quinta-feira, novembro 10, 2016

Por que desintegrar a Petrobras? O caso do GNL do Qatar para UTE da Esso e o mercado de energia do Nordeste

Como os que acompanham o blog já sabem, nos últimos 4 a 5 anos este blogueiro intensificou seu estudo sobre a relação petróleo-porto na Economia Global.

Assim, eu venho investigando os movimentos destes dois setores e suas repercussões sobre o Brasil e, de forma mais especial sobre a economia e o território do ERJ.

O caso deste empreendimento de um terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL ou LGN) e uma usina termelétrica na localidade de Barra dos Coqueiros, no Porto de Sergipe chama a atenção por vários aspectos.

Trata-se de um investimento de R$ 4,3 bilhões para implantação do terminal (reservatório) de gás natural e uma usina de geração de energia elétrica com 1,5 GW de potência - que alimentada por gás será a maior do tipo na América Latina - será responsável por atender 15% da demanda de energia elétrica do mercado do Nordeste. Veja aqui na matéria do Valor Online de hoje, uma matéria detalhada sobre o empreendimento.

A americana GE inclusive já ganhou contrato de U$ 900 milhões para montar a planta da usina que pelo projeto terá três turbinas a gás da empresa, mais uma turbina a vapor, além de um gerador de recuperação de calor (HRSG).

Até aí tudo bem. Investimentos, geração de emprego, ampliação da infraestrutura de energia do país, etc. Mas então quais seriam os problemas no projeto coordenado pelas Centrais Elétricas de Sergipe S.A (CELSE)?
Terminal de GNL da Petrobras

Que relação isto pode ter com a Petrobras? Com o processo de fatiamento de suas subsidiárias, em que a holding está sendo desintegrada e desverticalizada? 

Veja que apesar do Brasil ter gás, o projeto importará gás do Qatar Petroleum que entrou de sócio no empreendimento, com participação de 70%, com o objetivo de escoar o gás natural que produz no Oriente Médio. O outro sócio é a americana Esso com 30%. Os equipamento serão fornecidos pela americana GE. 

E o Brasil entra com o quê? O país tem gás natural e necessita de infraestrutura para escoamento e distribuição. Mas, o caso mostra como se dá um processo em que o estado é um apêndice dos interesses provados. Assim, o Brasil entrega o seu mercado para quem tem o mesmo insumo (gás natural) e para quem possui os equipamentos. 

Enquanto isto, segue-se o trabalho de desmonte da Petrobras. Além de não poder ampliar e fazer sociedade para construir mais ramais de gasodutos, e assim escoar o gás natural que sobre no pré-sal, a nova diretoria da Petrobras vendeu a malha de gás do sudeste (NTS) com 2,5 mil quilômetros, para outras empresas fazerem seus negócios e apurarem os seus lucros. 

Além disso, o Ministério da Minas e Energia trabalha freneticamente para suspender toda e qualquer regulação e assim poder entregar, de forma desregulada, o setor às corporações globais especializadas no assunto. 

O diretor mundial da espanhola Engie, Jean Marc-Leroy que também é presidente da Gás Infraestructure Europe (GIE) - poderosa associação que reúnes as players europeias do assunto - está no Brasil pressionado pela desregulação do setor de gás no Brasil, a partir da desverticalização da Petrobras e do fim de toda e qualquer obrigação de conteúdo nacional para equipamentos e construção de instalações.

Eles querem acesso indiscriminado a toda infraestrutura do setor e flexibilidade de atuação, para poder ter assim liquidez e desta forma poder entrar e sair quando quiser do negócio. Leroy disse abertamente que desta forma o Brasil abre muitas oportunidades, mas primeiro faz questão de intervir para reduzir as regulações do setor.

Mais claro impossível. O país vai se transformando num republiqueta. As corporações e oligopólios transnacionais vitaminadas pelos dinheiros dos fundos financeiros [sem cara] querem apenas nosso mercado e o lucro das generosas tarifas que serão calculadas conformes seus desejos. 

Não se trata de ser contra parcerias. Isto seria possível. A Petrobras e outras empresas nacionais privadas fizeram e continuam a fazer para construir empreendimentos e desenvolver nossas infraestruturas. 

O caso porém, é que não se tem um projeto de nação. De defesa dos interesses estratégicos ao negociar estas parcerias, e assim, não abrir mão do papel de regulação do estado, em nome de nosso povo. 

Sei que se trata de um assunto complexo para a maioria das pessoas. Envolve macroeconomia, geopolítica e a velha discussão do papel do Estado no mundo capitalista. 

O governo atual, que assumiu após o golpe, vê o Estado apenas como forma de fazer negócios e o mercado como única solução para os males. Não se tem e nem se quer um projeto de nação. 

Assim, assume mais os donos dos dinheiros se encontram com esses atuais donos do poder no país. Ambos estão com uma sede enorme. Nesta toada voltamos para o mais alto grau de dependência e de subordinação, deixando para nós outros, os índios da terra, os pentes e os espelhos, enquanto levam nossas riquezas. 

Há limites para tudo isto. Não pensem que pelo lado de cá, há apenas bobos que não sabem do que se está passando. Seguimos acompanhando e ligando as pontas desta teia que desejam que seja tão complexa com a vontade de assim operar desavergonhadamente.

PS.: Se desejar leiam aqui um extenso artigo que e parte da descrição de minha pesquisa sobre o poder estratégico do Gás Natural e o potencial que o Brasil poderia usufruir. Ele foi publicado no dia 11 de julho de 2016. Ao seu final há um compêndio com links para quase uma dezena de outras postagens do blog sobre o mesmo assunto.

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