terça-feira, novembro 15, 2016

Carros do "futuro" entre a técnica e as humanidades iluminam apenas a história

Muitos que acompanham o blog e veem que boa parte dos comentários mais recentes versam sobre economia, ciências política e outras - em passeios pelo campo das humanidades - não sabem que este blogueiro possui como formação original a área das engenharias.

Mas, é bom tentar aprender e conversar sobre outros campos do saber a serem desenvolvidos. Faço isto com enorme prazer. Mas, é interessante, que mesmo em outros campos - de um saber mais geral, mais totalizantes - algumas abordagens da formação original segue acompanhando a gente, por um bom período da vida.

Pensei sobre isso, ao ler recentemente sobre as estratégias que as montadoras de automóveis estão utilizando para ampliar o uso dos sistemas digitais nos carros mais novos.

Em especial me chamou a atenção que o planejamento e o processo para essa "digitalização" dos carros são feitas por etapas, embora às vezes a maioria não perceba, esses "detalhes". A maioria só observa os resultados e reclama pela qualidade, ou falta deles.

Assim, me surpreendi ao conhecer os detalhes das etapas do que chamam de ampliação do uso dos sistemas digitais nos mais novos carros.

1) Feet Off - são os sistemas digitais que controlam freios, aceleração e marchas;

2) Hands Off - os sistemas para automação da direção dispensando o uso das mãos;

3) Eyes Off - sistemas que dispensam a visão das pistas;

4) Mind Off - significaria a junção das demais com a automação total dispensando o trabalho humano de condução dos veículos.

Sim, são quatro etapas em que o off é o humano.

É interessante observar como o planejamento em etapas, mesmo que o desenvolvimento de uns conceitos possam ajudar as outras etapas, elas trabalham dimensões distintas.

O planejamento precisa sempre ter a visão do todo, que no caso é o carro e o seu deslocamento. Porém, a organização das pesquisas e desenvolvimento podem ser desenvolvidas por etapas que muitas vezes terão velocidades de evolução distintas.

Os projetos dos "carros do futuro" mobilizam recursos e interesses da indústria que é central no processo de desenvolvimento do sistema capitalista no mundo: as montadoras.

O seu avanço determinou a ampliação do consumo de energia, do petróleo e seus derivados em todo o mundo. Processo que ajudou a mudar o planeta e geopolítica para controle sobre a produção. Gerou os choques do petróleo e os "conflitos regionais" (pleonasmo para as guerras localizadas)

Este assunto já é menos da engenharia e mais da macroeconomia e da política. Assim, como se vê, a interpretação do mundo real, nunca deixou de ser unido, apesar dos saberes serem desenvolvidos de forma tão profundamente desvinculadas, embora os planejamentos das etapas sejam distintos.

É ainda mais instigante pensar que este desenvolvimento dos sistemas digitais para carros vai para além. E seu limite tornará o Uber, que tombou os ultrapassados táxis um lixo, depois de enriquecer os donos do aplicativo, lá no centro dos "dinheiros do mundo".

Adiante daquelas quatro etapas do planejamento do carro do futuro, se projeta o uso do sistemas digitais com interação entre sensores nos carros e nos sistemas de mapas de alta definição, que cada carro transmitiria para as "nuvens de dados". Estes juntos, seriam retornados, como informações para definir a direção dos mesmos sem motoristas.

Pensam os projetista, que os carros conversariam indiretamente entre si, numa espécie que os "programadores otimistas" chamam de "inteligência coletiva", se desviariam dos congestionamentos, dos acidentes, dos riscos e tornariam o imprevisto ruim, e também o bom, em quimeras.

De novo misturando técnica com as humanidades, eu fico aqui pensando com os meus botões: não será isto que querem para as máquinas, aquilo que estão tirando dos humanos? Porque estes seguem cada vez mais individualistas e dialogando menos coletivamente. Dia-a-dia.

Mas, isto são ideias que vão e voltam - no meio de um feriado - de uma nação e um mundo pensado para poucos com consumo de luxo, sistemas e controles digitais, enquanto a maioria segue abandonada por uma periferia. É certo que ela adentrará ao centro, com ou sem sensores e mapas digitais. Será apenas uma questão de tempo.

Talvez, já neste extremos, os mesmos programadores dos carros "mind off" sejam controlados para acionar outras "inteligências coletivas" e assim deter a maioria.

A maioria há muito é considerada estorvo, nestes tempos e movimentos que tornaram, não apenas as coisas fluidas, mas também as pessoas superficiais.

De forma simultânea a preocupação com a civilização, seria apenas mero capítulo de um livro de história, que está ainda num futuro e que nunca coube nem no carro e nem em saberes compartimentados.

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