terça-feira, novembro 24, 2015

Obsolescência mal programada & capitalismo selvagem diante do enxugamento de gelo

Todo mundo já percebeu que o sistema criou um processo contínuo onde os produtos possuem um ciclo de vida cada vez menor.

A ideia desenvolvida com o encurtamento do ciclo de vida do produto era que após um período de uso, não muito maior que a garantia, o chamado usuário já necessitasse substituir o produto de forma a gerar demandas permanentes e ciclos repetitivos.

Assim, impulsionadas pela publicidade, os produtores de mercadorias geram novas necessidades e alimentam uma demanda contínua.

Do conceito de ciclo de vida encurtado do produto, o sistema avançou para outro de obsolescência programada. Nesta condição o produto deixaria de ser útil, mesmo estando em perfeito estado de funcionamento, devido ao surgimento de um produto que seria tecnologicamente mais avançado.

O avanço e a inovação presente nos modelos posteriores, na maioria das vezes é apenas um papel de violento marketing e "embelezamento" do "novo" produto que consome valores cada vez mail alto de publicidade e pouco de inovação técnica. Assim, os custos de marketing se aproximam dos custos de produção e tornam os equipamentos mais frágeis, reduzindo ainda mais seu ciclo de vida.

É nesta toada que o cidadão, se transforma em consumidor e o sistema virtuoso para os produtores. Alegam que tudo isto justificaria a produção em massa de produtos, com preços mais em conta, num sistema em que o consumo e a lógica consumista se torna a regra.

O que não seria imaginável é que chegaríamos a um ponto onde a obsolescência acabou se tornando tão mal programada que o produto dá defeito antes até do fim da garantia.

Refiro-me a uma questão geral ligado à reestruturação produtiva e à indústria de massa, mas me calço também num caso específico, em que este blogueiro é vítima. Há dez meses adquiri um notebook da marca Asus. Depois de um bom funcionamento, umas teclas pararam de funcionar.

Fiz contato com o suporte que informou que a empresa já não trabalha com assistência técnica descentralizada e que eu teria que embalar e colocar nos Correios, a partir de um código enviado pela empresa para um endereço central de atendimento e assistência técnica.

Depois de cerca de três semanas, a empresa informa por email que o equipamento não tem conserto por falta de peças e que ela se dispunha a devolver a quantia paga pelo equipamento.

Reclamei sobre o absurdo da situação e pela forma da empresa Asus rechaçar a hipótese - única aceitável - de entregar um outro novo equipamento igual ou similar, em desempenho. Aleguei que seria a única forma de ainda manter algum respeito pela marca, já mal vista.

Além disso, eu reclamei que neste período os equipamentos similares aumentaram de preço por conta da variação do dólar e como consumidor eu não deveria ter que arcar por um acréscimo de cerca de 25% na aquisição de um produto similar.

 A Asus em nova resposta informou que tentou a alternativa, mas que não existia estoque disponível e que assim faria o depósito do valor pago pela mercadoria.

Independente do desfecho que o caso terá, que não vem ao caso, eu resolvi trazer a exposição para que possam refletir e entender  até onde chegamos com este modelo que produz lixo em tempos mal calculados, pelos fabricantes.

Imagine a fábrica dizer que um equipamento feito por ela e adquirido por você, por um defeito simples, se tornou inutilizado se transformando em lixo, por falta de peças, antes mesmo da garantia ser terminada.

Antes que atribuam problema a uma marca, eu tenho que dizer e há exemplos inúmeros em diversos fóruns pela internet, que a situação e caos semelhantes estão longe da exceção.

Obsolescência neste caso se torna mesmo um pleonasmo porque o que se tem mesmo é lixo e corrupção entre as partes do sistema.

Há quem acredite nos mecanismos, que estes mesmos que criaram este sistema, incentivaram e que é conhecido como sendo de "defesa do consumidor", em meio a emaranhados de filas e reclamações que atendem pontualmente alguns casos, diante de um oceano de problemas que são sistêmicos.

O Estado tem sido impotente diante desta realidade, onde proteção e o apoio a quem quer produzir e gerar emprego, é sempre muito maior do que qualquer tênue preocupação em regular, controlar e fiscalizar este sistema.

Diante das evidências enxugar gelo é parte do processo.

PS.: Atualizado às 22:37 de 30/11/15 para corrigir a grafia da palavra conserto.

9 comentários:

Anônimo disse...

Da próxima vez compra um Dell e descubra o significado da palavra "Controle de Qualidade". Tenho um há mais de 10 anos que só o aposentei por não dar mais vazão aos softwares atuais, cada vez mais pesados para rodar.

Tenho 3 geladeiras, a mais nova tem 5 anos e a mais velha mais de 20!

Tenho uma televisão de 29" com 15 anos de uso e outra com 6 anos. Porém, tenho uma de LED de 47" que já apresentou pequenos filamentos queimados na tela, já a minha mãe possui uma da mesma marca que está perfeita há mais de 10 anos.

Não acho proposital que a indústria faça produtos "frágeis" para fazer a "roda do capitalismo". Minha TV tem 3D e só usei 2 vezes, não acho a menor graça isso, mas tem gente que gosta. Assim como não tive impulso de comprar uma de 4K ou tela curva. O consumidor é quem dita suas próprias escolhas. Há quem pague R$ 4.000,00 num iPhone, eu acho um absurdo, mas cada um vê o que é melhor pra si, não?!

Roberto Moraes disse...

Cada um olha o liberalismo que lhe convém tentando fazer crer que o indivíduo é que decide tudo diante do poder do mercado.

Falar de marcas e casos valem pouco diante do sistema e sua lógica. Isto me moveu externar minha reflexão sobre o sistema.

Sei que há outras interpretações e várias sugestões de marcas e fabricantes, assim como temos com as operadoras de telefonia celular, onde nos deparamos com opções para ficar no mesmo lugar.

Anônimo disse...

Robertão! O que você chama de "liberalismo que lhe convém" eu chamo de livre mercado!

Tente comparar um carro chinês, um americano, um alemão e um japonês. Tem gente que ama os chineses, na minha modesta opinião de quem tem carteira há mais de 20 anos, prefiro os alemães e japoneses (já tive) por serem mais bem construídos.

Há quem vá preferir os seus serviços de engenheiro pelo seu portfólio, outros justamente não o contratará justamente por seu portfólio.

Há quem goste do azul, outros do amarelo e há aqueles que não fazem a menor idéia do que seja amarelo ou azul e prefira porque alguém preferiu, enfim.

Quando eu digo pra você sobre marcas, não é proselitismo de cunho marqueteiro não, chama-se histórico! Experimente fazer uma pesquisa na rua em que a pessoa escolha entre CCE e Sony.

Antes de comprar um notebook ou outro eletrônico, pesquise antes QUEM dá assistência e AONDE fica a assistência. Consulte quem sabe, quem trabalha no ramo, não faça como meu cliente que comprou um notebook da Philco e "descobriu" que a ÚNICA assistência técnica autorizada, ficava no bairro de Ramos, sendo que ele mora no Leblon e eu quando lá cheguei com o aparelho vi uma cena típica de hospital do SUS, com senha e uma longa fila de espera. Tinha gente até de Macaé e Rio Bonito com um notebook debaixo do braço!

Sabe porque eu falo isso? Simples! Trabalho com isso há 20 anos, meu nobre! Só por isso.

Boa sorte na próxima compra e tente não fazer menos de quem opina e traz luz aos questionamentos, mas sei que isto é uma tarefa muito difícil a quem prega "diversidade", não é mesmo? Um abraço.

Roberto Moraes disse...

Oh meu caro,

A mesma cantilena de sempre em defesa do sistema.

Como mineiro e acionista das mineradoras andava sumido, na mesma proporção que a lama acabava com as cidades, o Rio Doce e as praias capixabas. Sim, o livre mercado, a competência técnica das barragens similares aos dos equipamentos cujas peças somem antes mesmo do fim da garantia.

Assim, pula da lama para o notebook, porque seria muita cretinice ter coragem de defender a lama matando trabalhadores e as comunidades, enquanto os criminosos estão soltos.
O comentarista que se diz defensor de livre mercado mesmo diante da realidade faz questão como os poderosos de trocar as vítimas pelos seu algozes.

Não se poderia esperar nada diferente de quem não quer sequer regular o capitalismo.
Tenho sempre que lembrar Delfim Neto que chama o capitalismo de monstro e lembra da necessidade permanente de controlá-lo.

Marcas e nacionalidades são repetidas como se eles fossem construção do acaso. Portfólios e causos sempre a esconder a lógica e as contradições do sistema.

Em sua lógica, a culpa é do cidadão que virou consumidor. Os equipamentos e as assistências técnicas são feitas pelas mesmas empresas contratadas, tirando as exceções. A Foxconn monta HP, Acer, Dell, Apple etc.

A empresa terceirizada que atendeu como assistência técnica é a mesma para várias fábricas. O sistema se consolidou para atender a redução de custos de quem produz independente do que atende ao consumidor.

Ao dizer que “trabalho com isso há 20 anos, meu nobre!” é que se vê com que tipo de gente o sistema vai sendo construído.

Diálogo com quem defende o capitalismo selvagem e a desigualdade como parte da lógica que atribui as causas às vítimas do sistema faria sentido se os que questionam e apontam as contradições do sistema tivessem espaço similar para debater a diversidade de opinião na mídia comercial.

É o suficiente!

douglas da mata disse...

Pérolas aos porcos...Meu caro amigo, pérolas aos porcos...

A sentença: "trabalho com isso há 20 anos", é clássica...

Então para falar de guerras, temos que nos alistar, para falar de geopolítica, temos que ser diplomatas, e por aí vamos.

O que o imbecil desconhece(?), ou finge, é que as corporações que vendem DELL, controlam as que vendem outras merdas, e professam "controle de qualidade" para uns idiotas que gostam de pagar caro, no chamado consumo vertical, com margem mais alta para vender para pouco idiotas, usando conceitos como "controle de qualidade, exclusividade, investimento em tecnologia, design", e tantos outras falácias para enganar esses trouxas...

E na outra ponta, vendem traquitanas mais baratas para açambarcar mercados menos tolerantes a preços altos, horizontalizando o consumo.

Depois, usam outro conceito mais "refinado": "livre escolha" ou "consumo consciente", lançando ao boboca a responsabilidade por ter comprado uma merda mais cara ou mais barata, onde as possibilidades sempre já estão pré-determinadas.

É o que se chama "linha de combate", por isso a Lever vende OMO e SURF com preços tão díspares, e/ou compra controle acionário de outras fábricas, etc, etc...

Minha filha tem um DELL que em 3 anos deu pau, e teve que ser descartado...

Comprei uma máquina de lavar da Eletrolux que durou 10 anos, e por isso comprei outra com a mesma marca, buscando a mesma eficiência, e não durou 1 ano sem dar pau...

A VW vende a imagem de excelência, e frauda o consumidor estadunidense (olha, não estamos falando de cucarachos latinos) como foi o caso do escândalo das emissões.

Esperam anos para chamar "recalls", enquanto as mortes e as indenizações não superam os custos necessários para os reparos em bloco (recall). É o chamado controle do passivo jurídico, como fazem bancos e empresa de telefonia e outras em geral, enquanto controlam os custos judiciais, por que reparar processos?

Olha o caso da Mariana. Ficava mais barato manter a cidade sob ameaça do que prevenir acidentes...Agora, buscam saídas financeiras para diluir custos e securitizar os prejuízos, limitando a reparação às vítimas, utilizando a urgência e penúria das vítimas como argumento chantagista para impor valores pífios, sempre escudados pela conveniente "demora" dos processos judiciais (que não acontece por obra do acaso).

É, Roberto, e você segue insistindo em dar pérolas aos porcos.

Roberto Moraes disse...

Verdade Douglas,

Quisera que tivéssemos espaço similar na mídia corporativa-comercial que professa a mesma linha neoliberal.

De outro lado, como Freud já ensinava, antes mesmo da ciência política, melhor deixar falar para que tenhamos uma noção mais clara do tamanho da idiotice dos que defendem a VW, Samarco Dell, quando até o deus mercado deles já perceberam que sem um mínimo de regulação como a OCDE luta desesperadamente, o sistema não suportará. Até os americanos já perceberam isto mas os colonizados, neste ponto se distanciam daqueles que o formaram tal e qual. Freud não explica, rs.

douglas da mata disse...

Pois é, enquanto damos espaço a esses cretinos, eles não conspiram tanto...é melhor tê-los aqui, vociferando, que participando de cripto-discussões e tramando golpes em sociedades secretas.

Anônimo disse...

"Concerto" é de música.....

Roberto Moraes disse...

Sim. Mesmo sabendo da diferença a atenção focada no texto me fez errar a grafia.

Agradeço pelo alerta.

Farei a correção.