sexta-feira, março 03, 2017

A estrada, os portos, a soja, as traders e os "patos" da mídia

Os problemas da rodovia que liga o "Arco Norte" para exportação de soja pelos portos do norte, em alternativa às duas saídas do produto do agronegócio pelos portos de Paranaguá e Santos, são antigos.

Estas cargas de soja transitam entre o Mato Grosso - com base na cidade de Sinop - e a hidrovia em Santarém que levará ao porto de Vila do Conde no Pará.

Estes problemas da estrada são do interesse das traders do setor como a Bunge, ADM, Cargil e também a Louis Dreyfusse que ainda não instalou terminais de hidrovias e portuárias, mas já comprou terrenos e cuida de licenciamento para igual fim. 

É daí que sai o dinheiro que paga as seguidas matérias de pressão na mídia comercial, já há quase 15 dias.

É assim que funciona o processo em que as corporações usam (compram) a mídia para pressão sobre o poder político, para que ele seja obrigado a fazer aquilo que, por algum motivo - incluindo as chantagens (do estilo do Cunha).

Você, em casa, sem ligar as pontas lamenta e também critica o poder político, sem saber, que a verba que será ali usada, é a mesma que deixa de ir para atender a sua saúde e a educação dos seus filhos. A imagem ao lado é a que você tem visto em casa desde antes do carnaval.

Iludem-se os que pensam que os produtores são penalizados. Quem está no jogo aí são estas traders e seus parceiros no território nacional. 

As traders atuam na intermediação e são donos destas cargas extraídas há tempo, dos produtores, em contratos chamados de "futuros". 

O que querem comprando com verba, o verbo desta pauta é que o Estado construa parte do empreendimento que atendem aos seus negócios. 

Evidentemente dizem que esta infraestrutura é do interesse de todos. É pública. Mas, os seus estratosféricos ganhos são privados. 

Em economia política chamamos a isto de Condições Gerais de Produção. Uma espécie de consumo coletivo que permitirá que as instalações que atenderão as traders para que elas reduzam seus custos.

Como? Produzindo uma disputa tarifária contra os portos de Santos,SP e Paranaguá, PR.

Poderia ser apenas uma disputa inter-capitalista, natural no sistema. Porém, é mais que isto, porque tira recursos do Estado, para seus interesses na medida que os dividendos da redução de custos serão apenas particulares, por parte destas traders, que atuam em todo o mundo, controlando os fluxos destas commodities - especulando mais ou menos - e auferindo os seus ganhos na economia global.
 
Sabemos que é difícil para a maioria sentada no sofá há dez dias vendo os caminhões entalados - mesmo que seja em alguns pontos - entender o que está por trás desta repetida notícia.

É ainda mais difícil não falar mal do poder político que não cuida daquilo. 

Assim, seria demais entender que a solução daquele problema que atenderá as grandes corporações estrangeiras (Bungue, ADM, Cargil) que assim aumentará seus lucros, estará ao mesmo tempo, impedindo que o seu problema, mais simples, objetivo e direto seja resolvido, pelo mesmo poder político.

A compreensão deste processo que aqui tento resumir foi possível ao passar a investigar (pesquisar) mais intensamente, desde 2012, a movimentação e os interesses dos operadores portuários e do sistema de logística no Brasil. 

Assim, seguimos remandando contra a maré investigando e tentando ligar as pontas dos fatos, para uma análise crítica sobre aquilo que pretendem fazer você acreditar.

PS.: Atualizado às 17:58:
Informações mais recentes sobre o tema conforma a análise acima ao dizer que "representantes das tradings agrícolas ADM, Cargill, Bubge, Cofco e Amaggi se reuniram com representantes do Exército, Defesa Civil e Polícia Rodoviária Federal e o ministro dos Transportes informou que "o trecho de 2000 quilômetros" não asfaltados da BR-163 que liga Santarém a Cuiabá já começou a ser liberado para caminhões grandes". O trecho estava parcialmente interditado e as obras de pavimentação será retomada pelo DNIT depois das chuvas". As notícias assim confirmam quem são os participantes e como funciona o jogo da intermediação global de uma commodity controlada por fortes tradings. Quando se quer entender, um pingo é sempre mais que uma letra. No inverso nem desenho é. Apenas um rabisco.

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