria de reformas, com ampliação dos tributos (que a direita se desespera, mesmo que fosse entregar os aneis para não perder os dedos, como, no caso do Welfare State, pós 2GM) e forte taxação sobre as heranças.

Difícil enxergar espaços na política contemporânea para isto.

Ainda assim, a entrada dos chamados emergentes neste circuito, apesar das diferenças da China, Índia e Rússia, ainda pode representar mudanças com novos alinhamentos.

Fugindo da barbárie enquanto hipótese, porque há que se lutar contra ela, mas, sem ser pueril, não se pode deixar de imaginá-la como espaço de transição, para algo diverso e pós-capitalista.

É uma boa reflexão.

Vou lhe mandar por email o livro em pdf em inglês. Sei que você lê bem no idioma, ao contrário de mim.

No link abaixo mais um artigo de hoje no El País sobre o tema:

http://internacional.elpais.com/internacional/2014/05/17/actualidad/1400343939_889149.html

Abs.

Anônimo disse...

Mais uma teoria para ampliar o poder dos parasitas do capital.
Ora, não tem nada de novo no livro "O capital no século XXI.
Tenta-se desvirtuar o capitalismo, para justificar a cobrança de mais impostos. E desde quando mais imposto na mão dos governos reduzem a distribuição de renda?
Dinheiro na mão dos governos, principalmente nos de esquerda e mais ainda dos petistas só proporciona mais desvios, e mais corrupção
Querem ressuscitar o dinossauro Marx, agora com outra roupagem.
Reduzir a distribuição de renda se faz com educação, mas com educação de verdade, no sistema capitalista, que é o sistema natural decorrente da forma como os homens agem em sociedade

Roberto Moraes disse...

Diante de dados, o mesmo discurso de simplista de sempre: o problema são dos pobres sem escolaridade.

Pérolas aos porcos!

Anônimo disse...

Na verdade, para garantir o Poder, a esquerda tenta criar teorias, mas que não funcionam.
O blogueiro resumiu o problema "aos pobres sem escolaridades". Soa estranho isso vindo de um professor..

A pobreza decore da falta de escolaridade.. Não andam necessariamente juntas.
Professor, quer uma prova de que o problema é realmente de escolaridade ?

Veja a Coréia de Sul. Investiu em educação num sistema capitalista e em pouquíssimo tempo é uma potência e com boa distribuição de rendas.

Agora, se formos pela teoria da esquerda, o exemplo está um pouco mais acima, na Coréia do Norte, pois é nisso que dá não investir em educação e não aceitar o sistema capitalista.

Agora, responda sinceramente: se tivesse que escolher entre as duas Coréias, em qual o Sr. escolheria viver?

Roberto Moraes disse...

Pérolas a porcos anônimos, sem coragem ainda de se apresentar.

O secretário do tesouro americano chamou o Piketty para dialogar sobre as suas propostas e as pitonisas de nossa direita continuam...

Pérolas aos porcos chauvinistas e anônimos.

douglas da mata disse...

Roberto, dê uma olhada no texto do Zizeck no blog do Nassif hoje.

Dentre outras coisas ele reproduz sua fala (e nosso debate) sobre a rua sem saída do capitalismo em relação aos arranjos democráticos e as regras do jogo!

O texto é curto, mas direto ao ponto!

O link:

http://jornalggn.com.br/noticia/hora-de-ensinar-boas-maneiras-as-superpotencias-por-slavoj-zizek

douglas da mata disse...

Pérolas aos porcos obtusos:

"(...)Veja a Coréia de Sul. Investiu em educação num sistema capitalista e em pouquíssimo tempo é uma potência e com boa distribuição de rendas.(...)"

Comentário: Necessário dizer ao pobre porco que o ciclo educacional na Coreia é resultados dos bilhões de dólares injetados pelos EUA na década de 50 (a partir de), como uma espécie de Plano Marshall para evitar a explosão da península coreana e do resto do sul asiático em conflitos (o que não deu muito certo, vide Vietnã, Cambodja, Laos, etc).

No entanto, a ajuda serviu a Coreira para acumular capital e poupança interna para tornar-se um centro regional de produção, absorvendo o esforço capitalista local, e explorando as diferenças ali geradas pela concentração de tanto dinheiro em um só país.

Fenômeno que depois se espalhou para outros "tigres".

É este movimento de enriquecimento e inclusão de trabalhadores em uma base econômica dinâmica e rica que possibilitou o avanço educacional recente.

Ou seja: é dinheiro e distribuição de renda que possibilitam o progresso escolar e não o contrário.

"(...)Agora, se formos pela teoria da esquerda, o exemplo está um pouco mais acima, na Coréia do Norte, pois é nisso que dá não investir em educação e não aceitar o sistema capitalista.(...)"

Comentário: Bom, resumir a "teoria de esquerda" ao modelo norte-coreano não é só desonestidade intelectual, é burrice mesmo.

A esquerda democrática não defende a Coréia e seu modelo autoritário.

No entanto, ainda com todos os seus problemas, fome, falta de liberdade, a Coreia do Norte ostenta níveis educacionais mais relevantes que 80% do mundo capitalista, incluídos aí o "sucesso" como Haiti, toda a África, o "sucesso" iraquiano, afegão, etc.
Nem vou citar a rica Arábia Saudita, sanguinária e autoritária que têm tantos analfabetos quanto países pobres vizinhos.

Tão surpreendente como Cuba ostentar índices de saúde pública, longevidade e educação melhores que a maioria dos países ricos do G8.

"(...)Agora, responda sinceramente: se tivesse que escolher entre as duas Coréias, em qual o Sr. escolheria viver? (...)"

Agora fica outra pergunta: faz diferença entre ser miserável ao sul ou ao norte?

Coreia do Norte ou Haiti?

Sudão ou New Orleans?

Periferia de Detroit ou Bangladesh?

A questão não é escolher entre uma e outra, mas construir um mundo que não seja baseado nestas assimetrias, que não são meras fatalidades.

Mas Roberto, eu me assusto, o nível tá só piorando...será o período eleitoral?

Anônimo disse...

É isso aÍ. Não responderam à pergunta: Coreia do Norte ou Coreia do Sul.

A educação se dá com investimentos, mas investimentos de verdade, de forma a desenvolver o indivíduo a saber raciocinar, empreender e trabalhar direito, num sistema capitalista.

Vai para a Coreia do Norte, se tiver corage. Vai para lá para ver como as teorias que defendem funcionam na prática.

Mas olha. Lá não vai ter blog para falar não. Nem internet. Talves algo de forma clandestina. E mais, vão ter quer cortar o cabelinho no feitio do ditadorzinho da moda.

Enquanto isso, os Coreanos d o Sul seguem conquistando mercados mundiais, Samsung, Hyandai etc etc et.

douglas da mata disse...

Pronto, confrontado com os fatos e as razões dos fatos, ele se abaixa e passa a escoicear os fatos...

Vamos fazer uma vaquinha e comprar um passagem para este rapaz morar na Coreia do Sul.

É Roberto, o troço tá sinistro...

Anônimo disse...

Está bom. Eu vou morar na Coréia do Sul e o Douglas na Coréia do Norte. Eu aceito!
Vou trabalhar na Samsung, ganhando um bom salário; o Douglas vai ter que capinar na roça em troca de algum para não morrer de fome

Roberto Moraes disse...

Pode ser também "talves", se tiver "corage" pode ir para Uganda e outras periferias criadas pelo capitalismo.

Talvez para esta turma que vive de ler a "Óia" e ver o "JN" seja preciso desenhar.

A questão que se coloca para o mundo é se teremos governos para a maioria ou para as minorias controladas até os dentes por seguranças, tentando evitar a barbárie.

As periferias que antes estavam nos países dos continentes abandonados, agora estão dentro dos próprios países, diante do arsenal de ataques ao welfare-state que consideram um absurdo e que não há porque incluir os pobres.

A questão é estrutural e do sistema capitalista. Aliás, os russos ganharam a guerra, e na ocasião, mesmo com Stalin tendo acabado com todo o Comitê do PC, era laureado pelos americanos, que só adiante com a criação da Guerra Fria, passou a atacá-lo. As fontes históricas para comprovar os fatos estão aí para quem quiser conhecer.

O modelo Stalinista ou similares já foram rejeitados pela esquerda democrática, mas prossegue na busca do pós-capitalismo, seja isto, algo ainda a ser construído.

Ainda assim, pérolas aos porcos!

É meu caro Douglas, as limitações são de estarrecer. Mais que ideológica, as questões estão ligadas à falta de apetite para conhecer melhor o processo histórico de forma a analisar melhor a realidade contemporânea.

Podem continuar a defender o liberalismo, o individualismo e a meritocracia, mas, que façam isto com argumentos menos pueris.

Anônimo disse...

O blogueiro aproveitou para apontar erros no texto. Se atualize meu caro. Na verdade são erros de digitação, porque quando se escreve em smartphones e tablets ocorrem preenchimentos automáticos de palavras, no sentido de agilizar a digitação. Ocorre que nesse processo, o dispositivo tenta "adivinhar" as palavras e acaba errando várias vezes. Dependendo de onde estou, não me preocupo em corrigir os erros, pois o tempo é curto e,S estiver na rua, pode-se até ser assaltado e outras consistas mais. Vivemos no Brasil, esqueceu, e no Brasil do PT, onde a bandidagem impera cada vez mais.
Mas o blogueiro ainda não respondeu: vai ou não vai morar na Coréia do Norte? Verás como funciona na prática um sistema não capitalista. Vai ter que cortar o cabelo, deixando-o igual ao do imperadozinho ...que tal? Leva o Douglas junto, quem sabe , talvez vocês se dêem bem com o lunático que pensa que o mundo é um game de guerra.

Roberto Moraes disse...

O anônimo corajoso continua na mesma toada "grobal".

Não consegue pensar fora da sua caixinha.

Tem uma "tara" pelo cara da Coreia e acha que por isto entende o mundo.

Sequer foi capaz de levantar a questão que diz respeito sim, à postagem porque nos últimos anos de que tanto reclama a desigualdade no país tenha reduzido, mesmo que se tenha deixado os riscos ganharem como antes, mas, atuando na base da pirâmide com condições sociais para se estudar, mais escolas, mais cefets, mais universidades, mais vagas prouni, etc.


É evidente que o investimento nas massas mais pobres contribuirá para paulatinamente melhorar nossa situação. Querem que isto seja feito em 10 anos, o que a colonização segurou por cinco séculos.

Piketty também levantou que aqui 1% dos mais ricos detém 17% de toda a renda do trabalho. Nos EUA ela chega a 19%.

O problema é estrutural do sistema econômico que é cada vez mais mundializado. Neste processo as nações buscam se movimentar.

Porém, o que espanta mesmo a esta elite branca e preconceituosa que reclama dos aeroportos e shoppings cheios é que está chegando a hora de trabalhar sobre a outra ponta da pirâmide social.

Aí se terá que mexer naquilo que a base social saída das eleições permitirá, assim, como os novos alinhamentos e cooperação geopolítica.

O Piketty junto com o Zucman levantaram que 1/3 do rendimentos de capital nos EUA vem de investimentos em outros países. Por isto aumentam mais a desigualdade lá até do que aqui, já esta acaba exportada.

Mais pérola aos porcos, para aquele que tem como problema, que Freud explica uma tara pelo coreano, rs, rs... Não pensa em outra coisa, assim como Hitler, Freud explica, rs, rs.

Anônimo disse...

Professor:

Imaginemos que se criem o imposto sobre a herança e o patrimônio. O que vai acontecer?

O de sempre: Somente a classe média pagará quando deixar seu apartamento para o filho. O senhor, eu, Douglas e o anônimo sem argumentos aí de cima. Nós pagaremos. Os ricos, banqueiros, mega especuladores dos derivativos financeiros e grandes coronéis da política continuarão mais ricos e não pagarão. Seja através de sonegação pura e simples, seja através de manobras fiscais, jurídicas ou contábeis. Fraudulentas ou não. Exatamente como acontece hoje.

Ainda estou para ver que governo enfrentará os bancos, o grande capital que governa o mundo.

Quando Lula foi eleito pela primeira vez, o primeiro telegrama de felicitações que chegou ao novel presidente foi da FEBRABAN. Aquilo me desanimou. Pensei: mais um que vai capitular frente ao poder do capital.

Os bancos ganham muito em todos os governos, e não é diferente neste.

O lucro do Itaú foi maior que o da Petrobrás. Tem coisa errada aí. Como pode a maior empresa do país perder para quem somente especula, sem produzir um parafuso sequer?

Como disse Bernie Madoff sobre a luta do capital: "estamos ganhando o jogo"

Anônimo disse...

O itau teve um lucro maior do que a Petrobras?

Mas não era para ser diferente. O que faz o governo do PT?

Mantém as altas taxas de juros, desde o início com o Meireles no BC. E a Petrobras e demais estatais cada vez mais aparelhadas com os petistas, e sendo usadas para tentar combater a inflação , mantendo preços artificiais para os combustíveis e energia.

Curioso e que os "entendidos" que opinaram não citam a maior causa das desigualdades sociais no Brasil, que é a inflação. Essa corrói o poder aquisitivo da classe média e dos mais necessitados e carreiam o capital para os que já os tem.

Mais impostos não resolve o problema das desigualdades. Dinheiro na mão dos governos vão para o ralo dos desperdícios e desvios. Está aí o governo do PT para demonstrar

Roberto Moraes disse...

A conversa agora ficou melhor sem a "tara" com o coreano, embora ainda eivada, senão de lugares-comuns, mas, de argumentos repetidos, que levam à ideia de que se não há como mudar, melhor aderir e defender. Ou apenas, retórica, para defesa do mercado.

Sobre o tema da nota é melhor ler, senão o livro, pelo menos mais resenhas, artigos e as diversas entrevistas com o autor sobre o tema. Caso contrário acabará escolhendo apenas partes tentando entender ou decifrar o enigma.

O Piketty fala mais sobre as evidências que encontrou sobre as desigualdades dentro e não entre os países.

Para mim este um ponto importante, porque parto da compreensão de sendo o sistema econômico mundial apenas um, o processo de crescimento de um certamente leva aos dependentes a patinarem.

Ainda sobre as desigualdades dentro dos países, embora ele foque como é compreensível nos EUA e nos países europeus, de onde se tem mais dados sobre renda e patrimônio, a partir das evidências ele não se atém a questão da renda com os impostos, embora este seja um ponto básico e hoje discutido pelo próprio governo americano, onde a sociedade, menos por pudor e mais por medo teme a desigualdade. É invariável que os EUA aumentará a carga de impostos, mesmo que tenha limitado isto no presente para sair da crise.

A outra questão que os EUA tinha e foi abandonando é o imposto sobre heranças, limitando as gerações e aumentando progressivamente a alíquotas.

Esta conversa de mais ou menos estado é balela.

No auge do neoliberalismo, o Estado todos os estudos mostraram que o Estado estava mais envolvido com a economia e com a vida das pessoas que antes. A questão apenas é sobre a captura do estado de forma quase completa pelo poder econômico.

A repercussão disto no Brasil é enorme. Dizer que o Estado é ineficiente e o mercado eficiente é uma luta inglória, porque há exemplos bons e ruins dos dois lados.

A questão é outra para que serve o Estado. Ou ele não serve para nada? Sua invenção não foi de comunistas. Rosseau levanta do túmulo se ouvir isto.

Tem atividades que o Estado não pode abrir mão. O Estado por diversos fatores continua a reunir elementos indispensáveis para alavancar a vida e a economia, ao mesmo tempo que tem poder para controlar e regular aberrações, embora, cada vez faça menos isto, até pelo estado mínimo que lhe foi imposto mundo afora e também no Brasil.

Em nosso caso específico a questão rentista vai muito para além dos bancos e fundos. Ela está impregnada na sociedade, em seus diversos níveis, desde aos de mais alta renda que possui enormes patrimônios frutos de heranças ou altas rendas e quer valorizá-la com altos juros, sem produção, ao pequeno proprietário de um barraco na favela, com construção irregular que constrói um puxadinho e aluga e torce para que os juros aumentem. Bate palmas quando se diz que os imóveis valem mais, mesmo que isto seja ruim para ele e para seus objetivos imediatos.

Esta questão de se viver da renda se junta a uma elite que, com raras exceções não pensa grande e, desistiu de pensar a produção, seja, de produtos, seja de serviços ou infraestrutura.

As mudanças neste dilema não são simples.

Quanto a comparar lucro de uma empresa que produz e investe tudo, usando seu lucro em novos investimentos, que aliás lhe deu o pré-sal e outras reservas e ainda faz três refinarias, plataformas, sondas, não pode no presente ter lucro igual ao de um banco. Fazer esta comparação ou é despreparo ou é estelionato.

É o bastante!

Roberto Moraes disse...

Se precisar a gente desenha.

Veja o infográfico produzido pelo Valor sobre as taxas de juros e outras coisitas a mais:

http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/os-numeros-das-gestoes-do-psdb-e-do-pt

Também não dói e não é difícil entender que a redução acentuada de juros no governo Dilma gerou a pressão dos rentistas que articulados com os bancos fizeram ou compraram a mídia para mexer nos juros, com o velho discurso da inflação e aí, tem eleição eleva-se os juros para acalmar os "comilões" de sempre.

Pois então, agora os tucanos, não querem pressionar mais querem entregar novamente a chave do cofre ao próprio banqueiro Armínio Fraga, para voltar os juros aos patamares da época de FHC.

Simples assim. Governa-se para estes poucos e que se dane o resto.

No fundo, no fundo como seguiram ganhando e isto era do jogo, na verdade não se conformam mesmo é com a ascensão dos mais pobres, porque encareceu ou desapareceram as empregadas domésticas, os aeroportos ficaram cheios, etc.

Veja Marcelo Adnet quando ainda era da MTV explicando o caso:
https://www.youtube.com/watch?v=jrUVle5wdPY&feature=share

Cada um lê o que quer. O embate ideológico fica mais claro com as redes sociais. O sentimento de colonizador e colonizado se evidenciam.

Anônimo disse...

O blogueiro está tergiversando com os dados.

Ora, o PT está há mais de dez anos no poder! Por que não mudou essa situação?

O fato é que o PT mantém a política de juros reais altos (por vezes altíssimos) que beneficia em muito os bancos, em favor também dos rentistas, que, quanto mais ricos, mais ricos ficam, em detrimento dos mais encarecidos e pobres, que, com a persistente inflação (qualquer índice de inflação acima de 4% por cento é tremendamente injusto, considerando a sua contribuição para a piora da distribuição de renda do país).

O que faz o PT? Diz que tem uma meta de inflação, mas só consegue, com muito custo, manter o percentual estabelecido como teto da meta de inflação.


Na verdade, como não tem competência para realmente resolver os problemas estruturais do Brasil (na verdade, o projeto do PR é apenas um projeto de Poder), os petistas governistas vão "empurrando com a barriga", prolongando as consequencias nefastas da sua política monetária, iludindo a população com bolsa família e enriquecendo os do "andar de cima" com as "bolsas-BNDES". É por essss e outras que o Lula muito bem aceito pelos banqueiros. Os últimos anos de governo do PT foram os que o bancos privados vêm obtendo seus recordes de lucros; chegando a ultrapassar a Petrobrás.

Basta lembrar: quem foi o Presidente do BC no Governo Lula? O banqueiro Henrique Meirelles. Não precisa dizer mais nada ... Esses é que são os fatos, sem tergiversações.

Roberto Moraes disse...

Mais do mesmo.

Fácil trocar as causas por consequências, mas, o mesmo discurso único.

Melhor voltar para a "tara" com o coreano, rs.

Não tenho pérolas, mas, par anão perder tempo seguro até grão de areia para não jogá-las.

Volte para o plim-plim ali é o seu lugar, rs.

Anônimo disse...

O Piketty já poderia dar um exemplo do que prega.

Considerando que seu livro está fazendo um sucesso mundial, por que ele não doa ao menos 80% do seu faturamento para alguns países que estão na miséria.

Aliás, o seu desempenho é um exemplo de que os homens não são iguais. Possuem capacidades e competencias diferenciadas. Ele faz por merecer os altíssimos ganhos, pois se dedicou aos estudos e teve competência para demonstrar suas teses. Não é qualquer escritor que consegue essa façanha.

Só que suas teses são na realidade utopias. Ele possui méritos, está ganhando muito dinheiro com isso e está subindo de classe social.

Anônimo disse...

O Piketty já poderia dar um exemplo do que prega.

Considerando que seu livro está fazendo um sucesso mundial, por que ele não doa ao menos 80% do seu faturamento para alguns países que estão na miséria.

Aliás, o seu desempenho é um exemplo de que os homens não são iguais. Possuem capacidades e competencias diferenciadas. Ele faz por merecer os altíssimos ganhos, pois se dedicou aos estudos e teve competência para demonstrar suas teses. Não é qualquer escritor que consegue essa façanha.

Só que suas teses são na realidade utopias. Ele possui méritos, está ganhando muito dinheiro com isso e está subindo de classe social. Seu desempenho está contribuindo, de fato, para a uma má distribuição de renda, no mínimo entre os escritores

Roberto Moraes disse...

Oh meu caro,

Esta é daquelas do pior ranço que pode haver, mesmo no campo das disputas ideológicas, de que o cara para defender a redução das desigualdades, tem que estar na merda.

Há quase meio século escuto isto daqueles mais empedernidos defensores do capitalismo, dizendo ser assim o ser humano. Para mim pouco importa que seja, ou não. Importa é a luta pela mudança.

Pérolas ao porcos. É o suficiente para mim!